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LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA, POR HELENA KOLODY. Andréia Rolak Moreira (ICV-Unicentro), Rosana Gonçalves (orientadora),

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Academic year: 2021

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LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA, POR HELENA KOLODY Andréia Rolak Moreira (ICV-Unicentro), Rosana Gonçalves

(orientadora), e-mail: rgon_1@hotmail.com

Universidade Estadual do Centro Oeste/ Departamento de Letras. Guarapuava. Paraná.

Palavras-Chave: memória, poesia, modernidade. Resumo

A presença da temática da infância é recorrente em toda a literatura universal, pois representa a recuperação idealizada de um tempo passado e irretornável e possibilita o exercício da liberdade e da imaginação. Na literatura brasileira, especialmente na do século XX, inúmeros foram os escritores e poetas que se debruçaram com plena liberdade sobre esse tema, tais como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Helena Kolody, entre tantos outros. A poesia de Helena Kolody apresenta alguns temas recorrentes, como a contemplação plácida da vida, a constatação da efemeridade do tempo, a consciência da solidão, a transitoriedade das coisas, as reminiscências e a saudade da infância. Considerando que a recorrência à temática da infância permite aos poetas a utilização da linguagem coloquial, a valorização das peculiaridades regionais dos locais onde foram criados, a valorização de manifestações populares e da tradição, o presente trabalho pretendeu realizar a leitura e análise de três poemas de Helena Kolody, “Infância” e “Reminiscência”, do livro Viagem no Espelho(1999), e “Lição” de Ontem Agora (1991). Essa leitura, feita à luz de teóricos como Emil Staiger, em Conceitos Fundamentais da Poética, Hugo Friedrich, em Estrutura da lírica moderna, e Salete de Almeida Cara, em A Poesia lírica, buscou confirmar a inserção da poeta paranaense no cânone da modernidade brasileira e verificar a forma de re-visitação que ela faz à infância.

Introdução

O poema é uma manifestação enigmática que consegue, por vezes, superar as expectativas de seus leitores, principalmente pela forma que molda e transforma simples palavras em mágica de causa e efeito. A poesia, no entanto, está mais relacionada com a sonoridade e musicalidade, estando condicionada à maneira que os leitores recebem o poema. Já, lírica, na acepção de Cara (1989), trata da subjetividade da poesia, condicionada à forma como o eu lírico concebe a visão do mundo, sendo, portanto, a responsável pelo sentimentalismo mais profundo, a exaltação de

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sentimentos. Assim, o lirismo faz um recorte do mundo juntando vários elementos para causar o impacto que seduz na poesia.

Nesse sentido, quando se lê uma poesia lírica sobre recordação, ela desperta lembranças principalmente da infância, proporcionando ao leitor uma volta ao passado, fazendo-o recordar de fatos guardados na memória que com a passagem do tempo são deixados de lado e, ao serem lembrados, despertam saudades e histórias a contar, como considera Emil Staiger, em Conceitos Fundamentais da Poética (1997). Para ele, o fato de a poesia lírica repousar sobre a “re-cordação”, significa a reviviscência de algo que volta a ser sentido, que retorna ao coração.

A poesia moderna busca demonstrar que apesar de o poema proporcionar várias interpretações e de o poeta ser livre para criar e demonstrar de várias maneiras suas emoções, ela tem que se basear em fatos reais, isto é, tentar ser o mais verossímil possível, pois é a noção de realidade que faz a poesia ganhar credibilidade e se tornar um instrumento de comunicação.

A infância, enquanto tema literário recebeu de poetas e escritores modernistas um tratamento bastante especial. Ao revolucionarem os valores estéticos academicistas, os modernistas provocaram a suspensão daquilo que até então era considerado “belo” e “elevado”, próprio à poesia. Dessa forma, valores como o cômico, o grotesco e o infantil foram alçados à condição de poéticos. A metafísica acadêmica foi substituída por manifestações “ingênuas”, nem por isso simplistas, pelo culto à infância, como símbolo da plena liberdade, e pela simplicidade do cotidiano. Data daí a inserção definitiva de expressões cotidianas e prosaicas na poesia brasileira, que valorizavam o familiar, o coloquial e até o vulgar.

Helena Kolody, poeta paranaense, contemporânea, publicou inúmeras obras abordando nelas temas variados, incluindo entre eles a temática da infância. O que se destaca em suas obras é sem dúvida a simplicidade de vocabulário, aliada à delicadeza e ao sentimentalismo. Esses três elementos traduzem sua poesia, tornando-a inconfundível. Helena, sendo considerada poeta moderna, demonstra em suas obras uma objetividade; mesmo tratando de sentimentalismo, ela consegue, com seu vocabulário simples, dar um tom de realidade. Percebe-se isso nas poesias referentes à infância, quando a poeta utiliza-se da descrição como ponto principal da poesia, sendo esse considerado seu artifício característico, então descreve a natureza o ambiente, as brincadeiras infantis e também a riqueza de uma família unida.

A pesquisa buscou demonstrar a vida e a obra da poeta Helena Kolody, dando ênfase na sua linguagem e contextualizando-a com poemas relacionados à infância, onde neles pode-se perceber a riqueza de vocabulário e a capacidade da poeta em despertar nos leitores sentimentos de recordação, marca principal da vida e obra da poeta.

