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GÊNERO, DIVERSIDADE E SEXUALIDADES: FORMAÇÃO

CONTINUADA DE PROFESSOR@S

Marelí Eliane Graupe1

Resumo: Esta comunicação propõe discutir sobre as contribuições e implicações de cursos sobre gênero e diversidade na formação continuada de professor@s de Educação Básica. A experiência de pesquisas realizadas com professor@s e o acompanhamento de cursos sobre gênero e sexualidades, nos indicou que @s professor@s são ator@s importantes na mediação de situações envolvendo vivências homoafetivas no cotidiano escolar e que a escola pode ser espaço para a convivência com e nas diferenças (Homi Bhabha), de exercícios interculturais (Reinaldo Fleuri), troca de conhecimentos, reflexões, problematizações, estímulo para relações tolerantes, respeito às diferenças, e que também é um local para o enfrentamento de estigmas, estereótipos e discriminações.

Palavras-chave: Professor@s. Gênero. Sexualidades. Introdução

Este artigo objetiva problematizar as contribuições e implicações dos cursos de formação sobre gênero e diversidade na formação continuada de professor@s2 de Educação Básica oferecidos pelo Núcleo de Identidades e Subjetividades de Gênero - NIGS (Curso de Formação Continuada para Professor@s sobre Gênero, Sexualidades e Homo-lesbo-transfobia nas Escolas) e pelo Instituto de Estudos de Gênero – IEG (Curso Gênero e Diversidade na Escola - GDE).

a) Curso de Formação Continuada para Professor@s sobre Gênero, Sexualidades e Homo-lesbo-transfobia nas Escolas (NIGS)

O Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi fundado em novembro de 1991. O Núcleo é composto por pesquisador@s de graduação, mestrado, doutorado e de pós-doutorado, que realizam trabalhos acadêmicos sobre temas diversos que têm em comum pesquisas no campo das teorias queer e feminista, violências contra mulheres e lesbo-trans-homofobia; identidades, parentalidades e con-jugalidades homossexuais, heterossexuais e transexuais; arte homoerótica; amor; gênero e sexualidade na escola; religiões e sexualidades; movimentos feministas e LGBTTT e políticas públicas.

O NIGS possui como marca histórica buscar aproximar a universidade da necessidade da comunidade local. No campo das lutas contra a homo-lesbo-transfobias foram realizados em 2012 os projetos institucionais Papo Sério: Gênero, Sexualidade e Educação, Concurso de Cartazes

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Doutora em Educação, professora da UNIPLAC, Lages, Brasil.

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sobre Homofobia, Lesbofobia e Transfobia e o Curso de Formação Continuada para Professor@s sobre Gênero, Sexualidades e Homo-lesbo-transfobia nas Escolas que abordaremos neste artigo.

A proposta do Curso de Formação Continuada para Professor@s surgiu a partir da constatação da necessidade atual d@s profissionais da educação em aprofundar essas temáticas. O objetivo principal desse curso foi de contribuir na problematização e discussão de temas relacionados à convivência com as diferenças, sejam elas, racial, religiosa, de classe, gênero ou de orientação sexual. Também, buscou-se por meio de referenciais teórico-práticos proporcionar aos/às participantes instrumentos para que est@s possam incorporar em suas práticas pedagógicas as temáticas sobre gênero, sexualidades, homo-lesbo-transfobia.

O Curso de Formação Continuada foi oferecido nos meses de março a maio de 2012 em cinco módulos com a carga horária de 20 horas. Participaram no total 30 professor@s de Educação Básica da Grande Florianópolis. Neste curso foi trabalhado sobre gênero, identidades de gênero, sexualidades e identidades sexuais e violências, que é um problema social que está presente dentro e fora das escolas e se manifesta de diversas formas entre tod@s @s envolvid@s no processo educativo.

Resultados

Constatou-se através das visitas feitas nas instituições escolares e da realização dos cinco módulos do Curso de Formação, que alguns/mas professor@s silenciam ou legitimam práticas e discursos homofóbicos sem refletirem sobre os danos que est@s causam no aprendizado e a vida d@s estudantes.

Segundo relato d@s participantes essas temáticas são pouco discutidas no contexto escolar e, ao mesmo tempo, tão comentadas pela mídia, como no caso, das últimas telenovelas da Rede Globo e de alguns jornais que estão noticiando e denunciando casos de violência contra homossexuais e mulheres.

