• Nenhum resultado encontrado

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Texto Integral

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 01247/12

Data do Acordão: 14-02-2013

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: FRANCISCO ROTHES

Descritores: CADUCIDADE DO DIREITO DE IMPUGNAR REMESSA DA PETIÇÃO PELO CORREIO COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA CONHECIMENTO EM SUBSTITUIÇÃO

Sumário: I - Constando dos autos o envelope por que a petição inicial foi

remetida a tribunal, pode este Supremo Tribunal Administrativo conhecer dos elementos dele constantes, porque integrantes do próprio processo judicial e susceptíveis de serem apreendidos por mera percepção (já não seria assim relativamente aos actos do processo administrativo), designadamente em ordem a ajuizar da tempestividade da apresentação daquela peça processual, mesmo que no recurso tenha meros poderes de revista, sem que daí resulte violação alguma das regras da competência em razão da hierarquia.

II - Resultando dos autos que a remessa da petição inicial foi

efectuada por correio registado no último dia do prazo para impugnar, é irrelevante, para efeitos de aferir da tempestividade da sua

apresentação e da eventual caducidade do direito de impugnar, que o carimbo de entrada aposto naquela peça processual tenha data do dia seguinte, ou seja, após o termo daquele prazo, pois, nesse caso, vale como data da prática do acto a da efectivação do respectivo registo postal (cf. art. 103.º, n.º 6, do CPPT).

III - Na sequência da revogação da sentença que julgou caducado o direito de impugnar e na impossibilidade de conhecer de mérito em substituição, por falta de julgamento da matéria de facto, devem os autos regressar à 1.ª instância, a fim de aí prosseguirem os autos.

Nº Convencional: JSTA000P15308

Nº do Documento: SA22013021401247

Data de Entrada: 13-11-2012

Recorrente: A..., LDA

Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto

Integral: 1. RELATÓRIO

1.1 A sociedade denominada “A………, Lda.” (a seguir Impugnante ou Recorrente) impugnou judicialmente as liquidações de juros compensatórios de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) que lhe foram efectuadas por a Administração tributária (AT) ter considerado que houve atraso na liquidação e entrega do imposto.

1.2 A Juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco julgou a impugnação improcedente, por caducidade do direito de impugnar. Para tanto,

considerou que a petição inicial deu entrada no dia seguinte ao termo do prazo de 15 dias, contado da notificação do indeferimento da reclamação graciosa.

1.3 Inconformada com a decisão, a Impugnante dela interpôs recurso para este Supremo Tribunal Administrativo, recurso que foi admitido, com subida imediata, nos próprios autos e efeito meramente devolutivo.

(2)

1.4 A Recorrente apresentou as respectivas alegações, que sintetizou em conclusões do seguinte teor:

«

1 - A Impugnante e ora recorrente foi notificada do indeferimento da reclamação graciosa no dia 31 de Janeiro [( Permitimo-nos corrigir o manifesto lapso de escrita: onde ficou escrito Maio queria dizer-se Janeiro, como resulta inequivocamente no teor das alegações (maxime n.º 5 da parte denominada contextualização do recurso, a fls. 128) e de toda a economia do recurso.)] de

2007;

2 - O prazo para a propositura da impugnação judicial ocorreu no dia 15 de Fevereiro de 2007;

3 - A Impugnante e ora recorrente enviou por correio registado, datado de 15 de Fevereiro de 2007, a impugnação judicial que foi enviada para o TAFCB;

4 - O registo postal referido na conclusão anterior foi efectivado na data ali referida no balcão dos CTT, sito nos restauradores, em Lisboa.

5 - Assim sendo, a impugnação judicial a que diz respeito o presente recurso foi apresentada atempadamente.

Pedido: Nestes termos e nos melhores de Direito, deve o presente recurso ser julgado procedente, por provado, devendo a sentença do Tribunal a quo ser substituída por outra que aprecie […]o mérito da impugnação judicial».

1.5 Com as alegações, a Recorrente apresentou documento – cópia do talão de um registo postal de correspondência remetida ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo branco –, a fim de comprovar a data do registo postal respeitante ao envio a juízo da petição inicial.

1.6 A Fazenda Pública não contra alegou.

1.7 Recebidos os autos neste Supremo Tribunal Administrativo, foi dada vista ao Ministério Público e o Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer no sentido de que se declare a incompetência deste Tribunal em razão da hierarquia e que a competência para conhecer do recurso é do Tribunal Central Administrativo Sul. Isto, em síntese, porque considerou que «a recorrente manifesta discordância quanto à apreciação

efectuada sobre factos não levados ao probatório, nomeadamente, com base no decorrente de documento que foi junto com as motivações de recurso do qual defende resultar ter a impugnação judicial sido remetida a 15/2/2007».

