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MICOPLASMAS. Jorge Timenetsky. Universidade de São Paulo. Instituto de Ciências Biomédicas- ICB II. Depto. de Microbiologia

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MICOPLASMAS Jorge Timenetsky

Universidade de São Paulo.

Instituto de Ciências Biomédicas- ICB II

Depto. de Microbiologia

Av. Prof. Lineu Prestes, 1374. São Paulo - SP. CEP 05508-900.

1. Características gerais 2. Bases da estrutura genômica 3. Hospedeiros

4. Aspectos da patogenicidade 5. Aspectos imunológicos

1.Características Gerais

Molicute é o termo genérico para estas bactérias, no entanto, o termo micoplasma é ainda amplamente utilizado, mas seria apenas a designação genérica do gênero Mycoplasma. Micoplasma foi derivado das palavras gregas, mykes (fungo / filamentos) e plasma (forma). O primeiro isolamento de um molicute foi obtido por NOCARD e ROUX na França, em 1898, a partir de material pulmonar bovino durante um surto de pleuropneumonia contagiosa. Microrganismos semelhantes, foram descobertos posteriormente por outros pesquisadores em outros hospedeiros e eram, em sua grande maioria por várias décadas, denominados genericamente de PPLO (PleuroPneumonia-Like Organisms).

Esses procariotos pertencem à Divisão Tenericutes e à Classe dos Mollicutes (do latim, molli (suave), cutes (cútis ou derme), nomenclatura associada pela ausência total de parede celular e do peptidioglicano, sendo o citoplasma, envolvido apenas pela membrana trilaminar que possui colesterol, composto existente apenas nos eucariotos. São bactérias usualmente ovóides, mas a forma filamentosa (multinucleada) ocorre pela replicação mais rápida do DNA e do que divisão celular. Os “filamentos” em seguida fragmentam-se em pequenas células viáveis de aproximadamente 0,3 µm que, sob pressão em filtros, podem transpor filtros com porosidade de 0,22µm. Alguns molicutes originários de plantas, como os spiroplasmas (termo genérico a este

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grupo) apresentam contração de proteínas, possuem forma helicoidal e podem atingir 100µm. A quimiotaxia foi estudada em algumas espécies. Existem espécies com glicocálice (cápsula não verdadeira), alguns podem apresentar fibrilas ou uma projeção polar em forma de clava. Não possuem esporos, fímbrias, corpúsculos de inclusão ou flagelos. No entanto apresentam deslizamento na superfície de algumas células, plástico ou vidro. A quimiotaxia foi descrita em algumas espécies. Filogeneticamente os molicutes descendem de bactérias Gram positivas. Adquirem coloração Gram negativa pela ausência da parede celular mas usualmente não caracterizam-se pela microscopia óptica. Apenas a microscopia eletrônica evidencia as formas destas bactérias. São considerados os menores microrganismos de vida livre, possuem dimensões próximas aos maiores vírus.

Estas bactérias multiplicam-se pela fissão binária ou "fragmentação dos “filamentos”. Em meios sólidos, geralmente produzem colônias em forma de "ovo frito" observada em lupa. Em caldo, raramente turvam os meios mesmo atingindo 108 células /mL ou mais. Em geral, são microrganismos de multiplicação lenta e usualmente expressam o crescimento “in vitro” após 7 a 21 dias. Entretanto alguns novos integrantes aos molicutes não são cultiváveis em meios acelulares. Estas bactérias possuem alta sensibilidade aos agentes descontaminantes químicos e físicos. São também sensíveis à detergentes e alterações osmóticas. São naturalmente resistentes à penicilina e sulfonamida respectivamente pela ausência do peptidoglicano e síntese do ácido fólico. A tetraciclina é o antibiótico clássico contra estas bactérias, mas dependendo da espécie no tratamento de alguma micoplasmose importante, podem ser utilizados alguns macrolídios. Atualmente a ciproflaxina e a azitromicina são os antimicrobianos mais indicados. Em função do reduzido genoma (580 a 2200 Kpb), apresentam metabolismo e vias biossintéticas limitadas. Como exemplo, temos; ausência de alguns citrocromos e portanto não ocorre o ciclo de Krebs, não sintetizam aminoácidos e são incapazes de assimilar proteínas funcionais. Desta maneira o seu cultivo exige meios bastante enriquecidos, contendo: soro animal, precursores para a biossíntese do ácido nucléico, proteínas e lipídios.

