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O Ministerio Profetico Na Biblia - Esequias Soares

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Academic year: 2021

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T o d o s o s d ire itos res erva d os . C op yrigh t © 2010 para a língu a p o rtu gu esa d a Casa Pu b licad ora d a s A s s e m b lé ia s d e Deus. A p r o v a d o p e lo C o n s elh o d e Doutrina. P r o je t o g r á fic o , e d iç ã o d e a r t e e m a p a s : P au lo S é rg io Prim ati

C a p a :

F o t o g ra fia s : T o d o s o s c ré d ito s fo to g rá fic o s d o M u seu d o Lou vre, Paris, s ã o d e Filipe S o a res da Silva (p e m a o @ u o l.c o m .b r) e o s d o s lo c a is d e Israel e E g ito d e D a n iele S o a re s da S ilva (p s a lterio @ g m a iI.co m ), s a lv o ou tras in d ic a ç õ e s

R e v is ã o : D a n iele S o a res d a Silva

CDD: ISBN:

Para m a io re s in fo rm a ç õ e s so b re livros, revistas, p e rió d ic o s e o s ú ltim os la n ç a m e n to s da CPAD, vis ite n o s s o site: h ttp :/ / w w w .c p a d .co m .b r

Casa P u blicad ora das A s s e m b le ia s d e D eu s C aixa P o stal 331

20001-970, R io d e Janeiro, RJ, Brasil I a E dição/2010

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"Torre de Davi" ou "Cidadela de Davi" é a fortaleza construída por Herodes, o Grande, no lado ocidental de Jerusalém. Ela fo i reservada por Tito para servir de quartel da 10a Legião Romana. A Cidadela fo i restaurada pelos cruzados no século XII, mas a maior parte de sua estrutura atual é de 1540, da época do sultão Suleiman II, o Magnífico.

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À minha esposa, Rute, pela singular compreensão e ao meu casal de filhos, Daniele e Filipe, pelo constante incentivo e apoio.

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A N T I G O T E S T A M E N T O N O V O T E S T A M E N T O Gn Gênesis ÊX Êxodo Lv Levítico Nm Números Dt Deuteronômio Js Josué Jz Juizes Rt Rute 1 Sm 1 Samuel 2 Sm 2 Samuel 1 Rs 1 Reis 2 Rs 2 Reis 1 Cr 1 Crônicas 2 Cr 2 Crônicas Ed Esdras Ne Neemias Et Ester Jó Jó SI Salmos Pv Provérbios Ec Eclesiastes Ct Cantares Is Isaías Jr Jeremias Lm Lamentações c Ez Ezequiel Dn Daniel Os Oseias J1 Joel Am Amós Ob Obadias Jn Jonas Mq Miqueias Na Naum Hc Habacuque Sf Sofonias Ag Ageu z c Zacarias MI Malaquias Mt Mateus MC Marcos Lc Lucas Jo João At Atos Rm Romanos 1 Co 1 Coríntios 2 Co 2 Coríntios G1 Gálatas Ef Efésios FP Filipenses Cl Colossenses 1 Ts 1 Tessalonicenses 2 Ts 2 Tessalonicenses 1 Tm 1 Timóteo 2 Tm 2 Timóteo Tt Tito Fm Filemon Hb Hebreus Tg Tiago 1 Pe 1 Pedro 2 Pe 2 Pedro 1 Jo 1 João 2 Jo 2 João 3 Jo 3 João Jd Judas Ap Apocalipse

As referências bíblicas citadas nesta obra são da Versão de João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo outras indicações.

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IN TRO D U ÇÃO ... 11 CAPÍTU LO 1

O Ministério Profético no Antigo T es ta m en to ... 15 CAPÍTU LO 2

A Natureza da Atividade P ro fé tic a ...33 CAPÍTU LO 3

As Funções Sociais e Políticas da P ro fe c ia ...49 CAPÍTU LO 4 Profecia e M isticism o ... 67 CAPÍTU LO 5 A Autenticidade da P ro fe c ia ... 81 CAPÍTU LO 6 Profetas Maiores e M e n o re s ... 105 CAPÍTU LO 7

Os Falsos Profetas no Antigo T esta m en to ... 127 CAPÍTU LO 8

João Batista - O Último Profeta Veterotestamentário ... 1 4 1 CAPÍTU LO 9

Jesus Cristo - O Cumprimento Profético do Antigo Testam ento... 163 CAPÍTU LO 10

O Ministério Profético no Novo T e s ta m e n to ... 201 C O N C L U S Ã O ... 219

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i t t t r ó - d s U . ç ã &

A presente obra O Ministério Profético na Bíblia - A Voz de Deus na Terra é uma coleção de dez estudos bíblicos sobre oráculos divi­ nos: pelos profetas do Antigo Testamento, pelo Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos no N ovo Testamento. O objetivo é mostrar que um Deus sábio e perfeito conduziu a revelação bíblica, que esse mesmo Ser dirige o destino humano, por isso nada acontece de maneira aleatória, pois ele tem o controle do universo. É uma resposta ao sistema pós-moderno, a todos os que procuram excluir Deus de suas vidas e negar a origem divina das Escrituras Sagradas.

O pós-modemismo é um movimento marcado pela decepção com as duas grandes guerras mundiais, campos de extermínios, explosões nucleares e tantas outras mazelas que levaram o homem à increduli­ dade. Segundo Hobsbawm: "todos os pós-modemismos tinham em comum um ceticismo essencial sobre a existência de uma realidade objetiva, e/ou a possibilidade de chegar a uma compreensão aceita dessa realidade por meios racionais. Todos tendiam a um radical rela- tivismo". É a era dos "ismos" com o prefixo "pós": pós-liberalismo, pós-socialismo, pós-capitalismo, e por que não pós-cristianismo? Trata-se da sociedade do bem-estar do mundo ocidental em que pre­ domina o prazer, tudo aquilo que proporciona satisfação, deleite ou diversão, nisso inclui o consumo. Qualquer esforço ou mínimo de sa­ crifício é tratado com profundo desgosto. É esse o mundo pós-moder­ no que estamos enfrentando. O principal aspecto negativo dessa época é a perda da fé na ciência, nos progressos e em Deus; é a morte dos principais ideais com os quais se constrói uma sociedade.

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Don McCurry serviu com o missionário durante vinte anos num país muçulmano do Oriente Médio e em sua obra Esperança para os Muçulmanos afirma que só entre 90 e 150 anos depois da ascenção do islamismo é que seus teólogos descobriram sérios conflitos entre o Alcorão e a Bíblia. Alguns dos vários conceitos errôneos são: a Trindade é composta de três Deuses: Alá, Jesus e Maria; Jesus não é Deus e nem o Filho de Deus, também não foi crucificado e não mor­ reu; Maria, mãe de Jesus, é a mesma Miriã, irmã de Moisés. Consi­ derando que a Bíblia contradiz o Alcorão e vice-versa, não podem ambos se originar da mesma fonte. Em outras palavras, os dois não podem ser simultaneamente a Palavra de Deus. O que fazer diante de tudo isso? Admitir que Maomé errou? Nem pensar! Do contrário o que fazer com as placas do céu (segundo os muçulmanos é a ma­ triz do Alcorão) que Gabriel teria revelado ao fundador da religião? Foi mais fácil dizer que a Bíblia foi modificada e falsificada. Por isso que todo o mundo islâmico acredita hoje nessa falsa ideia.1

Os mórmons afirmam acreditar na Bíblia, mas com certas restri­ ções. O artigo 8 de suas Regras de Fé declara: "Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus, o quanto seja correta sua tradução; cremos tam­ bém ser o Livro de Mórmon a palavra de Deus''. O livro Regras de Fé, de James E. Talmage, proeminente líder mórmon, explica suas confissões de Fé, afirmando: "Não há e não pode haver uma tradução absolutamente fidedigna desta e de outras Escrituras" (página 221). Mais adiante, na mesma página, recomenda-se que os mórmons leiam a Bíblia distinguindo "entre a verdade e os erros dos homens". Essa parece ser a restrição, “quanto seja correta a sua tradução", sendo nada mais que uma maneira sutil de dizer que não crêem na Bíblia. Chama, ainda, de néscios os que procuram a Bíblia: "Tu, tolo, dirás: Uma Bíblia; temos uma Bíblia e não necessitamos mais de

1 Esse assunto é discutido no capitulo 8 de Manual deApologética Cristã e n o capítulo 2 de Heresias e Modismos, ambos da autoria de Esequias Soares.

