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A noção de objecto e os primeiros meses de vida da criança

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Análise Pslcol6gica (1978), I, 471-77

A

noção

de

objecto

e

os

primeiros meses

de

vida

da

criança

MARIA ISOLINA PINTO BORGES *

u... A nossa perspectiva da realidade é condicionada

pela nossa posição no espaço e no tempo, e não pela personalidade como geralmente se crê. Assim, cada interpretação da realidade se baseia sobre uma posi- @o única. Dois passos para leste ou para oeste e o quadro muda inteiramente..

..

u.

..

a estranha criatura que nos tinha deixado crer ser capaz de unir-nos ao corpo do Universo consegue efectivamente separar-nos dele totalmente. O amor une, antes de separar. Se assim não fosse como po- díamos n6s crescer?. . .»

De Pursewarden, uma personagem de Lawrence Durrel - Quarteto de Alexandria 2

INTRODUÇAO

A noção de objecto na metapsicologia freu-

diana é de dimensões que podemos considerar

retroactivas e pr,ojectivas, e implica a teoria das pulsões, ou antes, a pulsão propriamente dita; a dinâmica impiícita nesta concepção toma for- ma e de certo modo define-se no desenrolar da situação simbiose-objecto-relação. Queremos di-

zer que o objecto adquire progressivamente pro- porções diferenciadas na medida em que, sendo correlativo das pulsões para cuja satisfação tende, acompanha uma perspectiva genética no

do, segundo Spitz, pela angústia do oitavo mês e já definível por condutas bem determinadas, estão implícitas noções que, como refere Pierre Greco, constituem a arquitectura de um sistema

fundamentalmente caracterizado pela sua coe-

rência interna. No entanto, o estatuto epistemo-

lógico dessas noções é muitas vezes posto em

Théorie génètique de

I'affectivité (Greco, 1967), na qual baseamos

estas asserções, os estádios ora são delimitados

biologicamente (e, segundo os neofreudianos,

por contextos sócio-culturais) ora constituem estruturas na medida em que a cada estádio co11- responde uma forma de organização tipica da

personalidade. Se é certo que aqui se pode en-

contrar matéria vasta de discussão epistemoló- gica, parece-nos particularmente frutuoso man- terem-se na perspectiva psicanalítica, ainda que por vezes fundidas, as duas linhas: determina-

ção biológica sócio-cultural e estádio conse-

quente psicologicamente organizado.

Entretanto, mesmo na maior parte dos trata-

CâUSâ.

No que se refere

-

evoluir da relação objecto parcial 2 relação distas de tendência genética em psicologia, en-

objectal. contramos explícita a dificuldade inultrapassá-

Desde o universo aduaiístico da criança até vel entre a noção de objecto (objecto relação

ao estádio objectal definitivamente ultrapassa- parcial-objecto relação total) e a noção de

objecto permanente localizada na perspectiva * Psicóloga. Assistente do Curso Superior de Psi-

(2)

pressuposto base, segundo este autor, de todo o desenvolvimento intelectual.

O objecto em sentido freudiano acima refe-

rido ganha as suas raízes na relação da criança como um ser humano apto a comunicar, com

tudo o que a comunicação comporta, e aparen-

temente pouco tem a ver com os elementos não-

-vivos concretamente localizados no espaço e

no tempo que, mercê da dialktica estímulo-res-

posta, na teoria de Piaget, vão permitir h crian-

ça situar-se relativamente a seres inanimados

paIpQveis que, como estímulos, constituem R

base do desenvolvimento intelectual. Na pers- pectiva freudiana estes «objectos» apenas adqui- rem significação objecta1 quando simbolizáveis;

o objecto

...

mão deve evocar a noção de coisa,

de objecto inanimado e manipulável tal como

este se contrapõe as noçiks de ser animado ou

de pessoa.» (Laplanche e Pontalis, 1967.)

I." PARTE

O estudo dos pontos de convergência das

perspectivas freudianas, neofreudianas e piage- tiana, estudo que indiscutivelmente se impõe, encontra fundamentalmente barreiras metodoló-

gicas e de terminologia. Não está em questão o

objectivo a atingir, que é afinal o conhecimento

dos comportamentos humanos individuais e de

grupo, qualquer que seja a abordagem.

