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OSCAR CHICA A Experiência de Caminhar: Processos e Documentação de Práticas Artísticas Efêmeras

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Academic year: 2019

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OSCAR CHICA

A Experiência de Caminhar:

Processos e Documentação de Práticas Artísticas Efêmeras

Dissertação apresentada ao Centro de Artes da UDESC como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Artes Visuais. Centro de Artes

Universidade do Estado de Santa Catarina

Orientadora Profª. Drª. Regina Melim

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A Experiência de Caminhar:

Processos e Documentação de Práticas Artísticas Efêmeras

Oscar Chica

Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Visuais do CEART/UDESC para a obtenção do título de Mestre em Artes Visuais, na linha de pesquisa Processos Artísticos Contemporâneos.

Banca Examinadora

______________________________ Prof.ª Dr.ª Regina Melim

Orientadora

_______________________________ Prof.ª Dr.ª Raquel Stolf

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RESUMO:

Essa dissertação aborda o ato de caminhar como prática artística, buscando traduzir essa experiência através de registros. É composta por quatro capítulos nomeados pelas palavras que definem as principais ações que realizo: caminhar, escrever, fotografar e escutar. Procura responder à seguinte pergunta “Como registrar a experiência de caminhar?”, pois se trata de uma prática que ocorreu em um ambiente natural remoto, e que não foi presenciada. Para tanto, discute-se como pode ser registrada uma prática efêmera e imaterial como caminhar: anotações, textos, fotografias, vídeos, mapas, traçados de GPS e sons.

Palavras chave: caminhar, registro, experiência,

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ABSTRACT:

This dissertation deals with the act of walking as an artistic practice, trying to translate this experience through records. It is made up of four chapters named by the words that define the principal actions I perform: walking, writing, photographing and listening. It seeks to answer the question “How to register the experience of walking?”, since this is a practice that occurred in a remote natural environment, and that it was not witnessed. To this end, it discusses how an ephemeral and immaterial practice as walking can be registered: notes, texts, photographs, videos, maps, GPS tracings and sounds.

Keywords: walking, record, experience,

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SUMÁRIO

ESCREVER ...9

CAMINHAR ...23

FOTOGRAFAR ...95

ESCUTAR ...142

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...166

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The thousand-mile journey starts with the single step; the million-word manuscript starts with a single syllable.

Geoff Nicholson

ESCREVER

Enquanto lia e editava o meu trabalho, encontrei um ponto em comum em várias coisas: o efeito de acumulação define meu processo.

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LISTAS

Uma lista é algo que ajuda a construir pensamento pelo efeito de acumulação. Sua força está na operação de adição, de soma. Um conjunto de coisas que quando se reúnem adquirem sentido através da repetição de uma característica comum.

Quando comecei a caminhar na ilha, em Florianópolis, primeiro fiz uma trilha simples, depois outra e outra, assim, com o tempo fui aumentando a distância dos percursos somando e conectando várias trilhas numa só, e a isso chamei de Trilha do Leopardo.

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O meu trabalho tem sido um longo percurso com muitos obstáculos, uma trilha cheia de bifurcações com muitas opções, quase um labirinto no qual tenho tentado encontrar a saída. Lutando para não me perder entre múltiplos pensamentos e tendo que escolher um caminho só quando há várias opções, tive que enfrentar a frustração de ter que abandonar as outras possibilidades e vencer minha teimosia e ambição de querer percorrer todos os caminhos.

Isto me ensinou que a escrita é um processo complexo que requer uma estratégia e isso é descoberto com o tempo, dando voltas sobre si mesmo e tentando entender como é que pensamos. Em 1972 Paul Cummings entrevistou Robert Smithson (1972) e lhe perguntou:

PC: What about the writing? When did that start?

RS: That started in 1965 - 1966. But it was a self-taught situation. After about five years of thrashing around on my own, I started to pull my thoughts together and was able to begin writing. Since then, I guess I’ve written about twenty articles.

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vezes a diversidade de pensamentos e relações que fazemos somente é compreensível por nós mesmos; o trabalho está em fazer isto compreensível para os outros. Também devemos aceitar que nem tudo o que escrevemos é sempre interessante, tendo que ser depurado para aprimorar nossas ideias. Em As Consolações da Filosofia, Alain de Botton comenta sobre Montaigne:

Somos levados a pensar que os Ensaios brotaram da mente de Montaigne como num passe de mágica, e por isso interpretamos erroneamente nossa inépcia em nossas primeiras tentativas de escrever uma filosofia de vida como um sinal de uma incapacidade inata para a tarefa. Deveríamos, em vez disso, considerar o esforço colossal por trás de uma grande obra, o número incontável de adiamentos e revisões que os Ensaios exigiram. (BOTTON, 2013, p. 262)