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In tro d u ç ã o I 1 3

Bíblia! Teríeis obtido uma Bíblia, se não fosse pelas mãos dos ju­ deus?" (Livro de Mórmon - 2 Nefi 29.6).

Os pós-modernistas fariam de tudo para se livrar da ira de Deus sem Jesus. Estão estampados nos outdoors em muitos ônibus circu- lares de Madri e de outras cidades espanholas, com o Barcelona a seguinte mensagem: "Provavelmente Deus não existe, não se pre­ ocupe e aproveite a vida". Essa ideia veio de Londres. Porém, um grupo de cristãos revidou essa afronta nos mesmos termos: "Deus existe, sim; aproveite a vida com Cristo".

Os muçulmanos e os mórmons dariam tudo por uma com prova­ ção científica que viesse desacreditar a Bíblia. Muitos estudos aca­ dêmicos já foram publicados confirmando a autenticidade do texto bíblico. A descoberta de Uiaid Qumran, conhecidos com o os ma­ nuscritos do Mar Morto, é em si mesma uma resposta a esses grupos. O que se apresenta em Profecia - A Voz de Deus na Terra é uma des­ crição de fatos que por si só reduzem a cinzas o pensamento polí­ tico, filosófico e religioso contrário à fé cristã.

Nesta obra, o primeiro capítulo explica a origem e o significado do ministério dos profetas hebreus em Israel, o segundo trata do modus operandi da transmissão dos oráculos divinos a eles e o terceiro é uma

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amostra de como esses mensageiros em sua geração combatiam a injustiça social imbuídos do mesmo ímpeto com que atacavam a idolatria, além de demonstar com o Deus se interessa pelo bem-estar social dos seres humanos. O quarto e o sétimo enfocam temas pare­ cidos, pois os místicos são uma concorrência aos verdadeiros profe­ tas e, também, uma imitação falsificada da obra de Deus, sendo os falsos profetas os opositores aos servos do Deus vivo.

Os capítulos cinco e nove comprovam na Bíblia e na História, principalmente nos dias atuais, que realmente as Escrituras são ins­ piradas por Deus. O Estado de Israel é a principal amostragem nos tempos modernos da veracidade da Bíblia e da autenticidade das profecias bíblicas e do pensamento messiânico incrustado no Antigo Testamento, desde o livro de Gênesis, nas profecias, nos símbolos, tipos e figuras, nas solenidades e instituições de Israel, mostrando ser Jesus Cristo a conclusão das Escrituras veterotestamentárias. O oita­ vo trata da vida e do ministério de João Batista e sobre a sua impor­ tância no cristianismo; o capítulo dez trata do ministério profético no Novo Testamento, a começar pelo Senhor Jesus Cristo, a maior auto­ ridade no céu e na terra, o significado dos apóstolos e sua autoridade profética; inclui-se também um análise sobre o dom de profecia e sobre o dom ministerial de profeta.

Resumindo, esses estudos mostram que ninguém no universo tem mais interesse no bem-estar dos seres humanos do que o pró­ prio Criador, além de comprovar a falácia do pensamento deísta, que afirma estar Deus muito longe do homem e da mulher e que Ele não se envolve com os seus assuntos. Essa filosofia era pregada pelos filósofos epicureus, mas o apóstolo Paulo deu a eles a respos­ ta divina: Deus "não está longe de cada um de nós” (At 17.27), está, sim, interessado no ser humano: ''Ora, sem fé é impossível agradar- lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam" (Hb 11.6).

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o minúécruh

PROFÉTICO NO

ANTIGO TESTAMENTO

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A filosofia, a ciência e a religião estão comprometidas na busca da verdade universal. A filosofia busca a verdade sobre o ser; a ci­ ência, sobre os fenômenos; a religião, sobre Deus e os significados últimos. Cada uma dessas áreas emprega métodos e ferramentas adequados e específicos. A religião foi submetida a estudos criterio­ sos, metódicos e objetivos.

A religiosidade humana é um fenôm eno universal, está presente na política, na imprensa, nos meios de comunicação, na indústria, no comércio, no esporte, na arte, na literatura e até na educação. Aparece em políticos, cientistas, empresários, financistas, artistas, atores, em toda a parte da terra. Agostinho de Hipona, logo na aber­ tura de suas Confissões, declarou: ”Ó Deus! tu nos fizeste para ti mesmo, e a nossa alma não achará repouso, até que volte a ti” (Livro 1.1). Isso pode revelar o anseio e a busca do homem pelo Sagrado. O salmista expressou esse mesmo sentimento: "Como o cervo bra- ma pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando en­ trarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Salmo 42.1,2).

O ser humano é religioso por natureza. O homem tem anseio pelas coisas de Deus e sente o desejo de buscá-lo. Há tribos que nem sequer usam roupas, nem sabem edificar uma casa; há outras,

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O M in is té r io P ro fé tic o n o A n tig o T esta m e n to I 17

Mesquita de Alabastro na Cidade de Saladino - Cairo.

da, que não têm conhecimento suficiente para acender fogo; entre­ tanto, nenhuma há que não tenha suas crenças num Ser Supremo. A religião dos egípcios, dos caldeus, dos assírios e dos demais povos vizinhos de Israel na antiguidade estava bem organizada quando nasceu a nação escolhida. Essas religiões possuíam cada um o seu sistema sacerdotal e profético, porém, nada que possa ser com pa­ rado com justiça ao modelo do Antigo Testamento.

O sistema profético de Israel é singular porque teve a sua origem em Deus e a sua mensagem atravessou os séculos e continua ins­ truindo as nações. Os profetas do Antigo Testamento são reconheci­ dos ainda hoje por judeus e cristãos. Até mesmo os muçulmanos, apesar de procurarem negar a autenticidade do texto bíblico, reco­ nhecem esses profetas. O próprio Senhor Jesus Cristo e seus apósto­ los reconheciam a autoridade deles (Mt 5.17, 18; 2 Tm 3.16).

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HISTÓRICO

O desenvolvimento histórico do profetismo no Antigo Testamento pode ser dividido em dois períodos principais, que Hobart E. Freeman, em sua obra An Introductíon to the Old Testament, chama de Era Pré- canônica e Era Canônica (páginas 26, 27). A classificação usual é de "profetas não-escritores" e "profetas escritores", ou "não-Iiterários" e "literários", mas isso deixa de fora outros profetas, como Moisés, ele é escritor também, não foi ele afinal quem escreveu o Pentateuco? O que dizer dos livros de Josué, Juizes, os dois de Samuel e os dois dos Reis que são considerados proféticos no Canon Judaico?1 O primeiro perí­ odo começa no jardim do Éden (Gn 3.15) até o século 9 a.C., com o livro do profeta Obadias, por volta de 825 a.C., com as seguintes sub­ divisões: pré-mosaico, mosaico, período de Samuel, do reino unido e do reino dividido. O período Canônico será estudado no capítulo 6.

Zacarias, pai de João Batista, no seu pronunciamento profético por ocasião do nascimento de seu filho disse que Deus: "falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo" (Lc 1.70). Jesus afirmou que os profetas existem desde o princípio do mundo: "para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração" (Lc 11.50,51). A Bíblia mostra que nesse período pré-mosaico Enoque profetizou: "e destes

1 A palavra grega ko ívgw (kanõn) "cân on " é de origem semita, originalm ente significava "vara de medir". Na literatura clássica significa “ regra, norma, padrão". A parece n o N o v o Testam ento, co m o "regra", uma ve z: "E, a todos quantos andarem conform e esta regra, p a z e m isericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus" (G16.16) e com o sentido de regra moral, três v e ze s (2 Co 10.13,14,16), traduzido por "medida". Nos três prim eiros séculos do Cristianismo, referia-se ao conteúdo norm ativo doutrinário e ético da fé cristã. A partir do quarto sécu lo da Era Cristã os Pais da Igreja aplicaram os term os "cân on " e "ca n ôn ico" aos livros sagrados, para reconhecer sua autoridade co m o inspirados, e, portanto, separados de outras literaturas. Hoje, "Cânon1' é a co leçã o de escritos reconhecidos co m o os únicos possuídos de autoridade norm ativa para a conduta e a fé cristã. Essas Escrituras são a nossa medida.

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profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão" (Jd 14) e da mesma forma Noé: "pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca" (Hb 11.7). As Escruturas Sagradas consideram os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó com o profetas (Gn 20.7; SI 105.9-15).