Na verdade, 5 medida que nos debruçamos sobre as duas perspectivas, os possíveis pontos

de convergência são «ressentidos» como reais

pontos complementares sugerindo tentativa de integração. Pensemos, por exemplo, nas condu-

tas da função simbólica segundo Piaget (l.a fase

do período pré-operatório situando-se aproxi-

madamente entre os 2 e os 5 anos) e na pre-

sença latente do conflito edipiano em todas es- sas condutas. Fica-nos, sobretudo, a impressão de que muito há a dizer sobre essa função sim-

bólica e que algo falta de sistematizado quanto

a fundamentos de base, se é que essa sistema-

tização é possível quando se trata do conflito

edipiano. Possivelmente só a integração dos dois planos resultará de modo satisfatório quer

quanto a conteúdo, quer quanto a fundamen- tação.

De

qualquer modo, no período pré-operató-

rio, a linguagem da perspectiva de Piaget não esgota as possibilidades de vivência do Édipo pelo facto desta ser inesgotável e de momento a experimentação ou mesmo a observação di- recta não «parecem» suficientes para a abordar.

É como se o conflito edipiano funcionasse como

pano de fundo subjacente às condutas necessá-

rias ao desenvolvimento intelectual.

Num projecto ideal, a análise exaustiva de sucessivos níveis integrativos (Freud e Piaget)

desde o nascimento até à adolescência pas-

sará certamente de plano ideal na próxima ou

próximas gerações.

Entretanto essa dificuldade não nos impede

de abordar um ponto base, já linearmente refe-

rido nas noções de objecto, em que os compo-

nentes das duas perspectivas estão simultanea- mente presentes e adquirem para nós, certa-

mente não por acaso, particular importância.

Assim, da perspectiva piagetiana destacamos

a permanência do objecto, ponto culminante da

fase sensório-motora, e na liiha freudiand,

mantendo a preocupação de ir A génese, debru-

çamo-nos sobre a teoria de Melanie Klein no

que se refere 5 transição da simbiose com o seio

materno e consequente clivagem, para o esta-

belecimento da relação criança-mãe-criança. Em trabalho realizado com a participação de alguns alunos de Psicologia foi-nos possível a observação de algumas crianças de um grupo

previsto de 150, entre os 5 e os 22 meses de

idade,

no

sentido de se observar a organização

da permanência do objecto segundo Piaget. No

entanto, antes de delimitarmos esta observação,

parece-nos de interesse destacar os pontos de

reflexão que constituíram a base daquela. Não sendo, segundo Piaget, a noção de objecto físico inata, mas construindo-se a partir da actividade reflexa em função da interacção estímulo-capacidade organizante-resposta, veri- fica-se que a capacidade que a criança adquiriu de identificar objectos mobilizáveis como ele-

(3)

o período sensório-motor. Sendo os dois pri- meiros estádios (até aos quatro meses e meio)

caracterizados por quadros móveis e inconsis-

tentes, eles ganham «situação» progressiva de

uma maneira marcada até aos 8-9 meses de

idade. No entanto, ainda nesse estádio (3."), a

criança reage apenas pelo choro ao desapareci-

mento do objecto concreto percepcionado, sem

tentativa de o encontrar. No quarto estádio (8-9

meses aos 11-12 meses) é já observada a busca

do objecto desaparecido, mas não o seguimento

dos deslocamentos. Isto verifica-se quando es-

condemos o objecto A

i

direita da criança, que

o procura e o encontra; em seguida, k vista dela

deslocando e escondendo o objecto em B, a

criança vai procurá-lo em A, como se a posição do objecto dependesse das a m e s anteriormente bem sucedidas.

Durante o quinto estádio, até por volta dos

18 meses, este objecto delimitado no espaço em

função de regulações sucessivas de ritmo, surge como substância individual permanente; toda-

via a criança não considera ainda as mudanças

de posição que se operam fora do campo de

percepção directa. na fase final deste período

se esboça já a organização do grupo prático dos

deslocamentos (16 a 18 meses).

