Mantra Yoga
Pedro Kupfer
Módulo 1 . Fonética
6. Invocação da Paz Sarveṣam
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Olá. Como você está? Espero que muito bem disposto. Hoje nossa aula vai ser diferente e muito interessante. Chegando neste ponto, e antes de continuar nos aprofundando em novos mantras, faz-se necessário fazer um pequeno esforço para estudar a maneira correta de pronunciá-los. Para isso, hoje conheceremos um pouco da fonética sânscrita, ou seja, da arte de pronunciar os sons desta língua sagrada.
Diz-se que os sons do sânscrito são as plumas que configuram as asas de Garuḍa, o deus-águia. Aliás, o nome garuḍa, que habitualmente se traduz como águia, significa em verdade “asas da eloquência”. Isto obedece a uma razão muito bonita: o conhecimento nos dá asas, nos permite voar. O alfabeto sânscrito é fonético. I.e., se pronuncia como se escreve, e se escreve como se pronuncia. Para você, que fala português ou espanhol, é bem mais fácil aprender a pronunciar corretamente os mantras em sânscrito do que, digamos, para um anglófono, já que tanto a língua de Camões como a de Cervantes, são também fonéticas.
Consta de quatorze vogais e trinta e três consoantes. Somados a eles outros sons acessórios e algumas ligaduras especiais, o número de letras se eleva a 54. Isso pode tornar esta bela língua um tanto hermética para os não iniciados: as nuanças de pronúncia chegam a ser imperceptíveis aos ouvidos desabituados. Consequentemente, muitos dos seus sons são irreproduzíveis em alguns idiomas.
O sânscrito não possui acentuação marcada ou forte, mas apenas uma sucessão de sílabas curtas e longas, com inflexões tônicas e musicais. O traço horizontal (chamado macron) sobre as vogais ā, ī e ū implica alongamento desses sons. O o e o e são sempre longos, fechados. A pronúncia figurada é dada abaixo, segundo a ordem do alfabeto sânscrito (ou melhor dizendo, silabário, pois todo som aparece combinado com o a).
Para que possamos compreender melhor esta língua, os gramáticos nos facilitaram o trabalho e
dividiram as letras do alfabeto (que em verdade é um silabário, aliás), em oito grupos, de acordo com tipo de som e com o lugar do aparelho fonador onde os sons correspondentes às letras se originam.
Esses oito grupos são: vogais e ditongos, guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais, semi-vogais e aspiradas.
Convido você aqui para fazer o exercício de pronúncia letra por letra, escutando e repetindo. Antes de mais nada, ouça por favor a recitação de todo o alfabeto do início ao fim. Vou recitar ele para você do jeito que aprendi com meu primeiro professor, que era de Goa e falava português, na década de 1980, na Índia. “Cantar” o alfabeto facilita a compreensão.
Depois começaremos o exercício da recitação, ouvindo e repetindo os sons de cada grupo, um a um. Na primeira vez iremos bem devagar, e daremos uma breve explanação sobre cada tipo de som e a maneira de produzí-lo usando as diferentes partes do aparelho fonador.
Vogais e ditongos
a aberta, curta, como em tatu (pūrṇa); ā aberta, longa, como em arte (prāṇa); i curta, como em ideia (Śiva);
ī longa, como em ali (nāḍī); u como em união (udāṇa);
ū longa, como em açude (kūṁbhaka); e fechado, como em dedo (asteya); ai ditongo, como em vai (kaivalya); o fechado, como em iodo (Yoga); au ditongo, como em pauta (nauli); ṛ pronuncia-se como em marinho (ṛṣi). ṝ pronuncia-se como em marítimo (ṝkāra); ḷ como em inglês, revelry (ḷtaka);
ḹ como em inglês, revelry, mas prolongado (ḹkāra);
Consoantes
1) Guturais
ka como em Karina (karma);
kha aspirada, como em inglês, broke-heart (Sāṅkhya); ga gutural, como em guirlanda (Gītā);
gha aspirada, como em inglês, big-house (Gheraṇḍa); ṅa nasalizando a vogal precedente (aṅga);
2) Palatais
ca pronuncia-se como em tchê (cakra);
cha também como em tchê, mas prolongado (mūrcchā); ja palatal, pronuncia-se como em Djalma (japa); jha palatal, como em inglês, hedgehog (jhali);
ña unicamente antes ou depois de consoantes palatais, como em senha (jñāna);
3) Cerebrais
ṭa com a língua no palato, como em inglês, true (Aṣṭāṅga); ṭha dental aspirada, como em inglês, lighthouse (Haṭha); ḍa com a língua no palato, como em inglês, drum (daṇḍa); ḍha com a língua no palato, como em inglês, redhaired (ḍhuṇḍi); ṇa como em inglês, done (prāṇa);
4) Dentais
ta com a língua na raiz dos dentes, como em terra (Tantra);
tha com a língua na raiz dos dentes, como em inglês, foot-hook (sthiraṁ); da dental, como em dilúvio (dasanāmi);
dha dental, como em inglês, bloodhorse (dhāraṇā); na dental, como em nota (ānanda);
5) Labiais
pa labial, como em posto (pūraka);
pha labial aspirada, como em inglês, top-half (phāla); ba labial, como em bomba (bandha);
bha aspirada, como no inglês, nib-head (bhūta);
ma em início de palavra ou após vogal tem som bilabial, como em mãe (mantra); entre conso-antes, é nasalizada, como em também (saṁskāra);
6) Semi-vogais
ya é semivogal: pronuncia-se como o i em viola (Yoga);
ra sempre como se estivesse no meio da palavra, como em vidro (rāja); la como em iluminar (kuṇḍalinī);
va em início de palavra ou após vogal, pronuncia-se como em volta (vāsaṇā); após consoante, pronuncia-se igual ao w de narrow, em inglês (tattva);
7) Aspiradas
śa tem o som de sh, como em Sheila (Śiva);
ṣa tem o som de sh, como em bush (Kṛṣṇa), com a língua ligeiramente para cima; sa tem o som de ss, como em passo (āsana);
ha sempre aspirado, como em happy (anāhata);
[z, q, f] não existem em sânscrito. Estas letras foram assimiladas nas línguas vernáculas durante a presença muçulmana. Um exemplo: faquir.
