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Árbitros : vilões e/ou mediadores do espetáculo?

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

CARLA RIGHETO

“ÁRBITROS: VILÕES E/OU MEDIADORES DO

ESPETÁCULO?”

CAMPINAS

2016

(2)

CARLA RIGHETO

“ÁRBITROS: VILÕES E/OU MEDIADORES DO

ESPETÁCULO?”

Dissertação de Mestrado apresentada à

Faculdade

de

Educação

Física

da

Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Mestra em Educação

Física, na Área de Concentração Educação

Física e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Heloísa Helena Baldy dos Reis

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA CARLA RIGHETO E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. HELOÍSA HELENA BALDY DOS REIS.

CAMPINAS

2016

(3)
(4)

COMISSÃO EXAMINADORA

PROFA. DRA. HELOÍSA HELENA BALDY DOS REIS

Orientadora

PROF. DR. VAGNER REOLON MARCELINO

PROF. DR. CARLOS JOSÉ MARTINS

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora consta no processo de

vida acadêmica do aluno.

(5)

DEDICATÓRIA

Aos amores da minha vida:

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradecer vem do latim “gratus” e significa mostrar gratidão, reconhecer um favor recebido.

E foram muitos!!! Em forma de conhecimento, palavras, abraços, torcida, tempo e silêncio.

Ajudaram-me a estudar, trabalhar, produzir, aprender, relaxar e me divertir. Alguns mais

espontâneos e efusivos. Outros contidos e tímidos. Todos muitos carinhosos, calorosos e

sinceros. Quero aqui deixar meu abraço e minha gratidão a todos os meus familiares,

professores, funcionários e amigos que me ajudaram a tornar possível esta dissertação.

(7)

AGRADECIMENTO ESPECIAL

À Heloisa Helena Baldy dos Reis

Uma amiga orientadora!

Vou voltar a estudar. Comentei com você após uma aula sobre regras de Handebol para

alunos da Graduação da FEF em 2009. Estes convites para ministrar uma aula de regras para

os alunos da graduação são anuais, uma vez que você leciona Handebol e eu sou árbitra

internacional da modalidade.

Você me respondeu: Demorou!

Não, Heloisa. Agora eu tenho um tema que me motiva a estudar e pesquisar.

Começou o meu “longo processo”, embora planejado, de fazer um mestrado na UNICAMP.

Foram três disciplinas como ouvinte, todas sugeridas por você, para que eu tivesse a certeza

de que era isto mesmo que eu queria. Afinal, eram 23 anos longe da universidade.

Nas aulas de Sociologia conheci as obras de Norbert Elias. Em um Simpósio sobre o

Hooliganismo em 2010 presenciei as palestras de Eric Dunning, tendo o privilégio de

acompanhá-lo durante sua estada em Campinas. Somente quando ingressei no Mestrado em

março de 2013 e comecei a estudar é que me dei conta da importância de Norbert Elias e Eric

Dunning para a Sociologia do Esporte.

Este período foi fundamental e enriquecedor para a minha aprovação no processo seletivo de

ingresso no Mestrado.

Enfim, tudo certo e comecei a me “divertir”. A diversão, para os que não acompanham as

nossas orientações, quer dizer: o meu desejo de entender o tema torna meu estudo um grande

prazer. Quantas novidades: Curriculum Lattes, Plataforma Brasil, Créditos, Comitê de Ética,

PED e por aí vai. Quanto conhecimento adquirido nestes cinco anos de preparação e como

mestranda.

Eu tinha certeza que manteríamos o distanciamento necessário para concluirmos este meu

projeto, este meu desejo.

Você foi e é fundamental em todo este “processo de longa duração”. Obrigada por acreditar

em mim, investir em meu objeto de estudo e corrigir-me com seriedade, firmeza, paciência,

suavidade e carinho.

Admiro sua autenticidade, honestidade e simplicidade entre muitas das suas qualidades e

virtudes. Você trata a todos igualmente: alunos, funcionários, professores e professores

(8)

doutores e isto não é nenhuma surpresa para os que têm o privilégio de conviver com você,

sua família e suas escolhas.

Também quero compartilhar algumas decepções nesta trajetória.

Eu esperava encontrar na universidade um ambiente de troca de conhecimento neste meu

retorno. Que decepção. A competição nem sempre é sustentada em um fair play e quem perde

é toda a sociedade que investe na produção de conhecimento.

Outra decepção foi conhecer pessoas que nos livros, artigos e palestras discursam pela

democratização, contra as diferenças, por um país mais justo e de acesso a todos e, no entanto,

se mostram indiferentes a tudo e a todos quando podemos conviver no dia a dia da FEF. Estas

pessoas visam benefícios próprios.

Claro que encontrei muitas pessoas interessantes, generosas, maravilhosas.

Professora e amiga, a você a minha eterna gratidão. Por acreditar, trabalhar neste projeto,

pelas confidências do dia a dia, por partilhar seu conhecimento, pela sua amizade e pela sua

orientação, na vida e neste mestrado.

(9)

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo estudar a violência contra os árbitros de futebol no

Brasil. Conhecido na sociedade brasileira como “juiz”, é o responsável por fazer com que as

regras do jogo sejam cumpridas e respeitadas por todos os participantes do jogo. Personagem

polêmico, criticado e questionado por dirigentes, comissão técnica, atletas, mídia, torcedores e

espectadores, os árbitros são hostilizados antes mesmo de entrarem em campo, as suas

interpretações e decisões são, quando no exercício da função de árbitro, na maior parte das

vezes, compreendidas como má-fé se contrariam a percepção do observador sobre a cena do

jogo. A teoria do processo civilizatório de Norbert Elias é o nosso referencial teórico.

Entrevistamos os três árbitros FIFA da Federação Paulista de Futebol. As entrevistas foram

realizadas de forma semiestruturada e com análise qualitativa as quais visaram compreender a

violência contra os árbitros e como eles sentem e interpretam esta violência. A violência

contra as mulheres árbitras de futebol que adentram um espaço construído culturalmente para

os homens e onde se busca a validação da masculinidade também se apresenta na nossa

análise. Concluímos que a violência dirigida aos árbitros de futebol está relacionada à

violência presente na sociedade brasileira. Embora os árbitros compreendam o futebol como

uma atividade mimética, eles repudiam a violência gerada pela falta de controle dos impulsos

e das emoções. A mídia também é responsável pela violência contra os árbitros de futebol no

Brasil. As mulheres árbitras somente terão conquistado o respeito na arbitragem brasileira

quando simultaneamente os árbitros ocuparem cargos de gestão no futebol brasileiro,

conseguindo assim equilíbrio nas relações de poder.

(10)

ABSTRACT

The present work aimed to study the violence against soccer referees in Brazil. Known in

Brazilian society as "judge", he is responsible for making the games rules are complied with

and respected by all participants.

Controversial character criticized and questioned by officers, technical committee, athletes,

media, fans and spectators, the referees are harassed even before they enter the field. Their

interpretations and decisions are, when in the exercise of the referee function, for the most

part, understood as bad faith contrary to the perception of the observer on the game scene.

The theory of the civilizing process of Norbert Elias is our theoretical framework. We

interviewed three FIFA referees from São Paulo Football Federation. The researches were

conducted in a semi-structured form and with qualitative analysis which aimed at

understanding the violence against referees and how they feel and interpret this violence.

The violence against women soccer referees who enter a space built culturally for men and

where the search for masculinity validation is also shown in our analysis.