1.8 Notificadas as partes do parecer do Ministério Público, apenas a Impugnante veio insurgir-se contra o entendimento de que este Supremo Tribunal Administrativo é incompetente em razão da hierarquia, pois «a prova documental respeitante a

registos postais deve constar dos processos, o que permitirá desde logo, entre outras circunstâncias, efectuar uma correcta contagem dos prazos processuais»,

estimando que seja esse o caso e que foi apenas «para dissipar quaisquer dúvidas» que juntou às alegações o documento referido em 1.5.

1.9 Dispensaram-se os vistos dos Juízes adjuntos, atenta a simplicidade das questões a dirimir.

1.10 As questões que cumpre apreciar e decidir são, por esta ordem, as de saber se • este Supremo Tribunal Administrativo é competente em razão da hierarquia para apreciar o recurso (questão suscitada pelo Ministério Público);

(3)

• a Juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco fez correcto

julgamento ao considerar caducado o direito de impugnar (questão suscitada pela Recorrente); na negativa,

• se pode este Supremo Tribunal Administrativo conhecer do mérito da impugnação judicial em substituição do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco e, na afirmativa, se a impugnação pode proceder.

* * * 2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1 DE FACTO

2.1.1 A decisão recorrida efectuou o julgamento de facto nos seguintes termos:

«Compulsados os autos e analisada a prova documental apresentada, encontram-se

assentes, por provados, os seguintes factos com interesse para a decisão: 1. Em 22/08/2006, a A………, Lda. deduziu reclamação graciosa contra as

liquidações de juros compensatórios efectuadas em 16/06/2006 no montante total de € 1.543,10, em que requer a anulação das referidas liquidações – cfr. fls. 2 a 21 do processo administrativo em apenso aos autos;

2. Em 31/01/2007, a impugnante foi notificada do indeferimento da reclamação graciosa, por carta registada com aviso de recepção – cfr. fls. 87 e 87 verso do processo administrativo em apenso aos autos;

3. Em 16/02/2007 deduz a presente impugnação judicial – cfr. fls. 2 dos presentes autos».

2.1.2 Com interesse para a decisão a proferir, os autos revelam ainda o seguinte circunstancialismo processual (Como melhor procuraremos demonstrar adiante, embora o Supremo Tribunal Administrativo não tenha competência em matéria de facto nos recursos que lhe são submetidos das decisões dos tribunais de 1.ª instância (cfr. art. 26.º, alínea b), do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais), não está impedido e, pelo contrário, está obrigado a considerar as ocorrências processuais reveladas pelos autos, apreensíveis por mera percepção e que são do conhecimento oficioso.): 4. A petição inicial que deu origem à presente impugnação judicial foi remetida ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco por correio registado em 15 de Fevereiro de 2007 (cfr., a fls. 56, o sobrescrito por que o Mandatário judicial da

Impugnante remeteu a peça processual e os documentos com que a instruiu a juízo); 5. A petição inicial deu entrada naquele Tribunal no dia 16 de Fevereiro de 2007, data em que lhe foi aposto o carimbo de entrada (cfr. fls. 2).

* 2.2 DE DIREITO

2.2.1 AS QUESTÕES A APRECIAR E DECIDIR

A Juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco “indeferiu” a impugnação judicial deduzida na sequência do indeferimento de reclamação graciosa contra as liquidações de juros compensatórios de IVA e “absolveu da instância” a Fazenda Pública, com fundamento em caducidade do direito de

impugnar, por entender que a petição inicial foi apresentada no dia seguinte ao do termo do prazo para o efeito, como resulta do «carimbo aposto no rosto desse

(4)

articulado».

Desde logo, há que realçar que estava já há muito ultrapassada a fase liminar, sendo que a decisão sob recurso foi proferida no termo do processo – depois de ter sido apresentada contestação pela Fazenda Pública, produzida a prova testemunhal, dada às partes a possibilidade de alegarem, que a Impugnante aproveitou, e depois de ter sido emitido parecer pelo Representante do Ministério Público –, pelo que, nessa fase, já não podia ser “indeferida” a impugnação judicial.