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Examinem a vida das pessoas e dos povos mais brilhantes e mais produtivos e perguntem a si próprios se uma árvore que deve alcançar uma altura invejável pode prescindir do mau tempo e das tempestades e se o infortúnio e a resistência externa […] fazem, ou não, parte das condições favoráveis sem as quais qualquer grande progresso, mesmo o da virtude, quase nunca é possível. (BOTTON, 2013, p. 261)

A atmosfera de dificuldade que rodeia a escrita é bastante comum e se apresenta a cada passo que dou. No livro Walking and Mapping, quando estava lendo a introdução, Karen O’ Rourke escreveu assim:

This book benefited from the support of many people along the way: among them [...] whose encouragement sustained me through the long and often painful process of writing. (O´ROURKE, 2013, p. xv)

Porque escrever tem que ser penoso? Não haverá uma maneira de fazer as coisas mais naturais e espontâneas como quando caminhamos?

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Diário das Caminhadas descreve o que aconteceu, a caminhada na montanha; as anotações são o registro de pensamentos sem tempo nem espaço que aparecem em qualquer momento. Encontrei nelas uma estratégia para dar forma e materializar meu pensamento.

Uma anotação é algo que escrevo para recordar. Algo geralmente curto, mesmo que possa ser comprido também. São pequenos textos que mostram o movimento do pensamento em alguma direção. Às vezes aparecem quando algo que leio me lembra alguma outra coisa, outras vezes é uma associação aleatória, repentina ou ao acaso entre duas coisas diferentes. Podem ser jogos de palavras, coincidências formais e sonoras. Muitas vezes vêm após uma experiência, ou quando um pensamento fugaz é registrado rapidamente para não ser esquecido, deixando o esboço de alguma ideia volátil ainda em elaboração. Em alguns casos, elas podem se tornar a proposta mesma.

Como escrever sobre caminhar?

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conectavam simultaneamente entre eles. Como poderia um mesmo texto ocupar vários espaços sem ser repetitivo? Como gerar várias leituras mudando a ordem desses textos?

Não somente se trata de encontrar uma metodologia ou estratégia para facilitar esse processo, para fazê-lo mais eficaz. Trata-se também de pensar o como escrever, no sentido da forma da escrita, da ligação com aquilo do qual está sendo tratado. Entendendo forma em seu mais amplo sentido, como a maneira em que algo existe no mundo. Um dia quando li o texto de Aline Dias, 8 notas sobre o desenho como ponte, pensei que do mesmo modo que ela se perguntava como falar sobre o desenho, eu me pergunto, como escrever sobre caminhar:

Eu desenho pouco, mostro pouco os desenhos que faço e uso, às vezes, sem querer, aquela terrível frase de que “não sei desenhar”. Feitas essas confissões, começo me perguntando sobre como falar sobre desenho e de que forma a minha experiência pode contribuir para o debate que esse seminário propõe. (DIAS, 2013, p. 43).

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Que forma poderia ter um texto que fala sobre caminhar? Escrever caminhando, caminhar escrevendo. Quais seriam então as relações entre o escrever e o caminhar? Como traduzir a experiência de caminhar através de seus registros? Relacionando caminhar com escrever, Geoff Nicholson escreve:

The pace of words is the pace of walking, and the pace of walking is also the pace of thought.

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Livro como roteiro de pesquisa

Ouvido Pensante, Murray Schafer. 1986 (The Thinking Ear)

A leitura deste livro me influenciou para dividir o meu trabalho em quatro capítulos. Certo dia, parafraseando a Schafer escrevi:

Revisando meus escritos e anotações, basicamente, posso organizá-los em três grandes grupos a partir das seguintes ações: caminhar, escrever, fotografar. Acrescentaria um quarto: meu interesse pelo som – escutar.

Essas quatro palavras que usei para nomear cada capítulo definem as principais ações que realizo e, somando-se ao verbo ler, que vem junto com escrever, configuram o trabalho.

Escrever-Ler-Caminhar-Fotografar-Escutar.

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mas na verdade este fala de tudo, da relação do som com a vida. Na escrita de Schafer predomina um tom descritivo e ele o deixa claro desde o início no prefácio:

Este, então, é um relato pessoal de um educador musical, e não o enunciado de um método para a imitação submissa. É essa a razão pela qual meus textos são descritivos e não prescritivos. Nenhuma coisa, neste livro, diz: “Faça deste modo”. Ele apenas diz: “Eu fiz assim”. (SCHAFER, 2012, p. 2)

Por acaso um diário e um relato não fazem o mesmo, descrever?

Junto com as anotações, o relato tem sido um formato importante na minha escrita, pois ao falar de experiência, aparece como a forma mais natural para apresentar aquilo que foi vivido.