We concluded that the violence directed at soccer referees is related to the same violence in

Brazilian society.

Although the referees understand soccer as a mimetic activity, they repudiate the violence

generated by the lack of impulse and emotion control.

The media is also responsible for violence against soccer referees in Brazil.

Women referees will only have earned the respect in Brazilian arbitration when

simultaneously the referees occupy management positions in Brazilian soccer thereby

achieving balance in power relations.

(11)

LISTA DE SIGLAS

ANAF

- Associação Nacional dos Árbitros de Futebol

CBF

- Confederação Brasileira de Futebol

CBHb

- Confederação Brasileira de Handebol

CBJD

- Código Brasileiro de Justiça Desportiva

CEAF/SP

- Comissão Estadual de Árbitros de Futebol de São Paulo

CND

- Confederação Nacional de Desportos

CONAF

- Comissão Nacional de Árbitros de Futebol

CONMENBOL

- Confederação Sul-Americana de Futebol

FA

- Football Association

FBI

- Federal Bureau of Investigation

FIFA

- Fédération Internationale de Football Association

FPF

- Federação Paulista de Futebol

FPFS

- Federação Paulista de Futebol de Salão

FPH

- Federação Paulista de Handebol

IFAB

- Internacional Football Association Board

IHF

- Internacional Handball Association

LCF

- Liga Campineira de Futebol

LCFS

- Liga Campineira de Futebol de Salão

RENAF

- Relação Nacional de Árbitros de Futebol

SAFESP

- Sindicato dos Árbitros de Futebol de São Paulo

STJD

- Superior Tribunal de Justiça Desportiva

(12)

Sumário

1.1

COMO

SURGIRAM

AS

REGRAS ... 25

1.2

OS

ÁRBITROS ... 38

1.3

AS

MULHERES

NA

ARBITRAGEM ... 41

1.4

A

TELEVISÃO,

A

MÍDIA

E

OS

ÁRBITROS

DE

FUTEBOL ... 45

2.1

“UM

DOS

SOCIOLÓGOS

DE

MAIOR

DESTAQUE

DO

SÉCULO

XX”... 51

2.2

ELIAS

E

A

SOCIOLOGIA ... 52

2.3

AS

RELAÇÕES

HUMANAS ... 54

2.4

“UM

PROCESSO

LONGO

E

NÃO

PLANEJADO” ... 61

2.5

A

IMPORTÂNCIA

DO

FUTEBOL ... 65

2.6

O

PROCESSO

CIVILIZATÓRIO

E

O

FUTEBOL ... 68

2.7

O

AUTOCONTROLE

E

AS

ATIVIDADES

MIMÉTICAS ... 69

3.1

A

VIOLÊNCIA ... 74

3.2

A

VIOLÊNCIA

E

AS

MULHERES

ÁRBITRAS

NO

BRASI

L

... 82

4.1

OS

ÁRBITROS

E

O

FUTEBOL ... 86

4.2

QUEM

SÃO

OS

ÁRBITROS?

E

POR

QUE

ELES

ESCOLHERAM

ESTA

PROFISSÃO? ... 87

4.3

A

PREPARAÇÃO

E

A

“PROFISSIONALIZAÇÃO” ... 91

4.4

A

“TECNOLOGIA

E

A

ARBITRAGEM ... 101

4.5

A

IMPORTÂNCIA

SOCIAL

DO

ÁRBITRO

DE

FUTEBOL ... 104

4.6

A

VIOLÊNCIA

E

AS

RELAÇÕES

DE

PODER ... 106

4.7

A

VIOLÊNCIA

SIMBÓLICA

CONTRA

AS

MULHERES

ÁRBITRAS ... 122

ROTEIRO

DA

ENTREVISTA ... 132

TERMO

DE

CONSENTIMENTO

LIVRE

E

ESCLARECIDO ... 135

TRANSCRIÇÃO

1 ... 142

TRANSCRIÇÃO

2 ... 158

TRANSCRIÇÃO

3 ... 173

INTRODUÇÃO ... 13

1. AS REGRAS, OS ÁRBITROS E AS INSTITUIÇÕES ... 25

2. A TEORIA FIGURACIONAL DE NORBERT ELIAS ... 51

3. A VIOLÊNCIA E O PROCESSO CIVILIZATÓRIO ... 74

4. COM A PALAVRA: OS ÁRBITROS ... 86

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 124

REFERÊNCIAS ... 127

(13)

INTRODUÇÃO

A Copa do mundo de futebol de 2014 no Brasil foi “o evento mais visto, rico e

caro da história dos mundiais”

1

. Sucesso de público contou com três milhões de ingressos

vendidos, estádios lotados, a vinda de 692.000 turistas estrangeiros e a movimentação de

3.056.397

pessoas pelo país. Os investimentos econômicos do governo e da iniciativa privada

ultrapassaram valores de 33 bilhões de reais, grande parte destes investimentos foi feita na

infraestrutura das cidades sedes para a construção de estádios (8,5 milhões de reais),

aeroportos, hotéis e sistema de transportes. Foram gerados 3,6 milhões de empregos

temporários e ao término do evento a FIFA (Internacional de Futebol) superou a marca de

todos os mundiais e faturou 10 bilhões Federação de reais com 100% de isenção fiscal

concedida pelo governo federal do Brasil que necessitou atender esta exigência da FIFA para

poder sediar a competição

2

.

São 152 anos de história de um esporte que nasceu das práticas de jogos com

bolas nas escolas públicas inglesas e que hoje é um fenômeno mundial. O empenho dos

alunos e ex-alunos destas instituições de ensino para que se chegasse à unificação das regras

do jogo foi coroado no dia 26 de outubro de 1863 em um pub na cidade de Londres. Estava

fundada a Football Association que se tornaria a instituição responsável por reger o futebol

local. Segundo Franco Jr. (2007, p.28):

Finalmente, a 26 de outubro de 1863 representantes de várias escolas e clubes encontraram-se na Freemason’s Tavern, no centro de Londres, para criar a Football Association e um comitê que uniformizasse as regras. A codificação foi aprovada em assembleia no dia 24 de novembro e publicada no jornal esportivo Bell’s Life de oito de dezembro. Eram catorze regras simples, que davam identidade própria ao football.

Nas primeiras regras do jogo não existiam os árbitros. As decisões de uma partida

eram de responsabilidade dos próprios capitães das equipes. Não era aceito entre os

participantes do jogo que um gentleman cometesse uma ação deliberada sobre um outro

jogador, mas o desenvolvimento e o crescimento do futebol fizeram com que as disputas

1

Reportagem de Diego Salgado e Paulo Favero, A copa que durou 7 anos. O Estado de S. Paulo, São Paulo. 13 jul 2014 Caderno de Esportes, p.11-14.

(14)

fossem mais acirradas e os árbitros adentram o campo em 1891 para que decidissem sobre as

penalidades e expulsões de jogadores.

Este é um fato histórico importante e porque não dizer curioso. A função de

árbitro de um jogo de futebol surge quando os gentleman não mais se entendem, quando

possuem opiniões divergentes e, portanto se faz necessário alguém neutro, para ambas as

equipes que possa assumir a responsabilidade das decisões.

A pesquisa que estamos realizando estuda os árbitros

3

de futebol no Brasil. O

árbitro conhecido na sociedade brasileira como “juiz”, é juntamente com sua equipe de

trabalho

4

, o responsável em fazer com que as regras do jogo sejam cumpridas e respeitadas

por todos os participantes

5

do jogo.

