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Questões de graus de equivalência lexical entre português, inglês e espanhol no domínio da Dermatologia

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Academic year: 2021

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Questões de graus de equivalência lexical entre português, inglês

e espanhol no domínio da Dermatologia

Ivanir Azevedo Delvizio1, Lidia Almeida Barros2

1,2

Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Universidade Estadual Paulista (UNESP) – São José do Rio Preto – SP – Brasil

ivanir_ad@yahoo.com.br, lidia@lem.ibilce.unesp.br

Abstract. In this paper we will analyze questions of linguistic equivalence (total) and correspondence (partial) between Brazilian Portuguese, English and Spanish terms in the domain of Dermatology. We will show in which level they bear total or partial identity with regard to the language level, usage or semantic extension. Keywords. Terminology, Bilingual Terminology; Lexical Equivalence, Dermatology.

Resumo. Neste trabalho abordaremos questões de equivalência (total) e correspondência (parcial) entre termos em português, inglês e espanhol do domínio da dermatologia. Mostraremos em que grau mantêm relações de identidade total ou parcial no que se concerne ao nível de língua, ao uso ou à extensão semântica.

Palavras-chave. Terminologia; Terminologia Bilíngüe; Equivalência Lexical; Dermatologia.

Introdução

Na pesquisa terminológica bilíngüe ou multilíngüe, o terminólogo deve encontrar, na língua de chegada (LC), um termo que possua identidade de sentidos e de uso com o termo da língua de partida (LP). Porém, observa-se que nem sempre o termo da LC recobre totalmente o campo de significação ou se situa no mesmo nível de língua ou possui os mesmos usos do termo da LP. Essas diferenças se devem, principalmente, ao fato de que “uma mesma realidade extralingüística pode ser analisada de pontos de vista muito divergentes em línguas diferentes, a partir dos laços profundos e complexos que existem entre estrutura da língua e visão de mundo” (Alpízar-Castillo, 1995, p. 102).

No âmbito do projeto Vocabulário Multilíngüe de Dermatologia (VMD), coordenado pela Profª. Drª. Lidia Almeida Barros, desenvolvemos uma pesquisa, apoiada pela FAPESP, que consiste na busca de equivalentes em espanhol para um conjunto terminológico, em português, do domínio da Dermatologia. As questões que acabamos de levantar apresentaram-se em nossa pesquisa e pretendemos abordá-las neste trabalho. Vale ressaltar que, para verificar dados duvidosos entre esses dois idiomas, recorremos a um terceiro (inglês), que forneceu elementos preciosos à pesquisa, enriquecendo-a. Porém,

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antes de expormos dados concretos e práticos, consideramos importante discorrer sobre alguns aspectos teóricos de Terminologia Bilíngüe que fundamentam nossa pesquisa. Questões de Terminologia Bilíngüe

Segundo Miguel Ángel Vega (1995, p. 65), a Terminologia possui uma primeira e fundamental aplicação intralingüística, que consiste na ordenação e sistematização de um conjunto de termos e seus respectivos conceitos, com o fim de delimitar com precisão o conteúdo conceptual de cada um desses termos e tratá-los de um ponto de vista lingüístico. Trata-se da Terminologia monolíngüe. A outra aplicação, a interlingüística, refere-se ao estudo comparado de termos pertencentes a duas ou mais línguas para a identificação de equivalentes. Esse trabalho auxilia o tradutor, entre outros usuários, disponibilizando, sob a forma de dicionários especializados ou bases de dados terminológicos bi- ou multilíngües, listas de termos equivalentes em diferentes idiomas, e facilita o intercâmbio de informações entre especialistas falantes de línguas diferentes. Trata-se da Terminologia Bilíngüe. Deve-se atentar para o fato de que o princípio básico que norteia a pesquisa terminológica bilíngüe é que “fazer Terminologia não é fazer Tradução” (Cabré, 1993, p. 246). De fato, como explica Rodolfo Alpízar Castillo (1995, p. 104), a busca de equivalentes não consiste na simples tradução literal do termo, o que poderia ocasionar a criação de termos artificiais, ou seja, que não corresponda à realidade lingüística do domínio em questão. Deve-se, depois de recolhidas as denominações que os usuários de uma língua empregam para se referirem a um conceito, identificar, na língua estrangeira, o termo equivalente, usado pelos especialistas para se referirem ao mesmo conceito. O terminólogo deve, portanto, encontrar, na língua de chegada (LC), um termo que possua identidade de sentidos e de uso com o termo da língua de partida (LP). Contudo, ao se compararem os conceitos existentes em um dado domínio em línguas distintas, observamos que nem sempre o termo de uma língua recobre totalmente o conceito designado em um outro idioma, havendo diferentes graus de equivalência lexical.

