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Modificações corporais e psiquicas da adolescência frente à chegada da puberdade e sexualidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADE E EDUCAÇÃO

EVELINE RÜCKER

MODIFICAÇÕES CORPORAIS E PSIQUICAS DA

ADOLESCÊNCIA FRENTE À CHEGADA DA PUBERDADE E

SEXUALIDADE

Ijuí 2015

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EVELINE RÜCKER

MODIFICAÇÕES CORPORAIS E PSIQUICAS DA

ADOLESCÊNCIA FRENTE À CHEGADA DA PUBERDADE E

SEXUALIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia, apresentado como requisito para obtenção do título de Psicóloga.

Orientador(a): Lala Catarina Lenzi Nodari

Ijuí 2015

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2015

EVELINE RÜCKER

MODIFICAÇÕES CORPORAIS E PSIQUICAS DA

ADOLESCÊNCIA FRENTE À CHEGADA DA PUBERDADE E

SEXUALIDADE

BANCA EXAMINADORA

Prof ª Lala Catarina Lenzi Nodari (UNIJUÍ)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus, por ter iluminado meus caminhos quando achei que não conseguiria mais seguir em frente.

Agradeço ao meu pai, por ter sonhado junto comigo, não medindo esforços para me ajudar, por ter compreendido que os sonhos mudam e que nada que passou estará perdido, mas sim contribuirá para que eu ultrapasse mais alguns obstáculos em busca de um novo sonho.

Agradeço minha mãe, que mesmo distante se manteve tão presente, conseguindo me fazer sentir todo carinho e apoio que precisei nos momentos difíceis.

Agradeço ao meu amor Jerônimo, por ter resistido pacientemente as minhas crises, por ter sido meu companheiro e maior incentivador.

Agradeço aos meus amigos e familiares por compreenderem minhas inúmeras ausências, por não se chatearem quando estava presente, mas só de corpo. Por me encorajar e alegrar meus dias cinzas.

Agradeço a minha orientadora Prof ª Lala por toda paciência, suporte, atenção e pelas suas correções.

E agradeço principalmente ao meu irmão Evandro, que mesmo sem saber, foi quem de fato me deu forças e coragem para seguir todos os dias, em busca dessa conquista.

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“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar.”

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RESUMO

O presente trabalho aborda as diferentes produções que se apresentam nessa fase conflituosa que conhecemos por adolescência. Faremos um recorte histórico do percurso da adolescência, compreendendo as transformações pelas quais foram passando ao longo dos tempos até atualmente. Em seguida, pensar todas as modificações que ocorrem em relação ao corpo e ao psiquismo do adolescente com a chegada da puberdade e a sexualidade e sobre o processo de elaboração psíquica que se dá com a transição da posição infantil para a de adulto.

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ABSTRACT

This paper discusses the different productions that are present in this conflict phase we know as adolescence. We will show a historical portrait of adolescence route, comprising the transformations that were going over the time until now. Then think of all the changes that occur to the body and the adolescent psyche with the arrival of puberty and sexuality. In addition to research on the psychic elaboration process that takes place with the transition from child to adult position.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1UMA ANALISE DA ADOLESCÊNCIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS ... 11

2O QUE É ADOLESCÊNCIA? ... 19

2.1Modificações corporais ... 20

2.2O que os adultos esperam dos adolescentes? ... 23

2.3O final da adolescência ... 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 28

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INTRODUÇÃO

O termo adolescência é bastante moderno e pouco estudado. Encontramos os mais diversos conceitos, que vão desde características, até seu contexto social. É comum escutar pelo senso comum que se trata de uma fase na qual acontecem as crises existenciais, que os tornam “problemáticos” agindo com impulsividade. São muitas vezes vistos como rebeldes sem causa, como se estar nesse “meio termo” de não ser criança e nem adulto, fosse fácil.

Varias questões estão entrelaçadas com a fase problemática que os adolescentes se encontram. Cresceram se tornaram mais capazes de decidir algumas coisas sozinhos, com isso, não precisam mais da proteção dos pais, e não a tem. Porém, a capacidade que lhes é atribuída ainda não permite ir muito longe, ainda lhes falta conhecimento e experiência, por isso, é preciso que esperem mais um pouco.

Sem apoio para seguir em frente, surgem medos e inseguranças que forçam o jovem a ir em busca de outras formas para se mostrar capaz. Não atingindo suas expectativas, o jovem acaba por desistir, e passa a procurar métodos diferentes dos tradicionais, para se divertir, para tentar se sentir aceito pelos outros, ou ainda, para chamar atenção.

A adolescência se caracteriza como um momento de decisões importantes. O sujeito precisa tomar decisões quanto a sua sexualidade, entre elas, como se comportar diante do sexo oposto. A nova fase é acompanhada de problemas e crises, além da pressão familiar e o medo de decepciona-los, tem os amigos, a sociedade, e também a escola com suas exigências frente a qual profissão seguir, e suas próprias pressões, como o que fazer e qual caminho seguir.

Meu interesse em pesquisar sobre o assunto vem me acompanhando desde quando realizei o estágio educacional e trabalhei com um grande grupo de adolescentes, que passavam por todas essas modificações e crises, trabalhei com eles a questão da imagem corporal e com isso pude perceber as questões que trazem com relação à imagem, o quanto são confusos frente a quem são, a quem querem ser e o que os outros esperam que sejam, e também o quanto a sexualidade está presente em cada fala, gesto e também nos desenhos e textos apresentados.

