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AGRAVO REGIMENTAL Nº 818

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Academic year: 2021

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COMARCA DE CAMPO MOURÃO

AGRAVANTES: FERTIMOURÃO AGRÍCOLA LTDA E OUTRO

AGRAVADOS : BANCO INDUSVAL S/A, BANCO DAYCOVAL, BANCO PAULISTA S/A, FERTILIZANTES HERINGER, ADM DO BRASIL LTDA, HELM DO BRASIL LTDA, MILENIA

AGROCIENCIAS LTDA, NITRAU URBANDA

LABORATÓRIOS LTDA, DORIVAL AGULHOM E ARYSTA LIFECIENCE DO BRASIL LTDA

RELATORA: DESª IVANISE MARIA TRATZ MARTINS

AGRAVO REGIMENTAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE HAVIA NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO ANTERIORMENTE INTERPOSTO. IMPOSSIBILIDADE DE ESTENDER OS EFEITOS DA NOVAÇÃO AOS COOBRIGADOS. VEDAÇÃO LEGAL À CLÁUSULA QUE RESTRINGE OS DIREITOS DE CREDORES AUSENTES. PRETENSÃO DO AGRAVANTE QUE ENCONTRA ÓBICE NOS ARTIGOS 49, §1º E 56,§ 3º DA LEI Nº 11.101/2005. SOBERANIA DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES QUE ENCONTRA LIMITES NAS DISPOSIÇÕES LEGAIS. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 6º DA LEI Nº 11.101/2005 AO CASO. SOCIEDADES CUJA NATUREZA JURÍDICA É DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. INEXISTÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE OS SÓCIOS DA LIMITADA

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E À PESSOA JURÍDICA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Em que pese a soberania das decisões da Assembléia Geral de Credores, as decisões por ela emitidas devem respeitar os dispositivos da Lei nº 11.101/2005, uma vez que encerram normas de natureza cogente, não sendo válidas as deliberações contrárias aos dispositivos previstos na Legislação Falimentar.

2. "Conforme o disposto art. 6º da Lei n. 11.101/05, o deferimento de recuperação judicial à empresa co-executada não tem o condão de suspender a execução em relação a seus avalistas, a exceção do sócio com responsabilidade ilimitada e solidária." (EAg 1.179.654/SP, Rel.Min. SIDNEI BENETI, DJe 13.4.2012).

I – RELATÓRIO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra por

FERTIMOURÃO AGRÍCOLA LTDA E CAMPOCERES AGRÍCOLA LTDA em

face da decisão proferida por esta Relatora, às fls. 657-652, que restou assim ementada:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL – IMPOSSIBILIDADE DE ESTENDER OS EFEITOS DA NOVAÇÃO AOS COOBRIGADOS – VEDAÇÃO LEGAL À

CLÁUSULA QUE RESTRINGE OS DIREITOS DE

CREDORES AUSENTES – PRETENSÃO DO AGRAVANTE QUE ENCONTRA ÓBICE NO ARTIGOS 49, § 1º E 56 §3º DA

LEI 11.101 – RECURSO MANIFESTAMENTE

IMPROCEDENTE – NEGADO SEGUIMENTO

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Inconformados, alegam os Agravantes que a decisão exarada por esta relatora se baseou em jurisprudência que não se coaduna com o caso concreto, já que no presente caso houve a aprovação do plano pela Assembléia Geral de Credores.

Argumentam que o próprio Superior Tribunal de Justiça tem interpretado a Lei de Falências e Recuperação de Empresas com vistas a preservar a Empresa, razão pela qual, via de regra, são suspensas as execuções individuais contra o empresário individual ou sociedade empresária que requereu a recuperação judicial.

Asseveram que, de acordo com o artigo 6º da Lei de Falências e Recuperações de Empresas, as ações de execução propostas contra a empresa, bem como dos sócios solidários são suspensas com o deferimento da recuperação judicial.

Requerem o provimento do presente recurso, para que se estendam os efeitos da novação aos credores que se abstiveram de votar, aos ausentes e aos que rejeitaram o plano a fim de impedi-los de executar os co-obrigados.

É o relatório.

II - O VOTO E SEUS FUNDAMENTOS

O presente recurso tem por objeto decisão proferida por esta Relatora que negou seguimento ao Agravo de Instrumento interposto, em

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razão de os Agravantes pleitearem a impossibilidade de execução dos coobrigados em face da aprovação do plano de Recuperação Judicial.

Razão não assiste aos Agravantes.