Um elemento apontado pelos própri@s professor@s que participaram desse curso é que nas escolas há uma grande rotatividade de professor@s, e isso dificulta a realização de projetos coletivos, já que a abordagem sobre sexualidades, questões de gênero e em especial homofobia, deveria ocorrer de forma transversal e conjunta na escola, pois não basta a ação distinta de um@ professor@, sem o empenho de toda equipe pedagógica.

Neste contexto, é importante ressaltar que a homo-lesbo-trans fobia não é um problema somente de Gays, Lésbicas e Transexuais , mas sim de toda a sociedade, pois as consequências da

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homo-lesbo-transfobia na escola resultam na evasão escolar, na discriminação na busca por emprego e na marginalização social de estudantes LGBT.

A manifestação da sexualidade está presente na escola, e durante a realização do curso, foi possível observar que muit@s professor@s preferem ignorar, ocultar ou reprimir assuntos relacionados à temática da sexualidade, baseados na ideia de que a sexualidade é assunto para ser discutido no contexto familiar.

Sexualidade é entendida como uma construção histórica e cultural que articula comportamentos, linguagens, crenças, desejos, posturas sobre os corpos e as maneiras sobre como as pessoas vivem os seus prazeres. Segundo Grossi, “a sexualidade – isto é, as práticas eróticas humanas – é também culturalmente determinada”, (GROSSI, 2010, p.5).

A escola desempenha um papel importante na construção das identidades de gênero e das identidades sexuais, pois, como parte de uma sociedade que discrimina, ela produz e reproduz desigualdades de gênero, raça, etnia e classe no seu cotidiano escolar.

Segundo GROSSI

gênero serve, portanto, para determinar tudo que é social, cultural e historicamente determinado. No entanto, como veremos, nenhum indivíduo existe sem relações sociais, isto desde que se nasce. Portanto, sempre que estamos referindo-nos ao sexo, já estamos agindo de acordo com o gênero associado ao sexo daquele indivíduo com o qual estamos interagindo (2010, p.5).

Se meninas e mulheres, assim como rapazes e homens, forem aceitos e entendidos no processo educacional como indivíduos únicos, isto é, que cada ser é diferente, possui desejos e atitudes diferentes, seria possível oferecer uma educação voltada para o desenvolvimento das potencialidades de cada um, sem essencialmente identificá-los como representantes de um grupo (meninas gostam de..., meninos são melhores em..., ela é lésbica..., ele é gay..., etc.).

Conforme SILVA, atualmente “vivemos num mundo social onde novas identidades culturais e sociais emergem, se afirmam, apagando fronteiras, transgredindo proibições e tabus identitários, num tempo de deliciosos cruzamentos de fronteiras, de um fascinante processo de hibridização de identidades” (2001, p. 7). Um momento que demanda novas formas de ensinar e aprender para que @s alun@s, @s pobres, @s ric@s, @s religios@s, @s não religios@s, negr@s, branc@s, homossexuais, heterossexuais, possam vivenciar, em salas de aula, atitudes, ações, que desenvolvam com criticidade, ideias, competências, embasadas nos princípios dos direitos iguais para pessoas diferentes. Portanto, para que isso ocorra, é necessário que @s professor@s tenham conhecimentos sobre as relações de gênero, diversidade, sexualidade, relações étnico-raciais e a consciência que estas influenciam no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo d@s estudantes.

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Durante a realização do curso de formação foi possível perceber que o tema das diferenças geralmente era compreendido pela maioria dos participantes como algo negativo e associado às situações de desigualdade ou déficit de aprendizagem. Para estes, as diferenças étnico-raciais, gênero, religiosa e orientação sexual estariam motivando práticas discriminatórias e ideias preconceituosas.

Em contraposição a esta ideia, FLEURI (2002) percebe as diferenças entre @s sujeit@s como algo positivo. Argumenta o desafio é integrar as diferenças sem anulá-las, ativar o potencial criativo e vital da conexão entre diferentes agentes e entre seus respectivos contextos.

Já, para BHABHA

A representação da diferença não deve ser lida apressadamente como reflexo de traços culturais ou étnicos preestabelecidos, inscritos na lápide fixa da tradição. A articulação social da diferença da minoria, é uma negociação complexa, em andamento, que procura conferir autoridade aos hibridismos culturais que emergem em momentos de transformação histórica (BHABHA, 2001, p. 21).

Para este autor, a diferença cultural se constitui enquanto um processo de enunciação (atos, palavras) da cultura. É um processo de significação, através do qual, as culturas se diferenciam, discriminam e autorizam a produção de campos de força, de poder, referência, aplicabilidade e capacidade.