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A metodologia utilizada para aprofundar o assunto, será principalmente de abordagem teórica. Pois, através da mesma, poderemos compreender, analisar e questionar os aspectos objetivos e subjetivos que englobam a adolescência e essa transição do infantil para ocupar o lugar de adulto, a entrada na puberdade e a posição que se colocam frente à própria sexualidade. Para complementar o estudo e pesquisa do tema, utilizei de embasamento bibliográfico em livros e artigos, assim como sites da internet. A bibliografia utilizada na pesquisa encontra-se descrita abaixo nas referências bibliográficas.

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1. UMA ANALISE DA ADOLESCÊNCIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS

O objetivo inicial deste capítulo será conceituar a adolescência a partir das perspectivas culturais e sociais. Em seguida, será feito um recorte histórico do percurso da adolescência, compreendendo as transformações pelas quais foram passando ao longo dos tempos até atualmente. Com isso, se poderá compreender, a partir de sua historicidade, as formas e relações que estabelecia entre seus iguais, sociedade e com o tempo, tornando concreto o conceito do que é ser um adolescente. Para finalizar o capítulo, abordaremos de que forma se configura a adolescência atualmente na sociedade.

De acordo com o ministério da saúde do Brasil e a OMS, Organização Mundial da Saúde, a adolescência se trata de pessoa com 13 a 18 anos de idade. Este conceito também é utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Já para o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - é considerado adolescente aquela pessoa entre doze e dezoito anos de idade.

O termo "adolescência" vem do latim adolescere, que significa crescer até a maturidade. De maneira geral, a adolescência é uma fase transicional. Recém saída da infância, a pessoa coloca-se em preparação para o mundo adulto, na qual ocorrem diversas transformações corporais da puberdade e também mudanças de comportamento: como as escolhas profissionais e as tentativas de inserção na sociedade adulta.

Após ser inserida em um contexto social e em um determinado tempo, é que a adolescência poderá começar a ser caracterizada, pois possuímos uma miscigenação cultural enorme e diversas épocas em que o pensamento sobre os jovens não era em nada parecido com o que vemos hoje.

Ariès defendeu duas, que seriam suas principais teses: a primeira, em que a sociedade tradicional da Idade Média não percebia a criança como diferente do adulto. A segunda, mostra a transformação que a criança e a família enfrentaram, passando a ocupar um lugar que não existia antes: o de trocas afetuosas entre os pais e destes com os filhos. A criança passa então, de um lugar sem importância a ser o centro da família e

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somente após essa transformação, no século XIX, é que se tornou possível o afloramento da adolescência como uma fase única com características que diferem dos outros momentos do desenvolvimento humano.

Podemos pensar que tanto a adolescência, quanto a infância, são fases que sempre existiram, mas que para serem vistas como tais precisou-se que o mundo inteiro passasse por transformações, só então depois disso, elas poderiam se constituir histórica e culturalmente em cada sociedade. Logo, não seria possível que apenas uma definição de adolescência coubesse para toda gama cultural e social existente em todos os momentos históricos. Dessa maneira, necessitamos de uma compreensão a partir de sua historicidade.

O termo adolescência é bastante moderno e pouco estudado. Buscando explicações sobre o assunto, encontramos os mais diversos conceitos, que variam tanto pelas suas características, quanto pelo seu contexto social. De modo geral, o conceito de adolescência mais utilizado pelo senso comum é: fase na qual acontecem as crises existenciais, que os tornam “problemáticos” agindo com impulsividade. São comumente taxados de “aborrescentes”.

No Império Romano, a partir do século II A.C., a adolescência ainda não era reconhecida. Dava-se um salto da infância para o mundo adulto e não existia “maioridade” legal: o indivíduo era considerado impúbere até que o pai ou o tutor considerasse que estava na idade de tomar as vestes de homem e cortar o primeiro bigode (Ferreira, Farias e Silvares. P. 228).

Segundo Matheus (apud FRASCCETTI e MATHEUS, 2007), foi encontrado em textos da cultura romana dos primeiros séculos, dois termos para definir grupos etários e ciclos biológicos reais da vida humana, um deles, a adulescentia, que se prolongava até os 28-30 anos e a iuventus, que poderia chegar até os 50 anos. A participação na vida comunitária só era permitida para os iuventus e para se tornar um era necessário passar por um ritual de iniciação (2007, pág. 18).

Na Idade Grega, as crianças eram observadas desde cedo e caso tivessem boa saúde, a partir dos sete anos de idade sua educação já ficava sob responsabilidade do Estado. A educação era voltada para o regime militar e as crianças acompanhadas até

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atingirem os 16 anos, idade que marca o inicio da adolescência, quando eram inscritas nos registros públicos de suas cidades.

Segundo Ferreira, Farias e Silvares, a ginástica era exercida para o desenvolvimento físico e moral das crianças e jovens. As moças faziam exercícios esportivos a fim de adquirir saúde e vigor para seu futuro de mães de família. Casavam-se aos 15 ou 16 anos. Via-Casavam-se a faCasavam-se da puberdade como um período de preparação para os afazeres da vida adulta: no caso do sexo masculino, a guerra ou a política; no caso do sexo feminino, a maternidade. Era possível que alguns jovens se dedicassem à filosofia, geralmente aqueles de famílias mais abastadas que não necessitavam da sua força de trabalho. (Ferreira, Farias e Silvares. p. 228).

