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POSSIBILIDADES DE DIVERSIFICAÇÃO DO CULTIVO DE FUMO CONVENCIONAL POR SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BASE AGROECOLÓGICA NO CENTRO-SUL DO PARANÁ, BRASIL.

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1 POSSIBILIDADES DE DIVERSIFICAÇÃO DO CULTIVO DE FUMO

CONVENCIONAL POR SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BASE AGROECOLÓGICA NO CENTRO-SUL DO PARANÁ, BRASIL.

rfuentes@iapar.br

Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade

DIRK CLÁUDIO AHRENS; RAFAEL FUENTES LLANILLO; ROGER DANIEL DE SOUZA MILLÉO.

IAPAR, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Possibilidades de diversificação do cultivo de fumo convencional por sistemas de produção de base agroecológica no Centro-Sul do Paraná, Brasil.

Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade

Resumo

Foram comparados os sistemas de produção de sete famílias de agricultores do Centro-sul do Paraná durante três anos (2005/06 a 2007/08). O objetivo foi verificar a rentabilidade do sistema de fumo convencional em relação a sistemas de base agroecológica com renda baseada em fumo orgânico especializado, fumo orgânico diversificado, frutas/mel/erva-mate orgânicos com agroindústria e hortaliças/pequenos frutos orgânicos com valor agregado. Adicionalmente avaliou-se o valor do autoconsumo e de outras rendas. A rentabilidade por hectare do fumo convencional é alta e difícil de ser superada, mas pode ser alcançada por sistemas diversificados de fumo orgânico e sistemas que envolvem o processamento de frutas, hortaliças, mel e erva-mate sempre com valor agregado.

Palavras-chaves: fumo, agricultura familiar, agroecologia, diversificação, sul do Brasil Abstract

The farming systems of seven families of farmers in Central-Southern Parana were compared along three years (2005/06 a 2007/08). The objective was to verify the profitability of conventional tobacco farming system in comparison with agroecological

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2 based farming systems of especialized organic tobacco, diversified organic tobacco, processed fruits/honey/tea and processed vegetable/small fruits. Aditionally to gross margins the value of self consumption and other incomes was taken into account. Profitability per hectare of conventional tobacco is high and hard to trespass, but can be reached by farming systems based on diversified organic tobacco production and organic systems based on processed fruits, vegetables, honey and tea always with added value. Key Words: tobacco, family farming, agroecology, diversification, southern Brazil

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3 1. Introdução

O mercado de produtos orgânicos e ou de base ecológica vem crescendo porque a sociedade de consumo quer esses produtos. O mercado de orgânico no Paraná, na safra de 2003/04 apresenta uma discreta produção de feijão orgânico e ou de base ecológica (260 t), 200 t de hortaliças e 100 t de plantas medicinais (IAPAR, 2008). O Brasil é o terceiro maior país com áreas destinadas à plantação de orgânicos com 1,8 milhões de hectares, superado pela Austrália e Argentina. (IFOAM, 2009).

A agroecologia fornece o suporte científico e as ferramentas metodológicas necessárias para que a participação da comunidade venha a se tornar a força geradora dos objetivos e atividades dos projetos de desenvolvimento rural sustentável.

Os sistemas de produção predominantes na região Centro Sul do Paraná têm como características comuns: o uso de mão-de-obra familiar, a tração animal como principal fonte de potência na propriedade sendo substituída gradativamente pelo trator, o cultivo de lavouras anuais em áreas com declividade

O homem ao deixar de ser nômade se estabeleceu para praticar a agricultura subsistência, isto é, produzia para o autoconsumo. Ao se constituírem aglomerações urbanas estas eram alimentadas pelos excedentes produzidos pelos agricultores. Com a revolução verde muitos agricultores passaram ocupar a totalidade de suas áreas para venderem toda sua produção, não disponibilizando espaço para a exploração de animais e/ou vegetais para o seu consumo. Santos et al. (2006a) descrevem o autoconsumo como sendo uma renda interna da família, com baixo custo, e garantia de alimentos com qualidade. Este tipo de produção garante ao agricultor superar crises de receitas em função de adversidades climáticas e/ou por preços regionais/nacionais em queda.