A proposta de trabalhar gênero, sexualidades e diferenças culturais, na perspectiva da educação intercultural nos parece interessante no reconhecimento e positivação de diferenças no ambiente escolar. A noção de educação intercultural pode nos apontar uma perspectiva teórica para pensar as relações entre sujeitos e práticas educativas utilizadas nas escolas. Para FLEURI, esta perspectiva “reconhece o caráter multidimensional e complexo (...) da interação entre sujeitos de identidades culturais diferentes e busca desenvolver concepções e estratégias educativas que favoreçam o enfrentamento dos conflitos, na direção da superação das estruturas socioculturais geradoras de discriminação, de exclusão ou de sujeição entre grupos sociais” (2002:407).

A escola é o espaço sócio cultural em que as diferentes identidades se encontram, se constituem, se formam e se produzem, portanto, é um dos lugares mais importantes para se educar com vias ao respeito à diferença. Daí a importância de formar professor@s, orientador@s pedagógic@s, gestor@s e demais profissionais da Educação Básica quanto aos conteúdos específicos das relações de gênero, étnico-raciais e orientação sexual, para que saibam trabalhar com seus alun@s temas da diversidade em suas variadas formas e transversalmente.

É importante que o tema da igualdade de gênero esteja presente na educação escolar, principalmente nas discussões sobre as estruturas de poder na escolha de conteúdos e métodos de

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ensino, nas atividades de lazer, no desenvolvimento social e cognitivo de meninos e meninas. Conforme LOURO, “gênero pode ser, pois, um conceito relevante, útil e apropriado para as questões educacionais” (2002, p. 229).

A desigualdade vivenciada atualmente por muit@s alun@s no sistema educacional fortalece e acentua a disparidade de oportunidades sociais, criando um senso comum sobre a existência e continuidade das injustiças. Desse modo, é imprescindível que as políticas educacionais contemplem na formação continuada de professor@es essas temáticas agenciando o fortalecimento de uma escola que promova uma educação equitativa, uma vez que ela pode contribuir para a desmistificação das injustiças, desigualdades, e para a constituição de uma sociedade mais justa e inclusiva.

A discussão sobre gênero, sexualidade e violências nas escolas possibilita o reconhecimento das diferenças culturais, sociais e históricas entre/dos indivíduos, e incentiva @s profissionais da educação a trabalharem a partir de uma perspectiva pedagógica que valorize a diversidade na escola e que estimule o respeito mútuo entre tod@s.

a) Curso Gênero e Diversidade na Escola - GDE

O Instituto Estudos de Gênero (IEG) foi fundado no ano de 2006 pelas pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), associadas a outras pesquisadoras da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), UNISUL e UNIVALE. O IEG está sediado no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC. Este instituto visa dar unidade e visibilidade a um conjunto extenso de pesquisas e atuação em diversas áreas acadêmicas e estreitar os vínculos com os movimentos sociais comprometidos com os direitos das mulheres e a promoção da igualdade de gênero. É um instituto com caráter interdisciplinar e incluiu pesquisador@s das áreas das Ciências Humanas, Letras, Literatura e Linguística, das Ciências Sociais Aplicadas e das Ciências da Saúde. Desenvolve pesquisas sobre política, sexualidade, saúde, direitos reprodutivos, trabalho, família gerações, violência doméstica, comunicação, homossexualidade, identidade e subjetividades.

No Estado de Santa Catarina ocorreu a primeira edição do curso de formação em Gênero e

Diversidade na Escola no primeiro semestre de 2009, sob a coordenação do Instituto de Estudos de

Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (IEG-UFSC), e envolveu uma grande equipe de profissionais de diversas áreas: nove professor@s universitári@s coordenaram o ensino presencial e acompanharam o desenvolvimento das turmas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVEA); dezenove estudantes de pós-graduação (mestrado e doutorado) e uma doutora atuaram como tutor@s a distância; vinte professoras da rede pública atuaram como tutoras presenciais. Quinhentos

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professor@s da rede pública de ensino se inscreveram no curso, oferecido em 10 Polos sediados em diferentes municípios das regiões do Estado de Santa Catarina (GROSSI; LAGO, 2009, p. 09).

A segunda edição do curso GDE-SC foi realizada em cinco3 polos de Educação a Distância no período de outubro de 2012 a março de 2013, com vagas para 300 professor@s da rede pública de Educação Básica. Este foi oferecido pelo Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (IEG-UFSC) e contou com a participação de seis professor@s, seis tutor@s a distância e seis tutoras presenciais, além de uma equipe de secretaria e coordenação do curso.