Segundo Alpízar-Castillo (1995, p. 101) “a correspondência entre termos de idiomas diferentes situa-se em um diapasão de possibilidades que vai desde o total recobrimento do conteúdo do termo da língua A por um da língua B, até a total falta de equivalências, passando por uma variada gama de recobrimentos parciais”. De acordo com o autor, “é possível, inclusive, que o próprio conceito não exista em alguma das línguas confrontadas” (1995, p. 102). Robert Dubuc (1985, p. 55), por sua vez, distingue claramente equivalência e correspondência. Para o autor, equivalência é o termo que, na LC, “exibe uma identidade completa de sentidos e de uso com o termo da LP, no interior de um mesmo domínio de aplicação”. Já correspondência é o termo que “recobre apenas parcialmente o campo de significação do termo de um outro idioma, ou que se situa em um nível de uso diferente de seu homólogo do outro idioma”.

Em nosso trabalho adotamos essa distinção e procuramos identificar a ocorrência de diferentes graus de equivalência terminológica.

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Casos de equivalência lexical na Dermatologia

Analisaremos, agora, alguns casos que nos chamaram a atenção durante nossa pesquisa e que ilustram relações de diferentes graus de equivalência lexical entre termos da Dermatologia, nos idiomas português, inglês e espanhol.

Hanseníase

Na Antiguidade, o termo lepra era usado para designar diversas doenças da pele, especialmente as de caráter crônico ou contagioso e incurável. Na Dermatologia atual, esse termo designa uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium Leprae ou Bacilo de Hansen. Devido aos avanços da Medicina atual, possui tratamento. Ainda hoje, porém, esse termo carrega o “estigma historicamente inerente ao seu nome, fortemente vinculado ao preconceito social” (Faria, 2003). O mesmo ocorre com os termos lepra, em espanhol, e

leprosy, em inglês.

Como designações alternativas a essa existem os epônimos mal de Hansen (port.),

enfermedad de Hansen (esp.) e Hansen’s disease (ingl.). Porém, como pudemos atestar em

nosso corpus textual de Dermatologia, esses termos são pouco utilizados nos três idiomas em questão.

O português ainda dispõe do termo hanseníase para se referir à mesma doença. Esse é um termo científico e hoje é utilizado com o intuito de amenizar o estigma social que

lepra impõe. Não foram encontrados equivalentes para esse termo nos outros dois idiomas.

Assim, chegamos ao seguinte quadro de comparação terminológica:

Português Espanhol Inglês

a lepra lepra leprosy

b mal de Hansen enfermedad de Hansen Hansen’s disease

c hanseníase Ø Ø

Na linha (b) do quadro temos um caso de equivalência total, já que os termos designam o mesmo conceito, possuem o mesmo nível de língua e a mesma freqüência de uso (pouco usado) nos três idiomas em contraste.

