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Libras em estudo - Descrição&Analise

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Academic year: 2021

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 Neiva de Aquin

 Neiva de Aquino Albres

o Albres

André Nogueira Xavier 

André Nogueira Xavier 

(Organizadores)

(Organizadores)

Libras em estudo:

Libras em estudo:

descrição e análise

descrição e análise

Maria Carolina Casati

Maria Carolina Casati Digiampietri

Digiampietri

Mônica Cruz de Aguiar 

Mônica Cruz de Aguiar 

Magaly de Lourdes Serpa Monteiro Dedino

Magaly de Lourdes Serpa Monteiro Dedino

(Autoras)

(Autoras)

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© 2012 by Neiva de Aquino Albres e André Nogueira Xavier  Todos os direitos desta edição reservados à

EDITORA FENEIS LTDA. Rua das Azaléas, 138

Mirandópolis, em São Paulo - SP Tel.: (11) 2574-9151

www.feneissp.org.br  Capa e projeto gráfico Gerson Gargalaka Foto da capa Gerson Gargalaka Editoração Eletrônica  Neiva de Aquino Albres

Revisão ortográfica

Amanda Dardes Pimentel Revisão

 Neiva de Aquino Albres André Nogueira Xavier  Renata Moreira Santos

Libras em estudo: descrição e análise / Neiva de Aquino Albres e André Nogueira Xavier (organizadores). – São Paulo: FENEIS, 2012.

145 p. : 21cm – (Série Pesquisas)

ISBN 978-85-62950-02-5

(6)

Agradecimentos

Aos surdos que colaboraram para a realização deste trabalho, que generosamente se permitiram ser colaboradores, oferecendo assim a possibilidade de reflexão sobre as peculiaridades da língua de sinais. Aos professores convidados, agradecemos por compartilhar 

conosco suas inquietações, reflexões e saberes.  Nosso muito obrigado ao pesquisador-aprendiz por ter partilhado conosco momentos de criação, tensão, prazer e produção acadêmica sem os quais esta experiência não teria acontecido.

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Sumário

Prefácio

09

ENSAIOS

11

A ESTRUTURA INTERNA DOS SINAIS DA LIBRAS À LUZ

DO MODELO DE ANÁLISE FONÉTICO-FONOLÓGICA DE

LIDDELL E JOHNSON (1989)

 André Nogueira Xavier 

13

INTEGRAÇÃO ENTRE METÁFORA, METONÍMIA E

ICONICIDADE: ESTUDOS DA LINGUÍSTICA COGNITIVA

 Neiva de Aquino Albres

57

 NARRATIVAS EM LIBRAS: UM ESTUDO-PILOTO À LUZ DA

TEORIA DE LABOV (1967)

 Maria Carolina Casati Digiampietri

85

ARTIGOS

107

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS SINAIS TOPÔNIMOS DA

LIBRAS

 Mônica Cruz de Aguiar 

109

INCORPORAÇÃO DE NUMERAL NA LIBRAS

 Magaly de Lourdes Serpa Monteiro Dedino

123

(9)
(10)

Para começo de conversa

O presente livro resulta dos esforços de professores e alunos de um curso de pós-graduação (lato sensu) em libras, língua brasileira de sinais, oferecido por uma instituição privada de ensino superior. Ele integra a coleção “Libras em estudo”, constituída por dois outros volumes: um dedicado a questões de tradução e interpretação da língua de sinais e outro a questões de seu ensino e aprendizagem. Este volume, por sua vez, focaliza a descrição e a análise de alguns aspectos gramaticais da libras.

Os estudos linguísticos sobre a libras são recentes e pouco se sabe sobre as características gramaticais dessa língua. Apesar de os trabalhos aqui reunidos objetivarem contribuir com o avanço nas  pesquisas nessa área, eles representam apenas um primeiro passo

nessa direção.

Há ainda muito a pesquisar e muito a descobrir sobre a língua usada pela comunidade surda brasileira. Dessa forma, nosso intuito é o de que todas as reflexões e resultados aqui apresentados sejam tomados como provisórios, mas, ao mesmo tempo, como instigadores de mais estudos.

Aprendemos com o mestre Saussure que a língua é heteróclita e multifacetada e que, por essa razão, diferentes perspectivas analíticas criam diferentes objetos de estudo. Os trabalhos aqui reunidos exemplificam os dizeres de Saussure ao olharem para a libras sob diferentes ângulos e assim focalizarem aspectos distintos dessa língua.

Entre os ensaios, produzidos pelos professores do curso, está o de André Nogueira Xavier, em que se apresenta uma proposta de

(11)

análise da estrutura sublexical dos sinais, o de Neiva Aquino Albres, em que se discutem as relações entre metáfora, metonímia e iconicidade na libras e o de Maria Carolina Casati Digiampietri, no qual se analisam as propriedades de uma narrativa nessa mesma língua.

Além dos ensaios teóricos, este volume reúne também o trabalho de duas de nossas alunas: Mônica Cruz de Aguiar e Magaly de Lourdes Supa M. Dedino.

Em seu artigo, Mônica Cruz de Aguiar investiga questões relacionadas às características de sinais topônimos da libras. Mais  precisamente, em seu trabalho a autora descreve as propriedades mais recorrentes na constituição de sinais que designam lugares (nomes de países, estados e cidades brasileiras), dentre as quais se destaca o uso da soletração, a iconicidade e um misto destas.

Já no artigo de Magaly Dedino, investiga-se um fenômeno, também atestado em outras línguas de sinais, denominado incorporação de numeral. Além de apresentar sinais da libras que sofrem tal processo, ou seja, que sofrem alteração em sua configuração de mão para expressar quantidade, a autora discute os resultados de um experimento que realizou com o principal objetivo de observar até que numeral a incorporação ocorre em tais sinais.

 Neiva de Aquino Albres  André Nogueira Xavier 

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A ESTRUTURA INTERNA DOS SINAIS DA LIBRAS À LUZ DO MODELO DE ANÁLISE FONÉTICO-FONOLÓGICA DE LIDDELL E JOHNSON (1989)

André Nogueira Xavier 1

1. Introdução

Liddell (1984), a partir da observação de gravações de sinalizações, verificou a existência de dois tipos de atividade durante a produção dos sinais da língua de sinais americana, ASL (do inglês American Sign Language). De acordo com ele, há momentos em que a(s) mão(s) está(ão) em movimento contínuo e há outros em que ela(s) fica(m) estacionada(s).

Ao mensurar os intervalos de tempo em que a(s) mão(s) realiza(m) esses dois tipos de atividade, Liddell constatou um fato que contraria o que normalmente se pensa acerca da sinalização corrente: a(s) mão(s) passa(m) mais tempo parada(s) do que em movimento. Além disso, o autor observou não apenas que existem sinais em que a dinamicidade e a estaticidade se alternam sequencialmente em sua produção, mas sobretudo que essa alternância se dá em uma ordem fixa.

Com isso, Liddell (1984) e Liddell e Johnson (1989) hipotetizaram que esses dois tipos de atividade presentes na articulação dos sinais constituem os dois tipos de segmentos a partir dos quais se estruturam os itens lexicais das línguas sinalizadas. Os autores denominam os segmentos definidos pela ausência de movimento e estabilidade de seus aspectos formacionais (ou seja, de sua configuração de mão, localização no corpo ou em frente a ele e orientação da palma) de  suspensões (holds). Já os segmentos caracterizados pela presença de movimento e pela alteração de pelo menos um dos aspectos que os descrevem são designados como movimentos (movements).

Uma das mais significativas diferenças entre o modelo de Liddell e Johnson e o  primeiro modelo fonológico para as línguas de sinais, proposto por Stokoe (1960), é

que, para este último, a configuração de mão, a localização, a orientação da palma e o movimento equivalem, em função, aos fonemas das línguas orais, diferenciando-se

(15)

destes por serem estruturados e realizados simultaneamente. Diferentemente, para Liddell e Johnson, os três primeiros aspectos equivalem aos traços articulatórios que constituem conjunta e simultaneamente cada um dos fonemas das línguas sinalizadas, enquanto que o último deles representa um dos dois tipos de segmentos existentes nessas línguas.

Sendo assim, nos termos da análise de Liddell e Johnson, tal como na estrutura sublexical das palavras das línguas orais, a simultaneidade e a sequencialidade estão  presentes e desempenham, cada uma, seu papel na fonologia das línguas sinalizadas. Enquanto a simultaneidade é o princípio organizador da estrutura de cada segmento, a sequencialidade é o princípio organizador da estrutura interna de cada sinal, uma vez que este pode ser constituído por um ou mais segmentos.