Depois você pode dar uma olhada no PDF que recebeu desta aula, para maiores esclarecimentos ou consultas posteriores, em caso de dúvida. Nesse material, que você pode imprimir e guardar para referência, tem uma série de exemplos para facilitar a pronúncia de cada som.
Para visualizar corretamente nesse documento os sinais diacríticos correspondentes a cada som, nós vamos lhe enviar também um pacote de fontes para sânscrito romanizado, que você poderá instalar em seu computador. Bom, agora chega de estudar. Já fizemos o que precisávamos.
***
Depois desta prática de fonética vamos passar à meditação no mantra de hoje. Ele é uma das
chamadas invocações de paz, śāntipāṭhas, e é aludida, como as demais, através da primeira pala-vra do verso inicial. No caso, sarveṣāṁ. Esta é uma das mais simples e bonitas invocações. Como todas, é dirigida a todos os seres, não apenas aos humanos, mas a tudo o que vive, o que cresce, o que pulsa. Como todas, é feita em benefício de todos os seres, establecendo uma linda intenção de paz, plenitude, bem-estar, felicidade e saúde.
Ao fazermos esta prece, nos tornamos contribuidores para o bem-estar e a paz de todos, uma vez que a ideia é lembrar que o bem-estar comum é uma prioridade que todos deveríamos manter presente. Isso é, descobrindo a nós mesmos como plenitude, nos dispomos a compartilhar essa plenitude com os demais, sem paternalismos, mas de modo compassivo e equânime.
A tradução diz assim: “Que haja bem-estar e abundância para todos; que todos vivam em paz; que todos vivam plenos; que todos estejam bem. Que haja paz, paz, paz. Hariḥ Oṁ”.
Como nas práticas que fizemos anteriormente, ouvimos e repetimos o mantra, verso por verso, três vezes. Depois fazemos ele inteiro, regulando a respiração de maneira profunda a consciente. vamos lá.
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Enfim, concluímos aqui esta aula. No nosso próximo encontro veremos alguns aspectos importantes da prática, como a atitude correta de fazer estas meditações. Espero que goste! Obrigado por nos escutar. Tenha um bom dia a até a próxima aula. Namaste!
Mantra Yoga
Pedro Kupfer
Módulo 1 . Fonética
6. Invocação da Paz Sarveṣam
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Olá. Como você está? Espero que muito bem disposto. Hoje nossa aula vai ser diferente e muito interessante. Chegando neste ponto, e antes de continuar nos aprofundando em novos mantras, faz-se necessário fazer um pequeno esforço para estudar a maneira correta de pronunciá-los. Para isso, hoje conheceremos um pouco da fonética sânscrita, ou seja, da arte de pronunciar os sons desta língua sagrada.
Diz-se que os sons do sânscrito são as plumas que configuram as asas de Garuḍa, o deus-águia. Aliás, o nome garuḍa, que habitualmente se traduz como águia, significa em verdade “asas da eloquência”. Isto obedece a uma razão muito bonita: o conhecimento nos dá asas, nos permite voar. O alfabeto sânscrito é fonético. I.e., se pronuncia como se escreve, e se escreve como se pronuncia. Para você, que fala português ou espanhol, é bem mais fácil aprender a pronunciar corretamente os mantras em sânscrito do que, digamos, para um anglófono, já que tanto a língua de Camões como a de Cervantes, são também fonéticas.
Consta de quatorze vogais e trinta e três consoantes. Somados a eles outros sons acessórios e algumas ligaduras especiais, o número de letras se eleva a 54. Isso pode tornar esta bela língua um tanto hermética para os não iniciados: as nuanças de pronúncia chegam a ser imperceptíveis aos ouvidos desabituados. Consequentemente, muitos dos seus sons são irreproduzíveis em alguns idiomas.
O sânscrito não possui acentuação marcada ou forte, mas apenas uma sucessão de sílabas curtas e longas, com inflexões tônicas e musicais. O traço horizontal (chamado macron) sobre as vogais ā, ī e ū implica alongamento desses sons. O o e o e são sempre longos, fechados. A pronúncia figurada é dada abaixo, segundo a ordem do alfabeto sânscrito (ou melhor dizendo, silabário, pois todo som aparece combinado com o a).