Os micoplasmas podem ser divididos em fermentadores e não fermentadores de carboidratos (glicose). “In vitro”, os fermentadores acidificam os caldos e os não fermentadores, oxidam ácidos graxos e álcoois, não diminuindo significativamente o pH do meio de cultura. Quando a arginina é utilizada por ambos grupos, há produção de ATP, CO2 e NH3, alcalinizando o

caldo. Usualmente o pH ótimo para o crescimento é de 7,8 ± 0,2. Os ureaplasmas hidrolisam a uréia e exigem pH entre 5,8 e 6,5. Algumas espécies como os Acholeplasma spp, não exigem a presença de soro animal nos meios de cultura como a grande maioria dos molicutes.

As superfícies das mucosas orais, ocular, trato respiratório, urogenital e digestivo além da glândula mamária e das articulações, são o habitat primário desses organismos sendo que a

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maioria das espécies, permanece aderida a células. Além dos mamíferos, incluindo alguns mamíferos marinhos, esses organismos são também encontrados em peixes, aves e répteis, como patógenos, oportunistas ou comensais. Em insetos podem ser patógenos ou vetores de transmissão de doenças para certas plantas. De forma singular, foram constatadas espécies de micoplasmas no solo e na água. Os micoplasmas usualmente possuem especificidade em relação ao hospedeiro e ao sítio de colonização, no entanto foram encontradas espécies de origem animal em humanos e vice-versa. O oportunismo dos Mollicutes gera controvérsias na biologia da relação parasito-hopedeiro desafiando a compreensão destas bactérias.

A taxonomia destas bactérias é periodicamente ajustada, a classe Mollicutes atualmente é composta por; 5 ordens(Mycoplasmatales, Entomoplasmatales, Acholeplasmatales, Anaeroplamatales e Incertae sedis.), 6 famílias (Mycoplasmataceae, Entomoplasmataceae, Spiroplasmataceae, Acholeplasmataceae e Anaeroplasmataceae e Erysipelothrichaceae e 14 gêneros (Mycoplasma, Eperythrozoon, Haemobartonella, Ureaplasma, Entomoplasma, Mesoplasma, Spiroplasma, Acholeplasma, Anaeroplasma, Asteroplasma, Erysipelothrix, Bulleidia, Holdemania, Solobacterium. Devido ao estudo comparativo de genomas microbianos, os gêneros, Eperythrozoon, Haemobartonella, Bulleidia, Holdemania, Solobacterium foram incluídos aos molicutes. Originalmente muitas destas bactérias pertenciam às antigas riqúetsias sendo que algumas não são cultiváveis e agrupam-se como hemoparasitas causando principalmente anemias em alguns animais.

2. Bases da estrutura genômica.

O genoma circular de fita dupla dos molicutes pode ser até dez vezes menor do que em E. coli e possuem baixo teor de G+C (24 a 43%). Estas bactérias são consideradas mais recentes, os molicutes desenvolvem-se por evolução degenerativa, redutiva ou regressiva acompanhada por significante perda da seqüência genômica. Podem também ser divididos em dois grupos pelo tamanho do genoma; os gêneros Mycoplasma e Ureaplasma, com o genoma de aproximadamente de 600 a 1350 Kb e outro, os gêneros Anaeroplasma, Asteroleplasma, Acholeplasma, Spiroplasma, Mesoplasma e Entomoplasma, com 790 a 2200 Kb. As espécies de maior interesse humano e animal foram seqüenciadas. Outras espécies estão sendo seqüenciadas e a proteomica de algumas espécies está sendo definida. Genomas de 500 MDa são limitados à algumas espécies dos gêneros Mycoplasma e Ureaplasma e até o momento, representam a menor carga genética de um microrganismo e portanto são considerados os representantes do menor sistema de vida. Sua capacidade limita-se à síntese de aproximadamente 700 proteínas essenciais codificadas por aproximadamente 500 genes sendo maioria voltada ao metabolismo à nível de membrana. Apesar do pequeno genoma, os micoplasmas facilitam a reorganização do DNA, pela repetição de seqüências gênicas, promovendo alteração genética e patogênica proporcionando ampla variação antigênica. As poucas seqüências de reparo do DNA justificam esta diversidade.