Na linha (a) os três termos se equivalem do ponto de vista etimológico, conceptual e quanto ao valor sociolingüístico (forma marcada). Entretanto, diferem-se quanto ao uso: em inglês e espanhol, respectivamente, as formas leprosy e lepra são freqüentemente utilizadas em obras científicas, como pudemos atestar em nosso corpus textual. Já em português, o uso do termo lepra em textos científicos é menos freqüente e não recomendado. Por isso,

leprosy (ingl.) e lepra (esp.) não podem ser considerados como equivalentes totais de lepra

(port.).

No Brasil, a Lei nº. 9.010, de 29 de março de 1995, substituiu o termo lepra por

hanseníase com a intenção de diminuir o preconceito em relação à doença. Conforme o art.

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empregada nos documentos oficiais da Administração centralizada e descentralizada da União e dos Estados-membros”. Tal substituição pode ser vista tanto nos tratados de Dermatologia, quanto na campanha nacional de prevenção a essa doença (A hanseníase tem

cura). Esse termo, como se pode observar no item (c) do quadro, não possui equivalentes

nos outros idiomas. Assim, poderíamos dizer que leprosy (ingl.) e lepra (esp.), que são equivalentes de fato entre si, são apenas correspondentes de hanseníase (port.). Do ponto de vista prático, porém, são equivalentes funcionais desse termo, já que as três unidades terminológicas são usadas em obras científicas (nos respectivos idiomas) para designarem o mesmo conceito.

Cútis

O termo pele (port.) designa o revestimento cutâneo de todo o corpo humano, enquanto o termo cútis (port.) designa especificamente a pele do rosto, possuindo, portanto, uma extensão menor do que o primeiro. O mesmo ocorre em espanhol entre os temos piel e

cutis. Assim, podemos dizer que os pares pele / piel e cútis / cutis mantêm entre si uma

relação de equivalência perfeita.

Entretanto, o mesmo não ocorre no que concerne ao inglês, entre os pares skin e

cutis. Segundo Fernando A. Navarro (1999), cutis é um latinismo utilizado em inglês e não

corresponde ao que em português e em espanhol é chamado, respectivamente, de cútis e

cutis (pele do rosto). Refere-se, ao contrário, ao revestimento do corpo todo, do mesmo

modo que skin. Esta é a forma vernácula (inglesa) de cutis (forma erudita). Para designar a pele do rosto o inglês emprega o termo facial skin. Para melhor visualizarmos o que dissemos até o momento, vejamos o quadro abaixo:

Conceito Português Espanhol Inglês

“revestimento do corpo” pele piel skin, cutis

“pele do rosto” cútis cutis facial skin

Portanto, o latinismo cutis não possui os mesmos traços conceituais nesses três idiomas, sendo genérico em inglês (pele do corpo todo) e específico (do rosto) em português e espanhol. Nesses dois últimos idiomas são equivalentes, enquanto que, em relação ao inglês, são apenas correspondentes.

Córion

Em português e inglês os termos derme e dermis, respectivamente, designam a camada da pele subjacente à epiderme. Também são utilizados para designar esse mesmo conceito os termos córion (port.) e corium (ingl.). Porém esses últimos, conforme pudemos atestar em obras de Dermatologia nos dois idiomas em questão, possuem um uso menos corrente. Também observamos que, nos dicionários pesquisados, os verbetes de córion (port.) e corium (ingl.) remetem o leitor aos verbetes de derma (variante de derme) e

dermis, respectivamente, tratamento dado às designações de menor uso. Vejamos os

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corium n Anat. the dermis. (The Compact Oxford Dictionary, 1996)

córion 1 EMBR nos répteis, aves e mamíferos, membrana celular que envolve o embrião e o saco vitelínico, e

que, nos mamíferos placentários, se associa ao alantóide para formar a placenta 2 EMBR membrana acelular que reveste o ovo de diversos animais como peixes e insetos 3 HISTOL m.q. derma. (...) (Houaiss, 2001) Também é importante observar, para a análise que faremos a seguir, que além do conceito de “derme”, o termo córion, em português, também pode se referir à “membrana embrionária” ou ao “revestimento do ovo”.