2. O modelo de Liddell e Johnson

Por defenderem que o segmento é a unidade básica sobre a qual se estruturam internamente os sinais das línguas sinalizadas, Liddell e Johnson (1989) desenvolveram,  para os itens lexicais dessas línguas, um modelo de representação e descrição segmentais análogo ao desenvolvido para as línguas orais pela Fonologia Gerativa Padrão (CHOMSKY e HALLE, 1968) e compatível com o seu desdobramento, conhecido como Fonologia Auto-segmental (GOLDSMITH, 1976).

 Nesse modelo, os sinais das línguas sinalizadas são analisados como sendo constituídos por um único segmento ou por uma sequência deles. Tais segmentos, por  sua vez, são dotados de uma organização interna que consiste, basicamente, de dois conjuntos ou feixes de traços. Um deles, denominado de  feixe segmental , tem a função de especificar o tipo de segmento, que, no modelo em questão, pode ser movimento ou suspensão. Já o outro feixe, designado de  feixe articulatório, é responsável por  descrever a postura da mão, ou seja, a sua configuração, localização e orientação.

Em princípio, todos os segmentos das línguas sinalizadas deveriam exibir uma organização interna semelhante, constituída pelos dois tipos de feixes ( segmental  e articulatório) e representada, nos moldes da Fonologia Gerativa Padrão, por uma matriz de traços. Entretanto, a natureza diferente de suspensões de um lado, e de movimentos de outro, faz com que suas representações sejam distintas.

(16)

estabilidade dos traços que descrevem a sua postura quando de sua articulação, elas são representadas por meio de uma matriz simples de traços constituída de um único feixe segmental, que determina a ausência de movimento, e de um único feixe articulatório, que determina como a mão está configurada, onde ela está localizada e para que lado está orientada.

Os segmentos do tipo movimento, entretanto, por serem caracterizados pela dinamicidade da mão e pela alteração de algum(s) dos traços que descrevem a sua  postura, requerem uma representação diferente. Embora segmentos de tal tipo só  precisem de um único feixe segmental que os defina como movimentos e que descreva suas características, eles requerem dois feixes articulatórios (um inicial e outro final), através dos quais são especificadas as mudanças articulatórias ocorridas durante a sua  produção.

Segmentos de suspensão são representados como em (1a), enquanto a representação de segmentos de movimento é feita como em (1b).

(a) (b)

Representações (1) adaptadas de Liddell e Johnson (1989)

Liddell e Johnson observam que segmentos de movimento realizados entre duas suspensões têm suas características articulatórias iniciais e finais idênticas às especificadas nas suspensões que os antecedem e os sucedem, respectivamente. Por esse motivo, em vez de representarem tais sequências redundantemente (como fariam se utilizassem uma representação como a em (2a)), lançam mão de princípios da fonologia auto-segmental, segundo os quais é possível expressar a semelhança entre os feixes articulatórios de um movimento e os das suspensões adjacentes, por meio de linhas de associação, como mostra a representação (2b).

(17)

(a) (b)

Representações (2) adaptadas de Liddell e Johnson (1989)

É importante frisar que, além de reduzir as redundâncias que uma representação não-auto-segmental apresentaria, a representação em (2b) expressa também a autonomia que as duas diferentes classes de traços apresentam, uma vez que feixes segmentais de diferentes tipos podem se associar a um mesmo feixe articulatório.

O sistema desenvolvido por Liddell e Johnson prevê ainda uma matriz de traços exclusiva para a representação das marcações não-manuais (expressões faciais e movimentos da cabeça e do torso). Dado o pouco conhecimento que se tem a respeito desse aspecto articulatório e dado o fato de que, até o momento, os autores não desenvolveram um sistema de notação para tal aspecto, neste trabalho não trataremos dele.

Resta dizer que, no caso de sinais produzidos com duas mãos, a(s) atividade(s) de cada uma delas é(são) representada(s) independentemente, ou seja, por meio de uma sequência de segmentos para cada uma delas. Liddell e Johnson convencionam representar o segmento ou a sequência de segmentos que refletem a(s) atividade(s) da mão dominante acima da do segmento ou da sequência de segmentos que descrevem a(s) atividade(s) da mão não-dominante, como se verá mais adiante.

3. Descrição do feixe segmental

Os traços que constituem o feixe segmental (traços segmentais) descrevem a atividade da mão. Em outras palavras, eles especificam se ela está ou não se movendo e, se sim, de que maneira. A principal função desses traços é distinguir os dois tipos de segmentos postulados por Liddell e Johnson para as línguas sinalizadas, movimentos e suspensões, e, consequentemente, segmentar o continuum sinalizado em termos dessas unidades.

De acordo com os referidos autores, essa hipótese não é completamente distinta da que se faz para as línguas faladas, uma vez que os traços de classe maior, postulados

(18)

 pela teoria fonológica dessas línguas, ao especificarem propriedades fonéticas, como vozeamento espontâneo, interrupção da corrente de ar e silabicidade, distinguem segmentos vocálicos de consonantais e, ao mesmo tempo, permitem a divisão do fluxo da fala com base nesses elementos.

Além de determinarem se um segmento é um movimento ou uma suspensão, os traços do feixe segmental também descrevem detalhes envolvidos em sua produção. O modelo de Liddell e Johnson prevê cinco diferentes informações (e, consequentemente, cinco diferentes subclasses de traços segmentais) que devem ser especificadas no feixe segmental de cada segmento. Essas informações ou traços são denominados:

(i) traços de classe maior;

(ii) traços de contorno de movimento; (iii) traços de plano de contorno;

(iv) traços de qualidade;

(v) traços de movimentos locais e representados como em (3):

Representação (3) adaptada de Liddell e Johnson (1989)

3.1 Segmentos de classe maior

Os traços de classe maior caracterizam os segmentos das línguas sinalizadas como movimentos ou suspensões. Segmentos definidos como movimento são caracterizados pela dinamicidade da mão e pela alteração de pelo menos um dos traços articulatórios que a caracteriza. Segmentos definidos como  suspensão, por sua vez, são caracterizados pela estaticidade da mão e pela estabilidade de todos os traços que a definem articulatoriamente.

(19)

ilustrada por um sinal como FILH@2da libras, representado pela figura abaixo:

FILH@ Figura (1)3

Como a imagem mostra, a realização de tal sinal depende da coordenação de três atividades da mão:

(i) Primeiramente, a mão, aberta e com os dedos espalmados, fica parada e em contato com a região central do peito, por um brevíssimo intervalo de tempo. (ii)  Na sequência, a mão se move horizontalmente para a frente. Durante esse movimento, além da alteração da sua localização, a configuração da mão também muda, pois os dedos, inicialmente disdendidos e separados uns dos outros, começam a se fechar.

(iii) Finalmente, a mão, com todos os dedos dobrados nas juntas proximais e contactando a almofada do polegar, para em um ponto alguns centímetros à frente de sua posição inicial e se mantém aí por um breve intervalo de tempo.

Com base nessa observação e nos tipos de segmentos propostos por Liddell e Johnson, pode-se entender a primeira e a última atividade da mão na produção do sinal FILH@ como correspondentes à realização de segmentos de suspensão. Já a atividade intermediária pode ser vista como a realização de um segmento de movimento.

Tomando por base um segmento de movimento como o presente no sinal FILH@, descrito acima, poder-se-ia pensar que segmentos desse tipo são necessariamente realizados por meio de um deslocamento da mão entre dois pontos no

2Adota-se aqui o sistema de transcrição da libras descrito em Felipe de Souza (1998), segundo o

qual o nome do sinal é sempre escrito em letras maiúsculas e as marcas de gênero do português são substituídas pelo @.

3 Agradeço à surda Sylvia Lia Grespan Neves por ter gentilmente cedido sua imagem para a ilustração dos sinais citados neste trabalho. Agradeço também à FENEIS-SP por gentilmente ceder seu estúdio para a realização das fotografias.

(20)

espaço de sinalização. Entretanto, há movimentos, também caracterizados pelo dinamismo da mão e pela alteração de algum(s) de seus traços articulatórios, que não se realizam através de um deslocamento.

Liddell e Johnson designaram movimentos desse último tipo de movimentos sem trajetória (non-path movements), em contraste com movimentos do tipo observado no sinal FILH@, que denominaram movimentos com trajetória ( path movement ). De acordo com os autores, movimentos do primeiro tipo se caracterizam pela ocorrência de mudança de configuração de mão e/ou de orientação da palma, enquanto os movimentos do último tipo se caracterizam necessariamente pela mudança na localização da(s) mão(s).

