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INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIAS PARA INCLUSÃO SOCIAL

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Academic year: 2020

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Ano 2 - N º 06 Março- 2009

INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIAS PARA INCLUSÃO SOCIAL

Profª. Dra. Célia Aparecida Paulino1∗ Profª. Dra. Maria Rita Aprile1 Profª. Msc. Noeli Mérces Mussolin2 ∗

E-mail para contato: celiapaulino@yahoo.com.br

RESUMO

O uso de medicamentos sem prescrição médica caracteriza a automedicação, um hábito diretamente proporcional ao grau de instrução e à falta de informação do usuário e aos problemas sócio-econômicos da comunidade, dentre outros fatores. Investigação realizada com universitários de um Curso de Enfermagem revelou que a prática da automedicação pode ocorrer entre universitários, mas em menor extensão entre aqueles que já cursaram disciplinas que orientem para o uso racional e os riscos dos medicamentos. Esses resultados mostram que a informação e educação formal de profissionais de saúde são estratégias que podem contribuir não só para o autocuidado, como também para um futuro melhor atendimento das necessidades de saúde da população, garantindo-lhe mais inclusão social e qualidade de vida.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Medicamentos, Automedicação, Educação, Inclusão social.

_____________________________________ 1

. Professoras Titulares (doutoras), Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), São Paulo. Departamento de Pós-Graduação, campus Marte, Avenida Braz Leme, 3029, Bairro Santana, São Paulo-SP, CEP: 02022-011.

2

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Professora (mestre), Faculdade Santa Rita. Avenida Jaçanã, 648, Bairro Jaçanã, São Paulo-SP, CEP: 02.273-001

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ABSTRACT

The use of medicines without prescription characterizes self-medication, a habit directly proportional to the degree of education and the lack of user information and to the socio-economic problems of the community, among other factors. Research conducted with university students in a Nursing Course disclosed that the practice of self-medication can occur among university students, but to a lesser extent among those who have studied subjects that guide for the rational use and the risks of medicines. These results show that information and formal education of health professionals are strategies that can contribute not only to self-care, but also to a better future health care to the needs of population, ensuring more social inclusion and quality of life.

KEY WORDS: Health, Medicines, Self-medication, Education, Social inclusion.

INTRODUÇÃO

O conceito de saúde envolve o estado de completo bem-estar físico, mental e social e, embora amplamente aceito e discutido, é um estado difícil de ser atingido e mantido. Em se tratando da realidade brasileira cujas condições socioeconômicas, culturais e ambientais configuram um quadro extremamente acentuado de estratificação econômico-social, este conceito é extremamente excludente na medida em que o acesso à saúde, aos seus cuidados e serviços está direta e/ou indiretamente relacionado às distintas posições sociais ocupadas pelos diferentes indivíduos e grupos da população.

O acesso às fontes e aos fluxos de informação que devem resultar em práticas voltadas para a saúde e a qualidade de vida também traduz as desigualdades sociais, sendo um indicador do “capital cultural” que, nos termos de Bourdieu (2007), o indivíduo herda da família ou que lhe é transmitido pela escola. Sob essa perspectiva, a impossibilidade da população ter pleno acesso aos conhecimentos em saúde seguramente diminui sua capacidade de decidir e adotar comportamentos saudáveis, o que concorre para reforçar a já existente exclusão social a que é submetida, podendo inclusive ser ela alvo de outras iniqüidades sociais.

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Neste contexto, marcado pela heterogeneidade social, econômica e cultural, uma prática bastante comum diz respeito ao uso de medicamentos sem prescrição médica, ou seja, o ato em que o próprio paciente decide qual fármaco irá utilizar, conhecido por automedicação, incluindo-se nessa designação genérica a “orientação” a respeito dos medicamentos, recebida de pessoas não habilitadas, como amigos, familiares ou até mesmo balconistas de farmácias (PAULO; ZANINE, 1988). Mesmo sendo um hábito presente em todas as classes de renda, o uso de medicamentos deve ser observado com muito cuidado. Apesar de ser um recurso para a busca ou restabelecimento da saúde, envolve riscos importantes à própria integridade física dos seus usuários, especialmente quando se trata da população de baixa escolaridade ou que enfrenta barreiras geográficas, religiosas e culturais para acesso à informação em saúde e, portanto, não incluída nos fluxos de informação existentes na sociedade.