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A pesquisa utilizou-se de recursos bibliográficos estando fundamentada em obras relacionadas à vida e obra da poeta Helena Kolody, e também em teorias referentes à poesia lírica e à recordação como, por exemplo, Estrutura da Lírica Moderna, de Hugo Friedrich, A poesia lírica, de Salete de Almeida Cara e Conceitos Fundamentais da poética, de Emil Staiger, além de teóricos e historiadores que ilustram o contexto da modernidade. A partir dessas leituras, foi feita a análise de três poemas referentes à infância, a fim de caracterizar o estilo kolodiano, sua inserção na modernidade e a forma literária que a poeta encontrou para revisitar a infância.

Resultados e Discussão

A leitura e a análise dos poemas “Infância”, “Reminiscência” e “Lição” permitiu-nos verificar que a poesia de Helena Kolody que trata da infância é impregnada pela nostalgia e pelo desejo constante de rememorar e recuperar a pureza que ela considera encontrar somente nessa fase da vida. Evocar a infância constantemente é uma prática kolodiana e uma maneira de tornar a vida mais fácil de ser vivida.

No poema “Infância”, percebe-se que a criação poética é alicerçada pelo desejo de recuperar aquele “tempo bom” vivido em “Três Barras/ plenas de sol e de cigarras”, expresso por uma linguagem simples, coloquial e cheia de exclamações, que denotam surpresas nas descobertas e embevecimento com a vida, e reticências, que apontam para a suspensão desse tempo e/ou para a reincidência indefinida dos bons momentos.

Segue-se, nas demais estrofes, uma descrição do ambiente vivido por ela, onde tudo é lembrado e descrito passo a passo, a natureza, as abelhas, as formigas a chuva, as comidas, a simplicidade do interior, as brincadeiras infantis e a inocência das crianças. Helena brinca com as palavras, utiliza-se de rimas para dar sonoridade à poesia, usa palavras simples e rústicas, para evidenciar a passagem de tempo, há também pequenos versos de cantigas, e ditos populares. Esses recursos transformam a poesia de Helena Kolody em uma grande aquarela, despertando nos leitores a imaginação deste ambiente com a consequente pintura de um quadro bucólico.

No poema “Reminiscência”, o eu lírico recorda de um fato triste de sua infância. O que difere esse poema do primeiro, “Infância”, é que nele há o relato de um momento triste vivido por sua família, na época que seu pai possuía um armazém em Três Barras. Na primeira estrofe percebemos que a poeta utiliza-se de vários sinais de pontuação para dar caráter de sofrimento para a poesia: “Ai, como a casa pesava/Na minha infância sombria!/O pai quase não falava/-Só fumava, só fumava!/E já quase não sorria./Aquela gente passava./ Aquela gente não via”.

Ao tratar de um momento triste da vida de Helena, ocorre a confissão de que aquele momento deixou marcas em sua vida e que de alguma maneira fê-la amadurecer. Destaca-se nesta poesia a revelação do respeito existente naquela família e a preocupação de todos com a situação financeira.

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“Lição”, outro poema analisado, denota a relação entre neta e avó, marcada pelo respeito e pela admiração. Extremamente confessional, esse poema revela a religiosidade do povo ucraniano que, mesmo em terras estranhas, tudo faz para manter sua tradição e seus rituais religiosos, fazendo disso uma questão de honra e de manutenção de sua identidade: “A luz da lamparina dançava/frente ao ícone da Santíssima Trindade./Paciente, a avó ensinava/a prostar-se em reverência,/a persignar-se com três dedos/e a rezar em língua eslava.”

Esses três poemas analisados representam uma fração mínima do universo poético kolodiano, mas comportam, cada um em particular, a essência poética que caracteriza e particulariza Helena Kolody como um ícone da modernidade brasileira.

Conclusões

Helena Kolody cantou a infância vivida em Três Barras de uma forma única, inconfundível, amorosa e extremamente simples. Essa simplicidade fique bem claro, jamais relegará sua poesia ao simplismo. Ao contrário. Como apregoa Hugo Friedrich, em A estrutura da lírica moderna, a simplicidade da exposição aliada à complexidade do conteúdo, gera a dissonância, marca maior da modernidade, que desnorteia o leitor crítico. Helena consegue isso. Ao tratar da infância, com palavras e expressões coloquiais, ela exige que o leitor reflita sobre as grandes questões existenciais e metafísicas que norteiam e desnorteiam a natureza humana.

Helena, quando escreve sobre a infância consegue resgatar suas lembranças, sua história de vida, vista agora com um olhar de maturidade; seus poemas abordam a fraternidade de um lar, a ternura, a simplicidade do interior e, ao mesmo tempo, reproduzem a dureza de uma vida sofrida, pela ótica da pureza e da inocência da felicidade infantil.

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir a realização de cada passo dessa pesquisa, aos meus familiares por me incentivarem e ajudarem, e ao Departamento de Letras da Unicentro, pela orientação na elaboração do trabalho.

Referências

Bosi, Alfredo. Leitura de Poesia. São Paulo: Ática, 1996.

Cara, Salete de Almeida. A poesia Lírica. São Paulo: Atica, 3ª edição, 1989. Eliot, T.s. De poesia e poetas. São Paulo: Brasiliense, 1991.

Friedrich, Hugo. Estrutura da Lírica Moderna, São Paulo: Cultrix, 1991.

Kolody, Helena. Ontem agora. Curitiba: Secretaria da Cultura do Paraná, 1991.

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Lobo, Luiza. Teorias Poéticas do Romantismo. Porto Alegre: UFRJ, 1987. Moises, Massaud. A criação literária. São Paulo: Cultrix, 1984.

Paraná, Governo do. Os Poetas. Curitiba: Secretária da Cultura, 1993.

Staiger, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 1997.

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