Os sinais LEITE e BRANC@, representados pelas figuras em (2), ilustram casos de sinais constituídos de movimento com e sem trajetória, respectivamente.

LEITE BRANC@ Figura (2)

Embora, aparentemente, a oposição movimento com trajetória versus movimento  sem trajetória seja a principal responsável pela diferença de significados entre os sinais

LEITE e BRANC@, o modelo de Liddell e Johnson sugere uma outra interpretação desses dados.

Assumindo uma mesma estrutura para esses sinais, a saber, M S M S4, a diferença entre eles pode ser explicada em termos das suas especificações para o traço articulatório localização. No sinal LEITE, como indica a representação a seguir, pode-se dizer que os segmentos de movimento e os de suspensão são diferentemente especificados para a localização: os movimentos são iniciados na altura do ombro ipsilateral e as suspensões são produzidas na altura do peito, também ipsilateral.

4 Está-se ignorando o movimento que leva a mão à posição inicial para a repetição do

movimento e da suspensão, por considerá-lo transicional, ou seja, por não se atribuir a ele estatuto de segmento integrante do sinal. Para uma discussão a respeito da distinção entre movimentos segmentais e movimentos transicionais ver Xavier (2006).

(21)

Representação (4)5

Já o sinal BRANC@, conforme expressa a representação em (5), apresenta tanto os segmentos de movimento quanto os de suspensão igualmente especificados no que diz respeito ao traço que descreve sua localização: [ombro ipsilateral].

Representação (5)

 Nessa perspectiva, a diferença entre movimentos com e sem trajetória é, na verdade, uma decorrência das especificações dos traços que caracterizam o lugar (ou os lugares, no caso dos movimentos) em que um determinado segmento é articulado, não havendo, portanto, necessidade de qualquer tipo de traço exclusivamente concebido  para distinguir esses dois tipos de movimento encontrados nos sinais.

A mesma análise pode ser usada para explicar o contraste entre o tipo de movimento presente em sinais como OUTRA-VEZ6 e OUTR@, representados pelas figuras a seguir.

OUTRA-VEZ OUTR@ Figura (3)

Com base nas figuras e nas descrições acima, pode-se atribuir aos sinais

5

Os traços do feixe articulatório serão notados informalmente até que sejam apresentados e explicados um a um e a sua forma de notação seja introduzida.

6Também de acordo com o sistema de transcrição descrito em Felipe de Souza (1998), quando o nome do sinal requer mais de uma palavra em português, essas palavras são hifenizadas.

(22)

OUTRA-VEZ e OUTR@ as representações em (6a) e (6b), respectivamente. Essas representações capturaram, tal como no par LEITE versus BRANC@, a diferença no tipo de movimento que cada um dos sinais apresenta: com trajetória, no caso de OUTRA-VEZ, e sem trajetória, no caso de OUTR@, uma vez que o primeiro apresenta a mesma especificação para a localização nos seus dois segmentos (perpendicular à linha que passa pelo peito ipsilateral), enquanto o segundo se inicia numa posição  perpendicular ao ombro ipsilateral e termina em alguns centímetros à direita dessa

localização.

(a) (b) Representação (6)

É interessante notar que, além de movimentos com e sem trajetória, as especificações de localização também derivam o movimento alternado das mãos em certos sinais. Em outras palavras, para Liddell e Johnson, não há necessidade de existir  um traço que determine um ou outro tipo de movimento7, dado que eles podem ser  derivados das especificações inicial e final do segmento de movimento.

A título de ilustração, pode-se citar os sinais DESCONFIAR e PSICOLOGIA (Figura (4)) da libras (realizados com duas mãos e representados no modelo de Liddell e Johnson por meio de duas sequências paralelas de segmentos, uma para cada uma delas) que constrastam basicamente por ser o primeiro realizado com movimento simultâneo, enquanto o segundo é articulado com movimento alternado8.

7

Para uma crítica à inexistência de um traço que caracteriza movimentos alternados ver Padden e Perlmutter (1987).

8 Por não ser relevante para a discussão, estou ignorando a marcação não-manual que o sinal DESCONFIAR apresenta.

(23)

DESCONFIAR  PSICOLOGIA Figura (4)

Para diferenciar esses sinais, Liddell e Johnson procedem da seguinte forma. Eles representam sinais semelhantes a DESCONFIAR com suas especificações para localizações inicial e final idênticas e pareadas, tal como mostra a representação (7a). Em contraste, representam sinais como PSICOLOGIA com suas especificações para localização inicial e final idênticas, mas invertidas, como se pode ver na representação (7b)9.

(a) (b) Representação (7) adaptada de Liddell e Johnson (1989)

3.2 Contornos de movimento

Por observarem que movimentos com trajetória podem ser realizados por meio de diferentes contornos, e que essas diferenças podem ser usadas distintivamente pelas línguas sinalizadas10, Liddell e Johnson incluem, entre os traços segmentais, traços que

9Tanto o sinal DESCONFIAR quanto o sinal PSICOLOGIA são reduplicados, ou seja, têm seus

movimentos realizados duas vezes. Como isso não é relevante para a discussão, a representação só mostra a primeira parte de cada sinal.

10 Sandler (1996:202) cita os sinais YOU (você), GO (ir) e INSULT (insultar) da ASL como evidência de que o contorno do movimento é usado contrastivamente nessa língua. Segundo a autora, os três sinais são realizados com a mão configurada em [G] e orientada para a esquerda e com um movimento para frente. Entretanto, no caso do sinal YOU (você), o movimento é reto; no caso do sinal GO(ir), arqueado-côncavo e, por fim, no caso do sinal INSULT (insultar), arqueado-convexo.

(24)

descrevem o deslocamento da mão de um ponto a outro no espaço de sinalização. Esses traços, designados pelos autores como traços de contorno de movimento, podem ser de dois tipos: reto [str] ( straight ) ou circular [rnd] (round ).

Movimentos especificados com o traço de contorno reto [str] são realizados através de um deslocamento retilíneo da mão. Um exemplo de sinal constituído por um movimento descrito por tal traço é o sinal PRESIDENTE da libras, ilustrado pela figura abaixo.

PRESIDENTE Figura (5)

Como se pode observar na figura (5), nesse sinal, a mão se move retilineamente de um ponto alguns centímetros à frente da região central do peito, a outro na mesma altura, mas localizado à direita e ao lado do ombro ipsilateral.

Já os movimentos especificados com o traço de contorno circular [rnd] podem ser realizados de duas maneiras diferentes: circular propriamente dita, caso em que a mão delineia um círculo completo; ou arqueada, situação em que a mão se desloca formando um arco. Liddell e Johnson afirmam que essas duas formas são realizações do mesmo traço de contorno, pois assumem que as formas ‘circular propriamente dita’ e ‘arqueada’ são decorrentes das especificações dos traço s articulatórios de localização que caracterizam o início e o fim do movimento. Movimentos cujos traços de localização inicial e final coincidem produzem contornos no formato de um círculo completo, ao passo que movimentos cujos traços de localização inicial e final são diferentes realizam-se de uma forma arqueada.

Sendo assim, tanto sinais como SHOPPING-CENTER (Figura (9)) quanto sinais como PROFESSOR (Figura (10)) têm seu movimento especificado pelo mesmo traço de contorno [rnd].

(25)

SHOPPING-CENTER PROFESSOR  Figura (9) Figura (10)

É interessante observar que, mais uma vez, o traço de localização deriva a realização de um determinado tipo de movimento, pois, no caso de SHOPPING-CENTER, o que determina que a forma do movimento delineia um círculo completo é o fato de tal movimento começar e terminar no mesmo ponto, ou seja, de apresentar a mesma especificação para o traço de localização tanto na sua fase inicial quanto na sua fase final.

Representação (8)

Diferentemente, no caso do sinal PROFESSOR, o que determina a forma arqueada do movimento são as diferentes especificações para os traços de localização que descrevem as fases inicial e final desse segmento. Como indicam a figura (10) e a representação a seguir, nesse sinal, a mão começa seu deslocamento em um ponto alguns centímetros à frente do esterno e o finaliza em um ponto localizado na mesma altura, mas à direita e ao lado do ombro ipsilateral.