Embora não sejam muitos os estudos realizados na população brasileira que relacionam a automedicação e a educação para a saúde como fator de inclusão social, a literatura existente permite a afirmação de que muitos dos efeitos induzidos por esta prática passam despercebidos, o que denuncia a carência de informações entre os seus usuários. As reações adversas aos medicamentos são numerosas, e casos de intoxicações humanas são bastante comuns. As reações adversas são definidas como um efeito prejudicial que ocorre após o uso de medicamentos, em quantidades utilizadas habitualmente para diagnosticar ou mesmo tratar uma determinada doença (CAPELLA; LAPORTE, 1993). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em países de desenvolvimento, o número de intoxicações medicamentosas atinge 3 a 4% da população humana (BRASIL, 2000).

É mundialmente reconhecido que o uso de medicamentos ocorre de forma irracional seja por excesso, por falta desnecessária e inadequadamente. Diariamente, em todo o mundo a saúde das pessoas está sendo prejudicada pelo uso incorreto de medicamentos. Segundo a OMS vários fatores contribuem para este problema, entre eles a falta de informações claras e objetivas sobre medicamentos para os que prescrevem e para os que consomem. Isto influencia a escolha dos medicamentos e encoraja as pessoas a usarem medicamentos inadequadamente em situações onde eles talvez não fossem necessários. Os custos do uso irracional de medicamentos podem ser imensos para a sociedade (BOOTMAN; HARRISON; COX, 1997) ou mesmo ter conseqüências futuras

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graves, como, por exemplo, a resistência dos microrganismos aos agentes antimicrobianos (LEFÉVRE, 1987).

Por outro lado, a automedicação responsável praticada corretamente pressupõe um conhecimento mínimo sobre saúde e doença. Isso impõe a necessidade de medidas educativas visando o uso racional de medicamentos, com a perspectiva de que essas substâncias geram riscos à saúde e, portanto, não podem simplesmente ser utilizadas de qualquer forma ou por qualquer indivíduo que tenha condições financeiras para adquiri-los (GANDOLFI; ANDRADE, 2006).

INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE

A prática da automedicação está intimamente relacionada ao grau de informação e instrução dos usuários sobre os medicamentos, bem como a acessibilidade dos mesmos ao sistema de saúde (CAMPOS et al., 1985). Além disso, sabe-se que as classes sociais de maior poder aquisitivo, passaram a adquirir serviços supérfluos e a consumir produtos em demasia, incluindo os produtos para a saúde. Enquanto isso, a população de baixa renda, que dificilmente tem acesso ao atendimento de suas necessidades básicas de saúde e mesmo de vida, mesmo quando pode adquirir os produtos supérfluos, pagam elevados tributos (BARROS, 1983). Neste contexto, o complexo formado entre as indústrias farmacêuticas, agências de publicidade e empresas de comunicações têm procurado implementar intensa estratégia de marketing para elevar o consumo de medicamentos pela população.

Analisando o poder da mídia sobre a população, Chauí (2006) lembra que é pela propaganda - utilizando os recursos das artes gráficas, da fotografia, da música, da dança e da poesia - que idéias, valores, opiniões e informações são difundidas para o maior número de pessoas em todo o território possível por meio de jornais, revistas, cartazes, rádio e televisão. Assim, a população se vê compelida a utilizar medicamentos cujo consumo é incentivado por uma propaganda que, nos termos da autora, apresenta explicações simplificadas e elogios exagerados em relação aos produtos; emprega slogans curtos que poderão ser facilmente memorizados pela população; sugere uma aparente informação sobre o medicamento e, ao mesmo tempo, induz o indivíduo a pensar que está recebendo uma prestação de serviço e a levá-lo a pensar que - enquanto consumidor - será igual às

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demais pessoas porque consumirá o mesmo produto, mas que também será diferente delas na medida em que o produto lhe proporcionará uma individualidade toda especial.

