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ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA SESSÃO ORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA, INICIADA NO

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Academic year: 2021

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--- ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA --- --- SESSÃO ORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA, INICIADA NO DIA 27 DE ABRIL CONTINUADA NOS DIAS 4, 10 e 25 DE MAIO E 1 DE JUNHO DE 2010. --- --- ACTA NÚMERO VINTE --- --- No dia 1 de Junho de 2010, reuniu na sua Sede, sita no Fórum Lisboa, na Avenida de Roma, a Assembleia Municipal de Lisboa, sob a presidência da sua Presidente efectiva, Excelentíssima Senhora Dra. Maria Simonetta Bianchi Aires de Carvalho Luz Afonso, que foi coadjuvada pelo Excelentíssimo Senhor Nelson Pinto Antunes e pela Excelentíssima Senhora Dona Cecília da Conceição Simões Sales, respectivamente Primeiro Secretário e Segunda Secretária. --- --- Assinaram a “Lista de Presenças”, para além dos mencionados, os seguintes Deputados Municipais: --- --- Alberto Francisco Bento, Álvaro da Silva Amorim de Sousa Carneiro, Ana Bela Burt Magro Pires Marques, Ana Maria Gaspar Marques, Ana Sofia Pedroso Lopes Antunes, André Nunes de Almeida Couto, António José do Amaral Ferreira de Lemos, António Manuel, António Manuel Dias Baptista, António Manuel de Freitas Arruda, António Manuel de Sousa Ferreira Pereira, António Manuel Pimenta Prôa, António Modesto Fernandes Navarro, António Paulo Duarte de Almeida, António Paulo Quadrado Afonso, Armando Dias Estácio, Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho, Belarmino Ferreira Fernandes da Silva, Cláudia Alexandra de Sousa e Catarino Madeira, Diogo Feijó Leão Campos Rodrigues, Diogo Vasco Gonçalves Nunes de Bastos, Fernando Manuel Moreno D’Eça Braamcamp, Fernando Manuel Pacheco Ribeiro Rosa, Fernando Pereira Duarte, Filipe António Osório de Almeida Pontes, Filipe Mário Lopes, Francisco Carlos de Jesus Vasconcelos Maia, Francisco David Carvalho da Silva Dias, Gonçalo Maria Pacheco da Câmara Pereira, Gonçalo Matos Correia Castro Almeida Velho, Hugo Filipe Xambre Bento Pereira, Inês de Drummond Ludovice Mendes Gomes, Inês Lopes Cavalheiro Ponce Dentinho de Albuquerque D’Orey, Ismael do Nascimento Fonseca, João Álvaro Bau, João Augusto Martins Taveira, João Diogo Santos Moura, João Mário Amaral Mourato Grave, João Nuno de Vaissier Neves Ferro, João Paulo Mota da Costa Lopes, Joaquim Emanuel da Silva Guerra de Sousa, Joaquim Lopes Ramos, Joaquim Maria Fernandes Marques, John Law Rosas da Costa Jones Baker, Jorge Telmo Cabral Saraiva Chaves de Matos, José Alberto Ferreira Franco, José Filipe de Mendonça Athayde de Carvalhosa, José Manuel Marques Casimiro, José Maria Bento de Sousa, José Maximiano de Albuquerque Almeida Leitão, José Roque Alexandre, Luís Filipe da Silva Monteiro, Luís Filipe Graça Gonçalves, Manuel Luís de Sousa Silva Medeiros, Maria Albertina de Carvalho Simões Ferreira, Maria Alexandra Dias Figueira, Maria Cândida Rio Freitas Cavaleiro Madeira, Maria Clara Currito Gargalo Ferreira da Silva, Maria da Graça Rezende Pinto Ferreira, Maria Elisa Madureira de Carvalho, Maria Filomena Dias Moreira Lobo, Maria Irene dos Santos Lopes, Maria João Bernardino Correia, Maria José Pinheiro Cruz, Maria Luísa Rodrigues das Neves Vicente Mendes, Maria Teresa Cruz de Almeida, Maria Virgínia Martins Laranjeiro

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Estorninho, Mariana Raquel Aguiar Mendes Teixeira, Miguel Alexandre Cardoso Oliveira Teixeira, Nuno Roque, Paulo Alexandre da Silva Quaresma, Pedro Alexandre Valente Assunção, Pedro Miguel de Sousa Barrocas Martinho Cegonho, Pedro Miguel Ribeiro Duarte dos Reis, Rita da Conceição Carraça Magrinho, Rita Susana da Silva Guimarães Neves e Sá, Rogério da Silva e Sousa, Rui Jorge Gama Cordeiro, Rui Manuel Pessanha da Silva, Salvador Posser de Andrade, Valdemar António Fernandes de Abreu Salgado, Vítor Manuel Alves Agostinho, Rosa Maria Carvalho da Silva, Paulo Manuel Bernardes Moreira, Ricardo António Beato de Carvalho, Sara Luísa Sousa Santos, Pedro Gamito Cruz dos Santos, Mafalda Ascensão Cambeta, Pedro Manuel da Cunha da Silva Ribeiro, Hugo Alberto Cordeiro Lobo, Patrocínia da Conceição Alves Rodrigues do Vale César, Luís Jorge Teixeira Mendes da Silva, Joaquim da Conceição Jerónimo, António José Gouveia Duarte, João Francisco Marques Capelo, Renata Andreia Lajas Custódio, Paulo Miguel Correia Ferrero Marques dos Santos, João Carlos Fraga Oliveira Martins, Joana Rodrigues Mortágua. --- --- Faltaram à reunião os seguintes Deputados Municipais: --- --- Idália Maria Jorge Poucochinho Morgado Aparício, José Joaquim Vieira Pires, Maria de Lurdes de Jesus Pinheiro, Maria Isabel Homem Leal de Faria, Vasco André Lopes Alves Veiga Morgado. --- --- Pediram suspensão do mandato, que foi apreciada e aceite pelo Plenário da Assembleia Municipal nos termos da Lei 169/99, de 18 de Setembro, com a redacção dada pela Lei 5-A/2002, de 11 de Janeiro, os seguintes Deputados Municipais:--- --- Manuel Falcão (PSD), por um dia, tendo sido substituído pela Deputada Municipal Rosa Carvalho da Silva --- --- António Pinheiro Torres (PSD), por um dia, tendo sido substituído pela Deputada Municipal Sara Luísa Sousa Santos. --- --- Duarte Mata (PS), por 90 dias, tendo sido substituído nesta reunião pela Deputada Municipal Patrocínia César. --- --- Pedro Biscaia, Margarida Mota e Rui Paulo Figueiredo, Deputados Municipais suplentes do PS, pediram a suspensão do mandato por um dia (1 de Junho de 2010). -- --- Maria do Céu Guerra (IND-PS), por um dia, tendo sido substituída pela Deputada Municipal Renata Lajes Custódio. --- --- Paula Cristina Correia (IND-PS), por um dia, tendo sido substituída pelo Deputado Municipal Paulo Ferrero Santos. --- --- Deolinda Machado (PCP), por um dia, tendo sido substituída pela Deputada Municipal Cecília Sales no Plenário e também na Mesa como Segunda Secretária. --- --- Carlos Carvalho, Ana Páscoa e José Paiva Jara, Deputados Municipais suplentes do PCP, pediram a suspensão do mandato por um dia (1 de Junho de 2010). --- --- Adolfo Mesquita Nunes (CDS-PP), por um dia, tendo sido substituído pelo Deputado Municipal João Oliveira Martins. --- --- Rita Silva (BE), por um dia, tendo sido substituída pela Deputada Municipal Joana Mortágua. ---

