• Nenhum resultado encontrado

O sequestro do intelecto negro no Brasil oitocentista

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O sequestro do intelecto negro no Brasil oitocentista"

Copied!
58
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO N O R T E ^ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESL/ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA^

fá SEQÜESTROybO INTELECTO NEGRO NO BRASIL OITOCENTISTA.

CÍCERO COSTA RODRIGUES DOS SANTOS.

NATAL/RN. 2008.2

(2)

CÍCERO COSTA RODRIGUES DOS SANTOS.

O/SEQÜESTRd DO INTELECTO NEGRO NO BRASIL OITOCENTISTA.

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do norte, sob orientação da ProfL Drâ Julie A. Cavignac, como 'Critério de obtenção do título de

Licenciado e Bacharel em História.

NATAL/RN 2008.2

(3)

DO INTELECTO NEGRO NO BRASIL OITOCENTISTA.

CÍCERO COSTA RODRIGUES DOS SANTOS.

Monografia defendida e aprovada em / / pela banca examinadora constituída pelos professores:

Prof1 Di4 Julie A. Cavignac- Orientadora

Prof. Dr. Almir Bueno - Membro

(4)

CÍCERO COSTA RODRIGUES DOS SANTOS.

SEQÜESTRO DO INTELECTO NEGRO NO BRASIL OITOCENTISTA.

v "Há homens que lutam um dia e \ são bons

Há outros que lutam um ano e são melhores

Há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons

Mas há os que lutam por toda a vida

. Esses são imprescindíveis". Bertolt Brecht.

(5)

AGRADECIMENTOS

Dedico este meu primeiro trabalho á minha querida mãe e dedicados mestres, com o » intuito de prestar-lhes uma homenagem justa, pelo muito que contribuíram aquela com seu carinho e desvelo, estes com a sabedoria e experiência das coisas intelectuais, para que, hoje, pudesse eu reunir, com minha dedicação aos livros, meus companheiros de todas as horas, alguns conhecimentos, que são poucos, é certo, mas que têm para mim o sabor de uma grande vitória.

Em verdade, porém, é á^vocês que ele se dírig^, pois, foi pensando nos agentes de transformação e em transformação social, que procurei realizá-lo. Estudei,procurei assimilar os ensinamentos que colhia nas obras que consultava,concentrei-me com toda a dedicação que nos merecem os bons empreendimentos e fiz o meu trabalho.

O meu desejo é o de ser útil a sociedade. Se o serei,_nãa~o-pQsso saber; contudo, espero queo~rríeu trabalho não tenhasido vãoequepossai ; tirar algum proveito Agradeço por fim á Deus que, sempre me intuiu para o caminho do bem e do

auto-aprimoramento e sem o qual mera junção de órgãos e sistemas eu seria.

Muita paz em Cristo,

(6)

RESUMO

Esta monografia refere-se aos intelectuais negros e o envolvimento destes com o Movimento Abolicionista no Brasil durante o período Oitocentista. ^Çomo tambérry a construção de uma historiografia ofiçialbras4teir-a^e a interferência daslHeologias EugênicasmSsta^Nossa intenção ^ iniciar uma discussãfy acerca da organização social e étnica no Brasil. Q

ABSTRACT

This monography talks about the black intellectuals and their relationship with the Abolicionist Moviment, in Brazil's Eighteenth Century. As well as the construction of the brazilian oficial historiography and the Eugenic ideologies's interference on it. Our intent is to begin a discursion about the social and etnical organization in Brazil.

(7)

"O Canavial domina, sem rivalidades, dois séculos da existência do Brasil português. Nos outros dois, continuará, com altos e baixos, mas sem a mesma majestade e sem a exclusividade antiga. E mó canavial é negro. O comércio dos africanos tem a sua fase maiS' notável, pelo número de escravos que faz entrar no Brasil, entre os meados do século XVIII e os meados do século XIX" (SODRÉ, 1998)

O escrito acima «6s ratifica o pénsamento acerca da espoliação do escravo negro no Brasil durante todo o peribda_jde^Colônia e em boa parte de sua Independência, neste período foi criado na sociedade brasileira um sentimento de superioridade racial, colocando Q^índios J^rfum patamar de inferioridade em relação aos^brancos. ^ ( ]

Este sentimento foi respaldado por p^quis^s-Cíentíficas e^na historiografi^dficial brasileira, ambas( amalgamada^) criaram no BraStM5ãrreiras não apenasyfnatérias, ijias também imateriais para"que estes elementos estigmatizados pudessem usufrufr-ée-Todas as prerrogativas de cidadão brasileiro.

