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MINAS ROMANAS DE TRÊS MINAS VILA POUCA DE AGUIAR. Património cultural

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Academic year: 2021

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MINAS ROMANAS DE

TRÊS MINAS

VILA POUCA DE AGUIAR

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Corta de Covas (Exploração a céu aberto A). (Foto: Wahl)

Três Minas é um dos mais importantes conjuntos de arqueologia mineira da época romana. Dado o estado avançado de destruição dos monumentos

antigos relativos à exploração de matéria-prima, é do maior interesse cultural a preservação e o estudo deste local único.

Cronologia Foi provavelmente já durante o reinado de Augusto (27 a.C. - 14 d.C.) que se iniciou a exploração mineira

sistemática de Três Minas e do Campo de Jales, a qual se prolongou até à segunda metade do séc. II d.C. Tudo indica que a sua exploração regular cessou o mais tardar na época de Sétimo Severo (193 - 211 d.C.).

Administração Sendo domínio imperial e fiscal, o distrito mineiro estava sob administração estatal directa. O cargo mais elevado

era desempenhado por um funcionário imperial

(procurator metallorum),

que provavelmente acumulava a administração dos outros domínios mineiros da região. A fiscalização dos trabalhos no local estava a cargo do exército. Para esse efeito estavam estacionados no distrito mineiro destacamentos da Sétima Legião

(legio VII gemina),

bem como soldados de uma unidade auxiliar (cohors

1 Gallica equitata

civium Romanorum).

Os militares, além de cumprirem missões de soberania (serviço policial, etc.), exerciam sobretudo funções de ordem administrativa e técnica.

Mão-de-obra Existem inscrições que nos dão testemunho relativamente à composição demográfica do distrito mineiro de Três

Minas. As inscrições sepulcrais revelam um quadro típico dos locais de exploração mineira abertos recentemente: elevada percentagem tanto de homens, como de estrangeiros. No caso dos imigrantes, tratava-se de mercenários livres procedentes do

Corta da Ribeirinha (Exploração a céu aberto B). (Foto: Wahl)

Norte da Celtibéria, nomeadamente da região de Clunia (hoje: Peñalba de Castro, Prov. de Burgos/E). Até agora não dispomos de provas concludentes respeitantes ao emprego de mão-de obra não livre, ou seja, escravos e prisioneiros condenados a trabalhos forçados. Dos homens radicados no distrito mineiro apenas uma percentagem trabalhava directamente nas minas.

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Territorium metallorum

O território do distrito mineiro romano estendia-se por uma área mais vasta cujo centro era constituido pelos campos de exploração mineira de Três Minas e Campo de Jales, mas que englobava também terrenos de cultivo para abastecimento próprio. Eram necessárias grandes quantidades

Galeria Esteves Pinto. Carris e canal de esgoto entalhados no fundo. (Foto: Wahl)

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Reconstrução de um mecanismo elevador accionado por nora.

(Desenho: Boldt)

de madeira, tanto como material de construção, como de combustão em forma de carvão vegetal para fins metalúrgicos. A

carvoaria deve ter desempenhado um papel importante. Além disso havia ainda a indústria do granito para a fabricação de mós,

blocos de moinhos de pilões etc. Na povoação de Vales é possível localizar uma exploração agrícola.

Infra-estrutura Todos os bens que não eram fabricados no distrito mineiro tinham de ser importados. Por isso o sistema de

ligações viárias era um factor importante para o abastecimento. A ponte sobre o Rio Pinhão perto de Barrela (Ureia de Jales) marca

o traçado da estrada romana que dava acesso às minas pelo lado sul.

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Cunha aguçada romana de Campo de Jales (1/4 tamanho natural). (Desenho: Heer)

Povoação mineira Ainda não são conhecidos os limites exactos da povoacão mineira de Três Minas. Com base na disseminação dos

achados, é dado como certo que o centro do vicus metalli se estendia para além da crista plana situada a noroeste da Corta de

Covas. Da área povoada sómente foram estudados pequenos sectores. Pressupõe-se a existência de determinadas construções:

edifícios administrativos, casernas, um balneário, complexos industriais (oficinas de ferreiro, instalações de tratamento metalúrgico,

etc.), armazéns e silos, mercados, lojas, casas de habitação, templos e santuários. Em consequência da situação geográfica

desfavorável (aprox. 840 m de altitude), o abastecimento de água constituía um grande problema logístico. A água era canalizada

por meio de aquedutos a partir dos cursos superiores do Rio Tinhela e do Ribeiro da Fraga.