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--- José Luís Ferreira (PEV), de 1 a 30 de Junho, sendo substituído pela Deputada Municipal Cláudia Madeira. --- --- Sobreda Antunes, João Gordo Martins e Cristina Serra, Deputados Municipais suplentes do PEV, pediram a suspensão do mandato de 1 a 30 de Junho de 2010. --- --- Foram justificadas as faltas e admitidas as substituições dos seguintes Deputados Municipais, Presidentes de Junta de Freguesia: --- --- Idalina Flora (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, por Pedro Gamito Cruz dos Santos. --- --- João Magalhães Pereira (PSD), Presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, por Ricardo António Beato de Carvalho. --- --- João Serra (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de Santa Isabel, por Mafalda Ascensão Cambeta. --- --- Rodrigo Gonçalves da Silva (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica, por Pedro Manuel da Cunha Silva Ribeiro. --- --- José António Videira (PS), Presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, por Hugo Lobo. --- --- Rosa do Egipto (PS), Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais, por Luís Jorge Teixeira Mendes Silva. --- --- Ermelinda Brito (PS), Presidente da Junta de Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, por Joaquim da Conceição Jerónimo. --- --- Jorge Ferreira (PCP), Presidente da Junta de Freguesia da Madalena, por António José Gouveia Duarte. --- --- Carlos Lima (PCP), Presidente da Junta de Freguesia do Castelo, por João Capelo. --- --- A Câmara esteve representada pelo Sr. Presidente, pelo Sr. Vice-Presidente, e pelos Srs. Vereadores: Manuel Brito, Graça Fonseca, Catarina Vaz Pinto, Maria João Mendes e Sá Fernandes. --- --- Estiveram ainda presentes os Srs. Vereadores da oposição: Victor Gonçalves, António Monteiro, Ruben de Carvalho, António Eloy e Mariana Braz Teixeira. --- --- Às 15 horas e 20 minutos, constatada a existência de quorum, a Senhora Presidente deu início aos trabalhos, começando por dirigir uma saudação muito especial aos músicos que foram convidados para estarem hoje presentes, e que quiseram dar a honra de partilhar com a Assembleia este momento histórico para a Cidade de Lisboa e para o País. --- --- Depois, disse que esta reunião seria antecedida por uma apresentação do dossier Fado, que ia ser candidatado à UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, pelo Prof. Doutor Rui Vieira Nery, musicólogo e professor da Universidade Nova, e pela Dra. Sara Pereira, Directora do Museu do Fado. --- --- Referiu que lhes agradecia especialmente o tempo que iam dedicar à Assembleia Municipal, permitindo a todos refrescar os seus conhecimentos e as suas ideias sobre o Fado e partilhar com eles esse dossier, que seria de todos até ao dia 11 de Setembro, data em que a UNESCO se pronunciaria. ---

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--- Portanto, teria que haver da parte de todos: dos amigos, dos familiares, dos alunos, da Cidade e do País, uma onda de interesse e de empenho nessa candidatura sobre a Canção de Lisboa, mas que era mais do que a Canção de Lisboa, era de certa forma uma marca da música portuguesa, porque quando se falava da música portuguesa toda a gente se lembrava do Fado. --- --- Por conseguinte, era um dossier muito importante, um dossier que os unia, até porque o dossier foi apresentado pelo Sr. Presidente e por todos os partidos representados na Câmara, portanto pelo PS, pelo PSD, pelo PCP e pelo CDS-PP, era um dossier que concitava a união e que os poderia levar mais longe a pensar o próprio País, a sua identidade, o seu passado, o seu presente e o seu futuro. --- --- Seguidamente, disse que ia dar a palavra ao Prof. Vieira Nery, que era o Comissário Científico do dossier, juntamente com a Dra. Sara Pereira, que lhes faria uma grande síntese sobre o Fado, relembrando-lhes e actualizando mesmo os

conhecimentos de todos sobre o Fado. --- --- O Senhor Prof. Doutor Rui Vieira Nery, no uso da palavra, fez a seguinte

intervenção: --- --- Senhora Presidente da Assembleia Municipal, Senhor Presidente da Câmara, Senhores Vereadores, Senhores Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores, queridos amigos. --- --- É uma grande alegria para mim pessoalmente, e para a Comissão Científica da candidatura do Fado, poder estar aqui hoje a prestar-vos contas do nosso trabalho e a pedir-vos o vosso apoio para uma campanha que está agora só a começar, que vai ser uma campanha difícil e em que vamos precisar de estar todos juntos, como temos estado até aqui, em torno desta causa que nos une. --- --- Eu gostaria de vos falar de várias coisas muito sucintamente. A primeira delas é sobre o próprio conceito de património cultural imaterial, tal como ele é encarado pela UNESCO, para nós percebermos do que é que estamos a falar. --- --- Eu passo regularmente pelos blogs e pelos artigos de opinião e tem havido alguns mal-entendidos relativamente ao que se pretende com esta candidatura e à natureza da própria candidatura. --- --- A UNESCO, praticamente desde a sua fundação, criou um programa de reconhecimento de Património Cultural da Humanidade que num primeiro momento foi inundado por grandes obras arquitectónicas ocidentais: grandes catedrais, grandes castelos, grandes palácios na sua maioria europeus, com algumas franjas extra-europeias da antiguidade e houve uma dada altura em que o consenso dos países da UNESCO foi a de que havia um peso eurocêntrico demasiado grande neste conceito de património material, em que parecia que só o Ocidente tinha construído coisas importantes para a representação simbólica cultural da humanidade, e logo aí já houve uma recentragem do programa, de maneira a reconhecer outros tipos, outras tradições, outros contributos fundamentais doutras culturas para este “corpus” colectivo, esta espécie de mosaico sempre em fabrico, que é o Património Cultural da Humanidade. -- --- Mas mesmo assim, houve uma altura em que a UNESCO compreendeu, ou fizeram-na compreender, que não se podia julgar os contributos para o Património da

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Humanidade apenas pelos edifícios, pela pedra, e que havia contributos fundamentais para a identidade cultural da Espécie do Planeta, que vinham de coisas que não eram construídas com materiais sólidos, mas que eram mais sólidas do que muitos dos palácios, dos castelos, das catedrais e dos templos que tinham sido classificados. --- --- E daí que se tivesse criado esta categoria de Património Cultural Imaterial, ou seja, tudo aquilo que tinha a ver com grandes tradições de tradição cultural, que um pouco por todo o mundo, representavam facetas muito ricas dos contributos das várias culturas para o destino colectivo da humanidade. --- --- Esse projecto esteve em vigor com características muito restritivas num primeiro momento, porque era uma espécie de World Wild Life Found aplicado à cultura, portanto, era só o que estivesse mesmo à beira da extinção é que seria classificado, e depois a própria UNESCO sentiu a necessidade de mais uma vez repensar o programa, e em 2003, depois de um longo processo de negociações como é típico nestas coisas das grandes organizações internacionais, aprovou a Convenção sobre o Património Cultural e Imaterial da Humanidade, ao abrigo da qual nós vamos apresentar esta candidatura. --- --- O Fado, enfim, não é este o espaço para fazer uma história do Fado, é nessa área que eu trabalho, mas isso é uma coisa muito complexa e muito lenta, mas digamos que, grosso modo, há alguns pontos fundamentais. As primeiras referências à sua prática em Lisboa aparecem por volta de 1830, há uma fase em que aparece restrito às zonas populares portuárias da Cidade durante as primeiras décadas. Depois, nas décadas de 1860/70, começa a expandir-se para o Teatro de Revista, para a prática musical das próprias classes médias. Nós lembramo-nos todos daquelas heroínas do Eça de Queiroz, como a Luísa do Primo Basílio, que tocavam ao piano as áreas de ópera da Lucia di Lamermoor e o Fado do Vimioso, e isso dá bem a ideia de como o Fado foi entrando noutras classes sociais que já não eram aquele núcleo duro, do proletariado portuário da Cidade de Lisboa. --- --- E esse processo de expansão foi continuando gradualmente. Há uma fase no final do século XIX e na viragem para o XX, em que o Fado está muito associado aos movimentos republicanos e aos movimentos operários, quer em Lisboa, quer depois pouco a pouco, numa extensão pelo País. Entretanto com o aparecimento da gravação discográfica a partir de 1902, e depois com as rádios a partir da década de 20, a expansão é cada vez mais de banda larga e vai-se divulgando cada vez mais ao território nacional no seu todo. --- --- Tem uma grande fase de institucionalização com a criação da rede das Casas de Fado, nos anos 30, 40, em particular, já desde o final da década de 20, mas sobretudo nos anos 30, 40, 50. E entra numa fase que é simultaneamente de grande desenvolvimento, mas ao mesmo tempo de crise social se quisermos, na década de 60 com um movimento de debate alargado muito grande sobre legitimidade do próprio Fado. --- --- No contexto muito extremado da luta política em Portugal, houve posições marcadamente ideológicas que discutiram o Fado, não pela sua qualidade poética e literária, não pela sua autenticidade como expressão da cultura popular portuguesa,