Ainda na Grécia antiga, de acordo com Matheus, o termo utilizado para descrever o adolescente seria “efebo”, que significa que o jovem está em formação (MATHEUS 2007. p. 20). A posição social dependia de como eles se portavam frente às relações amorosas que iam além da dimensão erótica. Praticada por motivos financeiros (ULLMANN 2007. Pág. 41), se iniciavam as relações homossexuais. Assim, os erómenos, “jovens amados”, na posição passiva, prestavam favores aos erastés, nome atribuído ao “amante”, que ocupavam a posição ativa, a fim de alcançar o status social que almejava, “e para futuramente deixar o lugar de objeto passivo para ocupar o de sujeito ativo”. (MATHEUS 2007. Pág. 21)

Citando textos da Idade Média de varias autorias, Ariés explica que após a infância, vem à segunda idade, chamada puertia, fase que duraria até os 14 anos. Após teríamos a terceira fase que duraria até 28 anos podendo se estender até 30 ou 35 anos, chamada de adolescência. E então, agora é que se vivenciaria a juventude, que duraria até 45 ou 50 anos. A seguir a senectude que estaria entre a juventude e a velhice. Finalmente então a velhice, que duraria até 70 anos ou até a morte. (ARIÉS, 1981. Pág. 35).

No final da Idade Média e início da Idade Moderna, existia uma ambiguidade em torno dos jovens que eram transgressores, mas ao mesmo tempo preocupavam-se e responsabilizavam-se pelo controle da moral e da ordem da vida cotidiana. Como exemplo desta ambiguidade, temos as ações transgressoras cometidas contra representantes da Igreja, que ocorria quando os jovens não encontravam respaldo para sua politica em meio aos membros da comunidade (MATHEUS, 2007. Pág. 24).

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Com o crescimento populacional e consequentemente das cidades, no século XVIII, os grupos sociais começaram a perder a força. Com o deslocamento populacional era difícil manter a constância desses grupos. Além disso, a postura que a juventude vinha mostrando, passou a ser considerada inadequada para os novos padrões de sociedade que estavam surgindo.

Matheus (2007) destaca que para Rosseau (séc. XVIII), a adolescência é um momento de crise, que “embora muito curto, tem muitas influencias,” (Pág. 26) acrescenta que o crescimento físico e moral não dependem somente da natureza, mas também da educação, assim sendo possível atrasa-lo ou antecipa-lo.

No século XIX, a sociedade se tornou uma vasta população anônima. As pessoas já não se conheciam (Ferreira, Farias e Silvares, p. 230). De acordo com Matheus, as sociedades europeias, ao se defrontarem com a Igreja católica, causaram o nascimento dos Estados Modernos que também são responsáveis pelo surgimento de varias guerras no velho continente. Os exércitos antes dependendo apenas de voluntariado, da metade do século XIX e inicio do século XX, passam a convocar os jovens. O serviço militar era uma nova experiência e divisão entre as etapas da vida, um compromisso social de adulto, que cada jovem deveria assumir, principalmente aqueles que até então não possuíam empregos.

De acordo com Ariès (1981), com o processo de distinguir as etapas da vida, e diferenciar a infância do mundo adulto, tonou-se possível perceber que entre estas duas fases, existe mais uma etapa a ser desvendada, sendo ela a adolescência que, de acordo com Matheus (2007), passou a ser localizada entre o universo privado e o publico e que a partir do século XIX passa a ser mais claramente caracterizada e segmentada.

Ao longo do século XIX, a adolescência passa a ser vista como um “momento crítico” da existência humana, sendo temida como uma fase de riscos em potencial para o próprio indivíduo e para a sociedade como um todo (Ferreira, Farias e Silvares, 2010).

Na psicanalise o termo adolescência só foi aparecer mais tarde, Freud cita mais seguidamente a puberdade. Em Três Ensaios sobre a sexualidade, de 1905, Freud nos permite conhecer, entre outras coisas, o desenvolvimento e manifestações da sexualidade infantil e as fases da organização genital infantil. Da adolescência fala

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muito pouco; apenas a ultimo capitulo de sua obra foi destinado para tratar sobre o assunto.

Baseadas no desenvolvimento psicossexual, Freud dividiu a vida humana em fases, considerando que não possuem um fim pré-determinado, todas as ações provocadas em cada uma delas continuam atuando durante toda a vida da pessoa.

Na fase oral, do nascimento até aproximadamente um ano de idade, onde a zona erógena é a boca, que é quando a busca pelo seio da mãe não será apenas para saciar a fome, mas em busca de uma satisfação. Na fase anal, do primeiro ano até aproximadamente o terceiro ano de idade, onde a zona erógena é o anus. Na fase fálica, dos três anos até aproximadamente os cinco anos de idade, onde a zona erógena é a genitália, é a esta fase que o complexo de Édipo esta ligado. Em seguida vem o período de latência, com inicio, aproximadamente aos cinco anos até a chegada da puberdade, sem uma idade concreta para seu fim, é nesse momento que, normalmente as aquisições da sexualidade infantil se lançam no recalcamento.

O período de latência é um período de organização das vivencias sexuais e a criança ainda precisa da presença do outro para organizar-se. Por fim, a fase genital, chamada por Freud de puberdade e também conhecida como adolescência, fase acompanhada pelas mudanças corporais e um retorno da energia libidinal a genitália.

“Com a chegada da puberdade introduzem-se as mudanças que levam a vida sexual infantil a sua configuração normal definitiva. Até esse momento, a pulsão sexual era predominantemente auto-erótica; agora, encontra o objeto sexual. Até ali, ela atuava partindo de pulsões e zonas erógenas distintas que, independendo umas das outras, buscavam um certo tipo de prazer como alvo sexual exclusivo. Agora, porém, surge um novo alvo sexual para cuja consecução todas as pulsões parciais se conjugam, enquanto as zonas erógenas subordinam-se ao primado da zona genital. (...). A normalidade da vida sexual só é assegurada pela exata convergência das duas correntes dirigidas ao objeto sexual e à meta sexual: a de ternura e a sensual. A primeira destas comporta em si o que resta da primitiva eflorescência infantil da sexualidade. É como a travessia de um túnel perfurado desde ambas as extremidades”. (FREUD, 1905/1969). A teoria psicanalítica considera que o eixo desencadeante da crise adolescente é o despertar da sexualidade no nível da maturidade genital, na qual o indivíduo torna-se

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capaz biologicamente de exercer a sua genitalidade para a procriação (TOMIO & FACCI, 2009). Torna-se uma crise pelo fato de ainda estar em ligação com o infantil, mas seu corpo sofre transformações e a sociedade passa a lhe cobrar nova postura.