Personagem polêmico, criticado e questionado por

dirigentes, comissão técnica, atletas, mídia, torcedores e espectadores; as suas interpretações e

decisões são, quando no exercício da função de árbitro, na maior parte das vezes,

compreendidas como má-fé se contrariam a percepção do observador sobre a cena do jogo.

O bom árbitro é aquele que conhece as regras, identifica os momentos para

aplicá-las e também quando não é necessário apitar, sabe escolher o que é melhor para o jogo, mas

decide sempre com honestidade e estabelecendo critérios de igualdade para as duas equipes.

Não somente as regras técnicas, mas também as disciplinares devem ser respeitadas, a disputa

precisa ser realizada no chamado fair-play, ou seja, dentro de um código de ética e respeito

estabelecido pela FIFA. Uma conduta antidesportiva, seja de jogadores, comissão técnica ou

dirigente, que possa ser “administrada”, muitas vezes é a melhor escolha para aquele jogo.

Importante é que uma conduta seja “administrada” da mesma forma para a outra equipe

participante do jogo. As punições disciplinares nem sempre conduzem a partida para tensões

controladas, um árbitro experiente saberá quando aplicar a punição para evitar o aumento da

violência entre jogadores em uma partida. A violência também se faz presente entre jogadores

e equipe de arbitragem, uma das razões para que isso ocorra é quando um ou mais jogadores

discordam das marcações e punições disciplinares aplicadas pelo árbitro e perdem o controle

emocional recorrendo a agressões verbais e muitas vezes agressões físicas.

Quando experiente na função, não se faz notar durante toda a partida, é conhecido

pelos espectadores e torcedores e, por eles será xingado pelo nome. “A suposição de má-fé na

3 Com o objetivo de simplificar a redação do texto nesta pesquisa, a palavra árbitro será escrita na forma

masculina, embora se refira à função exercida por homens e/ ou mulheres.

4

Os componentes de uma equipe de arbitragem seguem as regras internacionais dos esportes.

5 Entenda-se por participantes: dirigentes, comissão técnica, jogadores e outras denominações usadas em cada

(15)

série impressionante de equívocos em campo está sempre à frente da possibilidade mais

razoável de despreparo generalizado para o exercício da profissão”

6

.

O primeiro capítulo desta dissertação nos remete a história das regras e como

surgiram os árbitros. No início a fundação da Football Association e posteriormente a

fundação da FIFA, instituições responsáveis pelo futebol na Inglaterra e no mundo

respectivamente, promoveram o desenvolvimento e o crescimento do futebol, sua

profissionalização e espetacularização e apesar de toda a importância que aqui se faz

reconhecida, não deixaremos de comentar as investigações das denúncias de corrupção na

FIFA.

A formação do árbitro de futebol, o difícil caminho das mulheres que decidem se

tornar árbitras de futebol, o uso da tecnologia e como os árbitros são tratados pelos

comentaristas e mídia esportiva também serão contemplados neste capítulo.

Para os torcedores fanáticos, o árbitro é o sujeito que “faz o seu time perder” ou

que, apesar do “juiz” atrapalhar, o seu time conseguiu vencer.

Se todos os participantes do jogo de futebol conhecem as regras do jogo, por que a

necessidade de alguém, neste caso um árbitro, atuar como mediador das decisões? Seria

possível um jogo sem árbitros?

Em vinte e

dois de Junho de 1986, na Copa do Mundo de Futebol, a Argentina

venceu a Inglaterra por 2 X 1, com a “mão de Deus”

7

de Diego Maradona. Em 2009 a França

classificou-se para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, com gol irregular, quando o

jogador francês, Thierry Henry, utilizou-se da mão para ter o domínio da bola em jogo contra

a Seleção da Irlanda. O atacante brasileiro, Luís Fabiano, na Copa do Mundo de 2010, na

África do Sul, utilizou-se do mesmo recurso irregular, duas vezes no mesmo lance, para

marcar um gol no jogo Brasil x Costa do Marfim, declarando ao final do jogo: “O primeiro

toque foi sem querer, então pode”. O segundo foi à “mão santa”. “Ele (o árbitro) me

perguntou se eu tinha tocado a bola com o braço”. Eu disse “no”

8

.

Ao relatar estes fatos, a mídia descreve estes jogadores como espertos, malandros

e maliciosos; a malandragem faz parte do futebol, segundo a mídia brasileira. Teriam os

jornalistas a mesma opinião se a decisão errônea dos árbitros fosse contra a seleção de futebol

do seu país? Provavelmente não estariam enaltecendo a esperteza e habilidade destes

6

Reportagem do jornalista Alfredo Ribeiro Bastos que mantém uma coluna de humor, Tutty Vasquez, no jornal “O Estado de S. Paulo”. O texto citado foi publicado na página 8, em 04 set.. 2012.

7O jogador argentino, Diego Maradona, disse que “se houve mão na bola, foi a mão de Deus”, frase que ficou eternizada após o torneio. Este gol desclassificou a Inglaterra da Copa (Site UOL Notícias reportagem publicada durante a Copa do Mundo de futebol 2010 realizada na África do Sul).

8 Reportagem do jornalista Robson Morelli, enviado especial do jornal “O Estado de S. Paulo” na Copa do

(16)

jogadores e sim criticando, muitas vezes de maneira impiedosa, o responsável por validar o

gol, ou seja, o árbitro.

Creio que apesar de estarmos convivendo com frequentes erros de arbitragem não

podemos depender do fair play dos jogadores. Consequentemente, o árbitro é um “mal

necessário”.

Com a esportivização, grandes investimentos foram realizados pelas equipes de

diferentes modalidades esportivas. A pressão por resultados satisfatórios e o jogo de

interesses por parte dos dirigentes coloca o árbitro não apenas como alguém que fará com que

as regras sejam cumpridas e respeitadas, mas também como um mediador de conflitos.

Os investimentos feitos na arbitragem não são proporcionais aos investimentos

feitos na preparação dos jogadores e qualificação das comissões técnicas. Na maioria das

modalidades esportivas, o próprio árbitro é quem investe em cursos de capacitação e adquire o

seu material de trabalho. A função de árbitro esportivo não é regulamentada como profissão.

Os árbitros exercem a arbitragem concomitantemente a outra profissão

9

. Isto interfere na

formação, preparação e na atuação do árbitro que precisa conciliar vida profissional e

arbitragem. Acredito ser a falta de investimentos em formação de árbitros um fator

importante, ao considerarmos grande parte dos erros que eles cometem numa partida. Em

muitas modalidades os iniciantes na função, recém-aprovados em cursos deixam de ser

orientados após concluírem os cursos de formação de árbitros e, ainda que se tornem aptos a

dirigir partidas, falta-lhes a experiência, e por isso iniciam o trabalho em jogos de crianças.

Aqui se faz necessário destacar outro problema na nossa organização esportiva.

São os árbitros que durante uma partida, utilizando-se do apito, apontam erros e acertos no

jogo, sejam de caráter técnico ou disciplinar dos jogadores. Um árbitro

recém-formado

10

estaria apto a dirigir jogos de crianças em plena formação esportiva

11

, contribuindo para que

esta criança aprenda a jogar corretamente? Particularmente, pensamos que toda a estrutura,

tanto da base teórica quanto da vivência prática, para que o jovem árbitro adquira experiências

na direção de uma partida esportiva, deveria ser proporcionada pelas entidades as quais estes

árbitros representam, sejam elas federações, confederações ou ligas.