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Moinho de pilões. Segundo G. AgricoIa, De Re Metallica Libri XII (1556).

Bloco de base desgastado dum moinho de pilões romano. (Foto: Wahl)

Jazigos metalíferos Na área do distrito mineiro romano de Três Minas e Campo de Jales produzia-se, além do ouro e da

prata, o chumbo. A mineralização está associada a veios e filões de quartzo que atravessam os xistos arcaicos extremamente alcantilados (em Campo de Jales: xistos e granitos). Além da ganga (quartzo) os corpos de minério contêm sobretudo sulfuretos: pirite, arsenopirite e galena com prata. O ouro aparece tanto sob a forma nativa, na ganga, como associado aos sulfuretos acessórios.

Locais de extracção Calcula-se que em Três Minasse extraíram cerca de 15-20 milhões de toneladas de rocha. Os locais de

exploração A/B/C (Corta de Covas, Corta da Ribeirinha, Corta dos Lagoinhos) marcam a zona de mineralização. O desmonte fazia-se principalmente a céu aberto, limitando-se a exploração subterrânea à zona da Corta dos Lagoinhos. Os corpos de minério em forma de filões quase perpendiculares foram extraídos a partir do afloramento na sua extensão, horizontal e vertical, de modo que no estádio inicial de exploração se fizeram grandes cortas em forma de trincheira. Uma trincheira com aprox. 250 m de comprimento constitui o sector sul da Corta de Covas. Com o decorrer do tempo, a forma das explorações a céu aberto

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Estela funerária de granito dum mercenário de origem hispânica. Altura 130 cm.

SOREX CLV(niensis) AN(norum) XXX H(ic) S(itus)

E(st)

S(it) T(ibi)

T(erra)

L(evis)

Aqui jaz ... Sorex, cluniense, de trinta anos. Que a terra te seja leve. (Foto: Wahl)

foi modificada pela erosão, com deposição de detritos no fundo das cortas. Na época romana, o sector principal da Corta de Covas deveria ter tido o dobro da profundidade da que tem hoje, sendo possível que na fase final de exploração tenha atingido no mínimo 120 m. As grandes galerias As grandes galerias de Três Minas contam-se entre as mais impressionantes instalações da indústria mineira romana. A sua função deve ser vista relacionada com a exploração a céu aberto. Tratava-se de galerias de grandes dimensões em forma de túneis, que avançavam a partir da encosta do monte, possibilitando com isso um acesso horizontal às jazidas. As galerias serviam para a extracção e/ou drenagem das águas. A «Galeria do Pilar», também denominada «Buraco dos Santos», possuia um comprimento aproximado de 300 m e era ligado com a Galeria do Texugo que foi aberta do fundo do vale. Ainda hoje pode ser percorrida na maior parte da sua extensão. No fundo da Galeria do Pilar foi escavado um canal com cerca de 1 m de largura destinado à drenagem das águas da exploração a céu aberto. De acordo com o avanço da extracção, o canal teve de ser escavado até uma profundidade de cerca de 20 m.

Trabalhos de extracção A extracção do minério era feita quase só manualmente, quer dizer, à força muscular. Para a construção dos

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Ponte romana sobre o Rio Pinhão (Ponte do Arco, Barrela). (Foto: Wahl)

se podia empregar um pequeno número de trabalhadores de cada vez. Com base em fontes documentais mais recentes, sabe-se que um mineiro - em condições de trabalho semelhantes - apenas conseguia extrair cerca de 0,01- 0,1 m3 por cada turnó de trabalho. - As ferramentas de mineiro normalmente utilizadas para o trabalho na rocha dura eram constituídas por uma combinação de marreta e cunha aguçada com cabo. O desgaste de material era enorme. Pode-se partir do princípio que durante um turno de trabalho, um mineiro gastava vários jogos de ferramentas. A existência de escórias de ferro nas proximidades das explorações a céu aberto são testemunhas de uma intensa actividade de ferreiro para o fabrico e conserto de ferramentas de mineiro. - Que em Três Minas se utilizava a técnica do desmonte a fogo, provam os vestígios de exploração na zona da Corta de Covas. Conseguia-se fender a rocha dura aquecendo e depois resfriando bruscamente com água ou vinagre.