A equipe adotou o material e a metodologia do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), e incentivou @s professor@s e tutor@s a realizar, nas 20 horas de encontros presenciais, oficinas e atividades diferenciadas que possibilitassem a participação ativa d@s cursistas. @ professor@ e @s tutor@s são responsáveis pela elaboração dos planos de ensino dos quatros encontros presenciais e pelo acompanhamento do processo de ensino aprendizagem d@s cursistas nas 180 horas via internet. @s tutor@s também acompanharam os projetos de intervenção que foram realizados pel@s cursistas após a conclusão do curso no mês de maio de 2013.

O Curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE) abordou temáticas dos estudos de gênero e da educação para a diversidade no contexto escolar. GDE surgiu como resultado de uma articulação inicial entre vários ministérios do Governo Brasileiro (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres-SPM, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Ministério da Educação), British Council (órgão do Reino Unido atuante na área de Direitos Humanos, Educação e Cultura) e Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ), (HEILBORN; RODHEN, 2009).

O curso integra a orientação geral do governo federal brasileiro que, a partir de 2003, na gestão do Presidente Lula (2002-2010), criou secretarias e políticas educacionais voltadas para o reconhecimento da diversidade cultural, a promoção da igualdade para tod@s e o enfrentamento do preconceito e de todas as formas de discriminação. Assim, programas no campo da formação de profissionais da educação, como o Curso Gênero e Diversidade na Escola, podem proporcionar a ampliação e compreensão da importância da ação de combate à discriminação e ao preconceito no contexto escolar e na sociedade.

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Um dos grandes desafios desse curso é contribuir para formação continuada de professor@s da rede pública de ensino nas temáticas de gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais, para que sejam capacitad@s a trabalhar com essas referidas temáticas na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio promovendo a igualdade e equidade para tod@s.

Resultados

A participação nos encontros presenciais em alguns polos (Florianópolis, Itapema e Palmitos) possibilitou a constatação de que a maioria d@s professor@s inscritos no curso estavam aproveitando a oportunidade para aprofundar seus conhecimentos e aprender novos conceitos teórico-práticos que servirão como ferramentas na discussão e abordagem de temas sobre sexualidade, homofobia, violências de gênero e relações étnico-raciais com alun@s, pais, professor@s e comunidade escolar.

Nestes encontros presenciais ouvimos relatos de professor@s que optaram em realizar o curso GDE justamente para ampliar seus conhecimentos e conseguir argumentar e se posicionar perante a direção da escola, alun@s e famílias sobre a importância e necessidade de trabalhar essas temáticas no cotidiano escolar, pois durante vários séculos a escola não precisou abordar temas sobre hierarquias e desigualdades, sobre sexualidade, homofobia, mas, atualmente, essas temáticas fazem parte (explícita e implicitamente) do currículo escolar e muit@s professor@s sentem-se despreparad@s no momento de abordá-las.

Em relação à hierarquia de gênero, as mulheres foram naturalmente, quando não excluídas, diminuídas, estimuladas diferentemente e incluídas em ações menos importantes. Entendemos que a escola, desde sempre, aplicou uma pedagogia de gênero que consolidou a ideia de desigualdade e diferenças entre meninos e meninas. Também, em razão das diferentes experiências com a sexualidade e o desejo, a escola, sem qualquer explicação, sempre se colocou no lugar da produção da norma heterossexual, produzindo, contribuindo e ampliando preconceitos, praticando a homofobia, a lesbofobia e a transfobia.

Muit@s d@s professor@s matriculadas no GDE veem este curso como uma possibilidade para refletir sobre as desigualdades sexuais, raciais e de gênero. Também porque este possibilita o debate da educação enquanto um direito fundamental, que precisa ser garantido a tod@s sem qualquer distinção, promovendo a cidadania, a igualdade de direitos e o respeito à diversidade sociocultural, étnico-racial, geracional, de gênero, de classe e de orientação sexual.

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Entende-se que a formação e a qualificação de professor@s da Educação Básica para a percepção, valorização e inserção dos temas do curso GDE no cotidiano escolar é essencial para a construção de uma educação justa para tod@s. O curso GDE contribui na promoção de uma série de medidas visando ao enfrentamento, por meio da educação, de todas as formas de discriminação e à constituição de uma cultura dos direitos humanos. Educar para a diversidade não significa apenas reconhecer as diferenças, mas refletir sobre as relações e os direitos de tod@s.