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mas pelas posições políticas que artificialmente lhe eram coladas num sentido ou noutro. --- --- Eu sou da geração que apanhou essa herança de forma directa, e felizmente escapei à acção nefasta desse debate muito esquizofrénico, pela simples razão de que sou filho de um grande fadista e, portanto, tive a sorte de, simultaneamente, poder estudar ópera e música barroca e ouvir a Amália Rodrigues e o Carlos do Carmo em minha casa, sem que isso para mim fosse uma contradição de consciência. --- --- Mas na realidade, esta cisão e este debate muito feroz em torno do Fado, que até a uma dada altura parecia anunciar que o género ia pouco a pouco arriscar-se a desaparecer, começa a cicatrizar de uma maneira saudável, sobretudo nos últimos vinte e cinco anos. --- --- Eu acho que é bonito ver – eu sou historiador e portanto tenho o defeito de fazer cronologias – que para esse esforço todas as forças políticas da democracia portuguesa contribuíram. Eu lembro-me do Eng.º Nuno Abecasis, que em meados dos anos 80, condecorou, pela primeira vez, a Amália Rodrigues, a Hermínia Silva e o Alfredo Marceneiro, num gesto importante de consagração da importância do Fado como símbolo da Cidade de Lisboa. --- --- Lembro-me da Lisboa’94, um momento importantíssimo em que o Comissário responsável pela música popular, Ruben de Carvalho, da CDU, teve uma acção importantíssima na promoção de actividades ligadas à difusão do Fado, e em particular na exposição, “Fado Vozes e Sombras”, comissariada pelo Joaquim Pais de Brito, que foi um grande passo em frente para o estudo e divulgação modernos do Fado. --- --- Depois, em 98, o Presidente João Soares abre a Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, e em 2004, logo a seguir à aprovação da Convenção da UNESCO sobre o Património Imaterial, o Presidente Pedro Santana Lopes anuncia a intenção de candidatar o Fado à lista representativa do Património Cultural Imaterial da UNESCO, nos termos da convenção então aprovada. --- --- Não era possível apresentar ainda formalmente essa proposta, mas essa foi uma iniciativa importante e o Dr. Pedro Santana Lopes nomeou imediatamente duas figuras chave para esta candidatura, que foram os dois Embaixadores da candidatura, o Carlos do Carmo e a Mariza, e o Carlos do Carmo tem sido sempre a figura tutelar deste esforço que nos tem envolvido a todos, depois o Eng.º Carmona Rodrigues formalizou o protocolo entre a EGEAC e o Instituto Etnomusicologia para o processo todo de investigação e de levantamento que foi sendo começado há cinco anos a esta parte e do qual decorreu a candidatura, e o Dr. António Costa tem prosseguido este apoio de uma forma intensa, atenta e empenhada, e, por último e por todos, a proposta da candidatura foi apresentada à Câmara Municipal de Lisboa e aprovada por unanimidade por todas as forças políticas. --- --- São raras as ocasiões na nossa democracia de encontrarmos esta capacidade de cruzamento de esforços em torno de um objecto comum, que é claramente de interesse patriótico e de interesse para a defesa da cultura portuguesa, e portanto nós estamos muito orgulhosos de estar associados a um exemplo de capacidade de

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cruzamento em torno de um objecto da cultura portuguesa com esta força e com esta complexidade, mas também com esta promessa de bons resultados. --- --- O trabalho começou com a nomeação de uma Comissão Científica composta pela Dra. Sara Pereira, Directora do Museu do Fado, pela Prof.ª Salwa Castelo-Branco Presidente do INET e por mim próprio como seu Presidente, e também se baseou muito no apoio dado pelo Conselho Consultivo do Museu do Fado, constituído pelo Carlos do Carmo, pelo Vicente da Câmara, pelo Gilberto Grácio, pelo Luís Penedos, pelo Luís de Castro, pela Julieta Estrela, pelo Daniel Gouveia, pelo António Chaínho e pela Luísa Amaro. --- --- Ou seja, mais uma vez aqui também houve um cruzamento muito importante desde o princípio, que foi pegar nos académicos e nos investigadores universitários e pô-los a trabalhar e a aprender com as pessoas que vêm do terreno e que fazem no dia a dia o Fado. Portanto, não houve aqui nem a invasão dos doutores que tomaram conta do terreno, nem houve, por outro lado, a rejeição por parte das pessoas do terreno em relação aos investigadores. Encontrámos campos de trabalho comuns, acho que aprendemos todos uns com os outros, e sem este cruzamento de todos esta candidatura e o trabalho que a preparou não teria sido possível. --- --- A candidatura, nos termos da convenção da UNESCO, exige várias pré-condições. Exige, em primeiro lugar, uma pré-condição de representatividade, ou seja, que o objecto cultural que está a ser proposto, neste caso o Fado, seja reconhecido antes de mais pela própria comunidade que o propõe como um símbolo identitário. ---- --- E aí nós tivemos realmente uma preocupação muito grande de garantir essa legitimidade, não só pela nossa preocupação de envolver a comunidade do Fado de uma forma muito directa, mas também, como a Dra. Sara Pereira vos explicará, com uma rede de protocolos que faz com que as associações de bairro, as colectividades de cultura e recreio, os sítios dos bairros populares de Lisboa onde o Fado é uma tradição residente e enraizada, que essas instituições representativas digam publicamente: “interessa-nos esta candidatura, reconhecemos esta candidatura, o Fado é o nosso retrato e nós reconhecemos o retrato que a candidatura está a enviar”. --- --- Por outro lado, temos naturalmente o importantíssimo apoio formal da Câmara, mas também depois uma série de protocolos com todas as instituições que são detentoras de património documental para o estudo do Fado: bibliotecas, arquivos audiovisuais, arquivos sonoros, colecções iconográficas, todas as instituições, quer nacionais, quer municipais, quer privadas, que têm património, têm espólios documentais nesta área, fizeram, praticamente todas já, protocolos com a candidatura no sentido de viabilizar estes fundos. --- --- Portanto, a representatividade interna é clara, e representatividade externa é nisso que temos que trabalhar, mas temos um capital assegurado. Como dizia a Senhora Presidente, o Fado é internacionalmente associado à imagem cultural de Portugal, essa é uma associação positiva e calorosa e nós vamos ter de trabalhar nessa dimensão. ---- --- Mas a UNESCO não quer produtos chauvinistas que sejam uma espécie de bandeiras isoladas no contexto das culturas, quer consagrar as expressões culturais que sejam também expressões de diálogo com as outras culturas. Portanto, a nossa

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preocupação é também mostrar como o Fado, desde as suas origens, foi sempre um espaço multicultural, aberto ao contacto com as outras culturas, aberto às aprendizagens. Incorporou componentes que vêm das danças afro-brasileiras do século XVIII, princípios do Século XIX, incorpora componentes regionais portuguesas que acorreram à Cidade de Lisboa com a emigração interna que se foi processando ao longo de todo o século XIX e que se foi reformulando, reformatando o próprio perfil populacional de Lisboa e foi criando uma cultura popular nova na Cidade de que o Fado foi um espelho. E ao longo da sua evolução foi sempre interagindo com outras músicas do mundo. --- --- Hoje em dia, justamente um dos aspectos mais interessantes é este aspecto que o Fado tem demonstrado de, simultaneamente, ser fiel a si próprio, às suas raízes, às suas tradições, ao seu legado, e de ser capaz de conversar com outras músicas de uma forma criativa sem perder a sua identidade, e ao mesmo tempo ir aprendendo e ensinando com as outras músicas, o que é um sinal de vitalidade. --- --- A última questão que a UNESCO exige é a questão da salvaguarda. Não se punha aqui o problema do risco de extinção da espécie, porque realmente, graças a Deus, o Fado está de boa saúde e recomenda-se, e dá todos os sinais de estar em plena expansão, com cada vez mais jovens fadistas, guitarristas, violistas, compositores e poetas a escreveram, a cantarem e a tocarem, e portanto, há um boom imparável que não faz prever qualquer risco imediato. --- --- Mas há um risco grave de perda de memória, e isso é que é o lado preservacionista que nós queremos assegurar. A ideia de que as fontes que preservam a memória da evolução do Fado nestes últimos dois séculos não se podem perder como se estavam a perder. Têm que ser estudadas, têm que ser digitalizadas, têm que ser disponibilizadas, têm que ser publicadas. E essa é a parte fundamental da candidatura. --- --- A UNESCO é a cereja em cima do bolo. Quem tem de fazer o bolo somos nós e este apoio sistemático das sucessivas Vereações da Câmara de Lisboa permitiu que uma equipa de jovens investigadores, muito dedicada, fizesse um trabalho de recolha que eu me permito dizer, excluindo-me a mim próprio naturalmente, que considero extraordinário porque nós temos uma base de dados sobre gravações de Fado desde 2002 que já tem largos milhares de títulos, temos um levantamento de bibliografia de edições de partituras de Fado, de edições de poemas, de levantamento de iconografia do Fado, a uma escala que não existia até hoje. E estamos a aprender, todos os dias com isso, cada vez mais sobre o Fado. --- --- Vamos chegar à candidatura com um trabalho de casa já feito, com um projecto arquivístico muito importante, que levanta toda essa informação, que a disponibiliza, que a digitaliza, que vai utilizar as novas tecnologias para dar acesso a essa informação, com um grande programa de edições que vai pôr cá fora, disponível para toda a gente, edições de Fado, de texto de música, estudos importantes que estavam esgotados, colecções de iconografia de Fado, e, portanto, podemos chegar à UNESCO e dizer: “estamos a tomar conta da nossa casa, ajudem-nos a pôr a placa à porta”. ---

