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Tecnologia como relações interpessoais da criança: mudanças qualitativas na cultura

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

THAIS REGHELIN

TECNOLOGIA COMO RELAÇÕES INTERPESSOAIS DA CRIANÇA: MUDANÇAS QUALITATIVAS NA CULTURA

Santa Rosa/RS

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THAIS REGHELIN

TECNOLOGIA COMO RELAÇÕES INTERPESSOAIS DA CRIANÇA: MUDANÇAS QUALITATIVAS NA CULTURA

Trabalho de conclusão de Curso apresentado na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ - Departamento de Humanidades e Educação no curso de Pedagogia como requisito parcial a obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia.

Orientador: Prof.º Josei Fernandes Pereira

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RESUMO

Tecnologia é um assunto atual em nossa sociedade na qual, principalmente, crianças, jovens e adultos nativos digitais desfrutam dessa ferramenta das mais diferentes maneiras. A tecnologia tem transformado qualitativamente a cultura do ser humano, visualizando como este instrumento promove na criança as relações sociais e o desenvolvimento da sua cultura. Vê-se a necessidade de analisar como a tecnologia é utilizada pelas crianças em seu ambiente familiar, os quais são mediadores de aprendizagem e acabam interferindo no processo de aprendizagem escolar. A realização da pesquisa obteve a base teórica principalmente pelos autores Cohn (2005) com os conceitos de criança produtora de cultura e Geertz (2008) refletindo sob as concepções de cultura, sendo realizado um estudo de caso em âmbito familiar, com métodos que se aproximam de uma pesquisa etnográfica, observações, anotações (diário de campo) e interações a fim de destacar como a criança utiliza a tecnologia, bem como suas reações e relações com seus familiares. Os resultados apontam que a tecnologia é perceptível na infância como instrumento de comunicação, entretenimento e de manifestações, na qual a partir desta a criança desenvolve a sua própria cultura e a apresenta diante da sociedade. A partir dessa pesquisa pode-se concluir que a tecnologia é uma porta para a criança produzir uma cultura própria com suas respectivas interpretações em relação ao seu desenvolvimento cognitivo e social acerca do mundo.

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ABSTRACT

Technology is a current subject in our society in the which, mainly, children, youths and digital native adults enjoy that tool in the most different ways. The technology has been transforming qualitatively the human being's culture, visualizing as this instrument promotes in the child the social relationships and the development of his/her culture. How technology is used by children in their family environment, those who are mediators of learning and end up interfering in the learning process. The realization of the research obtained the theoretical basis mainly by the authors Cohn (2005) with the concepts of child producing culture and Geertz (2008) contemplating under the culture conceptions, being accomplished a case study in family extent with methods that approximate an ethnographic research, observations, notes (field diary) and interactions in order to highlight how the child uses the technology, as well as their reactions and relationships with their relatives. The results indicate that the technology is perceptible in the childhood as communication instrument, entertainment and of manifestations, in which from this the child develops his own culture and presents it before society. From this research it can be concluded that technology is a door for children to produce their own culture with their respective interpretations in relation to their cognitive and social development about the world.

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AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus pais pela oportunidade de educação e ensino de qualidade, pela universidade que foi encarada como um desafio, por não duvidarem das minhas habilidades e competências, pelos inúmeros apoios durante os quatro anos de curso, por me darem forças e inspirações quando mais necessitava.

Agradeço ao meu pai Álvaro pelo incentivo, pelas palavras de conforto e segurança, à minha mãe Eliane pela vida, paciência e escuta atenciosa, e ao meu irmão Lorenzo por entender que nem sempre estava presente e podia emprestar o notebook para assistir filmes.

Agradeço a minha avó Adioni Reghelin por ceder um espaço na sua casa durante meio ano, e especialmente aos meus demais avós Soldi e Reinardo Grün por me abrigarem por três anos e meio para que o sonho da graduação e a minha inserção dentro das escolas fosse possível. Sou grata aos meus padrinhos, Alex e Fabiana Reghelin, pelo conforto que encontrei nas inúmeras palavras de carinho, por me ajudarem em planejamentos, além das trocas de experiências que fizeram toda a diferença durante minha trajetória acadêmica, abrindo meus olhos para o horizonte.

Ao meu namorado Adriano L. Reis por ser meu amigo, meu companheiro, meu cúmplice durante toda a faculdade, principalmente nos lanchinhos e xerox, obrigada por aguentar minhas crises de ansiedade e de estresse, e da mesma forma me confortar. Obrigada amor!

E agradeço às minhas colegas-amigas, Andressa de Souza, Andressa Schmidt e Luana P. Klering, por estarem sempre ao meu lado durante os quatro anos e por me mostrarem o verdadeiro significado da amizade.

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À Deus, todo-poderoso, pela benção da vida, pela força, paciência e sabedoria que me deste para a realização deste trabalho.

Aos meus pais, Álvaro e Eliane, e ao meu irmão, Lorenzo, pelo imenso apoio, incentivo e confiança.

Ao meu orientador professor Josei F. Pereira

pela paciência, conhecimento e

companheirismo nos momentos de

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ... 8

2. INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE TECNOLOGIA, CULTURA E INFÂNCIA ... 111

2.1.CULTURAS INFANTIS ... 19

3. COMO A CRIANÇA PRODUZ CULTURA A PARTIR DA TECNOLOGIA? . 23 4. UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA EM ÂMBITO FAMILIAR: ESTUDO DE CASO ... 29

5. CONCLUSÃO ... 33

6. REFERÊNCIAS ... 35

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1. INTRODUÇÃO

Quando falamos em tecnologias os instrumentos que nos vem à mente são os computadores, tablets, celulares, software e internet, e com a chegada da tecnologia na educação, provoca nos professores novos desafios, por exemplo de como utilizá-la mais frequentemente como método pedagógico. Este resultado não depende somente de professores e alunos, mas também do contexto escolar, das atividades pedagógicas, de seu corpo docente e discente, da comunidade escolar, dos propósitos educacionais e das metodologias que propiciam a aprendizagem. Assim, com a interdependência à inúmeros fatores, a tecnologia em volta da educação requer um olhar cada vez mais cuidadoso sobre as crianças que estão neste âmbito escolar.

As tecnologias tornaram-se ao longo do tempo o maior meio de relações sociais, e as crianças que nascem em pleno século XXI desenvolvem um grande potencial em correlação ao seu manuseio. Antes mesmo de serem alfabetizadas já desenvolvem a capacidade de aprender a utilizar aparelhos eletrônicos para satisfazer a sua curiosidade, além de muitos pais, atualmente, recorrer a esse dispositivo para entretenimento dos filhos para conseguirem realizar suas tarefas. Tornando-se mais “prático” a criança aprender determinadas coisas de modo virtual do que fisicamente como por exemplo a escrever seu nome no caderno.

Com essa praticidade que a tecnologia proporciona cada vez mais as crianças estão deixando de brincar em espaços abertos, ou seja, subir em árvores, vivenciar com outras crianças, brincar com brincadeiras de seus pais, entre outros. Por exemplo, pode ser observado que em alguns encontros de família em um local que possui acesso à internet as crianças estão centradas em tablets, e já quando esse acesso não é possível elas sentem-se perdidas, de certa forma, tendo “dificuldade” em brincar sem a tecnologia. Essa é uma das realidades que encontramos atualmente a criança desenvolvendo uma dependência tecnológica podendo ou não acarretar no desenvolvimento das experiências sinestésicas.