O período mosaico inclui também o dos juizes. O ministério dos profetas com eçou no deserto de Sinai quando Deus ordenou a Moisés que constituísse uma congregação de 70 anciãos para que o ajudasse na liderança do povo. Esses homens profetizaram quan­ do receberam o Espírito Santo e o grande legislador dos hebreus explicou que qualquer pessoa poderia profetizar: "tomara que todo o p ovo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!" (Nm 11.29). Moisés disse que a manifestação divina de­ pois dele seria diferente daquela vista no Sinai:

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Cadeia montanhosa do deserto de Sinai - Egito.

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0 M in is té r io P ro fé tic o n o A n tig o T esta m e n to I 2 1

15 O SENHOR, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, com o eu; a ele ouvireis; 16 conforme tudo o que pediste ao SENHOR, teu Deus, em Horebe, no dia da congregação, dizendo: Não ouvirei mais a v o z do SENHOR, meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. 17 Então, o SENHOR me disse: Bem falaram naquilo

que disseram. 18 Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, com o tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. 19 E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. 20 Porém o profeta que presumir soberbamente de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não tenho mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá. 21 E se disseres no teu coração: Como conhecerem os a palavra que o SENHOR não falou? 22 Quando o tal profeta falar em nome do SENHOR, e

tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o SENHOR não falou; com soberba a falou o tal profeta; não tenhas temor dele (Dt 18.15-22).

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É com preensível o estabelecim ento de tal instituição visto que a Palavra de Deus condena as práticas divinatórias dos cananeus, das quais os israelitas deviam se afastar (Dt 18.9-14), assim, Deus prometeu suscitar um canal legítimo e verdadeiro de comunicação com o seu povo, a corporação dos profetas. Israel não precisava das práticas ocultistas enganosas, nem de médiuns e nem de qual­ quer forma de adivinhação. Os profetas seriam os em baixadores e porta-vozes de Deus para revelar a sua vontade. É verdade que as palavras: “Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, com o tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18.18) são uma profecia messiânica que se cumpriu na história dos hebreus e ao m esm o tempo em Jesus (At 3.22, 23).

Deus levantou, preparou e inspirou profetas para ensinar e ad­ moestar os hebreus sobre o perigo da idolatria. Eram instrutores ungidos e divinamente escolhidos para ensinar a nação a viver na presença de Javé (Os 12.10). Eles tinham também a responsabili­ dade de tornar conhecida sua revelação e anunciar as coisas futu­ ras (Dt 18.21,2 2).

Não somente Moisés mas também Arão é chamado de profeta

( ê x 7.1; Dt 18.18). Ainda no período mosaico, Miriã é chamada de

profetisa: "então, Miriã, a profetisa, irmã de Arão" ( ê x 15.20); também

Débora é assim chamada: "e Débora, mulher profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo" (Iz 4.4). Há no livro de Juizes a menção de um profeta anônimo (6.8).

O primeiro grupo de profetas no Antigo Testamento aparece no período de Samuel, mas alguns os consideram mais com o precur­ sores da instituição profética em Israel:

5 Então, virás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um rancho de profetas que descem do alto e trazem diante de

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0 M in is té r io P ro fé tic o n o A n tig o T esta m e n to I 2 3

si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e profetizarão. 6 E o Espírito do SENHOR se apoderará de ti, e profetizarás com eles e te mudarás em outro homem. 7 E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus

é contigo. 8 TU, porém, descerás diante de mim a Gilgal, e eis

que eu descerei a ti, para sacrificar holocaustos e para oferecer ofertas pacíficas; ali, sete dias esperarás, até que eu venha a ti e te declare o que hás de fazer. 9 Sucedeu, pois, que, virando ele as costas para partir de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos aqueles sinais aconteceram aquele mesmo dia. 10 E, chegando eles ao outeiro, eis que um rancho de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no m eio deles. 11 E aconteceu que, com o todos os que dantes o conheciam viram que eis que com os profetas profetizava, então disse o povo, cada qual ao seu companheiro: Que é o que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas? 12 Então, um hom em dali respondeu e disse: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas? 13 E, acabando de profetizar, veio ao alto (1 Sm 10.5-13).

Nos últimos dias da judicatura de Eli, Israel passava por uma crise espiritual, pois "a palavra do SENHOR era de muita valia na­ queles dias; não havia visão manifesta" (1 Sm 3.1). Foi nesse con­ texto que Deus levantou o profeta Samuel que muito cedo obteve o reconhecimento nacional: "E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR" (1 Sm 3.20). Ele iniciou essa tarefa ainda muito jovem e desenvolveu o ministério profético de maneira rudimentar, pelo que se pode constatar no capítulo 9 do primeiro livro que leva o seu nome. Pou­ co se sabe sobre esse "rancho de profetas” , o assunto será retoma­ do no capítulo seguinte. O que aconteceu com Saul foi algo extra­ ordinário e específico, pois Samuel disse de antemão que tudo isso

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ia ocorrer. O Espírito Santo se apoderou de Saul e este profetizou ao se juntar ao grupo, mas isso não significava que aconteceria com qualquer um que se juntasse a eles.

Samuel era um líder nacional que exercia os ofícios de sacerdo­ te e profeta. Ele aparece diversas vezes nos relatos do primeiro livro de Samuel, oferecendo sacrifícios pelo povo na consagração dos reis Saul e Davi e pelo exército de Israel (1 Sm 7.9; 9.12, 13; 10.8; 13.8, 9; 16.3, 13). É reconhecido naquela geração com o homem honrado "e tudo quanto diz sucede assim infalivelmente" (1 Sm 9.6); "e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra'' {1 Sm 3.19). É todo-importante que o homem de Deus tenha tal conceito diante do povo da cidade. É dever de todo cristão se comportar com decência e honestidade, pois o mundo observa a nossa vida, mas quem ocupa cargo de relevância precisa ter uma vida ilibada, deve ser um referencial para o povo, note que a boa fama de Samuel era conhecida por todos.

O pagamento por consulta pessoal era comum no limiar do mi­ nistério profético em Israel. Uma nota do próprio escritor sagrado

(1 Sm 9.9) mostra ser uma prática antiga. Saul achava que não seria atendido sem levar presente ao homem de Deus, mas tudo indica ser uma prática aceitável (1 Sm 9.8). Esse não é um único caso no Antigo Testamento de alguém ofertar algo para o profeta numa consulta pessoal. Naamã levou presente para Eliseu (2 Rs 5.15); Ben-Hadade mandou levar presente ao mesmo profeta (2 Rs 8.8). Nessa época os profetas eram chamados videntes (1 Sm 9.9).

Quando Davi fugiu de Saul e procurou Samuel, em sua residência, Ramá (1 Sm 7.17), ambos: "ficaram em Naiote" (1 Sm 19.18). Esse relato mostra um pouco da vida nessa região com o a existência de uma congregação de profetas: "os quais viram uma congregação de profetas profetizando, onde estava Samuel, que presidia sobre eles" (1 Sm 19.20). Segundo a tradição judaica recente, trata-se de uma

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escola de profetas na qual o seu líder ensinava. Muitos expositores bíblicos afirmam ser o próprio dirigente dela o seu fundador ou o grande incentivador do ensino teológico {1 Sm 10.10).

Quando o profeta Am ós diz ao seu opositor Amazias: "Eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sicô- moros" (Am 7.14), estava simplesmente expressando que não veio de uma escola de profeta, pois o termo "filho" indica escola, proce­ dência, "discípulo, aprendiz" (2 Rs 2.12; Pv 3.1), ele não era "sócio do grêmio dos profetas", com o bem observa o Comentário Bíblico Beacon. Ele afirma que era camponês e não tinha freqüentado a escola que preparava os jovens para instruir a nação, portanto, sua autoridade veio de Deus e não de uma instituição. Esses "filhos" dos profetas são os seus discípulos (1 Rs 20.35; 2 Rs 2.3, 5, 15). Eliseu era o mestre de uma corporação de profetas (2 Rs 6.1-3).

Há uma linha de interpretação que nega a existência do ministé­ rio profético em Israel nos tempos do Antigo Testamento, afirman­ do que cada profeta exercia sua atividade de maneira individual e independente. Segundo esse pensamento, não houve também a escola de profetas, pois uma coisa liga à outra. Os defensores dessa posição procuram desconstruir a tradição, aproveitando-se de bre­ chas exegéticas em algumas versões da Bíblia. Um dos argumentos para fundamentar tal ideia é um problema de ordem exegética, pois algumas versões traduzem o nome "Naiote", do hebraico nV3 (nãyôth) "Naoite", "habitação, moradia", por "casa dos profetas", com o na Versão Almeida Atualizada (1 Sm 19.18-20.1). O mesmo ocorre no relato da consulta a profetisa Hulda, em Jerusalém (2 Rs 22.14; 2 Cr 34.22), em que o termo hebraico rtKtítt (mishneh), que significa "se­ gundo, cópia, exemplar", também nome de um bairro de Jerusalém, traduzido por "segunda parte", na versão Alm eida Corrigida, por "Cidade Baixa", na Almeida Atualizada e por "escola" na King James Version (Versão do Rei Tiago), pela palavra inglesa college, "escola".

