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Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Serviço Social

Curso de Especialização em Políticas Públicas e Serviço Social

QUESTÃO INDÍGENA: DESAFIO PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Belém/Pará AGOSTO/2008

“Artigo solicitado pelos docentes Dr. Carlos Maciel e Olinda Rodrigues, produzido pelos discentes: David Ferreira Jr, Karla Simoni de Lima e Thalita Coutinho Ribeiro, regularmente matriculados no Curso de Especialização em Políticas Públicas e Serviço Social, como requisito avaliativo da disciplina Políticas Sociais e Assistência Social em Debate”.

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QUESTÃO INDÍGENA: DESAFIO PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL

David Ferreira Junior 1

Karla Simoni de Lima2

Thalita Coutinho Ribeiro3

Resumo: Ao longo dos anos as populações indígenas ficaram a margem das ações

governamentais no Brasil, a falta de compreensão da realidade indígena no contexto atual, dificulta a construção de política pública afiançadora de direitos, agravando-se assim os problemas culturais, sociais, econômicos e políticos desses povos. A implantação de uma política de assistência social que considere as diversidades e peculiaridades socioculturais desse segmento tradicional se constitui em um desafio, para que se valorizem as manifestações de identidade e garantam direitos legalmente constituídos.

Palavras-chaves: Política de Assistência Social, Direitos e Questão Indígena.

Abstract: Throughout the years the aboriginal populations had been the edge of the

governmental actions in Brazil, the lack of understanding of the aboriginal reality in the current context, make it difficult the construction of public politics warranter of rights, aggravating themselves the cultural, social, economic problems and politicians of these peoples. The implantation of a politic of social assistance that considers the diversities and sociocultural peculiarities of this traditional segment constitutes a challenge, so it values the manifestations of identity and it guarantees legally corporate rights.

Keyswords: Politic of Social assistance, Rights and Aboriginal Question.

1 Economista, pós-graduando em políticas públicas e serviço social – ICSA – UFPA. 2 Assistente Social, pós-graduando em políticas públicas e serviço social – ICSA – UFPA. 3 Psicóloga, pós-graduando em políticas públicas e serviço social – ICSA – UFPA.

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INTRODUÇÃO

É inegável que a implantação do Sistema Único da Assistência Social - SUAS a partir de 2004, representou um avanço na história da política da assistência social brasileira. No entanto, ainda há um grande percurso a ser trilhado para alcançar as mais diversas demandas que necessitam dessa política, principalmente das chamadas populações tradicionais, cujas relações sociais e econômicas se distanciam da sociedade de mercado.

A assistência social ainda mantém um distanciamento desses segmentos sociais, situação que se explica pela falta de compreensão de eixos como: Alteridade, Diversidade e Diálogo Cultural, conceitos estes que procuram resignificar a compreensão das sociedades indígena sem a utilização de estigmas do senso comum.

As políticas e programas de assistência aos índios são implementadas sem levar em consideração a opinião, a diversidade sociocultural, ou as situações de vulnerabilidade e risco que caracterizam as populações tradicionais, a esse respeito para construção de uma assistência social adequada, deve-se observar a prática cultural indígena, sua complexidade e pluralidade.

Neste sentido o Sistema Único de Assistência Social- SUAS propõe:

Um tipo de integração que olha as necessidades humanas de uma forma ao mesmo tempo global e particular - uma maneira singular, radical, profissional e generosa – de atender integralmente às pessoas dentro do seu contexto familiar e comunitário, sem coletivizá-las ou fragmentá-las, sem estatizá-las ou privatizá-las, respeitando-as na sua integralidade (GUIA CRAS, 2006, pg. 5-6).

Assim, apresentaremos algumas considerações para reflexões sobre o desafio posto ao SUAS no trabalho com a população indígena, utilizando o Centro de Referência de Assistência Social-CRAS como mecanismo para viabilizar acesso a política de assistência.

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A DESASISTÊNCIA E A DESFILIAÇÃO DOS ÍNDIOS

No critério das comunidades, pertencimento comunitário, não se reporta-se geograficamente, aproxima-se do social, utilizando do principio da razão cristã, herança da caridade cristã que fazia a escolha preferencial dos pobres domiciliados no raio de sua atuação, sendo dela excluídos os que eram reconhecidos estrangeiros, que ali se encontravam em situação de mendicância, pertencentes a outras comunidades, os desfiliados.

O principio de domiciliação, assim antes denominado era que predominava na assistência social na época, que parece ainda não ter se desfeito totalmente desse princípio, mesmo com a sua elevação ao status de política pública, o que se revela nos critérios de elegibilidade de alguns serviços e programas, a exemplo do atendimento a migrante que, via de regra, tem como fim seu retorno à cidade de origem.