Representação (9)11

11

 No caso do sinal PROFESSOR, estou ignorando a estrutura segmental completa do sinal e considerando apenas o segmento de movimento constitutivo desse sinal, dada a sua relevância  para a discussão neste momento.

(26)

3.3 Planos de contorno

De acordo com o modelo de Klima e Bellugi (1979), sinais como TELEVISÃO e TRABALHAR, (Figura (11)), da libras podem ser analisados como um exemplo de  par mínimo no qual o contraste semântico se estabelece basicamente por meio do plano

em que o movimento é realizado: vertical no caso do primeiro sinal e horizontal no caso do segundo, como se pode ver nas figuras abaixo.

TELEVISÃO TRABALHAR  Figura (11)

Entretanto, a análise de Liddell e Johnson trata sinais como esses de forma diferente. Os autores defendem que sinais que apresentam contorno do movimento reto [str] ( straight ) têm seu plano derivado de suas localizações inicial e final. Por isso, atribuem a elas -- e não ao plano em que o movimento é produzido, como fazem Klima e Bellugi -- a responsabilidade pelo contraste lexical.

Essa explicação funciona bem para movimentos descritos pelo traço de contorno reto [str]. Porém, como reconhecem os próprios autores, ela não é satisfatória para a descrição de movimentos especificados com o traço circular [rnd] ( round ). Tendo em vista que um movimento arqueado, por exemplo, que leva a mão de um ponto a outro,  pode fazê-lo, pelo menos teoricamente, tanto por meio de um movimento no plano vertical quanto por meio de um movimento no plano horizontal, Liddell e Johnson afirmam que é necessário especificar o plano em que a mão se desloca sempre que o movimento não for descrito pelo traço de contorno reto [str].

De acordo com Liddell e Johnson, os movimentos caracterizados pelo traço de contorno circular [rnd] podem ser realizados em cinco planos diferentes, como sumariza e exemplifica o quadro a seguir.

(27)

Quadro (1) - Planos de contorno de movimento na libras plano descrição exemplos de sinais

[HP] (horizontal plane): plano horizontal

 paralelo ao chão

Figura (12) - PADRONIZAR  [VP] (vertical plane):

 plano vertical

 paralelo à frente do torso

Figura (13) - COMPUTADOR 

[SP] (superficial plane):

 plano de superfície  paralelo à superfície deuma localização sobre o

corpo ou sobre a mão Figura (14) - ROSTO

Figura (15) - ÓLEO [PO] (oblique plane):

 plano oblíquo

 plano horizontal, mas inclinado para cima e para

fora do corpo

Figura (16) - FUTURO [MP] (midline plane):

 plano da linha medial

Plano que inteseccio-na o  plano superficial ao longo

da linha meso-sagital do corpo ou o plano ao longo

da linha medial dos ossos do braço ou da mão

(28)

3.4 Traços de qualidade

Os traços de qualidade capturaram aspectos relacionados à duração e à extensão dos movimentos, bem como à possibilidade de ocorrer contato com alguma parte do corpo durante a sua produção. Segundo Liddell e Johnson, essa categoria se divide em três subclasses: traços de qualidade temporal , traços de qualidade não-temporal  e contato.

Os traços de qualidade temporal determinam o tempo de realização de um sinal. Esse tempo pode ser descrito pelos traços prolongado [long] ( prolonged ), acelerado [acc] (accelerating ) ou reduzido [short] ( short ). A observação da realização de alguns itens lexicais da libras sugere a ocorrência dos traços prolongado [long] e acelerado [ace] como propriedades definidoras da forma de seu movimento. Como ilustração disso, pode-se citar o sinal DEMORAR  (Figura (18)), em que o movimento é normalmente produzido de forma prolongada, e o sinal RÁPID@ (Figura (19)), cujo movimento é geralmente realizado de maneira acelerada.

DEMORAR  RÁPID@ Figura (18) Figura (19)

Os traços de qualidade não-temporal, por sua vez, referem-se à extensão (longa ou curta) do movimento e à tensão [tns] (tense) que a mão apresenta quando da articulação de um sinal.

Por fim, o traço contato [contact] tem a função de indicar se a mão toca a outra mão ou alguma parte do corpo durante o movimento. Mais especificamente, esse traço descreve os chamados movimentos de roçar  (brushing movements), nos quais a mão faz um contato com alguma região localizada entre os dois pontos em que ela se desloca.

O sinal PROIBIR, ilustrado pela figura (20), exemplifica um caso de movimento de roçar na libras. Como sugere a imagem abaixo, a mão ativa, posicionada acima da mão passiva, descreve um movimento reto para baixo, durante o qual ela toca rapidamente a ponta do indicador da mão passiva.

(29)

PROIBIR  Figura (20)

3.5 Movimentos locais

Como se viu na seção 2, a distinção entre suspensões e movimentos se faz a  partir da estaticidade e da dinamicidade da mão. Nesse momento, a mão é tomada como

um todo. Entretanto, é muito comum encontrarem-se sinais que apresentam movimentos realizados pelos dedos ou pelo pulso.

Por observarem que esses movimentos ocorrem simultaneamente à atividade  principal da mão, ou seja, à realização de suspensões e de movimentos, e por 

observarem que todos eles se caracterizam como movimentos rápidos, repetidos e, em geral, incontáveis, Liddell e Johnson os reuniram em uma classe de traços segmentais que denominaram movimentos locais.

Para evidenciar que os movimentos locais constituem uma classe separada de traços, e que sua inclusão entre os traços que descrevem os segmentos das línguas sinalizadas é necessária por conta do papel distintivo que eles podem assumir, pode-se citar o par AVISAR versus ELETRICIDADE, ilustrado pelas imagens em (21).

AVISAR ELETRICIDADE Figura (21)

Com base nas imagens acima, pode-se dizer que os movimentos locais são independentes do movimento principal de cada mão (correspondente à realização de um segmento de movimento), em razão de esse movimento poder ser realizado com (cf.

(30)

ELETRICIDADE) ou sem eles (cf. AVISAR).

É importante dizer que movimentos locais não são traços segmentais que caracterizam apenas segmentos de movimento. Há também suspensões dotadas desse traço. Como exemplo disso, pode-se citar o sinal Ç (Figura (22)). Nesse sinal, observa-se que à atividade principal da mão (correspondente à realização de uma suspensão, dado que a mão está parada), sobrepõem-se rotações rápidas, repetidas e incontáveis do  pulso.

Ç Figura (22)

Esse sinal forma com o sinal C (Figura (23)) um par mínimo perfeito, fato que reforça ainda mais o uso fonológico que a libras faz do traço em questão.

C Figura (23)

Reformulando Liddell e Johnson (1989), Liddell (1990) propõe quatro diferentes tipos de movimentos locais, a saber: tamborilar dos dedos [wg] (de wiggling ), circular  [circ], oscilação de configuração de mão [osc-h] (de oscillating handshape) e oscilação de orientação [osc-o] (de oscillating orientation).

O movimento local tamborilar dos dedos, como o próprio termo já diz, consiste em flexões rápidas e, em geral, incontáveis dos dedos em suas juntas proximais. O movimento local do tipo circular, por sua vez, consiste em rotações rápidas e incontáveis da mão pelo pulso ou cotovelo. Por fim, o movimento local do tipo oscilação de configuração e oscilação de orientação consistem em alternâncias rápidas e

(31)

incontáveis da forma ou direção para qual a palma aponta, respectivamente.

Segundo Liddell, movimentos locais do tipo tamborilar e circular podem ocorrer  tanto em suspensões quanto em movimentos. Os sinais BARATA (Figura (24)) e DENTISTA (Figura (25)) são casos em que esses movimentos, respectivamente, ocorrem durante a realização de uma suspensão. Já os sinais COR (Figura (26)) e FURACÃO (Figura (27)), por sua vez, ilustram a ocorrência do movimento local do tipo tamborilar e circular, respectivamente, durante a produção de um segmento de movimento.

BARATA DENTISTA COR  FURACÃO Figura (24) Figura (25) Figura (26) Figura (27)

Já no que diz respeito aos dois outros tipos de movimentos locais, pode-se citar o sinal FLORIANÓPOLIS como exemplo de sinal da libras que exibe movimento local oscilação de configuração de mão [osc-h] e o sinal PROFUND@ como exemplo de sinal dessa mesma língua que apresenta movimento local do tipo oscilação de orientação [osc-o].