Para que possamos compreender melhor esta língua, os gramáticos nos facilitaram o trabalho e
dividiram as letras do alfabeto (que em verdade é um silabário, aliás), em oito grupos, de acordo com tipo de som e com o lugar do aparelho fonador onde os sons correspondentes às letras se originam.
Esses oito grupos são: vogais e ditongos, guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais, semi-vogais e aspiradas.
Convido você aqui para fazer o exercício de pronúncia letra por letra, escutando e repetindo. Antes de mais nada, ouça por favor a recitação de todo o alfabeto do início ao fim. Vou recitar ele para você do jeito que aprendi com meu primeiro professor, que era de Goa e falava português, na década de 1980, na Índia. “Cantar” o alfabeto facilita a compreensão.
Depois começaremos o exercício da recitação, ouvindo e repetindo os sons de cada grupo, um a um. Na primeira vez iremos bem devagar, e daremos uma breve explanação sobre cada tipo de som e a maneira de produzí-lo usando as diferentes partes do aparelho fonador.
Vogais e ditongos
a aberta, curta, como em tatu (pūrṇa); ā aberta, longa, como em arte (prāṇa); i curta, como em ideia (Śiva);
ī longa, como em ali (nāḍī); u como em união (udāṇa);
ū longa, como em açude (kūṁbhaka); e fechado, como em dedo (asteya); ai ditongo, como em vai (kaivalya); o fechado, como em iodo (Yoga); au ditongo, como em pauta (nauli); ṛ pronuncia-se como em marinho (ṛṣi). ṝ pronuncia-se como em marítimo (ṝkāra); ḷ como em inglês, revelry (ḷtaka);
ḹ como em inglês, revelry, mas prolongado (ḹkāra);
Consoantes
1) Guturais
ka como em Karina (karma);
kha aspirada, como em inglês, broke-heart (Sāṅkhya); ga gutural, como em guirlanda (Gītā);
gha aspirada, como em inglês, big-house (Gheraṇḍa); ṅa nasalizando a vogal precedente (aṅga);
2) Palatais
ca pronuncia-se como em tchê (cakra);
cha também como em tchê, mas prolongado (mūrcchā); ja palatal, pronuncia-se como em Djalma (japa); jha palatal, como em inglês, hedgehog (jhali);
ña unicamente antes ou depois de consoantes palatais, como em senha (jñāna);
3) Cerebrais
ṭa com a língua no palato, como em inglês, true (Aṣṭāṅga); ṭha dental aspirada, como em inglês, lighthouse (Haṭha); ḍa com a língua no palato, como em inglês, drum (daṇḍa); ḍha com a língua no palato, como em inglês, redhaired (ḍhuṇḍi); ṇa como em inglês, done (prāṇa);
4) Dentais
ta com a língua na raiz dos dentes, como em terra (Tantra);
tha com a língua na raiz dos dentes, como em inglês, foot-hook (sthiraṁ); da dental, como em dilúvio (dasanāmi);
dha dental, como em inglês, bloodhorse (dhāraṇā); na dental, como em nota (ānanda);
5) Labiais
pa labial, como em posto (pūraka);
pha labial aspirada, como em inglês, top-half (phāla); ba labial, como em bomba (bandha);
bha aspirada, como no inglês, nib-head (bhūta);
ma em início de palavra ou após vogal tem som bilabial, como em mãe (mantra); entre conso-antes, é nasalizada, como em também (saṁskāra);
6) Semi-vogais
ya é semivogal: pronuncia-se como o i em viola (Yoga);
ra sempre como se estivesse no meio da palavra, como em vidro (rāja); la como em iluminar (kuṇḍalinī);
va em início de palavra ou após vogal, pronuncia-se como em volta (vāsaṇā); após consoante, pronuncia-se igual ao w de narrow, em inglês (tattva);
7) Aspiradas
śa tem o som de sh, como em Sheila (Śiva);
ṣa tem o som de sh, como em bush (Kṛṣṇa), com a língua ligeiramente para cima; sa tem o som de ss, como em passo (āsana);
ha sempre aspirado, como em happy (anāhata);
[z, q, f] não existem em sânscrito. Estas letras foram assimiladas nas línguas vernáculas durante a presença muçulmana. Um exemplo: faquir.
Depois você pode dar uma olhada no PDF que recebeu desta aula, para maiores esclarecimentos ou consultas posteriores, em caso de dúvida. Nesse material, que você pode imprimir e guardar para referência, tem uma série de exemplos para facilitar a pronúncia de cada som.
Para visualizar corretamente nesse documento os sinais diacríticos correspondentes a cada som, nós vamos lhe enviar também um pacote de fontes para sânscrito romanizado, que você poderá instalar em seu computador. Bom, agora chega de estudar. Já fizemos o que precisávamos.
***
Depois desta prática de fonética vamos passar à meditação no mantra de hoje. Ele é uma das
chamadas invocações de paz, śāntipāṭhas, e é aludida, como as demais, através da primeira pala-vra do verso inicial. No caso, sarveṣāṁ. Esta é uma das mais simples e bonitas invocações. Como todas, é dirigida a todos os seres, não apenas aos humanos, mas a tudo o que vive, o que cresce, o que pulsa. Como todas, é feita em benefício de todos os seres, establecendo uma linda intenção de paz, plenitude, bem-estar, felicidade e saúde.