Quanto ao tabaco, a produção mundial está migrando dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento confirmando a projeção de ampliação da produção no Brasil nas próximas décadas. A estrutura fundiária e o tamanho do estabelecimento são questões importantes para a opção no cultivo do tabaco. As famílias de fumicultores dispõem de pequenas áreas de terra, na média 14,7 hectares, enquanto a média das propriedades entre as famílias que não produzem fumo é de 17 hectares. Além disso, existe a questão da ocupação da terra, onde cerca de 10,6% destas famílias trabalham exclusivamente em terras de terceiros, e 20,8%, além de terra própria, arrendam área de outros, totalizando 31,4% dos fumicultores. As limitações de área agrícola dificultam estes avançarem para outras culturas, diversificando suas atividades (DESER, 2007).

As 182 mil famílias que cultivam tabaco no Sul do Brasil têm um antecedente histórico de pluriatividade, diversificação e agroindustrialização de alimentos, mas com o passar dos anos, em função da falta de políticas agrícolas adequadas, migraram para este sistema integrado. De acordo com o DESER (2007) este tem como vantagens a assistência técnica, a entrega de insumos e o recebimento da produção na propriedade (mercado garantido e de fácil acesso, praticamente não existindo preocupação com a comercialização), sem a necessidade do agricultor se deslocar à cidade, além da disponibilização de crédito por parte da fumageira. Também a cultura tem uma capacidade de geração de renda – razoavelmente estável, produzindo muito em pequena área, adequando-se à realidade das famílias com pouca terra, e requer investimentos, que são amortizados por vários anos, criando mais dependência do fumicultor com a empresa.

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4 Trabalhando com indicadores econômicos referente às safra 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008 o objetivo deste trabalho foi o de realizar um comparativo entre os sistemas de produção familiares, agroecológico e convencional, localizados no centro-sul do estado do Paraná. Estão aí incluídos fumicultores familiares ou ex-fumicultores.

2. Material e Métodos1

O trabalho foi desenvolvido baseado no trabalho da Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas (AHRENS, 2006). Deve-se ressaltar a importante participação dos extensionistas do EMATER-PR, do Fórum e dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul e São Mateus do Sul. Pois, além de intermediarem o contato do IAPAR com as famílias de agricultores, forneceram informações valiosas a respeito das propriedades do Centro-sul do Paraná. De um universo de 32 propriedades acompanhadas foram escolhidas sete para a discussão neste trabalho, uma no município de União da Vitória, duas em Rio Azul e quatro em São Mateus do Sul. Resumidamente os sistemas trabalhados foram:

Família 1 - Sistema fumo convencional mais leite Família 2 - Sistema fumo orgânico mais grãos Família 3 - Sistema fumo orgânico especializado Família 4 - Sistema fumo orgânico diversificado Família 5 - Sistema fumo orgânico mais grãos

Família 6 - Sistema agroindústria orgânica de suco de uva, mel e erva-mate Família 7 - Sistema de hortaliças e pequenos frutos orgânicos processados

Os valores monetários levantados em cada safra foram corrigidos para valores em Real de junho de 20082 (Soares Júnior e Saldanha, 2000; Milléo et al., 2006). Os indicadores escolhidos foram:

a) Custos Variáveis Totais = Insumos + Combustíveis e Manutenção + Mão-de-Obra Contratada + Aluguel de Máquinas

b) Renda Bruta Total = ∑ Quantidade G * Preço G

c) Margem Bruta Total = Renda Bruta Total – Custos Variáveis Totais d) MBT/SAU = margem bruta por unidade de área utilizada.

Onde SAU é a superfície agrícola útil em hectares destinada ao cultivo em cada estabelecimento agrícola, descontando-se as áreas não cultivadas (florestas, áreas inaproveitáveis, construções, estradas).

3. Resultados e Discussão

Os resultados comparam o sistema convencional de produção de fumo e leite (família 1) com quatro modalidades de produção de fumo orgânico desde especializado até diversificado (famílias 2, 3, 4 e 5) e com dois sistemas alternativos ao fumo envolvendo um conjunto de produtos (frutas, hortaliças, erva mate e mel) sempre processados e com

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O presente trabalho faz parte do projeto “Reconversão de sistemas de produção com base no fumo no Centro-Sul do Paraná: Redes de propriedades familiares agroecológicas e produção de oleaginosas para biodiesel e co-produtos”, financiado pelo MDA.