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--- E é basicamente isso que nós queremos. Isto não é nenhum concurso, não vamos ter nenhum prémio, mas queremos ter e vamos ter – eu costumo dizer, desculpem a informalidade da expressão, nós não jogamos a feijões – nós estamos a jogar para ganhar e estamos convencidos que a candidatura vai ser bem sucedida. Temos muito trabalho pela frente, de empenho nesta relação muito sólida que formámos com a comunidade em torno do projecto da candidatura. É muito importante para nós estarem aqui tantas figuras importantes do Fado, tantas figuras vivas, tantos mestres que sabem tanto sobre Fado e que estão aqui connosco a apoiar-nos. --- --- Queremos continuar a desenvolver esse trabalho. É muito importante o esforço que vamos ter de fazer através do Governo português, através das nossas embaixadas, para sensibilizar as delegações nacionais da UNESCO para as negociações difíceis, lentas, penosas que antecedem sempre a decisão final, mas estamos convictos de que vamos chegar a bom resultado. --- --- E para esse bom resultado, a aprovação que eu confio que surgirá da Assembleia Municipal, com toda a força e toda a legitimação que isso nos dá, será certamente o elemento fundamental para mostrar à UNESCO. Essa tal legitimidade que está no coração da própria candidatura. --- --- Eu queria agradecer a vossa atenção e queria passar a palavra à minha colega Sara Pereira, que vos vai falar do plano de salvaguarda, das medidas concretas da candidatura. --- --- A Senhora Dra. Sara Pereira, em paralelo com a apresentação de um power-point, fez a seguinte intervenção: --- --- Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Senhores Vereadores, Senhores Deputados, minhas Senhoras, meus Senhores. --- --- É uma honra estar aqui a apresentar aquele que será o Plano de Salvaguarda da candidatura do Fado à lista representativa do Património Cultural e Imaterial da Humanidade. --- --- Tal como referiu o Senhor Presidente da Comissão Científica, o Prof. Doutor Rui Vieira Nery, esta candidatura prevê um plano integrado de salvaguarda da memória do Fado, um plano que se estrutura em torno de cinco linhas estratégicas de acção. ---- --- A primeira, a do envolvimento da sociedade civil, quer através das entidades detentoras de acervos relevantes para o estudo do Fado, entidades museológicas e arquivísticas, instituições responsáveis pelo estudo e pela preservação do património, ou quer através de entidades que representam os interesses da comunidade do Fado, dos agentes culturais e do público. --- --- Uma segunda linha de acção, muito sumariamente, um programa educativo muito vasto que promoverá a integração do Fado nos currículos escolares do ensino básico ao ensino superior, numa perspectiva integrada, e gradual naturalmente. --- --- Uma terceira linha de acção que se prende com toda a investigação realizada desde 2005 até aos dias de hoje, que permitirá implementar agora um vasto programa de edições. ---

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--- Uma quarta linha estratégica prende-se com a revitalização dos espaços do Fado, profissionais e amadores da Cidade de Lisboa, a sua dinamização através da implementação de roteiros temáticos. --- --- E, finalmente, uma estratégia de promoção e de difusão do universo do Fado a nível nacional e internacional. --- --- Todo este plano cruza, ao longo das suas várias acções, dos seus vários eixos estratégicos, o conhecimento académico e cientifico e a perspectiva multidisciplinar da academia, com o saber fundamental e o conhecimento dos próprios artistas. Todos eles, interpretes, músicos, compositores, autores e agentes culturais, serão chamados a participar e terão aqui, no desenvolvimento deste Plano de Salvaguarda, uma participação activa e efectiva. --- --- Portanto, relativamente a este envolvimento da sociedade civil, estamos, tal como disse o Senhor Prof. Rui Vieira Nery, em fase de conclusão de protocolos com várias entidades de carácter museológico ou arquivístico, e entidades também representativas dos interesses da comunidade do Fado, agentes culturais e público. ---- --- Elas aqui (no power-point) estão por ordem alfabética: temos a Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado e a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, ambas integrantes e parte activa do Conselho Consultivo do Museu do Fado, a Associação Fonográfica Portuguesa, a Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, a Fundação Amália Rodrigues, o GDA – Direitos dos Artistas, o Inatel, a Rádio Amália, o Sindicato dos Músicos, o Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, a Sociedade Portuguesa de Autores e a Voz do Operário. --- --- Ao nível dos arquivos, temos um conjunto de entidades muito diversificado, desde arquivos e museus tutelados pelo Instituto de Museus e Conservação pelo Ministério da Cultura, ou museus tutelados pela Câmara Municipal de Lisboa, através do seu Pelouro da Cultura, e temos também duas universidades: a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, através do Instituto de Etnomusicologia que tem sido um parceiro fundamental deste projecto, desde 2005, presidido pela Profª. Salwa Castelo-Branco também elemento da Comissão Científica, e um outro protocolo, em fase de conclusão, vai ser fechado com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a clássica, através do seu Instituto de História de Arte, designadamente no âmbito dos estudos pós-graduados de Arte e Património. --- --- Temos aqui vários arquivos. O Arquivo de Nacional de Imagens em Movimento, o Arquivo Fotográfico Municipal, a Biblioteca Nacional, a Cinemateca Nacional, a Direcção-Geral de Serviços Prisionais, a Fonoteca Municipal de Lisboa, o Gabinete de Estudos Olisiponenses, a Hemeroteca Municipal de Lisboa, e os seguintes museus: o Museu e Arquivo da RTP, o Museu da Cidade, o Museu da Música, o Museu do Fado, o Museu José Malhoa, o Museu da Etnologia, o Museu do Teatro, o Museu do Traje, a Rede Municipal de Bibliotecas, e também aqui a Voz do Operário que tem, como sabem, um arquivo fantástico para o estudo do Fado na viragem para o século XX. ---

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--- Aqui temos alguns exemplares da iconografia, partituras ilustradas por Stuart de Carvalhais, e estas por Amarelhe, e porque este Plano de Salvaguarda não começou do zero, nós vamos integrar neste dossier de candidatura uma perspectiva daquilo que se tem feito ao longo dos últimos 10/12 anos, integrando as medidas em curso para a salvaguarda do património do Fado. --- --- Desde logo a criação do Museu do Fado naturalmente, em 1998, Museu para o qual convergiram, como sabem, os espólios de centenas de personalidades do universo do Fado; a Fundação Amália Rodrigues, criada no ano seguinte; a publicação de uma obra fundamental, uma espécie de bíblia para todos nós que estudamos o Fado e que nos apaixonamos pelo Fado, o livro “Para uma História do Fado”, de Rui Vieira Nery, em 2004. --- --- Enfim, para vos dar uma ideia a história do Fado anterior a esta tinha sido publicada em 1903, por Pinto de Carvalho, também conhecido por Tinope. --- --- Como sabem, em 2005, a EGEAC e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova, estabeleceram um protocolo que veio desenhar as linhas de cooperação entre o Museu do Fado e o Instituto de Etnomusicologia, ao abrigo da candidatura do Fado à UNESCO. --- --- No âmbito desse protocolo e com as equipas que entretanto se criaram, foram realizadas dezenas de entrevistas etnográficas aos artistas, foram identificados os acervos relevantes para o estudo do tema na posse de variadíssimas instituições, foi sistematizada toda a informação em bases de dados específicas: bases de dados de arquivos, de bibliografias, de fonogramas, de reportórios e de etnografia. --- --- Procedemos, naturalmente, a uma releitura crítica das fontes históricas, à sensibilização de instituições e particulares para as boas práticas de conservação dos testemunhos físicos do Fado, e, ainda ao abrigo deste protocolo, decorrem dois projectos de investigação desenvolvidos em parceria com o Instituto de Etnomusicologia, um primeiro dedicado e intitulado “Estudo da Indústria Etnográfica em Portugal no Século XX”, e o segundo “O Fado no Século XX”, uma abordagem multidisciplinar do património cultural intangível. --- --- Ainda no âmbito das mesmas medidas, há que referir o filme do prestigiado realizador Carlos Saura, em 2007. Também a conclusão do primeiro documentário televisivo sobre a “História do Fado”, uma série de seis episódios, uma co-produção entre a EGEAC e a RTP, que veio de facto promover, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, uma série consagrada à história do Fado, com um guião da autoria do Prof. Rui Vieira Nery, e narrada, protagonizada, por Carlos do Carmo. Irá para o ar, esperamos, em Setembro deste ano. --- --- Também temos de referir o Congresso Internacional “Fado, Percurso e Perspectivas”, realizado em 2008, em parceria com a Universidade Católica Portuguesa, o CEPCEP, e a Universidade Nova de Lisboa, uma vez mais o Instituto de Etnomusicologia. --- --- A própria renovação e valorização do circuito expositivo do Museu do Fado, realizado ao abrigo de uma candidatura ao “Programa Operacional da Cultura”, revestiu-se já desta nova perspectiva de entendimento do Fado como um património