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Introduzir uma escola nessa passagem, em Jerusalém, é exagero, mas não há por que rejeitar a sua existência em Ramá, pois a ques­ tão sobre o termo "Naiote" é apenas um detalhe.

Os que acreditam não haver o ministério dos profetas no perí­ odo do Antigo Testamento afirmam que os filhos dos profetas do relato de 2 Reis são homens supersticiosos e sem com preensão ministerial e que Elias não teria dado importância a eles. É sensa­ to admitir que alguns deles sejam supersticiosos, pois nem todos os que se juntam ao grupo têm de fato vocação para o ministério, com o acontece ainda hoje, pois nem todos que ingressam num seminário teológico possuem de fato chamada divina. Saul foi orientado por Samuel a se juntar a uma companhia de profetas, chegou até a profetizar (1 Sm 10.5-10). A falta de experiência não é de surpreender, afinal, não são aprendizes? Moisés também ale­ gou não estar preparado para a missão que Deus lhe designara (Êx 4.10-16); da mesma forma, Jeremias afirmou ser inexperiente para a tarefa que lhe fora confiada (Jr 1.6). O profeta Eliseu parece ter sido um instrutor (2 Rs 6.1 -7). Nada disso oferece dados consisten­ tes para fundamentar a teoria de que não teria havido escola de preparação profética ou m esm o o ministério profético em Israel no período veterotestamentário.

A estrutura profética de Samuel perdurou até o profeta Malaquias no século V a.C. Durante o período do reino unido, Saul, Davi e Salomão, os profetas Natã, Gade, Hemã e Jedutum foram conse­ lheiros do rei Davi (2 Sm 7.2-5; 12.1, 7, 13; 24.11; 1 Cr 25.5; 2 Cr 35.15), sendo que Natã também serviu com o profeta na corte de Salomão (1 Rs 1.45). Antes m esm o da morte de Salomão, o profe­ ta Aías anunciou a Jeroboão I, filho de Nebate, a divisão do reino de Israel em dois, o do norte e o do sul (1 Rs 11.29-32). Depois desse cisma, Deus enviou o profeta Semaías ao rei Roboão para impedir uma guerra fraticida (1 Rs 12.22-24). Outros profetas v ive ­

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ram nesse período, nos duzentos anos que se seguiram após a morte de Salomão, com o Jeú e Hanani (1 Rs 16.1; 2 Cr 16.7), Elias e Eliseu (1 Rs 17.1; 19.19).

O SIGNIFICADO DO TERMO "PROFETA"

Os profetas são identificados na Bíblia como alguém com o ofício de apresentar Deus e a sua vontade ao povo ou a uma pessoa indi­ vidual. Os três termos hebraicos básicos do ofício profético aparece em 1 Crônicas 29.29: "Os atos, pois, do rei Davi, assim os primeiros como os últimos, eis que estão escritos nas crônicas de Samuel, o vidente, e nas crônicas do profeta Natã, e nas crônicas de Gade, o

vidente". Samuel é chamado de (rõ 'eh), "vidente", Natã, de *033

(nãbV), "profeta" e Gade, de ríTÍl (hõzeh), que também significa "vi­ dente". O Antigo Testamento hebraico emprega ainda outros termos

para identificar os profetas como: ETXf' ’ish hã elõhim)-, "ho­

mem de Deus", n iIT (a ^ d e i YHWH), "servo de YAHWEH" e

rn rr (m alach YHWH), "mensageiro de YAHWEH".

O m esm o termo hebraico maVãch "m ensageiro, embaixador, enviado, representante, anjo" é usado para os humanos e para os anjos, com o seres espirituais (Hb 1.14). Os profetas, com o mensa­ geiros, são também identificados com essa palavra: "E o SENHOR, Deus de seus pais, lhes enviou a sua palavra pelos seus mensageiros, madrugando e enviando-//ios, porque se compadeceu do seu povo e da sua habitação. Porém zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as suas palavras, e escarneceram dos seus profetas" (2 Cr 36.15, 16). Isaías identifica também dessa maneira os profetas (Is 44.26). Ageu e João Batista são chamados de mensageiros de Deus (Ag 1.13; MI 3.1 c f Mt 11.10; Mc 1.2). A versão Almeida Corri­ gida traduz esse vocábulo, em Malaquias 3.1, por "anjo", mas a Atualizada, por "mensageiro".

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Os profetas são chamados de servos do SENHOR: “a qual dissera pelo ministério de seu servo Aías, o profeta" (1 Rs 14.18). Deus fala deles no Antigo Testamento usando a expressão "meus servos, os profetas" (2 Rs 9.7; 17.13; Jr 7.25). Moisés, Samuel, Elias e Eliseu são chamados nas Escrituras de "homem de Deus" (Dt 33.1; 1 Sm 9.6; 2 Rs 4.9). O termo é aplicado a Eliseu 29 vezes, sete vezes a Moisés e seis a Samuel, sem contar o seu emprego aos profetas anônimos (1 Sm 2.27; 1 Rs 20.28; 2 Cr 25.7, 9).

O termo roeh, "vidente", aparece 11 vezes no Antigo Testam en­ to, sendo que sete se aplicam ao profeta Samuel (1 Sm 9.9, 11, 18,

19; 1 Cr 9.22; 26.28; 29.29), duas, a Hanani (2 Cr 16.7, 10) e uma, a Zadoque (2 Sm 15.27). Essa palavra vem do verbo T l ^ f r a a h ) "ver", o vidente é aquele que vê, era assim que o profeta era cha­ mado na época da coroação de Saul (1 Sm 9.9). Mas seu ofício não era para solução de pequenos problemas pessoais, com o as jumen­ tas perdidas de Quis, pois o profeta Isaías apresenta essa função no m esm o nível do hozeh, mensageiros autorizados para comuni­ car a verdade divina (Is 30.10).

O hozer é também um vidente, porém, sabe-se que não existem sinônimos perfeitos, sempre há alguma nuança, pois roeh vem do verbo "ver", isto é, com os olhos físicos, a capacidade de compreen­ der aquilo que vê, ao passo que hozeh significa ver introspectivamen- te, ver com o espírito (Os 9.7). Robert R. Wilson, em sua obra Profe­ cia e Sociedade no Antigo Testamento, prefere usar o termo "visioná­ rio", ou seja, aquele que tem visão (p. 298). Esses dois vocábulos indicam os meios pelos quais Deus se comunicava com seus men­ sageiros. Note que Samuel é chamado de navi e de roeh (1 Sm 3.20; 9.19) e Gade e Am ós de hozeh enavi (2 Sm 24.11; Am 7.12-16). Com isso, segundo Freeman, esses termos são aplicados indistintamente aos profetas, sendo que navi diz respeito ao elemento objetivo da profecia e as outras duas palavras, ao subjetivo (p. 40).

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0 M in is té r io P ro fé tic o n o A n tig o T esta m e n to I 2 9 A p a la v r a h e b r a ic a u s a d a p a ra " p r o fe t a ” é n a v i e a p a r e c e m a is d e 300 v e z e s n o A n t ig o T e s ta m e n t o , m a s s e u s ig n ific a d o é in c e r ­ to. É u m a d e r iv a ç ã o d o v e r b o K 2 J (n ã b ã ’), " b o r b u lh a r , fe r v e r , d e r r a m a r ” , s e g u n d o o lé x ic o h e b r a ic o d e G e s e n iu s . A id e ia s e r ia d e e x t r a v a s a r p a la v r a s , fa la r s o b in s p ir a ç ã o d iv in a c o m a m e n te fe r v o r o s a . U n s a c r e d ita m q u e a e t im o lo g ia d o r e fe r id o v e r b o é á r a b e n a b a 'a , q u e s ig n ific a " p r o c la m a r , a n u n c ia r"; o u tr o s , q u e s e ja d e o r ig e m a c á d ic a , p o is n a b u s ig n ific a "c h a m a r ". O c e r t o é q u e to d a s e s s a s e x p lic a ç õ e s e t im o ló g ic a s s ã o a c e it á v e is , p o is o p r o fe ta é tu d o is s o : e x t r a v a s a p a la v r a , p r o c la m a a r e v e la ç ã o d i­ v in a e é c h a m a d o p o r D eu s. O s lé x ic o s tr a d u z e m g e r a lm e n t e o te r m o p o r " p o r t a - v o z , o r a d o r , p r o fe ta ", m a s s e u s ig n ific a d o e ti- m o ló g ic o s e p e r d e u c o m o p a s s a r d o te m p o e d e v e s e r e n t e n d id o à lu z d o c o n t e x t o b íb lic o . A p a s s a g e m d e Ê x o d o 4.10-16 a p re s e n ta a p rim eira e a m e lh o r e x p lic a ç ã o d o s e n tid o d o te r m o navi.