Na verdade, a caducidade do direito de impugnar constitui uma excepção peremptória (cf. art. 493.º, n.ºs 1 e 3, do Código de Processo Civil (CPC)) e

substancial, de conhecimento oficioso (cf. art. 333.º, n.º 1, do Código Civil e 496.º do CPC), que, verificada em sede liminar, determina o indeferimento liminar da petição inicial e, verificada a final, determina a absolvição do pedido.

Seja como for, a Impugnante insurgiu-se contra a decisão por considerar que inexiste razão para considerar caducado o direito de impugnar.

Não questionando que o prazo para impugnar seja o que foi considerado pela Juíza do Tribunal a quo – de 15 dias a contar da notificação do indeferimento da

reclamação graciosa, como resulta do disposto no art. 102.º, n.º 2, do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) (Diz o n.º 2 do art. 102.º do CPPT: «Em caso

de indeferimento de reclamação graciosa, o prazo de impugnação será de 15 dias após a notificação».) – , a Recorrente sustenta, no entanto, que a impugnação judicial deve considerar-se deduzida, não na data em que foi aposto o carimbo de entrada no Tribunal

Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, mas na data em que foi efectuado no correio o registo da correspondência por que aquela peça processual foi remetida a juízo.

O Representante do Ministério Público emitiu parecer no sentido de que este Supremo Tribunal Administrativo deve declarar-se incompetente em razão da hierarquia, declarando competente para conhecer do recurso o Tribunal Central Administrativo Sul. Isto, porque considerou que a Recorrente assenta a motivação do recurso num facto que não foi levado ao probatório, qual seja o de que a petição inicial foi remetida a tribunal por correio registado em 15 de Fevereiro de 2007. Assim, em face da motivação do recurso e da posição assumida pelo Procurador-Geral Adjunto junto deste Supremo Tribunal Administrativo, as questões a apreciar e decidir são as que deixámos enunciadas em 1.10.

*

2.2.2 SOBRE A INCOMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA INVOCADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Cumpre iniciar a apreciação do recurso pela questão da competência, sabido que é questão de ordem pública e prioritária em relação a qualquer outra (cfr. art. 13.º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), aprovado pela Lei n.º 15/2002, de 22 de Fevereiro). Cumpre, designadamente, aferir da incompetência em razão da hierarquia, que determina a incompetência absoluta do tribunal, a qual é do conhecimento oficioso e pode ser arguida até ao trânsito em julgado da decisão final (cfr. art. 16.º do CPPT), sendo que no caso foi arguida pelo Ministério Público.

Nos termos do disposto nos arts. 26.º, alínea b), e 38.º, alínea a), do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF), aprovado pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro, e no art. 280.º, n.º 1, do CPPT, a competência para conhecer dos

recursos das decisões dos tribunais tributários de 1.ª instância em matéria de contencioso tributário é da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal

(5)

Administrativo quando os recursos tenham por exclusivo fundamento matéria de direito, constituindo uma excepção à competência generalizada dos tribunais centrais administrativos, aos quais cabe conhecer «dos recursos de decisões dos

Tribunais Tributários, salvo o disposto na alínea b) do artigo 26.º» (art. 38.º, alínea a), do ETAF).

Assim, para aferir da competência em razão da hierarquia do Supremo Tribunal Administrativo, há que olhar para as conclusões da alegação do recurso e verificar se, em face das mesmas, as questões controvertidas se resolvem mediante uma exclusiva actividade de aplicação e interpretação de normas jurídicas, ou se, pelo contrário, implicam a necessidade de dirimir questões de facto, seja por insuficiência, excesso ou erro, quanto à matéria de facto provada na decisão recorrida, quer

porque se entenda que os factos levados ao probatório não estão provados, quer porque se considere que foram esquecidos factos tidos por relevantes, seja porque se defenda que a prova produzida foi insuficiente, seja ainda porque se divirja nas ilações de facto que se devam retirar dos mesmos (Vide, entre outros, os acórdãos da Secção

do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

ـ de 16 de Dezembro de 2009, proferido no processo com o n.º 738/09, publicado no Apêndice ao Diário

da República de 19 de Abril de 2010 (http://www.dre.pt/pdfgratisac/2009/32240.pdf), págs. 2052/2057, também disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/faa144134d6efbf5802576a30041135b? OpenDocument;

ـ de 21 de Abril de 2010, proferido no processo com o n.º 189/10, publicado no Apêndice ao Diário da

República de 30 de Março de 2011 (http://www.dre.pt/pdfgratisac/2010/32220.pdf), págs. 670/674, também disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/8445188eb602055b80257711005292ba? OpenDocument.).