De acordo com Matheus (2007), a ideia de adolescência que se forma durante o século XIX, é fruto do processo de subjetivação e constituição do individuo, que passa a ser pilar de sustentação do Estado Moderno. A adolescência, como “momento critico”, é também descrita por Matheus (2007) como um “potencial enunciativo”, pois se espera um futuro para este individuo que nesta fase se encontra. Logo, não foi à toa que a adolescência foi considerada como o futuro da humanidade, assim como sua ruina. Aqui novamente uma ambivalência, que a faz se tornar objeto de estudo por Stanley Hall, inaugurando o tema adolescência no campo da psicologia.

Hall (1925) descreveu esse período como uma época de emotividade e estresse aumentados. Legitimou a adolescência como uma fase que requer estudo e atenção. Inicia, assim, o estudo científico da adolescência, que para ele, era basicamente biológica, e também entendida como zona de turbulência e contestação, constituindo-se em uma linha de fraturas e erupções vulcânicas no seio das famílias (Ferreira, Farias e Silvares, 2010).

A adolescência também é citada por Hall, como um momento em que:

a hereditariedade frequentemente se mostra insuficiente para capacitar a criança a alcançar com sucesso [achieve] esta grande revolução e chegar à completa maturidade, de modo que cada passo adiante é coberto [strewn] com fragmentos [wreckage] corporais, mentais e morais. (MATHEUS, 2007, P. 34 apud HALL, Adolescence, p. xiv).

É interessante observar o quanto hoje em dia existe uma expectativa em torno da adolescência, como se com a passagem dela o jovem adquirisse a maturidade tão esperada pela sociedade, mas esse amadurecimento não pode ser uma característica que irá defini-la estruturalmente. Principalmente após o século XX, tem se estudado cada vez mais a adolescência em busca de uma caracterização, algo que possa defini-la estruturalmente.

Em busca do tão sonhado e esperado amadurecimento, e também certo prestígio social, os adolescentes começaram a ir em busca de seus primeiros empregos, o que

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acarretou em um novo problema, pois em busca de um trabalho, o adolescente passa a perceber que as instruções que obteve do sistema escolar, nem sempre são adequadas ao que ele procura, ou ao que ele necessita ou ainda, não é o que o empregador procura. Além disso, no final do século XX, fomos afetados pelos desempregos que eram crescentes e atingiam países desenvolvidos ou não, causando maior insegurança para essa passagem.

Tal problema acabou atrasando a saída dos jovens da casa de seus pais, o que por consequência também atrasou o seu atravessamento pela adolescência, postergando mais um pouco sua entrada no mundo dos adultos.

Segundo Matheus (2007), muitos autores utilizaram esses fatores de aproximação das duas faixas etárias, como validos para aumentar a adolescência como etapa da vida, desencadeando assim, um alargamento da adolescência.

Alguns autores, como Calligaris, falam desse momento como período de moratória, quando o adolescente procura por prestígio social e vai em busca de trabalho ou se lança em uma relação amorosa, mas sempre é pedido que espere mais um tempo, o que o impede de fazer sua passagem para a vida adulta. Com isso aparecem os sentimentos de raiva, pois se sentem traídos e desprezados, se tornando assim rebeldes.

Hoje em dia, existe um ideal de independência que é atribuído ao adolescente, ele só será acolhido e respeitado como adulto, quando alcançar autossuficiência e responsabilidades, logo, essa moratória se torna um problema, pois tanto tempo de espera para alcançar a independência o torna inseguro e imaturo, o que acabado tornando essa passagem um período sem previsão para seu fim.

O final da adolescência se tornou um enigma, principalmente atualmente. Já não podemos mais associá-la a uma faixa etária, nem caracterizá-la como período de irresponsabilidades ou de dependência, pois como já vimos à adolescência não vem apensa sendo precipitada, mas também o tempo de passagem por ela tem aumentado cada vez mais.

Para Melman (2009), não basta caracterizar a adolescência como faixa etária, pois sabemos da existência de adultos que permaneceram adolescentes, assim como existem adolescentes que se comportam perfeitamente como adultos.

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Com isso podemos constatar que tivemos muitas mudanças na história da adolescência, desde quando ainda não era percebida como etapa da vida, até o momento em que começou a ser estudada, e hoje, nessa nova realidade que vem se instalando.

O adolescente possui representações simbólicas que são vindas da infância, mas que a partir desse momento, serão substituídas por novas representações, deixando os laços familiares para traz e indo em busca de novos laços, agora sociais. Diante dessa fase conflituosa que conhecemos por adolescência, como ocorre o processo de reelaboração das noções acerca de sua própria identidade e a (re)estruturação da imagem frente ao olhar do outro? Que outras questões podem surgir com essa fase?

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2. O QUE É ADOLESCÊNCIA?

A adolescência é encarada por muitos como uma fase problemática, porém ela é também de essencial importância para a estruturação do sujeito. Calligaris, na obra “Adolescência”, nos traz um exemplo de um avião que cai em meio à mata onde os sobreviventes são resgatados e abrigados por uma tribo indígena onde passam a conviver com o povo que lhes acolheu.