No Brasil, poucas são as federações de futebol que investem na formação

continuada dos árbitros e acompanham o desenvolvimento do trabalho como faz a Federação

9 A regulamentação da profissão, em 10 de outubro de 2013, não trouxe mudanças significativas para os árbitros. 10 Para participar de um curso de formação de árbitro de qualquer modalidade esportiva, não é necessário ter sido

atleta ou ser graduado ou licenciado em Educação Física.

11 Os jogos de crianças, chamados de categorias de base da Federação Paulista de Futebol são dirigidos por

(17)

Paulista de Futebol (FPF). Este acompanhamento e orientação impedem que os árbitros se

acomodem, parem de estudar e treinar fisicamente. A remuneração também é um item a ser

considerado. Um árbitro recebe uma boa remuneração para dirigir uma partida quando

comparamos a média salarial da população brasileira, mas esta remuneração passa a ser

insignificante quando comparada as cifras dos salários de jogadores, e comissão técnica das

equipes profissionais, em especial de futebol.

Para o jornalista Luiz Zanin

12

, cada árbitro interpreta e aplica a lei segundo seus

próprios critérios, os árbitros adotam posturas e interpretações diferentes a cada jogo.

Embora a regra seja única para todos os jogos e categorias: profissional ou

equipes de base, as ações dos jogadores requerem uma tomada de decisão dos árbitros que

não deixa de ser interpretativa, pois está associada a muitos outros fatores relacionados à

dinâmica do jogo como: deslocamento dos jogadores, velocidade da jogada, posicionamento

do árbitro. A experiência do árbitro e a importância da partida também são fatores que devem

ser considerados uma vez que exige do árbitro um melhor desempenho no equilíbrio das

tensões dos jogadores.

Quando o desempenho da equipe de arbitragem é analisado e comentado por

jornalistas e comentaristas esportivos, acreditamos estar diante de um problema mais

relevante. Muitos destes profissionais, sem jamais terem lido um livro de regras, se colocam

no direito de questionar e criticar as decisões dos árbitros, após terem utilizado, inúmeras e

repetidas vezes, recursos tecnológicos para verem a cena e exporem suas opiniões.

Na Copa do Mundo de futebol masculino de 2010, realizada na África do Sul, a

arbitragem também foi destaque na imprensa. Estadunidenses protestaram quando o árbitro da

partida anulou um gol que impediu a vitória da Seleção dos Estados Unidos contra a Seleção

da Eslovênia. Esta havia sido a primeira participação em Copas do Mundo do árbitro de Mali,

Koman Coulibaly. Comprovado o erro do árbitro, o mesmo não apitou mais nenhum jogo,

sendo dispensado do grupo de árbitros da Copa do Mundo de futebol de 2010.

Normalmente, os árbitros que se equivocam em suas interpretações ou cometem

erros, não são mais escalados se estes erros ocorreram em um megaevento, e se ocorreram em

eventos regionais e nacionais, são afastados da função temporariamente. Existe sim, a punição

para erros técnicos de arbitragem, no entanto esta informação não é disseminada pela mídia

como são divulgados os erros da arbitragem. Na Copa do Mundo de Futebol em 2014, o

(18)

jornal “O Estado de S.Paulo” publicou reportagem do técnico holandês, Van Gaal, pedindo à

FIFA que árbitros sejam punidos pelos seus erros

13

.

O fato é que erros de arbitragem sempre existirão, assim como os erros dos

jogadores. Os erros que ocorrem na arbitragem podem ser atribuídos à formação e experiência

do árbitro, ao seu posicionamento em campo no momento da tomada de decisão, a velocidade

da jogada, a erros de interpretações, ou seja, todos da condição humana. Apesar de todo este

contexto, há uma cobrança de que o árbitro jamais pode errar.

Apresentados os temas e problemas da pesquisa, nos cabe trazer os objetivos:

- Conhecer quem são os árbitros FIFA

em atuação na Federação Paulista de

Futebol e o que os levou a escolher a arbitragem como “profissão”.

- Estudar os tipos de violências sofridas por estes, assim como o que eles sentem e

interpretam da violência sofrida.

Durante as partidas de futebol, os árbitros são hostilizados, antes do início dos

jogos, antes mesmo de entrarem em campo. Embora o futebol seja o meu objeto de estudo, a

violência contra árbitros se mostra também presente em outros esportes nos quais existe o

contato físico entre jogadores. A violência também se faz presente nas condições de trabalho,

na coação por parte dos dirigentes, nos comentários e exposições feitas pelos comentaristas

esportivos e na mídia em geral.

Sou professora de Educação Física da Rede Municipal de Ensino em

Campinas/SP. Pratiquei esportes ininterruptamente no decorrer de minha infância e

adolescência. Quando cursava a faculdade de Educação Física, em 1987, joguei handebol pela

cidade de Campinas nos Jogos Regionais, competição entre cidades do Estado de São Paulo.

O fato de haver duas árbitras atuando nos jogos me chamou a atenção

14

. Ao término da

competição e sabendo que a Federação Paulista de Handebol (FPH) abria espaço para a

inscrição de mulheres no quadro da arbitragem, participei de um curso para a formação de

árbitros em 1987 e ao término do curso iniciei meus trabalhos como árbitra de Handebol na

FPH.

A minha prioridade não era ter a arbitragem como profissão e sim exercer mais

uma atividade dentro do esporte, contando ainda com a possibilidade de remuneração.

Quando fiz a opção por deixar de ser atleta, que na época não era uma função remunerada

13 Reportagem de Ciro Campos e Fábio Hecico, no jornal “O Estado de S.Paulo”, Caderno de Esportes, pág. 9,

em 24 de junho de 2014.

14 As árbitras são Silvana Maria Silva atualmente Árbitra Internacional de Handebol e Maria Isolina Fazzani

(19)

como nos dias de hoje, dediquei-me ao trabalho na Educação, quanto ao esporte, segui apenas

com a arbitragem.

Em 1996 fui aprovada para o quadro de árbitros da Confederação Brasileira de

Handebol (CBHb) e em 1997 na Federação Internacional de Handebol (IHF). Exerço a função

de árbitra até os dias de hoje, e sempre me incomodou a violência simbólica e a violência

física sofrida por árbitros de todas as modalidades esportivas. Acredito ser o árbitro vítima de

violência e também, em algumas ocasiões, fator gerador desta violência. Para Reis (2006,

p.16)

Normalmente a violência com agressões físicas ocorre precedida de agressões de violência simbólica, e a transformação das agressões simbólicas em físicas ocorre quando o indivíduo perde o controle durante suas manifestações afetiva /simbólicas e parte para a violência manifesta - física.

Nos Jogos Olímpicos em Pequim 2008, pude acompanhar pela mídia, algumas

situações de violências contra árbitros. O cubano Angel Valodia Matos, atleta da modalidade

de Tae Kwon Do, foi banido para sempre do esporte depois de agredir o árbitro durante a

decisão da medalha de bronze. O atleta cubano, que foi campeão nos Jogos Olímpicos de

Sidney em 2000, na mesma modalidade de luta, Tae Kwon Do, chutou o rosto do árbitro ao

término da luta por discordar da não marcação de suposto golpe irregular do adversário. No

dia seguinte da luta do atleta cubano o jornal “O Estado de S. Paulo”, estampava: “Fidel apoia

agressor”.