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imaterial, intangível, efémero, incorpório se quiserem. E por isso se abandonaram conceitos expositivos anteriores, se trouxeram as obras de arte para o Museu, se introduziram postos de consulta, se introduziram as histórias de vida dos artistas ao longo da própria exposição, e a possibilidade de audição de dezenas e dezenas de fados. --- --- Uma outra acção fundamental, tratou-se da aquisição, pelo Estado Português, no ano 2009, de uma colecção privada de 5.000 fonogramas de fado de 78 rotações. Trata-se de uma aquisição em regime de co-propriedade entre a Câmara Municipal de Lisboa e a EGEAC, e o Ministério da Cultura. --- --- Também os protocolos de cooperação institucional com entidades diversificadas que tem vindo a ser desenvolvidos desde 2009, e, finalmente, a publicação da “Enciclopédia da Música Popular Portuguesa” dirigida pela Profª. Sawra Castelo-Branco, em 2010, e a respectiva publicação on-line na base de dados da música popular portuguesa, um instrumento também ele de referência fundamental para quaisquer estudos que se façam sobre o Fado. --- --- Passemos então às medidas de salvaguarda propostas na candidatura à lista representativa do Património Cultural e Imaterial da Humanidade. --- --- Desde logo, a criação e a formalização de uma rede de arquivos, uma rede de cooperação estratégica institucional, com objectivos de salvaguarda, estudo, investigação e fruição do património do Fado, integrando todas as instituições e arquivos de que falamos atrás. --- --- Um arquivo digital de fonogramas de Fado é outra das grandes apostas desta candidatura, um arquivo digital que centralize a informação áudio dos registos existentes na posse das diferentes instituições. Referimo-nos aos registos em suporte de 78 rotações, 33 ou 45 rotações por minuto. --- --- Um programa educativo. Este programa é bastante vasto, tem como objectivo central poder vir a integrar gradualmente o Fado nos currículos escolares do ensino básico ao ensino superior, e tem de espelhar ele próprio um cruzamento muito sólido entre aquilo que é a perspectiva científica e académica, e aquilo que é o conhecimento essencial da comunidade do Fado, dos detentores desta arte. --- --- Todos eles serão chamados a participar neste programa. Estão em curso várias iniciativas desenhadas por eles, ao longo das quais eles próprios se encarregarão de transmitir a sua memória, de desenhar o próprio programa pedagógico de seminários e de workshops diversificados. --- --- Este programa educativo vai passar, naturalmente, por um reforço da actividade da escola do Museu, através dos seus cursos de guitarra portuguesa, viola de fado, seminários de poesia de fado e ateliers de canto, seminários e workshops no Museu do Fado no sentido de criar um programa regular de debate e reflexão no seio da própria comunidade, em que a própria comunidade passa o testemunho às gerações actuais e às gerações vindouras. As visitas cantadas ao Museu do Fado terão naturalmente continuidade. --- --- Ao nível da construção da guitarra portuguesa, prevemos a atribuição de bolsas plurianuais a formandos seleccionados pelos dois grandes mestres em actividade,

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Gilberto Grácio e Óscar Cardoso, e, enfim, a ideia é que esses formandos possam futuramente garantir a continuidade desta arte, e possamos nós trabalhar para implementar uma oficina de construção de guitarra no Bairro de Alfama, nas proximidades do Museu. --- --- Também a programação de exposições temporárias consagradas à arte dos guitarreiros e à construção da guitarra portuguesa, será outra das estratégias fundamentais do projecto. --- --- Estamos também a trabalhar no sentido de elaborar programas educativos dirigidos aos diferentes níveis do ensino básico e secundário, designadamente através da elaboração de materiais pedagógicos, de seminários de formação de formadores, da implementação de um projecto-piloto educativo em escolas do ensino básico e secundário da Cidade de Lisboa, de uma promoção ainda mais regular das visitas da comunidade escolar ao Museu. --- --- Estamos em articulação com várias escolas de ensino artístico, a nível local e nacional. Queremos apostar na formação técnica e científica de especialistas, e temos estes protocolos com estas duas universidades de que vos falei, e também com a Escola Superior de Artes e de Música, do Porto, ao abrigo dos seus estudos pós-graduados de audiovisual para a produção de documentários sobre o Fado. --- --- Vamos naturalmente promover novas edições do Congresso Internacional do Fado, apostar na formação da comunidade no sentido de uma sensibilização às boas práticas dos testemunhos físicos: fotografias, cartazes, enfim, através de acções de sensibilização a decorrer em vários locais da Cidade, e continuar com uma programação regular de conferências alusivas ao tema. --- --- Ao nível das edições, e fruto de toda a investigação realizada desde 2005, vamos implementar um programa editorial de fontes históricas, designadamente “O Fado, Canção de Vencidos”, “Os Ídolos do Fado”, “A História do Fado”, “A Triste Canção do Sul”, todas estas obras com estudo prévio de Rui Vieira Nery, e “O Fado e os seus Censores”, de Avelino de Sousa, com estudo prévio Paulo Lima. Portanto, trata-se de edições faccimiladas de obras de referência para a história do Fado. --- --- Temos também previstas outras edições literárias, ensaios históricos e analíticos, depoimentos, catálogos de fontes documentais, como, por exemplo, “O Fado no Ensaio e na Ficção”, “Antologia das Abordagens ao Fado pelos escritores e pensadores relevantes da cultura portuguesa, entre 1850 e 1950”, também com selecção e estudo prévio de Rui Vieira Nery, “O Catálogo da Discografia de Fado”, de 1902 a 1926, da responsabilidade da equipa de investigadores do Instituto de Etnomusicologia, dirigido por Sawra Castelo-Branco, uma “Antologia de Histórias de Vida”, com uma selecção de entrevistas a figuras marcantes da história do Fado, também da responsabilidade da equipa de investigadores do Instituto de Etnomusicologia, e com notas de apresentação do Conselho Consultivo do Museu do Fado. --- --- Ao nível das fontes musicais, temos previstas antologias faccimiladas de partituras impressas de fado, de 1857 a 1910, um primeiro volume, e um segundo de 1910 a 1945; reeditaremos, também com a transcrição do Prof. Manuel Morais, a