“Imagine que, por algum acidente, você seja transportado, de uma hora para outra, a uma sociedade totalmente diferente. Digamos que o avião no qual você estava sobrevoando um canto recôndito da Amazônia teve uma dificuldade técnica. O piloto conseguiu aterrissar, mas o aparelho está destruído. Não há como esperar socorro, nem como sair do fundo selvagem da floresta. Por sorte, uma tribo de índios que nunca encontraram homens modernos, mas que relativamente bem-humorados, adota você e seus amigos. Será necessário, imaginemos, doze anos para que vocês se entrosem com os usos e costumes de sua nova tribo – desde a linguagem ate o entendimento dos valores da sociedade em que aparentemente vocês viverão o resto de seus dias”. (pág. 12)

Passam-se muitos anos, e o sujeito resgatado se considera pronto para ajudar a tribo, mas acaba por ser impedido, e tem que esperar mais alguns anos para poder efetuar o que havia pretendido. É assim também na adolescência, o adolescente leva muitos anos para aprender e até seu corpo estar pronto, e então quando ele acha que esse momento chega é impedido pela sociedade de agir como um adulto. A adolescência é um período de ambivalência, no qual o sujeito se encontra entre a minoridade e a maioridade, irresponsabilidade e responsabilidade, não é mais considerado como criança, mas também não é totalmente adulto.

Eles cresceram se tornaram por um lado, mais capazes de tomar algumas decisões e responsabilidades sozinhos, portanto não precisam mais de toda aquela proteção dos pais, e realmente não a recebem. Por outro lado, ainda não são capazes de ir muito longe, na verdade, capacidade física, tem de sobra, mas para alcançar grandes feitos é preciso mais que força e vontade, é preciso conhecimento e experiência, por isso, lhes é indicado pelos pais, que esperam mais uns anos.

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Esse é um quadro normal na vida dos adolescentes, assim, sem apoio para seguir em frente, a insegurança cresce e o jovem vai atrás de outras artimanhas para mostrar ser capaz. Não conseguindo, pode achar que mais tentativas serão em vão, então acaba por procurar métodos diferentes dos tradicionais, apenas para se divertir, ou para tentar se sentir aceito pelos outros, ou ainda, para chamar atenção. Por vezes será visto como rebelde, sem causa, o que é pior ainda, como se estar nesse “meio termo” de não ser criança e nem adulto, fosse fácil e sem necessidades de rebeldia alguma.

2.1 Modificações corporais

A adolescência é descrita, por muitos autores, como um tempo de passagem e de um não lugar. O sujeito precisa aprender a lidar com as desordens da infância, ao mesmo tempo, lhe é exigido responsabilidades como se fosse adulto, mas a sociedade não o aceita como adulto e também já não o mima como criança. Assim o adolescente passa por um intenso trabalho psíquico de adaptação e período de espera, que não tem data marcada para seu fim assim como não teve para seu inicio, a fim de conduzir da melhor forma possível essa (re)estruturação que envolve sua própria identidade.

Segundo Rossi (2001), adolescer é um processo, porque não ocorre a substituição da estrutura velha por uma nova e sim uma transformação em algo novo a nível psíquico (p. 170), ou seja, uma mudança de posição, de criança para adulto. Todas estas questões produzem no adolescente uma crise de identidade, característico desta nova posição que ele é convocado a assumir.

Todas as modificações que ocorrem em relação ao corpo e ao psiquismo do sujeito acarretam um trabalho psíquico intenso, que envolve a transição da posição infantil para outra posição, a de adulto. No que se refere à esfera biológica, são os primeiros efeitos da puberdade, as mudanças corporais (troca de voz, maturidade dos órgãos genitais, etc.) que transformam um corpo infantil em um corpo adulto. Logo, se torna necessário ao adolescente fazer um trabalho psíquico de reapropriação da imagem corporal, essa construída na infância no processo de identificação ordenado pelo “estádio do espelho”.

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Segundo Rassial, a modificação da imagem do corpo se dá de quatro modos complementares:

“Esta imagem de corpo é afetada em quatro modos complementares: primeiramente, pela modificação de seus atributos (pilosidade, seios, silhueta); em segundo lugar, por seus funcionamentos (genitalidade, menstruação, mudança de voz, marcha, etc.) em terceiro lugar, por sua semelhança com o corpo adulto e, mais precisamente, do genitor do mesmo sexo; em quarto lugar, por sua importância para o olhar do adolescente ou do adulto do outro sexo.” (RASSIAL, 1999, Pág. 17-18).

É nesse momento que ocorre, segundo Rassial, uma repetição da fase do espelho, o adolescente reedita suas identificações frente à relação com o Outro social, e se lança na relação com o sexo oposto. Essa busca por novos pares ocorre para que a imagem de corpo seja internalizada e possa abrir espaço para uma nova imagem corporal.

Todas as modificações que acontecem na adolescência, seja na esfera psíquica, seja na esfera orgânica, podem causar certo estranhamento ao sujeito. O fato é que lidar com as questões da puberdade acarretam sensações que fragilizam a sua psique e é por isso que o adolescente tem tantas dificuldades de se colocar nesta nova posição subjetiva.

É necessário que ocorra uma mudança no olhar do Outro (outros adolescentes, outros adultos) em relação ao adolescente, para que ele se coloque em uma posição diferente da qual os pais o haviam colocado, para só assim, poder comprovar sua nova imagem, tanto desejante quanto desejável e reconhecer seu valor.

A adolescência é, portanto, uma passagem a ser transitada, que se dá em um tempo, em um corpo (erógeno), em uma determinada sociedade e contexto social e seu discurso. Então, é um momento também de inúmeros conflitos, dúvidas e decisões, envolve o luto do corpo da criança a fim de afirmar um corpo biológico em transformação.