Hodiernamente, vivemos um momento propício para uma reavaliação e/ou reformulação da História do Brasil, no tocante, á ausência de uma Historiografia sobre o papel dos intelectuais negros durante o período(6ko<^entist!^ ^ ^

A História brasileira foi escrita com o afã de exaltar os heróis e a unidade nacional, atrelados ao anseio do 'branqueamento populacional', provocou um aviltamento da

n

çaõTfêgra. q f o ^ L í

Na^ historiografia clássica o elemento negr submissa, desempenhando papeis secundários, ativi

%

mpre representado de forma físicas, fazendo emergir na sociedade a crença na inferioridade do intelecto negro, utilizando-se de estudos escritos e iconografias que respaldem a inferioridade do negro brasileiro.

Os grupos dominantes criam objetos e imagens, elaboram e definem modos de conduta, gestos, expressões, sentimentos e atitudes que também participam da legitimação dessas idéias e da pressão sobre todos os indivíduos sociais, colaborando para a produção e instalação de um viver e de uma visão de mundo que penetra e influencia as instituições sociais direta ou indiretamente.

(8)

O sentimento de pertencimento ao grupo negro é apresentado através de manifestações culturais, artísticas, orais e escritas trans^itidas^de^gera^ão^á-^eraçâo. Este sentimento pode ser melhorado através de uma reapresentação da história do povo de origem africana, portanto a aprovação da Lei ne. 10.639, de 09 de Janeiro de 2003 que torna obrigatória a inclusão da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo escolar, possibilita a desconstrução^dos_bloqueios sócio-culturais oriundos da Ideologia Eugênica, é fator sine qua non para a melhora da imagem e auto-imagem do elementospcial.-A-ocultação deste 'patrimônio material e/ou imaterial (podem enfraquecer os laços dos elementos de um determinado grupo social, quiçá, favorecendo a absorção deste por outro mais organizado e/ou com uma maior identificação com sua história pregressa.

Devemos ter conhecimento de nosso passado para conr~eie-organizar o nosso presente, respaldando nossos pensamentos, desejos e pluralizando desta forma as oportunidades de mobilidade social.

E nesta mudança de ver e ver-se negro que cremos estar à possibilidade de transformação comportamental, e não em medidas paliativas corfr-©-objetiVo meramente político. O distanciamento do modo europeu e eugenista garantir-nos-á uma sociedade equânime, na qual as diferenciações dar-se-ão apenas pelo mérito de cada indivíduo.

E para melhor apresentar nossas idéias dividimos este trabalho em três partes: No l2 capítul(^a^esentaírwsTl^yns intelectuais negros do período Oitocentista, e a trajetória destes, com também o relacionamento com o Movimento Abolicionista, que não era compromisso apenas^ destes, mas também de alguns brancos que devotavam tempo e interesse à questão no Brasil. Com o intuito dgsapresentar a ação direta da elite intelectual negra brasileira num processo abolicionista. Ireínos utilizar como referencial bibliográfico escritos sobreos intelectuais estudados.

Em seguida, versaremos acerca do surgimento da Historiografia brasileira, buscando apresentar os elementos internos e externos que de forma direta ou indireta contribuíram para sua composição.

Por fim, apresentamos intelectuais negros e o Movimento Abolicionista no Rio Grande do Norte. E buscaremos explicar o motivo do pioneirismo norte-rio-grandense no fim da escravatura.

(9)

I

1 Esperamos, pois, provocar uma inquietação jneijtal acerca desta temática como ^também proporcionar uma nova leitura das relações étnicas do Brasil atual.

(

(10)

SUMARIO

c M 5 ^

•r.

CAPITULO I

OS INTELECTUAIS NEGROS E'LUTA CONTRA O ESQUECIMENTO ANTÔNIO PEREIRA REBOUÇAS

ANDRÉ PINTO REBOUÇAS JOSÉ DO PATROCÍNIO

LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA CRUZ E SOUSA

MACHADO DE ASSIS

CAPITULO II

NEGROS LIVRES E NEGROS ESCRAVOS: LEGISLAÇÁO ESCRAVIST, PERÍODO OITOCENTISTA (1840-1888).