As inúmeras realidades que nos deparamos pode levar a pensar em como a tecnologia está se inserindo cada vez mais na educação, na qual é necessário considerar esta como ferramenta de aprendizagem ou de atividade lúdica. Nas escolas, essa tecnologia se apresenta de distintas maneiras, como: rádio, multimídia (Datashow), televisão, aparelho de DVD, entre

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9 outros; além de alguns desses aparelhos estarem dentro das salas de aula, alguns brinquedos são aparelhos eletrônicos que não podem ser mais utilizados pelos adultos por estarem “estragados” ou em desuso fazendo a doação para a escola. Então cada vez mais a tecnologia está no cotidiano das crianças, fazendo com que seu manuseio seja cada vez mais intenso.

Nas salas de aulas a utilização de brinquedos tecnológicos “estragados” são reaproveitados como método de aprendizagem ou faz-de-conta pela brincadeira. Devemos usar a tecnologia à favor ainda mais da educação, pois ela é uma ferramenta muito valida quando aproveitada corretamente se tornando um forte aliado do professor para o processo de ensino/aprendizagem. É fundamental marcar o território da tecnologia como ferramenta e não como objetivo de aprendizagem, logo ainda há necessidade de se pensar na influência que a tecnologia possibilita diante do surgimento da cultura digital, estando cientes de limitações quanto ao seu acesso.

Os recursos tecnológicos são muito relevantes ao processo de instrução porque melhoram o ensino-aprendizagem, facilitam o trabalho do professor, motivam os alunos e são ferramentas didáticas eficazes, justamente por facilitarem a avaliação do aprendizado. (SOARES, 2012, p. 39)

A oferta desse grande suporte tecnológico, tanto para os professores quanto para os alunos, vem possibilitando cada vez mais o desenvolvimento/apropriação de habilidades em manuseio à tecnologia, e diante disto há necessidades de adequações pedagógicas de ensino/aprendizagem trazendo uma metodologia diferenciada e significativa. Perante tantas mudanças em relação a educação, a tecnologia interage com esta de maneira pedagógica, pois nem sempre dentro da sala de aula esta ferramenta vem como método de ensino e sim como distração.

Tendo em vista esta nova cultura digital, a educação é uma ponte que amplia e interliga horizontes culturais na qual a tecnologia e suas ferramentas são essenciais para a construção de conhecimentos. Possibilitando conhecer novas realidades, além de ser uma nova metodologia a ser aplicada dentro das escolas, despertando maiores interesses por parte dos alunos. Porém nem todas as instituições possuem habilidades e competências técnicas sob tal recurso para a oferta dessa assistência tecnológica, e com essa falta muitas vezes o professor deixa de explorar novas ferramentas.

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10 A proximidade cada vez mais forte do ser humano com a tecnologia, desperta interesse em alguns profissionais o acesso cognitivo a ela, pois quando tem-se uma ferramenta deste porte é necessário a realização de pesquisas em como utiliza-las ao benefício do aluno. Quanto maior os saberes em relação ao objeto mais produtivo torna-se aquilo que quer realizar, assim é com a criança, quanto mais ela manuseia mais ela quer descobrir e mais desafios quer enfrentar. Por isso, é preciso ter sempre o consentimento daquilo que está sendo desfrutado, pois há atividades com restrições de idades as quais instiga ainda mais a criança em descobrir o “porquê aquilo não pode”.

A escolha por esse tema se sucedeu a partir de uma experiência profissional quando trabalhava como monitora na Educação Infantil em uma escola particular do município de Giruá/RS, na qual em um determinado período de tempo, no dia do brinquedo as crianças começaram a levar para a escola instrumentos tecnológicos como tablet, celular, notebook, carrinhos de controle remoto, bonecas que faziam inúmeras ações, entre outros. E desta maneira com a forte presença da tecnologia no cotidiano das pessoas, principalmente das crianças, este trabalho tem por objetivo analisar a utilização da tecnologia pela criança e como a partir desta ela produz cultura, tendo em vista a influência da tecnologia no processo de ensino/aprendizagem. Na qual a problemática é “como a tecnologia é utilizada pelas crianças em seu âmbito familiar?”. Sendo que este recurso algumas vezes é utilizado em prol à aprendizagem, tornando-se fundamental observar como é realizado este manuseio, principalmente, pelas crianças.

Neste sentido o trabalho irá dividir-se em três capítulos. O primeiro fundamentará sob referenciais teóricos sobre a tecnologia, cultura digital, criança, infância, metodologias de pesquisa, entre outros. O segundo capitulo trará a contextualização dos conceitos e como a criança produz cultura a partir da tecnologia. O terceiro e último capitulo resultará num estudo de caso retratando a utilização da tecnologia por uma criança no seu âmbito familiar.

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2. INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE TECNOLOGIA,

CULTURA E INFÂNCIA

Ao tratar sobre tecnologia devemos levar em conta o acervo de conceitos que esta traz consigo, porque traz dela há uma história, um contexto histórico-sócio-cultural em que faz-se necessário buscar por suas compreensões. A tecnologia apresenta-se como um meio de facilitar a vida das pessoas, seja ela da forma mais simples, a comunicação, à mais complexa, pesquisas/análises científicas. A sua história está ligada à evolução do ser humano e das ferramentas e técnicas úteis para o desenvolvimento de atividades práticas.

O conceito de tecnologia conforme Blanco e Silva (1993) deriva do grego technê (arte, ofício) e logos (estudo de), na qual refere-se à compreensão de termos técnicos, voltados para utensílios e máquinas, bem como suas partes e as operações. A tecnologia envolve inúmeros materiais, instrumentos, métodos e técnicas que visam o desenvolvimento mais prático de tarefas. Este é também um artefato, pois é envolvido e influenciado por política, história e culturas, considerando a antropologia.

Com a finalidade de facilitar o cotidiano, a origem da tecnologia não pode ser dissociada ao nascimento do ser humano. Foi o homo erectus1 quem produziu a pedra talhada e começou a transformar objetos em instrumentos a favor do seu contexto, e desde então o homem começou a desenvolver técnicas. Contudo a partir de 4.000 a.C. métodos desenvolvidos possibilitaram a reorganização econômica e social, destacando-se o uso do cobre e do bronze, fundição de metais, veículos de roda, embarcações a vela, entre outros. E desde então fundamentaram-se cada vez mais métodos que auxiliavam o homem nas suas produções e construções.

A tecnologia é fruto da aliança entre ciência e técnica, a qual produziu a razão instrumental, como no dizer da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Esta aliança proporcionou o agir-racional-com-respeito-a-fins, conforme assinala Habermas, a serviço do poder político e econômico da sociedade baseada no modo de produção capitalista (séc. XVIII) que tem como mola propulsora o lucro, advindo da produção e da expropriação da natureza. Então se antes a razão tinha caráter contemplativo, com

1 Homo erectus é uma espécie de hominídeo que viveu há 1,8 milhões de anos atrás em terras africanas, sendo

extinta a menos de 5 milhões de anos, a qual está na linha evolutiva do homo sapiens, em comparação entre as duas espécies há a diferenciação do formato do crânio que no primeiro era achatado e espesso e no segundo o crânio é menor, bem como a mandíbula. Além da construção de ferramentas, esta espécie foi a primeira a realizar a migração para fora do continente africano. (STEFANELLO, 2018) O mais completo fóssil da espécie homo erectus é de um menino chamado Turkana. (RIBEIRO, 2018)

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o advento da modernidade, ela passou a ser instrumental. É nesse contexto que deve ser pensada a tecnologia moderna; ela não pode ser analisada fora do modo de produção, conforme observou Marx. (MIRANDA, 2002, p.51)

A tecnologia é um método de produção que utiliza instrumentos, artifícios e invenções, que organizam e conservam os vínculos sociais diante das produções, sendo que esta não é somente fabricada por empresas e sim recriadas pela forma de como é utilizada. Com isto, considerando a tecnologia em seu contexto histórico, é necessário pensar na sua função social, e como esta tem transformado qualitativamente o poder exercido sobre a cultura do ser humano. Esta ferramenta produz grandes reflexões acerca do seu uso e função, sendo assim não é possível considera-la como simples técnica, enquanto a ciência promove a interlocução do saber e o fazer, ou seja, da teoria e da prática.