Na matéria, o ex-presidente cubano dizia apoiar a atitude do lutador que não

conseguira se controlar ao ser injustiçado pelas marcações do árbitro e culpava a máfia que

burlava as regras do Comitê Olímpico. Na mesma reportagem, Fidel referia-se a outra

modalidade olímpica, boxe, na qual também protestava: “Foi criminoso o que fizeram com os

jovens da nossa equipe de boxe, para complementar o trabalho dos que se dedicam a roubar

atletas do Terceiro Mundo [...]. Há esportes em que a arbitragem está muito corrompida.

Nossos atletas lutam contra o adversário e o árbitro”

15

. O árbitro agredido fora o sueco Chakir

Chelbat.

Em partida realizada em 26 de Agosto de 2012, entre as equipes do Cruzeiro/MG

x Atlético Mineiro pelo Campeonato Brasileiro de Futebol, o jornalista, Gonçalo Júnior, do

jornal “O Estado de S. Paulo”, assim descreve a partida:

15 Reportagem de Paula Pereira no jornal “O Estado de S. Paulo”, São Paulo. 26 ago. 2008, Caderno de Esportes,

(20)

O empate por 2x2 teve três expulsões e lances polêmicos. Além disso, o Estádio Independência viu cenas que pareciam ter sido abolidas do futebol brasileiro: os cruzeirenses (torcida única no estádio) atiraram um celular (e também a bateria), uma buzina de gás, uma camisa e vários copos de água no gramado, de acordo com a súmula. O árbitro também relatou invasão do gramado e agressão verbal dos dirigentes cruzeirenses. O presidente alvinegro, Alexandre Kalil, fez uma relação entre as supostas falhas do árbitro e uma agressão que ele teria sofrido no intervalo. Por que o juiz quase apanhou no intervalo ele se acovardou no segundo tempo e fez a lambança que fez16.

A violência direcionada aos árbitros fez com que os pesquisadores Andrea

Praschinger, Christine Pomikal e Stefan Stieger, do Departamento de Psicologia da

Universidade de Viena na Áustria, realizassem a pesquisa: “Posso ofender um árbitro?

Ofensas e consequências”. Os pesquisadores entrevistaram árbitros e árbitras de futebol e

identificaram quais são os tipos de ofensas que estes profissionais não toleram, punindo com

o cartão vermelho, além de um relatório disciplinar. Os insultos e agressões que eles recebem

são relacionados à: inteligência, aparência, áreas genitais, orientação sexual e o poder de

decisão dos árbitros e árbitras.

Expressões como a “máfia do apito”

17

, tornaram-se mais comuns após os

escândalos que envolveram o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, no Campeonato Brasileiro

de 2005, criminalmente punido por manipulação de resultados de jogos, favorecendo terceiros

em apostas financeiras.

O que justificaria as pessoas com diferentes expectativas sobre uma partida

adotarem a mesma postura de criticar os árbitros? Por que estes profissionais sofrem

violência? Estas são algumas das perguntas que nos motivaram a realização este trabalho e

que esperamos ter conseguido responde-las com êxito.

O segundo capítulo foi dedicado a Teoria do Processo Civilizatório de Norbert

Elias, nosso referencial teórico para esta pesquisa. As mudanças de comportamento e atitudes

dos indivíduos para uma melhor convivência em sociedade, o Processo Civilizatório, as

figurações, as relações de poder, as emoções que buscamos na prática esportiva e a violência

são neste capítulo estudadas.

No primeiro capítulo do livro El Fenómeno Deportivo, Eric Dunning (2003)

escreve sobre o quanto as emoções vividas por ele e por Norbert Elias durante as partidas de

futebol da Copa do Mundo da Inglaterra em 1966, tornaram-se os primeiros estímulos para

16 Reportagem de Gonçalo Júnior no jornal “O Estado de S. Paulo”, São Paulo. 28 ago. 2012, Caderno de

Esportes, p.1.

17

Em 2005, Promotores de Justiça de Combate ao Crime Organizado, em São Paulo, descobriram esquema de manipulação de resultados futebolísticos envolvendo o árbitro Edílson Pereira de Carvalho e um grupo de investidores.

(21)

que realizassem estudos sobre a importância social e psicológica das emoções proporcionadas

pelos esportes e atividades de lazer.

Segundo Elias em Elias e Dunning (1992), as atividades de lazer provocam uma

“excitação agradável” e proporcionam a liberação das tensões do stress. As tensões são

causadas pela rotina e obrigações de uma vida em sociedade e para conviver dentro de um

padrão de civilidade, os indivíduos reprimem os seus sentimentos e emoções em público.

Quanto mais desenvolvidas são essas sociedades, maior a variedade de atividades propostas

onde esta excitação é favorecida e as tensões são liberadas. As atividades de lazer, em

especial os esportes, permitem aos indivíduos liberar tensões e viver emoções extremas sem

correr riscos, portanto uma atividade mimética. Para Elias e Dunning(1992, p.69-70):

[...] para cumprir a função de liberação das tensões derivadas das pressões, estas actividades devem conformar-se à sensibilidade existente face à violência física que é característica dos hábitos sociais das pessoas no último estágio de um processo de civilização.

Outro aspecto a ser considerado seriam as relações de poder que envolvem

jogadores e árbitro, árbitro e torcedores. Ao fanático torcedor, resta apenas torcer por um

excelente espetáculo e pela vitória de sua equipe na partida, mas a imagem da autoridade e do

poder de decisão do árbitro coloca este torcedor em uma situação de espectador impotente,

sem poder interferir nas decisões dos árbitros contra a equipe da qual é torcedor. O torcedor

acaba utilizando-se de manifestações agressivas ao tentar reclamar das decisões dos árbitros.

Relações de poder são apresentadas por Norbert Elias no livro: "Os Estabelecidos e os

Outsiders”. Seriam estes fanáticos torcedores os outsiders, aos quais é reservado apenas o

direito de assistir a partida enquanto os estabelecidos, árbitros, tem o poder de decidir? Ou

seriam os árbitros, que sofrem com estas manifestações agressivas dos torcedores, os

“outsiders”? Quem detém o poder? Árbitros ou Torcedores?

O comportamento agressivo em relação à arbitragem também ocorre em jogos de

crianças nos quais pais, fanáticos torcedores, parecem se esquecer, ou não saberem, que o

esporte é também um meio de educação e formação das crianças e adolescentes. As atitudes

agressivas em relação aos árbitros, como até mesmo contra as equipes adversárias,

proporciona um espetáculo à parte, de maus exemplos, os quais muitas vezes serão copiados

pelos filhos. Ofensas e xingamentos em eventos e competições esportivas parecem ser

“normais” desde a infância para aqueles que presenciam cenas desta natureza nos recintos

esportivos.

(22)

Segundo Reis (2006, p.16), “a situação estrutural brasileira contribui para uma

sociedade de indivíduos frustrados, descontentes, desiludidos, que podem expressar seus

sentimentos de maneira agressiva”. As crianças brasileiras não tem acesso a uma educação

básica de qualidade. O esporte e as demais manifestações culturais deveriam ser vivenciados e

aprendidos desde a primeira infância e poderíamos assim criar uma cultura esportiva.

Muitos torcedores que assistem aos jogos de Handebol nos quais trabalho

manifestam-se com palavras e gestos agressivos durante a partida, apresentando um

comportamento antagônico ao seu término. A agressão parece não ser direcionada ao cidadão

que atua em determinado jogo e sim, direcionada a figura do árbitro, independente destes

árbitros serem conhecidos ou não, terem dirigido anteriormente partidas do seu time ou não.