Macedo (2004) destaca três principais lutos, desenvolvidos por Anna Freud e Arminda Aberastury, pelos quais o adolescente passa para atingir enfim uma nova identidade, são eles: luto pelo corpo infantil, pelos pais da infância e pela identidade infantil (p.47). Assim, o adolescente sente seu corpo mudando e ao confirmar isso, reafirma sua posição de sujeito frente a um social extremamente evocativo.

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A forma com a qual o adolescente se relaciona com os demais, muda a partir do momento em que ocorre a mudança do olhar do Outro. Isso desencadeia de forma diferente para os meninos e para as meninas, é o momento em que cada qual se utilizará de seus mecanismos disponíveis no momento para entrar no jogo da sedução e nos relacionamentos.

A menina faz uso da exibição, o que pode ser visto pelos outros, procurando sempre se parecer com os padrões de beleza impostos pelo social. Logo, podemos compreender o interesse das meninas pela moda, por maquiagens, artifícios utilizados para se oferecer como objeto ao olhar do Outro. Já com relação às modificações corporais, como o crescimento dos seios, a adolescente passa a procurar por imagens identificatórias em busca de uma simetria de seu corpo, e também uma aceitação pelos outros de que seu corpo esta diferente. A menstruação é um marco que acontece nesse período para a menina, e pode ter sentidos diferentes dependendo do contexto em que ocorrem, sendo acompanhada por sentimentos de vergonha ou orgulho. Já para o menino, o que irá instigar sua relação com o outro sexo será a voz e com ela, o ato de contar vantagens para impressionar ou ainda superar os amigos.

Nesse momento o adolescente irá identificar em qual posição ele se encontra frente ao desejo do Outro, ao mesmo tempo em que este também passará por seu parecer, qualificando ou não como desejável. Esta relação o fará enfrentar sua própria posição assumindo uma responsabilidade sexual. Com isso o adolescente passará a vivenciar experiências que possibilitem chamar a atenção e se colocar como objeto de desejo do Outro.

Na difícil busca pelo parceiro sexual, quer haja ato sexual entre eles ou não, este parceiro deve conjugar em si três qualidades dificilmente conciliáveis:

“Primeiramente, deve ser um semelhante, mesmo que sexuado diferentemente; em segundo lugar, para ser desejado, deve atrair por seu corpo, considerado como um objeto; em terceiro lugar, só pode ser amado se tomar a vez dos pais como referentes últimos das palavras, isto é, se puder sustentar uma figura de ideal do Outro sexo (com O maiúsculo, para diferenciá-lo do outro, semelhante) como os pais encarnaram, por um tempo, este Outro absoluto. É sob o olhar múltiplo deste outro, ao mesmo tempo semelhante, objeto e pertencente ao Outro sexo, que o corpo do adolescente muda de estatuto e de valor.” (RASSIAL, 1999; Pág. 18)

Não se trata apenas de um reajuste da imagem, mas sim de uma modificação do valor mesmo do corpo. A adolescência é um momento privilegiado onde, encontrando a

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sexualidade não mais como o próprio de um adulto diferente, mas como o que organiza a sua nova posição, o sujeito deve responder com os meios de que dispõe.

Para Rassial (1999), essas tentativas de sedução, o namoro e o ato sexual, são tentativas que têm por objetivo usar os objetos investidos de uma nova maneira, o olhar e a voz, e também, de ressituar os objetos infantis redescobertos do lado do outro sexo.

Neste momento, o grupo de amigos, semelhantes da mesma idade, se torna de grande importância, pois é este grupo que irá permitir ao jovem começar a se desligar da família, saindo mais de casa e encontrando possibilidades diferentes. Assim, inicia-se a busca pelos parceiros e a passagem do ambiente familiar para o social.

2.2 O que os adultos esperam dos adolescentes?

Outra questão que se coloca para o adolescente é a escolha profissional. Ao adentrar no terceiro ano do ensino médio se deparam com várias exigências e influências advindas dos pais, da escola e sociedade, o que acaba gerando angústias, dúvidas e medos. Fazer uma escolha que seria “para a vida toda” ou da qual dependeria seu futuro coloca sobre o jovem a perspectiva de não poder errar, prendendo-se na ideia de que existe uma escolha certa.

Atualmente, também existe entre os jovens um ideal de independência, sendo que, para serem reconhecidos como adultos, é preciso que também haja uma autonomia, para que assim, sejam responsáveis pelos seus próprios atos, mas aí surge uma nova problemática e uma contradição, pois ao mesmo tempo em que se espera maturidade do jovem, ele ainda se mantem imaturo e desajustado para entrar no mundo adulto.

Mas o que os adultos querem dos adolescentes? A tentativa de descobrir qual é o real desejo dos adultos, pode acabar fazendo com que os jovens se distanciem mais deles, conforme nos traz Calligaris (2011, p.26 e 27):

“O pensamento é mais ou menos o seguinte: Os adultos querem coisas contraditórias. Eles pedem uma moratória de minha autonomia, mas o resultado de minhas aceitação é que eles não me amam mais como uma criança, nem reconhecem como um par esta ‘coisa’ na qual eu me transformei. Talvez para ganhar seu amor e seu reconhecimento, eu não deva então seguir a risca suas indicações e

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seus pedidos, mas descobrir qual é de fato o desejo deles, atrás do que dizem que querem. Em suma: de fato (e não só em suas recomendações pedagógicas), qual é o ideal dos adultos, para que eu possa presenteá-los com isso e portanto ser por eles enfim amado e reconhecido como adulto?”