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Os micoplasmas possuem de uma a duas cópias de RNA 16S, plasmídios e muitos possuem o códon UAG para triptofano. Esta última característica dificulta a expressão de proteínas em outros procariotos como Escherichia coli. Podem conter fagos cuja adesão no ciclo replicativo, limita-se à membrana celular e não à parede celular como nas bactérias “convencionais”.

3. Hospedeiros.

Os micoplasmas são amplamente distribuídos entre os seres vivos e podem causar diversas doenças, cujos sinais clínicos podem se apresentar na forma aguda, porém, normalmente são de caráter crônico.

3.1.Animais

A maioria das espécies de micoplasmas (cerca de 180) são de origem animal e portanto existem muitas variações na relação parasito-hospedeiro.

Entre os animais de interesse econômico, de experimentação(ratos e camundongos), ou os considerados "de companhia", os molicutes são potenciais causadores de patologias no sistema respiratório, urogenital, glândula mamária, articulações, sistema nervoso e conjuntiva ocular. A detecção de micoplasmas nos animais silvestres é crescente.

Para a avicultura, o M. gallisepticum é a espécie de maior importância econômica, em função das perdas decorrentes da Doença Crônica Respiratória (DCR). Severa aerosaculite e sinusite são as principais afecções em galinhas poedeiras, frangos de corte, perus, codornas e outras aves, levando à baixa conversão alimentar, diminuição na produção de ovos e acentuada condenação de carcaça. Outras espécies patogênicas para as aves são o M. synoviae, M. iowae e M. meleagridis.

Nos suínos, o M. hyopneumoniae é o agente da pneumonia enzoótica que ocorre em todas as regiões do mundo em que a suinocultura é explorada comercialmente. A doença caracteriza-se pela alta morbidade e baixa mortalidade nos rebanhos, tosse crônica não produtiva, diminuição no crescimento e baixa conversão alimentar. O M. hyorhinis e o M. hyosynoviae são habitantes comumente encontrados no trato respiratório superior dos suínos e ocasionalmente provocam poliartrite e poliserosite.

Nos bovinos, a Pleuropneumonia Contagiosa Bovina (PPCB), causada pelo M. mycoides subsp. mycoides é considerada a principal doença infecto-contagiosa do trato respiratório, caracterizada por intensa pleurite sero-fibrinosa e edema nos lóbulos e nos tecidos alveolares. A doença é considerada de notificação obrigatória e, de acordo com o OIE (Órgão Internacional de Epizootias), até 1997, apesar da erradicação na Europa, América do Norte e Austrália, o

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microrganismo ainda encontra-se disseminado em países da África e da Ásia. Além da PPCB, os distúrbios respiratórios nos bovinos são também causados pelo M. bovis e o M. dispar. M. bovis é considerado a segunda espécie de maior patogenicidade entre os micoplasmas que afetam os bovinos. O microrganismiso é responsável também por distúrbios reprodutivos, artrite, meningite e a mais grave e freqüente forma de mastite por micoplasmas em vários países do mundo. Outras espécies de micoplasmas estão relacionadas com a mastite, tais como o M. bovigenitalium, M. canadense, M. bovirhinis, M. californicum, M. arginini, M. alkalescens. A. laidlawii, M. bovigenitalium, M. canadense e o U. diversum estão associados aos distúrbios reprodutivos.

Nos pequenos ruminantes, especificamente os caprinos, a cepa F-38, atualmente designada M. capricolum subsp. capripneumoniae subsp. nov., é considerada o agente responsável pela Pleuropneumonia Contagiosa Caprina (PPCC). Além desta espécie, o M. mycoides subsp. mycoides, M. mycoides subsp. capri, M. agalactiae e o M. capricolum causam pneumonia e septicemia, com conseqüentes manifestações em outros órgãos causando mastite, poliartrite ou ceratoconjuntivite. Em ovinos, M. agalactiae é uma espécie de considerável importância na agalactia contagiosa e na pneumonia; M. ovipneumoniae, em sinergismo com a Pastereulla haemolytica e outros agentes, causa a pneumonia exsudativa proliferativa.