Esta realidade impõe um grande desafio no tocante à utilização de medicamentos, que é o de saber até onde prevalece a exigência terapêutica voltada para o controle das enfermidades e onde começa a pressão mercadológica, ou mais precisamente da propaganda, para estimular o seu consumo. Este dado é respaldado no fato de que todo medicamento possui um significativo potencial de risco e as reações adversas multiplicam-se com o multiplicam-seu uso incorreto e irracional (NASCIMENTO; SAYD, 2005).

Acrescente-se que o uso de medicamentos sem orientação médica é um hábito freqüente e diretamente proporcional ao grau de instrução e à falta de informação do usuário, aos problemas sócio-econômicos da comunidade e à falta de fiscalização sanitária das farmácias, dentre outros fatores, o que favorece em grande parte o hábito da automedicação (CAMPOS et al., 1985; GERSTNER et al., 1993).

O uso tão disseminado dos medicamentos pela sociedade os tornou responsáveis por um impacto substancial na economia mundial. No entanto, deve-se redobrar a atenção para os possíveis efeitos adversos da terapia medicamentosa, especialmente quando estes efeitos emergem após o uso prolongado nos tratamentos crônicos (MANT; KNOK, 1992).

Assim, de acordo com Wannmacher; Ferreira (1998), quem prescreve um medicamento possui suma responsabilidade em dar ênfase sobre as finalidades do seu uso e a importância em se realizar o tratamento, com o objetivo de maximizar a adesão a ele, podendo conferir se o mesmo teve resultados positivos e o paciente obteve informações quanto aos riscos que poderá sofrer ao consumi-lo.

Nos dias atuais, a automedicação é caracterizada de forma muito mais ampla e abrangente e, ainda que preconizada pela OMS, é um tema pouco discutido por causa do preconceito e por ser confundida com o termo autoprescrição. A chamada automedicação responsável é um conceito sério, ético e positivo sobre o uso racional de medicamentos isentos de prescrição e nela está inserida a importância para aliviar pequenos sintomas por meio do uso de analgésicos, antiácidos, vitaminas, antigripais e expectorantes. Nesse sentido, critérios rígidos devem adotados no que se refere à propaganda e às indicações e recomendações dispensadas sobre os medicamentos (BACARIN, 2001).

Por esta razão, é de suma importância a educação para o autocuidado, já que uma grande parcela da população mundial não tem acesso às informações sobre drogas essenciais, especialmente em função da pobreza e do analfabetismo. Muitos produtos são

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comercializados sem o devido esclarecimento dos males que pode causar á saúde. A automedicação responsável pode ajudar no controle de sintomas que não requerem consulta médica, porém, há necessidade de educar os consumidores para que os medicamentos disponíveis sejam utilizados com a devida responsabilidade (KINKY; ERUSH; LASKIN, 1999).

Em adição, Campos et al. (1985) e Gerstner et al. (1993) relataram que o uso de medicamentos sem orientação médica é um hábito freqüente e diretamente proporcional ao grau de instrução, à falta de informação do usuário, a problemas sócio-econômicos e a falta de fiscalização sanitária das farmácias. Ainda, segundo VIDOTTI et al. (2000), a introdução maciça de novidades farmacêuticas apresentou um avanço considerável no mercado, mas as informações inerentes a esses produtos não são totalmente objetivas e completas, impossibilitando assim a atualização completa dos profissionais da saúde.

Diferentes populações têm sido estudadas quanto ao seu comportamento de risco à saúde, dentre eles o uso de medicamentos e drogas em geral. Um estudo multicêntrico, englobando uma ampla pesquisa sobre o assunto na América Latina, e desenvolvido em diferentes regiões, identificou o perfil da automedicação no Brasil e reforçou a importância da informação à população a respeito do uso adequado dos medicamentos (ARRAIS et al., 1997). De fato, de acordo com Precioso (2004), muitos problemas de saúde atuais, responsáveis por certo nível de morbidade e mortalidade, estão relacionados com o estilo de vida, incluindo os comportamentos de saúde da comunidade. Para o autor, uma das vias para modificação de tais comportamentos é a educação para a saúde, que poderia contribuir para promover a alteração de condutas de risco ou a adoção de hábitos saudáveis de vida.