Ao fazermos esta prece, nos tornamos contribuidores para o bem-estar e a paz de todos, uma vez que a ideia é lembrar que o bem-estar comum é uma prioridade que todos deveríamos manter presente. Isso é, descobrindo a nós mesmos como plenitude, nos dispomos a compartilhar essa plenitude com os demais, sem paternalismos, mas de modo compassivo e equânime.
A tradução diz assim: “Que haja bem-estar e abundância para todos; que todos vivam em paz; que todos vivam plenos; que todos estejam bem. Que haja paz, paz, paz. Hariḥ Oṁ”.
Como nas práticas que fizemos anteriormente, ouvimos e repetimos o mantra, verso por verso, três vezes. Depois fazemos ele inteiro, regulando a respiração de maneira profunda a consciente. vamos lá.
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Enfim, concluímos aqui esta aula. No nosso próximo encontro veremos alguns aspectos importantes da prática, como a atitude correta de fazer estas meditações. Espero que goste! Obrigado por nos escutar. Tenha um bom dia a até a próxima aula. Namaste!
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Olá. Como você está? Espero que muito bem disposto. Hoje nossa aula vai ser diferente e muito interessante. Chegando neste ponto, e antes de continuar nos aprofundando em novos mantras, faz-se necessário fazer um pequeno esforço para estudar a maneira correta de pronunciá-los. Para isso, hoje conheceremos um pouco da fonética sânscrita, ou seja, da arte de pronunciar os sons desta língua sagrada.
Diz-se que os sons do sânscrito são as plumas que configuram as asas de Garuḍa, o deus-águia. Aliás, o nome garuḍa, que habitualmente se traduz como águia, significa em verdade “asas da eloquência”. Isto obedece a uma razão muito bonita: o conhecimento nos dá asas, nos permite voar. O alfabeto sânscrito é fonético. I.e., se pronuncia como se escreve, e se escreve como se pronuncia. Para você, que fala português ou espanhol, é bem mais fácil aprender a pronunciar corretamente os mantras em sânscrito do que, digamos, para um anglófono, já que tanto a língua de Camões como a de Cervantes, são também fonéticas.
Consta de quatorze vogais e trinta e três consoantes. Somados a eles outros sons acessórios e algumas ligaduras especiais, o número de letras se eleva a 54. Isso pode tornar esta bela língua um tanto hermética para os não iniciados: as nuanças de pronúncia chegam a ser imperceptíveis aos ouvidos desabituados. Consequentemente, muitos dos seus sons são irreproduzíveis em alguns idiomas.
O sânscrito não possui acentuação marcada ou forte, mas apenas uma sucessão de sílabas curtas e longas, com inflexões tônicas e musicais. O traço horizontal (chamado macron) sobre as vogais ā, ī e ū implica alongamento desses sons. O o e o e são sempre longos, fechados. A pronúncia figurada é dada abaixo, segundo a ordem do alfabeto sânscrito (ou melhor dizendo, silabário, pois todo som aparece combinado com o a).
Para que possamos compreender melhor esta língua, os gramáticos nos facilitaram o trabalho e
dividiram as letras do alfabeto (que em verdade é um silabário, aliás), em oito grupos, de acordo com tipo de som e com o lugar do aparelho fonador onde os sons correspondentes às letras se originam.
Esses oito grupos são: vogais e ditongos, guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais, semi-vogais e aspiradas.
Convido você aqui para fazer o exercício de pronúncia letra por letra, escutando e repetindo. Antes de mais nada, ouça por favor a recitação de todo o alfabeto do início ao fim. Vou recitar ele para você do jeito que aprendi com meu primeiro professor, que era de Goa e falava português, na década de 1980, na Índia. “Cantar” o alfabeto facilita a compreensão.
Depois começaremos o exercício da recitação, ouvindo e repetindo os sons de cada grupo, um a um. Na primeira vez iremos bem devagar, e daremos uma breve explanação sobre cada tipo de som e a maneira de produzí-lo usando as diferentes partes do aparelho fonador.