Nessa perspectiva a tecnologia é um saber prático originário da ciência, ou seja, dos saberes teóricos que são aplicadas para a obtenção de tecnologia, de maneira que não existe tecnologia sem teoria. E a sociedade utiliza dela para se satisfazer perante suas necessidades e desejos, já que a inovação tecnologia modifica o pensamento dos sujeitos e de certa forma torna-os competitivtorna-os, pois quanto mais “novo” é seu aparelho melhor o sujeito acha que é, entrando a relação de poder e status social. Porém a tecnologia proporcionou diminuição do trabalho manual em fábricas, causando desemprego pela substituição do homem pela máquina, e intelectual em escritórios utilizando os softwares para o desenvolvimento de problemas práticos.

Como não basta apenas considerar a tecnologia em seu contexto atual é necessário levantar apontamentos sobre a sua história pela antropologia, pois ela é um campo de conhecimento que trata não somente da cultura, mas a sociedade em si, bem como o significado real de determinados assuntos. Portanto, a antropologia surge como a necessidade do ser humano conhecer a si próprio analisando as diferenças e semelhanças diante os mais variados grupos sociais, sendo assim o propósito da antropologia estudar a humanidade além de suas expressões comportamentais. A antropologia traz apontamentos teóricos construídos no passado com a intenção de explicar e entender os diferentes eventos ocorridos desde o surgimento do ser humano, observando as semelhanças de organização mundial social e as demandas da singularidade apontando para a humanização única e diversificada.

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13 Antropologia deriva do grego anthropos (homem) e logia (estudo), logo significa estudo do homem, além disto ela possui três dimensões as quais são biológica, sociocultural e filosófica, considerando Heródoto2 como o pai da antropologia. Somente a partir do século XVIII que a antropologia foi considerada como uma ciência, relacionando o estudo da filosofia e da história que buscam pela diversidade cultural na qual o homem está inserido considerando seus aspectos históricos.

[...] os antropólogos tem insistido na necessidade de abordar as culturas e as sociedades como sistemas, o que significa dizer que qualquer evento, fenômeno ou categoria simbólica e social a ser estudado deve ser compreendido por seu valor no interior do sistema, no contexto simbólico e social em que é gerado. (COHN, p. 9)

Este campo de estudo busca por definições em relação ao que rodeia o ser humano, onde ele está inserido, quem ele é, qual é a sua trajetória, entre outros aspectos que podem levar em análise. Fazer o homem reconhecer a si próprio bem como suas diferenças em relação às demais pessoas e animais, sendo assim observado a sua alteridade comparando os vínculos sociais, culturais e espaços. A antropologia fundamenta explicações que veem o homem em suas perspectivas cultural, psicológica e biológica, considerando também o ciclo temporal.

As pesquisas antropológicas auxiliam na expansão da superação dos desequilíbrios e aflitos culturais, apontando suas respectivas razões sociais para esses conflitos encontrando, assim, uma possível solução reestabelecendo a sua constância. Sendo assim o papel do antropólogo levantar suposições teóricas e metodológicas que conciliam entre as classes sociais dominantes e dominadas, constituindo interpretações sobre as diferenças e compreender a sociedade para interromper as ideologias.

Além disto a antropologia divide-se em categorias de pensamentos, a qual uma delas é a etnografia, que vem sendo utilizada como performance de compreensão como método qualitativo ou relacionada à escrita antropológica de maneira exploratória e participativa, facilitando a compreensão de como o/os sujeito/os estudado/os vê/em o mundo. A etnografia deriva do grego ethos (cultura) e grafe (escrita), esta auxilia a antropologia quanto ao seu estudo referente a descrição da cultura dos povos bem como seus costumes e manifestações. Todavia,

2 Heródoto filosofo grego que viveu entre 485 a.C. e 425 a.C. (século V a.C.) foi historiador e geografo, também

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14 o início deste modelo de pesquisa no Brasil se desenrolou no século XIX, porém devido ao variado e grande contexto histórico-cultural em que o país estava passando no momento, não foram considerados.

Do mesmo modo Malinowski, um dos fundadores da antropologia moderna, desenvolveu a estruturação do método etnográfico ou de observação participativa, trazendo em uma de suas pesquisas o pioneirismo de apresentar ao leitor os momentos em que houve a coleta de dados. Além disso, é relevante levar em conta a história que cada sujeito possui, percebendo que as informações a serem tratadas são muito mais complexas do que aparenta, a qual aponta suas memórias e seus comportamentos, havendo a cautela de visualizar somente o necessário, não deixando influenciar-se pelo contexto do momento, respeitando as condutas de convivência.

A etnografia estuda preponderantemente os padrões mais previsíveis das percepções e comportamento manifestos em sua rotina diária dos sujeitos estudados. Estuda ainda os fatos e eventos menos previsíveis ou manifestados particularmente em determinado contexto interativo entre as pessoas ou grupos. [...] Etnografia é a escrita do visível. A descrição etnográfica depende das qualidades de observação, de sensibilidade ao outro, do conhecimento sobre o contexto estudado, da inteligência e da imaginação científica do etnógrafo. (MATTOS, 2011, p. 51-54)

Esta revela aquilo que é passado de geração em geração dando continuidade à determinada cultura ou tradição. As pesquisas etnográficas têm como início a antropologia na qual são realizados observações e apontamentos de hipóteses, para então descrever a sua interpretação sob o que foi pesquisado. Essa metodologia permite o levantamento de dados sobre o tema analisado facilitando os processos de pesquisa e aprendizagem.

A etnografia vem sendo muito utilizada nos mais variados sentidos, ela é uma categoria de pensamento que faz reflexões, amplia o nosso campo epistemológico da prática à teoria e também remete a dimensão metodológica cognitiva tendo em vista o “de” e “para” às interpretações. Ela trata de uma prática relacionada à distinção e a especificidade antropológica diante das ciências sociais. Desta forma, torna-se uma ferramenta de grande valia, também, para trabalhos acadêmicos, os quais levam em conta o objeto/sujeito de estudo a ser investigado e interpretado conforme a relação das informações obtidas.

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15 Oliveira (2000) traz três conceitos que tornam-se fundamentais para a prática da etnografia “o ouvir, o olhar e o escrever” fazendo com que a pesquisa do antropólogo tenha consistência em mudanças sociais diante do grupo investigado. O pesquisador necessita ganhar a confiança de quem está sendo observado, pois este trabalho envolve tempo e muitos registros, para então poder realizar suas descrições analíticas, sendo fundamental possuir outras técnicas e métodos.

Outro modelo de investigação é a pesquisa qualitativa sendo este um método de análise que referencia a busca pelo subjetivo individual do objeto a ser investigado, fundamentando-se em suas peculiaridades e experiência. A pesquisa qualitativa ganhou espaço somente na década de 70, fora das áreas de ciências sociais e antropológicas, destacando-se significativamente nas áreas de educação, administração, gestão, entre outros, à qual aprimorou-se cada vez mais o seu método de estudo. Esta pesquisa é geralmente realizada com um grupo pequeno de pessoas levando questões para compreender o porquê de seu comportamento, opiniões, saberes, entre outros, à determinado objeto de estudo.

A pesquisa qualitativa busca pelo entendimento, explicação e a interpretação dos fenômenos sociais na intenção de relevar os aspectos subjetivos da ação social, considerando a humanidade com suas características peculiares. Suas informações não podem ser trazidas numericamente, ou tabulada para obtenção de respostas, mas sim postos à descrição que aponta o ponto de vista dos pesquisados. Os dados qualitativos firmam-se por descrições detalhadas de momentos que à possibilidade de compreender os indivíduos, não padronizando as respostas, fazendo com que o pesquisador tenha flexibilidade e criativa ao coletar e analisar as informações.