Nesta direção, Moreira et al. (2006) enfatizaram o papel da escola na promoção de atividades de prevenção, com vistas à educação para a saúde; a intervenção no ambiente escolar implica não apenas na prevenção de doenças, mas também na promoção de saúde. Da mesma forma, segundo Ceccim (2005), a educação permanente em saúde pode orientar iniciativas de desenvolvimento profissional e estratégico de transformação das práticas de saúde.

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Uma investigação foi realizada com 336 universitários (286 do sexo feminino, 42 do sexo masculino e 8 não responderam) do Curso de Enfermagem de uma Universidade Privada da cidade de São Paulo, distribuídos pelos 4 anos letivos do Curso, a saber: 72 (1º ano), 85 (2º ano), 77 (3º ano) e 102 (4º ano). Do total de alunos, 265 eram trabalhadores da área de saúde e 71 de outras áreas ou não trabalhavam. Após autorização para a realização do estudo, os universitários foram contatados, orientados sobre a pesquisa e só participaram aqueles que, devidamente esclarecidos, concordaram voluntariamente em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário confidencial, previamente testado, com perguntas semi-abertas e de auto-preenchimento, por meio do qual foram colhidas informações sócio-demográficas e investigada o tipo de conduta do universitário quando necessita fazer uso de medicamentos; quais os “remédios” que mais utiliza; os conhecimentos sobre possíveis efeitos colaterais destes “remédios”; de que forma o mesmo recebe conhecimento ou informação destes efeitos colaterais; quem faz a indicação dos “remédios” que utiliza, e os motivos pelos quais usam ou usaram “remédios” por conta própria.

Os resultados mostraram o hábito da automedicação entre os universitários dos 4 anos letivos. Mas, observou-se uma importante influência do conhecimento adquirido ao longo do Curso, evidenciada pela redução deste hábito a partir do 2º ano letivo, quando é ministrada a disciplina de Farmacologia. Ressalte-se que os universitários do 2º ano foram os mais cuidadosos em relação ao uso de medicamentos.

A maioria dos universitários procura um médico no caso de necessitar de tratamento, mas, uma parcela importante informou procurar algum medicamento que tenha em casa. Dos motivos que geraram a automedicação, a falta de tempo para consultar um médico e a facilidade de acesso foi apontada pela maioria dos universitários, que também revelou que faz leitura da bula na busca por informações técnicas ou recebe informações do médico, Além disso, esses universitários informaram que conhecem ou já ouviram falar das reações adversas que podem ser desencadeadas pelos medicamentos.

DISCUSSÃO

O estudo evidenciou a ocorrência da automedicação entre universitários de Enfermagem, especialmente pela facilidade de acesso, muitas vezes no próprio ambiente

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de trabalho, ou pelo contato com representantes de laboratórios farmacêuticos, quando da propaganda dos seus produtos. Esta prática acontece principalmente pela falta de tempo em consultar médico para a indicação do tratamento e/ou pela dificuldade em conseguir atendimento imediato na rede pública de saúde. Todavia, o uso de medicamentos ou mesmo a automedicação são minimizados a partir do 2º ano letivo do curso, evidenciando o papel do conhecimento adquirido, sobretudo a partir da disciplina de Farmacologia, ministrada neste período. O conteúdo programático da disciplina engloba não só o conhecimento formal a respeito dos inúmeros grupos farmacológicos, como também os riscos e benefícios do uso racional de medicamentos.

A escola tem papel relevante como promotora de saúde, na medida em que apresenta políticas, procedimentos, atividades e estrutura que resultem na proteção e promoção à saúde e ao bem-estar de todos os membros da comunidade escolar. Ressalte-se que o conceito de promoção à saúde envolve o processo de capacitação de pessoas com o objetivo de aumentar o controle sobre a saúde ou de melhorá-la, o que envolve a aquisição e utilização de conhecimentos (MOREIRA et al., 2006).