No caso sub judice, o Procurador-Geral Adjunto sustenta a invocada incompetência em razão da hierarquia na circunstância de a Recorrente ter invocado um facto que não consta do probatório da sentença: que a petição inicial foi remetida a tribunal por correio registado em 15 de Fevereiro de 2007.

Na verdade, estando em causa a caducidade do direito de impugnar, que passa pela determinação da data em que a petição inicial se deve considerar apresentada, a Juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, louvando-se

expressamente no carimbo de entrada que foi aposto na petição inicial, consignou no probatório que «Em 16/02/2007 [a Contribuinte] deduz a presente impugnação

judicial» (cf. n.º 3 dos factos provados).

Antes do mais, cumpre realçar que tal asserção não constitui um facto, mas antes uma conclusão, que só pode ser extraída em face da aplicação das regras de direito aos factos pertinentes.

Na verdade, como melhor veremos adiante, quando nos ocuparmos da questão da caducidade do direito de impugnar, saber em que data a impugnação judicial foi deduzida passa pela aplicação das normas aplicáveis aos factos relevantes, designadamente àqueles que respeitam ao meio por que a petição inicial foi apresentada no tribunal tributário ou no serviço periférico local.

O facto que a Juíza do Tribunal a quo poderia dar como provado em face dos

elementos probatórios que referiu como suporte da sua convicção relativamente ao n.º 3 do probatório era aquele que consignámos supra sob o n.º 5: que a petição inicial deu entrada naquele Tribunal no dia 16 de Fevereiro de 2007, data em que lhe foi aposto o carimbo de entrada.

Seja como for, a verdade é que este Supremo Tribunal Administrativo não está impedido de – e, pelo contrário, está mesmo obrigado a – conhecer das

(6)

LOPES DE SOUSA:

«Relativamente aos actos do próprio processo judicial (ao contrário do que sucede

com os que constem do processo administrativo), o STA tem vindo a entender que cabe nos seus poderes de cognição levá-los em conta, mesmo nos recursos em que tem meros poderes de revista, por alguns deles serem imprescindíveis para

averiguar questões de conhecimento oficioso que lhe cabe conhecer. Entre essas questões inclui-se a da tempestividade da apresentação de peças processuais, que é aferida pelas indicações que constam dos carimbos que nelas são colocadas ou outros documentos assinalando o registo electrónico da entrada, cujo teor tem as características de documento autêntico e, por isso, constitui matéria englobada nos poderes de cognição dos tribunais de revista, por ter valor probatório fixado na lei (arts. 363.º, n.º 2, 369.º, 370.º e 371.º, n.º 1, do CC e 722.º, n.º 2, do CPC, este

último na redacção anterior ao DL n.º 303/2007, de 24 de Agosto, a que corresponde o n.º 3 na redacção dada por este Decreto-Lei). Aliás, não se podendo considerar como uma questão saber se o carimbo aposto numa peça processual tem o teor que tem (quando não é posta em causa a sua autenticidade), pois tal é apreensível por mera percepção, saber se através dele se prova ou não que a petição deu entrada nos serviços da administração tributária na data nele indicada é pura matéria de direito» (Código de Procedimento e de Processo Tributário anotado e comentado, Áreas Editora, 6.ª

edição, volume IV, anotação 23 h) ao art. 279.º, pág. 369.).

Ou seja, o Supremo Tribunal Administrativo, mesmo nos recursos em que tem exclusivamente poderes de revista, deve conhecer oficiosamente de todos as ocorrências processuais susceptíveis de serem apreendidas por mera percepção, sem que isso constitua atropelo algum às regras da competência em razão da hierarquia.

O mesmo Autor, em anotação ao art. 16.º do CPPT, a propósito da competência em razão da hierarquia, realça que «não devem considerar-se como invocação de

matéria de facto, as referências a peças que constem do processo, pois todas as ocorrências processuais são de conhecimento oficioso» (Ob. cit., volume I, anotação 10 ao

art. 16.º, pág. 225.).

Do que vimos de dizer resulta que o facto invocado pela Recorrente na motivação do recurso – que remeteu a petição inicial ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco por correio registado em 15 de Fevereiro de 2007, apreensível pela mera observação do sobrescrito que a Secretaria daquele Tribunal juntou aos autos a fls. 56 –, porque é de conhecimento oficioso por este Supremo Tribunal Administrativo, não determina a invocada incompetência em razão da hierarquia.

Improcede, pois, a questão prévia suscitada pelo Ministério Público.