O qualitativo engloba a ideia do subjetivo, passível de expor sensações e opiniões. O significado atribuído a essa concepção de pesquisa também engloba noções a respeito de percepções de diferenças e semelhanças de aspectos comparáveis de experiência, como, por exemplo, da vermelhidão do vermelho, etc. Entende-se que a noção de rigor não seria aplicável a dados qualitativos, uma vez que a eles faltaria precisão e objetividade, dificultando ou impossibilitando a aplicação de quantificadores. (BICUDO, 2006, p. 106)

Este modelo possui um caráter exploratório que desenvolve maiores reflexões analíticas sobre os resultados, entendendo com maior facilidade o detalhamento das informações,

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16 permitindo a definição de hipóteses anterior e posterior a pesquisa para realizar comparações. Além disto ela permite a valorização dos aspectos da humanidade considerando seus conhecimentos, adquirindo maior contato com os sujeitos da pesquisa. Porém o pesquisador necessita ter cautela para as suas descrições no sentido de não ocultar informações ou distorcê-las.

Há ainda tipos de pesquisa qualitativa os quais são a etnografia, a pesquisa ação e a pesquisa participativa; porém para realizar uma pesquisa qualitativa é considerável seguir três etapas: planejar a pesquisa, coletar dados e analisá-los. E a partir de então prosseguir com estágios que auxiliam no desenvolvimento da mesma, que são: 1) decidir o objeto de estudo, 2) buscar referencias, 3) analisar se o método qualitativo é o correto, 4) considerar todas as respostas, 5) escolher a metodologia, 6) coletar dados, 7) analisar as informações, e 8) realizar a descrição das informações. Seguindo todos os passos apontados a cima é possível realizar com êxito a pesquisa em questão, desenvolvendo fundamentações dos significados das informações do estudo produzindo conhecimento científico.

Neste método de pesquisa envolve a análise das respostas adquiridas bem como descreve-las, e muitas vezes é necessário realizar a sua interpretação, com isso o interpretativismo faz-se presente para compreender o porquê da resposta dada, percebendo o seu contexto e a significação que possui para o sujeito. O interpretativismo é a contraposição do positivismo pois esta realiza interpretações conforme aspectos históricos e culturais interpretando a vida social, na qual esta surgiu como forma de fortalecimento para a Ciências da Natureza explicar os fatos sociais. Sua origem se deu no final do século XIX, na qual historiadores e sociólogos defendiam em entender que o foco das ciências humanas era as ações humanas, tornando-se significativa quando esta ação possui um significado a ser compreendido. Os pesquisadores precisam buscar qual é a intenção desta ação para aquele sujeito, sendo então uma técnica subjetiva e complexa sob as expressões tratadas referentes as experiências de vida.

É necessário considerar três correntes básicas que possibilitaram o nascimento do interpretativismo, em que a primeira é a fenomenologia que referencia-se à descrição dos fenômenos naturais associado ao conhecimento humano, o segundo é o interacionismo simbólico que trata dos significados que os sujeitos trazem em suas relações sociais e por último a hermenêutica que é a interpretação de textos. O objetivo da pesquisa do interpretativismo é a ação humana e os motivos dos significados das ações, sendo interpretado pelo próprio sujeito, ou seja, qual é a definição subjetiva da ação para o sujeito. Além do mais, o pesquisador

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17 interpretativista utiliza instrumentos e métodos de pesquisa quantitativa para ampliar suas respostas.

Métodos Interpretativos de pesquisa partem do princípio que o nosso conhecimento da realidade, incluindo o domínio da ação humana, é uma construção social por atores humanos e que isso se aplica também aos pesquisadores. Assim, não há uma realidade objetiva a ser descoberta por pesquisadores e replicada por outros, em contraste com a suposição da ciência positivista. Nossas teorias a respeito da realidade são sempre formas de dar sentido ao mundo e significados compartilhados são uma forma de intersubjetividade ao invés de objetividade. (WALSHAM in SACCOL, 2009)

A pesquisa interpretativista procura entender o fenômeno social pela visão dos sujeitos participativos em ambiente onde as ações ocorrem, sendo assim, os estudos são adaptados aos pesquisadores e a sensibilidade do momento. Para o desenvolvimento de uma pesquisa interpretativa de qualidade deve ser levado em consideração, conforme Pozzebon (2004), a autenticidade, a criticidade, a plausibilidade e a reflexão, para então ser realizado estudos de caso, pesquisa-ação e etnografia, reconhecendo dos valores pessoais. Então o paradigma interpretativista é compreender que por trás de cada ação ou pessoa há significações que necessitam ser concebidas e desvendadas.

Envolvendo todas as questões de contextualização de fenômenos sociais, históricos e econômicos, faz-se necessário perceber que isto está dentro da cultura a qual esta é o patrimônio social que determinado grupo possui, determinando assim seus comportamentos e suas concepções, sendo caracterizada por ter caráter simbólico e pela transição saberes, hábitos e metodologias de geração em geração. A palavra cultura deriva do latim, culturae (cultivar), derivando ainda de colere que significa cultivar as plantas. Há dúvidas referente sobre a sua origem, porém acredita-se que ela se desenvolveu juntamente com o sistema biológico do ser humano.

Diversos autores trazem variadas interpretações sob o conceito de cultura, Laraia (2003) aponta que ela é um manual de comportamento humano, Duranti (1997) lista cerca de seis teorias referente a cultura: 1) produção do ser humano, e não da natureza, 2) síntese de conhecimentos, 3) refletir e entender o mundo, 4) mediador sobre o que o ser humano deve fazer, 5) práticas sociais, e 6) sistema interativo. Além disto outro autor que fundamenta a cultura é Geertz que aponta em ser uma teia de significados que o homem constrói, com isto o autor afirma que

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[...] a cultura consiste em estruturas de significado socialmente estabelecidas, nos termos das quais as pessoas fazem certas coisas como sinais de conspiração e se aliam ou percebem os insultos e respondem a eles, não é mais do que dizer que esse é um fenómeno psicológico, uma característica da mente, da personalidade, da estrutura cognitiva de alguém, ou o que quer que seja, ou dizer ainda o que é tantrismo, a genética, a forma progressiva do verbo, a classificação dos vinhos, a Common Law ou a noção de "uma praga condicional" [...]. (GEERTZ, 2008, p. 9)

Além disto Geertz (2008) traz a ideia de que a cultura também é vista como sistemas de programação, na qual há instrumentos de controle que digam as instruções, os planos, as regras, entre outros, para conduzir o comportamento humano, e que o homem é visto como um animal que precisa de orientações para a sua conduta. Com a ampla concepção de cultura, é relevante apontar que há duas formas de cultura, a material e a imaterial, a primeira refere-se às construções, monumentos, entre outros, e a segunda aos valores e conhecimentos. Além de haver tipos de cultura como a corporal, em massa, corporativa, popular e erudita, todas, voltadas a conhecimentos, tradições, crenças, etc.

O autor que sintetizou a concepção de cultura foi Edward Burnett Tyler (1832-1917) que afirma que cultura é complexidade de conhecimentos, costumes, leis, crenças, hábitos e capacidades que o homem adquire na sociedade. Pode-se dizer que o ser humano é cultura, pois ele carrega uma bagagem de informações prescritas pela sociedade que auxiliam-no à viver e essa aquisição deriva de experiência e de educação intelectual.