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Todos os valores obtidos de RBT, CVT e MBT ao fim de cada ano-safra foram corrigidos para junho de 2008 pela inflação medida pelo IGP-DI da FGV.

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5 valor agregado de caráter agroindustrial (famílias 6 e 7). Todas as informações são referentes às safras de 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008 e a média das três safras.

3.1. Comparação da Rentabilidade dos Sistemas de Produção

Na Tabela 1 estão presentes as Rendas Brutas Totais, Custos Variáveis Totais e as Margens Brutas Totais das unidades produtivas dos sete agricultores. A Margem Bruta Total MBT (receita bruta total menos custos variáveis totais) é a medida de rentabilidade mais utilizada por pesquisadores e técnicos, assim como empiricamente pelos agricultores. Isto ocorre em função de sua relativa facilidade de obtenção e pelo significado prático imediato de saber quanto sobra da receita total, retiradas as despesas diretas (custos variáveis). A margem bruta por unidade de área permite a comparação entre estabelecimentos independente do tamanho (Soares Júnior e Saldanha, 2000; Carvalho et al., 2001; Fuentes Llanillo, 2007).

A família 1 é típica produtora de fumo convencional e leite com uma MBT relativamente alta e estável com R$ 38.198 por ano, que é a maior de todo o grupo em análise. Tem também Custos Variáveis Totais CVT elevados devido à intensidade de capital em insumos que a cultura de fumo convencional exige.

As famílias 2, 3 e 4 produtoras de fumo orgânico em média obtiveram MBT relativamente próximas, mas mais próximas do padrão convencional com valores de R$ 22.000 a R$ 27.000 por ano. Principalmente as famílias 3 e 4, de fumo orgânico especializado e fumo orgânico diversificado, respectivamente, na safra 2007/2008 já tiveram Margens Brutas Totais bastante próximas à família 1, com R$ 37.311 e R$ 35.719 contra R$ 43.006. Essa melhoria de performance dos sistemas de fumo orgânico pode ser explicada por duas razões. A primeira delas é que o fumo orgânico, assim como outras atividades orgânicas, tem CVT muito mais baixos que o convencional, facilitando a obtenção de MBT com pouca inversão. A segunda é que à medida que a família de fumo orgânico vai passando pelo processo de transição, recebe bonificação nos preços (que chegam a 50% sobre o preço do convencional) que facilitam o incremento dessas margens. A família 5, produtora de fumo orgânico mais grãos, apresentou a menor MBT desse grupo exatamente porque dispõe de pouca área de cultivo e está apenas começando a desfrutar dessa bonificação de fumo orgânico certificado.

Bertotti (2007) alerta que a produção de fumo orgânico com bônus de 50% é um forte atrativo para os demais agricultores da região, confirmando a tendência de ampliação da área cultivada com fumo no Brasil. Assim as fumageiras se adaptam para continuar garantindo a produção de tabaco.

Ainda Pelinski e Guerreiro (2004) constataram que a relação “benefício/custo total” na produção orgânica de fumo teve-se um retorno de R$ 1,93 e no sistema convencional o retorno foi de R$ 1,36, para cada unidade monetária aplicada.

As famílias 6 e 7 conduzem sistemas alternativos em relação ao fumo e romperam o vínculo com a cadeia que já foi a principal fonte de ingresso no passado. A família 7 deixou a cultura de fumo em 2004/2005 que plantava em área arrendada. A partir daí começou a produzir um conjunto de hortaliças que passaram a vender no varejo in natura e/ou processadas (lavadas e cortadas, e em conservas), e frutas in natura e/ou como sucos e geléias. Esse conjunto de atividades está gerando uma MBT de R$ 21.000 por ano em média, com CVT muito baixos. A família 6 produzia fumo de corda até 2005/2006 quando

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7 seu investimento na produção de uva agroindustrializada em suco e de mel processado amadureceu podendo manter sua MBT em torno de R$ 15.000 além da produção para autoconsumo como será visto a seguir.

