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ESTIMATIVA DE RISCO DE REINCIDÊNCIA DE AGRESSÃO SEXUAL EM ADOLESCENTES ERASOR. Versão 2.0. James R. Worling, Ph.D., & Tracey Curwen, M.A.

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ERASOR

Versão 2.0

James R. Worling, Ph.D., & Tracey Curwen, M.A.

Versão Portuguesa (2012), autorizada oficialmente pelos autores Ricardo G. Barroso, PhD

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal

&

Celina Manita, PhD

FPCE - Universidade do Porto, Portugal

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ERASOR - ESTIMATIVA DE RISCO DE REINCIDÊNCIA DE AGRESSÃO SEXUAL EM ADOLESCENTES Ricardo G. Barroso & Celina Manita (Versão Portuguesa, 2012)

Informação de Contacto

O ERASOR é um instrumento de avaliação psicológica que se encontra num processo contínuo de adaptação e validação para o contexto português, de modo a melhorar constantemente a sua validade preditiva. Os responsáveis pela tradução, adaptação e estudo das propriedades psicométricas da versão portuguesa do ERASOR estão recetivos a qualquer comentário que permita colmatar qualquer ambiguidade e/ou aumente a clareza do texto aqui apresentado. Estão igualmente disponíveis para responder a qualquer questão relacionada com a utilização deste instrumento, formação técnica, bem como para colaborar em estudos que utilizem esta escala no contexto lusófono.

Ricardo G. Barroso

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Departamento de Educação e Psicologia Edifício CIFOP

5001-558 Vila Real, Portugal Email: rbarroso@utad.pt

Celina Manita

Universidade do Porto

Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Rua Dr. Manuel Pereira da Silva,

4200-392 Porto, Portugal Email: celina@fpce.up.pt

Tradução principal: Rita Ferreira

Autorização da tradução (com direitos de autor) para português pelos autores da versão original: James R. Worling, Ph.D

Sexual Abuse: Family Education & Treatment (SAFE-T) Program Thistletown Regional Centre for Children & Adolescents,

Ontario Ministry of Community & Social Services 51 Panorama Court, Toronto, Ontario, Canada M9V 4L8

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ERASOR - ESTIMATIVA DE RISCO DE REINCIDÊNCIA DE AGRESSÃO SEXUAL EM ADOLESCENTES Ricardo G. Barroso & Celina Manita (Versão Portuguesa, 2012)

ÍNDICE

Introdução... 4

Pertinência da elaboração do ERASOR ... 6

Como usar o ERASOR ... 7

Derivação da Estimativa de Risco Global... 8

Comunicação dos resultados da estimativa de risco ... 8

Exemplo abreviado de uma comunicação de resultados ... 10

Fatores de risco presentes no ERASOR ... 11

1. Interesses sexuais desviantes (crianças, violência ou ambos). ... 11

2. Interesses sexuais obsessivos/Preocupação com pensamentos sexuais. ... 13

3. Atitudes que suportem agressão sexual ... 14

4. Falta de vontade em alterar interesses/atitudes sexuais desviantes ... 15

5. Crimes sexuais contra duas ou mais vítimas... 16

6. Crime sexual contra a mesma vítima duas ou mais vezes ... 18

7. Anterior sanção aplicada por adultos por crime (s) sexual ... 18

8. Ameaça de, ou uso de, violência ou armas durante a agressão sexual. ... 20

9. Crime sexual contra crianças ... 21

10. Crime sexual contra desconhecidos ... 22

11. Escolha indiscriminada de vítimas... 23

12. Crime sexual contra vítima do género masculino ……….………...…25

13. Comportamentos diversos nos crimes sexuais ... 26

14. Orientação interpessoal antissocial... 27

15. Relações interpessoais instáveis/isolamento social... 28

16. Envolvimento com pares desviantes e com influência negativa... 30

17. Agressão interpessoal... 31

18. Escalada recente de raiva e sentimentos negativos ... 32

19. Autorregulação deficitária dos afetos e comportamento (Impulsividade)... 33

20. Ambiente familiar altamente stressante ... 34

21. Relação problemática entre pais – agressor/Rejeição parental ... 36

22. Falta de colaboração do(s) progenitor(es) em participar na avaliação/tratamento ... 38

23. Fatores ambientais de risco de reincidência de agressão sexual ... 39

24. Inexistência de planos/estratégias realistas de prevenção... 40

25. Tratamento específico para agressão sexual incompleto ... 42

Fatores de risco comummente citados mas ainda sem evidências ... 43

Referências ... 45

Estudos publicados sobre reincidência de agressão sexual em adolescentes ... 49

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INTRODUÇÃO

No decorrer do planeamento de um programa de intervenção com jovens agressores sexuais, um dos objetivos de uma avaliação compreensiva da agressão sexual destes adolescentes é a determinação de fatores de possível reincidência de agressão sexual. Numa publicação recente da ATSA (Associação para o Tratamento de Abusadores Sexuais) evidenciam-se linhas orientadoras para avaliações de risco. Hanson (2000) refere que os preditores formais de risco de agressão sexual são necessários para um conjunto de razões, que incluem a sentença/medida, liberdade condicional e condições de reestruturação familiar.

Boer, Hart, Kropp e Webster (1997) e Grubin (1999) postulam que há dois discursos tradicionais de avaliar uma nova agressão sexual: mediante preditores clínicos não estruturados e mediante uma avaliação atuarial. No que concerne aos preditores clínicos não estruturados, os profissionais fazem uso das suas experiências passadas na área de modo a determinar o nível de risco. Apesar de ser evidente que os julgamentos fomentados em preditores clínicos não estruturados são, em média, consideravelmente melhores do que uma avaliação ao acaso (Hanson & Bussière, 1998), existem algumas preocupações quanto a este tipo de avaliação. Por exemplo, é muitas vezes difícil determinar de que forma as escalas de risco clínico são feitas e, como tal, estes preditores são de difícil questionamento, mudança ou prova. Por outro lado, há a probabilidade de os fatores serem interpretados de forma diferente por avaliadores diferentes, para os mesmos indivíduos. Ainda que, em última instância, a avaliação geral e cotação do risco global, possam ser consonantes, provavelmente basearam-se em fatores diferentes para determinar este mesmo risco. Desta forma, a maior preocupação prende-se com o facto de se verificar um baixo nível de precisão. Boer et al. (1997) referem, contudo, que a maior vantagem deste tipo de discurso, designado não estruturado ou "julgamento profissional", está na flexibilidade de considerar e combinar uma variedade de potenciais fatores de risco.

Já na avaliação atuarial, existe um sistema de classificação estruturado e objetivo. A cotação de cada fator de risco é somada dando lugar a um valor representativo do risco global, que é enquadrado em termos probabilísticos (e.g., 30% de probabilidade de reincidência de agressão sexual nos 5 anos seguintes). A avaliação atuarial foi desenvolvida com base na revisão literária de variáveis consideradas importantes na reincidência. Algumas das vantagens desta linha teórica orientadora prendem-se com o nível elevado de acordo entre diferentes profissionais, a fácil administração e cotação, o suporte empírico na consideração de cada fator de risco, a possibilidade de testar a fidelidade ou de predizer a

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validade dos algoritmos numéricos propostos para avaliar risco futuro.