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2.1. CULTURAS INFANTIS

Contudo, a aquisição e concretização da cultura constitui-se inicialmente na infância que a criança tem o primeiro contato de comunicação com o mundo, de relação com os demais sujeitos a fim de constituir uma identidade própria e diferenciada devido ao desenvolvimento psicológico, além deste sofrer alterações em seu corpo devido ao seu crescimento de tamanho e de peso. Na antiguidade não havia um conceito para infância ou se quer uma diferenciação de etapas do desenvolvimento humano, posteriormente foram percebidos atitudes infantilizadas, e a infância passou a ser um período que ia até os sete anos de idade, na qual depois desta idade a criança já compreende e tem a fluência nas palavras.

A ideia de criança e infância não podem ser trazidas individualmente, pois elas surgiram por volta do século XV na qual houve a percepção de que o sujeito menor (criança) é diferente do sujeito adulto, e possui um período que desenvolve as suas peculiaridades de aprendizagem. No tempo do nascimento até os doze anos a criança encontra-se na fase da infância, na qual são ampliados conhecimentos sobre o mundo, bem como a sua ludicidade, nesta fase são divididas em três períodos: primeira infância (0-3 anos) a criança desenvolve a fala e a compreensão, há grande apego aos pais, segunda infância (3-6 anos) algumas habilidades começam a aparecer como a independência e a coordenação motora, as brincadeiras tornam-se mais criativas, a criança torna-se egocêntrica, e a terceira infância (6-12 anos) o egocentrismo diminui e sua autoimagem constitui-se, há mais pensamentos lógicos e a expressão linguística expande-se.

A inserção concreta das crianças e seus papéis variam com as formas de organização da sociedade. Assim, a ideia de infância não existiu sempre e da mesma maneira. Ao contrário, a noção de infância surgiu com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudavam a inserção e o papel social da criança na sua comunidade. (KRAMER, 2006, p. 14)

Durante a infância é imprescindível o desenvolvimento/descoberta da imaginação, criação e da fantasia, englobando sempre o que ela presencia, seja ela de forma física ou virtual. Heywood (2004) traz a concepção de que infância possui diferentes contextos, as quais são caracterizadas por um processo dialético, envolvendo fatores políticos, sociais e econômicos que influenciam nas transformações dos entendimentos sobre infância, considerando os contextos e lugares diferentes. Este período pode ser vista ainda como uma forma de preparar

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20 a criança para a fase adulta, na qual a criança vai constituindo saberes morais e éticos, dentro da sua cultura como seres humanos.

A criança é um sujeito sócio histórico participante de uma estrutura familiar que ainda não chegou a puberdade, estando na faixa etária de até doze anos de idade, que a tão pouco tempo passou a ser reconhecido como diferente do ser humano adulto. A criança está ligada ao tempo de infância e neste período ela necessita desenvolver-se em inúmeros aspectos, até que ela se identifique como sujeito brincante. Para isto ela precisa de espaços e incentivos que favoreçam a ampliação do conhecimento, sendo que os lugares em que mais é visível este processo é em âmbito familiar e escolar.

A construção de seu conhecimento sobre o mundo ocorre de forma lúdica, transformando o real com suas fantasias e sua imaginação, desenvolvendo sua motricidade, seu lado emocional e cognitivo, bem como suas expressões linguísticas. As interações que as crianças passam a ter com as demais e adultos, vão desenvolvendo a capacidade afetiva, a sensibilidade e autoestima, o raciocínio, o pensamento e linguagem. Estes momentos proporcionam o interesse/curiosidade para aprofundar e buscar pela criatividade de cada indivíduo, ampliando os campos cognitivos, sociais e motores.

A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. [...] As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. (BRASIL, 1998, p. 21)

Para Cohn (2005), a criança como ser atuante possui papel ativo na sociedade se relacionando com os mais diversos sujeitos, levando em consideração que ela não é um adulto em miniatura, que está em um sistema de relações sociais que se estruturam e efetivem-se sendo manobras. Os papeis na sociedade se caracterizam-se de formas diferentes considerando essas manobras, na qual elas se constituem a partir da diferenciação dos laços entre a criança e a sociedade. Por tanto as relações sociais que a criança cria tem que ser praticadas e cultivadas, como crianças se trocarem presentes que pode ser uma brincadeira ou um significado mais aprofundado interfere futuramente nas suas relações sociais.

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21 As interações com outras crianças, por meio de brincadeiras e jogos com diferentes sujeitos, acabam por constituir seus próprios papéis e identidades, a cultura forma o comportamento humano. Essas aprendizagens são instigadas por situações que estão ao redor da criança, na qual a sua atuação depende do meio externo perante novas experiências, essa aquisição de conhecimento só acontecerá se houver relações sociais de caráter imediato. Por tanto a criança aprende com a sociedade, e se educa conforme vivência experiências, pela cultura e pelos costumes que tem que ser seguidos, distendendo de saberes que serão ampliados e complexificações ao longo da vida.

Criança em seu tempo de infância não desenvolve-se simplesmente, ela tem o auxílio da educação na qual a criança em meio um espaço educacional possui a oportunidade de buscar cada vez mais por seus objetivos, na qual faz referência ao processo de ensino-aprendizagem, sendo exercido em vários espaços sociais. É na educação que ocorre o desenvolvimento absoluto do indivíduo: emoções, pensamentos, mente, corpo, espírito, saúde, entre outros; mas tudo em favor da pessoa em si, em serviço da sua interpretação e autonomia, não deixando da busca pela sua inclusão harmoniosa e positiva com o meio social. Gadotti (2000) acrescenta que a educação tem que ser tão ampla quanto a vida, na qual a escola preocupe-se em formar cidadãos para a felicidade e para a paz, em vez de competitividade.

As culturas infantis se caracterizam pelas inúmeras manifestações peculiares das crianças, a sociedade proporciona as relações sociais e elas reagem conforme as interpretações realizadas. Os momentos do cotidiano permite que as crianças se localizem como seres ativos dentro da sociedade, porém há ainda muita padronização da onde é o lugar de cada criança para “preservar” a sua identidade. Essa privatização gera novas interpretações do que elas estão vivendo e como tudo funciona, as relações que seus pais têm e produzem sobre a visão da criança interfere em como ela irá se comportar.

As culturas da infância exprimem a cultura societal em que se inserem, mas fazem-no de modo distinto das culturas adultas, ao mesmo tempo que veiculam formas especificamente infantis de inteligibilidade, representação e simbolização do mundo. [...] Neste sentido há uma “universalidade” das culturas infantis que ultrapassa consideravelmente os limites da inserção cultural local de cada criança. (SARMENTO, 2003, p. 12)

Conforme as informações e conhecimentos que elas recebem da sociedade bem como suas interpretações as crianças acabam criando a sua própria cultura, reelaborando suas vivências, recriando situações presenciadas. Essa multiculturalidade proporciona a criança

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22 momentos de sociabilidade na qual estes desenvolvem a participação social, a cidadania e a autonomia para a coesão social e suas disputas e trocas culturais. Assim estas culturas desenvolvem e determinam maneiras especificas de comunicação entre crianças e adultos, dentre as mais diversas gerações, não afetando a formação de sua identidade em fatores cognitivos e comportamentais.

A sociedade em que as crianças estão inseridas possibilita o contato com realidades diferentes, na qual vão aprendendo e se adaptando conforme as situações do contexto social, cultural e histórico. Essas relações são de intensa interatividade com os sujeitos de conhecimento, na qual diante dos mais diferentes aspectos da sociedade atual que através de vivencias na sua rotina aprendem a lidar com situações de fantasias, medos, alegrias, frustrações, entre outros. Deste modo a criança reitera a criatividade sobre as experiências de vida, do seu jeito particular, desenvolvendo uma identidade cultural própria da infância.

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3. COMO A CRIANÇA PRODUZ CULTURA A PARTIR

DA TECNOLOGIA?