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3.2. Avaliação do Autoconsumo e de outras Rendas na Composição da Renda Familiar

Na produção familiar da região de estudo, um componente importante na composição da renda e na sua qualidade de vida é a produção para autoconsumo (Tabela 2). O autoconsumo é uma renda não monetária importante para todos os sistemas estudados. Nos menores casos assume valores monetários de R$ 3.100 por ano (12% MBT) no sistema fumo orgânico especializado (da família 3) e R$ 4.600 (12% MBT) no sistema fumo convencional mais leite (família 1). Em casos intermediários assume valores de R$ 5.800 por ano (27% MBT), R$ 8.400 (31%MBT) e R$ 4.200 (38% MBT) para os sistemas de fumo orgânico mais grãos (família 2, 4 e 5 respectivamente). Também o sistema olerícolas e pequenos frutos (família 7) o autoconsumo é significativo com R$ 4.200 (20%). Com maior autoconsumo destacou-se o sistema agroindústria diversificado (família 6) alcançando R$ 12.300 de média anual (81%) nas últimas três safras.

Levando-se em conta o valor ao autoconsumo é possível observar certas compensações na renda em favor de sistemas diversificados como da família 6 principalmente, mas também das famílias 2 e 4. Assim, Ahrens et al. (2007) ao avaliarem a família 6, descreveram a grande diversidade dos produtos consumidos: abóbora, abobrinha, alface, amendoim, arroz, batata doce, batatinha, beterraba, carnes (frango, gado, suíno), cenoura, couve, erva mate, feijão, leite, mandioca, mel, pepino, ovos, rabanete, repolho, salsa, suco de uva, tomate.

Buainain et al. (2003) obtiveram entre os produtores mais capitalizados da Região Sul um consumo da família correspondente a quase 20% do produto gerado pela unidade produtiva. Ainda, de acordo com a pesquisa realizada na safra 2006/2007 por Carmo et al. (2008), a produção destinada ao autoconsumo totalizou 50 produtos, o que correspondeu em média a 28% do rendimento total da família, podendo atingir em alguns casos mais de 40%. Deste modo, o autoconsumo é responsável pela segurança alimentar das famílias.

Estudos de Pelinski et al. (2006a) confirmam que a importância da produção destinada para o consumo de famílias de agricultores no Centro-Sul do Paraná. Constataram que a renda dessas famílias diminui em 29%, principalmente devido à queda da renda monetária (40%), proveniente dos problemas climáticos na safra 2004/2005. Quanto a renda não monetária, praticamente permaneceu a mesma, sendo responsável, em média, por 35,4% da renda total das famílias analisadas na safra 2005/2006. Essa estabilidade da produção para o autoconsumo é um indicativo da sustentabilidade quanto a reprodução familiar e a segurança alimentar da agricultura agroecológica.

Também Gazolla e Schneider (2007) demonstraram que a produção para autoconsumo é importante para a autonomia familiar, a sociabilidade comunitária e interfamiliar, para o repasse do conjunto de conhecimentos dos agricultores (o chamado saber fazer) e para a segurança alimentar das famílias.

De acordo com o DESER (2003/2004), Santos e Barreto (2005), Santos et al. (2006b), Dombek et al. (2007) a renda total de uma família não advém, essencialmente,

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9 da renda monetária, mas também da renda não monetária, oriunda da contabilização da produção destinada para o consumo interno, diminuindo as despesas com a manutenção alimentar e de saúde, garantindo qualidade de vida e a própria segurança alimentar.

Quanto a avaliação das outras rendas no sistema destaca-se a família 7, a qual tem garantida a aposentadoria do casal da família. Estes recursos proporcionam uma garantia de sobrevida da família facilitando a decisão de não mais trabalhar com fumo, injetando, na média dos três últimos anos 39% a mais na MBT. Observa-se no domicílio eletrodomésticos adquiridos após a entrada desta renda suplementar “a aposentadoria”. Corroborando com a situação Prieb et al. (2009), ao estudarem os efeitos da previdência social rural na produção fumageira municípios de Candelária, Arroio do Tigre e Estrela Velha (RS), observaram que os benefícios previdenciários implicam em mudanças positivas, no comportamento dos principais indicadores na análise da condição de bem-estar social e de vida das famílias. Para Buainain et al (2003), a aposentadoria é a principal responsável pelas rendas monetárias externas à propriedade, demonstra a sua importância na distribuição e garantia de uma renda mínima para muitos agricultores idosos e suas famílias.

3.3. Comparação da Rentabilidade dos Sistemas por Unidade de Área

Na Tabela 3 podem ser vistas as Rendas Brutas, Custos Variáveis e Margens Brutas por hectare de Superfície Agrícola Útil (SAU) por ano equiparando a comparação dos sistemas independente do seu tamanho. Este instrumento também foi considerado como o principal indicador de rentabilidade por Fuentes Llanillo et al. (2008).