10 Então, disse Moisés ao SENHOR: Ah! Senhor! Eu não sou hom em eloqüente, nem de ontem, nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua. 11 E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? 12 Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar. 13 Ele, porém, disse: Ah! Senhorí Envia por mão daquele a quem tu hás de enviar. 14 Então, se acendeu a ira do SENHOR contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele falará muito bem; e eis que ele também sai ao teu encontro; e, vendo-te, se alegrará em seu coração. 15 E tu lhe falarás e porás as palavras na sua boca; e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. 16 E ele falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus (Êx 4.10-16).

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Moisés se considera um homem sem eloqüência e declara ser "pesado de boca e pesado de língua" (v. 10). Isso pode nos parecer estranho, pois quando estava no Egito "era poderoso em suas pala­ vras e obras" (At 7.22). Deve-se considerar que ele estava fora do convívio palaciano há 40 anos. Sem dúvida, teria perdido a habili­ dade retórica, pois o deserto não é local apropriado para oradores. Outro fator a ser considerado diz respeito a questões de protocolo e etiqueta, visto que se tratava de outro Faraó (2.23; 4.19). Cabe ressaltar que a mensagem dos profetas tem sua origem em Deus (Os 12.10) e não de si mesmo e com Moisés não foi diferente. Quanto ao conteúdo do discurso Moisés não devia se preocupar, ele recebeu a garantia divina: "eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (v. 12).

A sua recusa: "A h! Senhor! Envia por mão daquele a quem tu hás de enviar" (v. 13) não deve ser interpretada com o desobedi­ ência, mas com o tem or pelo peso da responsabilidade. Moisés não foi o único a proceder dessa form a (Jr 1.6; Jn 1.3, 10). Nem sempre os que se oferecem têm vocação ou qualificação espiritu­ al ou teológica para o cargo, quem não se lembra de Aimaás, o mensageiro sem mensagem? Ele se ofereceu para anunciar a Davi a morte de Absalão, mas quando chegou diante do rei faltou-lhe coragem (2 Sm 18.19,20,27-29). Isso nos ensina muita coisa, pois o irmão que hesita aceitar um cargo da Igreja ou pede um tempo para pensar, porque se sente incapaz para a tarefa. A explicação disso, muitas vezes, é o peso da responsabilidade.

Quanto ao conteúdo da mensagem, era assunto resolvido, o problema agora era quanto à sua apresentação ao Faraó. Deus na sua onisciência sabia que Arão ia se encontrar com Moisés, seu ir­ mão, homem de boa retórica: "ele falará muito bem" (v. 14). Assim, Arão seria o porta-voz de Moisés na seguinte ordem: Deus fala a Moisés, que transmite a Arão e este a Faraó (w . 15, 16). É claro que

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O M in is té r io P ro fé tic o n o A n tig o T esta m e n to I 3 1

Deus na sua soberania e no seu eterno poder teria inúmeras alter­ nativas para a solução dos problemas apresentados por Moisés, mas ele escolheu o sistema de porta-voz para ensino nosso. Nisso as Escrituras Sagradas revelam o significado da palavra navi, "profeta", e a sua função o próprio Deus revelou a Moisés; ser profeta aquele que transmite a mensagem de um deus ou de Deus para ser mais

específico ( ê x 7.1, 2), é alguém que fala em nom e de Deus, "serás

com o a minha boca" (Jr 15.19).

Apesar de o sentido básico de "profeta" ser embaixador, e n ­ viado, porta-voz, representante, o conceito que mais se popula­ rizou com o passar do tem po foi o de "prever o futuro", de revelar algo im possível de se saber por m eio de recursos naturais (1 Sm 9.6). A referência aos profetas hebreus do An tigo Testam ento também diz respeito à autoridade canônica com o legítim o porta- v o z de Deus. É o que indica a expressão "assim diz o Senhor" e fraseologia similar.

Curiosamente o termo "profeta" e seus correlatos são usados para os adivinhos e falsos profetas, para os profetas das divindades pagãs das nações vizinhas de Israel, sendo identificados com o tais pelo contexto (Dt 13.1; Js 13.22; 1 Rs 22.12; Jr 23.13). Jeremias chama o seu opositor Hananias de profeta (Jr 28.17). A palavra falso profeta não aparece no Antigo Testamento hebraico, mas na Septuaginta, portanto, o contexto bíblico mostra se realmente se trata de um profeta de Deus ou de algum embusteiro. Da mesma forma aconte­ ce com verbo hebraico navá, "profetizar". Assim com o nem todos os que são chamados "profetas" são autênticos, do m esm o modo a sua ação de profetizar é também diferente, com o aconteceu com Saul quando estava possesso (1 Sm 18.10) e com o ritual dos profe­ tas de Baal (1 Rs 18.29). O livro de Jeremias está repleto desses exemplos (2.8; 5.1; 14.14-16; 23.16,21,25, 26, 32; 27.10, 14-16; 29.9, 21; 37.19).

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A versão grega do Antigo Testamento, Septuaginta, identificada também pela sigla LXX, traduziu navi, roeh e hozeh por TTpo4>r|TT|ç (prophêtês), do grego pro, "antes", e da raiz phe do verbo phêmi, "falar" e, algumas vezes, por ó pAiiríov (ho blepõn), "aquele que vê, o que vê, o vidente" (1 Cr 9.22; 26.28; 29.29; 2 Cr 16.7, 10; Is 30.10), por ó óptôv (ho horõn), de m esm o significado (1 Cr 21.9; 2 Cr 9.29; 12.15; 29.25; 33.18, 19). A Vulgata Latina usa a palavra propheta para traduzir essas três palavras hebraicas. Porém, o uso do vocá­ bulo pelos gregos antecede a data em que foi produzida a Versão dos Setenta.

O termo grego profetes estava ligado aos oráculos da antiga Gré­ cia, entre eles os mais famosos eram o de Zeus, em Dodona e o de Apoio, em Delfos. Eram santuários onde se proferiam as respostas às pessoas que consultavam essas divindades mitológicas da anti­ guidade. Esses templos aparecem nos poemas homéricos Ilíada e Odisséia. O oráculo era também a resposta em si, muitas vezes era enigmática e confusa. No caso de Delfos, a profetisa de Apoio, a Pítia, dava a resposta em forma de sons inarticulados e enigmáticos de maneira que o consulente ficava confuso. Diante de uma men­ sagem incompreensível, entrava em cena oficiais do santuário como intérprete ou tradutor, eram chamados profetes, sem a ideia de ins­ piração e nem de vaticinador das coisas futuras. Platão declara o seguinte a respeito deles: "intérpretes de palavras e de visões mis­ teriosas; o nome mais certo, portanto, não será o de adivinho, mas o de profeta das coisas reveladas pela adivinhação" (Timeu 72b). Em Píndaro e em Homero eles são chamados de poetas.

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/ \ / u c é ttr & z tíy

DA ATIVIDADE

PROFÉTICA

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A comunicação divina é necessária e muito importante para manter o p ovo na direção e na vontade de Deus. A situação espiri­ tual de Israel nos dias da judicatura de Eli era decadente, a Bíblia afirma: "E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta" (1 Sm 3.1), e: "não havendo profecia, o povo se corrompe" (Pv 29.18). O apóstolo Pedro ensina que todos devem atentar para esses oráculos: "E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, com o a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração" (2 Pe 1.19).