O mundo globalizado em que vivemos atualmente é repleto de inúmeras transformações, e uma desta é a aproximação da conexão com aparelhos tecnológicos que trazem os mais variados conteúdos informativos e de entretenimento. Analisando que as questões tecnológicas são recentes a antropologia permite que seja realizado uma aprofunda pesquisa analítica sobre a realidade de anos atrás em comparação com o cotidiano atual. Percebendo assim que com as grandes descobertas e criações científicas através da tecnologia possibilitou-se o nascimento de uma nova cultura, a cibercultura, diferente daquela que faz referência ao nosso modo de vida regrado, esta transformou os meios de comunicação permitindo à acessível mobilidade aos sujeitos. Deste modo ela possibilita o desenvolvimento de funções cognitivas como a memória, a imaginação, a percepção e o raciocínio.

Com a utilização em massa da tecnologia atualmente, ela se tornou uma ferramenta indispensável no cotidiano das pessoas, interligando-os das mais diferentes maneiras. Os avanços tecnológicos cada vez mais bem desenvolvidos atinge todas as pessoas do mundo, pois tudo que está a nossa volta foi construído por uma máquina que foi projetada por um instrumento tecnológico. Esta busca cada vez mais espaço na vida das pessoas, seja por um celular de última geração ou uma televisão com conversor digital, porém nem sempre ela é bem aceita, principalmente pelas pessoas mais velhas que nasceram sem ter acesso à tecnologia.

(...) a introdução da informação e das tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a Internet, permite às redes exercer sua flexibilidade e adaptabilidade, e afirmar assim sua natureza revolucionária. Ao mesmo tempo, essas tecnologias permitem a coordenação de tarefas e a administração da complexidade. Isso resulta numa combinação sem precedentes de flexibilidade e desempenho de tarefa, de tomada de decisão coordenada e execução descentralizada, de expressão individualizada e comunicação global, horizontal, que fornece uma forma organizacional superior para a ação humana. (CASTELLS, 2003, p. 8)

Conforme Levy cibercultura é o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (1999, p. 17). Ou seja, a cibercultura é uma transformação da cultura atual interligado à tecnologia, fundamentada à maneira que há à ampliação do uso e

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24 do acesso das tecnologias perante a sociedade. Esta tecnologia nos permite novas possibilidades de interação com os mais diferenciados lugares do mundo além de poder desfrutar dos mais variados sistemas e sites de informação.

A utilização deste material tecnológico dentro das escolas pode ser desenvolvida como metodologia de ensino ou, também, como um “passa tempo” durante as aulas, ressaltando que em sala de aula as crianças fazem o reaproveitamento de objetos digitais em desuso ou não em suas brincadeiras. Com as novas gerações de crianças já nascem conectadas com o mundo digital e o manuseio de qualquer instrumento tecnológico é desenvolvido com grande facilidade, seja ele para assistir a desenhos ou para jogar em aplicativos. Com isto o professor tem que aliar essa ferramenta tecnológica a favor da educação no processo de ensino-aprendizagem dos seus alunos estimulando-os por um instrumento simples e prazeroso.

A tecnologia refere-se a uma ferramenta de uso prático para a busca dos mais variados conhecimentos, seja científico ou não, interferindo nas relações pessoais positiva ou negativamente, na qual resulta em experiências básicas que irão interferir no desenvolvimento pessoal. Além disso, a sua presença desde a Revolução Industrial vem facilitando e modernizando ações diferenciadas aos campos contextualizados da mobilidade, da pesquisa, da escrita, da leitura, entre outros; tornando-se indispensável atualmente.

Esse instrumento proporciona aos professores a investigação de novidades para a sala de aula, além de facilitar a organização de seus materiais didáticos, como planejamentos, e descobrindo novas maneiras de expor o assunto vinculado às ações externas. E para os alunos, a tecnologia aproxima-os de comunicação, de interação, de materiais educativos principalmente aos nativos digitais3, ou seja, aqueles que já nascem com o domínio e tem naturalidade ao interagir com recursos tecnológicos. Assim sendo, há um maior envolvimento entre professores e alunos tornando esse instrumento um aliado à aprendizagem de ambos dentro ou fora da sala de aula.

A inclusão da tecnologia na educação vem remetendo a inúmeros debates sobre a sua utilização dentro das instituições escolas sobre professores tradicionais, aqueles que não buscam inovar suas aulas. Contudo sabemos que essa ferramenta pode ser de grande valia para

3 Conforme Palfrey e Gasser (2011) nativos digitais são aqueles que nasceram despois de 1980 e que receberam

estímulos modais diferente das gerações anteriores, obtendo habilidades para a utilização das novas tecnologias, além de possuírem relações sociais hiperconectadas; já os imigrantes digitais são aqueles que nasceram antes de 1980 que passaram por um processo de adaptação das novas linguagens e de interação com os nativos digitais, bem como a apropriação dos conceitos tecnológicos.

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25 a contribuição na pesquisa, na organização e no repensar em torno das práticas educacionais pedagógicas já existentes. Porém, o maior desafio para os professores tradicionais é desmistificar o ensino tradicional para uma nova metodologia de ensino repleto de inovações utilizando a tecnologia como ferramenta de aprendizagem.

Nas salas de aula, normalmente, há aparelhos de DVD ou rádio que foram implantados para a aprendizagem das crianças pelo som ou pela imagem, despertando a curiosidade e a comunicação, sendo que esses aparelhos foram inclusos recentemente na educação. E com isso professores desfrutam minuciosamente essa tecnologia e outros esbanjam-na utilizando de todas as formas possíveis voltado ou não para a aprendizagem. Mas a nova geração de crianças que estão nascendo e os novos docentes que estão se formando necessitam saber como utilizar esse instrumento de forma moderada e prazerosa, não tornando-se monótona, com isso afirma Rosado (2006, p. 5) que “o avanço das tecnologias transforma cada vez mais o dia-a-dia das crianças e adolescentes, sendo que estes desenvolvem importante capacidade de relacionar-se intimamente com mídias digitais e com o ritmo veloz da era da informação”, ou seja, a tecnologia afeta diferentemente cada indivíduo, transformando-o conforme as experiências e as necessidades de interação.

O desejo de estar conectado a um aparelho celular/tablet em qualquer ambiente que esteja, tanto do professor quanto do aluno, requer atenção quanto ao seu uso, na qual a mídia estimula/seduz, principalmente as crianças, à acomodação e o vício em aparelhos tecnológicos. Apesar dos benefícios, há necessidade de repensar a influência da internet e das novas tecnologias em nossa cultura, conscientes de seus pontos fortes e limitações, como a falta ou a precariedade de acesso à rede. E o professor, de certa forma, também é um estimulador/exemplo, uma vez que manuseia o celular em sala de aula na frente de seus alunos, estará abrindo portas para que eles também façam o uso do mesmo.

Perante o mundo tecnológico, brinquedos já não são mais construídos em casa com tecidos, botões, garrafas pets, entre outros, e se tornou mais fácil compra-lo, pois já está pronto e não dá trabalho. Mesmo que a essência da produção do brinquedo tenha sido deixado de lado, os brinquedos tecnológicos aproximam cada vez mais as crianças, é um momento em que todas que estão ao redor querem manusear, visualizar o que aquela ferramenta possui, se é um jogo ou um filme, estimulando à divisão e o esperar a sua vez. Cada vez há mais brinquedos novos e mais tecnológicos sendo desenvolvidos, que também permitem a construção porém nem todos possuem valor acessível para a compra deste, como por exemplo a Lego que lançou a Lego

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26 Education que possui peças que quando conectadas podem ser controladas por aplicativo, bem como o Minecraft que é um jogo virtual que pode haver a interação com demais jogadores, havendo como ferramenta apenas o celular/tablet.

O processo criativo, tão incentivado no passado por meio das brincadeiras e brinquedos que eram, muitas vezes, desenvolvidos e fabricados, inclusive, pelas próprias crianças, deu lugar aos objetos desenvolvidos industrial e esteticamente para atrair o alto consumo (CAMPOS & MELLO, 2010, p. 22).