Pelo sexto estádio, até aos 24 meses, encon- tramos êxitos numa série organizada de inter- ferências que levam a combinações significati- vas. Por exemplo, erguer uma almofada sob a qual a criança pressupõe um objecto desejado, e erguer e encontrar debaixo dela uma outra

cobertura imprevista que é também rapidamente

retirada.

Pensando que estes dados podem vir a ser

úteis num estudo com crianças portuguesas e na

intenção imediata de documentar este pequeno

trabalho, passamos a apresentar os seguintes

elementos :

1. Observação de 15 crianças de um infan-

tário (anexo a um local de trabalho estatal) de

idades entre os 5 e os 22 meses:

a) Descrição fundamentada das provas utili-

zadas;

b) Organização de uma ficha de observação

comportando um exemplar com a descri- ção do caso. Na medida em que a descri-

ção de cada caso desencadeia uma série

de hipóteses não isentas de ressonâncias alheias a teoria de Piaget (até porque o

objecto utilizado para crianças de 5-6 me-

ses é o biberGo, e a reacção de choro apre-

senta as variantes mais diversas) pareceu- -nos de algum interesse apresentar um protótipo dos casos observados.

DESCRIÇAO DAS PROVAS

1." PROVA

Material

-

Uma toalha; um boneco que

atraia a atenção da criança (por exemplo: um pato).

Método

-

I ) Mostra-se d criança o objecto

e deixamos que ela lhe pegue. 2) Em seguida retiramos o objecto das suas mãos e colocamos por cima uma toalha, mas deixando que

a

ca- beça do boneco permaneça d vista da criança.

2.' PROVA

Material

-

Idêntico ao utilizado na I.a prova.

Método

-

I ) O mesmo que na I." prova. 2)

Retiramos o objecto das mãos da criança e escondemo-lo debaim da toalha, mas desta vez sem deixar nada de fora.

3.' PROVA

Material - Um bomco que atraia a denção

da criança, uma toalha A e um travesseiro B.

Método

-

I ) Mostra-se o objecto d criawa

e deixamos que ela lhe pegue. 2) Retiramos o

objecto 2 criança e co2ocamo-10 debaixo da toalha A (a criança procura o boneco e encon- tra-o). 3) A vista da criança retiramos-lhe de

novo o objecto e cdocamo-lo debaixo do tra-

vesseiro B.

4." PROVA

Material

-

Uma

toalha, uma almofada e um

objecto de pequenas dimensões (a fim de caber

numa n60 fechada).

Método - I ) Colocanws o objecto nu mssa

mão e colocamos a mão debaixo da almofada,

onde largamos o objecto, sem a criança ver.

2) Retiramos a mão. fechada, da almofada e

colocamo-la sob a toalha. 3) Mostra-se a mão fechada d criança.

(4)

RAZÃO

DE SER DAS PROVAS

As provas que organizámos para as obser-

vações longitudinais acerca da permanência do

objecto são baseadas em observação de Jean

Piaget com os seus três filhos, e registadas no

seu trabaiho A Construção do Real na Criança.

Ao grande número de observações aí descri-

tas, resolvemos extrair estas quatro pela sua

simplicidade e por representarem as diversas

fases por que passa a noção de objecto.

1," PROVA

A primeira prova destina-se a verificar se a

criança procura ou não o objecto desaparecido

frente aos seus olhos.

Segundo as observações de Piaget a procura não acontece (numa prova do género) antes do terceiro estádio da fase sensório-motora.

2." PROVA

já procura o objecto desaparecido. pela toalha.

meses.

Esta prova destina-se a observar se a criança

O objecto, desta vez, é inteiramente coberto

Tal procura não deve acontecer antes dos 8 ~ 9

3." PROVA

Destina-se esta prova a verificar se a criança

fez a coordenação das sucessivas desloca-

ções, operadas dentro do seu campo visual. Esta

atitude não deverá acontecer antes dos 12 meses.

Achamos que o comportamento satisfatório

relativamente a esta prova assinala a constitui-

ção do objecto como substância individual per-

manente.