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edição moderna de um manuscrito de fados e danças de salão para bandolim e viola; uma antologia de partituras do reportório de fado estrófico, com a selecção e estudo prévio de José Manuel Osório e Rui Vieira Nery; antologias de fados/canção de meados do século XX. --- --- Fontes poéticas também. Como vêem é um programa de acções bastante vasto. “A Lírica do Fado Antes da Censura”; uma antologia de “Poesia para Fado”, de 1857 a 1926; e, um segundo volume, “A Era de Ouro da Poesia de Fado”, uma antologia de poesia entre 1926 e 1950. Antologias de fontes iconográficas, na pintura portuguesa do século XX e no universo da ilustração portuguesa do século XX, e outras edições. - --- Nestas outras edições temos também prevista a reedição de várias obras fundamentais do Dr. Ruben de Carvalho, designadamente a reedição do livro “As Músicas do Fado”, e a reedição, que gostaríamos de levar a cabo, de dois volumes da sua autoria, da colecção “Um Século do Fado”, da Ediclub. Temos também prevista a reedição do catálogo “Fado, Vozes e Sombras”, coordenado pelo Joaquim Pais de Brito, e as actas do Congresso Internacional “Fado, Percursos e Perspectivas”. --- --- Ao nível das fontes sonoras, para além de edições que estão ainda em fase de estudo, foi já publicada, no ano passado como muitos de vós saberão, a colecção “Amália Nossa”, com coordenação científica do Prof. Rui Vieira Nery, que saiu com o jornal Público, e a colecção “Os Fados da Alvorada”. --- --- Uma das apostas da candidatura é a atribuição do selo da candidatura a edições de reconhecido mérito e de reconhecida relevância para o reconhecimento histórico do Fado. --- --- Ao nível do audiovisual, para além do documentário de que já aqui falamos, que irá para o ar este ano na RTP, “Trovas antigas, saudades loucas”, teremos, no próximo dia 7 de Junho, a apresentação do documentário “Fado Celeste”, da autoria de Diogo Varela Silva, e prevemos a realização de dois documentários, um consagrado à guitarra portuguesa, e outro consagrado a uma voz maior do Fado e muito querida de todos nós, Argentina Santos. --- --- Com vista à revitalização e à dinamização de alguns locais do Fado profissional e amador da Cidade, estamos também a trabalhar em roteiros temáticos que permitam, de facto, revitalizar alguns desses espaços, não só as casas de fado mas também as colectividades com grande peso na tradição fadista na Cidade, e que muitas delas têm ainda hoje uma acção educativa bastante importante, com escolas de carácter amador muito activas. E, assim sendo, um eixo importante deste projecto passará pela implementação de roteiros do Fado que contribuam, efectivamente, para uma revitalização destes espaços. --- --- Finalmente, ao nível da promoção do universo do Fado, a nível nacional e internacional, algumas acções. O documentário de que já falamos, uma programação de workshops e seminários por todo o País, da responsabilidade dos próprios artistas. Enfim, serão eles porque, como já disse, e este é um aspecto bastante importante, o envolvimento dos artistas no desenvolvimento e no cumprimento deste Plano de Salvaguarda tem de ser inequívoco. ---

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--- Temos prevista a promoção de materiais específicos de divulgação para circulação em universidades, museus, centros culturais, fundações, entre outros espaços, e um programa de divulgação internacional que terá de ser desenvolvido através da rede de Embaixadas, eleitorados, em cooperação com o Instituto Camões e com o Ministério dos Negócios Estrangeiros. --- --- A Senhora Presidente, terminadas as intervenções dos oradores convidados, disse: --- --- “Muito obrigada Prof. Rui Vieira Nery, muito obrigada Dra. Sara Pereira. --- --- Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Deputados, músicos, fadistas, guitarristas, guitarreiros, público aqui presente. --- --- Neste momento o dossier do Fado é nosso, e por conseguinte ele poderá ser considerado Património Imaterial da UNESCO se nós todos participarmos activamente.” --- --- Seguidamente, abriu formalmente a reunião, quinta da Sessão Ordinária de Abril, entrando-se na apreciação da proposta 190/2010. --- --- CONTINUAÇÃO DA ORDEM DO DIA --- --- PONTO 23 – PROPOSTA 190/2010 – APROVAR A APRESENTAÇÃO JUNTO DA UNESCO DA CANDIDATURA DO FADO A PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE, ASSIM COMO SENSIBILIZAR OS DEMAIS ÓRGÃOS DE SOBERANIA, BEM COMO OUTRAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, PARA A IMPORTÂNCIA DESTA CANDIDATURA E AINDA PROMOVER A REALIZAÇÃO DE TODAS AS TAREFAS DE NATUREZA PROGRAMÁTICA, ORGANIZATIVA E DIPLOMÁTICA DE FORMA A VIABILIZAR A REFERIDA CANDIDATURA, NOS TERMOS DA PROPOSTA, AO ABRIGO DO DISPOSTO NA ALÍNEA R) DO Nº 1 DO ART.º 53.º DA LEI Nº 169/99, DE 18 DE SETEMBRO, COM A REDACÇÃO DADA PELA LEI Nº 5-A/2020, DE 11 DE JANEIRO. --- --- PROPOSTA 190/2010 --- --- Pelouro: Cultura --- --- “Considerando que: --- --- - O Fado é um género performativo que integra música e poesia e que é amplamente reconhecido pela cidade de Lisboa como uma parte significativa da sua herança cultural, reflectindo, através das suas práticas e representações, o processo e constituição da cidade moderna ao longo dos últimos dois séculos; --- --- - O Fado se converteu no mais popular género de canção urbana em Portugal e é reconhecido pela maioria das comunidades portuguesas como um símbolo da identidade cultural, no seu conjunto, e da cidade de Lisboa, em particular; --- --- - Nas últimas décadas o Fado se tem revelado um campo de criatividade cada vez mais aberto, para o qual têm contribuído comunidades, grupos e indivíduos, em que os elementos tradicionais se combinam com novas influências, tanto nacionais, como internacionais; ---

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--- - No mundo contemporâneo os factores identitários, de que o Fado é um exemplo paradigmático, são cada vez mais relevantes como elementos de coesão, sentido de pertença e de continuidade das sociedades; --- --- - Esses factores identitários são igualmente elementos decisivos da diferenciação, visibilidade e projecção internacional das cidades e que o Fado é reconhecidamente um símbolo vivo da identidade cultural de Lisboa; --- --- - A promoção da diversidade cultural e da criatividade humana constituem formas de manutenção do respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos e de contribuição para o desenvolvimento sustentável das sociedades; --- --- - Não obstante o facto de se manter uma tradição cultural viva, o Fado corre o risco de perda de identidade pela falta de consciência do percurso e do legado históricos do género ao longo de quase dois séculos, e, pela pressão das regras de um mercado globalizado e massificado; --- --- - Se torna, por isso, urgente a preservação do legado histórico do Fado, através de um conjunto diversificado de medidas, nomeadamente a inventariação das instituições relacionadas com o Fado tradicional de Lisboa, a criação de arquivos e de museus, a promoção da pesquisa e divulgação científicas, a introdução do Fado nos currículos escolares e a criação de incentivos para a organização de eventos associados a este género musical; --- --- - A EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural – E.E.M. – desenvolveu a candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade, com o contributo de uma comissão científica e de um conselho consultivo especificamente constituídos para o efeito, bem como com o envolvimento da comunidade do Fado e de um vasto conjunto de entidades, públicas e privadas, responsáveis pela transmissão inter-geracional deste género musical, bem como pela sua produção, recriação e interpretação; --- --- - O reconhecimento do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade constitui o mecanismo mais eficaz de salvaguarda deste importante activo cultural imaterial. --- --- Assim, tenho a honra de propor que a Câmara delibere aprovar, ao abrigo das disposições conjugadas da alínea m), do n.º 2, da alínea a) do n.º 6 e da alínea d) do n.º 7 do artigo 64º da Lei n.º 169/99 de 18 de Setembro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro: --- --- a) Aprovar, e submeter igualmente à aprovação da Assembleia Municipal de Lisboa, a apresentação junto da UNESCO da candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade; --- --- b) Sensibilizar os órgãos de soberania, em particular o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, bem como outras instituições públicas e privadas, para a importância desta candidatura; --- --- c) Promover a realização de todas as tarefas de natureza programática, organizativa e diplomática de forma a viabilizar a referida candidatura.” --- --- (Proposta assinada pelo Sr. Presidente da Câmara e pelos Srs. Vereadores Pedro Santana Lopes, Ruben de Carvalho e António Carlos Monteiro) ---