Para além das inúmeras vantagens de um método atuarial (ver Loza & Dhaliwal, 1997), existem também alguns inconvenientes. Uma das limitações mais significativas relaciona-se com o facto de um instrumento não atuarial ter em conta

toda a potencialidade dos indicadores de risco (Hanson, 2000). Outra crítica

apontada é que muitas das variáveis abarcadas no sistema atuarial são estáticas, ou "fixas" (tal como o género), sendo por isso pouco úteis aquando da elaboração de um plano de tratamento de reincidência. Nesta linha de pensamento, quando um indivíduo é considerado de "alto risco" será sempre considerado de "alto risco", por a maior parte das variáveis serem de difícil mudança.

O estudo sobre a reincidência de agressão sexual tem avançado, e um recente desenvolvimento culminou num terceiro método que Hanson (1998) designou de juízo empírico e clinicamente orientado. Este é o discurso usado por Boer et al. (1997) como base ao desenvolvimento do Sexual Violence Risk - 20 (SVR - 20). Aqui, os avaliadores baseiam-se numa lista de fatores de risco surgida da pesquisa realizada, mas também da opinião de profissionais da área. Contrariamente às escalas atuarias, não existem regras definidas de cotação dos fatores de risco. Como tal, a avaliação do risco global é feita segundo um juízo clínico, sendo que Hanson (2000) afirma que esta é a maior limitação desta abordagem. Contudo, as vantagens deste método empírico, mas também clínico, em comparação aos orientados por preditores clínicos, é que é possível garantirem um elevado grau de precisão, dada a evidência científica que suporta os fatores de risco. Além disso, esta é uma abordagem mais sistemática e que gera uma maior concordância entre profissionais (Boer et al., 1997).

Até à data, a maioria das pesquisas sobre a previsão de reincidência sexual tem sido baseada em estudos passados com agressores sexuais adultos do género masculino. Na verdade, Hunter e Lexier (1998) recentemente observaram que os profissionais de saúde que elaboram previsões de risco em agressores sexuais adolescentes baseiam-se em "pressupostos teóricos não comprovados referentes aos fatores que aumentam o risco de perigosidade" (p. 344). Embora existam listas ou linhas orientadoras de fatores preditores de risco em agressores sexuais adolescentes (Bremer, 1998; Calder, Hanks, & Epps, 1997; Epps, 1997; Lane, 1997; Perry & Orchard, 1992; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1989; Wenet & Clark, 1986), não há dados empíricos sobre a validade dos mesmos.

Prentky, Harris, Frizzell e Righthand (2000) publicaram recentemente uma escala atuarial para avaliação de risco em jovens delinquentes sexuais. Nesta investigação, procederam à observação e recolha de dados de um grupo de 75 agressores, num período de 12 meses. Os autores observaram que o número de reincidentes sexuais era muito baixo (provavelmente devido à brevidade do período de follow-up) para justificar qualquer comparação estatística entre agressores

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sexuais reincidentes e agressores sexuais não reincidentes. Portanto, atualmente não há suporte empírico sobre o uso desta medida para predizer a reincidência sexual para adolescentes. Prentky et al. (2000) reconheceu que a escala representa uma contribuição inicial para o campo de predição de risco em jovens criminosos sexuais, mas que, por outro lado, é necessário um refinamento adicional, bem como a elaboração de uma base de dados para se proceder ao desenvolvimento de uma escala válida.

A abordagem de uma metodologia em que o juízo é empírico e clinicamente orientado foi por nós decidida como necessária de modo a prever a reincidência sexual adolescente. O resultado foi a escala de Estimativa do Risco de Reincidência de Agressões Sexuais em Adolescentes (ERASOR - versão 1.2; Worling & Curwen, 2000b). A presente versão do ERASOR (2.0) substitui o manuscrito anterior.

PERTINÊNCIA DO USO DO ERASOR

O ERASOR foi elaborado de forma a constituir-se um apoio aos avaliadores na estimativa do risco de reincidência sexual APENAS para indivíduos entre os 12 e os 18 anos que tenham cometido previamente delitos sexuais. A todos aqueles que tenham por objetivo predizer a reincidência criminal

de agressões não sexuais cometidas por adolescentes aconselha-se o uso de instrumentos definidos e empiricamente validados, tal como, o YLS - Youth Level of

Service/Case Management Inventory (Hoge & Andrews, 1994). Os interessados em

predizer a reincidência sexual para adultos deverão utilizar instrumentos como o

Rapid Assessment for Sexual Offense Recidivism (RRASOR; Hanson, 1997), o Sex Offender Risk Appraisal Guide (SORAG; Quinsey, Harris, Rice & Cormier, 1998), ou

o Static-99 publicado pela Associação para o Tratamento de Abusadores Sexuais (Hanson, 2000).

O ERASOR foi desenvolvido de forma semelhante ao SVR-20 (Boer et al., 1997) e estamos gratos com o trabalho que foi feito pelos autores e revisores desse documento. Como Boer et al. (1997) asseguraram no SVR-20, deve-se ressalvar que os fatores sugeridos no ERASOR certamente não são exaustivos, como existem, em muitos casos, fatores de risco específicos para o indivíduo que está a ser avaliado. Além disso, as orientações deste documento baseiam-se no conhecimento científico até à data, portanto, é certo que, com o avanço do conhecimento, novos fatores de risco sejam identificados, e alguns fatores aqui contemplados não sejam atuais.

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COMO USAR O ERASOR

Sugerimos que na utilização do ERASOR, os avaliadores se orientem pelas indicações sugeridas por Boer et al. (1997) [Adaptado e aqui ligeiramente aumentado]:

1. Aquando da avaliação relativamente à decisão de tratamento do adolescente, devem ter em conta os seguintes aspetos: (1) um nível elevado de formação e especialização em relação à avaliação de adolescentes e das suas famílias, (2) um nível elevado de formação e especialização sobre a etiologia, avaliação e gestão da violência sexual, e (3) familiaridade com a investigação existente sobre a reincidência sexual adolescente, incluindo a investigação com follow-up citada neste documento (ver Tabela 1 na página 48 para obter uma lista de algumas das investigações pertinentes).

2. Avaliar vários domínios do funcionamento do agressor, inclusive sexual (e.g., excitação sexual, atitudes sexuais, preocupação sexual), intrapessoal (e.g., expressão afetiva, impulsividade), interpessoal (e.g., envolvimento social, agressão), familiar (e.g., relações progenitores-filho, conflitos familiares) e biológicas (e.g., saúde física e neurológica).

3. Uso de múltiplos métodos de recolha de dados de modo a formar um parecer quanto ao risco. Os métodos utilizados podem incluir entrevistas, testes psicológicos, observação comportamental, exames médicos e revisão de casos apresentados na literatura. No mínimo, a recolha de informações poderá ser feita diretamente juntos dos agressores e a partir dos registos oficiais referentes à agressão sexual do adolescente.

4. Recolha de informação com recurso a diversas fontes, nomeadamente, o agressor, a(s) vítima(s), polícia, família, amigos e outros profissionais de saúde que tenham contactado com o agressor, adultos responsáveis pelo agressor e registos oficiais sobre a agressão (s) sexual.

5. Recolha de informações de fatores estáticos (histórico e imutável) e dinâmicos (variáveis e potencialmente modificáveis). Embora a pesquisa com agressores sexuais adultos demonstre que os fatores estáticos são geralmente os melhores indicadores a longo prazo, acredita-se que um conjunto de fatores dinâmicos virá a ser comprovado em investigações futuras (Hanson, 2000). Não obstante, as informações sobre fatores dinâmicos serão úteis para os responsáveis pelo planeamento do tratamento do agressor.

6. Consciencialização da validade das informações usadas para a avaliação do risco, nomeadamente pela indicação de qualquer reserva ou ressalva registada na elaboração de relatórios. Pode ser benéfico que vários avaliadores

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participem na formulação da estimativa de risco, talvez de forma independente numa primeira fase, seguindo-se uma discussão dos resultados.

7. Reconhecer que as avaliações de risco tornam-se desatualizadas mediante a passagem do tempo e/ou na sequência de uma alteração em qualquer um dos fatores de risco que foram avaliados.

Os 25 fatores de risco incluídos no ERASOR são enquadrados em 5 categorias (por favor consulte a folha de codificação): (1) Interesses, atitudes e comportamentos sexuais, (2) Historial de agressões sexuais, (3) Funcionamento psicossocial, (4) Família/Funcionamento do contexto, e (5) Tratamento. É importante notar que existe também a inclusão de "outro(s) fator(es)", que deve ser preenchido quando existem fatores de risco de casos específicos. Por exemplo, um adolescente que apresenta maior risco quando bêbado, em que seria importante classificar o uso atual de drogas não prescritas e álcool. Da mesma forma, se um adolescente afirma que é muito propenso a reincidir sexualmente, isso deve ser levado em consideração.

DERIVAÇÃO DA ESTIMATIVA DE RISCO GLOBAL

Dado que atualmente não há nenhuma evidência empírica de um algoritmo específico para detetar fatores de risco que permitam a predição de reincidência sexual do adolescente, o julgamento clínico é necessário para determinar o nível geral de risco (por exemplo, "baixo", "moderado" ou "alto"). Prevê-se que haja uma relação geral entre o número de fatores de alto risco e a classificação do risco global, de tal modo que mais indicadores de alto risco sugerem maior risco. No entanto, como Boer et al. (1997) observaram, a decisão final será mais dependente da combinação de fatores de risco ao invés de apenas do número. Além disso, Boer et al. (1997) sugerem que é possível que a presença de um único fator de risco - tal como intenções declaradas do agressor em cometer novos delitos - possa ser indicativo de alto risco. Por exemplo, Worling & Curwen (2000a) verificaram que o autorrelato de interesse sexual em crianças é um preditor significativo e robusto de reincidência sexual.

COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS DA ESTIMATIVA DE RISCO

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qualificada. As seguintes diretrizes são sugeridas como auxiliares à comunicação dos resultados da estimativa de reincidência de agressores sexuais adolescentes. Estas foram adaptadas das sugeridas no SVR-20 (Boer et al., 1997) e incluem sugestões adicionais (Worling, 2000).

1. Os avaliadores devem informar as limitações das suas avaliações. Apesar do evidente apelo ao uso do método de avaliação atuarial, atualmente não há dados empíricos que sustentem a validade preditiva de qualquer instrumento para agressores sexuais adolescentes. Muitos dos fatores apresentados no ERASOR foram incluídos por existir algum acordo na opinião clínica e profissional, e devido à literatura existente sobre estudos retrospetivos com adolescentes e/ou adultos agressores sexuais. Não obstante, torna-se importante divulgar que a classificação de risco global é uma opinião clínica com base nas diretrizes de pontuação delineadas no ERASOR.

2. Os avaliadores devem informar que as avaliações apresentam limitação

temporal. A maior parte da bibliografia existente que suporta os fatores

incluídos no ERASOR é baseada em dados de follow-up de 3 anos ou menos, não existindo nenhum estudo que ultrapasse os 6 anos de follow-up. Assim, para além de a adolescência ser marcada por rápidas mudanças desenvolvimentais (e.g., social, física, familiar, sexual, etc.), é importante referir também que qualquer avaliação de risco é temporalmente limitada e deve ser repetida após determinado intervalo de tempo (2 anos) ou na sequência de alterações significativas em um ou mais fatores de risco.

3. Os avaliadores devem justificar a estimativa de risco referenciando a

presença ou ausência de fatores específicos de alto risco. De facto, a

justificação do porquê do agressor se enquadrar num determinado nível de risco poderá ser mais facilmente explicada pela apresentação de razões específicas. Certamente, esta informação mais detalhada pode ser também usada no planeamento do tratamento.

4. Os avaliadores devem prever a reincidência sexual de risco o mais

especificamente possível. Por exemplo, se for determinado que um

adolescente apresenta um elevado grau de risco de reincidência de agressões sexuais contra jovens do género masculino, isso deve constar como observação na comunicação dos resultados. Claro que, se não for possível fazer previsões específicas em relação à próxima agressão sexual, os avaliadores não devem sentir-se obrigados a fazer referências preditivas sem que tenham dados que o suporte.

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5. Os avaliadores devem contemplar e discriminar circunstâncias que

possam agravar o risco de reincidência sexual a curto prazo. Ou seja, seria

útil, se possível, descrever situações que se mostram sinais de alerta para aqueles que trabalham com o agressor. Por exemplo, a proximidade de adolescentes do género feminino, ausência de visitas familiares ou disponibilidade de pornografia podem ser fatores cuja referência é útil, se se mostrarem como possíveis responsáveis pelo agravamento do risco de reincidência.

6. Os avaliadores devem apresentar as estratégias que acreditam que seriam

úteis na gestão do risco. Além disso, as estratégias podem incluir

recomendações sobre o local de residência, a supervisão da comunidade, o acesso a pornografia, o tempo necessário para reestruturação da família, etc. Um exemplo breve de uma comunicação de resultados que segue as diretrizes acima referidas é apresentado de seguida.

EXEMPLO BREVE DE UMA COMUNICAÇÃO DE RESULTADOS

Não existe atualmente qualquer validação empírica de instrumentos atuariais que possam ser usados para estimar com precisão o risco de reincidência sexual em adolescentes. Contudo, baseado nos melhores dados disponíveis na bibliografia, e em consenso com a opinião de profissionais da prática clínica e forense, tem sido identificado na literatura alguns fatores de alto risco. Salienta-se que o ERASOR (Estimativa do Risco de Reincidência de Agressão Sexual em Adolescentes) (Worling & Curwen, 2001, versão portuguesa Barroso & Manita, 2012) resume as investigações disponíveis e a opinião clínica especializada, sendo o instrumento utilizado para estimar o risco de reincidência sexual para este cliente.

Atualmente, ”António” apresenta um nível de risco de reincidência elevado, sustentado pela identificação dos seguintes fatores de alto risco: interesse sexual por crianças, atitudes de suporte à agressão sexual (e.g., a criança não sofre danos pela interação sexual com um adolescente), escolha de vítimas desconhecidas, existência de agressões sexuais anteriores, permanência de comportamentos agressivos sexuais apesar de existir punição de delitos anteriores (acusação criminal), agressão interpessoal recente, relação pais - filho problemática e incumprimento da totalidade do tratamento específico de agressão sexual. Dado que as agressões sexuais registadas cometidas pelo António foram contra adolescentes do género feminino, acredita-se que há um maior risco de reincidência com o género feminino.

Seria preferível se o risco fosse gerido mediante uma combinação do tratamento específico de agressão sexual que visa alterar os fatores de risco potencialmente modificáveis referenciados acima, como a excitação e atitudes sexuais desviantes evidenciados pelo António, o relacionamento problemático com os progenitores e a presença de agressão interpessoal. Apesar de o adolescente ter demonstrado alguma consciência da presença de indicadores pessoais de alto risco, é provável que o tratamento forneça ao António uma maior consciencialização de indicadores de risco e

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técnicas que podem ser usados para evitar mais agressões sexuais.

Dadas as rápidas mudanças de desenvolvimento durante a adolescência, ao potencial para a mudança destes fatores de risco, e ao facto de a maior parte da investigação ser baseada em dados de follow-up de menos de 3 anos, é essencial referir que esta estimativa de risco deve ser reavaliada após um período máximo de 2 anos, ou que haja acompanhamento das mudanças sociais, ambientais, familiares, sexuais, afetivas, físicas ou psicológicas.

FATORES DE RISCO PRESENTES NO ERASOR

A seguir é descrita a lógica e os procedimentos de codificação para os 25 fatores de risco incluídos no ERASOR. Para facilitar a cotação, foi incluído um formulário de cotação, no entanto, é essencial que os avaliadores estejam familiarizados com o conteúdo do manual do ERASOR. O formulário de cotação pode ser fotocopiado para cada adolescente. Por último, é importante ressalvar que os avaliadores nunca devem usar APENAS a folha de resumo (página 13 do Formulário de Codificação) para avaliação da estimativa de risco.

1. Interesses sexuais desviantes (crianças, violência ou ambos)

Os adolescentes que apresentam excitação sexual por crianças e/ou por violência sexual apresentam maior risco de cometer novas agressões sexuais. Num estudo recente com agressores sexuais adolescentes, observamos (Worling & Curwen, 2000a) que o autorrelato de interesse sexual em crianças - incluindo fantasias passadas ou presentes com crianças, crescente vitimização de crianças e penetração no abuso sexual a crianças - são preditores significativos de reincidência de agressão sexual. Schram, Malloy e Rowe (1992) também verificaram que os agressores adolescentes avaliados por profissionais clínicos com maior probabilidade de ter interesses sexuais desviantes mostraram significativamente mais propensão a reincidir sexualmente. Os autores das

checklist/orientações de preditores de risco para adolescentes referem que os

adolescentes infratores sexuais que demonstram interesse sexual em crianças pequenas e/ou violência sexual estão em maior risco de reincidência sexual (Calder et al., 1997; Epps, 1997; Lane, 1997; Ross e Perdas, 1991).

O interesse sexual desviante - particularmente interesse sexual desviante por crianças - foi a variável que, numa recente meta-análise de estudos feitos com adultos agressores sexuais do género masculino, demonstrou estar mais relacionada com a reincidência sexual (Hanson & Bussiére, 1998). A presença de excitação sexual desviante também foi apontada como um fator de alto risco para adultos agressores sexuais do género masculino, demonstrada pela utilização de

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instrumentos como o Sex Offender Risk Appraisal Guide (SORAG; Quinsey et al., 1998), o Minnesota Sex Offender Screening Tool—Revised (MnSOST-R; Epperson, Kaul, & Hesselton, 1998), e o Sexual Violence Risk - 20 (SVR-20; Boer et al., 1997).

Codificação

Presente Crianças

Violência

• Nos últimos 6 meses, o adolescente relatou ou demonstrou excitação sexual a pensamentos ou imagens de crianças com menos de 12 anos (e crianças com menos 4 anos de idade do que o adolescente) OU • Crimes sexuais – no último ano – contra duas ou mais crianças com

menos de 12 anos (e crianças com menos 4 anos do que o adolescente), OU

• Nos últimos 6 meses, o adolescente relatou ou demonstrou excitação sexual a violência sexual (violência física excessiva, ameaça de morte ou dor física, uso de armas), OU

• Agressões sexuais – no último ano – contra dois ou mais indivíduos que envolveu excessiva violência física, ameaça de morte ou dor, ou uso de armas. Provável ou Parcialmente presente Crianças Violência

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente

• Relatou ou demonstrou excitação sexual desviante para com pré-adolescente, violência sexual, ou ambos, nos últimos 6 meses, OU • No último ano, cometeu delitos sexuais contra dois ou mais

pré-adolescentes ou contra indivíduos, com envolvimento de excessiva violência física, ameaça de morte ou dor, ou uso de armas.

Ausente • Adolescente não relatou n e m demonstrou excitação sexual a pensamentos e/ou imagens de pré-adolescentes, a violência sexual, ou a ambos, nos últimos 6 meses.

OU

No último ano, o adolescente não cometeu delitos sexuais contra duas ou mais crianças, ou contra indivíduos envolvendo excessiva violência física, ameaça de morte ou dor, ou uso de armas.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

Há preocupações científicas e éticas consideráveis sobre o uso da pletismografia peniana (PPG) com adolescentes (Hunter & Lexier, 1998; Worling, 1998). Informações em relação a este fator podem ser obtidas através de entrevistas clínicas, observação, testes psicológicos e mediante revisão dos relatórios complementares do sujeito. Embora seja, geralmente, considerado importante assegurar que há, pelo menos, uma diferença de idade de 4 anos entre o adolescente e a criança que é alvo dos pensamentos/imagens sexuais, devem ser

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considerados fatores como a diferença de tamanho e nível de maturidade emocional entre o agressor e a criança.

2. Interesses sexuais obsessivos / Preocupação com pensamentos sexuais.

Agressores sexuais adolescentes que demonstram interesses sexuais obsessivos e que manifestam pensamentos, comportamentos ou gestos sexuais apresentam maior probabilidade de risco de delito sexual. Embora não haja suporte empírico para a inclusão deste fator de risco com adolescentes, pode apenas representar a necessidade de uma maior pesquisa neste campo.

Os autores responsáveis pelas checklists/orientações de avaliação do risco para agressores sexuais adolescentes acentuam a necessidade de estimar a presença de preocupações sexuais (Epps, 1997; Lane, 1997; Prentky et al., 2000; Steen & Monnette, 1989), ideação compulsiva sobre agressões passadas (Perry & Orchard, 1992) e fantasias masturbatórias desviantes, compulsivas (Ross & Loss, 1991; Wenet & Clark, 1986), nas avaliações do risco de reincidência de agressão sexual. Os autores da Escala de Avaliação de Agressores Sexuais (SONAR; Hanson & Harris, 2000), e do instrumento atuarial de predição de risco para adultos agressores sexuais incluíram como fator a preocupação sexual por se ter verificado uma relação entre este e reincidência sexual.

Cotação

Presente Nos últimos 6 meses, o adolescente demonstrou interesses sexuais obsessivos/preocupação com pensamentos sexuais, pela presença de qualquer um dos comportamentos:

• Masturbação invulgarmente frequente;

• Pensamentos, comentários, gestos ou comportamentos sexuais invulgarmente frequentes

• Uso invulgarmente frequente de pornografia (ou outro tipo de material considerado erótico para adolescentes, escrita ou audiovisual)

• Envolvimento invulgarmente frequente em fantasias sexuais

• Uso excessivo de comportamentos/fantasias sexuais para lidar com sentimentos negativos (aborrecimento, solidão, frustração e tristeza), raiva ou situações problemáticas.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente tem mostrado preocupação com pensamentos, comportamentos, fantasias, imagens ou gestos sexuais, nos últimos 6 meses.

Ausente O adolescente NÃO tem demonstrado interesses sexuais obsessivos ou preocupação com pensamentos, fantasias, imagens ou gestos sexuais durante os últimos 6 meses

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

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risco.

A informação sobre este fator pode ser obtida através de entrevistas clínicas, observações, testes psicológicos ou relatórios complementares.

3. Atitudes que suportem agressão sexual

Adolescentes com historial de agressões sexuais que verbalizam que o delito sexual foi “insinuado”, “desejado”, “inofensivo” ou outro tipo de sinal por parte da vítima apresentam maior risco de agressão sexual futura. Até ao presente, poucos são os estudos empíricos que justificam a inclusão deste fator, mas talvez apenas resulte da pouca pesquisa realizada neste campo. Kahn e Chambers (1991) observaram que os adolescentes que atribuíram a responsabilidade da agressão à vítima mostram maior predisposição para a agressão sexual. Mais, os autores das

checklists/orientações de avaliação do risco para agressores sexuais adolescentes

apontam que atitudes pró-criminosas tal como culpar a vítima e presença da crença de que delitos sexuais não são errados ou prejudiciais são indicadores de alto risco (Calder et al., 1997; Epps, 1997; Perry & Orchard, 1992; Prentky et al., 2000).

Numa investigação recente de adultos agressores sexuais do género masculino, Hanson e Harris (1998) observaram que atitudes que suportam agressão sexual apresentam relação significativa com reincidência, e por isso, essa variável foi incluída no SONAR (Hanson & Harris, 2000). Numa outra publicação da Associação para o Tratamento de Agressores Sexuais, Hanson (2000) refere que este fator em particular caracteriza-se por ser dinâmico (potencialmente modificável). Boer et al. (1997) também contemplou este fator no SVR – 20 para agressores sexuais adultos por considerar que é indicador de alto risco.

Cotação

Presente Nos últimos 6 meses, o adolescente assumiu qualquer uma das seguintes atitudes:

• Interação sexual com menores de 12 anos de idade sem prejuízo para a criança; as agressões são desejadas pelas crianças; são muitas vezes iniciadas pelas crianças (vítimas); deveriam ser consideradas legais; são apenas demonstrações de afeto; são educativas para a criança, OU • Interações sexuais forçadas com pares ou adultos sem prejuízo; são

desejadas; dão prazer; são iniciadas pela forma de vestir ou comportamento das vítimas; ou revelação de que as interações sexuais forçadas são muitas vezes fabricadas/pensadas.

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comportamento das vítimas; ou revelação de que as interações sexuais forçadas são muitas vezes fabricadas/pensadas.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente tem evidenciado atitudes que suportam agressão sexual, nos últimos 6 meses.

Ausente O adolescente NÃO evidenciou atitudes de suporte de agressão sexual durante os últimos 6 meses.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

As informações sobre as atitudes sexuais do agressor podem ser recolhidas a partir de testes psicológicos, entrevistas clínicas, observação ou relatórios complementares.

4. Falta de vontade em alterar interesses/atitudes sexuais desviantes.

Os adolescentes que não estão dispostos a mudar os seus pensamentos, interesses ou atitudes sexuais desviantes apresentam maior probabilidade de risco de reincidência sexual. A resistência a mudar interesses ou atitudes sexuais desviantes pode refletir a força desses mesmos interesses ou atitudes, a falta de esperança na mudança ou a atual falta de interesse em adotar pensamentos/fantasias sexuais adequados. Embora a investigação com adultos ou adolescentes não forneça suporte empírico para a inclusão desta variável, pode apenas advir do facto de nunca ter sido estudada. Os autores responsáveis pelas

checklists/orientações de avaliação do risco para agressores sexuais adolescentes

têm sugerido que infratores que são resistentes ao tratamento apresentam maior risco de reincidência sexual (Bremer, 1998; Epps, 1997; Lane, 1997; Perry & Orchard, 1992; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1989). Prentky et al. (2000) observaram que são os delinquentes que não mostram motivação interna para mudar que estão em maior risco.

Há uma variedade de fatores para o abandono do tratamento por parte dos agressores sexuais, contudo, existem atualmente evidências que os agressores sexuais adultos que o fazem são mais propensos a subsequentes crimes sexuais (e.g., Hanson & Bussière, 1998). Segundo os fatores de alto risco contidos no SVR-20, Boer et al. (1997) afirmou que os indivíduos que exibem uma atitude negativa perante o tratamento estão em maior risco de reincidência sexual.

Cotação

Presente Nos últimos 6 meses, o adolescente não tem demonstrado vontade em alterar ou “desistir” de:

• Interesses sexuais desviantes classificados como “presente” ou “provável ou parcialmente presente” no fator 1. OU

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• Atitudes de suporte a agressão sexual classificadas como “presente” ou “provável ou parcialmente presentes” no fator 3.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que, nos últimos 6 meses, o adolescente não mostra vontade de alterar:

• Interesses sexuais considerados desviantes classificados como “presente” ou “provável ou parcialmente presente” no fator 1 OU

• Atitudes de suporte a agressão sexual classificadas como “presente” ou “provável ou parcialmente presente” no fator 3.

Ausente Nos últimos 6 meses, o adolescente TEM mostrado disposição para alterar interesses sexuais desviantes (fator 1) ou atitudes que suportam agressão sexual (fator 3) OU Nem o fator 1 nem o 3 foram cotados como “presente” ou “provável ou parcialmente presente”

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

O incumprimento do tratamento, ou não comparecer, não constitui necessariamente evidência de falta de vontade de mudança de atitudes. Da mesma forma, a participação na terapia ou adesão ao tratamento não implica necessariamente a ausência desse fator. Pode-se obter informações para este fator através de entrevistas clínicas, observação, testes psicológicos ou relatórios complementares.

5. Agressões sexuais contra duas ou mais vítimas.

Adolescentes que cometeram crimes sexuais contra duas (2) ou mais vítimas têm maior probabilidade de reincidência do que os adolescentes que tenham cometido delitos contra uma única vítima. A investigação sobre esse fator é bastante consistente. Especificamente, Rasmussen (1999) evidenciou que o número de vítimas do sexo feminino está significativamente relacionado com a reincidência de agressões sexuais. Schram, Malloy e Rowe (1992) verificaram que os adolescentes com pelo menos uma condenação prévia de agressão sexual são significativamente mais propensos à reincidência sexual. Langstrom e Grann (2000) verificaram que, após um período de follow-up médio de 5 anos, adolescentes suecos com 2 ou mais vítimas anteriores mostraram ser significativamente mais propensos a uma nova condenação por um crime sexual posterior. Embora Worling e Curwen (2000a) tivessem considerado inicialmente que não há relação significativa entre o número total de vítimas e a reincidência sexual posterior, a investigação revelou que os adolescentes, com 2 ou mais vítimas, do estudo realizado pelos autores evidenciaram maior propensão à reincidência de agressão sexual. As

checklists/orientações de preditores de risco para agressores sexuais adolescentes

disponíveis sugerem que é um fator de alto risco um número elevado de crimes sexuais recentes (Bremer, 1998; Epps, 1997; Lane, 1997; Perry & Orchard, 1992; Prentky et al., 2000; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1989; Wenet & Clark, 1986).

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verificou-se que o número de crimes sexuais prévios está altamente relacionado com uma posterior reincidência sexual (Hanson & Bussière, 1998). Desta forma, os instrumentos atuariais de fatores de risco para agressores sexuais adultos do género masculino incluem uma avaliação do número de infrações sexuais anteriores (Epperson et al., 1998; Hanson, 1997; Hanson & Thornton, 1999; Quinsey et al., 1998). Também o SVR-20 (Boer et al., 1997) contempla a avaliação da frequência de agressões sexuais passadas como um preditor de reincidência sexual.

Cotação

Presente O adolescente cometeu, intencionalmente, crime sexual contra duas ou mais vítimas.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente cometeu, intencionalmente, crime sexual contra duas ou mais vítimas.

Ausente O adolescente cometeu, intencionalmente, crime sexual contra uma vítima. Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de

risco.

A classificação como agressão sexual inclui tanto comportamentos com contacto, como comportamentos sem contacto (e.g., exibicionismo) e não é necessário que o adolescente tenha sido sinalizado ou sancionado (e.g., ter sido acusado da prática de algum crime/facto tipificado na lei como crime) para este fator poder ser cotado como presente.

Em geral, deve-se cotar os comportamentos sexuais que ocorreram no final dos 12 anos ou depois. Comportamentos sexualmente agressivos que ocorreram entre os 8 e 12 anos devem ser codificados com extrema cautela, e só devem ser considerados para este fator SE: (a) ocorreu nos últimos 2 anos, ou (b) tem havido um padrão razoavelmente consistente até ao momento da mais recente agressão sexual, isto é, pelo menos, uma ocorrência da agressão sexual a cada 2 anos. O termo "intencionalmente" é aqui utilizado para identificar os infratores que conscientemente cometem crimes contra 2 ou mais vítimas específicas. É essencial analisar todas as fontes de informação, incluindo declarações da vítima, relatórios da polícia, entrevistas clínicas e outros dados disponíveis.

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6. Crime sexual contra a mesma vítima duas ou mais vezes.

Adolescentes que cometeram vários crimes sexuais contra a mesma vítima apresentam maior probabilidade de risco de reincidência do que os adolescentes que cometeram um único delito contra uma vítima. Este fator está intimamente relacionado com o fator 5 (2 ou mais vítimas), exceto que aqui a frequência das agressões refere-se a agressões sexuais contra a mesma vítima. A maior parte da investigação realizada com adolescentes e adultos quanto à frequência de crimes sexuais está relacionado com o número de acusações anteriores, sem referência específica se se refere ao número de delitos ou ao número de vítimas. Como tal, atualmente existe pouco suporte empírico para este fator. No entanto, as

checklists/orientações de preditores de risco para agressores sexuais adolescentes

disponíveis sugerem que a presença de um elevado número de crimes sexuais num curto período, anterior à atual agressão, é um preditor de alto risco (Bremer, 1998; Epps, 1997; Lane, 1997; Perry & Orchard, 1992; Prentky et al., 2000; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1989). Será importante para os avaliadores que determinem as duas medidas de frequência do agressor sexual (ou seja, número de vítimas e número de infrações) como medida de determinação do risco de agressão futura.

Cotação

Presente O adolescente cometeu crime sexual contra a mesma vítima em duas ou mais ocasiões

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente cometeu crime sexual contra a mesma vítima em duas ou mais ocasiões.

Ausente O adolescente NUNCA cometeu crime sexual contra a mesma vítima mais do que uma vez.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

É essencial o recurso a fontes diversificadas, nomeadamente, depoimentos da vítima, relatórios da polícia, entrevistas clínicas e outros dados adjacentes.

7. Anterior sanção aplicada por adultos devido a um crime sexual

Os adolescentes que cometem agressões sexuais de forma continuada depois de serem sinalizados e advertidos, por exemplo, pela polícia, pais, profissionais da instituição ou professores, assumem maior probabilidade de agressão sexual contra outros. É provável que existam alguns adolescentes que não voltem a cometer

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agressões sexuais uma vez que o seu comportamento foi alvo de atenção por parte de um adulto com autoridade. Tal pode ser resultado, pelo menos parcialmente, da vergonha e constrangimento por estar relacionado com o comportamento sexual do mesmo. Claro que há também muitos adolescentes que continuam a cometer crimes sexuais, apesar das intervenções por parte dos adultos (Worling & Curwen, 2000a). Em contrapartida, quando um adolescente continua a cometer crimes sexuais, apesar das advertências, pode indicar interesses sexuais desviantes (ver fator 1), interesses sexuais obsessivos (ver fator 2), ou atitudes de suporte de agressão sexual (ver fator 3). Além disso, estes adolescentes podem ser mais resistentes à mudança de interesses e atitudes sexuais desviantes (ver fator 4). Atualmente existe ainda pouca evidência empírica para este fator, a investigação ainda não se debruçou sobre o impacto das sanções aplicadas por adultos na reincidência sexual de adolescentes. Mediante as checklists/orientações de preditores de risco para agressores sexuais adolescentes disponíveis verificou-se que a existência de anteriores tentativas de tratamento mostra-se como um fator a um maior risco (Epps, 1997; Perry & Orchard, 1992; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1990; Wenet & Clark, 1986) tal como o conhecimento de uma prévia acusação penal por um delito sexual (Prentky et al, 2000; Ross & Loss, 1991). Em estudos anteriores, cujo foco eram agressores sexuais adultos do género masculino, verificou-se que a existência de sanções legais anteriores (ou seja, acusações ou condenações) está altamente relacionado com a reincidência de agressões sexuais (Hanson & Bussière, 1998). As checklists de preditores de risco atuariais para agressores sexuais adultos incluem uma avaliação da presença de acusações ou condenações anteriores por crimes sexuais (Epperson et al., 1998; Hanson, 1997; Hanson & Thornton, 1999; Quinsey et al., 1998). Não obstante, deve-se ainda avaliar o impacto das sanções sem registo legal na reincidência sexual dos adultos.

Cotação Presente Especificar: Acusação criminal Vigilância policial Outra sanção

Num momento ANTERIOR à mais recente agressão sexual, o jovem foi sancionado, advertido, repreendido com uma medida disciplinar, acusado criminalmente, ou outro tipo de sanção aplicada por uma autoridade superior (e.g., polícia, parentes, professores) por crime sexual.

P r o v á v e l o u Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente, em qualquer momento ANTERIOR à mais recente agressão sexual, que o adolescente foi sancionado, advertido, repreendido com uma medida disciplinar, acusado criminalmente ou outro tipo de sanção aplicada por uma autoridade superior (e.g., polícia, parentes, professores) por crime sexual.

Ausente O adolescente NUNCA foi sancionado, advertido, repreendido com uma medida disciplinar, acusado criminalmente ou outro tipo de sanção aplicada por uma autoridade superior (e.g.,: polícia, parentes, professores) por crime sexual, ANTES da mais recente agressão sexual.

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medida disciplinar, acusado criminalmente ou outro tipo de sanção aplicada por uma autoridade superior (e.g.,: polícia, parentes, professores) por crime sexual, ANTES da mais recente agressão sexual.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

A informação para cotação deste fator pode ser obtida através de entrevistas clínicas ou dados complementares, nomeadamente documentação oficial, tal como, relatórios policiais.