O Antigo Testamento mostra que a comunicação divina aos pro­ fetas acontece pela visão e pela audição, são esses os dois meios principais de Deus se revelar a eles: "Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele" (Nm 12.6). Trata-se de imagem e som, é dessa forma que Deus mostra e fala a sua vontade aos seus mensageiros. Isso é confirmado nas páginas das Escrituras Sagradas ao longo da história do povo hebreu. O modus operandi é diversificado, mas os elementos são os mesmos nos profetas pré- canônicos e canônicos, sem distinção alguma: "Conforme todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi” (2 Sm 7.17; 1 Cr 17.15). A palavra e a visão são elementos da comu­ nicação de Deus a Jeremias sobre a vara de amendoeira e da pane­ la fervendo (Jr 1.11 -13) e, também, a Amós: "palavras que, em visão, vieram a Am ós" (Am 1.1 - Almeida Atualizada). De todos os livros proféticos, o de Jeremias é o que apresenta mais detalhes da vida pessoal do seu autor e essa riqueza de detalhes nos permite conhe­ cer as várias formas de comunicação de Deus com o profeta.

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A N a tu re z a d a A tiv id a d e P ro fé tic a I 3 5

VISÃO

Os dicionários consideram visão com o experiências extáticas, isso falando de maneira geral, na verdade, trata-se de algo visto fora da contemplação ou percepção comum e natural, geralmente ima­ gens mentais e incorpóreas. Deve-se levar em conta, porém, que os profetas hebreus falavam em um estado ativo e consciente. Incluem- se, nessa forma de comunicação divina, os sonhos e as manifesta­ ções teofânicas.

Os sonhos eram os meios mais apropriados para aqueles com pouco discernimento espiritual, note que pessoas com o Abimeleque, rei de Gerar, Faraó, do Egito e Nabucodonosor, na Babilônia, dentre outros de origem pagã, nunca receberam visão, Deus se comunica­ va com eles por meio de sonhos (Gn 20.3; 41.1 -7; Dn 2.1) e, até hoje, é dessa forma que ele se comunica com os seres humanos, inde­ pendentemente de sua condição espiritual, o problema é que nem sempre eles se dão conta do aviso ou da advertência vinda do Cria­ dor, sequer prestam atenção a tudo aquilo que acontece a sua volta. Isso é o que Eliú diz a Jó (Jó 33.14-18). Isso também não significa que os grandes homens de Deus, nos tempos bíblicos, não tivessem recebido mensagens divinas por esse meio, a exemplo de Jacó, José do Egito, Daniel, José, marido de Maria, mãe de Jesus (Gn 28.12-15; 37.5; Dn 7.1; Mt 1.20; 2.13, 19).

Teofania é a manifestação de Deus de forma visível ou audível, ou ambas juntas. Há inúmeros relatos teofânicos no Antigo Testa­ mento. Ele apareceu a Abraão na forma de três varões (Gn 18.2, 3, 13, 14) e a Jacó, na forma de um anjo no vau do Jaboque (Gn 32.22- 32). O mesmo aconteceu com Gideão e com os pais de Sansão (Jz 6.11, 12; 13.3, 9-11). A Bíblia afirma que Moisés falava com Deus "face a face, com o qualquer fala com o seu am igo" (Êx 33.11). Foi numa visão teofânica que aconteceu a revelação na sarça ardente

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no Sinai: "E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta gran­

de visão, porque a sarça se não queima" (êx 3.3) e da mesma forma

aconteceu com Samuel: "porém Samuel temia relatar esta visão a Eli" (1 Sm 3.15).

Visão é a forma de comunicação divina mais comum de Deus com os profetas canônicos. Note que seis dos 17 livros dos profetas canônicos começam dizendo que o seu conteúdo é resultado de visão ou visões: "Visão de Isaías, filhos de A m oz (Is 1.1);"... estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu vi visões de Deus" (Ez 1.1); "Visão de Obadias" (Ob 1); "Palavra do SENHOR que em visão veio a Miquéias" (Mq 1.1- Almeida Atu­ alizada); "Livro da visão de Naum" (Na 1.1); "Peso que viu o profeta Habacuque (Hc 1.1). Isso sem contar os livros repletos de visões, com o o de Zacarias, sem contudo, anunciar isso na introdução.

Não há um padrão fixo dessas visões proféticas, sendo elas mui­ to diversificadas, Deus se revelou de várias maneira: "Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho" (Hb

1.1). Essas visões são diversificadas quanto ao tempo de seu cum­ primento e ao seu conteúdo. O cumprimento delas pode ser logo nos dias do profeta que recebeu a mensagem, com o a visão de Mi- caías sobre o destino de Acabe na guerra contra Ramote-Gileade, registrada em 1 Reis 22 e em 2 Crônicas 18. Outras ocasiões são messiânicas, com o a visão que teve Isaías do trono de Deus (Is 6.1- 10) que se cumpriu em Jesus (Mt 13.14,15; Jo 12.38-41) e no minis­ tério do apóstolo Paulo (At 28.25-27). Há ainda as visões escatoló- gicas, com o as do templo, registradas a partir de Ezequiel 40.2.

Quanto ao seu conteúdo, essas visões podem representar seres celestiais, com o os anjos; ou seres terrenos, com o homens e mu­ lheres, animais e plantas ou frutas. As visões de Micaías mostram os filhos de Israel dispersos pelas montanhas com o ovelhas que não

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A N a tu re z a d a A tiv id a d e P ro fé tic a I 3 7

têm pastor (1 Rs 22.17), mas em seguida tem outra visão em que o próprio Deus está conduzindo uma assembleia, que deve ser de anjos, no céu (1 Rs 22.19-24). A primeira parte do livro de Zacarias apresenta oito visões envolvendo cavalos, chifres, a cidade de Jeru­ salém, Satanás acusando o sumo sacerdote, o castiçal de ouro e as sete lâmpadas, o rolo voante, as mulheres com asa de cegonha, os carros (capítulo 1 a 6). O profeta pode relatar a sua revelação à m e­ dida que os acontecimentos vão se desenvolvendo, com o aconteceu na visão da corte celeste dada a Micaías, às vezes, o profeta parti­ cipa do diálogo com os seres espirituais, com o aconteceu com Isa­ ías (Is 6.1-8). O cenário da visão pode ser o céu ou a terra, a expe­ riência de Micaías é um bom exemplo.

Todas essas visões vêm de Deus por meio do Espírito Santo, o que acontece é que a terceira Pessoa da Trindade que está implícita no Antigo Testamento, se torna explícita no N ovo Testamento e de maneira notória no livro de Atos. Essas experiências dos profetas hebreus não são restritas ao período veterotestamentário, pois os apóstolos experimentaram a mesma forma de comunicação divina. Isso aconteceu com Ananias, em Damasco, a respeito da conversão de Saulo de Tarso (At 9.10), com Pedro em Jope, o qual teve a visão de um lençol branco com diversos animais impuros (At 10.17, 19) e Paulo em Trôade (At 16.9).

PALAVRA

A maior parte dos livros proféticos começam com o elemento auditivo, a palavra: "Palavras de Jeremias" Gr 1.1); "Palavra do SENHOR que foi dita a Oséias” (Os 1.1); "Palavra do SENHOR que foi dirigida a Joel (J1 1.1); "As palavras de Amós, que estava entre os pastores de Tecoa, o que ele viu a respeito de Israel" (Am 1.1), aqui inclui-se tam­ bém o elemento visão; "E veio a palavra do SENHOR a Jonas" (Jn 1.1);

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"Palavra do SENHOR que veio a Miquéias”, morastita [...] o qual viu sobre Samaria e Jerusalém" (Mq 1.1), como acontece no livro de Amós, aqui se acrescenta o elemento visão; "Palavra do SENHOR vinda a Sofonias (Sf 1.1);"[...] veio a palavra do SENHOR, pelo ministério do profeta Ageu" (Ag 1.1); "[...] veio a palavra do SENHOR ao profeta Zacarias" (Zc 1.1); "Peso da palavra do SENHOR contra Israel, pelo ministério de Malaquias" (Ml 1.1). A expressão hebraica r n r m n i / □ ,,n iPKn “D*7! (^varYHW H/ctvarhã^lõhím), "palavra áo SENHOR / palavra de Deus", aparece 2 4 1 vezes no Antigo Testamento sendo que 225 vezes diz respeito ao oráculo recebido pelo profeta ou pre­ gado por ele, e mostra a origem divina da mensagem.