Esperamos que o Curso GDE/UFSC/2012 e 2013 promova possiblidades de criação de uma rede de cursistas, fóruns para que est@s possam continuar em contato após o término do curso, discutindo e estudando as temáticas sobre gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais que são amplas e complexas para serem trabalhadas em apenas alguns meses de curso.

A análise crítica destas experiências poderá possibilitar novas reflexões sobre como essas temáticas (questões de gênero, relações étnico-raciais, sexualidade e orientação sexual) podem ser trabalhadas com eficácia na prática educativa no cotidiano escolar. Também poderá proporcionar um maior conhecimento sobre qual foi o impacto deste curso de formação nas escolas de Santa Catarina, o que mudou na prática docente d@s professor@s que realizaram esse curso, quais foram as dificuldades encontradas pel@s mesm@s no que concerne à implantação dos conceitos teórico-metodológicos da proposta do GDE.

Considerações Finais

Os cursos de formação acima relatados nos apontaram que a escola pode ser espaço para a convivência com e nas diferenças (Homi Bhabha), exercícios interculturais (Reinaldo Fleuri), troca de conhecimentos, reflexões, problematizações, reações, estímulo para relações tolerantes, respeito às diferenças, também de gênero e sexuais. Além disto, a escola pode estar na contramão de práticas homofóbicas vivenciadas na escola, ser espaço para vivências homoafetivas e transexuais e para conhecer teorias, políticas públicas e legislações que fortaleçam sujeitos na resistência a modelos hegemônicos e no enfrentamento de estigmas, estereótipos e discriminações.

Nos indicam também, a emergência da construção de novas práticas educativas para reconhecimento e diálogo entre as diferenças e identidades culturais nos contextos educacionais ou não. Para além de uma compreensão estereotipada, rígida, hierarquizante, disciplinar, normalizadora sobre como devem ser e se comportar estudantes no contexto escolar, emerge um campo híbrido, fluido que possibilita discussão e reconstrução de outras normas, outros valores, enunciações sobre os diferentes sujeitos e identidades socioculturais.

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Necessitamos, atualmente, de uma escola que proporcione o desenvolvimento de cada indivíduo, que ofereça uma educação de qualidade para os diferentes indivíduos. O Curso Gênero e Diversidade na Escola é uma dessas políticas públicas que busca promover uma cultura do respeito, garantia de direitos humanos, da equidade étnico-racial e de gênero e de valorização da diversidade.

A implementação da proposta teórico-metodológica do curso GDE na escola possibilitará a construção de uma educação em que os interesses de tod@s sejam respeitados e trabalhados. A escola terá uma chance de oferecer aos seus/suas alun@s uma educação que questiona os papéis sociais e culturais que são atribuídos para cada sexo, estimulando-os a superar estas representações e desenvolverem suas potencialidades individuais, livres de estereótipos e preconceitos.

Nos diálogos com professor@das escolas públicas constatamos que ainda há despreparo e insegurança d@s profissionais de educação, que carecem de informações sobre estes temas, visto que não tiveram formação específica anterior, ou mesmo não possuem coragem para se posicionarem, como por exemplo, sobre sexualidade, homofobia perante algumas famílias tradicionais, que acham que estes temas não deveriam ser abordados pela escola. Além disso, os aspectos culturais inerentes à formação de cada indivíduo influenciam e dificultam a abordagem da sexualidade e das relações de gênero nas escolas.

Também gostaríamos de ressaltar que no Brasil há os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNS de 1997 e 1998 que pretendem ser um referencial, uma proposta aberta e flexível, que pode ou não ser utilizada pelas escolas na elaboração de suas propostas curriculares. Neste documento, os temas sobre sexualidade, gênero e violência estão contemplados, portanto @s professor@s das escolas possuem um respaldo para justificarem a importância e a necessidade de trabalharem sobre estas questões com suas/seus alun@s.

A realização de cursos de formação sobre gênero e diversidade nas escolas poderá multiplicar ideias, atitudes de combate à homofobia, às práticas discriminatórias, às violências e aos preconceitos, pois estes cursos desafiam @s própri@s participantes a discutir sobre essas temática, a rever seus conceitos e valores. Também, acreditamos que esse trabalho de combate terá maiores resultados nas escolas, se este for discutido com @s professor@s de todas as áreas do conhecimento e com a participação da comunidade escolar.