*

2.2.3 DA CADUCIDADE DO DIREITO DE IMPUGNAR

Como deixámos já dito, não há dissídio relativamente ao prazo para impugnar nem quanto ao termo final do mesmo: 15 dias, a contar da notificação do indeferimento da reclamação graciosa (cfr. art. 102.º, n.º 2, do CPPT), que terminaram em 15 de

Fevereiro de 2007.

A divergência situa-se na data em que deve considerar-se deduzida a impugnação judicial: 16 de Fevereiro, como entendeu a Juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, ou 15 de Fevereiro, como sustenta a Recorrente?

(7)

A solução não apresenta dificuldade alguma, bastando ter em conta que a petição inicial foi remetida a juízo por correio registado em 15 de Fevereiro de 2007 (facto do conhecimento oficioso, como deixámos já dito) e o disposto no art. 103.º, n.ºs 1 e 6, do CPPT, que dispõem, respectivamente: «A petição é apresentada no tribunal

tributário competente ou no serviço periférico local onde haja sido ou deva

legalmente considerar-se praticado o acto» e «A petição inicial pode ser remetida a qualquer das entidades referidas no n.º 1 pelo correio, sob registo, valendo, nesse caso, como data do acto processual a da efectiva do respectivo registo postal».

Deve, pois, considerar-se que a impugnação judicial foi deduzida em 15 de Fevereiro de 2007 – data do registo postal da correspondência por que foram remetidos a juízo a petição inicial e documentos com que a mesma foi instruída –, ou seja, dentro do prazo legal para o efeito.

A sentença recorrida, que não atentou no facto de a petição inicial ter sido remetida a juízo por correio registado, e considerou apenas a data (16 de Fevereiro de 2007) em que lhe foi aposto o carimbo de entrada no Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, não pode, pois, manter-se na ordem jurídica, motivo por que, dando-se provimento ao recurso, deve ser revogada, como decidiremos a final.

*

2.2.4 DA POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DO MÉRITO EM SUBSTITUIÇÃO Provido o recurso, coloca-se agora a questão da possibilidade de conhecimento, em substituição, do mérito da impugnação judicial, apreciando os vícios invocados na impugnação judicial.

No entanto, porque a Juíza do Tribunal a quo, como se compreende face ao teor da decisão proferida, não se pronunciou sobre esses vícios, nem sequer fixou a matéria de facto pertinente para a apreciação dos mesmos, e porque este Supremo Tribunal está impedido o fazer, impõe-se que os autos baixem à 1.ª instância para que, se a tal nada mais obstar, sejam fixados os factos relevantes e conhecido o mérito da impugnação judicial.

* 2.2.5 CONCLUSÕES

Preparando a decisão, formulamos as seguintes conclusões:

I - Constando dos autos o envelope por que a petição inicial foi remetida a tribunal, pode este Supremo Tribunal Administrativo conhecer dos elementos dele

constantes, porque integrantes do próprio processo judicial e susceptíveis de serem apreendidos por mera percepção (já não seria assim relativamente aos actos do processo administrativo), designadamente em ordem a ajuizar da tempestividade da apresentação daquela peça processual, mesmo que no recurso tenha meros

poderes de revista, sem que daí resulte violação alguma das regras da competência em razão da hierarquia.

II - Resultando dos autos que a remessa da petição inicial foi efectuada por correio registado no último dia do prazo para impugnar, é irrelevante, para efeitos de aferir da tempestividade da sua apresentação e da eventual caducidade do direito de impugnar, que o carimbo de entrada aposto naquela peça processual tenha data do dia seguinte, ou seja, após o termo daquele prazo, pois, nesse caso, vale como data da prática do acto a da efectivação do respectivo registo postal (cf. art. 103.º, n.º 6, do CPPT).

(8)

III - Na sequência da revogação da sentença que julgou caducado o direito de impugnar e na impossibilidade de conhecer de mérito em substituição, por falta de julgamento da matéria de facto, devem os autos regressar à 1.ª instância, a fim de aí prosseguirem os autos.

* * * 3. DECISÃO

Face ao exposto, os juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo

Tribunal Administrativo acordam, em conferência, conceder provimento ao recurso, revogar a sentença recorrida e ordenar que os autos regressem à 1.ª instância, para aí prosseguirem, se a tal nada mais obstar.

Sem custas, uma vez que a Fazenda Pública não contra alegou o recurso.

*

Lisboa, 14 de Fevereiro de 2013. - Francisco Rothes (relator) – Fernanda Maçãs -

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

Colhi e elaborei autonomamente a história clínica de uma das doentes internadas no serviço, o que constituiu uma atividade de importância ímpar na minha formação, uma vez

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários