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Diário de um Pároco de Aldeia - Georges Bernanos

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(1)
(2)

t'

GEORGES

B

ERNAN

O S

' '\.'

i

l

''

_-

DA

TRADUçÃO

DE

Ed.gard G, d,a

Mata

Mqchado

llâc.

i

noit,,

1951

-â".".;o

/IGIR

€/,lo

"u

RIO DE JÀNEIRO

GRANDE PRÊMIO

ACADEMIA ARANCXSA

(3)

\

Coqjright da

^Il1r1'S

OR^I1CÂ,S INDܧTRIA§ II,EUNIDÀS

6. À.

(ÂGIR)

Titulo do original Irâncês:

"JÔIIRNAI, D'TIN CUII'É DE CÀMPÁGNE"

MINIIA

PÀRóQUIA

é uma

paróquia como

as

outtas,

Tôdâs as paróquias se parecem. As paróquias de hoje,

na-tumlhente,

Ontem,

eu dizia

âo

vigário

de Noreniontes: .o

bem e

o mâl

devem equiliblar-se

numâ

pêróquia. só que o ceníro de gmvidade

ó

colocâdo em bâixo,

muito

em bâixo.

Ou, se se prcfere,

üm

e

outro

se sobrepõem, sem misturar--se, corno dois liquidos de densidade

diÍerente.

O padrê

du

em

minha

cam.

É

um

bom cum,

muito

benevolente, muito

pâtemal e

que passâ mesmo,

no

Àrcebispado,

por um

espí-lito

Íorte,

um tanto

perigoso. Suas troqas fazem

a

alegria

dos prêsbitérios

e

êie as apoia com

um

olh

que desejaria vivo, mas que eu acho, no fundo, táo gasto, tão cânsado, que mê dá vontade de chorar.

Minha

paróquia

é

devorada

pelo

tédia,

eis

a

pâlavr4. Cor4o lantas oulras paróqLlias

I

O Gdio as devom sob nossas

vistâs e nada podeúos

fazer.

úm

dia, talvez,

o

coniágio

to-mârá

contâ de nós, descobriremos em nós êsse

câncer.

Po-de-se viver

muito

tempo com isso.

A

idéia me

veio, onteÍn,

na

estrada.

Câía

umâ

de§§âs

chuvas finâs qu€ nos peneimm os pulmões inteLos e de§ceú

até

o

aenhe. Do lado

de

Sâi

t-Waast,

a

aldeia surgiu-me bruscamente,

táo

coníusâ,

tão

miserável sob

o

horrível

céu de novembro

!

vapôres d'água subiam, como fumo, dê tôdas as

paltes e

ela parecia ter-se deitado, â.1i,

na

relva úmida,

corno

um

pobre

animal

cansâdo. Que coisa pequenÊ, uma

aldeia

!

E

essâ aldeia era

minha

paróquia.

Era

min]1a

paró-quia

e

eu nada podia fazer

por

ela; via-a idstemente

mer-gulhar lra noite,

desâpaxecer...

Mais

alguns momentos, e

não enxergava minl1a pâxóquia. Nunca havia sentido táo

cruelmente sua solidão

e'a

mlnha.

Peu§âva

no

Sado que ouvia

mugir

em

meio

à

cerraçáo

e

que

o

vaqueidnho, de

yolta da escola, malet8. debaixo do braço, ia conduzindo,

âtrâ-vés do pasto úmido,

paÍs o

estâbulo quente, chetuoso.,.

Il

ela,

a

pequena aldeh..

parecia agurúdar lamb{:m

-

sem grande espemnça

-

depois de tantds noites passadas na 1ama,

,,1

I

í

,i

Litrorid

AGÍP"..

..

Rio dc Janeiro

-

Iiua N{éxico, 08-B

-

Caixa Postàl 3201

rirL' r,rnlo

-

nuâ Eráulio Gomes, 125, loiâ 2

-

caixâ Postal 6040

Ihlo

lli)lizontc

Avcnida ÁfoDso Penâ, 919

-

Caix4 Portât ?33

ii

t\

{

1 I

í

rNoxsÊço rELEaniFrco "ÁcrRsÀ'

(4)

GEORGES AEENANdS

urlr (loro qrtr a conLiuzissc parâ algum implovávcl, algum

ini-ntllgillrivcl

:lsilo.

()lr

!

bI.tn

sci qüe

tudo

isso são idóiês loucas. quc não lx)sso lonrÍr

iits inlcilamcnte

â

sério, sonhos apenâs

I...

As nl(l(

irs

x:i() sc k.vaotam, à voz de

unt

àluno de

gIulo

cscolâr, corJx) os

bois.

Não importa

I

Na

târ'dc de ontem, âcho que

ulrl

sr1)10

â

tinhà

châmâdo.

Diziâ a mim mcsmo que o mundo ó devolado pelo téc1io.

Nàtulrrlmente, é precisc

refletir um

pouco para dâr'se conta

disso; n,,.o é íal.o que se apreenda àssim, de relence.

É

uma

r.l

,

r' il(

pó.

À

gFnl^

\..i

ê

volll

s'

m

o

vcr. l'.cpirr.o,

«)me

o,

bcbc-o;

é lão

lênue,

tão

flno,

que

nem ao

menos r-âIlce sob os dentcs. Mas se

a

gente pár:r

um

segundo, ei-io

quc

(iobr'c Dosso

losto,

nossâ

máo.

Temos

de

nos sacudi!_,

s0r11 cassal, p:i]'a libe]ta1-nos dessa chuva dc cinza. DÂi

por-quc o

nundo tanlo

se âgi1a.

DiI s$á

talvcz quc,

há muito, o

muúdo se Íamiliarizou

Í{rm o la{lio, que o tédio é a verdadeira conclição do homem.

lir lx)sslvrl

qur â

scmente, cspalhadâ

por tôda a partc,

ger-nrirrLss(.. aqLli c

ali,

em telr'eno favol'ável. Pergunto. porém,

ii,

os lroDl(,ns conhccelalr âlgum

diâ

ôsse contágio do tódio,

r,:lir

L,l)rl

I

Ur,r d.sospôl'o melog-r'ado,

uma lorma torpe

do rl(.ii.rlx,ro (tuc

c, ri(tn

(lir!id.,

como que

a

íermeníação de

llIr

cri:ilillliriIro

í1.|lirtrrr,i)do.

I

vrl, rrIr.rrr,.rrIi, rri)o irli,ills qtlc ou gualdo para

mim.

Eü-lr,lrril,, r ,'

rir,

(.r)vr,ri,(,rlro

(lclas.

Acho

até

que podelia

,\t,rrrl

Irr

rrIrl0 l!,rr,

lr.rrr

rlr llrir

1alvc7, pâra rneu

sossê-lt"

rlr|.rI

rlr,r

I

I,

irir

:x)rir r,j!)

{l'

llrinltr

con5c;ência.

o

otj-rrl'r!,

,1,, I

rrtr.r

or,

r

llr,rr,

Lr ,1) rl)l( lxrn(in1,o. Os que ainda

,, I'r,'1,.,..rrr,

lxrr

lril)i10,

r,rfll

u(jr.cCital ltôle.

^

rif

r,'r

,'l'

,,.r'r.

r1llll

t,lr(.;llrr

rr'

rllr

rí)ü i]ir)s sillnilicâtivos;

'ri,.,.,

lfll, r,

,1, , ||Lt';r

lrir

r,

r,.rr

olrrrrlirs.

()r

t)udr'cs vclhos

tr,

l

,,

L.

I

llti]lI

rlririrri..

^tx,!Ir

(lxs rl)rl'ôncjírs

,.

,

r l!

r.r

, r ' I I I

r | | , i , . i I

I lr

l]|

,r

r.,,rlo

!,r' l,l|I

iÍ).

aliás

imutá-\,

L'

Ii rr, ,.r

,l,nlllr,r(.rir

i'lr(,irLl

lliro

rriro

os

nlcsmos;

r,'.

o,

IIrIIr.|,iI|IIiIIlt'ji

lll(' ()i

I ( I 1 ) I I I I ( \ ' I , I I

I

tlritiS. Outlor'â, pof

i\,

llrlrl(,,

r.,(ullr

lrir(L,ilo

li ltlt

rr)rllo ifiscntado que

üm

DIÁnÍo DE

úM

P,(!oco DE Á!,DErÀ

discurso episcopal hÀveda de terminar, invaliàvelmente, com

pludente

alusáo

-

convicta,

ó

ver'dadc, mas pluclente

-

à

perseguição plóxiina e ao sangue dos máItir'es. Tais predições

tolnâm-se cada Íez mais Laras, hoje erl1

dia.

Provàvelmente,

porque sua realizaqão pârece menos incerta.

Oh

!

uma p:rlavra que começa

a

correr os

presbité-rios,

uma

dessos

i

alâvras

honíveis

â

que

chamamos de

"poilus"

que,

não

sei como,

nem

poi_ que, pareceram

inte-ressantes âos nossos ântecessores,

mas

que

os

râpâzes de

minha

idade

acham tão

dcsagradáveis,

tão

tristes

|

(Sur-pre"ndê. 3liác,

..mo

:.

Biria das 1r'inchriras conscÊuirl

ê\nri-mir

tântas idéias sór'cliclas

cm

imâgens lúgubres; mas será

realmente

a

Siriâ das trinchejras ?) Repcte,se, pois, nâtural-mente, quc

inirtit

tentar compreendel'.

Meu Deus

!

Mas

se é disso justamcntc que se

trata

I

Sei que há os supcl.iores.

Quem informa, porém, aos superiores ?

Nós.

Então, quândo

exclÍFm a obodiinl.ril F a

j'r'plicidcdc

do" mongê".

.a tnim,

Iazem.no.m \ão: o

i,'g-m!nto

nro

mc imlllrs.Íond,..

Todos somos c:ipazes de clescascar. batstas

ou

cuidar de

porcos! desde que

um

mestre de noviço§ no-to Dande Íazer.

Mas,

umâ

pâróquia

ráo

é tão

fácil

de regalar com atos de

virtudc

como uma simplcs com-,-rnidâde

!

Tanto

mais que os

paloqlrienos

o

hão de ignor-a} sempre; aliás nunca

o

have,

liam

dc compreender.

O Árcipreste cle Bailloeil, depois que se âpresentou, fre-qiientâ cíjm assiduidcdc os

RR. PP.

Cartuxos de Verchocq.

"O

quc

vi

em Verchoq" é

o título

de uma de surs palcshrs

iL qu:rt o deão quâsc nos obrjgou a âssistir. Ouvimos 1á coisâs iDl,a],cssantíssimas, cDocionantes m€smo,

polque

êssc velho

irrrlalct

coLSCIvou âs inoccn'Les manias

do antigo

l)tolirssol

(k.

Iil.râtur'a, e

cuida

da

diÍr(.io, como das

unhrs.

I)ir

se

rlr,, i.

ri^rlfL

.. l,

rr.,

,rJ rnr.:m., 1r

rnlo,

il

lrfc ,.nr'.. llr,lrôv.i.

ví'l (k)

Sr.

^úâtole

Fr'àncê,

Í:lrtlc

sl.rs olrvilrl,r's d(, sotaina, e

{luc

lhc

lx.dia dcsculpc, cm nornc dc

Í)cl|i

o (lo lrumânismo, (()Dl olhâlcs suiis, sorrjsos cLirnl)1j«'s

c

Io(lrrios arn'iculâIes.

I:nlrnr,

pirrccia

quc.ssâ

csp,icjc Llc roquolisnlo eclesiástico

(5)

aco-{

GEORCES EIRNÀNOS DI.4xIo DE ÚM PÁnoco DE ÁLDEIA

lhimcnto

àqn.las

palavras.

(Sou provàvelmente de naturczâ

muito }u(lc,

nuilo

grosseila, mas confesso que

o

pâdre

ie-lilrlo

s|rnpr'o

rlrc

inspir'â

horror,

Flcqiicntar os

"bclos

es-piril{rs"

ó Como que

jantar na

cidade

-

c não se

vai jantâl

Do

cklr(k,

tl'ndo sob as vistâs gente que rnorre de Jome.)

I4nr r'csumo,

o

Sr.

ÁJcipteste contou-Dos

muitas

ânedo-tâs quc chama, segundo

a

modâ,

dc "Ílechadas".

Creio ter

coml)r'ocndido.

Infelizmente

não

me

sentia

tão

comovido quanlo crâ de de§ejar. Os frades são incomparáveis mestrcs

da vida interior, ninguém duvida;

nras

pelâ maior

parte,

essas "flcchadas", como o bom vinho da terra, devem ser sâ-boleadas no

lugaÍ

de origem. Àltetanr se durante

â

viagcm.

Tâlvez

ainda...

devo dizer

?

talvez que

êsse pequeno

número de

homcns reunidos, vivendo 1âdo

â

lado,

dia

ê

noite, cricm,

scm que

o

saibam,

certa

atmosfcra

favorá-vel...

Também

eu

conheÇo alguns coâventos.

Vi

religiosos

rcccb€rem humiidemente, rosto em

te[a,

e

sem murmurar. â repreensão injusta de um supêr'ior empenhâdo em lhes

que-bral

o

orgulho.

Mas, ncssas casas a que nenhüm eco de fora

pertruba,

o

silêncio

âtinge umâ

quâiidade,

uma

perfeicáo

vcldadeirâmente extrâordinárias; o rnenor borborinho é cap-tâdo,

ali, por

oüvidos de sensibitidade

esquisita,..

E

si-lêncios de umâ saia de capitulos que valem

por'um

estrépito dc aplausos.

(Enquanto que

um

sermão episcopal. . .)

Reli sem prazer essas pdmeiras páginas do meu diário.

Certamcnte, r'efleti

muito,

antes de

mc

decidir

a

escrevê-lo. Isso, por'ém. não me sossega o espír'ito. Pâra qualquer pessoÍr

hâbituada à prece,

ã

reflexão é, as mais das vêzes,

um

áIibi,

uúa

sorrateirâ Íorma de nos

confirmar

cm

um

designio, O

Iaciocínio deixe Iàcilmente na sombla

o

que desejamos con-scrvâr

oculto.

O homem do mundo que refiete, calcula

per-Iritanlcnte

suas possibilidâdes

!

Mas,

que

poderiam

vâlcr

n{)sjrâs lx)ssibilidades, a nós, que aceitâmos, umâ vez para sefi-l)r(,,

ilhrrivel

pre§ençâ;

a

presença

dc

Deus ern cada

ins-lil.lrl.(,rl( nt)ssâ ])obre vicla ? Sob pena dc pcr'{ler a 1ó

-

e quo llro r'orl.rüá, cnlão, visto quc não pode pcrd0-la scm ncgar q

si mesmo ?

-

um

padre jamais poderia

ter

de seus próprios interêsses

a clarâ

visão

tão dirctâ

-

gostaria

de

dizer tào ingêr'ruâ, tão simples

-

dos filhos do século. Câlculâr nossas possibilidades, pÂra quô ? Não se jogâ contrâ Dcus.

Recebi

a

resposta

da

minha

tia

Filomena,

com

duas notas dê cem tL'dncus.

juslam,nl"

o

n,ce\rá_:o nJ

g o

l.:1i.

urgcntê. O dinheiro

desliza entre meus dedos, como ârcia;

é espantoso I

É preciso confessar qr:Le sou de umâ idiôtice

!

Assim, por exemplo, o forneccdor de Heuchin,

o Sr,

Pân1vre, quc é um

homem honrado (dois de seus filhos são Dedres), Lecebcrr_rre

logo com

muita

amizade. Todos os meus colegas sáo, aliás,

seüs fi'egueses.

Insistià

scmpre comigo, nos fuDdos cle sua

vendâ,

pâra âceitar vinho

quinâdo

c

sequilhos. Câvâqueá-varnos

unl

bom

tempo.

Ê1c passa

por uina situaqio difícil:

uma

de suas

filhas

está desen, .Dre[lada,

e os dois

rapazes,

que

estudâm

na

Jaculdâde

católica, comcrnlhc nruito

cli-nheir.o. Dm lesumo, cêrto dla, depois dc leceber minhas

et1-comenclas, disse-me g{rntilmcntc:

*

Vou âcrescantâr tr'ôs

garrâfas de quinado;

ser-vea pare the dâ? mâis cór !

Eu

acreditei, tôlamente, que

o

Sr.

Pâmyic me

pro-senteava,

Um pobre coitado que, aos doze àncal, pass:r do Lln]x casa

miscrável para

o

seminário, nuncâ poder'á sabcr

o

Í:rlor

do

djnhcilo.

^credito

mesmo quc nos é

diiicil

scr t','.it|ilirlD.'l'rc

honesl,os el1r negócios. É nê1hor

rão

Í[exer',

rindr]

cllrc lno-{,('nt(mcntc, corn

o

quc

â

meior

pallc

dos

lciÍlolj

collsidcr-a nào

lrnl

meio, mâs

un] Íim.

Mcu colegâ de Verchin, que nÍio ar s(Dl)rrr (1,,s

nl:lis

dis-cr(,lírs, âchou quc devin fâ2, r. / r'r íi)i r (l!'

l,

,jr, r'.riL.fâ, alusáo :ll)

rllll

cnLcndido,

com

o

l)r'óI)rjo

sr.

P:Lü1yro. Ês1e {icou iriDcri'umcntc contrar'1âclo.

(6)

i(

10 GEOÊCES BERNÂIiÍOS Dr.ÁÀro DE

uM

PÁloco DE

ArDErÀ

11

-

Quc o

Sr.

Vigário venha quântas vêzes quiser, disse, têrcmos prozer cü1

tomâr uns

golezinhos

juntos. O

vinho

não cstá âssim tão pela hora da morte, grâçâs a Deus

!

Mâs

ncgôclo ó Degócio, não posso dar

minhâ

mercadoria de mão

beilodo.

E

a

sra.

Pamyre parece que acrescentou:

*

Nós, comerciantes, temos também nos§o§ deveres de estado.

Decidi esta manhã

continu

a

expedência, mas só ate

completar doze meses. No dia 25 de novembro prórimo, porei

no

Íogo êsses papéis e

tlatarei

de esquecê-los. Essâ

Íesolu-ção, tomada depois

da

missa, sossegou-me

o

espírito, ma§

só por um momento.

Não é

um

escrúpulo,

no

sentido exato da

palawa.

Não creio Íazer

mal

âtgum, anotando,

dia

a

diâ,

com âbsoluta

Jranqueza, os humílimos, os insignificantes segredos de umâ

vida, aliás, sem ryústédo. O qüe vou

fixar

no papel não en-sinará grande coisâ ao

único

amigo com

o qual falo

aindâ de corâçáo abeúo; e,

no Jinâl

das contas,

sinto

claramente

que nunca terei coragem de escrever o que eu confio a Deus, quase tôda manhã, sem constrangimeníos. Não, isso nâo se

par.ece com

o

escrúpulo; é antes uma espécie de mêdo

irra-cional, como que

uma

âdvertênciâ do

instinto.

Quando me scntei pela

prilneirâ

vez

dlante

dêste caderno escolar,

pro-culel

tirar

minha

atenção, r'ecolher-me, como para

um

exâ-me de consciência. Mas não

foi

minha

consciência que

vi

com êsse

olhar intedor ordinàdahentê tão

calmo,

tão

pe-Dotrontc, que não se detém no pormenor, que

vai direitô

âo

c^lscncial

Parecia escorlegar

na

superÍície

de

uma

outra

(r,rrs(iiôncia

âté

então

desconhecida

de

mim,

um

e§pelho

l,urvo

(lo qual temiâ ver surgil, de

repente,

um

semblânte

-"

qrto r('mblante ?

o

meu tâIvez

?...

Um

semblante e§que-cklo, Dovomcntc cnconhado.

Seria

necessário ÍaLar

de

si coú um

inflexivel tigor.

E ao Drimeiro esÍór(o para se

agarrrr

a si mêsmo donde

!ém

essa lliedade, essa

lernura,

êssc relaxamento

de

tldas

as

fibras da âlma, essa voniade de chorar ?

fui.

ontem,

ver'o vigário

de

Torcy.

É

um

bom pâdre,

hujto

pontual,

quo

eu

aaho

ordinàrjamcnle um lânto

!u[-EaÍ,

ur;

filho

de camponeses ricos que sabc

o

valor

do

di-iiheiro

e que

tem

p.rande ascÊnclência sóbre

mim

por causa de sua exipriência"do

mundo

Os colegas dizem quê éle será deâo de

lieuchin.

..

suas maneilas comigo me decepcionâm baslânte. Doroue êle nào gosta de confidê$cias

e

sabe

ridi-cularizá-ta; com um lârgo riso bonacheirào

muito

mais fino, aliás, do que me parece. Meu Deus, como eu gostâria de te1 sua saúde_, sua cõragem, seu equilÍbrio

!

Mâs

cÍeio

que -êle

tem certa

indulgêncú

para

o

qúe chama

minha

sensibilice,

Dois sabe oue issó n.io é para mim umâ ionto dê raidadel

th

!

'hào

I

ltá

ir".mo

bastâite

lempo

já,

que

não

procuro con-funalir com

a

verdadefua piedade dos santos

-

iorte e

doce

-

êsse

temor

infantil

que em

mun

produz

o

sofrimento alheio.

-

Naala excelente

sua

fisionomia,

]neu

pequeno !

É

preciso dizer que ainda

me

sentiâ tmnstornado pelâ alescompostura que

úe

passou, poucas horas antes,

na

sa_

c

stia,_o velho

bumonchel.

Deus sabe que

eu náo

queriâ

perder' tempo, nem me abouecer com os tapêtes de algodão,

ãs

vestes

úídas

de traças,

e

as velâs

de

sebo pagas muito

caro ao lornecedor de

S. Excia.,

mes quê sP deslazem lo8o dêDois de âce.âs, com

um

bârulhinho de

tligideirâ no

Íogo' Dá las-ia, gratuitamenl,e, e com

muito

góslo. Só que os

pre-ços são os pr€ços; que

hei

de fazer ?

-

O

senhor alevia

botar

êsse homem

para fora de

sua casa.

E

como eu Protestâsse:

*

Sim senhor,

parâ fora,

pedeitamente

!

Áliás, eu co' nheco ésse

tal

Dumonchel: o ve)ho tem com que

viver.. .

Sua

deÍulnta

mulher

era dlras vezes majs

ricâ

que êIe

(7)

ba§-12

cEoncls

BEENANoS

tanto

pâr'â

scl

cr,terlaala

dece[temcnte,

Vocês,

os

padrcs moços. . .

Ficou

lodo

vlr'melho e olhoü-n1c clc

alto â

baixo.

-

l:lr

ln

r.ll1'o

o qu.

os sênhot1- lôm

n-s

veias, hoje. vorr's,

f:Ilrrs

,n.,-os

I

No

m'

il

lômt,J lir..t.t1cm.se

hOm(:rS da

Igreiâ

-

não

.idianta

f1-anzir

a

tcstâ.

sinto

vontade de

esbofeteá

]o.

Sim, homens cla Igrejâ, tolüc

a

palavta no

sen-tido cm

que quiser, cheics cle paróqrlias, senhor.es

e

donos;

afinâ],

homens câpâzes de goveular'. Essa gente domlnâva

uma

reg_ião

intaira.

sem

outlo

gcs1.o que

o

de levântâr.

im-p,rrti\dm^n:e o

,'oçlo. Oh

I

iá sci o

q't

você

vai Ciz:r:

êlês

com;1m b ,nr. bêb'am m. 'hna

.

n:

o

'r^.I)rêzâvâm

o

b.rrclho,

De

acôrdo

I

Quando se

Íaz

corlveni.r'lic_mente

um

trâballlo,

ôle ânrla depressâ

e

bel,,

sobrânCo

tcul]lo pârâ

descanso, o

qu

e bom p|rra 1ódi

c g.n

,.

AEo"ir.

o.

sê.ninát.ioc nos n

an-d.m

co"oinhr..

uobr..coit.rlo5

qrt.

ifldqinam

lrrb".hoa

mp"is que ninguém, polque não

cheljâm:o fim

de coisa

àlgu-rÍla.

Êsses

tipos choramingrm.

yez ale

mandar.

Lê-cm n1ultidões de lir'ros, mns n'.lnca chagam

a

compleenaler

-

a ccmpleendcr, está oüvindo

?

-

a

plrábola do

Espôso

e

ala

Espôsa. Que é umâ espôsâ,

tal

como dcsejaliâ encontrar um

hon-c-n. sê Á

bJ"'xrll^

id:.la

p:

r.., ".;l.ir

o

^ons.r,ro do

Sio Prulo:'

I,,l;o

r'

.noh

r.

;ô.quc

ir

â ;:rFr toli..q.

po :, nnliito bem, é

uma

criâtur:a {ol.te

e íI.me no

tr.abelho. mâs

qüe se submete ao ritr'l1o inexorável das coisâs, sâbcndo que

tudo

delc

ser reconteccdo, aLó

o

fim.

Por.

mais

que se ês-Ior.cc,

a

Sânta

Igrcjà não

consegurr'á

trilnsiolmar

ê!1rc

t)c-brc

munclo em

um

ostenijór;o de CaIIro c1e Deus

I

Tive

om ôulr'o.

iem0cs

. tclo do

nr,-'.J enli.j

(

frroq.'ic

-

umc

r'nl-l)legada" surprcendenlê, rü1]e boa

iünã

Bl'uges,

sccull]ri-zâda

cm

1908,

um

grandc coraçaic. l{os

oito púmriroÍj

(lins, lustr'a que lüstrâ,

a

{tasa de l)aus se pôs

â leluzir

corno ullr IftrLr1ório í'le

conlento;

rrão

a

rccoqhecia

mâis,

pitlirvl

rl(.

honra

!

Itstá!'àll]os

no

tempo

da

colheila; qücr (liz(\.

{llro

rliio âptfi{iia

em

nlinhâ

casti nam

um

gato, c l1 lnrlíttll(

I

vl,

lllilllrjI

i,:.,

qu.

'u li

',...,

o.

..f

.iós. rL

n.njr

,t't'

l,.rlr,,

holror'a

clliDrlos

!

Plnso qric ela chrgou

a

l)rLgú los rlo

Írll

DrÁlro DE

uM

P/iRoco DE

Ár,DEra

13

bôlso. Tôdâ rnaDhã, bem cnten.lido, encontravâ

uma

nova camada de

ncs l):rncos,

um ou

dois cogumelos novinhos

no tâpête de cordo, e

tlias

dc aranha

-

Eil, mcu pequeno !

-

teias de ar'anha lailiar'ue para fazer un1 enxoval de noiva.

"Eu

cllriâ a mirn rllesl1lo:

lustlc minhâ lilha,

você verâ,

domúgo.

E

o

doirlrtij-o cl1c3.u. Oh

!

ul1.l domingo como os

outros, nâdà dc Íc,LNii eorlr r:cpiques de sino;

a

clientela ordi-nár-ia, qual

!

L/lisÚl;l:

I lll

rr-l,

à

meia-noitc,

clâ

elcerava e

esir.egàva aindâ, (lc vcl:i

na mã0. E

aigum{is scmanas mais lalde, no dia dc Todo:j oa §iântcs, ürna missão de ânâ§ar,

pre-gadâ

por

dois padrcs -iedentoiistâs, dois

tipos

enormcs

!

Â

,Lerrz

Dass.rvâ

\u....r\i,

t'-1:rrl'.rs

Inlrr

s.u

bald'c

r, u e..óvJo

-

r rotl.

rq

r'1o'1.!r

-

d!

lrl

tnodo qLe o mu.go

,r,m, aavd

a

subir n

.j

,

oluna

i..i

'ri.

e

i

r..

s

n3\c'am

nrs

jur1t,üas dos ladr-ilhos.

l{ao

heÍja jcito

de fazer

a

boa

irmá

raciocinat.

Se eu Íôsae o.ivi-l4, ninguém trânsporia a nTinha por-ta, para que

o próplio

Dcus não sujasse os seus pés

Ía

lÊ-.ia;

im3Si.r,

I D'/i..li,c: '^

senhors r.lo

srruirra.:

coln a colnpla de rêmédio!"

-

porquêrciâ 'úo!siâ. pobre

vclha,

AÍi-rlill,

caiu de cal]la, corn

nina

crise de rcrimâtismo

ârticulal,

o

corâqão frâqueiou,

c piuf

!

eis

uma

boa

irmã

diânte

de

Saú) i,odlo

!

Dm cerio scntido, ó u,a mári,ir, não se podc sus_

tonlâr'

o

cont!ário.

Scu

êr1o

não

loi

combâter

Â

imun_

(11(iir', ó calto, mas

tcl

qitelido acelJal co11l ela, como se fôsse

tar

.i!,1.

Um,

1rcr,,1-',

i

lr.,'o..rr.crr!, suj.r.

L

4,

cris-i:,url..,lc

i

liuilx

nr..i

, \u

a.

rspcl'c

o ftandc

di,

(lo

JuiTo

Í'irrl,

vocô hir de ver o Liue os ânjos

tel'to

de rotirar'dos con-vr,rrlor; rnLlis sâ11',os, às ira,s,

-

quc

lixc

I

Pois .ntaú), menino,

lir()

Pü)vir quL'a!

lgrcjâ

deve scr

ilma

boll dorlà dc cas3,

§ó-lllli I

riLz{riv{q.

Àilirhl

l)oa

ilnrã

niro cro uma vcld!1(l('irâ

do[a

(ll, r'iLlir: uDr! vfr'(lâdcilo (bnír (lc (irsx

s[br

íllr('§llr

(rüia

nío

i.

lrr

rrli(liiljo.

Mir:;, isso

Ir(k)

rrirí) i(l(iiirs

rl{

lxxliI

l"

l,lrrln,riLvoqor.ilc(lrlt:rri

( iri.

I

' i I I Í I r I r r r r t i )

rnrhia

de nolo

rx,ll

r'IIlrirrlx), lltrloi,

rr('ro (ll'irtr

iI|',LrIrr('rrI(', c(»Iv.ncê-lo de

rt

,.

o

r rr

,rl)lr)

)lrL()

l(r'll

li

lvr'2 lx

rr

rrí!)llri(lo:

qr]o cssa

(8)

14 CEORCES EERNÀNOS

coroinhas, os pobres diabos .,que

choEmingarn em vez

de

dar ordens".

-

Desengane-se, disse-me êle sêcamcnte,

A

ilusão

é

a

mesma. Só que os pobres diabos náo têm

a

perseverança de

minba

boa lrrúà. eis

tudo. À primeiÍa

tcnta'liva. sob

o

pre-tcxl,o ch quê

a

exll]eriéncia do_minisle.io nào confirrna iuas idêiazinhas, desistem de tualo. Só servem parâ comer doces !

f

uma cristandade, como um homem, não se pode alimentar

dê confeltos.

Nosso Senhor

náo

escreve

oue

somos

o

mel

da terra. menino. mas

o õal.

Ora. nosso poüre mundo se pa-rece com o velho pai Jó,

sua esterqueira, cheio de chagâs

ede

úIceras. Sa1,

na

châgâ vivâ, queima. Mas impede tâm-bém de apodrecer. Com a idéiâ de

exteminar

o diábo,

outla

mânia de vocês é a de serem âmados por câusâ de vocês mês-mos, entenda-se.

Um verdadeiro

padre nunca

é

am-aalo;

guarde isso. E quer que the diga ?

À

I$eja

pouco se lhe dá

quc vocês sejam amados, meniDo. Sejam

pÍimeirc

respeita-dos, obedecidos. Á

Igreia

precisa de ordem.

Tmte

de ordene! aa coisas

durante

o dla.

Ponhâ

as

coisas

em

ordem,

pen-§ando que

a

desordem prevâlecerá

no dia

sêguinte, porque, ai de nós, é jusiâmente na ordem das coisas que a

noib

Aes-barata seu habâlho da véspera

*

â

noite pertenee ao diabo.

-

À

noile. disse (sabia que

o

ia pór

turioso), náo

per-tcnce aos Ír'âdes ?

-

Sim,

respondeu,he

friameÍrte.

ÊIes tocam música.

tr'iErgi escandalizar-me,

-

Nadâ tenho

contla

seüs contemplativos, cada macaco

no seu

galho.

Músicâ

à

parte, são também Ítoristas.

-

Floristas ?

-

PerleitamÊnte. Quando atrumamos

a

casa, lavâ.Ílos

r

louçâ, dcscascolnos

as

batatas

e

colocamos

a

toalha

na

rn(,ir[. {,ndlcmos de

llores

frescas

o jarro; é natural.

Note

íIrÍ, D)lrlxr

pcqucna compalação só pode escandalizar os

im-lx1

l,lx,r'rlu,.ó

r.luro

quc

CxisLe

uma

ccjlo ditcrcnçâ...

O

llrftr

rtrlHlll,,r rrrro

n o

litio

rlos círmpos. E, alóm

tlisio,

sc o

lÍ)Ín'Ir

lr1,li,r(,

llnt

l1ló

â um

Ícixo

dc

pclvincos,

ó

quo trôo

l,ltlru

(1(,

llll

bnll,(),

uÍl

Íilutão

I

Um

losumo, Bcu6

óol.ltern-DrÁRto DE

uM

!ÁEoco DE

Ar.DErÂ

15

plativos estâo muito bêrr prepâxados para nos Jornecer flores, verdadeiras

flores.

Infelizmentê, há, às vêzes, sabotagem nos dâushos

-

como algures

a

miúdo nos enganam com ÍIores

de papel.

Olhava-me

de

esguelha, sem parecer que

o

estava fa-zendo e, nesses momentos, creio

ter

percebido

no fundo

de scus olhos

múta

telnura

-

e

como dizer ?

-

umâ

espécie

de inquletação, de ansiedade. Tenho

minhâs

provações, êIe

tem

âs suas. Mas

a mim

me custa calá-lâs. E, se não falo,

é. pobre de mim. menoc por heroismo. do que por êsse pudor

que. segundo dizem, os médicos também conhecem,

a

seu

modo

e nâ

ordem de lreocupações que

lhes é própria.

i{o passo que êie calará suas mágoâs. aconteça

o

quê aaontecer:

.

sob sua exl,ravagante sinceridade será

mâis

impenelrávêl que êsses Cartuxos que uma \,ez cruaaram comigd, nos

cor-redores de

2..,,

brancos como cêras.

Bruscamente colocou

m|nha mão

sob

a

sua,

Íúo

in-chada pelo diabete, mas que aperta ràpidamenter sem vacilar,

dum, imperiosa .

-

Você di-rá tâlvez que nâdâ entendo de

misticos.

Sim,

você

dirá

isso; nâo se Íaça de bóbo.

Muito

bem, meu caro, hâvia no meu tempo,

no

seminário maior,

um

professor de

direito

canônico que se julgava poeta. ÉIe fabdaava os

ver-sos mais incríveis. com os pés que Íôssem necessários, rimas, cesu!âs

e tudo,

pobre homem

!

Seria capaz de

pfu

seu di-reito canônico em versos. Só lhe Íaltava üma

coià,

chame-a

como quiseÍ,

a

inspiração, O gênio

-

ingeniunl

-

sei 7á,. De

minha parte,

não tenho gênio. Se

o

Espírito

Santo me chamar algum dia pam o convento, deixarei por aqui

rllinha

vassoura ê meu esftegáo

-

que pensa você ?

*

e

irel

dâr uma volta pelo céu, a

fiÍn

de

aprend$

música com os

se!â-Íins,

sob

a

condiçáo de poder desentoa!

um

pouco,

no

co-mêço. Mas hão de

permitir

que, antes que Dcus levante a

batuta, eu

possa estourar

de

rir

na

câla

dos

que

cantam

no córo !

Refletiu

uÍr

momellto e seu rostor erhbota volíado pâra â ranela, pareceu-me, de repente, sotnbrlo. ,q.É os tmços de

(9)

16 (}EORêES BERNANOS

su|r

Íisronom'â

s.

cndurFcerom.

co'llo

ce

óle

csperas

ê

di

i;;r"';';;;"-,it;nrio

lalv'z

do

\ux

'ons''iência

-

uml

ãti..-o.

,,,

,1,

'ri

ni:.to.

nâo

s^i

o

qrrc

Àliás

quase na

,.orr'. -

L"ir,"

ii-;oiÀm'ú'

i

e'e

ur.'. r'.lPdz de

tolt.lo

nJo

i,.:.t ii,;-,

--.

ti,d,,

n

"u,

mú''i'r

n-'

o

l.teservou do

pê-#a; ;.;*;,h ú"í.rr,

"'nubrcs

c.r''Lores

b'm

lensantes

à",1"i,üii""rn

v.r'

cln

s:'r'ri'"

prIJ c\pulrâcio

imasinam

".i'.

lli

nr,ri;

"àii;0"

n

t.r

muiru

â

\unl3de no ôxtâse qLre ar

"';,,;;;i,"

que:rLirrlro

'

a'';Lr'ô

'r.'mon^"'iode

Àb'â'io

se-",,,'"1...

ôd:

ncluri,lm'rrlc nir(lr

m'is

làcil'

às^vôzP'' que

'.ll.tt

; ;.;.

allur.s:

ô

IJr u-; qucnt nos

lerir'

o

'a'o

e â

,;;,.

"";r.;i

;;-;"

(.

sc

hou!,I

uh

hzcr"so

sab'r

des-:;i:"..'ü;;'

nor.,"l'

q,"

oc "crrtos'

is

verüdeicos se

mos-l;;; *;ii; ";,;

",.l,to'.

r',

rro''c Lr^ 'rêscPr'

uma

vez

cur-;;;l'ild;:

,

pi

s^u

, .iiolr

oc

cl^

ôquil'brio

com( câvam por

i. ':---

^,,-.,,.^nt.r..cm

a

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-\áo

lrle

a

nin_

i'"iilii;1i,'"

''';,i.",1.

:-ii'ni-

uõr:

e"nécic

dr

1erír'onhâ'

:;;,;i;?

v'

igonn,

'r"

r''r

m'

1:n'*

inrmâdos pero Pai'

^l

''",

*

r.l^"

n.r

t;c.

oc

b'lr-a\(nlul_nça

anles dos oulros !

ÊlJli

Ii,iI"á",

lâ:Lirg-,*"r

Por

i'rvor!

Es as sracas

es-i,

11.,"'ln-

nr'..

n",

1...

o

prim'

Iro

movimento

da

âlna

é

fl::

ii'"J,

i;'

.'";,";

:l"

, n,,

noi'

.r,

vd,dc

rnan,

ira",

vá rá'

a

":i;,r;;r-

E

ült;,:

u

rerLi'et

cai'

entre

as máos do. Dcus

í:"'J,

:e;

ãi$-i

r,rt"

.'(us braço'. sóbre seu

corr'ão'

no

,

n.r"aol;

l"

i.,.:

Vocô terá

"ur pa'te

no concêrto vocô toco

iãr.inrro.

or-"i-trt"\.

pênso eu-.

e

eis que

te

pLdem

lclc

.i];i',uã

;rà;;,;"ori

um

viotino

e

-ordcnem:

'vcmos

il;;i,;:.; ;;:ü,;

si:r

I...

venha vPr meu

orâtório

mrs

i;Áp",

i"re'.

oc pes.

lor

causr

do lapête"'

L, lônrln mrrito Dour o de

mobili;rjoq

massrutlt11r[''.p3_

-

.

_-^'-,,"i

1,"i

um

leito

dc acalu

mac:!o' tlm

J"m:rrro

:i: ,;.'.'r.;,:;:,';;,,"

r,\rado. po.rlonrs

cob'

rli's

rr.

r" rucra

:: ..;.,,..,,.,,,

ô,in,l ulno.normF

Joâna d Arn rlô

L'rrr)7"

M'rs

ll,;

''

,

i.

I

,',

i'-ii;

q;f

ã

vigr,io

a'

rorcv

m''

rrucru

'lo:ll1i

rr,lrr r,r r,r,l

l,:,rr

üma outr'a sala. qua"c vitzl'r' nroDIlIauzL su

DIÂXIÔ DE UM PAROCO DT Á'-DEIA

,1),11

uma

mesa

e um

genüflexório.

Na

par'êde,

um

quadio

rLrLrlo jnesÍótico,

I

ecido com os quc se vêem nas salas de

l,).rprtal, r'eplescntarldo um Menino Jesus muito bochechudo, rrrul'Lo rosado,

cntlc

o bullo

e

o

boi.

-

Está

vendo ôssc quadro

?

dissc-mê.

É um

presente

rlL,

ürinha madrinho,

Tenho meios

pala

adquirir

coisa

üe-llLor', mâis

altística; no

entânto

preliro ôstc.

Ácho-o

icio

e

i',,

ur4

lan'o

,diol.r;

,'

.o mr consola. Nós, mêni,Lo, nós 5omos

rlt

lllandr'es,

país dc

gr'àndcs bebedores,

de

grândes come-rlt)lr,s

--

Licos...

Vocôs, pobrcs morcninhos dc Bolonhâ, nos ri.u.i (ochicholos cie

ttipll,

não podem calcuiar o que seja â

ri-(tll(

zr

Llc

Ilandrcs,

dss

tclras

negr'âs

!

Inútil

pcdir"nos belas

lr,rlllvrxs que Iaçam as (laiicias dc piedosas matronas; mas â

ltrri('sabc

dizô

lâs

tâmbém

ê não de todo

mal;

temos cá

rrrr

ll

rȒstica, lapaz

I

e nada

de místicas tísicas, não

!

A

r,Llir

lo

nos Jaz

môdo:

um

bom

sanque

fo!íe,

bem

ver-r1r llLo, l)cin dênso, que f.rlsrâ em nosses lontes, âinda quando

i.l,llfos

chciús dc gencbra âté o pescoÇot ou quando a cóler.a

r,r

i()b(,à

cirbeçâ, uma cólerâ llamenga, capaz de botar um

1,,

,

l(,Il,lrdo

no

chão

-

â

gcnle

tcm um lorte

sangue

ver-rL

llrr.

(,{xn u]na

pontinha

de sangue

azul

espânhol,

o

bâs-l

[rli

lrlllr

pe!]or

Iogo.

Vanios, para

rcsumir:

você tem seus

'

r, rl'

lr,rr,r'ir

(,r

rr)los,

cu cá

tive

os nTeus

-

não

são

provàvel-rIr.snlos. Vocô

pod.rá

ser obrigado,

algum dia,

a

'|

rl, r

r|

n()ri

ylrâis,

lnas eü del coices, e mais de umâ vez; t,

tr|,.r, r(llilrrr'.

Sc cu

lhc

dissessê... Mâs eu lhe direi outro

rl.r rir

r()r)rclll,(r au

o

cstou âchândo com

uma

cara muito

rrrrr

r r,lr)lr v( nrlo â

hcra

em que você

vai cail

de Jtâqüeza,

lúr

\{,ll:Úr{k)

l()

ML.nino Jcsus, imagine

que

o

vigátio

dc

It,t

,

rr,|lr',

rlir

rnilrha

lcliâ,

clc acôr'.lo corn

o

!igário-gor'â1,

lr '

lr,,r |irlnr.ir!

r'('solvcrr,nandat mc

â

Siint

Sulpicc.

Para

rr,,,r

0llilllll,(lvr(loclc],orro(o.Smrmür'

ouoEscoia

,1, r l,r,

rir

l,l, (l(,lx)is,

o

Sr.

McLr

I'xi

((\rl,Ic

l)irr['r]lcscs: a

t,,r,,

iL,, ti,

r,,

r illr(,

al. crjlrtvi

l)riní'iur(l(), rrrrrs prIlc('c que o

'rl

,

r,,

'lr

'liiri.V llUll(il sr roli'r(

lr ]n,1r l)iri (l(nrl,r'a

lormâ:

co§-l,',1i!

,',rl,ri ), o

tir

.

M(,u

I'ri

l.i1rlürrí.

(,Dohido

de

di

r1

,

,,, r,Lrr jtr,rr

urltÍn,n,

r

sc julltrrvx 1ro clcvc! dc

honla!

a

(10)

18 GEOROEg BERNÁNOS

dioccsc. Só que, orâ essa

!...

Quando

vi

aquelâ velha

casêr-na

lcprosa, com cheiro

de

caldo de sebo,

1,..

E

todos aquôlcs bons rapazes táo magros, pobres diâbos que mesmo

vhtos dc lrcnte

par€ciam estar sempre de

pelfil...

Enfim,

com tr'ôs ou quatrc bons camaradas, não mâis, a gente

haziâ

os prolessôres

num

cortado; caçoavâ-se

um

pouco, qual, bo-bagens

!

Os primeiros

no trabalho

e

na

comida,

por

exem-plo, mâs,

fom

daí,

uns

verdadeiros demônios.

Uma

noite_ qLrândo Lodos dormiam, subimos

ao

têlro

e

foi

um

lâI

de

miar.

..

que, por pouco, não acordamos o quarteilão

inteto.

Nosso mestrc de noviços peNignava-se ao pé

da

câmâ, pois

o

inÍeliz

petsava qüe todos os gatos

da

realonaleza tinham

mârcado encontro na santa casâ, par,a contar uns aos outros

coisas horriveisi

-

ur)ra farsa idiola, nào digo que náo

I

No

fim

do trimestre, aquéles senhores me

mandúani

voltar para

câsa e com câda nota

!

Nada burro. rapaz honesto. boa

in-dole,

e tatatá

e

telete...

Em

resumo. servid mesmo para

gualdar

vacâs

!

qu

que

vivia

sonhânalo ser

padre.

Ser

pa-dre, ou morrer ! O coração sangtava tanto que Deus

pemiiiu

tivesse

eu

a

tentação

de matar-me

-

peúeitamente.

O

Sr.

Meu Pai era

um

homem

justo.

Levoume âo

sI.

Bispo,

nâ sua cauuagem, com uma recomendaÇão de minha tiâ-avó.

superiorâ das

lrmas da

Visitaçâo em

Nâmur. O

Sr.

Bispd

era também

um

homem

iusto.

Mandou-me

entrd

logo pàm seu gabinele, Lancei-me em seus joelhos, falei-lhe

dt

tentâ-ção que me âssaltara e. na semana seguinte, êle mandou-tne parê §eu semináxio maiorj câsa bastante ântiquada, ma§

só-lida.

Não importa

!

Posso dizer que

vi

a molte

de pêrto, e

que

morte

I

Entáo,

resolvi, desde êsse momento, prevenir--me, fazer-me de

ingênuo.

tr,om do seNiço, como alizeln os

militares, nadâ de complicações. Meú Menüto Jesus é

clian-ça demais

para

se inteÍessar bastante pela música

ou

pela

litcraturâ.

E ate fada provàvelmente caretas a quem se

con-tcntasse

em revirar os

olhos

para cima, em vêz de

levâr

llolhar Írescâ para seu boi,

cuidar de seu

bulro.

. .

^Ilâstou-me

pâIa fora do quarto,

segumndo-me pelos

omblos, c o amável tapa de uma de suas grandeg mãos quase

DrÁlro

D! uM

P.ÁRoco Dx ÁúDEla

me fêz

caiÍ

de joelhos. Depois, bebemos

juntos um

copo de

gcnebm. E,

sübitamente, olhou-me

direito

nos olhos, com

um

ar

de

seguraDça

e

de

comando.

Eta

como

um

outro

homem, ulr1 homem que náo presta contas

a

ninguém,

um

-

Os ftâdes são os fradês, disse; eu não sôu

um

frade.

Não sou

um

superior de convento. Tenho

um

rebanho, um ver'dâdeiro rebanho;

não

posso dançar

diante da arca

com

meu rebanho

-

simples gado; se

o

fizesse, com qüe me

pa-rcceria, quer você dizer ? Gado, nem

muito

bom nem muito

tnau;

bois, asnos,

animais para

atrelaÍ ou patâ

lavrar

a

tcrla.

E

tenho bodes

tâmbém.

Que

hei

de fazer

de meus

bodes

?

Não

jcito

de matá{os ou de

veudê-los,

Â

um

abade mitrado basta dâr uma ordem ao irmão

porteiro.

Em caso

de êúo,

li\,aâ-se dos bodes,

num minuto.

Quânto

a

nim,

não posso fazê-lo,

a

gente

tem

de

dar jeito

em tudo,

n1esmo bodes. Bodes ou ovclhas,

o

Mestre quer que

lhe

dê-volvâmos cada

ânimal

em bom estado. Não vá meter-se na

cabeça

a

idéi,a de que se deve

impedir

que

um

bode cheirc

a bode; peÍderá seu

temlo,

ariiscar-se-á

a

câfu no desespêro.

Os veihos colegâs

me tomam por

um

otimista,

um

Roger

Rontemps; os moços de sna espécie,

por um

papão; âcham:

-me duro demais com meus paroquianos, excessivâmente

mi-litar,

excessivamentg codáceo.

Uns e

outros

me

censuram,

porque não tenho

um planozinlo de

reforma como

tôdâ

a

gcnte, ou porque

o

deixo no Jundo do bôlso. Tradição

!

res-mungam os

velhos.

Evolução

!

cantam os moços. De mim,

.rejo

que o homêm é o homem. não vaLe mais que

no

Lcmpo

(los pagáos. Aliás. a quesláo nào é a dc saber

o

que ôle vaie,\

mas quem

o dirige.

Ah

!

se deixassem os homens da Igreja

I

agir

!

Note que

não

me

refiro

aos confeiteiros da

Idade

Módia: os homens do século treze não passavâm

por sant!

|hos

e

se os frades eram menos idiotâs, bebiam

mâis

que

hoie, não se pode dizer

o contrário,

Mas nós estávâmos em vias

de

fund

um

império, menino,

um império

junto

do (lual o dos Césares não passariâ de

um

excremenío

-

uma

pt\z,

à

Paz Romana,

a

verdadeira,

Um

povo cristáo, ejs o

(11)

2o GEORCES BERNÀNOS

,

íluc ll.rÍl,nlos [ollllodo

iodos

junlos.

Um

povo

de clist:.o.

ltir(,

(

rll» tn'vo,lc

b'5lo{.

À

lgreja tcm

os ner?os sólidos; o lx\ril(k) Duo lhc melje mêdo; âo

contrário.

Olha-o de frente,

/tr'rul,lrilljllrr

r1\'

,

nl..

a

es.mpio de

No.\o S.nhor.

toma-o â

/

sl,

Írssllrrl, -rrrr r.s!Írnsab:liclêüe. Q,isndo

um

bom operàrio

'r lr'nbillhiL ,,onvcnienlemente

durânle

os scjs dias

da

semlna.

/

t

r(l(

:''-llr,

dar

um trago. no sábado.

a

ta,drnha...

Veja. eu

'

vurr d,

iini[

u]n

po\o cristdo pelo seu

conlrátio. O

contrário

I

tle

un

povo cristão

ó um

pcvo

triste,

urA povo

de

velhos.

\

v(,ci

djr;

que a detiniçào nào

'1

b.s{xnly l,ológicc.

Dc

ocôr-I

do

I

Mas tem por oedo Jazer

rclletir

os senhores quc

flsiâm

I

rr miss, dc dorningo

a tlo.?jJf. É

nrlurâl

que bocejern, Você

/

ndo trá do querer

qur

e

i

t,mn

irsisni.icanie

meia-hora por

I

s,mcnc.

â Igrcja

lr"s.r cn.:nii-lh(s

d clegrir

!

E. âinda que

J

soubesspm

dc cor

o

c::1.:

,iÍo

úo

Concir;o

de

TtenLo, nào

1

scrjâm prolavelmente

úrâii

âlcgr'.s.

'

Por que será que

o

tFmpo Ll.

no".r

inlância nos parece tão radiante, tãô doee ? O galôto sofre, como tôda

a

gente; e,

aliás, é tão desâmado côníra

a

dor,

a

doença

!

A

infância e

a

extrema velhice deveriam ser as duas grandes plovações

do homem. Mas é do

sertiiranto

de ouâ

próplia

impotência

quc a cdanqa

tira,

humiidelneate, o princípio de sua alegria. Confia em sua mãe, coúlpleei,de ? Paêlente, passado, Juturo,

tôda

a

sua vida, a vida iaLeira,

fica

suêpensa

â um olhar,

e

êstc olhar é um, sorriso, Pois b3111, meninc, se noa deixassem

âgir, a

nós,

a Igrejâ teda

dâdo aos homens essa espécie ale scg,rlança suplema. Nenl por isso, eDtletanto, cada

um

dei-xâr'iâ de

ter

sua

parte

de abouecimento.

A

fomê,

a

sêde, â pobrêza,

â

inveja...

Nunca

seremos

bastante foÍtês

paÍa botar o diabo em nosso bô1so. você sabe

!

Mas o homem tei-ia o ccrtezâ de que é

lilho

de Deus; eis o milagre

! l'eria

vivido;

rloflcria

com essa idéia na câchola

-

e não uma idéjâ

adqui-lkls

sú nos iivros, não

I

Porque ela

teria

inspirado, graças

o

lrós, os usos, os costumes, as dlstrações, os ptazeres e âte

us

illois

hutni]des n€cessidades.

Isso não impedida que

o ol)c!lill() ci,grav:rtasse

a teua,

que o sâbio esgruvinhasse sua túbuo dc logàritmos, nem mesmo que os engenheiros

cons-DrÁRro DE

uM

PÁloco DE AúDEIA

tluíssem seus brinquedos

parâ

gente

grande. só

que têría-mos abolido, teríâtêría-mos at!âncado do colação de Adão

o

sen_

timento de suâ so1edaCe. Com suâ enfiada de dcuses, os pa_

gãos não eram táo idiotâs: consêguiram, âpesar de iudo, dar Jos pobres ,nrorlDi"

a

ilu(ào de uma

g'r'osseira convivência com

o

invisível.

IÍâs

agora, ês§e

iruque não vâleda

uma

pipocâ.

tr'ora

dâ lgreja, um

povo se!á sempre

um

povo de bâstardos, umr povo de enjeitados. Evidentemente, rcsta-lhe ainda a esperânta de ser reconhecido por sâtá

!

Babau

!

Eles podem pspirar, por

nluilo

tempo. sêu NaÍalzinho

negro.

Po_ ãem pôr

io

fogáo seLr'

$pato§.

o

diabo

se cânsou de co-locar nêles uma ouantidade de bdnquedos que caem da-modâ no mesmo instante em que §ão inventados; êgora êle põe nos sâDatos aDenas um n'inúsculo pacofe dê coccína.

d.

heroína dê

morljnâ,

umà sujpira de

quatquer que nào

lhe

custa caro. Pobres

tipos.

C'.nsxm-se â1é de pêcar. Nem íodos que

queÍem

dictrrii.sê

çc

distraPm. A menor

bonêra dê quâtro

tostões

Íaz

a

felicidade de

uma

garôtâ, durante me§es, en-quânLo que urn pobrê diabo adullo állorrêcê_se com um mjmo/

(r.

quinhentos

Íran.os. Por

quê

? P-gIju_apgg+

o- SPjlilO

\

de

jnlànciâ.

Pois bem,

mell

caro,

â

]greiâ

foi

encarriegâdâ

'

iõi-Nos§õSenhor

rle

manter no

mundo êsse espírito de

in-iância, essa ingenuidade, êsse frescor.

o

paganismo não era inimigo dâ nstureza, mas só

o

cristianismo

a

engrandecê, e

ctâltt.

âdâDlando-a à medida

.lo

homêm,

à

medida de seLrs

sonhos. Góstario

de agsrrcr um

desses sabichões. que me âcusam de obscurantista,

pam

dizer-lhe:

"Eu

náo sou

culpa-do por

Llsâr essa

roupâ

Íúnebre.

Vejâ

que

o

Papâ se vêstê rlc üranco e os cardeãis

de verm'lho. Eu teria o direito

de

pâssear por aí vestido como a Râinha de Sabá, porque tenho

Acntlo de mim a

aleg

a.

Po! um nâda

tha

daria se você ma

pealisse.

Á

Igrejâ

dispõe

da al€g a,

de

tôda

a

provisáo de

ilegria

reservada

a

êste

triste mundo.

o

que §e faz contra

ela. faz-se contra â

alegda.

Será que eu impeco o senhor de

calaulâr

os

movimentos equinoxiais,

ou de

desintegrar os

átomos ? Mas de que

lhe adiântalia fabdcar a

própria vidâ,

(12)

G]]]ONOES BXIINÀNOS

olltla

c{}isit

ir lizcr

quc cstour'âr os mioios,

diante de

seus

aplt'clhos

(Luírrrico:

!

Fabrique

a

vidâ, conio

entender

I

A

;n)irlí\D {lx lror'[c, quc o

senhor propaga, envenena, pouco

c

lxlr.rlt),

o

|(

sxnlcnío dos misefáveis, cnche

de

sombras, ürsvrrlror(',

lcntilm.ntc,

suas últimâs âkrgrias. Tudo

irá

bem.

r'rqrirlrld

\lli.

',

dL.lrin

c

s.Lr

.xpllx:s

lhê

pF-milirl rn

ia/er

rli'

Ir,ur,lo

lrr,t-

ie.11, com

rn..ânis.ir,s 'luo gitdm c-n

vclo-ckladc

vcltigi{ose, no írâgor da maq[inaria

c

na

explcsão

dos logos de

altifício.

Mas espclc, csi:rcre o

pdmeiro

quarto de

hora

dc silêncio. Então,

hão

cle

oulir

a pelàvrâ

-

Dáo

;lqucla quc recusalam

ouvjr

c qu€ diziâ

tranqüilamente:

Eu sou

o

Câliinho, a

VerCiti.le

c a Vida

-

mâs

â

pâlavra que

sob.- do abisn1ot êu so.-L â

potla

para semple lcchadg, o

câmi

nho scr'!1 sâÍda, â ]ncntir.a e â pclCição,,.

Plonuncioü

essas

Ítltimas

palàvras

com

11m9

voz

táo

somblia

qlre devo

tcr

ficado pálido

-

ou,

ântes, amârelo,

o

que ó, pollre de ndm

!

desde

muito. â minha

maneira de

flcar

páliclo; cncheu

dc

nor/o

o mou

copo

de

genobra

e

co-mcçarnos a

fâlar

Cc oull.a coisa. Sua alegria não nle pâreceu Ialsa n€rn mesmo aÍeteda. Dois âcho que suâ

próp

à

natu-t-cza! sua

alma é alcgre.

IÍÍas seu

olhâr não

conseguiu, no

mcsmo ins'i,onte, colÍrpor-se con1 sua alcgria

intelior.

Ao sair, como me inclinâsse pâra dcspeíiil-m-â dêle, Íêz com o polegar

uma

pequcna

cruz

n:r_

ninha

testa

e introduziu.

delicâd3-flr'nl^,

un-a

nolc

de cem

.-rnr^.

no

"neu

bôisc--

Âposto que você está sem

um níquel;

os pdmeiros

I'rnl\o\...ô

durJ.:

vocc ,-lc

p.'g?r;. dolois.

quanoo pudcr.

Vi

lrllLa.hxnuo e

n,rd*

diÊ-: aos

rrrljlcjs.

a respcito de nós.

"IÍrvar

paiha fresca pala o boi, cuidar do

burro";

essas

pa-latvlns rnc voltaram

à

mcnte, pela manhã, enquanto

descÀs-c:lvir

nrinhls

betatâs

para a

sopa.

O auxiliar

da pr,efeitur[ (lll(,Íl()u, (l(,surDr'êsa, e eu levantei-me bruscamcnte da cadci(t,

scnr lcr' [i(lo lc]npo aie sacudfu as câscâs; sentia-me ridÍculo.

DIíRIo DE UM P,(RoCo DE ALDEIA

'llrzia-me.

âIiás,

umâ

boa notíciâ:

a

municipalidade vai ll lndar-

abrir uma

cisterna cm

minha

casa,

o

que

me

eco-ll rrrrizârá os

vintc

tostões

por

semana quê dou ao coroinha

,'i rN buscâr'água à

fonte,

Mâs eu gosiaria cle

ihe

drzer uma

Jrrrlr\,r,a sôbr-e seu caberé, pois resolveu âgor'â

dar um

bailc,

l,rlir

qüintâ-feirâ e torio clomingo. Châmà ao dc quinta-feira

",,

l)rilc

das

ÍamÍlias'';

âtrai, parâ

êle,

ât€

as mocinhas da

l;rl)r l( a, e os rapazcs sc (iivei'tem, fazcndo as bebef.

Náo

tive

coragcrn. Tem,rl11

jeito

de

mc olhar

com

um

r0lli!ir), no

Iunclo

bâstrnte

âÍávc]; isso

me

leva

â

conversar

rr,|r

i,lo con,]o sc, no

liDal

das contas, quâ1quer coisâ que eu

,lt,r

nro

tciha

inrpodância

âtgllmâ.

Â1iás, setia mâis

con-!,lri,,rÍ.

ir' à

stla câsa.

Há unl

Dr_ctcxto parâ

minha

visita:

r

ilr,nhor'â

cstá grâvemente €niêrma, não sai do quârto, há

\,

I

r:

rj(ntrnâs. I)izcm

que não é má pessoa; e parece que, r'r'l

r|rrroDtcr

-lreqüenLava

com

assiduidede

as

cerimônias

''t(!NI

palha lresca

para

o boi, cuidar do

buro",

§eja.

l\4

L,:

(11\,cl1,s simples não são os mais fáceis, pelo

conhá-rtír

í)i:

linlris

íêm

poucâs neccssidâdes,

âo

passo que os

1,,'r'!

rr

| ..

sl.i

muito

bem que todos

fâlâm da

simplicidâ-.l',

,l,i. lri)rrrrs

do campo. Eu, que sou

filho

de rocciros.

con-,,t,1,,,,

,,r. ;llltcs, horrivchnerlte

complicados.

Em

Béthune,

r,,

l,

rrlr,

(lli

,lrou pl.imeil'o vicariâto, os jovêns operários de

'r,,

,,

I i I I I I i ) I I I I I ( )

,

rrmâ VCZ paSSAdO O nAtUIâI âCAnhAmento,

rl',r,1,,,\:rr rr,Ír)rn

sucs conÍidênciâs, procurâvam tôda

for-Ir,,

rl'

rI

l

ri|

r( ll

si nrcsnros: sentiâ se que transbor.lâvam

,l'

lr

,l,,,lr:r ln,r'

sluls plóplias

pessoas.

Um

homem do

r,i'rl

,"Lfrr r ri

llx.snlo Iaramente

e,

so

mostla uma

indi

nr,,,, I |rr{l

t)ir)t

qücm

o

amâ,

não

ó

porquc düvida rl'r ,'1,

r,,'r

rlll(

iri, l(,,11

l! ôlc:

scfia, irnl,cs, l)orquc

II

(lcspr.ez&.

Itr

r,r

,lur

rl,r

rilr)

ríi

l)rrocul)lr

1,ânio

am c(»)illit

sc.

Mâs

rt.,i,

' , r'l

,1,. (1ll,.

«

ilr(lo

sôl)r'Í' os (t( n

ilos

c os vicios que

!,,t,11,L,",rr

t,r,

r(rl(iir

ll

virLr

inl]irr,

(l('ríL

(llli'os

iulgou

rr'l!

L

Ir'

,r,,r1,.,,1,,

rrr,,l()rnrívr.[,

t)11{x rr])r(k)

.m

manter

,'

',

,i,rr

|,i

rrrlr.irr

(

r.IIrrI1,)i,r|.

r',r

rlirir{,UlaL k)s com o

(13)

24 GEORqES BEBNANOS

§empre secretas, as tendências mon§truosas crescem

demâ-siâdamênte:

o

roceiro envelhecido custa

a

suportar_se

t;i

Ilesmo,

c

lóda

a

simpatia

o

exaspera. pois

suipejta

que ela scJa

uma

especro de cumplicidadê como

o

inimjgo inlerior

que devora, aos poucos, suas [ôrÇas, seu lraba_Iho. súâ riouezâ

Que dizer

a

êsscs miseráveis

?

Enconlranr-se

nos leitôs

morte certos velhos devassos,

cuja

atareza nao tera

fàiiaJã

d-e- uma aspera desforra.

um

câ§ligo volLlnLário.

impólto a

si

mesmos. durânte anos. com

um

rigor inflexível. É

até

o

li_

mrar

da âgonia..umâ pâtavra, que

a

angüstiâ Jaz

jllomper,

leslemunha âinda

um

ódio de si mesmo: para

o

qual

taivel

não haja perdão .

_

Áclo

quê interpretaram

muito Inal

a decisão oue tolnet_ hâ-uIls quinze dias. de dispensâr os sêrüCos de uma

"mprej

gâtla.

o

que complica muil,o

a

coisa

é

qLle

o marido

dessa

irtim-a. o

Sr.

Pegriol, acaba de

entrsr

pãra

o

castelo, como glr_arda-car"a. Prestou mestho

juramcntô.

ontem,

em

Saini_

-ryaast. [;

eu que pênsci agir com {inura. cornprando de sua mao"um pequeno.bârrit de

vinho:

câstej.

assim, os duzen_

lo_s Írancos-da

minhâ

tia

f.ilomena. sem npnhum proveitô,

por§

o

§r-

Pregriol,-não

vai

majs vjâjaT pâra aquela'casa de

ljoldêus

à quai, todavia. passou a encomenda. Supontro que

ljy

:yges.g irá lirar-todo

o proveito de mintra pe{uena

libe-ralidâde,

Que estupidez I

._^,!r]Ítr.ql"

estupidez

!

Espêrava que ési,e

diário mê

aÍu_

91ji9

1ITu,

meu pensamento que se escapara. sempre, ãr.r_

ranÉ

os raros momenÍós

em

que posso

relletir

um

Douco-Qurcera que éle fósse

umâ

conversãção

entre

Nosso Senhor e eu,

um

prolongamenÍo da prcce, uroa

lofina

cte contornar

DlÁato DE

uM

PÁBoco DE

Ar,DErá

25

as dificuldâdes da omção, que me parecem, âinda, com

Íjâs-tante

freqüênciâ, insuperáveis, talvez

por

causa

de

minhas

dolorosas cótlcas de estômago. E eis que meu diário revelâ o enorme, o desmesurado

lugar

que ocupam, em minha pobre

I,ida, essas

mil

pequeninas preocupações de todo diâ, de que

üe

julgâvâ

liberto.

Sei bem qüe Nosso Senhor

participâ

nossas contrariedades, mesmo

fúteis,

e

que Êle nâda

des-preza,

Mas

por

que

fix

no

pâpel

o

que deveriâ, âo

con-trário,

eslorqâr-mc

por

ir.

aos poucos. esquecendo

1

O

p.or

a quê encontro. ncssas conÍidônciâs, uma

doçurr

lÀo gL.andc

que deveria bastar pâra me prcvenir contra

elas.

Enquanto Iabisco, sob a, lâmpada, estas páginas que ninguém

de

ler', er.pe mento

â

sensaÇão de

uma

pr.esença

invisível

que

não é seguramente

a

de Deus

-

ante! a

de

um

amigo fejto à minhâ imagem, se bem que alistinto de mim, de umá

outla

.sséncia. Ontem

à

lârde.

tal

pre§enna se to"nou. de súbito,

lco

sensivPl. cUê mc sltrpreendi

a inclinar

A CAbeçA não sei

para que interlocutor imaginár'io, com uma vontade de

cho-rar

que

me

enchia

de

vergonhâ.

Mais vale, âliás,

lev

a

ex?eriência até

o

fim

-

quero

dizer, pelo menos durante algumas semanas. Esforçar-úe-ei

até por escrever sem distinqão o que me passax pe1à cabeaa

(acontece-me também hesitar

na

escolha de um

êpiteto,

ein

corrigiÍ-me):

depois esconderei essa papetâda

no

fundo

de

(14)

tr

TIVE, ESTÀ MANHÃ, depois da missa,

uma

longâ con'

vclsa com

â Srta. Luísâ. Áté

agom, rarâs vêzes nos encon-l,rxmos nos ato§ religiosos

da

semana, poi§ sua situaçáo de

I»'ccepíorâ no castelo impõe-no§

a

âmbos uma grande resêÍ-v1r. Á senhora condêssa têm-Ihe muita estima. Ela devia,

pa'

r'cce,

entrar

para âs C]ârissâs, mas consâglou-se à suâ velbâ

nrãe-enfêrmá, que só

mo

eu o âno passado

os

dois garotos :r âdorâm. InfóUzmente.

a

filhâ

mais velha,

a Sríâ.

Chan-lil,

náo

lhe

mânitesta

simpitia

atgumá

ê até

parece

com-I'râl.r.sp

êm

humilhála.

em

trâláJa

como

uma

simplec

do-inóstica. criancice

talvez,

mas que

cruelmente abonece a Inrísa, pois, segunalo me

informou

â

condêssa, ela pertence

o

uma

lamília

ótlma e recebeq educaqão

supe

or.

Creio

ter

pêtcebido que

â

genle

do

castelo aprova

ml-trha re"olu(âo àp dispênsar a emprpeada. Conludo. achariam

pleferível que eu pagâsse

umâ

emplegâdâ de

fora, uma

ou

(luas vêzes

pol

semana, ao menos por uma questão de

prin-cípio. Evidénteheüte, é umâ questão de

pdncípio.

Moro eln

um

presbitérjo

muito

confoltávet.

a melhor

casa

do

lugâr,

rl'pos

do essfplo.

ê

pu

a lâvar minha roupa?:

Todos have_

I

icn

dê pensâr quê

o lâriâ

fropósito.

Corn certeza acham tâmbém que não tenho

o

direlto de úrc

distinguir

dos colegas que não ganhâm

mais

que

eu

e,

no entantô, aprcveitam methor os seus modestôs recursos

Cleio sinceramente que poum me importa ser rlco ou poblê;

Í1ostâria âpenas que nossos superiores decidissem o câso, uma vcz por tôdas. Cónvém táo pouco à no§sa miséria o ambiente (lc Íclicidade burguesa dentro do qual nos obdgam

â

viver...

A

oxtrerra pobreza não exige

muito pam

manter-§e digna. l'or'â que

ta[tâs

âparênciâs

?

Para que fazer

de

nós umas

(lr irrturas que precisam

disto

e

daquilo ?

Esperavâ

encontrar

alguú

consôlo

nas aulas do

cat€-r,sn-o Àlementar, prepamqâo

pâra

a

primeira

comunhão, sr,,lundo o desejo dó santo Pâdrê Pio

x.

Aindâ

hoje

quândo r)r(ro

o

sussurro de suas vozes

no

cemiicrio e,

na

soleira, o ruldo de seus tamanquinhos ferrados, parece que meu

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