4." PROVA

Esta última prova limita-se a verificar se há

uma coordenação das sucessivas deslocações

operadas fora do «campo visual da criança».

fi

uma etapa fundamental na aquisição definitiva do que pode considerar-se o ponto de partida

para a operatividade; por sua vez, esta im-

plica a reversibilidade do pensamento e a inva-

riância, que se vão exprimir a partir dos 6-7

anos de idade através de noções básicas. Definindo Piaget a inteligência como trans- formadora do real, tal capacidade transforma-

dora só é atingida quando se organizam as es-

truturas pelas quais os sucessivos objectos de

conhecimneto são assimilados. Por outro lado

nesta assimilação estão implícitos pontos de re-

ferência, ou invariantes, ou esquemas de con-

servação, que constituem uma espécie de pon-

tos-suporte relativamente aos quais toda a re-

versibilidade é referenciada. É neste sentido que

o «grupo prático de deslocamentos» concreti-

zando a permanência ou interiorização do

objecto constitui uma pré-figuração das futuras noções adquiridas, quer se limitem ao concreto

(dos 6-7 aos 10-11 anos), quer atinjam poste-

riormente o plano lógico.

FICHA DE OBSERVAÇÃO

Nome ...

Sexo ... Idade ... (A> 9 (M) 28 (D) Peso ... Altura ... Profissao do pai ... Profissao da mãe ...

Data da observação: 13/4/78 Hora da observ. ... Notas de interesse ...

1 - . -

TIPOS DE

COMPORTAMENTO

3." PROVA

Quando lhe escondemos o objecto em B, após ela o ter encontrado em A, não apresenta qualquer dificuldade em encontrá-lo.

I

i."PRoVA

Procura o objecto sem dificuldade.

2." PROVA 4." PROVA

Levanta rapidamente a toalha encon- Não reage a esta 4." prova.

(5)

CONCJLUSõES

Foi grande a nossa admiração ao encontrar

uma criança de perto de 10 meses a fazer a

busca activa do objecto atendendo às suas su-

cessivas deslocações. Não contávamos encon- trar este tipo de comportamento antes do pri- meiro ano de I.C.

E

de notar que fizemos três ensaios da mes-

ma prova para verificar da interferência do

acaso, mas nos três ensaios a criança reage

correctamente. Salvo posteriores observações so-

bre esta mesma criança que possam vir a negar

a nossa, consideramos que ela tem adquirida

a noção de objecto como substância individual e permanente.

Da análise destas provas muito haveria a re-

ferir no domínio exclusivo da permanência do

objecto.

Não

sendo de momento essa a nossa

intenção salientamos apenas que, sem razões

somáticas justificativas, 5 das 15 crianças obser-

vadas apresentaram comportamentos discrepan- tes relativamente aos respectivos estádios.

2." PARTE

Se a integração das duas perspectivas consi-

deradas de momento não 6 possívd, será de

certo interesse localizarmos o que pode ser des-

tacado no desenvolvimento psicol6gico do pri-

meiro ano de vida em diferentes momentos do

tempo.

A abordagem de Melanie Kiein neste con-

texto levou-nos ao trabalho de Susan Isaacsl

-

referindo a teoria kleiniana na constituição da maturação e desenvolvimento objecta1 a partir

da vida fantasmática da criança. Entramos nou-

tro mundo terminológico: não temos «estádios,

mas ««posições»; não encontramos prioridade metodológica mas ««casos» e interpretaçsio psi- canalítica da actividade Iúdica; expressões tais como «paranóide esquizóides ganham dimensão genética e perdem, até certo ponto, a tonalidade

patológica; nada é simples nos pressupostos

Cit. por Victor Smirnoff (1974), referenciado a 1943.

kleinianos cada vez mais postos em causa mas também mais necessários a nível explicativo.

Aqui, o fantasma é a expressão mental da pul-

são, um dado imediato da experiência vivida:

cOs primeiros fantasmas nascem pois das pul-

sões corporais e estão estreitamente ligados às

sensaçíjes físicas e aos afectos. Exprimem pri- mitivamente uma realidade interna e subjectiva;

entretanto, desde o princípio, estão ligados a

uma verdadeira experiência da realidade objec-

tiva, por muito limitada e estreita que seja.B2

Quer dizer, as primeiras vivências fantasmáti-

cas

não podem ser desligadas das primeiras ex-

periências sensoriais que são as relações esta-

belecidas com o seio materno, traduzindo-se as-

sim as primeiras impressões pela relação entre

a vivência emocional

e

a vivência experimen-

tada em termos somáticos.