Quando não há mais como utilizar um aparelho tecnológico este é descartado e possibilitado que a criança possa brincar e ter maior contato físico, e dentro da sala de aula pode ser visualizado que esses instrumentos são diariamente utilizados. Apesar de não estarem funcionando a criança potencializa o brinquedo com a sua imaginação e faz com que a sua brincadeira tenha aspectos sociais próximos da sua realidade, além de haver crianças que são instigadas a desmontar e conhecer as peças que o fazem funcionar, para tentar uma nova recriação. Então mesmo que este aparelho esteja ou não funcionando a criança vai continuar a ter o contato com a tecnologia e construindo diferentes pensamentos para o desenvolvimento de sua imaginação, equilibrando a brincadeira tradicional e a digital.

Com a preferência das crianças voltada sobre os brinquedos/ferramentas comprados, o consumo tem crescido cada vez mais, pois cada dia há um novo produto a ser vendido, e há uma família fazendo a compra do mesmo. E com as crianças participando de escolas levarão novidades aos seus colegas incentivando-os à compra do mesmo, porém neste momento o professor necessita estar consciente que não são todos seus alunos que terão condições financeiras para comprar o mesmo brinquedo. Com isso o professor tem que instigar seus alunos à criação de brinquedos para os momentos de recreação, podendo buscar com seus alunos como fazer a confecção por um instrumento tecnológico, o computador.

Esta busca não pode ser feita de forma isolada, ela tem que proporcionar que o aluno possa fazer a sua busca ou o professor pode apresentar as mais variadas ideias a partir da instalação na sala de aula de um projetor multimídia. Um instrumento diferente na sala de aula já faz a diferença, pois é novidade; esta transforma a interação das crianças, a qual o professor tem que instiga-los e permitir que eles façam novas descobertas. As crianças dificilmente irão se interessar por uma simples garrafa pet, mas no momento em que demonstrações e imagens

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27 são postas à sua frente, fará com que toda a sua atenção e imaginação esteja voltado para aquele objeto.

O domínio do professor deve se concentrar no campo crítico e pedagógico, pois assim ele evita ser vítima de imposição tecnológica na sala de aula, e pode ter a opção de integrar ou não a tecnologia em seu currículo, de acordo com os objetivos e competências a serem desenvolvidos, e ainda escolher o momento apropriado para fazê-lo. O professor não pode perder a dimensão pedagógica (LEITE, 2010, p. 16).

O professor utiliza a tecnologia para realizar pesquisas sobre assuntos a serem tratados na sala de aula aprofundando seus conhecimentos científicos para a descrição de seu projeto e de novas atividades a serem desenvolvidas durante a interação com seus alunos. Neste momento o professor tem que ser cuidadoso ao expor as informações, apresentando-as de forma coerente e estar preparado para o turbilhão de questionamentos. Toda via há uma grande necessidade de realizar escolhas criteriosas sobre os assuntos, materiais e falas a serem realizadas para não haver constrangimento entre professor/aluno.

Com as novidades tecnológicas perante a nova geração, os objetos e jogos físicos ou virtuais tecnológicos devem ser vistos como artefatos da cultura da criança contemporânea. A criança como ser social e comunicativa é produtora de cultura, construindo novos significados e constituindo novos saberes, valores, expressões, entre outros. Com a diferenciação do adulto e da criança é possível realizar uma reflexão sobre suas relações devido aos diferentes contextos que os rodeiam permitindo voz a todos, além da criança desenvolver a sua própria linguagem configurando a sua própria cultura.

A criança está englobada em uma cultura que a sociedade adulta produz e que a criança ao longo do tempo a recria produzindo uma cultura própria. No início de seu desenvolvimento cognitivo, as crianças interpretam as situações vividas de diferentes formas, explorando-as como muitas vezes o adulto não à visualiza. Com isto, a autora Cohn (2005) apontou em seu livro Antropologia da Criança, na qual ela fundamenta em sua análise que:

[...] os significados elaborados pelas crianças são qualitativamente diferentes dos adultos, sem por isso serem menos elaborados ou errôneos e parciais. Elas não entendem menos, mas, como afirma, explicitam que os adultos também sabem mas não expressam. (p. 34)

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28 Ou seja, o processo de interpretação de cada criança e de cada adulto é desenvolvido de maneiras diferentes, sendo manifestadas pelos comportamentos, hábitos, linguagens, entre outros. E Corsaro (2002, p. 114) afirma que a criança obtém informações de maneira criativa produzindo a cultura de pares, e conforme é adquirido conhecimento esses pares vão se completando/ampliando para serem melhor compreendidos diante à reprodução da cultura adulta. Sendo assim, é por meio das interações e vivências que elas possuem, seja com demais crianças, adultos, ou até mesmo com a tecnologia, o sujeito-criança aprimora essas culturas pares ampliando o conhecimento adequado para a participação ativa na sociedade, desta maneira a criança não é apenas receptora de cultura, mas também uma produtora que reflete sobre a sociedade, na qual elas possuem a autonomia de expressão.

A produção de cultura também ocorre pela tecnologia a qual a criança, atualmente, está em constante contato, se expressando a partir daquilo que ela está experenciando com o artefato tecnológico. E com a facilidade que as crianças possuem de aprender conforme os aplicativos de jogos elas desenvolvem habilidades de raciocínio lógico e também motora fina devido aos movimentos da mão realizados. Além disso muitas crianças hoje ensinam os seus familiares mais velhos a manusearem aparelhos tecnológicos, sendo assim uma transmissão de conhecimento da cultura tecnológica que esta criança produziu e aprendeu.

Com isso, Cohn retrata que a aprendizagem das crianças são diferenciadas e interpretam o mundo como elas veem e vão adquirindo os significados conforme suas vivencias, tornando a tecnologia um grande aliado e articulador para o seu desenvolvimento. A criança sendo ativa dentro da sociedade traz oportunidades de conhecimento para sujeitos que possuem dificuldades de manusear os aparelhos, pois as crianças desde muito cedo desenvolvem habilidades para a utilização das mesmas. Bem como, para apontar como a tecnologia tem transformado qualitativamente as relações culturais fez-se necessário a realização de um estudo de caso.

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4. UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA EM ÂMBITO

FAMILIAR: ESTUDO DE CASO

O estudo de caso foi realizado com uma criança do sexo masculino que possui seis anos de idade, frequenta o 1º ano do Ensino Fundamental, mora com seus pais e tem uma irmã mais velha que não reside na mesma casa. As observações ocorreram em âmbito familiar no período de 24/09/18 até o dia 07/11/18, na qual as anotações foram escritas em um diário de campo, focando na utilização da tecnologia pela criança, bem como seu tempo de uso, as reações, e o que estava visualizando no aparelho. A metodologia utilizada teve um viés etnográfico e consistiu na realização de observações e levantamento de coleta de dados, e para isto foi utilizado um diário de campo que é um instrumento que possibilita registrar a pesquisa sendo vista como material de descrição de dados voltado para determinado estudo. Segundo Falkembach (1987):

[...] O diário de campo consiste no registro completo e preciso das observações dos fatos concretos, acontecimentos, relações verificadas, experiências pessoais do profissional/investigador, suas reflexões e comentários. O diário de campo facilita criar o hábito de observar, descrever e refletir com atenção os acontecimentos do dia de trabalho, por essa condição ele é considerado um dos principais instrumentos científicos de observação e registro e ainda, uma importante fonte de informação para uma equipe de trabalho. Os fatos devem ser registrados no diário o quanto antes após o observado para garantir a fidedignidade do que se observa [...]