Por esse caminho, os jovens podem até acertar qual era a vontade dos pais, mas se essa vontade não foi logo dita, talvez seja porque mesmo sendo um desejo deles, pode não ser aceito por outros, melhor dizendo, pode não ser moralmente correto. Então mesmo sendo desejado foi esquecido propositadamente para que não fosse realizado.

Quando se trata de escolha profissional, devemos lembrar que a vocação não é inata para ninguém, mas sim algo que se aprimora com o passar do tempo, como nos afirma Bock (2002):

“... cada vez mais o indivíduo deve se apresentar ‘poli-apto’ se quiser concorrer no mercado com igualdade de condições. Cada indivíduo é único, assim como as suas capacidades, que estão em construção permanente, e por isso podem ser aperfeiçoadas e até mesmo modificadas. Ninguém nasce para determinada profissão: todos os indivíduos, a princípio, estão em condições de aprender as habilidades necessárias para qualquer profissão.”

Portanto, escolher uma profissão com um mercado de trabalho tão competitivo e numa sociedade complexa e mutante não é tarefa fácil, ainda mais quando se esta em busca de interpretar qual é o desejo dos adultos.

Assim, nos fala Calligaris (2011, p. 28)

“O adolescente é levado inevitavelmente a descobrir a nostalgia adulta da transgressão, ou melhor, de resistência as exigências antilibertárias do mundo. Ele ouve, atrás dos pedidos do adulto, um “faça o que eu desejo e não o que eu peço”. E atua em consequência”. Em busca de se encontrar e de conquistar sua própria autonomia e independência, os adolescentes passam a criar seus novos meios com regras e estilos próprios, muitos adolescentes tornam-se rebeldes de maneira que assim chamam a atenção dos adultos e os desafiam, tornando-se transgressores e fazendo exatamente o contrario do que havia sido pedido pelos pais.

Com isso, observamos que a passagem da adolescência não é uma crise apenas para o adolescente, mas também para os pais, pois ao verem os filhos, recordam de suas

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adolescências e com isso retornam aos seus conflitos já esquecidos, transmitindo ao adolescente seus medos e ambições do passado.

Apesar disso tudo, o adolescente precisa conseguir se desprender dos pais e encarar um novo vínculo, agora com o social que é de grandiosa importância nesse momento. Ao se desvincular do desejo dos pais, ele estará sustentando sua posição desejante e tornando-se apto para responder aos novos investimentos sociais por si mesmo.

2.3 O final da adolescência

Pensando nesse período como mais um momento em que o adolescente se movimenta em busca de outra etapa da vida. De acordo com Macedo (2010), o ato de seguir em frente exige que experiências sejam ressignificadas (p.52).

Como citamos anteriormente, o adolescente passa a ser um transgressor, na tentativa de encontrar uma maneira de fazer parte da sociedade, pois ao não acolher aos desejos dos pais, ele mostra não aceitar as exigências dos adultos.

Com isso a profissão que será escolhida passa a ter uma importância enorme nessa etapa da vida do adolescente. Com um trabalho escolhido, ele não será mais apenas um sujeito, será um sujeito que exerce determinada profissão, e isso irá valorizar ainda mais a sua identidade.

Essas transgressões podem ir além da desobediência, quando o adolescente mostra uma inesperada conformidade frente às exigências dos adultos, ou quando ele sofre uma pressão exagerada frente à escolha profissional, o que faz com que ele tome uma decisão errada e persista no erro, pensando que se voltar atrás em sua escolha, perderá uma oportunidade ou ficará para trás, e também, quando não consegue escolher, sendo que não se identifica com nada ou se identifica com tudo.

Nessa hora, pode ser que seguir as profissões dos pais, seja uma boa escolha. Mas como enfatiza Calligaris (2011, p. 33).

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“O fato é que a adolescência é uma interpretação de sonhos adultos, produzida por uma moratória que força o adolescente a tentar descobrir o que os adultos querem dele. O adolescente pode encontrar e construir respostas muito diferentes a essa investigação. As condutas adolescentes, em suma, são tão variadas quanto os sonhos e os desejos reprimidos dos adultos. Por isso elas parecem (e talvez sejam) todas transgressoras. No mínimo, transgridem a vontade explícita dos adultos.”

O adolescente tenta interpretar o sonho dos adultos e descobrir o que eles tanto esperam para ganhar em troca reconhecimento, com uma falsa certeza de que esta fazendo tudo certo, nasce uma ambiguidade de sentimentos, pois o adolescente impõe sua presença agindo de acordo com suas próprias regras, justamente no momento em que deveria estar conquistando seu espaço.

Além da escolha profissional, o adolescente também vê que morar sozinho ou casar-se pode ser uma possibilidade de alcançar sua independência. Mas abandonar a dependência, também exige um enorme trabalho psíquico, mas o que despertaria no adolescente essa vontade de sair de casa?

Responderei citando Macedo (2010), o amadurecimento despertaria no adolescente uma vontade de cuidar, assim como anteriormente fora cuidado, sendo possível, com isso, uma paternidade, mas nesse caso não de um filho, e sim de seus próprios projetos. (p. 51).

A relação do adolescente com seus pares é de grande importância, pois diz respeito ao trabalho de ressignificações que ocorre nessa etapa, aqui também irá encontrar abrigo e compreensão frente aos seus esforços para se tornar um adulto.

Certos comportamentos adolescentes são considerados anormais, segundo Calligaris (2011), os adultos receiam as transgressões dos adolescentes porque sabem, mesmo que confusamente, que o que há de mais transgressor nos adolescentes é a realização de um desejo dos adultos, que eles tentam de todas as formas reprimir (p.34).