Nos diários há uma forma de escrita que está relacionada com o passo do tempo, com a experiência. No prefácio de Diário de Oaxaca, Oliver Sacks comenta:

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pessoais. Porque escrevo diários? Não sei. Talvez, antes de tudo, para dar clareza às ideias, organizar impressões numa espécie de narrativa ou historia [...] (SACKS, 2002, p.12)

Também em Ouvido Pensante Murray Schafer dedica umas páginas a um diário:

Pouco tempo depois de escrever “A nova paisagem sonora” fui dar uma pequena volta pelo mundo. Aqui estão algumas notas de meu diário de sons. (SCHAFER, 2012, p. 184)

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Nesses registros às vezes há anotações banais e insignificantes, alguma frase para lembrar algo e ser completada depois ou descrições detalhadas da exploração de um lugar. Refletindo sobre estes textos também pude observar que desde que comecei a usar GPS para registrar minhas caminhadas, no dia 06 Junho de 2013, estes mapeamentos começaram a coincidir com as datas de entrada do diário. Aqueles arquivos e mapas são para mim registros que permitem estudar possíveis rotas, planejar novos percursos e analisar trajetos já feitos. São uma memória pessoal, registros da minha presença nesses territórios, memórias nas quais posso lembrar ou estudar caminhos já feitos. Fotografamos para não esquecer, de modo semelhante, eu faço mapeamentos para recordar. Serão estes traçados de GPS outra forma de diário? No projeto Tracking Transience: The Orwell Project de Hasan Elahi, conforme suas palavras, ele próprio se autovigia registrando todos os lugares para onde vai, publicando fotografias e mostrando sua localização atual através de um rastreador de GPS. Este arquivo de documentos e imagens que testemunham seus movimentos pode ser acessado por qualquer um através de seu website: http://

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FBI suspeito de ser um terrorista. Como reação à perseguição sua estratégia foi fazer pública sua vida através de fragmentos de informação sem organização e, paradoxalmente, assim conseguiu ter uma vida privada e anônima.

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An object cannot compete with an experience.

Hamish Fulton

CAMINHAR

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Indoor / outdoor

Nesta exposição há uma tentativa de traduzir a experiência de caminhar através de alguns de seus registros. No cotidiano, estes habitam e transitam principalmente no espaço digital eletrônico do computador pessoal, em formato de fotografias digitais, mapeamentos de GPS, arquivos de texto, vídeos, entre outros.

O processo-experiência se dá entre o que poderia se chamar de atelier indoor e atelier outdoor. Ou seja, entre uma atividade que se desenvolve em um espaço interior, urbano, doméstico (uso de computador pessoal, software e Internet); e as experiências nas montanhas, trilhas, dunas e costões (espaço natural não domesticado, não urbano, não rural). Seguindo essa lógica, poderia se interpretar como uma operação baseada nos conceitos de Site e Non-Site propostos pelo artista Robert Smithson, estabelecendo uma dialética entre a experiência na montanha (Outdoor, Outside, Site), e a interação com o computador (Indoor, Inside, Non-site).

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percurso. Reviso e estudo as montanhas através de fotos, pesquiso mapas e analiso a fotografia satelital da área que me interessa. Exploro o relevo observando diversos tipos de mapas, alternando entre curvas de nível e a foto do satélite. Realizo operações de zoom, me aproximo, me afasto e imagino o caminho que posso fazer nesses lugares.

No dia seguinte vou caminhar e confronto minha pesquisa com a experiência direta no território. As minhas expectativas se atualizam podendo entrar em conflito ou se mantendo de acordo ao planejado.

No final do dia, volto para casa novamente. Roupa suja, terra nas botas, cabelo emaranhado, marcas no corpo, golpes, cortes nas mãos, espinhos nos dedos, bolhas nos pés, cansaço muscular, lembranças, felicidade e desejo de voltar.

Descarrego fotos, vídeos e traçados de GPS para analisar o percurso feito e estudar outros caminhos. Assim o ciclo continua e as novas experiências geram mais possibilidades para continuar explorando.

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urbana de andar na cidade. O último me aproxima da obra de Hamish Fulton que, no livro Walking beside the river Vechte, 1997, em um dos seus trabalhos escreve: ALL COMTEMPORARY ART IS URBAN ART (CARERI, 2002, p. 155). Investigando referências sobre o caminhar tenho me encontrado com esta mesma questão, na que a pesquisa sobre caminhar está associada com o conceito de Flâneur, o caminhante que surge na Paris do século XIX, teorizado inicialmente por Charles Baudelaire e retomado posteriormente por Walter Benjamin. A partir dessas origens, têm surgido inúmeros experimentos e explorações por artistas e escritores que percorrem as cidades a pé.

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Referências

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