Transporte Nas cavidades estreitas o minério e o entulho só podiam ser transportados em recipientes à mão. Para se poder

utilizar máquinas e animais de tiro era preciso que as secções fossem maiores. Para a extracção por poços utilizavam-se sarilhos. Obtinha-se melhor rendimento de guindagem utilizando noras, que podiam ser empurradas por 2 ou 4 homens. Havia algums mecanismos elevadores accionados por noras instalados na Galeria do Pilar. Nas grandes galerias podia-se fazer o transporte com carros, provavelmente puxados por bois.

Metalurgia Para obter ouro em forma pura era necessário submeter o minério complexo a um enriquecimento em várias fases. Através de

achados arqueológicos e fontes literárias antigas, é

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possível reconstituir os seguintes processos de trabalho: 1' britagem do minério por meio de trituração (moinhos de pilões) e moagem (moinhos redondos); 2° separação gravítica por lavagem; 3° processos de pirometalurgia, ou seja, abrasar o minério triturado para destruir os elementos arsénio e enxofre, fundir o concentrado de minério, copelar o chumbo e finalmente separar o ouro da prata. Na zona das minas, conservam-se centenas de mós e blocos de moinhos de pilões. Nos tempos modernos, conhecidamente a partir do séc. XVIII, as pedras de moinhos desgastadas foram utilizadas para a construção de casas nas aldeias de Ribeirinha e Covas. Extensas instalações de lavagem (plataformas e tanques de sedimentação) situam-se ao norte da Corta de Covas na ladeira por baixo das Fragas das Covas.

Outros monumentos arqueológicos situados no distrito mineiro romano de Três Minas e Campo de Jales:

Castelo dos Mouros Restos de um castro pré-histórico (provavelmente do Bronze Final) com muralha parcialmente em bom estado,

situado cerca de 1 km a nordeste de Cidadelha de Jales (Alfarela de Jales).

Trincheiras de Gralheira Exploração a céu aberto formada por cortas em forma de trincheira com aprox. 1,2 km de comprimento. Situa-se

cerca de 1 km a nordeste do Campo de Jales (Ureia de Jales) e noroeste de Cidadelha de Jales (Alfarela de Jales).

Ponte do Arco Ponte romana sobre o Rio Pinhão, no traçado da via de acesso sul à zona mineira. Está situada cerca de 1,5 km a

sudoeste de Barrela/Estalagem (Ureia de Jales).

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Acesso As Minas Romanas de Três Minas t] ficam a cerca de 15 km de Vila Pouca de Aguiar. O acesso faz-se em Vila Pouca

de Aguiar pela EN 206 que conduz a Valpaços.

As Trincheiras Romanas de Gralheira M, o Castelo dos Mouros © e a Ponte Romana de Barrela E (Vreia de Jales) são acessíveis pela EN 212 (Vila Pouca de Aguiar - Murça).

Avisos importantes A visita das instalações subterrâneas pode ser perigosa. Recomenda-se que se recorra, em Três

Minas, a um guia conhecedor do sítio. A visita das instalações mineiras é efectuada por conta e risco próprios. Não se assume qualquer responsabilidade em caso de acidente.

A classificação como Imóvel de Interesse Público, do conjunto arqueológico de Três Minas, foi determinada em 1988 por despacho da Secretaria de Estado da Cultura com base no Dec.-Lei n? 181/70, de 28 de Abril.

Editores: J. e R. WahI (Investigação Arqueológica de Três Minas), em colaboração com o Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico e com a Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar. Versão portuguesa: F. Cordoeiro Voges, Porto; O. Kukleta, Zurique. © Jürgen WahI, 1993.

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