Em concordância, segundo Precioso (2004), os alunos devem ser preparados de tal modo que, ao deixarem a escola, sejam capazes de cuidar da sua própria saúde e da dos seus semelhantes. Neste sentido, a educação para a saúde assume um papel de destaque, especialmente quando se trata da formação de universitários da própria área de saúde que, além de autocuidado, também estar aptos a cuidar da saúde da comunidade.

Sobre a automedicação, quando inadequada, pode desencadear efeitos indesejáveis, doenças iatrogênicas ou até o mascaramento de doenças evolutivas e, dentre outros fatores, deve estar relacionada com o grau de instrução e informação dos usuários de medicamentos. Dados publicados sugerem que a automedicação no Brasil reflete as carências e hábitos da população, é consideravelmente influenciada pela prescrição médica e tem a sua qualidade prejudicada pela baixa seletividade do mercado farmacêutico (ARRAIS et al., 1997). Neste contexto, apesar da automedicação ser um hábito comumente presente em nossa sociedade, com todas as suas carências, sejam elas sociais, econômicas e culturais, a educação formal pode ser uma das estratégias de inclusão social do profissional que está sendo formado nas universidades e, a partir dele, uma fonte de orientação para novas atitudes a serem buscadas na sociedade, no mínimo em relação ao seu bem mais precioso, que é a saúde.

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Em seus relato, Vilarino et al. (1998) escreveu que existe um desejo pelo consumo de medicamentos, que se torna possível devido a fatores externos, como a cultura, a economia e os aspectos legais que podem facilitar ou até mesmo não impedir a aquisição de medicamentos sem a apresentação de receita médica.

Publicação do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) aponta que os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos. Somente em 2002, para o SINITOX, os medicamentos provocaram 26,9% do total de casos registrados. Quando as pessoas mantêm estoques de medicamentos em casa, tendem a expor, inclusive, as crianças, que também podem se tornar vítimas de efeitos colaterais, dependendo do que for administrado (BRASIL, 2006).

Na pesquisa realizada por Simões; Farache (1985) com a população urbana de Araraquara/SP, 42,1% dos medicamentos foram adquiridos sem prescrição médica e grande parte (97,6%) deste consumo era de medicamentos industrializados (97,6%). Ainda, as prescrições feitas em consultas médicas deram margem à possibilidade de automedicação em ocasiões posteriores. Fato semelhante foi descrito por Arrais et al. (1997), mostrando que esta conduta envolve a escolha dos medicamentos baseada principalmente na recomendação de pessoas leigas, sendo também relevante a influência de prescrições médicas anteriores.

Além disso, devem ser igualmente consideradas a falta de informações na própria prescrição médica e a ausência de leitura das bulas dos medicamentos, ou mesmo a incompreensão dos dados técnicos nelas contidos, como mais um fator que poderia induzir a prática da automedicação. Mais uma vez, a desinformação da sociedade e as dificuldades encontradas pelos cidadãos dentro do próprio sistema de saúde, podem resultar em exclusões importantes, seja do ponto de vista social seja do ponto de vista de saúde. Os dados relatados nesta pesquisa reforçam esta idéia, uma vez que os próprios universitários relataram fazer uso da automedicação, por dificuldade de acesso ao sistema público de saúde ou mesmo pela falta de tempo, já que estudam e necessitam trabalhar, também para pagamento do seu curso universitário.

É enfatizado pelo Ministério da Saúde que as pessoas devem evitar recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo de balconistas de farmácias ou drogarias. Tomar medicamentos só é aconselhável por recomendação médica e na aquisição de medicamentos de venda livre, considerados de baixo risco para tratar males menores e

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recorrentes, como dor de cabeça, os pacientes devem no mínimo procurar orientações do farmacêutico. Vale lembrar que não se deve confundir o farmacêutico com o balconista da farmácia (BRASIL, 2006).

Desta forma, torna-se crítico para o ser humano, em especial para os universitários da área da saúde, a necessidade de evoluir, buscando, além de conhecimentos, meios diferenciados no cuidado à saúde, a fim de favorecer a mudança de comportamento e dos hábitos de vida em geral, incluindo a prática do uso de fármacos e drogas. E, conforme citou Vilarino et al. (1998), é impossível frear a prática da automedicação, sendo necessário que a sociedade se adapte, recebendo informação científica sobre os medicamentos de venda livre, sem estímulo ao consumo desenfreado ou ao mito de cura milagrosa. Ao mesmo tempo deve ser incentivada a procura por profissional médico, ressaltando os pontos positivos que uma conduta médica pode ter em relação a automedicação.