Primeiramente, vale lembrar que em que pese o plano de Recuperação Judicial tenha sido aprovado e devidamente homologado pela douta Juíza a quo, não se pode perder de vista que a decisão proferida pela Assembléia Geral de Credores, em que pese seja, de fato, soberana, deve respeitar os limites legais, não sendo possível à Assembléia Geral contrariar ou negar vigências aos dispositivos legais da Lei. 11.101/2005. Nesse sentido, recentemente, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

“RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.

APROVAÇÃO DE PLANO PELA ASSEMBLEIA DE

CREDORES. INGERÊNCIA JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTROLE DE LEGALIDADE DAS DISPOSIÇÕES DO PLANO. POSSIBILIDADE.

RECURSO IMPROVIDO.

1. A assembleia de credores é soberana em suas decisões quanto aos planos de recuperação judicial. Contudo, as deliberações desse plano estão sujeitas aos requisitos de validade dos atos jurídicos em geral, requisitos esses que estão sujeitos a controle judicial.

2. Recurso especial conhecido e não provido.”

(REsp 1314209/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/05/2012, DJe 01/06/2012)

Ressalte-se que a Lei de Falências e Recuperação de Empresas, veicula normas de ordem pública, de natureza cogente, devendo a Assembléia Geral de Credores respeitar os dispositivos nela previstos, sendo perfeitamente possível, caso alguma norma da Lei Falimentar seja violada, o

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Não se nega a soberania das decisões proferidas em sede de Assembléia Geral de Credores. Entretanto, tal soberania é limitada aos limites da lei. Assim, verifica-se que esta relatora negou seguimento ao recurso de Agravo de Instrumento amparada, inclusive, no atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, já que a decisão proferida em Assembléia, que visava a impedir os credores ausentes, que se abstiveram de votar ou que haviam votado contra o plano de recuperação judicial, além de caracterizar nítida afronta aos artigos 49, §1º e 56§ 3º da Lei da falências e Recuperação de Empresas, reputa-se arbitrária e totalmente contrária aos ditames da legislação falimentar.

Merecem transcrição as palavras da Ministra Nancy Andrighi, quando do julgamento do REsp 1314209/SP acerca da limitações à soberania da Assembléia Geral de Credores (com destaques):

“A vontade dos credores, ao aprovarem o plano, deve ser respeitada nos limites da Lei. A soberania da assembleia para avaliar as condições em que se dará a recuperação econômica da sociedade em dificuldades não pode se sobrepujar às condições legais da manifestação de vontade representada pelo Plano. Do mesmo modo que é vedado a dois particulares incluírem, em um contrato, uma cláusula que deixe ao arbítrio de uma delas privar de efeitos o negócio jurídico, o mesmo poder não pode ser conferido à devedora em recuperação judicial. A Lei é o limite tanto em uma, como em outra hipótese.”

(REsp 1314209/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/05/2012, DJe 01/06/2012)

Assim não há que se falar em soberania das decisões das Assembléias para negar vigência a dispositivos de lei.

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Além disso, quanto ao argumento dos Agravantes que em face do artigo 6º da Lei de Falências e Recuperações de Empresas, a execução contra os coobrigados deveria ser suspensa não se sustenta.

Não se ignora o fato de o artigo 6º da Lei nº 11.101/2005 impor a suspensão das execuções contra a Recuperanda e seus sócios solidários. Ocorre que avalista não se confunde com sócio solidário, que seriam aqueles sócios cuja responsabilidade se reputa solidária em face da natureza jurídica da sociedade da qual faz parte. Vale lembrar ainda que em razão do princípio da autonomia da obrigação cambiária, a dívida do avalista se reputa autônoma com relação à do avalizado, não se confundindo com ela e sendo exigível desde logo. Fábio Ulhoa Coelho, lecionando acerca da suspensão das execuções, com fulcro no artigo 6º da Legislação Falimentar, assevera (com destaques):

“Ao julgar os Embargos Infringentes 7.166.479-6/02, o TJSP considerou em Acórdão relatado pelo Des. Antonio Marson, que a recuperação judicial da sociedade empresária importa a suspensão da execução movida contra os seus sócios, na condição de avalistas da recuperanda. Considerou-se que, se a lei determinada a suspensão das execuções em andamento contra os sócios solidários, não haveria motivos para não suspenderem também as que executam os sócios na condição de devedores solidários. (...)

O melhor entendimento sobre a matéria, contudo, está com os votos vencidos.