A escolha por essa família se deu por eu ser a irmã mais velha e pela facilidade de realizar as observações, levando em consideração a proximidade física e o conhecimento prévio da criança, o que foi relevante para a realização de uma adequada pesquisa de viés antropológico. Quando fui apresentada à criança, foi em um momento quando estava almoçando, ele não queria comer, então sua mãe disse “ela vai observar o teu comportamento e contar tudo pro professor dela, ainda mais se você não comer e desobedecer” a criança logo reagiu de forma negativa dizendo “eu não quero que ela me observe”, e logo pôs-se a comer. No início das observações contraiu catapora, então foram dez dias somente em casa, neste período pode ser destacado um momento em que ele estava com o colchão no chão com a televisão ligada em um desenho e jogando joguinho de pintura no celular, a atenção estava bem

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30 dividida neste momento. Como tinha que tomar cuidado com a catapora ele não podia sair muito para fora de casa.

Pode ser observado que o menino possui uma rotina em casa: de manhã ele acorda, vai ao banheiro e liga a televisão na Netflix em algum desenho enquanto espera que sua mãe lhe ofereça o café da manhã, conforme está a sua concentração com a televisão mantém-na ligada e pega o tablet ou o celular para jogar joguinhos, ao meio dia almoça olhando televisão, à tarde vai para a escola, quando volta fica junto com seus pais para fora de casa acompanhando o cuidar com os animais rurais (entre 10 e 30 min), logo que entra em casa se conecta à algum aparelho e assim permanece, até a hora de seus pais entram em casa. Conforme observado, a criança utiliza bastante instrumentos tecnológicos, como o tablet, a televisão e o celular de sua mãe, os seus pais durante o dia não se preocupam muito em questões de tempo em que ele está utilizando, mas à noite há um maior cuidado, pois ele não dorme bem.

O menino utiliza esses instrumentos como uma forma não só de entretimento, mas também como companhia para não se sentir sozinho, e como, de certa forma, ele passa grande parte do dia “sozinho” há a necessidade de comunicação, buscando interagir verbalmente de alguma maneira com os próprios aparelhos eletrônicos. A maior dificuldade visualizada é o momento em que seus pais pedem para ele entregar o celular, ou colocar o canal da televisão nos noticiários, normalmente ele rege agressivo, fazendo “cara feia” e resmungando, em um desses momentos já teve que ser retirado das próprias mãos dele o aparelho; controle remoto, celular ou tablet.

Ao utilizar o celular a criança joga um jogo de fazenda, na qual ele tem que plantar, colher, trocar os animais de lugar, podendo ainda comprar máquinas para trabalhar nas plantações, é notável o gosto e interesse que ele possui, interage perguntando aos pais os valores das máquinas e em alguns momentos quando lhe é pedido para fazer algo ele diz “agora eu não posso, “tô” trabalhado” (anexo 1). Quando ele fica um tempo excessivo ele torna-se uma criança braba, agitada e teimosa, fazendo com que seus pais respondam da mesma maneira. Sempre que ele se encontra com o seu avô ele pede o celular, que também possui jogos que ele fez o download, ele trata o seu avô como se fosse um protetor, pois quando alguém briga com ele, prontamente se aninha no colo do avô.

Jogos no tablet durante a minha observação não faltaram, a aproximadamente 20min o menino trocava de jogo, até que começou a travar o aparelho e ele não pode mais usar, sua mãe

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31 logo disse que tinha que formatar, e explicou que teria que ser apagado todos os jogos. O menino prontamente pegou um papel e uma caneta “eu vou anotar todos os jogos pra baixar depois... tem 16”, sua irmã interviu e disse que para não travar podia deixa no máximo cinco jogos, ele concordou. No tempo de observação foram apenas dois dias em que a criança não teve muito interesse em algum instrumento tecnológico, e ao final desta tive a notícia que ele estaria de castigo e que só poderia assistir televisão.

Com esta privação dificilmente ele lembrava de pedir o celular ou o tablet para jogar, ficando totalmente concentrado nos filmes da televisão (anexo 2), e de certa forma, descobriu novos/diferentes filmes, iniciando até a série Flash o qual gostou, mostrando um comportamento mais calmo do que era antes, as brigas não eram mais por qualquer motivo, e sua mãe adquiriu uma tabela do comportamento, na qual ganhava um certo quando realizava o que lhe era pedido, senão recebia um “x”. Quando ele voltou a ter acesso aos demais aparelhos pode ser percebido que ele voltou a ser mais agressivo, não querendo sair muito de casa, e não realizando as tarefas solicitadas, na qual a tabela de sua mãe recebeu muito mais sinais negativos do que positivos, voltando à rotina de as brigas e teimosias. Observando, assim, o quanto a tecnologia no cotidiano desta criança interfere em relação ao comportamento emocional, prejudicando a interação familiar, como cita Tiba:

A criança que desrespeita o “não” da mãe ou do pai tende a desrespeitar o “não” de outras pessoas. Além do mais, desenvolve a incapacidade de se controlar, isto é, não consegue dizer “não’ a si mesma. A criança que costuma desacatar o “não” torna-se voluntariosa, impulsiva, instável, imediatista e intolerante, prejudicando os outros e também a si própria. Sua personalidade fica tão frágil que não suporta ser contrariada. Daí insistir, teimar, fazer birras e chantagens para conseguir o que quer. (2007, p. 258-259)

Bem como em uma das conversas com os seus pais eles disseram:

“Esses dias perguntei por que ele é tão revoltado, ele tava no sofá e começou a chorar dizendo que queria um maninho, acho que ele sente falta de ter uma criança.” (mãe) “Ele andou se queixando que tão batendo nele na escola, tem que ir lá ver o que realmente está acontecendo pois o Pedro e Gabriel4 estão batendo nele, ele não é

santo, se for preciso tem que ir na casa dos pais dele conversar” (pai)

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32 Essa criança utiliza a tecnologia como um refúgio, na qual ela se permite ser e fazer o que ela quiser, levando para a realidade social tal agressividade que não é reconhecida em seus jogos, pois seus pais não permitem esses jogos devido a ele já ser agressivo desta forma. Mas essa agressividade pode ser resultado dele estar se sentindo “sozinho”, à noite quando seus pais entram em casa normalmente estão cansados, e ele busca por essa atenção apresentando esses atos de revolta. Mesmo os pais reconhecendo que ele se sente sozinho e essa agressividade não é tomado nenhuma providência relacionado à pôr-se no lugar da criança e perceber o que está faltando para poder reduzir essa brabeza.

Além desses aparelhos tecnológicos serem um refúgio para a criança, ele se torna também para os pais uma forma de que a criança mantenha-se entretida para que eles possam descansar, conversar, assistir os noticiários, entre outros. Portanto vê-se a necessidade dos pais dedicarem um tempo somente para a criança, na qual eles possam brincar, ajudar com os temas da escola, conversar, dando total atenção para ele, evitando que o mesmo manifeste atitudes agressivas para conseguir o olhar dos pais. Muitas vezes os pais não percebem a necessidade de estarem “para o” filho, e não “com” o filho, pois mesmo que eles estejam presente “com” ele em determinado momento, a interação “para” ele é fundamental para desenvolver a comunicação familiar.

A falta de comunicação que persiste entre os pais e a criança, faz com que este sinta-se cada vez mais autônomo e “autoritário”, pois não respeitando seus pais, ele toma a liberdade de fazer o que quiser, a qual muitas vezes seus pais não impõem-se para contrariá-lo, ou apenas ameaçam-no de tirar o tablet ou o celular; como não passam de ameaças ele mantem suas atitudes. Com isto, pode-se afirmar que a criança é dependente da tecnologia na qual suas reações/emoções dependem do que ela vivencia diante dos aparelhos tecnológicos fazendo com que ela se torne agressiva e autoritária. Essa dependência acaba prejudicando a relação familiar, influenciando sua permanência diante de telas, bem como o seu desenvolvimento cognitivo.

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