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--- A Senhora Deputada Luísa Vicente Mendes (PS), na qualidade de Presidente da Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto, no uso da palavra apresentou o Relatório que a seguir se transcreve: --- --- RELATÓRIO --- --- “A Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto reuniu em 24 de Maio de 2010, para análise da Proposta n.º 190/2010 (Candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade). --- --- O Fado é uma forma artística (poética e musical) dos finais do século XIX com uma estrutura poética fixa (quadras, quintilhas, sextilhas e décimos) em versos de redondilha maior, decassílabos ou dodecassílabos, com uma harmonia fixa e melodia livre. --- --- O Fado é uma forma de cantar, ou de declamar, de raízes bem portuguesas com uma particular singularidade nas chamadas artes performativas do mundo. --- --- A Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto estando de acordo com a candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade recomenda: --- --- - A definição do objecto de candidatura, ou seja, a definição clara da identificação do que deve ser protegido e do que é permitido inovar de forma totalmente independente; --- --- - A criação de directrizes sobre a protecção de património material existente, nomeadamente os registos de Fado desde as primeiras gravações. --- --- Acrescenta-se que a nomeação do Fado para esta candidatura protege esta forma única de expressão portuguesa. --- --- Saudando a apresentação desta Proposta, a Comissão considera que a mesma está em condições de ser discutida e votada em plenário. --- --- - Este relatório foi aprovado por unanimidade, estando ausentes os representantes do CDS/PP e a Deputada Municipal Independente.” --- --- A Senhora Presidente: Senhor Presidente da Câmara, que subscreveu a proposta com os Vereadores António Carlos Monteiro, do CDS-PP, Ruben de Carvalho, do PCP, e Pedro Santana Lopes, do PSD, dou-lhe a palavra e certamente quererá partilhá-la com os outros Senhores Vereadores. --- --- O Senhor Presidente da Câmara, no uso da palavra para apresentação da proposta, fez a seguinte intervenção: --- --- Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados Municipais. --- --- É para mim uma tripla honra dirigir-me neste momento à Assembleia Municipal. --- Em primeiro lugar, porque me cabe começar a apresentação de uma proposta, que é subscrita por mim, pelo Dr. Pedro Santana Lopes, pelo Vereador Ruben de Carvalho e pelo Vereador António Carlos Monteiro. --- --- Em segundo lugar, porque é uma proposta que, como vimos, resulta de um longo trabalho que remonta, pelo menos, aos trabalhos iniciados no tempo da Lisboa’94, e que foram desde então prosseguidos, quer com a decisão do Dr. Pedro Santana Lopes da formalização desta candidatura, quer pela continuidade que lhe soube dar o Prof. António Carmona Rodrigues, quer pelo trabalho que desde Agosto de 2007 tem vindo

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a ser prosseguido e que agora encontra um momento alto com a submissão desta proposta à Assembleia Municipal. --- --- Mas uma honra também porque o reconhecimento formal e internacional, por parte da UNESCO, do Fado como merecedor de inscrição na lista do Património Imaterial da Humanidade, é certamente a melhor homenagem que podemos prestar a todos aqueles que desde o tempo em que o Fado começou a ser cantado nas tabernas da “má fama” que o Malhoa pintou, até aos mais distintos palcos do mundo, onde as vozes do Fado hoje o levam, fizeram o poema, a música, o som da guitarra e da viola, e deram a voz ao Fado que nós todos amamos e respeitamos. --- --- Lisboa tem o privilégio, único e raro, de ter uma forma musical própria e única que a identifica como tal. Se nós pensarmos um pouco o que é que Lisboa tem de único, recordamos certamente a posição geográfica única da Cidade de Lisboa, que nos fez na história, e nos faz hoje, uma ponte entre culturas, entre continentes, porta de entrada nos oceanos. --- --- Certamente uma orografia própria que nos proporcionou um estuário único, as colinas que em conjunto definem um sistema de vistas e uma luminosidade que são uma marca da nossa Cidade. --- --- Gostamos também de convocar uma cultura, que imaginamos ancestral, de Cidade aberta, tolerante, cosmopolita, aberta aos outros. --- --- Certamente algum do património edificado, como a Torre de Belém ou os Jerónimos, marcas inconfundíveis do nosso património, ou conjuntos edificados como a Baixa de Lisboa. --- --- Mas certamente todos reconhecemos o Fado como um elemento identificativo da Cidade de Lisboa. --- --- Jorge Sampaio falou-nos muitas vezes da importância de sentirmos um patriotismo de cidade, de nos sentirmos parte comum de uma comunidade e os seus elementos identificativos como emblemas da nossa existência. --- --- Nunca o fez e nunca o devemos fazer, como disse há pouco o Prof. Rui Vieira Nery, numa lógica de exclusão ou numa lógica chauvinista. Pelo contrário, devemos sentir como elemento do nosso patriotismo de cidade, essa missão universalista que tantas vezes marcou a nossa história e marcou a nossa forma de estar no mundo. --- --- Nos dias de hoje, nos dias da globalização, só serão relevantes as cidades que sejam capazes de se inserir nas grandes redes globais da comunicação. Mas só serão relevantes nessas redes globais da comunicação, aquelas cidades que tiverem algo de próprio, algo de único, algo de seu a oferecer aos outros nessas redes globais da comunicação. --- --- E é por isso que não há nenhuma contradição entre querermos ser universalistas e querermos a defesa daquilo que é nosso e o reconhecimento do nosso próprio património. É por isso que não há nenhuma contradição em querermos ser Capital dos Oceanos, mas sermos Lisboa uma Cidade dos Bairros, porque é na identificação, na afirmação e na valorização daquilo que nós temos de especifico, que nós melhor saberemos ser universais nesta era da globalização. ---

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--- É por isso que da mesma forma que nós nos abrimos aos outros, da mesma forma que nós gostamos de dançar o samba ou as mornas, que gostamos de ouvir o dedilhar da citra, é da mesma forma e com a mesma paixão que nós nos abrimos aos outros para que os outros também descubram aquilo que é próprio de nós nas vozes dos nossos fadistas, na música do nosso Fado ou no dedilhar da viola e da guitarra à portuguesa. --- --- Está um longo percurso percorrido, que aqui nos foi sumariado pelo Prof. Rui Vieira Nery, e quero aqui agradecer à Comissão Científica, ao Conselho Consultivo do Museu do Fado, à Equipa Técnica, à EGEAC, e à Directora do Museu do Fado muito em particular, todo o trabalho que foi feito, e que nos permite dizer que mesmo que a candidatura corresse mal, a candidatura já tinha valido a pena pelo muito e muito que foi feito de levantamento iconográfico, de levantamento fonográfico, de construção estereográfica, de parceria com a universidade, de desenvolvimento do Museu do Fado, e de estímulo e promoção do Fado em Portugal e de promoção do Fado no mundo. --- --- Temos pela frente um trabalho muito aturado. Em primeiro lugar, porque esta candidatura não é uma candidatura a um prémio, é um compromisso que nós assumimos connosco próprios, e perante o mundo através da UNESCO. O compromisso de valorizarmos, protegermos, salvaguardarmos e promovermos esse elemento fundamental que é o Fado. E é por isso que, tão importante como o trabalho diplomático para obter o reconhecimento da UNESCO, é um empenho inquebrantável que todos temos que ter para levar a cabo este Plano de Salvaguarda, essencial à afirmação do Fado como Património Universal da Humanidade. --- --- Sabemos bem as dificuldades desta candidatura. A candidatura do Tango, recentemente reconhecida pela UNESCO, teve uma primeira apresentação que não foi bem sucedida. --- --- Sabemos que hoje é mais difícil ainda a apresentação das candidaturas, tal o número de candidaturas que se vão multiplicando um pouco por todo o mundo, e é por isso que é absolutamente essencial concentrarmo-nos em prosseguir este trabalho durante os próximos anos, com a mesma qualidade e o mesmo afinco que foi desenvolvido em todo este percurso. --- --- Sabemos bem que o Fado é a Canção de Lisboa, mas que o Fado já é mais do que a Canção de Lisboa. É uma canção do País, e se nos identifica a nós identifica também, e muito, Portugal. --- --- E é por isso que, sendo esta uma candidatura municipal, da iniciativa do Município, aprovada na Câmara e espero que na Assembleia Municipal, deve contar com o apoio de todos os outros órgãos de soberania. E por isso nos dirigimos ao Governo, à Assembleia da República e a Sua Excelência o Senhor Presidente da República, para que apoiem e patrocinem esta candidatura. --- --- Saibamos estar todos à altura do desafio que se nos põe. Mas é um desafio para o qual encontramos um estímulo, um estimulo não só naquilo que o Fado foi e é, mas naquilo que nós percebemos que o Fado continuará a ser, tal a forma pujante como hoje se vai apresentando, surgindo todos os anos novas vozes, masculinas e femininas,