Assumindo a comunidade indígena como base, esta denominação de não inclusos na políticas sociais são inúmeras demonstrando uma vulnerabilidades que se arrastam até hoje, e que o Estado brasileiro, por meio de suas políticas, não consegue responder satisfatoriamente.

Com uma política em comunhão com a igreja católica, com interesse de transformá-la em mão-de-obra necessária aos empreendimentos econômicos, geopolíticos e militares da coroa, seja pela força ou captura, entendida aqui como cooptação, destituindo-a de suas terras, seus hábitos, costumes e relações sociais, a colônia portuguesa não so tratava o assunto assim, como esta era base de sua atividade com a reprodução deste sistema para atender seus interesses.

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Esse modelo com características de “integração” impostas pelos dominadores, explícita essa investidura, reforçada com a disseminação da idéia de transitoriedade da condição de índio e consequentemente, da necessidade de convertê-lo em trabalhador nacional.

Nas conseqüências de tantas atividades contra a regra social desse processo, Estado sua atividade não efetiva em seus planos com políticas publicas assertivas capazes de reduzir o impacto dos males causados aos povos indígenas, enquanto isso os indígenas passam por situação de mendicância, de alcoolismo, com suas crianças e adolescentes expostas a exploração sexual, habitando em sub-moradias nos barrancos dos rios, sem que se haja aplicabilidade do Sistema Único de Assistência Social- SUAS.

Outro fator a considerar é a concepção de família vivenciada por esses povos, concebida como um grupo extenso, que reúne todos os parentes próximos, cujas relações entre eles geram obrigações e necessidade de compartilhar os meios de sobrevivência em todas suas fases. Porém a concentração dos serviços pelos quais demandam, geralmente se encontra em municípios chamados “pólos” distantes de suas aldeias de origem. Nesse ínterim, essas aldeias ficam quase vazias, os roçados abandonados, escola, enfim, suas atividades cotidianas. Tornam-se desfiliados de suas relações sociais, e, em busca de proteção social, amargam a desproteção.

Nesse sentido para que esta população indígena desfiliada tenha acesso a uma rede de proteção social, os Centros de Referência de Assistência Social - CRAS surgem como mecanismos para viabilizar a promoção da política de assistência social, a partir de um diálogo com as comunidades indígenas e suas representações para que sejam respeitadas suas diversidades culturais e étnicas.

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OS INDÍGENAS E O SISTEMA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Na Política Nacional de Assistência Social de novembro de 2004, a apresentação do Sistema Único de Assistência Social-SUAS passa a qualificar melhor seus usuários, definindo-os a partir de situações de vulnerabilidade e riscos, tais como famílias e indivíduos com fragilidades de vínculo de pertencimento; identidades estigmatizadas em termos étnicos; exclusão no acesso às demais políticas públicas, dentre outras, traz também como um de seus eixos estruturantes a territorialização como modo dar direções as ações.

Embora o SUAS tenha a flexibilidade para a agregação de outros indicadores sociais construídos a partir das especificidades de cada território, isso é possível com uma gestão local da política de assistência social fortalecida, o que não é a realidade da maioria dos municípios brasileiros, especialmente os de pequeno porte.

A compreensão da realidade indígena brasileira no contexto atual, ainda dificulta a construção de um maior entendimento sócio-cultural do que realmente define as etnias históricas representantes. Assim, inviabiliza-se a preservação e adaptação das identidades grupais, em uma realidade histórica, na coexistência com outras sociedades, e no seu significado de pertencimento contemporâneo.

Discussões, congressos, seminários, reuniões, encontros e exposições acontecem atualmente de forma mais aprofundada e freqüente com o objetivo de contribuir para uma mudança qualitativa no tratamento da realidade indígena brasileira, enraizadas nas mudanças de pensamento e atitudes que ultrapassem as formulações teóricas.

A produção de idéias distorcidas construídas fora do loco experiencial, sinalizam a implementação de políticas e programas de assistência redundantes e irrelevantes na

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promoção da autonomia, engessando o desenvolvimento da capacidade criativa e adaptativa de ações e serviços que promovam a inclusão social desse segmento.

No Estado do Pará existem atualmente 55 etnias, cerca de aproximadamente 50.000 (cinqüenta mil) indígenas, agrupados em 7 pólos regionais (Altamira, Belém, Itaituba, Marabá/Tucuruí, Oriximiná, Redenção Santarém e Tumucumaque) segundo dados de lideranças do Fórum Indígena do Estado do Pará. Mais do que participantes de uma tabela classificatória utilizada para mapeamentos etnográficos, as tribos, principalmente aquelas isoladas, são incluídas em programas de garantias de diretos as minorias étnicas em condição de tuteladas para sua sobrevivência física e cultural. As políticas de proteção ao indígena se estendem somente a condição mítica do isolamento social, passando a inexistir e provocar transfigurações nesse segmento social à medida que as relações de dominação se reproduzem como aquelas de antigamente.