Vogais e ditongos
a aberta, curta, como em tatu (pūrṇa); ā aberta, longa, como em arte (prāṇa); i curta, como em ideia (Śiva);
ī longa, como em ali (nāḍī); u como em união (udāṇa);
ū longa, como em açude (kūṁbhaka); e fechado, como em dedo (asteya); ai ditongo, como em vai (kaivalya); o fechado, como em iodo (Yoga); au ditongo, como em pauta (nauli); ṛ pronuncia-se como em marinho (ṛṣi). ṝ pronuncia-se como em marítimo (ṝkāra); ḷ como em inglês, revelry (ḷtaka);
ḹ como em inglês, revelry, mas prolongado (ḹkāra);
Mantra Yoga
Pedro Kupfer
Módulo 1 . Fonética
6. Invocação da Paz Sarveṣam
Consoantes
1) Guturais
ka como em Karina (karma);
kha aspirada, como em inglês, broke-heart (Sāṅkhya); ga gutural, como em guirlanda (Gītā);
gha aspirada, como em inglês, big-house (Gheraṇḍa); ṅa nasalizando a vogal precedente (aṅga);
2) Palatais
ca pronuncia-se como em tchê (cakra);
cha também como em tchê, mas prolongado (mūrcchā); ja palatal, pronuncia-se como em Djalma (japa); jha palatal, como em inglês, hedgehog (jhali);
ña unicamente antes ou depois de consoantes palatais, como em senha (jñāna);
3) Cerebrais
ṭa com a língua no palato, como em inglês, true (Aṣṭāṅga); ṭha dental aspirada, como em inglês, lighthouse (Haṭha); ḍa com a língua no palato, como em inglês, drum (daṇḍa); ḍha com a língua no palato, como em inglês, redhaired (ḍhuṇḍi); ṇa como em inglês, done (prāṇa);
4) Dentais
ta com a língua na raiz dos dentes, como em terra (Tantra);
tha com a língua na raiz dos dentes, como em inglês, foot-hook (sthiraṁ); da dental, como em dilúvio (dasanāmi);
dha dental, como em inglês, bloodhorse (dhāraṇā); na dental, como em nota (ānanda);
5) Labiais
pa labial, como em posto (pūraka);
pha labial aspirada, como em inglês, top-half (phāla); ba labial, como em bomba (bandha);
bha aspirada, como no inglês, nib-head (bhūta);
ma em início de palavra ou após vogal tem som bilabial, como em mãe (mantra); entre conso-antes, é nasalizada, como em também (saṁskāra);
6) Semi-vogais
ya é semivogal: pronuncia-se como o i em viola (Yoga);
ra sempre como se estivesse no meio da palavra, como em vidro (rāja); la como em iluminar (kuṇḍalinī);
va em início de palavra ou após vogal, pronuncia-se como em volta (vāsaṇā); após consoante, pronuncia-se igual ao w de narrow, em inglês (tattva);
7) Aspiradas
śa tem o som de sh, como em Sheila (Śiva);
ṣa tem o som de sh, como em bush (Kṛṣṇa), com a língua ligeiramente para cima; sa tem o som de ss, como em passo (āsana);
ha sempre aspirado, como em happy (anāhata);
[z, q, f] não existem em sânscrito. Estas letras foram assimiladas nas línguas vernáculas durante a presença muçulmana. Um exemplo: faquir.
Depois você pode dar uma olhada no PDF que recebeu desta aula, para maiores esclarecimentos ou consultas posteriores, em caso de dúvida. Nesse material, que você pode imprimir e guardar para referência, tem uma série de exemplos para facilitar a pronúncia de cada som.
Para visualizar corretamente nesse documento os sinais diacríticos correspondentes a cada som, nós vamos lhe enviar também um pacote de fontes para sânscrito romanizado, que você poderá instalar em seu computador. Bom, agora chega de estudar. Já fizemos o que precisávamos.
***
Depois desta prática de fonética vamos passar à meditação no mantra de hoje. Ele é uma das
chamadas invocações de paz, śāntipāṭhas, e é aludida, como as demais, através da primeira pala-vra do verso inicial. No caso, sarveṣāṁ. Esta é uma das mais simples e bonitas invocações. Como todas, é dirigida a todos os seres, não apenas aos humanos, mas a tudo o que vive, o que cresce, o que pulsa. Como todas, é feita em benefício de todos os seres, establecendo uma linda intenção de paz, plenitude, bem-estar, felicidade e saúde.
Ao fazermos esta prece, nos tornamos contribuidores para o bem-estar e a paz de todos, uma vez que a ideia é lembrar que o bem-estar comum é uma prioridade que todos deveríamos manter presente. Isso é, descobrindo a nós mesmos como plenitude, nos dispomos a compartilhar essa plenitude com os demais, sem paternalismos, mas de modo compassivo e equânime.
A tradução diz assim: “Que haja bem-estar e abundância para todos; que todos vivam em paz; que todos vivam plenos; que todos estejam bem. Que haja paz, paz, paz. Hariḥ Oṁ”.
Como nas práticas que fizemos anteriormente, ouvimos e repetimos o mantra, verso por verso, três vezes. Depois fazemos ele inteiro, regulando a respiração de maneira profunda a consciente. vamos lá.
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Enfim, concluímos aqui esta aula. No nosso próximo encontro veremos alguns aspectos importantes da prática, como a atitude correta de fazer estas meditações. Espero que goste! Obrigado por nos escutar. Tenha um bom dia a até a próxima aula. Namaste!
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Olá. Como você está? Espero que muito bem disposto. Hoje nossa aula vai ser diferente e muito interessante. Chegando neste ponto, e antes de continuar nos aprofundando em novos mantras, faz-se necessário fazer um pequeno esforço para estudar a maneira correta de pronunciá-los. Para isso, hoje conheceremos um pouco da fonética sânscrita, ou seja, da arte de pronunciar os sons desta língua sagrada.
Diz-se que os sons do sânscrito são as plumas que configuram as asas de Garuḍa, o deus-águia. Aliás, o nome garuḍa, que habitualmente se traduz como águia, significa em verdade “asas da eloquência”. Isto obedece a uma razão muito bonita: o conhecimento nos dá asas, nos permite voar. O alfabeto sânscrito é fonético. I.e., se pronuncia como se escreve, e se escreve como se pronuncia. Para você, que fala português ou espanhol, é bem mais fácil aprender a pronunciar corretamente os mantras em sânscrito do que, digamos, para um anglófono, já que tanto a língua de Camões como a de Cervantes, são também fonéticas.