Calligaris (2011) ainda propõe que tentar explicar as atitudes revoltas dos adolescentes, pode ser a melhor maneira de enfrentar seus monstros, e que a adolescência não é apenas um conjunto de suas vivencias, mas sim, uma série de imagens que pesa muito sobre a vida deles. Rompem as regras para serem reconhecidos,

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mas carregam um ideal que há muito tempo foi recalcado pelos adultos. “São ao mesmo tempo concreções da rebeldia extrema dos adolescentes e sonhos, pesadelos e espantalhos dos adultos.” (p. 35).

Demostro este “final da adolescência” como um momento vivido durante a passagem por ela, mas que não existe um momento pré-determinado que defina o instante exato. Além disso, esse movimento se da de formas diferentes e tempos diferentes para cada adolescente e dependendo da cultura em que esta inserido. Enfim, assim como houve um inicio há de se ter um final.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o desenvolvimento deste trabalho, não pretendo findar novas opiniões e discussões, tão pouco torna-lo completo e absoluto. Busco provocar e estimular aqueles que queiram descobrir mais a respeito do tema e com isso, possibilitar um melhor entendimento desta elaboração.

Algo que podemos perceber e que nos chama muito a atenção é que cada época pareceu favorecer uma etapa diferente da vida, como nos traz Ariés: a “juventude” é a idade privilegiada do século XVII, a “infância”, do século XIX, e a “adolescência”, do século XX (ARIÉS 1981. p. 48). Esse favorecimento seria uma forma da sociedade expressar algum tipo de resposta frente a essas etapas da vida.

Calligaris explica porque esse olhar da sociedade em geral foi mudando conforme o tempo foi passando, a infância seria uma fase ideal, desejada pelos adultos pela sua visível felicidade e despreocupação com o mundo. Mas com o lugar que o adolescente tem ocupado atualmente, a infância teria perdido o seu posto. Pois a adolescência não se trata de um ideal comparativo, como no caso das crianças e sim um ideal identificatório. (CALLIGARIS 2011, p. 69).

“Os adolescentes ideias têm corpos que reconhecemos como parecidos com os nossos em suas formas e seus gozos, prazeres iguais aos nossos e, ao mesmo tempo, graças à magica da infância estendida até eles, são ou deveriam ser felizes numa hipotética suspensão das obrigações, das dificuldades e das responsabilidades da vida adulta. Eles são adultos de férias, sem lei.” (CALLIGARIS 2011, p. 69). Com isso, a adolescência passa a ocupar o ideal dos adultos e, segundo Calligaris, até a metade dos anos 1960, o ideal dos adolescentes seria a idade adulta, mas sem que se parecessem adultos. O que os adolescentes mais desejavam era a independência, mostrar responsabilidades para assim serem aceitos no mundo adulto.

Atualmente, os adultos continuam idealizando a adolescência, mas os ideais dos adolescentes já não são mais os mesmos, assim como os das crianças, que antes também idealizavam ser adultos. O período de infância parece estar diminuindo cada vez mais,

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podemos observar no nosso dia-a-dia, crianças vestidas e se comportando como adolescentes, cada vez mais antecipando a entrada na adolescência.

Já os adolescentes, parecem ter percebido que o momento em que vivem é idealizado pelos adultos e, segundo Calligaris (2011), é empurrado pelo olhar admirativo de adultos e crianças, passando a ser seu próprio ideal. A se marginalizar (ser rebelde) para continuar ocupando o centro de nossa cultura, ou seja, o lugar do sonho dos adultos. (p. 73).

“Os adolescentes pedem reconhecimento e encontram no âmago dos adultos um espelho para se contemplar. Pedem uma palavra para crescer e ganham um olhar que admira justamente o casulo que eles queriam deixar.” (CALLIGARIS 2011, p. 74).

Isso nos faz pensar na contradição que se instala nas etapas em que vivemos, quando a lei da vida é o adolescente crescer e envelhecer, mas o adulto e o velho querem voltar no tempo e adolescer.

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REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BOCK, Silvio Duarte. Como se escolhe uma profissão?. – São Paulo: 2002

BRASIL. Saúde de adolescentes e jovens. Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/saude/ Acesso em: 31/03/2015

BRASIL. Indicadores sociais. Crianças e adolescentes. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/ Acesso em: 31/03/2015.

BRASIL. Lei nº. 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm Acesso em: 31/03/2015

CALLIGARIS, Contardo. A adolescência / Contardo Calligaris. – São Paulo: Publifolha, 2011. – (Folha Explica)

ECA – Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm Acesso em: 31/03/2015

FREUD, Sigmund. (1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras completas: Edição Standard Brasileira. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

MATHEUS, Tiago Corbisier. Adolescência: história e política do conceito na

psicanalise. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. – (Coleção Clínica Psicanalítica /

dirigida por Flávio Carvalho Ferraz).

MACEDO, Mônica M. K. (org.); GOBBI Adriana S. [et al]. Adolescência e

psicanálise: intersecções possíveis. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2004. 149 p.:

MACEDO, Mônica M. K. (org.); GOBBI Adriana S. [et al]. Adolescência e

psicanálise: intersecções possíveis. Porto Alegre : EDIPUCRS - 2. Ed., ver. E ampl.

2010. 220p.

MELMAN, Charles, [et al]. Adolescente, sexo e morte. Organização Conceição de Fátima Beltrão Fleig. Porto Alegre: CMC. 2009.

RASSIAL, Jean-Jacques. O adolescente e o Psicanalista. [Tradução: Leda Mariza Fischer Bernardino] Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999.

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ROSSI, Andrea S. Juventude e morte: Representações na contemporaneidade. Curitiba, n. 35, p. 155-175, 2001. Editora da UFPR.

ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Amor e sexo na Grécia antiga. - Porto Alegre : EDIPUCRS, 2007. 143p. – (Coleção Filosofia ; 194)

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