HABEAS CORPUS
Art. 50, LXVIII, CF/88 — tutela constitucional da liberdade de locomoção Introdução.
Habeas corpus ——— tome o corpo (Tome o corpo do delito e venha submeter ao Tribunal o homem e o caso)
A submissão do paciente à presença do juiz constitui muitas vezes, meio eficaz de verificar— se a existência de coação e fazer cessá-la.
No sistema brasileiro a expressão habeas corpus passou a significar a ordem de liberação da pessoa submetida a ilegal constrangimento da liberdade física. Conceito.
Ação constitucjonal de caráter penal e procedimento especial isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência ou ameaça a liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.
Finalidade (objetivo).
Proteger (garantir) a liberdade de locomoção do indivíduo, ou seja, o seu direito de ir e vir.
Natureza Jurídica.
Trata-se de ação popular constitucional de caráter penal voltada à proteção do direito de liberdade de locomoção.
Obs. Apesar de ser uma ação constitucional, o habeas corpus algumas vezes exerce função de caráter recursal, ocasionando a revisão da decisão contra a qual foi impetrado.
Ex. habeas corpus concedido para reformar decisão que indeferiu pedido de liberdade provisória ou de revogação de prisão preventiva.
Espécies de Habeas corpus.
Nosso ordenamento jurídico prevê duas espécies. A) Habeas corpus — PREVENTIVO:
É aquele utilizado no caso de simples ameaça na liberdade de locomoção, desde que haja fundado receio de que se consume (busca um salvo conduto);
B) Habeas corpus - REPRESSIVO:
É utilizado depois que já houve a violência ou coação à liberdade de locomoção (busca libertar o indivíduo (paciente), ou seja, restabelecer sua liberdade de locomoção.
Cabimento.
A Constituição Federal autoriza Habeas corpus sempre que houver ilegalidade ou abuso de poder.
A) ILEGALIDADE --- quando qualquer conduta do Poder Público viole a lei. B) ABUSO DE PODER --- ocorre quando a autoridade, no exercício da sua atividade, exorbita os limites legais (vai além de sua competência)
Ver enumeração exemplificativa do art. 648, CPP. 1 — Quando não houver justa causa;
II — Quando alguém estiver preso por mais tempo que a lei determina; III — Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê—lo;
IV — quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V — quando não for alguém admitido a prestar fiança nos casos em que a lei a autoriza;
VI — quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade.
Legitimação ativa (quem está autorizado a utilizar o habeas czorpus) - Qualquer pessoa do povo pode utilizar—se do
habeas corpus;
- A legitimidade ativa do habeas corpus é ampla;
- Não exige capacidade civil e capacidade postulatória para impetrá-lo;
- Não se exige, também, requisitos relativos à cidadania, pois se trata de procedimento informal.
- pode impetrar habeas corpus o analfabeto; o estrangeiro; a pessoa jurídica; o Ministério Público ou qualquer do povo.
- denomina—se impetrante a pessoa que ajuíza o pedido de habeas corpus; e paciente a pessoa em favor de quem se impetrou a ordem (deve ser pessoa física)
Obs. O juiz de direito não poderá, nessa qualidade, impetrar habeas corpus já que o órgão jurisdicional é inerte, podendo, no entanto, conceder a ordem de ofício nos processo em que atue.
Legitimidade Passiva (vinculada com as condições pelas quais ele pode ser exercitado).
— é sempre a autoridade coatara (coator) — o habeas corpus dever ser impetrado contra aquele que exerce a violênciar coação ou ameaça a
liberdade de locomoção do individuo (arL654,1°,”a”,CPP)
- Autoridade coatara — é a autoridade vinculada ao Poder Público e que exercita a ilegalidade ou abuso de poder
— Excepcionalmente um particular pode figurar no pólo passivo do habeas corpus — Ex. diretor de um hospital que se recusa a liberar um paciente. A jurisprudência tem admitido habeas corpus pela sua celeridade. Nesse caso não se trata de abuso de poder porque o diretor não tem poder—competência, mas se trata de ilegalidade.
- Não cabe habeas corpus em relação a punições disciplinares militares (art. 142,2°,CF/88), exceção que a própria Constituição Federal estabelece. As exceções relativas aos direitos e garantias fundamentais devem ser previstas na Própria Constituição Federal.