Entendemos que a agressão está relacionada à função que este indivíduo representa.

Em consulta a SCIELO

18

, nota-se uma escassez de pesquisas acadêmicas na área

de esportes e sociologia, no Brasil, relacionadas aos temas: árbitro esportivo, arbitragem e

violência dirigida a árbitros.

Os grandes investimentos feitos no futebol e a crescente pressão que sofrem as

equipes por resultados positivos, por parte de dirigentes e torcedores, acabam colocando em

evidência a qualidade do serviço prestado por árbitros. Os resultados das equipes nos

campeonatos e torneios realizados trazem visibilidade, prestígio, premiações milionárias e

aumentam as possibilidades de excelentes contratos de patrocínio. Os árbitros, até então os

“outsiders”, despertou o interesse de alguns pesquisadores. Em levantamento bibliográfico

encontramos pesquisas sobre aptidão física dos árbitros (área de fisiologia) e estresse vivido

por árbitros (área de psicologia). Estas pesquisas visam entender e contribuir para uma melhor

performance desse “profissional” e uma melhor qualidade na formação dos árbitros. Árbitros

melhores formados e treinados deveriam cometer menos erros, portanto terem menor

interferência nos resultados dos jogos e consequentemente melhor qualidade de serviços

prestados. Poucas foram às pesquisas na área de Sociologia. Gostaria de citar uma importante

dissertação de mestrado e artigos publicados relacionados à área de Sociologia do pesquisador

e árbitro de futebol Bruno Boschilia

19

. Com as mulheres tendo a oportunidade de atuarem

como árbitras iniciaram-se também as pesquisas de gênero na arbitragem

20

.

18

Em consulta ao Scielo, em 21 de outubro de 2012, foram encontrados sete artigos relacionados a árbitros na área de sociologia. Acesso em 21 de outubro de 2012.

19 BOSCHILIA, Bruno. Futebol e Violência em Campo: análise das interdependências entre árbitros,

regras e instituições esportivas. 2008. 192 p. Dissertação (Mestrado em Educação Física), Departamento de

Educação Física, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

20 NASCIMENTO, A.S.; NUNES,M.L.F. A mulher árbitra de futsal: entre a norma e a resistência.

(23)

No terceiro capítulo estudamos a violência seus conceitos, assim como o de

agressividade. Apresentamos também os estudos sobre a tipologia da violência de Norbert

Elias e Eric Dunning e as raízes e razões da violência na sociedade brasileira e no futebol.

O quarto capítulo foi dedicado às analises das entrevistas que foram realizadas

com os três árbitros FIFA da Federação Paulista de Futebol (FPF).

A pesquisa foi desenvolvida na abordagem qualitativa. Segundo Negrini (2010) o

interesse desta abordagem está na interpretação e análise das informações e não em

generalizar os dados obtidos.

Entrevistamos os três árbitros FIFA da Federação Paulista de Futebol, ou seja,

100% dos árbitros classificados na categoria máxima da arbitragem em futebol. A escolha por

árbitros desta categoria é porque acreditamos que estes vivenciaram todas as fases da

formação na carreira de um árbitro e hoje podem arbitrar em qualquer campeonato oficial de

futebol nacional ou internacional. Com a anuência da Federação Paulista de Futebol, uma vez

que os árbitros pertencem a esta instituição, entramos em contato com os três árbitros,

explicamos o propósito da pesquisa e enaltecemos a importância de podermos contar com a

participação dos três. As entrevistas foram realizadas nos meses de Agosto e Setembro de

2015, gravadas em áudio

21

, posteriormente transcritas na íntegra para análise. Optamos por

realizar as entrevistas em dias em que não havia rodadas de jogos de futebol, na cidade onde

reside cada um dos entrevistados favorecendo assim a coleta das informações em um

ambiente tranquilo e sugerido pelo entrevistado. Embora o tempo previsto para as entrevistas

fosse estipulado em aproximadamente duas horas, os três árbitros se mostraram atenciosos e

participativos e usufruindo da liberdade que um questionário semiestruturado possibilita

contribuíram com outras informações e dados que pretendemos incorporá-los brevemente em

novas pesquisas e/ ou artigos. As transcrições acompanham os anexos desta pesquisa

juntamente com a Carta de Anuência da Federação Paulista de Futebol e a cópia do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

Segundo Negrine (2010, p.70) as entrevistas semiestruturadas e com perguntas

“abertas”, embora apresente questões definidas pelo entrevistador “[...] permite que se

realizem explorações não previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre

o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa”.

21

(24)

Os dados coletados nas entrevistas dos três árbitros foram analisados

qualitativamente inicialmente no conjunto da entrevista de cada indivíduo, posteriormente,

procuraram-se pontos convergentes entre as entrevistas. Estas foram realizadas após os

estudos teóricos o que permitiu a extração e incorporação de falas sobre os temas pesquisados

e atendendo os objetivos desta pesquisa que são: conhecer quem são estes profissionais que

optam por trabalhar como árbitros de futebol, estudar os tipos de violências sofridas por estes,

assim como o que eles sentem e interpretam da violência sofrida.

Esperamos ao término desta pesquisa termos contribuído para um melhor

entendimento da violência sofrida pelos árbitros de futebol, colaborando assim para que sejam

criadas propostas socioeducacionais que possibilitem diminuir as manifestações agressivas

aos árbitros no Brasil. Um estudo desta natureza poderá proporcionar alternativas que

colaborem com o controle da violência sofrida pelos árbitros, nas competições esportivas no

Brasil.

Segundo Elias e Dunning (1992, p.17), “o desporto demonstra com toda clareza

que constitui um campo de considerável significado social,...” e sendo Elias nosso referencial

teórico acreditamos estar contribuindo com este estudo para os estudos de violência sofrida

pela arbitragem de futebol. Para Elias a compreensão do esporte ajuda no entendimento da

sociedade e quando os estudos de esporte não são simultaneamente estudos de sociedade são

desprovidos de contexto.

(25)

1. AS REGRAS, OS ÁRBITROS E AS INSTITUIÇÕES

1.1 COMO SURGIRAM AS REGRAS

No XIX século a Inglaterra viveu uma série de transformações sociais, políticas e

econômicas. A Revolução Industrial normatizava o trabalho e projetava o desenvolvimento

econômico, o parlamentarismo propunha um jogo político civilizado e as diferentes formas de

restrições sociais impostas à população tinham por objetivo melhorar o convívio social nos

espaços públicos.

22

A regulamentação das muitas modalidades esportivas surge na Inglaterra

nessa época, acompanhando este cenário vivido pelo país. A Inglaterra é hoje reconhecida

como a responsável pela esportivização e considerada o “berço” do futebol moderno. Segundo

Reis e Escher (2006, pág. 20):

Na fase anterior à esportivização (adoção de regras universais), os jogos eram regulamentados por tradições locais, sendo assim variáveis suas regras de um local a outro. A normatização desses jogos na Inglaterra passou por vários “estágios”, até se chegar ao que hoje é denominado de esporte.

Franco Jr. (2007) comenta que nesse período, não eram apenas as práticas

esportivas que passavam por normatizações. A necessidade de regulamentos era notada

também nas estruturas da vida político-social inglesa que desejava diminuir as tensões sociais

e prevenir assim, excessos e desorganizações por parte da população, melhorando o convívio

social. Segundo o autor, estas normatizações e restrições estavam presentes também nas

práticas esportivas. Era uma época de padronização, o Estado estabelecia a constituição, leis,

decretos e códigos; as instituições informais criavam suas regras, normas e costumes; os

esportes se institucionalizavam e iniciava-se o processo de padronização das regras esportivas

tais como: as corridas de cavalo por volta de 1750, golfe em 1751, críquete em 1788, rúgbi

em 1846, futebol em 1863 e ciclismo em 1868.