Do voto do Des. Silveira Paulito extrai-se: “Não há que se fazer confusão vênia concessa, entre sócio solidário e devedor solidário ainda que sócio. Sócio solidário é aquele que a natureza jurídica da sociedade o impõe como é o caso da sociedade em nome coletivo. Na hipótese presente, contudo, os coobrigados executados são avalistas das notas promissórias exeqüendas, pouco importante ostentarem a condição de sócios da

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E do voto do Des. Mauri Conti Machado: “A compreensão da suspensão sob a ótica do art. 6º da Lei 11.101, de 2005, tem como se vê inicialmente, o óbice da independência da obrigação do avalizado, que não é e nem pode ser compreendida como semelhante à do avalizado se é pelo contrário exigível independente. É dizer com outras palavras, seria exigível com ou sem a vigência do art. 6º da Lei 11.101, de 2005. O motivo, próximo e objetivo, que determina a suspensão com o deferimento da recuperação judicial tem em mira essa realidade fática, onde está presente a supremacia do interesse coletivo da massa de credores inicialmente com sua projeção a toda coletividade, ao próprio Estado pela continuidade da atividade econômica que ensejará a exigibilidade dos tributos, que são essências à realização de sua missão constitucional na distribuição do bem comum e não outra qualquer, como seria, e é, aí, com a devida vênia a proteção do interesse individual do avalista”1

O próprio Superior Tribunal de Justiça é pacífico no sentido de que a suspensão das execuções em face da recuperanda, com fulcro no artigo 6º da Lei nº 11.101/2005, não suspende as execuções contra os coobrigados:

“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO DE

INSTRUMENTO. DEFERIMENTO DE RECUPERAÇÃO

JUDICIAL À EMPRESA CO-EXECUTADA. EXECUÇÃO INDIVIDUAL.

SUSPENSÃO. NÃO CABIMENTO. AUTONOMIA DAS OBRIGAÇÕES ASSUMIDAS NO TÍTULO DE CRÉDITO EXEQUENDO. ACOLHIMENTO.

1.- Conforme o disposto art. 6º da Lei n. 11.101/05, o deferimento de recuperação judicial à empresa co-executada não tem o condão de suspender a execução em relação a seus avalistas, a exceção do sócio com responsabilidade ilimitada e solidária.

2.- Os credores sujeitos aos efeitos da recuperação judicial conservam intactos seus direitos e, por lógica, podem

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Comentários à Lei de Falências e de recuperação de empresas – 8ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 88-89.

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executar o avalista desse título de crédito (REsp 1.095.352/SP, Rel. Min.

MASSAMI UYEDA, DJe 3.2.11).

3.- O Aval é ato dotado de autonomia substancial em que se garante o pagamento do título de crédito em favor do devedor principal ou de um co-obrigado, isto é, é uma garantia autônoma e solidária. Assim, não sendo possível o credor exercer seu direito contra o avalizado, no caso a empresa em recuperação judicial, tal fato não compromete a obrigação do avalista, que subsiste integralmente.

4.- Embargos de Divergência acolhidos.”

(EAg 1179654/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/03/2012, DJe 13/04/2012)

AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. RECUPERAÇÃO

JUDICIAL DEFERIDA À EMPRESA EXECUTADA.

CONTINUAÇÃO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS

EXECUTADOS. PRECEDENTE DA SEGUNDA SEÇÃO DESTA CORTE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 83/STJ CONFIRMADA.

1.- "Conforme o disposto art. 6º da Lei n. 11.101/05, o deferimento de recuperação judicial à empresa co-executada não tem o condão de suspender a execução em relação a seus avalistas, a exceção do sócio com responsabilidade ilimitada e solidária." (EAg 1.179.654/SP, Rel.Min. SIDNEI BENETI, DJe 13.4.2012).

2.- O recurso não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.

3.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no REsp 1250484/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012)

Assim, verifica-se que o artigo 6º não se prestar para suspender a execução dos coobrigados, como quer fazer crer os Agravantes, até porque as Recuperandas se tratam se Sociedades Limitadas, que como é cediço não impõe a solidariedade dos sócios com relação as dividas societárias.

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III – DISPOSITIVO

ACORDAM os integrantes da Décima oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto e sua fundamentação.

O julgamento foi presidido pelo Excelentíssimo

Desembargador Marcelo Gobbo Dalla Dea (com voto) e dele participou o Excelentíssimo Desembargador Carlos Mansur Arida.

Curitiba, 27 de junho de 2012.

Des. ª Ivanise Maria Tratz Martins Relatora

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