Sendo o fantasma a iinguagem pela qual se

exprimem as pulsões não são excluídas as per-

cepções externas como elementos fundamentais de processos psíquicos precoces. Como refere

Jean Begoin. estão em interaqão com a reali-

dade externa; desta interacção decorre toda uma evolução organizativa desde as formas

mais primitivas às mais evoluídas, Assim, a pro-

jecção e a introjecção kleinianas (precoces) são

reguladas na medida em que os estímulos ex-

ternos se organizam sensorialmente e satisfazem

ou frustram.

Em

suma, enquanto que

os

aquaáros

m6-

veiss de Piaget se mantêm móveis nos dois pri- meiros estádios, até pelo menos 4 meses e meio, a criança kleiniana passa do objecto parcial.

ultrapassando a «posição paranóideesquizói-

de», ao objecto total, cuja organização se es-

boça a partir dos primeiros meses de vida; nesta

passagem a criança não s6 se situa relativa-

mente ao corpo da mãe (já não se trata do seio

comum; as mãos, o rosto e olhos da mãe são

da mãe), como organiza progressivamente a in-

tegração do cbom seios e do amau seios, pre- parando-se para diferenciar o agradável do de- sagradável.

(6)

Hanna Segal precisa esta passagem distin- guindo aquilo a que chama as «equações sim-

bólicas» dos verdadeiros símbolos (Segal, 1957).

A equação simbólica não substitui o objecto (ca-

racterística clássica do símbolo) dado o predo-

mínio da identificação projectiva, mecanismo abrangendo os três primeiros meses e incompa-

tível com a diferenciação sujeito-objecto. O sím-

bolo propriamente dito só aparece na posição

depressiva, em que a mãe se impõe 2i criança

como um todo distinto dela; para que o símbolo

se verifique é necessário que tenha sido ressen-

tida a perda e consequente luto da mãe-seio ini-

cial. Este luto e a culpabilidade inerente vão

manter-se em conflito constante e permitir a dialéctica entre as pulsões destruidoras e ten-

dências reparadoras do Eu.

W. R. Bion, tratando da génese do pensa-

mento (Bion, 1964), diz que não sendo a expe-

riência concreta do recém-nascido directamente transformável em pensamento, deverão ser dis- tintas as impressões sensoriais brutas, elemen- tos B, coisas em si, (presentes na posição para-

nóide-esquizóide?) da actividade mental em que

a coisa em si é substituída pelo símbolo.

Entretanto, relativamente a estes tipos de

abordagem do desenvolvimento da criança nos primeiros meses, levantam-ssnos as seguintes

questões :

do objecto piagetiana, apesar da exactidão ex- perimental, resulta lacunar. Senão vejamos:

Atingirá a criança a referida «permanência» sem a possibilidade de organizar as defesas (cii- vagem, idealização, denegação, controlo omni- potente, em suma, identificação projectiva) da posição paranóide-esquizóide?

Definindo Piaget a Psicologia Genética como

estudo do crescimento mental e considerando a

permanência do objecto como alavanca dos fuc turos esquemas de conservação, poderemos dei-

xar de nos interrogar se, uma vez constituídos o

Ego e o Super Ego em função daquelas defe-

sas, não será por isso que a criança surge apta

a dialogar com a frustração de que é exemplo

a reacção ao desaparecimento de um objecto do seu interesse?

Tentemos então concluir: a anterioridade da

estrutura mental, tal como nos é descrita e ana-

lisada por Melanie Klein (que, evidentemente, dada a importância atribuída às experiências sensoriais, não exclui a maturação neurofisioló- gica implícita), não será condição necessária

para que os estádios sensório-motores possam

ser descritos com a aparente clareza e simplici- dade que uma metodologia correcta lhe con- ferem?