Para Elias e Dunning (1992) os esportes acompanham o que foi definido por ele,

como um processo civilizatório, processo este de longa duração vivido pela sociedade em que

22Sobre estes temas consultar: FRANCO JÚNIOR, Hilário. A dança dos deuses: Futebol, Cultura e

(26)

um conjunto de regras e restrições levavam os indivíduos a um maior autocontrole, visando

um melhor convívio entre os cidadãos.

As public schools (escolas privadas) e as universidades de Oxford e Cambridge,

instituições de ensino destinadas as classes dominantes inglesas, foram de fundamental

importância para o processo de codificação das regras do futebol moderno. As práticas de um

jogo com bola entre os estudantes

faziam parte das rotinas escolares, porém cada escola

estabelecia e jogava o futebol com regras e costumes próprios. Segundo Murray (2000, p. 21,

22):

Os rapazes da Rugby School, com seus grandes campos gramados e espaços abertos, jogavam uma forma de futebol que permitia agarrar o jogador adversário e correr com a bola na mão. Em Winchester, o campo era estreito, o drible era estimulado e não havia baliza; para marcar pontos os jogadores precisavam levar a bola para o outro lado da linha. Em Harrow, cujos os praticantes estavam entre os pioneiros do association football, os times tinham onze jogadores, e uma grande bola era chutada sobre um campo frequentemente enlameado. Em Westminster e Charterhouse, o jogo era restrito a estabelecimentos fechados, impossibilitando chutes e lançamentos longos.

Estas instituições de ensino (public schools), que inicialmente eram encarregadas

da educação de alunos pobres foram sendo transformadas, no final do século XVIII e início

do século XIX, em internatos pagos e atendiam alunos da classe média alta e classe alta. Nas

regras e costumes para se jogar futebol nas public schools, além de serem determinantes os

espaços físicos dos quais dispunham as instituições havia também uma diferença de status

entre as escolas. Enquanto a Escola de Rubgy atendia alunos das camadas sociais mais baixas,

entre a elite, a Escola de Eton tinha associações com a corte da Inglaterra. A rivalidade

presente nos jogos internos de futebol evidenciavam os problemas de disciplina e as relações

violentas que existiam entre alunos veteranos e calouros. Segundo Dunning e Curry (2006),

Thomas Arnold, diretor da Escola de Rubgy de 1828 a 1842 estabeleceu medidas

disciplinares eficazes nas relações entre os estudantes (veteranos – calouros) e entre

funcionários e estudantes. Embora não possamos afirmar, acreditamos que a normatização das

regras escolares, para um melhor convívio e maior autocontrole dos estudantes, passava

(27)

também pelos “grandes campos gramados” e contribuíram substancialmente ao

desenvolvimento do futebol

23

.

O futebol era praticado pelos alunos nessas instituições e pelos bad-boys,

ex-alunos das public schools, segundo Murray (2000), os ex-ex-alunos deram o impulso para que

ocorresse todo o processo de padronização das regras do jogo. Estes desejavam continuar

praticando os esportes favoritos da faculdade, uma vez que iniciavam na vida profissional e a

padronização das regras era fundamental para que clubes e instituições pudessem jogar entre

si.

Um dos mais prestigiados árbitros do futebol brasileiro e autor do livro “A regra é

clara”, Arnaldo Cezar Coelho, relata que em 1846, a Escola de Rugby, estabeleceu regras

próprias para a prática interna do futebol e menciona a reunião realizada em 1848, no Trinity

College, como o encontro que instituiu as “Regras de Cambridge”.

No início do séc. XIX, o futebol fazia parte da educação regular dos jovens ingleses, sendo comum que cada colégio estabelecesse suas próprias regras. Em setembro de 1846, o colégio de Rugby decide publicar a mais antiga lei para o jogo com bola: The lays of football founded on the rules of the game as played at Rugby school 24·. [...] Dois anos depois, é a vez dos estudantes de Cambridge reunirem-se no Trinity College com o intuito de criar um código para o esporte bretão, com 11 regras, no qual era proibido golpear a pelota com as mãos (COELHO, 2002, p.136).

Murray (2000) relata encontros de ex-alunos de Salop e Eton, em 1846 e converge

com Coelho (2002), no que diz respeito, a reunião realizada pelos alunos de Cambridge em

1848, reunião esta que tinha o propósito de redigir um conjunto uniforme de regras.

As primeiras regras combinadas foram delineadas em 1846 por ex-alunos de Salop e Eton; uma delas proibia chutar os adversários com botas revestidas de aço. Porém, em 1848, uma primeira tentativa séria de se criar um conjunto uniforme de regras realizou-se em Cambridge (MURRAY, 2000, p.22).

23

Ler sobre este tema em: DUNNING, Eric; CURRY, Graham (2006).

24 As leis do futebol baseadas nas regras do jogo como disputado no Colégio de Rugby.(Tradução de Arnaldo

(28)

As regras propostas pela Escola de Eton eram de um jogo quase que inteiramente

jogado com os pés. Jogar com os pés exigia um maior autocontrole e os estudantes de Eton

acreditavam que seria mais difícil a classe trabalhadora jogar com estas regras. Propondo o

uso dos pés e sustentados no status de escola fundada pela realeza, que se vangloriava de

manter associações com a corte e que recebia os alunos das classes mais altas da sociedade, as

regras propostas pelos etonianos não deixava de ser uma “provocação” aos alunos da Escola

de Rugby. Jogar futebol de uma maneira diferente, com os pés, estava associado à rivalidade

das escolas que queriam manter o status e as “competições” de classe social

25

. O fato é que as

regras precisavam ser unificadas. Segundo Dunning e Curry( 2006), os jogos de futebol entre

as escolas inglesas e os jogos dos ex-alunos eram problemáticos e isto justificou a reunião

realizada em Cambridge em 1848. Esta reunião em Cambridge também é mencionada por

Franco Jr. (2007, p.27), “Foi com este espírito que representantes de diversas escolas

reuniram-se em 1848, em Cambridge, para tentar uniformizar as regras daquele esporte”.

Os autores Franco Jr.(2007) e Murray (2000) consideram a reunião de Cambridge

em 1848, como o “pontapé inicial” para que fosse criado um código comum de regras para o

futebol.

Sendo a rivalidade das public schools tão significativa era compreensível que

ex-alunos e a imprensa tivessem papel fundamental na unificação das regras. Segundo Dunning e

Curry (2006, p.67)

Em 1863, uma verdadeira enxurrada de opiniões resolutas, defendendo vários jogos foi manifestada através de cartas enviadas ao The Times por correspondentes de escolas públicas. Entretanto, o que pode se chamar de defesa de “particularidades das escolas” era forte no período e essas correspondências parecem ter servido somente para acentuar as diferenças entre as formas rivais do football. Toda a iniciativa prática para resolver o impasse teria de vir de fora das escolas públicas ou de ex- estudantes destas escolas, que poderiam abordar a introdução de regras de football de uma maneira relativamente mais desprendida.