Dominique Gallois (1994), auxilia-nos na reflexão acerca de uma construção contínua do isolamento da sociedade para com os índios e dos índios para com a sociedade, involuntariamente incluindo-os em uma categoria de marginalizados quando deixam de dispor de uma política de proteção especial por estabelecerem um contato com a sociedade definida nos moldes globalizados.

O imaginário da dinâmica cultural indígena está intimamente ligado a noções de fragilidade em detrimento do desenvolvimento de sua autonomia, reforçando muito mais as dimensões políticas e econômicas do estado para com o problema, do que a abrangência referente à assimilação dos espaços territoriais e simbólicos em um comportamento autoritário, gerando reflexões na condução e nos limites da proteção.

A intenção de conservação da autonomia indigenista atualmente é considerada uma obrigação do Estado. Porém, suas ações integracionistas monopolizada por setores

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governamentais ou por instituições autorizadas não conseguem, através de seus papéis, darem conta de uma trajetória muito complexa no que se referem às representações sobre o contato. Atualmente a preservação da autonomia indígena se dá em garantir a sobrevivência territorial, física e sócio-cultural, e em medidas preventivas, se interdita a área territorial, controlam-se epidemias de malária e gripe e fazem-se campanhas de vacinação, estando em déficit com ações voltadas à autonomia sócio-cultural dos índios.

Desde 2004, no início do mandato do presidente Lula, com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), referendou-se a atuação do Núcleo de Povos e Comunidades Tradicionais e Específicas como um Núcleo de assessoramento a construção e execução, dentre outras coisas, de políticas voltadas a população indígena. Parcerias entre secretarias serão constituídas para definição de políticas mais concretas. No que se refere a Assistência Social, serão acompanhadas a construção e o desenvolvimento de ações nos primeiros CRAS indígenas, programados para funcionar de acordo com a organização sociocultural das populações.

Os CRAS definem seu atendimento na preservação dos vínculos familiares e atendimento a territorialidades, o que modifica completamente o ideário de tratamento e segmentação de grupos e as políticas realizadas anteriormente de forma assistencialista. Segundo Flávio de Castro (2008)

“Reinterpretar esses grupos segmentados, para além dos seus vínculos familiares, também em arranjos sociais culturalmente peculiares – inclusivos e excludentes ao mesmo tempo -, pretensamente comunitários, é um desafio que exige novas habilidades e novas tecnologias. Ou seja, o que se propõe é uma superação de culturas e práticas, diferente de uma simples reacomodação de valores.”

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Os profissionais do Centro de Referência de assistência Social devem buscar sempre a Intersetorialidade com outras políticas, em especial com serviços de saúde, educação, sistema de justiça, sistema de defesa de Direitos Humanos, entre outros, elaborando ainda um processo contínuo de planejamento com avaliação das ações desenvolvidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O futuro dos índios no Brasil dependerá de várias opções estratégicas, tanto do Estado brasileiro e da sociedade civil organizada quanto das diferentes etnias. Trata-se de de um trabalho em conjunto, de uma parceria. As populações indígenas devem ter seus direitos garantidos, já que foram reconhecidos no Brasil ao longo dos séculos.

Nesse sentido para que esta população indígena desfiliada tenha acesso a uma rede de proteção social, os Centros de Referência de Assistência Social - CRAS surgem como mecanismos para viabilizar a promoção da política de assistência social, a partir de um diálogo com as comunidades indígenas e suas representações para que sejam respeitadas suas diversidades culturais, especificidades locais e fortaleçam suas identidades étnicas.

Para tanto é necessária vontade política por parte do Governo Estadual e dos municípios, e acima de tudo, uma mudança radical da trajetória das políticas públicas que historicamente têm protagonizado o caminho da conversão dos povos indígenas, contribuindo para sua dilapidação social, étnica e cultural.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Guia de Orientações

Técnicas para o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Brasília, 2006.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Norma Operacional

Básica do SUAS – Sistema Único de Assistência Social/2005. Brasília, 2005.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Política Nacional de

Assistência Social – PNAS/2004. Brasília, 2004.

GALLOIS. Dominique Tilkin. In: De arredio a isolado: perspectivas de autonomia para

os povos indígenas recém-contactados, Brasília: MEC, 1994.

GRUPIONI. Luis Donisete Benzi. In: As sociedades indígenas no Brasil através de uma

exposição integrada, Brasília: MEC, 1994.

OLIVEIRA. João Pacheco; FREIRE. Carlos A. R. A Presença Indígena na Formação do

Brasil. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade;

LACED/ Museu Nacional, 2006.

Referências

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