FLORIANÓPOLIS PROFUND@ Figura (28) Figura (29)

Cabe dizer, entretanto, que, segundo Liddell, tanto movimentos locais do tipo oscilação de configuração de mão [osc-h] quanto do tipo oscilação de orientação [osc-o] só podem ocorrer em segmentos de movimento (não importando se esse movimento é com ou sem trajetória).

(32)

depende da existência de duas especificações para os traços configuração de mão ou orientação da palma. No modelo de Liddell e Johnson, só segmentos de movimento têm uma estrutura interna que permite duas especificações para um mesmo traço, dado que esses segmentos apresentam duas matrizes de traços: uma para descrever sua fase inicial e outra para descrever sua fase final.

As imagens a seguir ilustram como os sinais em questão são representados no âmbito da proposta de Liddell e Johnson.

FLORIANÓPOLIS PROFUND@ Representação (10)

Além desses quatro traços que descrevem movimentos locais, Liddell (1990)  propõe outro para descrever sinais em que há oscilações rápidas de localização, como a que se pode observar em sinais como CARONA (Figura (30)).12 Esse traço é designado  pelo autor como oscilação de localização [osc-l] (oscillating location).

CARONA Figura (30)

4. Descrição do feixe articulatório

De acordo com a proposta de Liddell e Johnson (1989), o feixe articulatório, responsável pela descrição da postura da mão, se constitui de quatro subconjuntos de traços:

12Nem sempre é clara a distinção entre movimentos locais e movimentos segmentais (M). Sem dúvida essa é uma questão que precisa ser mais bem estudada.

(33)

(i)

(i) configuração de mão [CM]configuração de mão [CM] (ii)

(ii)  ponto de con ponto de contato [PC]tato [PC] (iii)

(iii) face [FA]face [FA] (iv)

(iv) orientação [OR]orientação [OR]

Cada um desses subconjuntos também se subdivide em subclasses de traços. A Cada um desses subconjuntos também se subdivide em subclasses de traços. A organização interna de cada um dos quatro subconjuntos de que é formado um feixe organização interna de cada um dos quatro subconjuntos de que é formado um feixe articulatório será descrita

articulatório será descrita nas seções subsequentes.nas seções subsequentes.

4.1 Configuração de mão [CM] 4.1 Configuração de mão [CM]

Os traços que descrevem a forma da mão (ou seja, a disposição dos dedos) são Os traços que descrevem a forma da mão (ou seja, a disposição dos dedos) são reunidos no subfeixe articulatório denominado

reunidos no subfeixe articulatório denominado configuração de mãoconfiguração de mão. Esse subfeixe, por . Esse subfeixe, por  sua vez, se constitui de três subconjuntos de traços, organizados e representados como sua vez, se constitui de três subconjuntos de traços, organizados e representados como mostra o esquema a seguir.

mostra o esquema a seguir.

Representação (11) traduzida de Liddell e Johnson (1989) Representação (11) traduzida de Liddell e Johnson (1989)

O primeiro traço, representado no esquema acima, determina se a mão e o O primeiro traço, representado no esquema acima, determina se a mão e o antebraço atuam conjuntamente na realização de uma dada configuração de mão. Nesse antebraço atuam conjuntamente na realização de uma dada configuração de mão. Nesse sentido, configurações de mão dotadas do traço (/

sentido, configurações de mão dotadas do traço (/) são especificadas positivamente para) são especificadas positivamente para o envolvimento do antebraço em sua articulação, ao passo que configurações o envolvimento do antebraço em sua articulação, ao passo que configurações desprovidas de tal traço são produzidas apenas pela mão.

desprovidas de tal traço são produzidas apenas pela mão.

A necessidade de se especificar a participação ou não do antebraço na realização A necessidade de se especificar a participação ou não do antebraço na realização de uma configuração de mão pode ser exemplificada pelo par de sinais DEPENDER  de uma configuração de mão pode ser exemplificada pelo par de sinais DEPENDER  versus

versus PÉ da libras (Figura (31)), em que essa oposição parece ser fonologicamentePÉ da libras (Figura (31)), em que essa oposição parece ser fonologicamente distintiva.

(34)

DEPENDER PÉ DEPENDER PÉ

Figura (31) Figura (31)

Como indicam as ilustrações acima, a única diferença entre os sinais Como indicam as ilustrações acima, a única diferença entre os sinais DEPENDER e PÉ é a articulação do corpo que faz a flexão necessária para a produção DEPENDER e PÉ é a articulação do corpo que faz a flexão necessária para a produção do movimento que reiteradamente leva a mão para cima e para baixo. No caso de do movimento que reiteradamente leva a mão para cima e para baixo. No caso de DEPENDER, a flexão se dá nos cotovelos, sugerindo que o antebraço atua em conjunto DEPENDER, a flexão se dá nos cotovelos, sugerindo que o antebraço atua em conjunto com a mão na articulação desse sinal. Diferentemente, no caso de PÉ, a flexão ocorre com a mão na articulação desse sinal. Diferentemente, no caso de PÉ, a flexão ocorre nos pulsos, indicando participação exclusiva das mãos, pelo que se pode depreender do nos pulsos, indicando participação exclusiva das mãos, pelo que se pode depreender do dicionário.

dicionário.  Na

 Na sequência, sequência, no no esquema esquema em em (14), (14), aparece aparece um um subconjunto subconjunto de de traços traços que que sese constitui de três

constitui de três especificaçõeespecificações: [Configdedos], [Dedo 2º] s: [Configdedos], [Dedo 2º] e [Relax]. Tais e [Relax]. Tais especificaespecificaçõesções têm a função de descrever, conjuntamente, a disposição dos dedos indicador, médio, têm a função de descrever, conjuntamente, a disposição dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo.

anelar e mínimo.

As especificações [Configdedos] e [Dedo 2º] codificam as diferentes formas em As especificações [Configdedos] e [Dedo 2º] codificam as diferentes formas em que os dedos indicador, médio, anelar e mínimo podem ser configurados. A primeira que os dedos indicador, médio, anelar e mínimo podem ser configurados. A primeira delas, [Confdedo], determina os dedos que

delas, [Confdedo], determina os dedos que estão abertos e os estão abertos e os que estão fechados. Dedosque estão fechados. Dedos abertos são aqueles que apresentam uma distensão tanto na junta proximal

abertos são aqueles que apresentam uma distensão tanto na junta proximal  –  – JPJP –  – (junta(junta que une o dedo à palma da mão) quanto na junta distal

que une o dedo à palma da mão) quanto na junta distal  –  – JDJD –  – (junta localizada entre a(junta localizada entre a falange medial e a distal)

falange medial e a distal) (Figura ((Figura (32a)). Já dedos 32a)). Já dedos fechados são aqueles que apresentamfechados são aqueles que apresentam essas duas juntas flexionadas

essas duas juntas flexionadas (Figura (3(Figura (32b))2b))1313..

13

(35)

(a) (b)

(a) (b)

Figura (32) Figura (32)1414

A especificação [Dedo 2º], por sua vez, tem a função de determinar se os dedos A especificação [Dedo 2º], por sua vez, tem a função de determinar se os dedos abertos estão “achatados”, ou seja, flexionados na junta proximal; ou se estão em abertos estão “achatados”, ou seja, flexionados na junta proximal; ou se estão em gancho, isto é, flexionados nas juntas distais, como mostram as imagens na figura (33a) gancho, isto é, flexionados nas juntas distais, como mostram as imagens na figura (33a) e na figura (33b),

e na figura (33b), respectivamenrespectivamente.te.

(a) (b) (a) (b)

Figura (33) Figura (33)

Para indicar simultaneamente os dedos abertos e os dedos fechados de uma Para indicar simultaneamente os dedos abertos e os dedos fechados de uma determinada configuração, ou seja, a [Confded], Liddell e Johnson lançam mão de 25 determinada configuração, ou seja, a [Confded], Liddell e Johnson lançam mão de 25 símbolos, listados no do ane

símbolos, listados no do anexo dest artigo. De acordo com essa lista, xo dest artigo. De acordo com essa lista, as configuraçõas configuraçõeses dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo, apresentadas em (32), por exemplo, são dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo, apresentadas em (32), por exemplo, são simbolizadas, respectivamente, por [B] e [S]. [B] indica que todos os dedos simbolizadas, respectivamente, por [B] e [S]. [B] indica que todos os dedos mencionados estão distendidos nas juntas proximais e distais, e [S], que, além de todos mencionados estão distendidos nas juntas proximais e distais, e [S], que, além de todos esses mesmos dedos estarem flexionados nessas duas juntas, eles estão posicionados de esses mesmos dedos estarem flexionados nessas duas juntas, eles estão posicionados de forma que suas pontas tocam a palma

forma que suas pontas tocam a palma da mão.da mão.

