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TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica A VALIDADE DOS ACORDOS REALIZADOS NO PROCON. Letícia Mariz de Oliveira Advogada

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Academic year: 2021

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A VALIDADE DOS ACORDOS REALIZADOS NO PROCON

Letícia Mariz de Oliveira

Advogada

Tramita na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, com prazo aberto para recebimento de emendas (5 sessões ordinárias a partir de 6/11/2009), o Projeto de Lei (PL) nº 5.327/2009, de autoria do Deputado Federal Paulo Roberto (PTB-RS), que “Torna título executivo decisão de órgão de defesa do consumidor”, sob a justificativa de que “Sobejamente, temos tido notícia de que acordos, que são firmados entre consumidores e fornecedores de produtos e serviços não estão sendo cumpridos”, eis que “Na hora em que estão diante da autoridade de defesa do consumidor, os fornecedores prometem cumprir todas as suas obrigações. Entretanto, passado o período de choque, provocado pela audiência com a Promotoria do consumidor, por exemplo, nada é feito para que os termos da conciliação sejam cumpridos”. Argumenta ainda o autor do projeto que “No que concerne às decisões dos órgãos de defesa do consumidor, quando não atendidas e que impusessem multas, haveria a necessidade de sua inclusão na dívida ativa, para que mais tarde pudessem ser executadas”, e que “Como nosso Código de Processo Civil estabelece, no art. 585, que os títulos executivos extrajudiciais a que a lei atribuir força executiva podem embasar a execução, nada mais sensato do que transformar as decisões e os acordos firmados perante o Procon ou outros defensores dos consumidores em título executivo extrajudicial, para que não haja mais desrespeito às suas decisões”.

Após superado o referido prazo, caberá ao Relator Deputado Federal Geraldo Pudim (PR-RJ) apresentar seu parecer para fins de apreciação conclusiva pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), na forma do inciso II, do artigo 24, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

A garantia da tutela dos direitos metaindividuais (difusos e coletivos) e individuais homogêneos do consumidor está explícita no rol dos direitos e garantias fundamentais prescritos no Capítulo I (Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos), do Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), da Constituição Federal da República Federativa do Brasil (CF), ex vi do disposto no inciso XXXII, do seu artigo 5º:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

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direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

... V – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

...” (in verbis) Por sua vez, o artigo 170 e seu inciso V, inseridos no Capítulo I (Dos princípios Gerais da Atividade Econômica), do Título VII (Da Ordem Econômica e Financeira) da CF, insere a defesa do consumidor dentre os princípios cardiais da ordem econômica:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

... V - defesa do consumidor;

...” (in verbis) Foi com fulcro nesses dispositivos e no artigo 48, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que foi elaborada a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que “Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências”, também conhecida como Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (CDC), que ora se pretende alterar por meio do PL nº 5.327/2009, cuja íntegra transcrevemos:

“PROJETO DE LEI Nº 5.327/2009

Torna título executivo decisão de órgão de defesa do consumidor. O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º. Esta lei torna título executivo extrajudicial as decisões dos órgãos de defesa do consumidor, bem como os acordos por eles intermediados.

Art. 2º. A Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor, passa a vigorar acrescido do seguinte art. 82-A:

‘Art. 82-A. As decisões dos órgãos de defesa do consumidor, e os acordos por eles intermediados, valerão como título executivo extrajudicial.’

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Os títulos executivos extrajudiciais se encontram relacionados no artigo 585, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que “Institui o Código de Processo Civil” (CPC), e permitem a pronta instauração de processo de execução de obrigação de dar (entregar), fazer e não fazer em face do devedor, desde que tais títulos consubstanciem direito certo, líquido e exigível.

Reputa-se certo o direito quando claramente definida a natureza da relação jurídica e de seu objeto (ex: direito decorrente do dever do comerciante de entregar equipamento adquirido por consumidor). Nas hipóteses de execução de entregar coisa incerta (ex: direito derivado do dever do produtor de fornecer ao consumidor determinada quantidade e qualidade de frutas colhidas numa safra específica) ou nas obrigações alternativas (ex: direito originado do dever do importador de entregar um ou outro produto pré-escolhido pelo consumidor).

A liquidez só é requisito do direito quando a obrigação é de entregar coisa fungível, ou seja, cuja quantidade é determinada ou possa ser determinável (ex: direito decorrente do dever do comerciante de entregar 100 litros de determinado refrigerante adquiridos pelo consumidor).

É exigível o direito quando o dever de cumprir a obrigação, que do mesmo deriva, não está sujeito à condição ou termo, consoante disciplinado nos artigos 121 a 135, da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que “Institui o Código Civil” (CC), ou qualquer outra limitação.