A imprensa também colaborou. O Daily Telegraph publicava sugestões de um

correspondente para um “Parlamento do Football” em setembro de 1863, o jornalista John

(29)

Cartwright, escrevia artigos sobre o assunto no The Field, tudo isto, fortalecido pela opinião

pública que também almejava regras claras e unificadas para o futebol

26

.

Em 1863, em uma reunião de alunos e ex-alunos de várias instituições

educacionais inglesas é fundada em Londres, a Football Association (FA), nascia assim, o

futebol moderno. Os autores Franco Jr.(2007), Reis (2006), Murray (2000) e Coelho (2002)

assim descrevem este momento histórico:

Finalmente, a 26 de outubro de 1863 representantes de várias escolas e clubes encontraram-se na Freemason’s Tavern, no centro de Londres, para criar a Football Association e um comitê que uniformizasse as regras. A codificação foi aprovada em assembleia no dia 24 de novembro e publicada no jornal esportivo Bell’s Life de oito de dezembro. Eram catorze regras simples, que davam identidade própria ao football (FRANCO JR., 2007, p.28).

A transformação de um jogo de bola com os pés em esporte deu-se a partir de 1863, quando foi criada a Football Association, na Inglaterra, instituição que codificou o futebol, criando suas regras universais (REIS, 2006, p.5).

Esse regulamento fornece a base das regras do futebol, que foram debatidas em um evento histórico com ex-alunos de diversos internatos particulares, realizado na Freemason’s, uma taverna londrina, em 26 de outubro de 1863, e em cinco encontros subsequentes (MURRAY, 2000, p.22).

Em 1863, alunos e ex-universitários de Cambridge, sob a liderança do jornalista John Cartwright, iniciam uma campanha para a padronização das regras. Depois de muita discussão, finalmente representantes de várias escolas reúnem-se na Freemason’s Tavern, em Londres, em 26 de outubro, para criar a The Football Association (FA), que até hoje é a responsável pelo futebol inglês. Na mesma reunião formou-se um comitê incumbido de redigir as novas regras. Em 24 de novembro, uma assembleia aprovou o texto e no dia 8 de dezembro a FA publicou-o na grande imprensa (COELHO, 2002,137).

O primeiro código de regras, segundo Coelho (2002) e Franco Jr. (2007), foi

aprovado na assembleia de 24 de novembro de 1863. No grupo de alunos e ex-alunos

representantes das várias public schools houve divergências. Os representantes da Escola de

Rugby discordavam das regras que proibiam o uso das mãos

27

e representantes da Escola de

26 DUNNING, Eric; CURRY, Graham (2006). 27 Sobre este tema consultar Boschilia ( 2008).

(30)

Blackheath, defendendo a virilidade do jogo, não aceitavam regras que punissem as ações

violentas como os “chutes na canela”

28

por parte dos jogadores. Discordando das decisões e

dos resultados das votações nas assembleias, os representantes destas duas instituições

(Rugby School e Blackheath) se retiraram das reuniões da Football Association. Em 08 de

dezembro de 1863, com a aprovação de representantes de onze instituições foram publicadas

as 14 (quatorze) regras do futebol no jornal esportivo londrino Bell’s Life.

O nosso interesse ao descrever, apoiados pelos autores, à institucionalização do

futebol moderno, além de todo o fato histórico, é mostrar que a normatização das regras, fez

parte de um processo. A esportivização do futebol comprova o que Norbert Elias definia

como processo de longa duração presente nas sociedades. Segundo Elias e Dunning (1992,

p.17), “o desporto demonstra com toda clareza que constitui um campo de considerável

significado social...”, estudos de esportes não podem ser dissociados dos estudos da

sociedade. Para este, o esporte ajuda no entendimento da sociedade e quando os estudos de

esporte não são simultaneamente estudos de sociedade são desprovidos de contexto. Todo o

processo de normatização e institucionalização vivido pelo futebol está relacionado ao

período histórico da Inglaterra.

No site da FIFA, instituição responsável pelo futebol em todo o mundo, é possível

encontrar textos sobre a história do futebol. As informações corroboram com os fatos

apresentados pelos autores supracitados e destaca a presença de onze representantes de

escolas e clubes londrinos na Freemason’s Tavern, destaque este que nos leva a pensar que a

constituição de uma equipe de futebol com onze jogadores em campo seja uma homenagem

aos participantes deste encontro.

A criação da Football Association permitiu que as regras fossem padronizadas, o

jogo aprimorado, possibilitando o desenvolvimento do futebol. Havia a preocupação de que as

regras fossem aceitas por todos os representantes, pois assim seriam respeitadas e praticadas

nos jogos entre eles.

As regras nos ensinam os limites do jogo, quais são os elementos necessários para

jogar (espaço, tempo, sujeitos e materiais) e como proceder em relação aos objetivos (bola,

gol/ alvo) e ao adversário. Estabelecem condutas comportamentais e como se deve punir um

jogador infrator. Para Elias e Dunning (1992) as práticas físicas e as competições esportivas

(31)

são confrontos de tensão entre indivíduos e equipes, sendo assim as regras deveriam manter a

disciplina dos praticantes e o jogo sob controle.

Para participar de um jogo de qualquer modalidade esportiva o jogador precisa

respeitar as regras do jogo As regras e normas que regem um esporte são determinadas pelas

federações internacionais de cada modalidade esportiva. Segundo Lagardera Otero e Lavega

Burgués (2008, pág. 48):

É importante destacar que, independente de quem sejam os jogadores intervenientes em cada partida de futebol, esse jogo ostenta características e peculiaridades que o diferenciam nitidamente de outras modalidades, em que os participantes devem adaptar-se inevitavelmente. Essas condições exigidas pelo jogo estão estabelecidas em seu regulamento. Daí que participar do jogo de futebol, ou qualquer outro, requer submeter-se à coação de suas regras.

As regras do jogo foram sendo modificadas para acompanhar o desenvolvimento

do futebol, não mais restrito a alunos e ex-alunos das escolas públicas inglesas. Nas primeiras

regras não existia a presença de nenhum árbitro ou mediador. As decisões eram tomadas pelos

próprios capitães das equipes. Para Franco Jr. (2007), muitas das regras do futebol são

fundamentadas em eventos significativos para o povo inglês. A regra do offside, impedimento

ou “fora de jogo” introduzida em 1867, estaria relacionada a um “fair play”

29

presente no

espírito britânico, segundo os historiadores italianos Antonio Papa e Guido Panico

30

, “ Fica

‘fora de jogo’ quem adota comportamento furtivo. Quem se esconde nas costas do adversário

para fazer o gol”.

A regra do offside exigiu a necessidade de alguém presente no jogo, em local

privilegiado, a quem os capitães das equipes pudessem se reportar em caso de dúvidas. Surge

assim a figura do árbitro de futebol em 1868. Segundo Franco Jr.(2007, p.31):

Anteriormente as decisões eram consensuais entre os jogadores ou tomadas entre os capitães dos times, mas com o impedimento --- a regra mais inteligente do futebol, por isso mesmo a mais difícil de ser aplicada --- foi preciso alguém que de fora do

29

“Fair play” refere-se a uma disputa ética e honesta. Jogar segundo as regras e respeitando companheiros, árbitros, adversários e torcedores. O programa fair play da FIFA “propõe um jogo limpo e esportividade de todos os participantes e mantém atividades anuais relacionadas ao tema desde 1997”. A FIFA também possui uma Comissão de esportividade e responsabilidade social que se ocupa de assuntos relacionados ao futebol e supervisiona a conduta das pessoas relacionadas ao futebol.

Referências

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