Em animais de laboratório (ratos e camundongos), o M. pulmonis é o mais frequente, é o agente etiológico da micoplasmose respiratória murina (MRM). A morbidade e a mortalidade podem ocorrer de forma significante. No entanto, o maior impacto da infecção pelo M. pulmonis é a interferência com as interpretações de resultados, quando estes animais são utilizados na pesquisa biomédica e não apresentam doença clínica. M. arthritidis, M. muris, M. collis e M. neurolyticum são também espécies indesejáveis. A interferência na pesquisa por outros micoplasmas em outros animais de experimentação não é conhecida. .

3.2. Humanos

No homem foram isoladas 17 espécies. Apesar de todas já terem sido isoladas da orofaringe, M. salivarium, M orale, M. buccale são os mais freqüentes. Poucas possuem interesse médico e causam principalmente infecções no trato respiratório e urogenital. A doença pélvica inflamatória ou a autoimunidade e outros problemas, estão associadas como conseqüências pós-infecciosas de algumas micoplasmoses humanas. As infecções extrarespiratórias ou extragenitais ou mesmo infecções por espécies comensais ocorrem geralmente em indivíduos imunodeprimidos. As associações dos micoplasmas com doenças de etiologia desconhecida ou pouco definida tem sido controversas. Neste contexto exemplificamos a artrite reumatóide, Síndrome do Golfo, Doença de Chron, etc. Encontrou-se DNA de Spiroplasmas em tecido nervoso apresentando encefalite spongiforme. O M. pneumoniae é o patógeno mais importante, causa pneumonia e outras

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patologias do trato respiratório, tais como traqueíte e faringite, bem como de manifestações extrapulmonares, síndromes hematopoiéticas, do sistema nervoso central, articulações, fígado, pâncreas e coração. No trato urogenital, três espécies de micoplasmas são implicadas como principais causadoras de infecções e distúrbios da reprodução: o Ureaplasma urealyticum, U. parvum que provocam infertilidade, aborto e nascimento de crianças fracas ou prematuras e o M. genitalium, agente de uretrite não em homens e infecções no trato genital inferior em mulheres. A etiologia de uretrites por M. hominis e U. urealyticum ou U. parvum ainda é controversa, pois estas espécies, pertencem à microbiota do trato genito-urinário, no entanto, a sua quantidade associada aos sintomas torna-se valorizada. M. hominis apesar de ser comensal principalmente na uretra é a espécie mais freqüentemente encontrada fora do trato genito-urinário causando a maior diversidade de infecções não usuais por micoplasmas em humanos. M. fermentans é outro comensal do trato urogenital, no entanto tem exibido propriedades biológicas importantes como a fusão celular e modulação da resposta imune. Esta, permitiu propor mecanismos no desenvolvimento de outras doenças por outros micoplasmas associando-se ou não a outros agentes infecciosos. Em 1986 a associação de M. fermentans no desenvolvimento da AIDS permitiu a elaboração de vários projetos de pesquisa neste campo. Entre os resultados obtidos, descobriu-se em 1992, M. penetrans na urina de pacientes HIV+. Este micoplasma evidenciou capacidade de invadir células e exibir outras propriedades desconhecidas ainda entre os molicutes de origem humana. M. penetrans foi considerado um comensal raro, mas continua desconhecido o seu papel. Mais recentemente foi descoberto o M. amphoriforme que foi isolado de um caso bronquite crônica também de um paciente imunodeprimido.

3.3. Plantas, insetos e artrópodes

Existe considerável variedade de molicutes que habitam insetos e plantas, algumas espécies causam doenças nestes hospedeiros. O grupo é composto pelos gêneros Acholeplasma e Spiroplasma. Muitas espécies vivem de maneira saprofítica na superfície de plantas e provavelmente de forma simbiótica em alguns insetos. Poucos são patógenos primários e a atividade oportunista destes molicutes é pouco conhecida.

Os molicutes clássicos que infectam insetos e plantas como os spiroplasmas, multiplicam-se de maneira variada na multiplicam-seiva e floema das plantas, na glândula salivar, ou intestino de inmultiplicam-setos. Estes molicutes infectam diversas espécies de plantas de interesse comercial como flores, plantas ornamentais, árvores frutíferas e coqueiros. Insetos homópteros são usualmente os vetores destas bactérias para as plantas. No entanto a seiva da planta infectada pode transmitir o microrganismo para um inseto não infectado estabelecendo-se, portanto, um ciclo. Dependendo do inseto, planta e molicute, a infecção pode não matar o hospedeiro, mas interferir no seu tempo de vida, desenvolvimento ou capacidade de se reproduzir.