8. Ameaça de, ou uso de, violência ou armas durante a agressão sexual.

Os adolescentes que fazem uso de violência excessiva e/ou armas durante o delito(s) sexual/sexuais apresentam maior probabilidade de risco de cometer novas agressões sexuais. A utilização de armas/violência pode ser um indicativo de excitação sexual à violência (ver fator 1), pode refletir atitudes de suporte de violência sexual (fator 3), ou pode estar relacionada a uma orientação interpessoal antissocial (ver item 14). Os autores das checklists/orientações de preditores de risco para agressores sexuais adolescentes avançam que os adolescentes com maior risco de reincidência sexual são aqueles que fazem uso de violência e/ou armas durante os delitos que cometem (Bremer, 1998; Epps, 1997; Lane, 1997; Perry & Orchard, 1992; Ross & Loss, 1991; Steen & Monnette, 1989; Wenet & Clark, 1986). Até ao momento, têm sido realizadas poucas investigações relacionadas com este fator, e os resultados são ambíguos. Num estudo realizado por Kahn e Chambers (1991) evidenciou-se que os adolescentes que fizeram ameaças verbais durante os ataques sexuais evidenciam maior propensão a ter posteriores condenações de agressão sexual. Por outro lado, Langstrom e Grann (2000) verificaram que o uso de armas ou ameaça de morte durante a agressão sexual está relacionado com a presença de condenações por delitos não sexuais, isto é, crimes não sexuais.

Os autores do MnSOST, um instrumento atuarial de estimativa de risco para agressores sexuais adultos do género masculino, observaram a importância de avaliar o uso da força como previsão do risco de reincidência sexual para adultos (Epperson et al., 1998). Da mesma forma, os autores do SVR-20 afirmaram que tanto (I) o dano físico da vítima como (II) o uso de armas ou ameaças de morte durante o delito sexual devem ser considerados indicadores de maior risco de reincidência sexual (Boer et al., 1997).

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Cotação

Presente Durante a prática de qualquer ato sexual passado, o adolescente:

• Usou sempre restrição física ou agressão para além da necessária para controlar a vítima, OU

• Usou sempre, ou ameaçou usar, armas (independentemente da real posse de arma), OU

• Usou sempre, ou ameaçou usar, violência física contra a vítima ou pessoas significativas para a vítima, tal como familiares

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente usou sempre restrição física excessiva ou agressão; OU usou, ou ameaçou usar, armas; OU usou, ou ameaçar usar, violência física contra a vítima ou pessoas significativas para a vítima, tal como familiares.

Ausente O adolescente NUNCA fez uso de restrição física excessiva ou agressão; NUNCA usou, ou ameaçou usar, armas; NUNCA usou, ou ameaçou usar, violência física contra a vítima ou contra pessoas significativas para a vítima, tal como familiares.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

Dado que muitos dos agressores adolescentes minimizam a quantidade de força usada durante os delitos sexuais (Emerick & Dutton, 1993), é essencial obter informação de todas as fontes, incluindo entrevistas clínicas, declarações da vítima, relatórios policiais, e outros dados complementares.

9. Crime sexual contra crianças

Os adolescentes que cometeram delitos intencionais contra crianças ou pré-adolescentes apresentam maior probabilidade de risco de futuras agressões sexuais. A escolha de crianças como vítimas pode refletir, tanto interesse sexual desviante em crianças (ver fator 1), como atitudes que suportam interações sexuais com crianças (ou seja, que "as crianças não são prejudicadas" por interações sexuais com adolescentes, ver fator 3).

Ross & Loss (1991) sugeriram que os agressores que escolhem crianças têm maior risco de reincidência. Os dados empíricos de estudos anteriores com agressores sexuais adolescentes são ambíguos. Embora alguns autores não encontrem evidências de que ter uma criança como vítima está relacionado a um maior risco (Hagan & Cho, 1996; Långström & Grann, 2000; Rasmussen, 1999; Smith & Monastersky, 1986; Worling & Curwen, 2000a), Kahn e Chambers (1991) e Sipe, Jensen e Everet (1998) afirmam que o registo de um delito com criança está relacionado com o risco de reincidência de agressões sexuais. Relativamente à

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reincidência sexual de adultos, Epperson et al. (1998) observou que os agressores que escolhem crianças apresentam maior risco de reincidência sexual.

Cotação

Presente O adolescente cometeu SEMPRE crime sexual contra menores de 12 anos e crianças com menos 4 anos do que o mesmo, de forma intencional.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente cometeu SEMPRE crime sexual contra menores de 12 anos e crianças com menos 4 anos do que o mesmo, de forma intencional.

Ausente O adolescente NUNCA cometeu crime sexual contra menores de 12 anos e crianças com menos 4 anos do que o mesmo, de forma intencional ou previamente selecionada.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

O termo "intencional" é usado aqui para distinguir entre os agressores que conscientemente escolhem determinada vítima dos que atentam contra a vítima principalmente por causa das circunstâncias. Embora seja geralmente considerado importante assegurar que há, pelo menos, uma diferença de anos de idade entre o adolescente e a vítima, é também importante considerar fatores como a diferença de tamanho e nível de maturidade emocional entre o agressor e a criança.

É essencial considerar todas as fontes de informação, incluindo entrevistas clínicas, declarações da vítima, relatórios policiais e outros dados complementares.

10. Crime sexual contra desconhecidos

Os adolescentes que cometem agressões sexuais contra estranhos apresentam maior probabilidade de risco de agressão continuada. Isto pode ser parcialmente atribuível ao facto de uma menor necessidade de cautela e por ser possível que as agressões ocorram rapidamente, assim que a vítima seja identificada. Além disso, a disponibilidade de estranhos é certamente maior relativamente ao número de indivíduos conhecidos do agressor.

Nas diretrizes de avaliação de risco, Ross e Loss (1991) sugeriram que os adolescentes que escolhem vítimas desconhecidas apresentam maior risco de reincidência de agressão sexual. Até ao momento, a bibliografia que apoia este fator é consistente. Especificamente, Smith e Monastersky (1986) descobriram que a seleção de vítimas estranhas está significativamente relacionada com uma posterior reincidência sexual agressiva, e Langstrom e Grann (2000) relataram que os adolescentes que cometeram agressões sexuais contra um estranho apresentaram quase 3 vezes mais probabilidades de ser condenado por um delito sexual posterior.

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Resultados de pesquisas anteriores com agressores sexuais adultos do género masculino têm indicado que a seleção de vítimas desconhecidas está relacionada com reincidência de agressões sexuais (Hanson & Bussière, 1998). Os sistemas atuariais de predição do risco para agressores sexuais adultos do género masculino incluem a escolha de vítimas estranhas como um indicador de alto risco (Epperson et al., 1998; Hanson & Thornton, 1999).

Cotação

Presente O adolescente cometeu SEMPRE crime sexual contra estranhos de forma intencional. A vítima é considerada um estranho se ele/ela conhece o adolescente por um período inferior a 24horas, anterior ao momento da agressão sexual.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que cometeu sempre crime sexual contra estranhos de forma intencional.

Ausente O adolescente NUNCA cometeu crime sexual contra estranhos.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

As informações quanto a este fator podem ser obtidas a partir de autorrelato, declarações da vítima ou relatórios complementares. Alguns infratores podem alegar que as vítimas eram conhecidas por eles antes do delito, no entanto, evidências em contrário devem ser consideradas como uma indicação de que o agressor era de facto um estranho para a vítima. É essencial consultar todas as fontes de informação, incluindo entrevistas clínicas, declarações das vítimas, relatórios policiais e outros dados complementares.