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novos guitarristas, novos intérpretes, novos poetas, novos autores, novo Fado que dá vida sempre ao Fado, a Canção da Cidade de Lisboa. --- --- A Senhora Presidente: O Sr. Vereador Pedro Santana Lopes informou-me que não poderia estar hoje presente, pelo que dou a palavra ao Sr. Vereador Victor Gonçalves. --- --- O Senhor Vereador Victor Gonçalves, no uso da palavra, fez a seguinte intervenção: --- --- Senhora Presidente da Assembleia, Senhores Membros da Mesa, Senhor Presidente da Câmara, caros colegas Vereadores, Senhores Deputados Municipais, estimado público, homens e mulheres do Fado aqui presentes, jornalistas. --- --- É com todo o prazer – embora com alguma surpresa para mim na medida em que, sinceramente, não pensava intervir nesta reunião – que aqui intervenho mais uma vez, neste lugar da Assembleia Municipal, que durante muitos anos foi sujeita a intervenções minhas, umas naturalmente melhores outras piores, mas é com muito prazer que aqui volto. --- --- E ainda por cima para falar sobre uma questão que é de consenso generalizado, uma proposta que é subscrita por todos os partidos representados na Câmara, que naturalmente irá ser aprovada por toda a Assembleia Municipal, e com certeza irá ser aprovada por aclamação, já que ela merece ser aprovada por aclamação de forma a que tenha, na sociedade lisboeta e na sociedade portuguesa, o impacto que merece o seu desenvolvimento futuro. --- --- Foi já aqui muito falado sobre os percursos que esta candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade teve. Ela iniciou-se no mandato do Dr. Pedro Santana Lopes, mas todos os partidos e todos os Presidentes subsequentes entusiasticamente se entregaram ao seu desenvolvimento. --- --- Portanto, não é uma proposta de ninguém, não é uma proposta de um partido, não é uma proposta de quem quer que seja, mas é uma proposta de todos os representantes na Câmara e na Assembleia Municipal de Lisboa. --- --- E estou convencido que é uma proposta de toda a Cidade de Lisboa, porque o Fado é, há muito tempo, um património de Lisboa. É, há muito tempo, um património de Portugal, e se esta candidatura tiver êxito, apesar das dificuldades aqui referidas pelo Sr. Presidente da Câmara no desenvolvimento e na aprovação final desta candidatura, vai ser com certeza, e todos o desejamos, um Património da Humanidade. --- --- E merece-o por tudo aquilo que representou, não só em relação à expressão cultural e artística que esta canção de raiz urbana representa, como também a todo o envolvimento, a toda a promoção que o próprio Fado fez da Cidade de Lisboa ao longo de muitos anos. --- --- Recordo-me, como Vereador do Turismo da Câmara Municipal de Lisboa, que em todas as capitais onde havia representações de Portugal, onde havia manifestações de promoção de Portugal, aparecia sempre um fadista ou uma fadista que era ouvida e escutada com toda a atenção, por todos aqueles que, mesmo não percebendo uma

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palavra, adoravam a forma, adoravam a expressão, adoravam o ritmo que o fado representa. --- --- É, portanto, uma proposta que com toda a certeza terá êxito. E é com todo o gosto que, em nome do PSD, a subscrevemos e lhe auguramos o melhor futuro. Esperemos que daqui a algum tempo possamos todos, com alegria e satisfação, manifestar o aplauso que teve em relação à sua consignação como Património Imaterial da Humanidade. --- --- A Senhora Presidente: Senhor Vereador Ruben de Carvalho, do PCP. --- --- O Senhor Vereador Ruben de Carvalho, no uso da palavra, fez a seguinte intervenção: --- --- Muito obrigada Senhora Presidente, muito obrigado e saudações a todos os Senhores Deputados e aos outros colegas Vereadores. --- --- Eu gostaria de fazer três observações, duas pequenas e uma um bocadinho mais extensa. --- --- A primeira é que aquilo que se está a passar hoje, e que esta Assembleia Municipal irá considerar e para a qual irá dar sem dúvida um passo importante, é fruto, antes de mais nada, de uma realidade. É que houve, há e continuará a haver quem canta, quem toca e quem escreve Fado. Poderíamos estuda-lo, poderíamos escrever sobre ele, poderíamos propô-lo, poderíamos fazer tudo o que quiséssemos, se não houvesse fadistas, se não houvesse cantores, se não houvesse guitarristas, se não houvesse poetas, se não houvesse músicos, não havia Fado. E esses são hoje, sem dúvida, os que estão de parabéns. --- --- A segunda questão que gostaria de vos dizer, é que o passo que estamos a dar hoje aqui completa um processo longo. Um processo que, seguramente, é aquele que as minhas primeiras palavras brevemente referiram. Mas mais em concreto, reflecte um outro que, curiosamente, tem um conjunto de protagonistas que, ao longo de praticamente 15 anos, se entrecruzaram numa feliz coincidência de circunstâncias. ---- --- Há 17 anos constituiu-se, como todos se recordarão, a Sociedade Promotora de Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura, que resultou de uma invulgar confluência de esforços entre o poder municipal, a Câmara Municipal de Lisboa, nessa altura presidida pelo Dr. Jorge Sampaio, e o Poder Central, através da Secretaria de Estado da Cultura, nessa altura dirigida pelo Dr. Pedro Santana Lopes, hoje Vereador desta Câmara Municipal, de que já foi Presidente. --- --- Essa confluência de esforços resultara particularmente profícua mas não ficou só por aí. Outras circunstâncias revelaram-se igualmente proveitosas e frutíferas. Um dos Comissários da Lisboa’94 foi a Dra. Simoneta Luz Afonso, hoje Presidente desta Assembleia Municipal, na altura Presidente do Instituto Português de Museus, que, coincidindo com esta circunstância, nomeou, como Director do Museu Português de Etnologia, o Prof. Joaquim Pais de Brito, e essa nomeação veio a revelar-se particularmente importante. --- --- E finalmente foi possível constituir um grupo de trabalho para um projecto chamado Fado, que foi um primeiro passo, e a meu ver um passo felizmente pioneiro na conjugação de dois elementos determinantes, que foram já aqui assinalados como

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seguramente um dos aspectos mais positivos de tudo aquilo que aconteceu. Foi conciliar o estudo, a investigação, a análise de carácter científica e académica, com o saber, a experiência, o gosto e a paixão de quem faz, quem vive, quem viveu, quem continua a viver e canta o Fado. --- --- Constituiu-se, nessa altura, uma Comissão de que fez parte exactamente o Prof. Joaquim Pais de Brito, de que fez parte o fadista Carlos do Carmo, de que fez parte o fadista José Manuel Osório, de que fez parte o saudoso editor discográfico Manuel Simões, um dos primeiros editores do Fado em Portugal, de que fez parte o Prof. António Firmino da Costa, autor de um dos primeiros trabalhos de investigação sobre o Fado no Bairro de Alfama, e de que fez também parte a Prof. Salwa Castelo-Branco, hoje membro da Comissão Científica, que já aqui foi referida. --- --- A presença da Prof. Salwa Castelo-Branco foi particularmente importante, porque introduziu uma experiência particularmente rica, pela sua preparação científica e académica, que foi a experiência da investigação da música popular e tradicional, pela sua preparação científica obtida nos Estados Unidos com as elevadas graduações académicas que de lá trouxe. --- --- O trabalho conjunto desta Comissão contribuiu para diversas iniciativas, de que se destacaram a exposição, “Vozes e Sombras” e respectivo catálogo no Museu Nacional de Etnologia; um conjunto de espectáculos de pequenas e grandes dimensões, fosse no Coliseu, por exemplo, com o fadista Carlos do Carmo ou com a Amália Rodrigues, foi de resto o último espectáculo público da fadista Amália Rodrigues; a publicação de outros materiais. Mas, fundamentalmente, abriu-se caminho para juntar estas duas entidades determinantes, o que veio a consolidar-se com a abertura, poucos anos depois, do hoje designado Museu do Fado. --- --- E quero confessar aos meus amigos, que possivelmente não têm a mesma opinião que eu, de que eu discordo da designação Museu do Fado. Eu sou dos que continuam a achar que se deveria chamar Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, porque Museu do Fado seria uma coisa que já estivesse morta, e Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa é de alguma coisa que seguramente está, como hoje se prova e demonstra, bem viva. --- --- Ora bem, o que é facto é que o Museu do Fado cresceu, tudo cresceu, o desenvolvimento do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa deu lugar ao aparecimento de uma série de jovens, ainda estudantes e hoje já licenciados, mestrados e mesmo doutorados, que deram um impulso de particular valia a toda esta realidade, e temos hoje concretizada uma coisa, e a caminho uma outra. --- --- Uma que temos concretizada é que o Fado, que talvez, se nós olharmos bem, há 16 anos atrás não estivesse tão bem de saúde como isso. Hoje está pujante com candidaturas ou sem elas. Hoje, como já aqui foi dito e referido, é uma realidade conhecida, estudada, respeitada, que ultrapassou quezílias, dúvidas, debates que tiveram a sua razão de ser, que foram frutificantes nas opiniões que foram vertidas, que deram conclusões que valeram a pena e que ainda hoje, possivelmente, são a raiz de discordâncias que, felizmente, continuam a existir, e isso só demonstra que o Fado

Referências

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