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Os Phytoplasma spp (fitoplasma), representam outro grande grupo destas bactérias, mas praticamente não se conhece a biologia destes micoplasmas que geneticamente são semelhantes a alguns acoleplasmas. Os fitoplasmas, eram conhecidos inicialmente como MLO-Mycoplasma Like Organisms, foram descobertos pela microscopia eletrônica nas infecções em coqueiros (doença amarela) que por sua vez infectavam-se pela picada de cigarras infectadas. Estes agentes não são cultiváveis, existem 14 grupos infectando outras plantas e usualmente são transmitidos por cigarras. Quando pesquisados, estes agentes podem ser detectados em grande quantidade nos respectivos hospedeiros. Alguns tipos não causam doença, mas contribuem na pigmentação de folhas.

3.4. Culturas celulares

Adicionalmente, os molicutes são responsáveis por infecções indesejáveis em culturas celulares de cultivo primário ou de linhagem. Causam diversos efeitos citogenéticos: alterações no metabolismo, diminuição na taxa de divisão celular pela interferência na síntese de DNA, RNA e proteínas, aberrações cromossômicas e morte com desprendimento da monocamada. Além disso, podem induzir à redistribuição e modificação dos antígenos de superfície na membrana da célula hospedeira, interferindo na propagação de vírus. Os molicutes produzem diversos compostos biativos incluindo os produtos do metabolismo primário ou mesmo substancias moduladoras da resposta imune incluindo-se os superantígenos. As conseqüências maiores estão voltadas para os resultados de pesquisas realizadas com células infectadas sem evidenciarem alterações.

As espécies mais frequentes em culturas celulares são; M. orale, M. fermentans, A. laidlawii, M. hyorhinis e M. arginini, sendo as duas primeiras de origem humana, e as seguintes, de origem animal. A. laidlawii é encontrado na microbiota humana, bovina, outros animais e no ambiente. M. fermentans, e menos freqüentemente, M. hominis, apresentam-se como espécies emergentes neste contexto, provavelmente pelo uso crescente de culturas primárias de linfócitos e macrófagos de origem humana empregadas nos estudos imunológicos e virológicos. Apesar da origem desta infecção ser principalmente o soro animal e mais raramente outro suplemento de origem animal para o cultivo das células, o intercambio de células não certificadas entre os institutos de pesquisa contribui na disseminação desta infecção.

A infecção por micoplasmas em culturas celulares traz prejuízos cruciais aos laboratórios de diagnóstico, de pesquisa bem como às indústrias farmacológicas e biotecnológicas.

No entanto, a diversidade dos efeitos dos micoplasmas nas culturas celulares indica que esta infeçção pode ser estudada experimentalmente e ser utilizada como modelo auxiliar no

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esclarecimento dos fatores de patogenicidade dos micoplasmas, células e outros agentes infecciosos.

4. Aspectos da patogenicidade

Nos animais e no homem, os micoplasmas podem ser vistos aderidos intimamente às células do trato respiratório, urogenital e articulações. Esta aderência pode ser íntima a ponto de promover trocas antigênicas ou mesmo a fusão celular, mas raramente invadem os tecidos e a corrente circulatória.

A clava polar possui proteínas interativas, denominadas adesinas. No entanto a adesão de micoplasmas às células pode ocorrer mesmo na ausência desta estrutura. Em algumas espécies verificou-se que a adesão é realizada provavelmente por sialoglicoconjugados e glicolipídios sulfatados da célula hospedeira. A presença temporária ou prolongada de micoplasmas na superfície da célula pode interferir de várias maneiras a sua integridade. Os micoplasmas podem provocar autoimunidade, destruir a organização celular ou mesmo não destruir a célula. A eliminação de compostos do metabolismo primário como H2O2 ou NH3 são suficientes para alterar

a fisiologia celular. A presença de superantígenos, lipoproteínas e a diversidade antigênica dos micoplasmas induzem a modulação da resposta imune. Desta maneira, justifica-se em parte, a permanência e/ou a reincidência de micoplasmoses e a disseminação de outros agentes infecciosos nos hospedeiros.