Consta de quatorze vogais e trinta e três consoantes. Somados a eles outros sons acessórios e algumas ligaduras especiais, o número de letras se eleva a 54. Isso pode tornar esta bela língua um tanto hermética para os não iniciados: as nuanças de pronúncia chegam a ser imperceptíveis aos ouvidos desabituados. Consequentemente, muitos dos seus sons são irreproduzíveis em alguns idiomas.
O sânscrito não possui acentuação marcada ou forte, mas apenas uma sucessão de sílabas curtas e longas, com inflexões tônicas e musicais. O traço horizontal (chamado macron) sobre as vogais ā, ī e ū implica alongamento desses sons. O o e o e são sempre longos, fechados. A pronúncia figurada é dada abaixo, segundo a ordem do alfabeto sânscrito (ou melhor dizendo, silabário, pois todo som aparece combinado com o a).
Para que possamos compreender melhor esta língua, os gramáticos nos facilitaram o trabalho e
dividiram as letras do alfabeto (que em verdade é um silabário, aliás), em oito grupos, de acordo com tipo de som e com o lugar do aparelho fonador onde os sons correspondentes às letras se originam.
Esses oito grupos são: vogais e ditongos, guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais, semi-vogais e aspiradas.
Convido você aqui para fazer o exercício de pronúncia letra por letra, escutando e repetindo. Antes de mais nada, ouça por favor a recitação de todo o alfabeto do início ao fim. Vou recitar ele para você do jeito que aprendi com meu primeiro professor, que era de Goa e falava português, na década de 1980, na Índia. “Cantar” o alfabeto facilita a compreensão.
Depois começaremos o exercício da recitação, ouvindo e repetindo os sons de cada grupo, um a um. Na primeira vez iremos bem devagar, e daremos uma breve explanação sobre cada tipo de som e a maneira de produzí-lo usando as diferentes partes do aparelho fonador.
Vogais e ditongos
a aberta, curta, como em tatu (pūrṇa); ā aberta, longa, como em arte (prāṇa); i curta, como em ideia (Śiva);
ī longa, como em ali (nāḍī); u como em união (udāṇa);
ū longa, como em açude (kūṁbhaka); e fechado, como em dedo (asteya); ai ditongo, como em vai (kaivalya); o fechado, como em iodo (Yoga); au ditongo, como em pauta (nauli); ṛ pronuncia-se como em marinho (ṛṣi). ṝ pronuncia-se como em marítimo (ṝkāra); ḷ como em inglês, revelry (ḷtaka);
ḹ como em inglês, revelry, mas prolongado (ḹkāra);
Consoantes
1) Guturais
ka como em Karina (karma);
kha aspirada, como em inglês, broke-heart (Sāṅkhya); ga gutural, como em guirlanda (Gītā);
gha aspirada, como em inglês, big-house (Gheraṇḍa); ṅa nasalizando a vogal precedente (aṅga);
2) Palatais
ca pronuncia-se como em tchê (cakra);
cha também como em tchê, mas prolongado (mūrcchā); ja palatal, pronuncia-se como em Djalma (japa); jha palatal, como em inglês, hedgehog (jhali);
ña unicamente antes ou depois de consoantes palatais, como em senha (jñāna);
3) Cerebrais
ṭa com a língua no palato, como em inglês, true (Aṣṭāṅga); ṭha dental aspirada, como em inglês, lighthouse (Haṭha); ḍa com a língua no palato, como em inglês, drum (daṇḍa); ḍha com a língua no palato, como em inglês, redhaired (ḍhuṇḍi); ṇa como em inglês, done (prāṇa);
4) Dentais
ta com a língua na raiz dos dentes, como em terra (Tantra);
tha com a língua na raiz dos dentes, como em inglês, foot-hook (sthiraṁ); da dental, como em dilúvio (dasanāmi);
dha dental, como em inglês, bloodhorse (dhāraṇā); na dental, como em nota (ānanda);
5) Labiais
pa labial, como em posto (pūraka);
Mantra Yoga
Pedro Kupfer
Módulo 1 . Fonética
6. Invocação da Paz Sarveṣam
pha labial aspirada, como em inglês, top-half (phāla); ba labial, como em bomba (bandha);
bha aspirada, como no inglês, nib-head (bhūta);
ma em início de palavra ou após vogal tem som bilabial, como em mãe (mantra); entre conso-antes, é nasalizada, como em também (saṁskāra);
6) Semi-vogais
ya é semivogal: pronuncia-se como o i em viola (Yoga);
ra sempre como se estivesse no meio da palavra, como em vidro (rāja); la como em iluminar (kuṇḍalinī);
va em início de palavra ou após vogal, pronuncia-se como em volta (vāsaṇā); após consoante, pronuncia-se igual ao w de narrow, em inglês (tattva);
7) Aspiradas
śa tem o som de sh, como em Sheila (Śiva);
ṣa tem o som de sh, como em bush (Kṛṣṇa), com a língua ligeiramente para cima; sa tem o som de ss, como em passo (āsana);
ha sempre aspirado, como em happy (anāhata);
[z, q, f] não existem em sânscrito. Estas letras foram assimiladas nas línguas vernáculas durante a presença muçulmana. Um exemplo: faquir.
Depois você pode dar uma olhada no PDF que recebeu desta aula, para maiores esclarecimentos ou consultas posteriores, em caso de dúvida. Nesse material, que você pode imprimir e guardar para referência, tem uma série de exemplos para facilitar a pronúncia de cada som.