Consoante previsto no inciso II, do artigo 585, do CPC, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.853/1994, “o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transadores são considerados títulos executivos extrajudiciais”.

São também considerados títulos executivos extrajudiciais “todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva”. É o que dispõe o inciso VIII, do artigo 585, do CPC.

Da análise sistêmica da legislação consumerista, verificamos que o autor do PL nº 5.327/2009, pretende reintroduzir, de certa forma, por meio do artigo 82-A supra, regra vetada (§ 3º, do artigo 82) pelo Presidente Fernando Collor, com fulcro nos §§ 1º e 2º, do artigo 66, da CF, quando lhe fora submetido à sanção o Projeto do CDC.

Especificamente sobre o assunto, destacamos na Mensagem nº 664, de 11 de setembro de 1990, da Presidência da República, a justificativa de veto à época apresentada:

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“Mensagem nº 664

... § 3º do art. 82

Art. 82-... § 3º - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

É juridicamente imprópria a equiparação de compromisso administrativo a título executivo extrajudicial (CPC, art. 585, II). É que, no caso, o objetivo do compromisso é a cessação ou a prática de determinada conduta, e não a entrega de coisa certa ou pagamento de quantia fixada.”

...(in verbis) (grifo nosso)

Tal veto é bastante criticado pelos operadores do direito, sob argumento de que inexiste qualquer impedimento de natureza técnica para que o CDC, como uma lei federal, reconheça um novo título executivo extrajudicial, conforme permite o inciso VIII, do artigo 585, do CPC. Argumenta-se, também, que “o compromisso de pagar certa quantia em dinheiro, a título de cominação, nada tem de incompatível como título executivo extrajudicial”. Aliás, é o entendimento do ilustre Kazuo Watanabe externado na obra Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto (Ada Pellegrini Grinover et al. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, pág. 853).

Além disso, registra com propriedade o citado jurista que:

“Demais, o veto é de todo inócuo pelas mesmas razões alinhadas no item anterior. É

que o artigo 113 das Disposições Finais do Código, acrescentou o § 6º ao art. 5º da Lei nº 7.347/85, que tem a mesma redação do texto vetado: ‘§ 6º. Os órgãos públicos

legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial’. E esse dispositivo não foi vetado! Assim, pela perfeita interação entre o

Código e a Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), nos termos dos arts. 90, 110, 111 e 117 daquele diploma legal, também o referido “§ 6º do art. 5º da Lei nº 7.347/85 é aplicável na tutela dos interesses e direitos dos consumidores.” (in verbis)

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Note-se que ao se referir aos órgãos públicos legitimados, tal dispositivo está se referindo àqueles elencados nos artigos 5º, da Lei de Ação Civil Pública (LACP), e no artigo 82, do CDC, que abaixo destacamos:

LACP

“Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)

I o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007) II a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)

III a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007)

IV a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007)

V a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007)

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) § 1º. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

§ 2º. Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

§ 3.º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)

§ 4°. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nº 8.078, de 11.9.1990)

§ 5°. Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nº 8.078, de 11.9.1990)

§ 6°. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de

ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nº 8.078, de 11.9.1990).”

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CDC

“Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I o Ministério Público;

II a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;

IV as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.

§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.” (in verbis) (grifo nosso)

Note-se que dentre os legitimados, inclusive ad causam, previstos no inciso III, do artigo 82, do CDC, temos os Procon, estaduais e municipais, mencionados na justificativa da proposição legislativa apresentada pelo ilustre Deputado Federal Paulo Roberto (PTB-RS).

Ora o que não é o compromisso de ajustamento de conduta, de que trata o artigo 6º, do Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997, que “Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, revoga o Decreto nº 861, de 9 de julho de 1993, e dá outras providências”, senão um acordo para que se faça cumprir a lei e, por força desta, cumprir inclusive as obrigações contratuais, legal e legitimamente assumidas pelas partes interessadas?

Todavia, existem, na doutrina e no judiciário, entendimentos controversos sobre a vigência do artigo 113, do CDC, e, por conseguinte, do § 6º, do artigo 5º, do CDC, sob o argumento de que se o § 3º, do artigo 82, do CDC, foi vetado e é de igual teor do artigo 113, do mesmo diploma legal, não pode este último ser considerado como vigente.

Em suma, o PL nº 5.327/2009, se aprovado, entrará em vigor a partir da data de sua publicação e terá o mérito de por fim à controvérsia apontada e de evitar que os consumidores tenham que promover ação judicial de conhecimento, quando detentores de títulos executivos judiciais constituídos na forma proposta para o artigo 82-A, medida que objetiva, na prática, assegurar maior proteção à parte mais vulnerável no mercado de consumo, conforme preconiza a Política Nacional de Relações de Consumo, prevista no artigo 4º, do CDC.

Referências

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