As adesinas têm sido caracterizadas em algumas espécies de micoplasmas, a exemplo da proteína P1 (168 kDa) do M. pneumoniae e a de 140 kDa do M. genitalium. Outras espécies de micoplasmas igualmente exibem proteínas de superfície responsáveis pela adesão: M. hominis, M. bovis, M. gallisepticum e M. pulmonis, enquanto que espécies de micoplasmas que não possuem tais estruturas como M. hyorhinis, M. bovigenitalium , U. urealyticum e U. parvum, são também capazes de realizar a cito-aderência, provavelmente por outras proteínas ou mecanismos alternativos de parasitismo

A falta da parede celular facilita a fusão da membrana do micoplasma com a célula hospedeira. Embora esta condição seja discutível, é considerada indicativa da interação de estruturas entre a membrana do hospedeiro e do micoplasma. Essa associação íntima proporciona um microambiente, no qual ocorre a concentração de produtos tóxicos do metabolismo e causam danos. O peróxido de hidrogênio e radicais superóxidos produzidos por M. pneumoniae induzem à inibição irreversível da catalase endógena e que pode causar a diminuição do superóxido dismutase. A persistência deste conjunto aumenta das concentrações de H2O2 e O2- e causam

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e a dependência do meio externo, somada à capacidade de interação com a célula hospedeira, sugerem que os micoplasmas necessitam dos componentes do hospedeiro e transformar este mecanismo em fator de patogenicidade. Os ureaplasmas possuem fosfolipases na membrana, e possivelmente ação direta destas enzimas nos substratos do hospedeiro produzem ácido aracdônico, diacilglicerol e lisofosfolipídios. Estas substâncias alteram a biossíntese de prostaglandinas e das funções normais da célula hospedeira. A necessidade de obtenção externa de ácidos nucléicos e proteínas para o seu metabolismo induzem a síntese de nucleases e proteases. As nucleases de M. penetrans reduzem a atividade da transcriptase reversa do vírus HIV, bem como possuem amplo espectro de atividade em outros substratos, incluindo DNA e RNA de células eucarióticas. M. dispar e o M. penetrans, por exemplo, produzem cápsula (glicocálice) que suprime funções dos macrófagos alveolares contribuindo na imunossupressão local. As hemolisinas são produzidas por vários micoplasmas, no entanto são poucas as evidências sobre a função direta destes compostos na indução de doenças. As toxinas produzidas por cepas de M. mycoides subsp. capri, demonstraram citopatogenicidade em células embrionárias da traquéia de galinhas. Endotoxinas foram demonstradas em cinco espécies de Acholeplasma caracterizadas como lipoglicanos, moléculas complexas constituídas de vários açúcares neutros, amino açúcares, glicerol e ácidos graxos. Estas moléculas são diferentes dos lipopolissacarídios-LPS das bactérias Gram negativas. Estes compostos foram consideradas mais potentes do que o LPS de Escherichia coli. O M. gallisepticum sintetiza diferentes substâncias solúveis neurotóxicas, provocando uma síndrome neurológica letal com lesões histopatológicas primárias nas artérias cerebrais em perus. As lesões histopatológicas se caracterizam pelo edema nos capilares cerebrais, os quais provocam oclusão vascular resultando em fibrose necrótica. No caso do M. bovis, uma fração polissacáride foi descrita como citotóxica. Finalmente, a neurotoxina produzida pelo M. neurolyticum seletivamente altera a permeabilidade das células endoteliais dos capilares do cérebro, produzindo a clássica e fatal “rolling disease” em camundongos. Ocorre uma sintomatologia nervosa típica, fazendo o animal girar ao longo do áxis do corpo e desenvolver paralisia ascendente progressiva. Esta afecção não deve ser confundida com a freqüente labirintite causada por M. pulmonis principalmente nos ratos de laboratório

5. Aspectos imunológicos.

Os micoplasmas normalmente provocam infecções crônicas ou de longa duração. Isto sugere que estas bactérias, possuem um mecanismo de escape à resposta do sistema imune do hospedeiro, seja em decorrência da variação das proteínas de superfície, ou na capacidade de provocar alterações nos constituintes imunológicos. Embora os achados histopatológicos variam de acordo com a doença e a espécie de micoplasma, a reação inflamatória crônica sempre ocorre, devido à infiltração clássica de células mononucleares nos tecidos afetados.