11. Escolha indiscriminada de vítimas

Os adolescentes que cometeram crimes sexuais contra homens e mulheres, contra indivíduos dentro e fora das relações familiares, contra vítimas conhecidas e estranhas, contra vítimas de diferentes idades (ou seja, crianças e pares/adultos) tendem a um maior risco de reincidência. Em parte, o risco é provavelmente maior, pois mais pessoas são alvos possíveis de agressão sexual. A escolha indiscriminada de vítimas pode refletir um padrão de interesse sexual desviante mais diversificado (por exemplo, presença de crianças e sexo forçado com pares; ver fator 1) e/ou um padrão de atitudes de suporte à agressão sexual também mais diversificado (por exemplo, que "as crianças não sofrem danos" e que os colegas que o “convidaram” forçaram o contacto sexual; fator 3).

Embora atualmente não haja suporte empírico para este fator de risco, esta variável nunca foi objeto de estudo em investigações com adolescentes. Num artigo recente sobre predição de risco para agressores sexuais adolescentes, Epps (1997) observou que os agressores que escolhem rapazes e raparigas, ou que atentam

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contra vítimas de diferentes idades, apresentam maior risco de reincidência de agressão sexual.

Relativamente a agressores sexuais adultos, Hanson e Bussière (1998) observaram que há uma relação significativa entre reincidência sexual e agressões sexuais contra homens e crianças do sexo feminino. No SVR-20, Boer et al. (1997) observou que os agressores que selecionam vítimas diversas (ou seja, homens e mulheres, crianças e pares, conhecidos e estranhos) apresentam maior risco de reincidência sexual.

Cotação

Presente O adolescente cometeu SEMPRE crime sexual: • Vítimas do género masculino e feminino OU

• Vítimas crianças (menores de 12 anos ou com menos 4 anos que o adolescente) e pares/adultos OU

Vítimas relacionadas e desconhecidas OU

• Vítimas familiares e estranhas (se a vítima conhece o adolescente há menos de 24horas, anteriores à crime)

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente cometeu sempre crime sexual contra vítimas do género masculino e feminino ou crianças (menores de 12 anos ou com menos 4 anos que o adolescente) e pares/adultos OU vítimas relacionadas ou desconhecidas OU vítimas familiares e estranhas

Ausente O adolescente NUNCA cometeu crime sexual contra vítimas do género masculino e feminino OU crianças (menores de 12 anos ou com menos 4 anos que o adolescente) e pares/adultos O U vítimas relacionadas ou desconhecidas OU vítimas familiares e estranhas

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

As vítimas conhecidas podem ir desde um indivíduo com relação familiar forte com o agressor, relacionamento casual, meio-irmão, irmãos adotivos, primos, sobrinhas, sobrinhos e os pais. Naturalmente, será importante também considerar a duração do relacionamento. Por exemplo, uma agressão contra uma criança que chegou recentemente à instituição, não será provável que se cote como "familiar".

A vítima é considerada um estranho se ele/ela conhece o adolescente agressor há pelo menos 24 horas, anteriores à agressão. É essencial socorrer-se de todas as fontes disponíveis, desde entrevistas clínicas, relato das vítimas, relatórios policiais a outros dados complementares.

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12. Crime sexual contra vítima do género masculino (cotado apenas para adolescentes do género masculino)

Os adolescentes, do género masculino, que tenham intencionalmente selecionado, e agredido sexualmente, uma vítima do sexo masculino apresentam maior probabilidade de reincidência de agressão sexual. Porém, as investigações sobre agressões sexuais contra indivíduos do mesmo género do adolescente é inconclusiva. Tanto Smith e Monastersky (1986) como Langstrom e Grann (2000) descobriram que adolescentes do género masculino que selecionam vítimas do mesmo género mostram maior propensão para cometer posteriores agressões sexuais. Por outro lado, Worling e Curwen (2000a) constatamos que, tanto com agressores adolescentes do género masculino como feminino, o género da vítima (ou seja, o mesmo ou género oposto) está relacionado com posteriores agressões sexuais. Rasmussen (1999) também encontrou que o número de vítimas homens não estava relacionado a casos de reincidência sexual, num estudo realizado com um grupo de agressores adolescentes do género masculino. Dada a presença destes dados para homens agressores sexuais e apoio de dois estudos com adolescentes, este fator foi incluído aqui.

Em relação aos adultos agressores sexuais, os homens que cometeram agressões contra crianças do género masculino são classificados como de maior risco na Avaliação Rápida de Risco para Reincidência de Agressões Sexuais (RRASOR) (Hanson, 1997), na Static-99 (Hanson & Thornton, 1999) e no SORAG (Quinsey et al., 1998). Na meta-análise de estudos anteriores com adultos do género masculino, Hanson e Bussière (1998) constataram que a reincidência de agressão sexual está significativamente relacionada com a escolha de vítimas do género masculino.

Cotação

Presente O adolescente (masculino) cometeu SEMPRE crimes contra vítimas do género masculino de forma intencional.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente (masculino) cometeu sempre crimes contra vítimas do género masculino de forma intencional.

Ausente O adolescente (masculino) NUNCA cometeu crime sexual contra vítimas do género masculino de forma intencional ou contra vítimas selecionadas.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

O termo "intencional" é usado aqui para distinguir entre os agressores que conscientemente escolhem uma vítima específica dos que atentam contra a vítima principalmente por causa das circunstâncias. Por exemplo, um agressor que comete

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delito contra uma adolescente pode também ter sido visto com um adolescente. Neste caso, este fator não é cotado como presente.

É essencial consultar todas as fontes de informação, incluindo entrevistas clínicas, declarações das vítimas, relatórios policiais e outros dados complementares.

13. Comportamentos diversos nos crimes sexuais

Os adolescentes que cometeram diversas agressões sexuais apresentam maior probabilidade de risco de agressão sexual contra outros. Comportamentos agressores de variadas índoles sexuais podem refletir um aumento do risco por causa da escalada (por exemplo, primeiramente sem contacto e, depois, agressão com contacto) ou pode representar uma diversidade de interesses sexuais desviantes (ver fator 1) e atitudes sexuais desviantes (ver fator 3). Os autores das

checklists de preditores de risco para agressores sexuais adolescentes disponíveis

encontraram que a diversidade de comportamentos sexuais é um indicador de alto risco (Epps, 1997; Perry & Orchard, 1992). Até à data, este fator de risco não foi analisado na pesquisa com adolescentes.

Em relação aos adultos agressores sexuais, Hanson e Harris (1998) descobriram que os adultos com parafilias são mais propensos a serem acusados de posterior agressão sexual, por isso a SVR-20 (Boer et al., 1997) inclui a presença de múltiplos tipos de agressões sexuais como um indicador de maior risco.

Cotação

Presente O adolescente tentou ou aliciou em diferentes contactos, e/ou sem contacto considerado crime sexual, comportamentos que incluem (mas não apenas) exibicionismo, voyeurismo, telefonemas obscenos, perseguição, assaltos à mão armada, fricção, brutalidade, toque sexual, ou oral, anal ou penetração vaginal.

Provável ou Parcialmente presente

Provável ou parcialmente evidente que o adolescente tentou ou aliciou em diferentes contactos, e/ou sem contacto considerado crime sexual, comportamentos que incluem (mas não apenas) exibicionismo, voyeurismo, telefonemas obscenos, perseguição, assaltos à mão armada, fricção, brutalidade, toque sexual, ou oral, anal ou penetração vaginal.

Ausente O adolescente tentou um ÚNICO comportamento de crime sexual.

Desconhecido Informação insuficiente para sustentar uma decisão quanto a este fator de risco.

Referências

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