A chancela de autoridade aparece nas fórmulas: "veio a palavra do SENHOR a [...]", ou "veio a mim a palavra do SENHOR"; "assim diz SENHOR”, "fala o SENHOR". Não se trata, pois de ideias humanas, nem de um pensamento de um profeta, com o porta-vozes de Deus recebem dele os oráculos e transmitem ao povo tal com o lhes foram confiados. Essas expressões aparecem muitas centenas de vezes no Antigo Testamento. A autoridade deles não está restrita apenas aos seus escritos que hoje compõem as Escrituras Sagradas, mas em vida, eram homens cheios do poder do Espírito Santo. No período pré-canônico os 70 anciãos: "Então, o SENHOR desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o Espírito repou­ sou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais" (Nm 11.25). Depois deles encontramos apenas Azarias: "Então, veio o Espírito de Deus sobre Azarias, filho de Obede. E saiu ao encontro de Asa e disse [...]" e Jaaziel: "Então, veio o Espírito do SENHOR, no meio da congregação, sobre Jaaziel [...] e Jaaziel disse: Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém [...]" (2 Cr 15.1; 20.14, 15).

No período canônico, apenas em dois profetas aparecem a mani­ festação do Espírito, 14 vezes em Ezequiel: "Então, entrou em mim o

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Espírito" (Ez 2.2); "E levantou-me o Espírito, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo [...] o Espírito me levantou e me levou" (3.12, 14) e uma vez em Miqueias: "eu sou cheio da força do Espírito do SENHOR" (Mq 3.8). Isso não significa que apenas eles profetizaram nos domínios do Espírito. Neemias e Zacarias lembram que Deus re­ preendeu o seu povo diversas vezes por causa de sua desobediência, sendo os profetas tomados pelo Espírito Santo que Deus usou:

Porém estendeste a tua benigrtidade sobre eles por muitos anos e protestaste contra eles pelo teu Espírito, pelo ministério dos teus profetas; porém eles não deram ouvidos; pelo que os entregaste na m ão dos povos das terras (Ne 9.30).

Sim, fizeram o seu coração duro com o diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o SENHOR dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas precedentes; donde veio a grande ira do SENHOR dos Exér­ citos (Zc 7.12).

Isso inclui os profetas pré-canônicos e canônicos. Quatro juizes foram movidos pelo poder do Espírito Santo: Otniel, Gideão, Jefté e Sansão (Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 14.6, 19; 15.14).

A QUESTÃO DAS EXPERIÊNCIAS EXTÁTICAS

Os intérpretes naturalistas dizem que as profecias dos profetas bíblicos são mero resultado de um estado emocional e que a carac­ terística básica de sua atividade era um estado de êxtase. Não po­ demos aceitar essa interpretação, pois a experiência extática era comum entre os místicos e profetas pagãos, veja o frenesi dos pro­ fetas de Baal "e saltavam sobre o altar [...] clamavam a grandes vozes e se retalhavam com facas e com lancetas" (1 Rs 18.26, 28) compare com a serenidade de Elias ( w 30-38).

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SURREXIT T U A S PROPHETa QUaSI ICNIS ET VERBUH IPSIUS QUASIFACUU A R D FBaT lBll, ... -eOÚjSyJ) J Ül5^Lf**í' uv.r—u-, JsuLJlf

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x'un in*pyop’i

I I Q T 3 3 3 11311

Representação do Profeta Elias exterminando os profetas de Baal. Monte Carmelo - Israel: "Então, enviou Acabe os mensageiros a todos os filhos de Israel e a juntou os profetas no monte Carmelo. Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o. Porém o povo lhe não respondeu nada' (1 Rs 18.20, 21).

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A N a tu re z a d a A tiv id a d e P ro fé tic a I 4 1

O estudo das religiões comparadas levou certos pesquisadores a conclusões equivocadas no que diz respeito à natureza da ativi­ dade profética. Esses estudiosos pretendem colocar os adivinhos, os xamãs e os místicos das diversas crenças antigas dos povos vizinhos de Israel no m esm o nível dos profetas bíblicos, afirmando que os profetas hebreus profetizaram em estado de êxtase ou tran­ se. As manifestações frenéticas dos falsos profetas em Israel, dos profetas das divindades pagãs, dos sonhadores de sonhos, dos médiuns, dos adivinhos, dos magos, dos bruxos etc são de fontes estranhas. Porém, a com unicação divina aos profetas é suigeneris e tratá-la com o os demais parece ser uma grosseria.

Um biblista protestante alemão de nome Johann Friedrich Herman Gunkel ( 1862 - 1932) segue a opinião sobre o êxtase profético:

O êxtase é um estado peculiar do espírito e do corpo que se apodera do hom em quando este experimenta uma sensa­ ção particularmente intensa. Esta toma conta dele a ponto de ter a impressão de ter arrastado por uma corrente d'água o que seu coração arde com um fo go interior. Perde o domínio de seus membros, tropeça e balbucia com o um bêbado, sua sensibilidade à dor física diminui ou até desaparece, a ponto de não perceber a dor das feridas. A nim a-o uma sensação inesgotável de força, pode correr, pular ou realizar ações impossíveis a uma pessoa em condições normais. Desapa­ rece nele tudo o que é particular e pessoal; o pensamento concreto, a sensação concreta, adquirem um caráter absoluto (SICRE, p. 107).

Segundo Gunkel, tal experiência profética vem de Deus, mas ele nunca pode mostrar evidências do conceito acima nas Escrituras Sagradas. Outro crítico, Theodore H. Robinson alegou o seguinte sobre a natureza da atividade profética:

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Podem os im aginar uma cena da atividade pública do profeta. Está misturado entre a multidão, às vezes em dias ordinários, às vezes em ocasiões especiais. De repente acon- tece-se alguma coisa. Seus olhos ficam fixos, é assaltado por estranhas convulsões, muda sua forma de falar. As pessoas reconhecem que o espírito caiu sobre ele. Quando passar a síncope, dirá aos circunstantes as coisas que viu e ouviu" (SICRE, pp. 107, 108).

J. Lindblon afirma em sua obra prophecy in Ancient Israel (Profecia no Antigo Israel) que Israel obteve o fenôm eno profético em Canaã. Na sua opinião, o êxtase consiste no que se segue.

O estado anormal de consciência em que a pessoa está tão intensamente absorvida por uma única ideia ou um único sentimento, ou por um grupo de ideias ou sentimentos, que mais ou menos fica sustado o curso normal da vida psíquica. Os sentidos corporais deixam de funcionar; a pessoa torna-se insensível às impressões externas; a consciência exalta-se acima do nível ordinário da experiência diária; impressões e ideias inconscientes brotam à superfície em forma de visões e audições (SICRE, p. 108).

Há até quem afirme que o oráculo de Delfos foi o mais famoso centro extático e se espalhou pelo mundo mediterrâneo onde os profetas hebreus teriam compartilhado tais experiências. O modelo de Delfos era o seguinte: a Pítia, sacerdotisa de Apoio, entrava em seu santuário, sentava-se numa banqueta de três pés, bebia água de uma fonte considerada sagrada, mascava folha de louro, planta de Apoio, e inalando o vapor vindo de um abismo vulcânico caía em estado de transe, provavelmente sob os efeitos do vapor. Assim, ela se contorcia e se despenteava e em frenesi respondia às perguntas com o fazem os médiuns espíritas.

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Outra forma extática na antiguidade grega aparece nas soleni- dades religiosas em homenagem a Deméter e a Dionísio, danças rituais desenfreadas e frenéticas produziam o êxtase, a comunhão com a divindade. Com o passar do tempo essas danças provocavam uma espécie de embriagues mística.

Práticas similares existem ainda hoje. O movimento conhecido como Santo Daime se aproxima do ritual acima. O movimento com e­ çou com um maranhense Raimundo Irineu Serra (1892-1971), que se transferiu, em 1912, para o Acre, a fim de trabalhar com o seringueiro, tendo contato com a cultura indígena. Ele aprendeu a preparar uma bebida do cipó alucinógeno ayahuasca, palavra quéchua que significa "cipó das almas", e da folha chacrona, mistura que os índios usavam para rituais religiosos e, também, para fins terapêuticos. Sob o efeito dessa bebida, ele afirma ter recebido uma visão em 1930, na frontei­ ra com o Peru, de uma senhora muito formosa sentada num trono sobre a lua cheia e interpretou com o uma deusa universal, chaman- do-a de "Rainha da Floresta". Identificou-a com a Senhora da Concei­ ção, cultuada pelos católicos, que teria comissionado para fundar uma nova religião em torno da bebida que deveria ser chamada Santo Daime, do verbo "dar", os adeptos do movimento invocam ao tomar a bebida durante o ritual "Daime amorl Daime luzl Daime força!". Essa senhora deu a ele algumas normas, com o durante oito dias abster-se de sexo, comer apenas macaxeira (mandioca ou aipim) sem sal e beber apenas água no meio da floresta.