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No trato respiratório, os micoplasmas são capazes de alterar a motilidade dos cílios ou mesmo provocar efeitos que levam à degeneração destas estruturas e das células epiteliais, ambos considerados como a primeira barreira física dos mecanismos de defesa. Os macrófagos alveolares são as principais células de defesa imunológica pulmonar contra os agentes infecciosos. As alterações funcionais destas podem levar à conseqüências adversas. Determinadas espécies de micoplasmas, incluindo M. dispar, M. bovis, M. pulmonis, M. arthritidis, M. hominis e o M. penetrans, demonstraram capacidade de provocar efeitos supressores nos macrófagos alveolares, inibindo as atividades de fagocitose.

Demonstrou-se que o LPS do glicálice de algumas espécies de micoplasmas, seja o responsável pelos efeitos supressores da fagocitose e lise dos micoplasmas e outras bactérias. O LPS modula o Fator de Necrose Tumoral (TNF-a ), na produção de interleucinas (IL-1, IL-6), estimula resposta imune primária timo independente e permite a ocorrência de infecções crônicas pela dificuldade de eliminar os micoplasmas e outros microrganismos.

Espécies como M. bovis, M. hominis e M. pulmonis, podem rapidamente alterar a expressão e a estrutura das suas proteínas de superfície, contribuindo na cronicidade das micoplasmoses. A variação antigênica justifica em parte a dificuldade de obtenção de vacinas eficazes contra algumas espécies de micoplasmas, pois os componentes vacinais também podem modular a resposta imune prejudicando o hospedeiro.

Outras espécies como M. arthritidis, M. fermentans, M. capricolum e o U. diversum, são mitogênicos para linfócitos de camundongos, induzindo blastogênese e produção de citocinas. A capacidade destas espécies em induzir um largo espectro de eventos imuno-moduladores, a produção de citocinas e interferência nos macrófagos, linfócitos B e T e células glias, evidencia os atributos de mediadores primários nos processos patogênicos. O MAM (Mycoplasma Arthritdis Mitogen) é um super-antígeno clássico.

M. fermentans, M. penetrans e M. pirum e M. hominis foram isoladas de indivíduos infectados pelo HIV e implicadas como cofatores na progressão da AIDS nos pacientes. Os mecanismos envolvidos incluem a ativação do sistema imune, produção de super-antígenos que estimulam a liberação de várias citocinas imuno-moduladoras ou a produção de radicais livres que contribuem para o estresse oxidativo observado nas infecções pelo HIV.

Algumas possíveis respostas foram sugeridas para o esclarecimento destes mecanismos. O fenômeno de mimetismo molecular é especialmente interessante, desde que as adesinas dos micoplasmas, ricas em prolinas, demonstraram homologia nas seqüências de aminoácidos com as proteínas da classe II do Complexo de Histocompatibilidade Principal dos linfócitos CD4 humanos, os quais podem gerar anticorpos autoreativos e desencadear morte celular e imunossupressão. O M. fermentans, detectado no sangue e na urina de pacientes aidéticos, por sua vez, apresentou

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capacidade de sinergismo com o HIV, acentuando os efeitos citopáticos dos linfócitos CD4 e estimulando outras atividades imunomoduladoras. Os micoplasmas podem atuar como mitógenos de linfócitos T e B e induzirem doenças auto-imunes pela ativação de linfócitos policlonais anti-T e anti-B.

As propriedades biológicas dos molicutes, a capacidade de provocar alterações nas células, bem como as características singulares de parasitismo e interação, evidenciam a complexidade destes organismos como potenciais patógenos, desafiando de modo diferenciado, a homeostasia do hospedeiro.

Bibliografia consultada

BLANCHARD, A.; BROWING , G. Mycoplasmas: Molecular Biology Pathogenicity and Strategies for Control. Horizon Bioscience, Wymondham Norfolk, UK 2005 603p.

RAZIN, S. HERRMANN, R. Molecular Biology and Pathogenicity of Mycoplasmas. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, 2002 , 572p.

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