Já para especificar se os dedos abertos, determinados pelo traço [Configdedos] Já para especificar se os dedos abertos, determinados pelo traço [Configdedos]

14

14 Agradeço à surda Regiane Pinheiro Agrella por gentilmente ceder a imagem de sua mãoAgradeço à surda Regiane Pinheiro Agrella por gentilmente ceder a imagem de sua mão  produzindo as configuraçõe

(36)

estão achatados ou em gancho, os auto res utilizam os símbolos [^] e [″], respectivamente.

 Nos termos da análise em questão, uma configuração de mão do tipo ilustrado na figura (34a) abaixo é representada unicamente pelo símbolo [1], uma vez que o dedo aberto não apresenta flexão nem na junta proximal nem na junta distal. Já configurações do tipo apresentado na figura (34b) e na figura (34c), além do símbolo [1], precisarão ser descritas quanto à flexão das juntas. Sendo assim, a forma achatada do dedo em (34b) é representada como [1^], enquanto a forma em gancho, apresentada em (34c), é notada como [1″].

[1] [1^] [1″] (a) (b) (c)

Figura (34)

Em suma, por serem os dedos indicador, médio, anelar e mínimo igualmente capazes de flexionar-se e distender-se na juntas proximal (JP) e distal (JD), cada um deles pode ser posicionado de quatro formas diferentes: aberto, fechado, “achatado” o u em gancho. Como mostra o quadro a seguir, essas diferentes disposições dos dedos são resultantes da combinação dos diferentes estados (flexionado e distendido) que as juntas  proximais e distais podem apresentar.

É interessante observar que a riqueza de detalhes do sistema de notação permite a ele capturar com precisão o(s) traço(s) com base nos quais as configurações de mão diferem. Isso é de grande importância quando se observa que esse(s) traço(s) pode(m) ser distintivos. Na libras, por exemplo, a oposição [dedos unidos] versus [dedos espalmados], capturada pelos 25 símbolos taxonômicos apresentados no quadro (2) do anexo desta dissertação, é fonologicamente relevante em algumas configurações de mão, pois é com base nela que os sinais U (Figura (35a)) e V (Figura (35b))

(37)

contrastam15.

U V

(a) (b) Figura (35)

 Nessa mesma língua, a oposição [dedos abertos] versus dedos “em gancho” [″] também é fonologicamente relevante, uma vez que é com base nela que se estabelece o contraste entre o sinal V (Figura (35b)) supracitado e o sinal NÚMERO-CINCO, ilustrado na figura (36).

CINCO Figura (36)

A última especificação do subconjunto configuração de dedos, [Relax], diz respeito a uma mudança tênue que a configuração dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo pode sofrer por efeito do relaxamento de seus músculos. Embora esse relaxamento, indicado pelo símbolo [~], não provoque uma alteração nos traços das especificações [Configdedos] e [Dedo 2º], ele os torna menos rígidos.

Por meio desse traço, é possível distinguir, por exemplo, a configuração dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo, tal como eles aparecem em sinais como E (Figura (37a)), da configuração que esses mesmos dedos exibem em sinais como C (Figura (37b)).

15 A maior parte dos pares mínimos desta seção advirão de sinais para letras. Tal fato se deve à dificuldade de encontrar pares mínimos perfeitos.

(38)

E (a)

C (b) Figura (37)

A representação tanto da configuração do primeiro sinal, quanto da do segundo, envolvem os símbolos [B″], dado que, em ambos os sinais, os dedos encontram -se distendidos nas juntas proximais e flexionados nas juntas distais. Mas, para capturar, na representação da configuração do sinal C, o fato de que as juntas distais não aparecem tão flexionadas quanto aparecem no sinal E, Liddell e Johnson lançam mão do traço [Relax], simbolizado por [~], e representam a configuração desse sinal como [B″~].

Por fim, a terceira e última sublcasse de traços do subfeixe configuração de mão tem como função descrever a disposição do polegar. De acordo com Liddell e Johnson, a caracterização de tal dedo depende da especificação de três traços: [Rotação do  polegar], [Polegar 2º] e [Contato].

O primeiro deles, [Rotação do polegar], define se o polegar está posicionado adjacente ou paralelamente ao plano criado pela palma da mão. No primeiro caso, designado pelos autores de não-oposto [u] ( unopposed ), o polegar se localiza ao lado dos demais dedos, de tal forma que é capaz de tocar a lateral radial do indicador  distendido (Figura (38a)) ou a lateral radial da junta medial de qualquer dedo achatado (Figura (38b)), como ilustram as imagens abaixo.

(a) (b) Figura (38)

(39)

almofada do polegar, voltada para a palma da mão, posiciona-se paralelamente ao plano criado por esta, como mostra a figura (39a). O polegar, nessa posição, é capaz de tocar a  palma dos outros dedos, como mostra a imagem em (39b) a seguir.

(a) (b) Figura (39)

Assim como no caso dos demais dedos, o polegar, independentemente de estar  não-oposto [u] ou oposto [o], também é capaz de flexionar-se nas juntas proximal e distal. Dessa maneira, pode se configurar em qualquer uma das quatro formas citadas  para os demais dedos: aberta, fechada, achatada e em gancho. Por essa razão, para determinar em qual(is) (das) junta(s) ocorre(m) flexão, Liddell e Johnson incluíram, entre os traços que descrevem o polegar, a especificação [Polegar 2º], análoga à que  propuseram para caracterizar a flexão e a extensão dos outros dedos.

 Nesse sentido, um polegar será descrito como aberto, quando as suas duas juntas (proximal e distal) estiverem distendidas; será descrito como fechado, quando essas duas juntas estiverem flexionadas; e será descrito como achatado ou em gancho, quando apenas uma das juntas estiver flexionada (a proximal no primeiro caso e distal no segundo). O quadro abaixo ilustra configurações em que tanto o polegar não-oposto quanto o oposto aparecem configurados em uma dessas quatro formas.

Quadro (2) - Disposições do polegar não-oposto e oposto

(40)

[u″] – em gancho [o″] – em gancho

[u^] -achatado [o^] – achatado

[u-] -fechado [o-] -fechado16

É importante observar que os símbolos usados para descrever a característica achatada [^] ou em gancho [″] do polegar são os mesmos usados  para a descrição dessa característica nos outros dedos. Também como no caso dos demais dedos, a especificação [aberto] do polegar não recebe nenhum símbolo especial. Entretanto, no que diz respeito à especificação [fechado] do polegar, usa-se o símbolo [-], tanto para um polegar oposto quanto para um polegar não-oposto.

Embora, à primeira vista, pareça não motivado o tratamento individualizado que Liddell e Johnson dão ao polegar, pares de sinais como os apresentados a seguir  desfazem essa impressão. Como se pode depreender das figuras que representam os sinais PROMETER (Figura (40a)) e B (Figura (40b)) da libras, a configuração do  polegar pode ser fonologicamente relevante, dado que, nesses sinais, essa é a única diferença com base na qual eles contrastam: no primeiro, o polegar aparece não-oposto e achatado, [u^], enquanto no segundo ele aparece não-oposto, mas fechado, [u-].

16 De acordo com a descrição de Liddell e Johnson (2000:285 [1989]), o polegar oposto e fechado se caracteriza por tocar o dorso do(s) dedo(s) flexionado(s) nas duas juntas (proximal e distal). Por essa razão, o exemplo de polegar caracterizado por esses traços foi dado aqui com uma configuração diferente da dos demais dedos, na medida em que é articulatoriamente impossível o polegar tocar o dorso de dedos abertos.

(41)

PROMETER  (a)

B (b) Figura (40)

Outro par de sinais em que a configuração do polegar é relevante não só para a distinção de duas configurações, mas também para o estabelecimento de contraste lexical na libras, é formado pelos sinais L e G, representados pelas figuras em (41).

L (a)

G (b) Figura (41)

Como se pode ver nas figuras acima, em ambos os sinais, o polegar está não-oposto [u] e aberto. A única diferença entre eles é que, no sinal G, o polegar se encontra achatado [^], ou seja, dobrado na junta proximal, diferentemente do polegar no sinal L, que não apresenta flexão nenhuma nessa junta.