O fundador do movimento estabeleceu, em 1945, o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal para ministrar a bebida. Depois de sua morte, o seu discípulo Sebastião Mota M elo assumiu a lideran­ ça do grupo até 1990, quando faleceu. Alex Polari de Alverga, nove anos preso durante a ditadura, autor das obras O Livro das Mirações, publicado em 1984 e O Guia da Floresta, lançado posteriormente, é o atual líder do Santo Daime.

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O preparo da bebida é realizado num ritual em que os homens m aceram durante muito tem po, com golp es ritmados, o cipó ayahuasca até se transformar numa massa e as mulheres lavam e preparam as folhas chacronas. Depois tudo é cozido durante mui­ tas horas. As reuniões duram a noite inteira e a cada quatro horas os adeptos tomam a bebida que com eça a fazer efeito cerca de meia hora depois. Os cultos são realizados com cânticos, hinos do Santo Daime, os homens se vestem de branco e da mesma forma as mulheres, sendo que elas usam faixas verdes cruzadas no peito e dançam e bailam de um lado e os homens do outro.

Segundo Alex Polari, essas viagens não são alucinógenas, mas enteógenas, ideia de experiência interna com Deus, os adeptos chamam essa experiência de miração ou estado de desprendimen­ to. Trata-se de um estado alterado da consciência provocado por uma substância presente nas folhas de chacronas a Dimetiltrip- tamina (DMT), que segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria é um agente alucinógeno potente e apesar do uso religioso, pelo Santo Daime, ter sido autorizado pelo govern o em 1987, a utili­ zação não deve ser encorajada por pessoas com problem as psi­ cóticos ou esquizofrenia.

Práticas sim ilares já eram conhecidas nos tem pos bíblicos entre os povos vizinhos de Israel, que a Bíblia chama de feitiçaria, 4)ap|iaKeLa {pharmakeia), <j)ap|iaicóç ou $ap\xaKeúç (pharmakós ou pharm akeus) em grego, que significa "m agia" além de "feitiçaria". O pharmakós ou pharmakeus era o manipulador de drogas, daí vem a palavra "farmácia". Essas drogas eram usadas na medicina, mas os m ágicos ou bruxos manipulavam os efeitos alucinógenos delas para rituais de magia. Essa palavra é também aplicada aos m agos e encantadores do Egito, na LXX. Hoje en vo lve toda a forma de ocultismo.

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aqui e ali, com interpretações forçadas, buscam elem entos para fundamentar sua tese. Está escrito que o profeta Elias "se inclinou por terra, e meteu o seu rosto entre os seus joelhos" (1 Rs 18.42); que Eliseu solicitou um "tangedor" e "sucedeu que, tangendo o tangedor, veio sobre ele a mão do SENHOR" (2 Rs 3.15) e que o m esm o profeta Eliseu, no seu encontro com Hazael, enviado do rei da Síria: "afirmou sua vista e fitou os olhos nele, até se envergonhar; e chorou o homem de Deus" (2 Rs 8.11). Colocar tais experiências no m esm o nível das manifestações frenéticas dos místicos ou dos profetas pagãos, com o no confronto deles com Elias, que "se reta­ lhavam com facas e com lancetas, conform e o seu costume, até derramarem sangue sobre si" (1 Rs 18.28) é ir longe demais. O texto sagrado afirma que tais práticas eram costume deles e não dos profetas hebreus.

O relato sobre o "rancho de profetas" (1 Sm 10.5-13) conta que eles "descem do alto e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e profetizarão" (v. 5) e assim interpretam que profetizam em estado de transe. Tal ideia parece precipitada porque o texto nada fala das atividades deles e nem o que foram fazer no monte e o papel da música na vida religiosa de Israel é muito am ­ plo. É forçar demais o texto para transformar a natureza da ativi­ dade profética dos profetas hebreus numa manifestação extática. É verdade que sempre existiu o em prego da música para fins extá­ ticos, mas não é isso que o texto bíblico afirma nessa passagem, pois havia muitas razões para a música, e, sobretudo, tocar cam i­ nhando, acompanhado de m ovim entos rítmicos enquanto desce do monte não é apropriado para induzir alguém ao êxtase. E nada indica do texto que eles tocavam para profetizar. Eliseu solicitou

um "tangedor" (2 Rs 3.15), mas o verbo hebraico (nãgên) signi­

fica "tanger" um instrumento de corda, que por ser suave, não é adequado para êxtase.

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18 Assim, Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel, a Ramá, e lhe participou tudo quanto Saul lhe fizera; e foram, ele e Samuel, e ficaram em Naiote. 19 E o anunciaram a Saul, dizen­ do: Eis que Davi está em Naiote, em Ramá. 20 Então, enviou Saul m ensageiros para trazerem a Davi, os quais viram uma congregação de profetas profetizando, onde estava Samuel, que presidia sobre eles; e o Espírito de Deus veio sobre os m ensageiros de Saul, e tam bém eles profetizaram . 21 E, avisado disso Saul, enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram ; então, enviou Saul ainda uns terceiros mensageiros, os quais também profetizaram . 22 Então, foi também ele m esm o a Ramá e chegou ao poço grande que

estava em Seco; e, perguntando, disse: Onde estão Samuel

e Davi? E disseram-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá. 23 Então, foi para Naiote, em Ramá; e o m esm o Espírito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá. 24 E ele também despiu as suas vestes, e ele tam­ bém profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas? (1 Sm 19.18-24).

No segundo contato de Saul com os profetas liderados por Sa­ muel, seu estado era de desequilíbrio e estava possuído por um espírito mau. Há quem afirme que ele ficou endemoninhado, nesse caso, Deus teria dado permissão aos demônios para o atormenta­ rem, assim com o permitiu ferir o patriarca Jó (1.12). Se isso puder ser confirmado, deve-se levar em conta que ele, nessa época, es­ tava desviado, havia sido rejeitado por Deus por causa de sua desobediência (1 Sm 15.23), seu estado espiritual e psicológico estava afetado. Porém, o texto bíblico não afirma que Saul ficava endemoninhado, é dito que o Espírito Santo se retirou dele e que "o assombrava um espírito mau da parte do SENHOR" (1 Sm 16.14). Trata-se de um espírito da parte de Deus e não de Satanás.

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O ponto dessa passagem que mais chama a atenção é o v. 24, pois afirma que Saul "ele também despiu as suas vestes, e ele tam­ bém profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite". A expressão "também despiu suas vestes" pode indicar que outros estavam desnudos, os seus enviados, mas o termo hebraico usado aqui, DÍ“1Í7 ( ‘ãrôm) ou Dhl? ( ‘arõm), segun­ do Gesenius e Baumgartner, pode significar parcialmente desnudo (Jó 22.6; 24.7,10; Is 58.7), ou seja, sem a roupa externa. A descrição parece mostrar um estado de estupor. Essa passagem não ajuda os críticos que pretendem colocar os profetas de Deus no m esm o nível dos místicos por duas razões básicas: a) apenas Saul ficou nesse estado e não todos os profetas; b) ele não fez esforço algum para alcançar o transe extático.

O termo "êxtase" vem do grego eicaiaoií; (ekstasis), empregado pela LXX para traduzir oito palavras hebraicas: njjTT (dibãh) "murmu- ração, difamação, calúnia" (Nm 13.32 [33]); H1Í7T / H1Í1T (zaãvãh / z? avãh) "tremor, temor, medo" (2 Cr 29.8); TSn(hãphaz) "correr assus- tadamente (SI 31.23 [30.23]); r m n (harãdãh) "tremor, medo" (1 Sm

14.15); rtÇirtÇ (rrfhümãh) "perturbação, sobressalto, pânico, confusão, tumulto" (2 Cr 15.5; Zc 14.13); “ II7S (pahad) "tremor, pavor, susto,

temor, medo, terror" (1 Sm 11.7; 2 Cr 17.10; 20.29); (tardêmãh)

"sono profundo, letargia" (Gn 2.21; 15.12). Aparece sete vezes no Novo Testamento, sendo que em quatro lugares expressa a ideia de assom­ bro, de espanto: "e assombrara-se com grande espanto" (Mc 5.42); "porque estavam possuídas de temor e assombro" (Mc 16.8); "e todos ficaram maravilhados" (Lc 5.26); "e ficaram cheios de pasmo e assom­ bro" (At 3.10). As outras três vezes ocorrem com o significado de arrebatamento dos sentidos "sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos" (At 10.10); reaparecendo depois quando o apóstolo Pedro relata essa experiência aos demais companheiros (At 11.5); isso aconteceu também com o apóstolo Paulo: "quando orava no templo,

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