Para visualizar corretamente nesse documento os sinais diacríticos correspondentes a cada som, nós vamos lhe enviar também um pacote de fontes para sânscrito romanizado, que você poderá instalar em seu computador. Bom, agora chega de estudar. Já fizemos o que precisávamos.
***
Depois desta prática de fonética vamos passar à meditação no mantra de hoje. Ele é uma das
chamadas invocações de paz, śāntipāṭhas, e é aludida, como as demais, através da primeira pala-vra do verso inicial. No caso, sarveṣāṁ. Esta é uma das mais simples e bonitas invocações. Como todas, é dirigida a todos os seres, não apenas aos humanos, mas a tudo o que vive, o que cresce, o que pulsa. Como todas, é feita em benefício de todos os seres, establecendo uma linda intenção de paz, plenitude, bem-estar, felicidade e saúde.
Ao fazermos esta prece, nos tornamos contribuidores para o bem-estar e a paz de todos, uma vez que a ideia é lembrar que o bem-estar comum é uma prioridade que todos deveríamos manter presente. Isso é, descobrindo a nós mesmos como plenitude, nos dispomos a compartilhar essa plenitude com os demais, sem paternalismos, mas de modo compassivo e equânime.
A tradução diz assim: “Que haja bem-estar e abundância para todos; que todos vivam em paz; que todos vivam plenos; que todos estejam bem. Que haja paz, paz, paz. Hariḥ Oṁ”.
Como nas práticas que fizemos anteriormente, ouvimos e repetimos o mantra, verso por verso, três vezes. Depois fazemos ele inteiro, regulando a respiração de maneira profunda a consciente. vamos lá.
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Enfim, concluímos aqui esta aula. No nosso próximo encontro veremos alguns aspectos importantes da prática, como a atitude correta de fazer estas meditações. Espero que goste! Obrigado por nos escutar. Tenha um bom dia a até a próxima aula. Namaste!
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Olá. Como você está? Espero que muito bem disposto. Hoje nossa aula vai ser diferente e muito interessante. Chegando neste ponto, e antes de continuar nos aprofundando em novos mantras, faz-se necessário fazer um pequeno esforço para estudar a maneira correta de pronunciá-los. Para isso, hoje conheceremos um pouco da fonética sânscrita, ou seja, da arte de pronunciar os sons desta língua sagrada.
Diz-se que os sons do sânscrito são as plumas que configuram as asas de Garuḍa, o deus-águia. Aliás, o nome garuḍa, que habitualmente se traduz como águia, significa em verdade “asas da eloquência”. Isto obedece a uma razão muito bonita: o conhecimento nos dá asas, nos permite voar. O alfabeto sânscrito é fonético. I.e., se pronuncia como se escreve, e se escreve como se pronuncia. Para você, que fala português ou espanhol, é bem mais fácil aprender a pronunciar corretamente os mantras em sânscrito do que, digamos, para um anglófono, já que tanto a língua de Camões como a de Cervantes, são também fonéticas.
Consta de quatorze vogais e trinta e três consoantes. Somados a eles outros sons acessórios e algumas ligaduras especiais, o número de letras se eleva a 54. Isso pode tornar esta bela língua um tanto hermética para os não iniciados: as nuanças de pronúncia chegam a ser imperceptíveis aos ouvidos desabituados. Consequentemente, muitos dos seus sons são irreproduzíveis em alguns idiomas.
O sânscrito não possui acentuação marcada ou forte, mas apenas uma sucessão de sílabas curtas e longas, com inflexões tônicas e musicais. O traço horizontal (chamado macron) sobre as vogais ā, ī e ū implica alongamento desses sons. O o e o e são sempre longos, fechados. A pronúncia figurada é dada abaixo, segundo a ordem do alfabeto sânscrito (ou melhor dizendo, silabário, pois todo som aparece combinado com o a).
Para que possamos compreender melhor esta língua, os gramáticos nos facilitaram o trabalho e
dividiram as letras do alfabeto (que em verdade é um silabário, aliás), em oito grupos, de acordo com tipo de som e com o lugar do aparelho fonador onde os sons correspondentes às letras se originam.
Esses oito grupos são: vogais e ditongos, guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais, semi-vogais e aspiradas.
Convido você aqui para fazer o exercício de pronúncia letra por letra, escutando e repetindo. Antes de mais nada, ouça por favor a recitação de todo o alfabeto do início ao fim. Vou recitar ele para você do jeito que aprendi com meu primeiro professor, que era de Goa e falava português, na década de 1980, na Índia. “Cantar” o alfabeto facilita a compreensão.
Depois começaremos o exercício da recitação, ouvindo e repetindo os sons de cada grupo, um a um. Na primeira vez iremos bem devagar, e daremos uma breve explanação sobre cada tipo de som e a maneira de produzí-lo usando as diferentes partes do aparelho fonador.