O último traço que compõe o subconjunto de traços que descrevem o polegar --contato -- tem a função de determinar se ocorre --contato entre o polegar e outro(s) dedo(s) e que região do polegar contacta os outros dedos. Liddell e Johnson propuseram quatro diferentes traços para essa especificação, que são descritos a seguir e ilustrados  pelas imagens em (42).

(a) [c]: contato realizado pela ponta do polegar; (b) [p]: contato realizado pela almofada do polegar;

(c) [f]: contato realizado pela almofada do polegar na unha de outro(s) dedo(s); (d) [t]: contato realizado pela unha do polegar na almofada de outro(s) dedo(s).

(42)

(a) (b) (c) (d) Figura (42)

Por meio desses traços é possível capturar diferenças entre configurações de mão que podem ser usadas distintivamente por uma língua sinalizada. Na libras, por  exemplo, pode-se observar o uso fonológico que essa língua faz do traço [c] (contato), ao se compararem os sinais C (Figura (43a)) e O (Figura (43b)).

C (a)

O (b) Figura (43)

Como sugerem as figuras, a característica com base na qual esses dois itens lexicais contrastam consiste na ausência de contato do polegar com outros dedos versus a sua presença.

A parte do polegar que contacta o(s) dedos(s) também pode ter valor distintivo. Um evidência disso, na libras, são os sinais F (Figura (44a)) e T (Figura (44b)) em que o contraste lexical é estabelecido com base nesse traço: enquanto no primeiro a parte do  polegar que toca o dedo indicador é a sua almofada [p], no segundo o contato é feito  pela unha [t].

(43)

F (a) T (b) Figura (44) 4.2 Ponto de Contato [PC]

O subfeixe articulatório  ponto de contato [PC] é formado por quatro subconjuntos de traços, a saber:

(i) localização; (ii)  parte da mão; (iii)  proximidade; (iv) relação espacial.

O primeiro deles, localização, tem sido assemelhado ao que se chama de ponto de articulação na fonologia das línguas orais, visto que ele também tem a função de especificar um ponto no articulador passivo, que é tocado pelo articulador ativo ou que serve de ponto de referência para ele.

Entretanto, uma diferença marcante entre esse traço nas línguas orais e seu correlato nas línguas sinalizadas é a de que, no caso dessas últimas, a gama de “articuladores passivos” é maior, dado que os sinais podem ser produzidos em três regiões diferentes:

(a) sobre o corpo;

(b) sobre alguma região da mão passiva e;

(c) no espaço de sinalização, ou seja, na região em frente à cabeça e ao torso do sinalizador.

(44)

no modelo de Liddell e Johnson. Sinais produzidos sobre alguma região do corpo (excluindo-se a mão passiva), por exemplo, têm a sua localização descrita por meio de quatro traços, organizados e representados como no esquema a seguir.

Representação (3) adaptada de Liddell e Johnson (1989)

A especificação (1) do esquema acima, [%], tem a função de expressar em que lado do corpo está localizado o ponto de articulação de um sinal. Mais precisamente, ela indica se uma determinada localização é contralateral (lado da mão não-dominante), caso no qual a sua descrição inclui o símbolo [%], ou se é ipsilateral (lado da mão dominante), situação na qual não há qualquer tipo de marcação. Já a especificação (3), [localização], é responsável por indicar a área do corpo sobre a qual um determinado sinal é articulado. Por fim, a especificação (2), (i), determina que o ponto de contato não corresponde exatamente à região especificada por (3), mas sim a um ponto em sua  periferia.

Segundo Liddell e Johnson, na ASL, a especificação (3) abrange 20 áreas fonologicamente distintivas, listadas no quadro a seguir.

Quadro (3) - Localizações sobre o corpo possíveis na ASL

BH (back of head): região posterior da cabeça CN (chin): queixo TH (top of head): topo da cabeça NK (neck): pescoço FH (forehead): testa SH (shoulder): ombro

SF (side of forehead): lado da testa ST(sternum): esterno NS (nose): nariz CH (chest): peito CK(cheek): bochecha TR (trunk): tronco

ER (ear): orelha UA (upper arm): parte superior do braço MO (mouth): boca FA (forearm): antebraço

LP (lip): lábio AB (abdomen): abdômen

JW ( jaw): mandíbula LG (leg): perna

(45)

menos duas dessas áreas listadas no quadro acima, na libras.

APRENDER SÁBADO Figura (45)

Como sugerem as figuras acima, o único traço que distingue um sinal do outro é  justamente o ponto de contato: enquanto em APRENDER o sinal é realizado no queixo

[CN] (chin), o sinal SÁBADO é articulado na testa [FH] ( forehead ).

Por observarem a existência de sinais que não são articulados exatamente na região central de cada uma das localizações listadas no quadro (5), Liddell e Johnson incluíram entre os traços que descrevem o ponto de articulação de um sinal as especificações (2) e (4). A função de tais especificações é determinar pontos adjacentes a uma dada localização principal como, por exemplo, regiões ao lado, acima ou abaixo desta. Nos termos do modelo em questão, uma região situada ao lado de uma localização principal é indicada pelo traço [i] (ipsilateral) e áreas situadas na porção superior e inferior desta são descritas pelos traços [t] ( top) e [b] (bottom), respectivamente.

Graças a esse recurso, é possível diferenciar a localização de sinais da libras como AINDA-NÃO, GOSTOS@ e NÃO-ADIANTA (Figura (46)). Embora,  grosso modo, o ponto de articulação de tais sinais possa ser igualmente descrito pelo traço queixo [CN], eles não são produzidos exatamente nas mesmas áreas deste. Como indicam as figuras a seguir, o sinal AINDA-NÃO é articulado na região central do queixo [CN]; o sinal GOSTOS@, na porção superior (logo abaixo do lábio inferior) [CNt] e, por fim, o sinal NÃO-ADIANTA, na região inferior deste, ou seja, no submaxilar [CNb].

(46)

Figura (46)

A combinação dos quatro tipos de especificações presentes no subfeixe localização produz pontos de articulação que podem ser usados fonológica ou foneticamente pelas línguas sinalizadas. Esses pontos encontram-se representados em figuras retiradas de Liddell e Johnson (1989) no quadro (6) a seguir.

Quadro (4) - Localizações sobre o corpo e seus respectivos símbolos (Liddell e Johnson, 1989)

(47)

Quando o sinal é articulado sobre alguma região da mão passiva, o modelo de Liddell e Johnson utiliza outro esquema de descrição e outro conjunto de traços para descrever tal ponto de articulação. O esquema, nesse caso, é constituído de duas especificações: uma indica uma localização principal na mão (a mão, os dedos, o  polegar, etc); a outra especifica uma região nessa localização principal (dentro, no

dorso, na extremidade radial, etc). Os símbolos utilizados são os representados no quadro (7).

Quadro (5) – Localizações sobre a mão passiva

HAND:

mão FI (dedosfingers): (exceto  polegar)

TH (thumb):

 polegar  fingerXF (index): dedo indicador  MF (middle finger): dedo médio RF (ring finger): dedo anelar  LF (little finger): dedo mínimo IN: parte

interna (palma)PA INFI INTH INXF INMF INRF INLF PD (pad): almofada PDFI PDTH PDXF PDMF PDRF PDLF BK (back): dorso BK BKFI BKTH BKXF BKMF BKRF BKLF RA: radial RA RAFI RATH RAXF RAMF RARF RALF UL: ulnar UL ULFI ULTH ULXF ULMF ULRF ULLF

TI (tip):

 ponta TIFI TITH TIXF TIMF TIRF TILF KW (knuckle): nó dos dedos KW BA: base BA HL (heel): “calcanhar” HL WB (web): região interdigital WBFI WBTH WBXF WBMF WBRF WBLF

(48)

 Nos termos desse esquema, um sinal como REMÉDIO (Figura (47)) teria sua localização descrita pelo traço palma [PA], que representa a palma da mão passiva; um sinal como CONVERSAR  (Figura (48)) teria sua localização descrita pelo traço [BK] (back ), que representa o dorso da mão passiva, e um sinal como FEIJÃO (Figura (49)) teria sua localização descrita pelo traço [TILF] ( tip + little finger ), que representa a  ponta do dedo indicador.

REMÉDIO CONVERSAR  FEIJÃO Figura (47) Figura (48) Figura (49)

Finalmente, quando um sinal é produzido no espaço de sinalização, a descrição de sua localização inclui traços que expressam: (i) a que distância perpendicular a mão está localizada em relação ao corpo; (ii) qual o grau de afastamento da mão em relação à linha medial do corpo; e (iii) em que altura a mão se situa em relação às localizações  principais que se encontram ao longo da região central do corpo. Liddell e Johnson

representam esses traços seguindo o esquema abaixo.