Assim é possível verificar que os sistemas agroecológicos requerem menores custos variáveis por hectare como as famílias 2, 3, 4, 5 e 6 que variam de R$ 414 a R$ 914/ ha.ano quando se compara com a família 1 (sistema fumo mais leite convencional) que investe R$ 2.131/ ha.ano. A única exceção a essa regra é a família 7 que adota um sistema orgânico muito intenso e rotacionado, que mesmo sem o uso de insumos agroquímicos desembolsa R$ 8.544/ha.ano.

A RB por hectare da família 1 (fumo mais leite convencional R$ 4.269/ha.ano) só não supera a família 7 (sistema agroindústria diversificado R$ 50.550/ha.ano) cujo valor é muito superior pela agregação do processamento da produção.

Com relação às MB por hectare, que, pode-se afirmar que o sistema de fumo convencional da família 1 (R$ 2.138/ha.ano) foi superado apenas por dois sistemas: o sistema de fumo orgânico especializado da família 3 (R$ 2.468/ha.ano) e o sistema de olerícolas e pequenos frutos com agroindústria da família 7 (R$ 41.975/ha.ano). Os demais sistemas de fumo orgânico com outras atividades renderam de R$ 1.198 a R$ 1.701/ha.ano de MB.

O sistema de agroindústria diversificada de uva, mel e erva mate está gerando em média R$ 1.499/ha.ano de MB (família 6). É necessário levar em conta que mesmo inferiores à Margem Bruta do fumo mais leite convencional (família 1), todos os sistemas orgânicos apresentaram margens superiores a R$ 1.200/ha.ano comparáveis aos sistemas familiares mecanizados especializados de grãos do Norte do Paraná que variaram em média de R$ 967 (MBs inferiores) a R$1.842/ha.ano (MBs superiores) em análise de seis safras feita por Fuentes Llanillo (2007).

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11 3.4. A Diversificação dos sistemas e a independência em relação ao cultivo do fumo

Também é necessário dar destaque à diversificação do sistema como mecanismo de diminuição da importância relativa do fumo no sistema, com alguns destaques na Figura 1. O sistema convencional de fumo mais leite da família 1 é dependente do fumo em cerca de 70% da MBT. As famílias 2 e 3 de fumo orgânico especializado e fumo orgânico mais grãos, respectivamente, são ainda mais dependentes do fumo na formação da renda, mesmo que com características agroecológicas.

Exemplos de real diversificação são a família 4 de fumo orgânico diversificado, a família 6 de agroindústria diversificado e a família 7 de hortaliças e pequenos frutos com agroindústria que ainda carecem de algum aumento no tamanho da produção para mercado. Estas duas últimas famílias, respectivamente, deixaram o fumo nas safras 2005/06 e 2004/05, diversificando a partir de tal, com rendimentos anuais crescentes. Ainda quanto a família 4, ela apresenta uma grande diversidade de atividades em sua propriedade, agregando valor na maioria dos seus produtos agroecológicos, como a erva mate processada a granel, farinhas de milho e de mandioca além de polvilho. Também comercializa produtos como feijão, batata, e produtos da Rede Ecovida3.

Talvez o pior movimento tenha sido da família 5 de sair do fumo convencional na safra 2005/06, migrar para grãos em 2006/07 e migrar para fumo orgânico em 2007/2008.

Pelinski et al. (2006b), estudando as famílias de agricultores da Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas no Centro-Sul do Paraná, constataram que a diversificação influencia diretamente o aumento do lucro, em que, a produção de mais um item pode elevar a renda das propriedades rurais em R$ 1776. Além disso, as propriedades menos diversificadas e que possuem como produto principal feijão e milho, auferiram uma renda inferior as demais propriedades analisadas.