Resta-nos sugerir algo que é ainda uma in-

terrogação imensa: como, quando (e se) será possível utilizar a metodologia necessária às primeiras variáveis latentes das ligações infantis?

Se só no quarto estádio da fase sensorial-

-motora, descrita por Piaget, se regista uma

busca do objecto físico desaparecido (9-12 me-

ses) os investimentos globais anteriores presen-

tes na capacidade de experimentar angústia, de

utilizar mecanismos de defesa e de formar rela- ções de objecto, com implicações na capacidade

simbólica, não terão nenhum papel a desempe-

nhar na organização da permanência do objecto de Piaget? Do ponto de vista epistemológico, dada a ausência de experiência sistematizada com essa intenção, podemos pelo menos afir-

mar que nas «posições» kleinianas um mun-

do infinito de variáveis latentes a detectar. O facto de serem latentes documenta a sua com-

plexidade. Se essa mesma complexidade não

for considerada, parece-nos que a permanência

RESUMO

A integração do modelo psicanalítico e do modelo piagetiano constitui u m das preocupa- ções da psicologia dos nossos dias. Neste tra- balho, considerando a perspectiva genética daqueles dois modelos, sugerem-se pontos de

aproximação no desenvolvimento da primeira etapa da fase oral tal como a concebe Melanie Klein e na organizqáo dos estádios da fase sensório-motora descritos por Piaget.

RÉSUMÉ

L’integration des modèles psychanalytiqites et piagetiens est une des préocupations de lu psychologie de nos jours. Duns ce travail et en

(7)

considérant la perspective genétique de ces deux modèles, on sugère les points de convergeme du développement de la première étape de la fase oral telle qu'elle est cowue par Melanie Klein et dam I'organ'zafion des stades de la fase sensorio-motrice décrits par Piaget.

SUMMARY

The integration of both the psychoamlytic and the piagetian models is one of the comerns

of modern psychdogy. Considering the genetic

perspeciive of both these models, we point out

in this essay some converging points that can be found both in the development of the first stage of the oral phase such as it is comeived by Melanie Klein arrd in the organization of the various stages of the sensorial phase described by Piaget.

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d e l l a n n e r p X"" de w o t e n g a X"" de üoa*nlu<s Cardow TEXTOS DE CULTURA PORTUGESA T R A T A W DE VERSIFICAÇAO PORTUGUESA de iimo,>m de crira:ra 3 IMPBRIO COLONIAL PORTUGUCS de c R Bole, O 1 SIGWOS REFLEXOES SOBRE A LINGUAGEM DIALBCTICAS APLICADAS DA L!TERATUR& de ,npP ds s o a CRITICA E VERDADE 4 O"aa8-c Banhlr MITOLOGIAS d<. Roland Ra"te3 O GRAU ZERO DA ESCRITA & N0.m Cr.,rn*" seguido de ELEMENTOS DE SEMIOLO011 DIAL6CTICAS TEORICAS DA LITERATURA O0 i a r g e de scra OPRAZERDOTEXTO 6.2 "ohrd einnes HISTORIA DA LINGUAGEM de ,";,a Y I S I I F I I LINGUISTICA E LITERATURA de Roland P.ii"rei m o a " Jaibb,on Ncaiar "rxrl. &:#a ii.,C"i ~ l , n o , i "diine P Z *i TEXTOS BREVES NGA MUiURl dp A,':odo Tio", VERSOS OS EXTRATERRESTRES NA HISTORIA dl Jil.OLCI wrg*, O MISTER10 DAS CATEDRAIS d' iukanr II O LNAO W S MUNDOS E M U E C I W S OS DOMINKIS DA PARAPSICOLOGIA ce Rar",c"""oy. do "a" L a i t k r e Pnlrck Rl"Q"., ESTAMOS SOS NO COSMOS? dp í"Ta*"i MANUAL PRATICO DE ASTROLOGIA (ASTROS, SIGNOS E ZODIACO) * i v /e 6 s Gilrrlane PERSPECTIVAS DO HOMEM ACONSTRUÇAO DO MUNDO dir de N d r C I\ugr OS DOMINIOS DO PARENTESCO ANTROPOLOGIA SOCIAL A ANTROPOLOGIA ECONOMICA

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