Proximidade – Deslocamento Ipsilateral – Localização Central

Representação (4) traduzida de Liddell e Johnson (2000:287 [1989]) Para a especificação proximidade, há quatro possíveis traços, a saber:

(i) proximal [p]: indica uma localização a poucos centímetros de uma região sobre o corpo;

(ii) medial [m]: indica uma localização em frente ao corpo cuja distância é aproximadamente equivalente à de um cotovelo horizontalmente  posicionado;

(iii) distal [d]: indica uma localização em frente ao corpo cuja distância é aproximadamente equivalente à de um braço semi-estendido e horizontalmente posicionado;

(49)

equivalente à de um braço totalmente estendido e horizontalmente  posicionado.

Já para a segunda especificação, deslocamento ipsilateral , o modelo de Liddell e Johnson registra dois graus de afastamento da linha medial que intesecciona o corpo: o  primeiro deles é paralelo ao peito, notado pelos autores como [1] (cf. DEPENDER 

(Figura (31a))), e o segundo, paralelo à extremidade do ombro, notado como [2] (cf. PROMETER (Figura (40a))). Nos casos em que um sinal é realizado em uma localização paralela à linha medial, ou seja, sem deslocamento ipsilateral, esse traço tem a especificação [0] (cf. BRASIL (Figura (50))).

BRASIL17

[m0FH] – [m0ST] Figura (50)

Como se pode ver na representação tanto do ponto de contato incial [m0FH] quando do ponto de contato final [m0ST], no sinal BRASIL, a mão, localizada à uma distância média do corpo [m], move-se de um ponto à altura da testa [FH] em direção a outro à altura do esterno [ST]. Por estar a mão, nesse sinal, localizada em um plano  paralelo à linha medial do corpo, diz-se que seu deslocamento ipsilateral é [0].

Por fim, para a última especificação do esquema acima, localização central , utilizam-se os símbolos TH, FH, NS, MO, CH, NK, ST, CH, TR e AB, também utilizados para determinar pontos de articulação sobre o corpo (ver Quadro (4)).

A figura abaixo apresenta possíveis pontos de articulação no espaço de sinalização, especificados de acordo com os três tipos de traços previstos pela proposta de Liddell e Johnson.

17 Por ser realizado com mudança de [PC], o sinal em questão apresenta a descrição de dois  pontos de contato: o inicial e o final.

(50)

Figura (51) adaptada de Liddell e Johnson (1989)

Conforme dito no início desta seção, o feixe  ponto de contato [PC], além do subfeixe localização, constitui-se de três outros subfeixes de traços:  parte da mão,  proximidade e relação espacial . O primeiro deles,  parte da mão, tem a função de determinar que parte desta está voltada para o ponto de articulação especificado pela localização ou que parte desta contacta essa localização.

A importância dessa especificação pode ser observada em sinais como COMPASSO, representado pela figura a seguir.

COMPASSO Figura (52)

Como sugere a imagem em (52), embora nesse sinal os dois dedos distendidos da mão dominante estejam voltados para a mão não dominante, somente um deles, o dedo indicador (e não o médio), contacta a palma da mão passiva durante a realização do sinal.

Já o segundo subfeixe, proximidade, é responsável por indicar se a parte da mão, especificada pelo subfeixe mencionado acima, está ou não em contato com uma determinada localização. Em caso afirmativo, tal subfeixe é especificado pelo traço [c] (como em COMPASSO), mas em caso negativo, ele pode receber três especificações diferentes conforme a distância entre a parte da mão e a localização para qual ela está voltada. De acordo com Liddell e Johnson, essa distância pode ser determinada pelos

(51)

traços proximal [p], medial [m] e distal [d].

Por fim, o terceiro subfeixe, relação espacial , especifica a direção na qual a  parte da mão está deslocada de uma localização. Essa especificação é necessária para sinais que, assim como PROIBIR (Figura (20)) e MENTIR (Figura (53)), apresentam movimento de roçar . Como sugerem suas respectivas figuras, nesses casos, a mão, antes e depois de contactar a localização descrita pelo ponto de contato, é posicionada em  pontos próximos a ela.

MENTIR  Figura (53)

 No sinal MENTIR, por exemplo, a mão parte de uma região próxima à parte ipsilateral do nariz em direção a uma região próxima à parte contralateral deste.

4.3 Face [FA] e orientação [OR]

De acordo com Liddell e Johnson, os sinais fazem uso de duas especificações diferentes que determinam conjuntamente a orientação da mão. Uma delas, denominada  por eles de face [FA], é responsável por indicar a parte da mão que é alocada no ponto

em que um determinado sinal é produzido e/ou a direção para a qual os dedos apontam. Já a outra, designada de orientação [OR], tem a função de determinar que parte da mão está situada paralelamente ao plano do chão [HP].

Pares de sinais como DOIS x V (Figura (54)) são evidências de que a libras faz uso fonológico do subfeixe face [FA].

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DOIS V Figura (54)

Embora o contraste nesses sinais pareça ser estabelecido pela orientação, o modelo de Liddell e Johnson trata esses sinais como casos de contraste da face. Tal como concebida por Liddell e Johnson, a orientação determina a parte da mão que está  paralela ao plano do chão que, tanto o sinal DOIS quanto o sinal V é a mesma: a base da

mão. Sendo assim, o que distingue um sinal do outro é a parte da mão alocada no ponto de contato (ponto de articulação de cada um desses sinais), ou seja, a sua face. Enquanto no sinal DOIS o subfeixe face é especificado pelo traço dorso [BK] ( back ), ele é especificado no sinal V pelo traço palma [PA].

Já pares de sinais como JUSTIÇA versus OFICINA (Figura (55)) evidenciam o caráter distintivo, nessa mesma língua, do subfeixe orientação [OR].

JUSTIÇA OFICINA Figura (55)

Como mostram as imagens nesses casos, o que está em jogo é a parte da mão que está paralela ao plano do chão. No sinal JUSTIÇA, é a parte radial de cada mão que está paralela ao plano do chão, enquanto no sinal OFICINA é a palma.

5. Conclusão

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fonético-fonológico proposto por Liddell e Johnson (1989) . Entre as razões que diferenciam tal modelo da proposta pioneira de Stokoe (1960) e seus seguidores, destaca-se, em primeiro lugar, o seu alto poder descritivo. Diferentemente de propostas anteriores, Liddell e Johnson apresentam uma descrição mais refinada dos aspectos articulatórios envolvidos na produção dos sinais, a saber, configuração de mão, localização, movimento e orientação. Mais especificamente, eles não tratam cada um deles como todos inanalisáveis, mas sim como aspectos dotados de subaspectos com  base nos quais contrastes lexicais podem ser estabelecidos.

Em segundo lugar, destaca-se a capacidade do modelo de Liddell e Johnson de capturar a sequencialidade de certos aspectos articulatórios observável durante a  produção dos sinais. Ao contrário de Stokoe (1960) que propunha uma organização interna do sinal pautada na simultaneidade, Liddell e Johnson propõem uma estrutura interna para os sinais definida em termos de segmentos que são realizados sequencialmente, à semelhança do que ocorre nas línguas orais.

6. Referências

CHOMSKY, N.; M. HALLE. The Sound Pattern of English. Harper e Row, 1968.

FELIPE DE SOUZA, T. A.  A relação sintático-semântica dos verbos e seus argumentos na língua brasileira de sinais (libras). 1998. Tese de Doutorado em linguística. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.

GOLDSMITH, J. Autosegmental Phonology. Bloomington: IULS, 1976.

KLIMA, E. S.; U. BELLUGI. The Signs of Language. Cambridge: Harvard University Press, 1979.

LIDDELL, S. K.; R. E. JOHNSON. (1989). American Sign Language: The Phonological Base. In: VALLI, C. e C. LUCAS (org.). (2000). Linguistics of American Sign Language: an introduction. Washington, D.C.: Clerc Books/Gallaudet University Press.

LIDDELL, S. K. (1990). Structures for Representing Handshape and Local Movement at the Phonemic Level. In: FISCHER, S. D. e P. SIPLE (org.). Theoretical Issues in Sign Lnaguage Research. vol. 1. Chicago: The University of Chicago Press, 1990.

PADDEN, C.; D. PERLMUTTER. American Sign Language and Architecture of  Phonological Theory. Natural Language and Linguistcs Theory 5, 335-376, 1987.

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