Esses cursos objetivaram desmistificar a ideia de que a escola apenas normatiza, "fabrica" sujeitos, reproduz preconceitos, estereótipos e estimula valores sexistas, racistas e heterossexuais no cotidiano escolar, buscando acima de tudo, apontar espaços e possibilidades para a desconstrução de fobias, ideias preconceituosas e práticas de discriminação nas relações entre @s sujeitos. É

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importante problematizar o papel da educação escolar na produção das desigualdades, especialmente na constituição das masculinidades, nos comportamentos machistas, sexistas e homofóbicos, buscando a desconstrução da ideia de uma essência ou natureza que explique e justifique as violências, as desigualdades de gênero, as ações discriminatórias, bem como, as desigualdades estabelecidas entre os vários grupos sociais em função das identidades sexuais que fogem aos padrões considerados hegemônicos.

A contribuição desses cursos de formação no cenário de combate à homofobia, lesbofobia e transfobia nas escolas pode ser vista, não apenas como importante, mas como uma forma possível de problematização, discussão e reflexão sobre as complexas formas pelas quais as identidades sociais e culturais são constituídas, vivenciadas e normalizadas e anormalizadas no contexto escolar e na sociedade. Também, pode apontar espaços e possibilidades para a desconstrução de fobias, ideias preconceituosas e práticas de discriminação em relação à sujeitos que são considerados como “diferentes”, pois ser diferente não significa ser anormal

A formação d@ profissional de educação deve abranger discussões sobre as questões de gênero, diversidade, sexualidade e relações étnico-raciais para que cada profissional possa aprender a reconhecer e trabalhar as representações que são atribuídas para as mulheres, homens, menin@s, homossexuais, bissexuais, heterossexuais, pobres, ricos, branc@s, índi@s, negr@s ..., estimulando que tod@s possam se desenvolver de forma integral independente do seu sexo, cor, etnia, classe social, religião e orientação sexual. Desta forma, @s profissionais estarão contribuindo para que a escola proporcione uma educação equitativa para tod@s. Uma escola que não desestimule as meninas a se desenvolverem intelectualmente no campo das áreas técnicas e que nem desestimule os meninos a se interessarem pelas áreas sociais, dança e atividades manuais. Uma escola que não discrimine homossexuais, índi@s, negr@s, pobres, etc.

Enfim, a abordagem destas temáticas na formação continuada d@s professor@s pode proporcionar a desconstrução e re-construção das regras e normas necessárias para a convivência entre os diferentes, sem preconceitos e sem estereótipos e práticas discriminatórias. Trabalhar sobre gênero, diversidade e sexualidades permite vislumbrar que a educação pode contribuir na constituição de uma sociedade mais justa e igualitária.

Referências

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FLEURI, Reinaldo M. “Intercultura e Educação”. Revista Brasileira de Educação, nº 23, Maio/Jun/Jul/Ago 2003. São Paulo: ANPED, 2003. P. 16-35.

_______. “Educação Intercultural: a construção da identidade e da diferença nos movimentos sociais”. Perspectiva. Florianópolis: CED/UFSC, p.405-423, jul./dez. 2002.

GROSSI, Miriam Pillar. Identidade de Gênero e Sexualidade. Antropologia em Primeira Mão. Florianópolis, p. 1-18. (Versão revisada - 2010).

GROSSI; Miriam Pillar; LAGO, Mara Coelho de Souza. Gênero e Diversidade na escola: uma experiência coletiva e transformadora. In: MINELLA; Luzinete Simões; CABRAL, Carla Giovana (Org.). Práticas pedagógicas e emancipação: Gênero e diversidade na escola. Florianópolis: 11d. Mulheres, 2009.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero: questões para a educação. In: BRUSCHINI, Cristina. UNBEHAUM, Sandra G. (org.). Gênero democracia e sociedade brasileira. São Paulo, FCC, Ed. 34, 2002.

SILVA, Tomaz Tadeu: O Currículo como fetiche – a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

Gender, diversity and sexualities: continuing education of teacher

Abstract: This paper proposes to discuss the contributions and implications of courses about gender and diversity in the continuing education of teachers. The experience of research with teacher follow the courses on gender and sexuality, that indicated the teacher are important actor in mediating situations involving homoafetivas experiences in school life and the school may be room for coexistence with and differences (Homi Bhabha), intercultural exercises (Reinaldo Fleuri), knowledge sharing, reflections, contextualizing, stimulus for relations tolerant, respect for differences, and that is also a place for coping with stigma, stereotypes and discrimination.

Referências

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