Com relação ao espanhol, também se dispõe do termo dermis para designar a camada cutânea. Contudo, o termo corion, em espanhol, que poderíamos pensar ser uma outra designação de dermis (esp.), recobre parcialmente o campo semântico de córion (port.), referindo-se apenas aos conceitos de “envoltório embrionário” e “revestimento do ovo”:

corion m (Anat) 1 En los mamíferos: membrana exterior del embrión 2 En otros animales: Revestimiento del

huevo (Seco, 1999)

Portanto, em espanhol, a camada cutânea localizada abaixo da epiderme é chamada apenas de dermis (Navarro, 1999).

Pelo fato dessas duas últimas acepções apresentadas pertencerem a um domínio

exterior ao da dermatologia, área de interesse da pesquisa, resumiremos o que dissemos até o momento nos limitando ao conceito de “derme”:

Conceito Português Espanhol Inglês

derme, derma dermis dermis

“camada cutânea subjacente à derme”

córion, cório Ø corium

Como podemos observar as unidades terminológicas derme (port.), dermis (ingl.) e

dermis (esp.) mantêm entre si uma relação de equivalência perfeita, pois recobrem o

mesmo conteúdo semântico (camada cutânea subjacente á derme) e possuem os mesmos níveis de língua (usados em obras científicas) e uso (freqüente). A mesma relação se estabelece entre os termos córion (port.) e corium (ingl.), sendo que seu uso é menos corrente. Entretanto, esses não possuem um equivalente perfeito em espanhol, já que corion (esp.) não possui o mesmo conteúdo semântico.

Conclusão

Por meio dos exemplos mencionados neste trabalho, verificamos que podem ocorrer diferentes graus de equivalência lexical entre séries sinonímicas de termos em diferentes idiomas e pode ocorrer até mesmo a ausência de um equivalente em algum deles. Como é o caso do termo hanseníase (port.) que não possui equivalentes (quanto ao uso e valor sociolinguístico) em espanhol e em inglês. O latinismo cutis, por sua vez, não possui os

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mesmos traços conceituais nos idiomas em questão, sendo genérico em inglês e específico em português e espanhol Vimos também o caso do termo córion (port.), corion (esp.) e

corium (ingl.) que recobrem campos semânticos diferentes ou de forma parcial.

Por isso, o terminólogo, ao elaborar obras terminográficas bi- ou multilíngües, deve ficar sempre atento aos diferentes recortes da realidade de cada língua e proceder a análises contextuais que evidenciem o uso, o conteúdo semântico e o nível de língua dos termos para estabelecer entre eles relações de equivalência ou correspondência.

Referências

ALPÍZAR-CASTILLO, R. Cómo hacer un diccionario científico-técnico?. La Habana: Félix Varela, 1995, p. 52-55, 104-105.

CABRÉ, M. T. La terminología: teoria, metodologia, aplicaciones. Barcelona: Antártida, Empúries, 1993.

THOMPSON, D. F. (ed). The Compact Oxford Dictionary. 1. ed. Oxford: Clarendon Press, 1996.

DUBUC, R. Manuel pratique de terminologie. 2.ed. Québec: Linguatech, 1985, p. 57. FARIA, L. R. Hanseníase: histórico e perspectivas atuais. (26/09/2003). Disponível em:

«www.hu.ufal.br.» Acesso em: junho de 2004

HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

NAVARRO, F. A. Glosario Dermatológico de dudas inglés-español. Madrid: Actas Dermo-Sifiliográficas, 1999.

SECO, R., GABINO G., OLÍMPIA, P. Diccionario del Español Actual. Madrid: Grupo Santillana de Ediciones, S. A., 1999.

VEGA, M. A. Terminología y traducción - Jornada Palatina de Terminologia. Barcelona, 1995, p. 85.

Referências

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