Competência.
O primeiro critério norteador da competência é o da territorialidade. É competente para julgar pedido de habeas corpus o juiz em cujos limites de jurisdição estiver ocorrendo a coação.
Ex.l — Juiz de primeiro grau julgará habeas corpus em que figurar como autoridade coatara Delegado de Polícia
Ex.2 — O Tribunal de Justiça julgará habeas corpus em que figurar como autoridade coatora Juiz de Direjto ou Promotor de Justiça; au. 650, §10, CPP — critério de hierarquia.
Ex.3 — O Tribunal regional Federal julgará habeas corpus em que figurar como autoridade coatora Juiz Federal ou Procurador da República;
x.4 — O Superior Tribunal de Justiça julgará habeas corpus nos casos previstos no art. 105, ifi, “c”, da
CF/88;
Ex.5 — O Supremo Tribunal Federal julgará habeas corpus nos casos previstos no art 102, 1, “d”, da CF188 e, ainda, nos casos do art.102,I,”i”,daCF/88;
Obs. Segundo a Simu1a 690 do STF — “compete originaramente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais.
Efeitos do Habeas corpus.
Se concedida a ordem de habeas corpus, determinarse-á a imediata soltura do paciente, se estiver preso. Caso se cuide de pedido preventivo, será expedido o salvo—conduto.
Se o HC for para anulação de processo ou trancamento de inquérito ou processo, será expedida a ordem nesse sentido, em caso de concessão.
Quando não houver concessão, diz—se que a ordem foi denegada.
Se for constatado que a violência ou ameaça à liberdade de locomoção já havia cessado por ocasião do julgamento, o pedido será julgado prejudicado –
Da decisão de primeiro grau que concede ou denega a ordem de habeas corpus cabe recurso em sentido estrito (art.581,X,CPP)
Se concedida a ordem, a revisão por instância superior é obrigatória (recursodeofício-art.574,I,CPP)
Da Liminar em Habeas Corpus
A liminar em Habeas Corpus não tem previsão legal, sendo criação de nossa jurisprudência nos casos em que a urgência esteja evidenciada prima facie, indiscutível.
A liminar funciona da seguinte forma:
— se, ao receber o pedido de liberdade contido no (HC), o relator entender que de forma
inquestionável, indubitável, estão ausentes os pressupostas da prisão, ou pela ilegalidade na prisão ou da manutenção desta, pode determinar imediatamente a soltura do réu preso.
Imediatamente implica em não seguir todo o rito processual do }IC (informações da Autoridade Coatora, Ministério Público, espera pelo julgamento), mas primeiro determinar a soltura do preso, para depois cumprir o rito acima descrito.
Aproveitemos à lição do Jurista ALBERTO SILVA FRANCO:
“É evidente, assim, que apesar da tramitação mais acelerada do remédio constitucional, em confronto com as ações previstas no ordenamento processual penal, o direito de liberdade do cidadão é passível de sofrer flagrante coação ilegal e abusiva. Para obviar tal situação é que, numa linha lógica inafastável, foi sendo construído, pretoriamente, em nível de habeas corpus, o instituto da liminar, tomado de empréstimo do mandado de segurança, que é dele irmão gêmeo. A liminar, em habeas corpus, tem o mesmo caráter de medida de cautela, que lhe é atribuída do mandado de segurança.” (‘Medida Liminar em Habeas Coipus”, ALBERTO SILVA
FRANCO, Revista Brasileira de Ciências Criminais, Ed Revista dos Tribunais, número especial de lançamento)
DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR
A medida ora pleiteada comporta prestação preliminar, o que desde já se requer, eis que presente todos os pressupostos necessários para o deferimento mesma. A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra—se devidamente caracterizada na presente. O fumus boni luris foi devidamente demonstrado pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à colação e a incidência do periculum in mora reside no fato de que grave prejuízo moral e psicológico poderá sofrer o paciente, cidadão trabalhador e cumpridor de seus deveres, se mantido no convívio com outros detentos já integrados à vida criminosa.
Observações finais.
1) Não é obrigatória a intervenção do Ministério Público no procedimento de primeira instância. Deve o órgão ministerial, no entanto, ser intimado da decisão, seja ela concessiva ou denegatória, para que, querendo, dela recorra. 2) A Súmula 691 STF --- “não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar”.