Existem várias propostas de diversificação das áreas com cultivo do fumo nas propriedades familiares, com destaque a calêndula4 (margem bruta 569% acima do fumo), tomate (316%), mandioquinha salsa (299%), melissa (288%), de acordo com Sepulcri et al. (2009), mas não detalharam o possível mercado potencial. Ainda comentam que a reconversão pode ser implementada, de forma gradual e continua a médio prazo. Num primeiro momento seriam introduzidas alternativas que conviverão com o fumo por um certo período, e, à medida que vão se estabilizando financeiramente, ele poderá ser eliminado da propriedade. E, segundo Wrubleski (2008), a saída do fumo está intimamente

3 A Rede Ecovida de Agroecologia é um espaço de articulação entre agricultores familiares organizados em

grupos (formais ou não), entidades de assessoria, organizações de consumidores envolvidas com a produção, processamento, comercialização e consumo de alimentos ecológicos. A Rede trabalha com princípios e objetivos bem definidos e tem como meta fortalecer a agroecologia nos seus mais amplos aspectos. Fazem parte da Rede Agricultores familiares ecologistas organizados em grupos (associações, cooperativas, grupos informais, etc.) Organizações de assessoria em agroecologia - ONG’s. Consumidores e suas organizações (associações de moradores, cooperativas de consumo, etc.) Pessoas e organizações comprometidas com a agroecologia. Processadores e comerciantes de alimentos ecológicos (microempresa). Os núcleos estão nos estados do RS, SC, PR.

4 Calêndula - (Calêndula officinalis) antiinflamatória, cicatrizante, controla o câncer quando ele está nos

primeiros estágios, Impede a formação de pus em cortes e queimaduras, é usada para escaras, para pós operatórios com cortes profundos. É ótima para acne e dermatites. Sua pomada pode ser usada nas pernas, em quem tem problemas circulatórios e veias varicosas.

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12 Figura 1. Composição da margem bruta das famílias, nas safras em estudo

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13 ligada a outras atividades econômicas que possam dar suporte ao sistema econômico-produtivo da família

Parcialmente corroborando com os resultados obtidos encontram-se famílias produtoras de fumo de estufa estudados pelo DESER (2007), onde o Valor Bruto da Produção VBP5 é 46% maior que entre que não cultivam fumo. Assim, o nível de renda entre as famílias produtoras do fumo foi também um grande entrave para que fumicultores migrem para outras atividades. Ainda, segundo o DESER (2007), na quase totalidade dos quarenta municípios estudados o fumo ultrapassa 50% da produção agrícola municipal em mais de um terço deles o fumo representa mais de 80% do valor bruto da produção agrícola total. Além disso, essa estrutura do sistema de produção é fruto de um longo processo histórico, está bastante consolidada, criando dificuldades significativas para a introdução, em curto e médio prazos, de novos sistemas de produção.

Outra dificuldade de diversificação é que o fumo ocupa pequenas áreas de terra e proporciona forte dependência para a geração de renda. Em um hectare podem ser cultivados de 2000 a 3500 pés, dependendo do sistema. A família 3 obteve uma margem bruta média de R$ 2.468 por hectare na produção orgânica de fumo (Tabela 3). Ainda, segundo o DESER (2007) a cultura do fumo tem uma capacidade de reter a população rural. A exigência de mão-de-obra para a produção do fumo pode ser um dos fatores para manter o homem no campo, pois em mais da metade dos municípios, a população rural representa mais de 60% da população total.

4. Conclusões

O fumo é uma atividade típica da agricultura familiar cujos resultados econômicos são difíceis de ser superados pelas demais alternativas de renda. O fumo orgânico aparece como atividade capaz de igualar ou superar as margens brutas do fumo convencional, incorrendo em menores custos, eliminando a utilização de insumos agroquímicos industriais sem, no entanto, desvencilhar-se da cadeia produtiva do fumo.

A diversificação via agregação de valor aos produtos é fator de estabilização dos sistemas e uma das únicas estratégias viáveis para diminuir a dependência da cultura do fumo, mesmo que este permaneça no sistema.

Embora em fase de consolidação, existem sistemas potenciais para substituição completa da atividade fumageira, cuja viabilidade está apoiada na transformação e agregação de valor em frutas, hortaliças, erva-mate e mel.

A produção para autoconsumo é importante para a segurança da família, além de proporcionar compensações de renda bastante significativas nos sistemas diversificados.

Os sistemas agroecológicos diversificados têm a vulnerabilidade de não contar com uma cadeia produtiva organizada como o fumo onde existe crédito, seguro e comercialização regulamentada.

A pesquisa e a extensão rural devem continuar estudando novas alternativas de renda para esses sistemas familiares.

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VBP nos valores brutos da produção são consideradas as produções físicas no levantamento e os preços médios recebidos pelas famílias no período.

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Referências

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