Para isso, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem desenvolvido estratégias de educação que atingem diversos segmentos da sociedade. As ações orientam sobre a promoção da saúde com enfoque no uso racional de medicamentos e outros produtos sujeitos à vigilância sanitária, nos perigos da automedicação e na influência da propaganda enganosa e abusiva. Ainda, a instituição citada desenvolveu o “Projeto de Monitoração de Propaganda”, resultado de um convênio da Agência com 19 universidades de todo país para monitorar diferentes veículos de comunicação (BRASIL, 2000).

Assim, uma análise criteriosa realizada por Ceccim (2005, p. 162), aponta que a educação permanente em saúde configura o desdobramento de vários movimentos de mudança na formação dos profissionais de saúde, resultando da análise das construções pedagógicas da educação em serviços de saúde, na educação continuada para o campo da saúde e na educação formal de profissionais de saúde. Segundo o autor, a educação permanente em saúde poderia promover ações interligadas entre os setores de saúde e educação, buscando mudanças na formação profissional que permitissem um melhor atendimento das necessidades de saúde da população e maior equidade das ações e serviços de saúde.

Embora, o campo de ação da educação para a saúde seja toda comunidade, é primordialmente junto aos alunos que esta ação deve se fazer sentir e, portanto, ela deve ser implementada nas escolas; junte-se a isso, o fato de que muitos universitários serão futuros profissionais da educação e, portanto, necessitam de formação científica e

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pedagógica para o ensino voltado à saúde e qualidade de vida da população (PRECIOSO, 2004).

Realmente, o professor deve ser um mediador na comunicação entre os alunos e a informação acumulada e disponível na sociedade, o que os obriga à atualização profissional constante e à interação com diferentes realidades e culturas, próprias do mundo real. O professor deve, portanto, ser um agente de socialização da informação, transmitindo conhecimentos àqueles que necessitam para seu desenvolvimento pessoal e social (FREIRE, 2007).

E, por fim, como relatou Olinda (2006), a população excluída é mais vulnerável aos problemas de saúde e pode adoecer com mais facilidade; portanto, a informação e o conhecimento, dentre outros aspectos, são imprescindíveis quando se pensa em inclusão social.

CONCLUSÕES

Em face do exposto, no âmbito da educação superior, o tema da automedicação poderia ser objeto de um tratamento interdisciplinar na medida em que o seu conteúdo perpassa o conteúdo de várias disciplinas, haja vista a multiplicidade de aspectos de ordem física, psíquica, social e cultural que lhe são intrínsecos. Nesse sentido, a temática poderia ser abordada por mais de uma área de conhecimento, garantindo-se, é evidente, em cada uma delas a sua especificidade. O acesso às informações sobre a automedicação, seus efeitos e demais desdobramentos para a saúde que se efetivará por meio da educação formal - independente do nível e modalidade de ensino - supõe a possibilidade de inclusão social de, no mínimo, alguns estratos da população representados pela população universitária em relação à esfera do conhecimento em saúde e qualidade de vida. Considerando ainda que boa parte dos universitários ocupará um espaço no mundo do trabalho, é bem possível que esses futuros profissionais poderão influenciar o comportamento de outras pessoas, disseminando esses saberes que - “por efeito cascata” - concorram para que outros indivíduos e especialmente a população mais carente de informações possam adquirir esses saberes e alterar padrões comportamentais que se opõem à saúde e à qualidade de vida.

Assim, o controle da automedicação entre universitários está diretamente relacionado à informação e educação em saúde e remete ao papel da universidade como

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geradora de conhecimentos e preparadora de profissionais que estejam devidamente aptos ao autocuidado e, de modo mais abrangente, ao cuidado de outros indivíduos, de modo a minimizar riscos à saúde daspopulações.

REFERÊNCIAS

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