Vogais e ditongos
a aberta, curta, como em tatu (pūrṇa); ā aberta, longa, como em arte (prāṇa); i curta, como em ideia (Śiva);
ī longa, como em ali (nāḍī); u como em união (udāṇa);
ū longa, como em açude (kūṁbhaka); e fechado, como em dedo (asteya); ai ditongo, como em vai (kaivalya); o fechado, como em iodo (Yoga); au ditongo, como em pauta (nauli); ṛ pronuncia-se como em marinho (ṛṣi). ṝ pronuncia-se como em marítimo (ṝkāra); ḷ como em inglês, revelry (ḷtaka);
ḹ como em inglês, revelry, mas prolongado (ḹkāra);
Consoantes
1) Guturais
ka como em Karina (karma);
kha aspirada, como em inglês, broke-heart (Sāṅkhya); ga gutural, como em guirlanda (Gītā);
gha aspirada, como em inglês, big-house (Gheraṇḍa); ṅa nasalizando a vogal precedente (aṅga);
2) Palatais
ca pronuncia-se como em tchê (cakra);
cha também como em tchê, mas prolongado (mūrcchā); ja palatal, pronuncia-se como em Djalma (japa); jha palatal, como em inglês, hedgehog (jhali);
ña unicamente antes ou depois de consoantes palatais, como em senha (jñāna);
3) Cerebrais
ṭa com a língua no palato, como em inglês, true (Aṣṭāṅga); ṭha dental aspirada, como em inglês, lighthouse (Haṭha); ḍa com a língua no palato, como em inglês, drum (daṇḍa); ḍha com a língua no palato, como em inglês, redhaired (ḍhuṇḍi); ṇa como em inglês, done (prāṇa);
4) Dentais
ta com a língua na raiz dos dentes, como em terra (Tantra);
tha com a língua na raiz dos dentes, como em inglês, foot-hook (sthiraṁ); da dental, como em dilúvio (dasanāmi);
dha dental, como em inglês, bloodhorse (dhāraṇā); na dental, como em nota (ānanda);
5) Labiais
pa labial, como em posto (pūraka);
pha labial aspirada, como em inglês, top-half (phāla); ba labial, como em bomba (bandha);
bha aspirada, como no inglês, nib-head (bhūta);
ma em início de palavra ou após vogal tem som bilabial, como em mãe (mantra); entre conso-antes, é nasalizada, como em também (saṁskāra);
6) Semi-vogais
ya é semivogal: pronuncia-se como o i em viola (Yoga);
ra sempre como se estivesse no meio da palavra, como em vidro (rāja); la como em iluminar (kuṇḍalinī);
va em início de palavra ou após vogal, pronuncia-se como em volta (vāsaṇā); após consoante, pronuncia-se igual ao w de narrow, em inglês (tattva);
7) Aspiradas
śa tem o som de sh, como em Sheila (Śiva);
ṣa tem o som de sh, como em bush (Kṛṣṇa), com a língua ligeiramente para cima; sa tem o som de ss, como em passo (āsana);
ha sempre aspirado, como em happy (anāhata);
[z, q, f] não existem em sânscrito. Estas letras foram assimiladas nas línguas vernáculas durante a presença muçulmana. Um exemplo: faquir.
Depois você pode dar uma olhada no PDF que recebeu desta aula, para maiores esclarecimentos ou consultas posteriores, em caso de dúvida. Nesse material, que você pode imprimir e guardar para referência, tem uma série de exemplos para facilitar a pronúncia de cada som.
Para visualizar corretamente nesse documento os sinais diacríticos correspondentes a cada som, nós vamos lhe enviar também um pacote de fontes para sânscrito romanizado, que você poderá instalar em seu computador. Bom, agora chega de estudar. Já fizemos o que precisávamos.
***
Depois desta prática de fonética vamos passar à meditação no mantra de hoje. Ele é uma das
Mantra Yoga
Pedro Kupfer
Módulo 1 . Fonética
6. Invocação da Paz Sarveṣam
chamadas invocações de paz, śāntipāṭhas, e é aludida, como as demais, através da primeira pala-vra do verso inicial. No caso, sarveṣāṁ. Esta é uma das mais simples e bonitas invocações. Como todas, é dirigida a todos os seres, não apenas aos humanos, mas a tudo o que vive, o que cresce, o que pulsa. Como todas, é feita em benefício de todos os seres, establecendo uma linda intenção de paz, plenitude, bem-estar, felicidade e saúde.
Ao fazermos esta prece, nos tornamos contribuidores para o bem-estar e a paz de todos, uma vez que a ideia é lembrar que o bem-estar comum é uma prioridade que todos deveríamos manter presente. Isso é, descobrindo a nós mesmos como plenitude, nos dispomos a compartilhar essa plenitude com os demais, sem paternalismos, mas de modo compassivo e equânime.
A tradução diz assim: “Que haja bem-estar e abundância para todos; que todos vivam em paz; que todos vivam plenos; que todos estejam bem. Que haja paz, paz, paz. Hariḥ Oṁ”.
Como nas práticas que fizemos anteriormente, ouvimos e repetimos o mantra, verso por verso, três vezes. Depois fazemos ele inteiro, regulando a respiração de maneira profunda a consciente. vamos lá.
Oṁ sarveṣāṁ svastirbhavatu | sarveṣāṁ śāntirbhavatu | sarveṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu | sarveṣāṁ maṅgalaṁ bhavatu |
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||
Enfim, concluímos aqui esta aula. No nosso próximo encontro veremos alguns aspectos importantes da prática, como a atitude correta de fazer estas meditações. Espero que goste! Obrigado por nos escutar. Tenha um bom dia a até a próxima aula. Namaste!