A ICONOGRAFIA E O ESTATUTO DO ESCRAVO DEMOCRACIA RACIAL 7 O ENSINO DE HISTÓRIA-) A t' 0 u CAPITULO III rVo

O RIO GRANDE^; O MOVIMENTO ABOLICIONISTA. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(11)

OS INTELECTUAIS NEGROS E LUTA CONTRA O ESQUECIMENTO. "mordendo na sola

Empunha o martelo Não queiras, com brancos Meter-te a tareio.

Que o branco é mordaz Tem sangue azulado, Se boles com ele Estás embirado. Ciências e letras Não são para ti Pretinho da costa Não é gente aqui.

Desculpa meu caro amigo Eu nada te posso dar, Na terra que rege o branco, Nos privam até de pensar !" (No álbum, Luis Gama) _

Q

9

n

O inteleci barreirai imaterial

negro^Luiz Gamg^ escreveu esta poesia que nos apresenta/ a 'uperioridade racial dos brancos), criada pela elite branca escravocrata, a~qual dificultava os anseios de ascensão do indivíduo 'de cor'. Tal qual na poesia, ao negro sempre foi apresentada as qualidades dos brancos que, os faziam superiores a este, não podendo, pois, ofuscar seu brilho, com receio de represálias. A dicotomia sociàí^era tão forte que a suhfhissão racial oriufída desta, afetava até as produçõesl i ter ári as, mostrando como esta^a_ajjivfgao social do Brasil. Tal qual o salmão que enfrenta a correnteza das águas gélidas do mar em busca de ambiente mais propício para a procriação da espécie nas águas mornas dos rios, também os negros tinham que enfrentar a infertilidade do preconceito racial para espargir sua intelectualidade.

O negro brasileiro tem que transpor inúmeras barreiras (material e imaterial)

i

para conseguir sua inserção social, sem que suas características físicas inerentes venham imputar-lhe obstáculos, uma vez que

"Todos parecemos propensos a identificar as pessoas com as características que para nós são importantes, ou que consideramos de importância geral. Se se perguntar a alguém quem era Franklin D. Roosevelt, a resposta provavelmente será que ele foi o trigésimo segundo presidente dos Estados Unidos e não que ele era um homem que sofria de poliomielite, embora muitas pessoas, é claro, pudessem mencionar a poliomielite como informação suplementar, considerando interessante o fato de que ele tenha conseguido abrir caminho até a Casa Branca a despeito de sua desvantagem.

I • t

n 7 r

(12)

(1

! O aleijado, entretanto, provavelmente pensará na poliomielite do Sr. ' Roosevelt logo que ouvir o seu nome." 1

Este escrito vem adensar o nosso pensamento acerca das diferenciações raciais, uma vez que a idéia oBtTcla-das pessoas é oriunda de um primeiro contato ou de informações recebidas de outras pessoas, sem que façamos uma analise da mesma. As relações sociais são regidas não meramente pelo interesse, mas também, por uma série ^ í]

de acontecimentos e interpretaçõe§j^ai«ad^gfrG eü4Í^n o- 1

O atrelamentõ do nd^ro^ás víéíosidades sociais^era o maior responsável pela^ ^ objtaculação^damobilidade sociaL A liberdade não significava aceitação, a mácula do estigma2 racial era tão presente quanto à espoliação negra durante "toda nossa vida colonial e da primeira fase da vida independente. " (FREYRE, 2000).

A sociedade brasileira limitou e delimitou a capacidade de ação do sujeito estigmatizado, marcando-o como desacreditado e determinando os efeitos maléficos que podem rêpresefrtá=krTTlmagem plasmada no âmago social interfere diretamente nas Ç

inter-relações do indivíduo, sendo esta inversamgnte proporcional ao estigma. * C

A historiografia brasileira também sofreu forte interferência da ideologia eugênica descrita por Francis Galton3-. Apresentando o negro ora nos trabalhos braçais

n o c _ o r a n a c l d a d e ^ ^ ,

ou em ações de desordem e motim.

Durante todo o período de criação e divulgação da identidade nacional o afã pelo 'branqueamento'populacional fazia-se presente. As pessoas de 'cor' quando recebiam um cargo importante automaticamente mudavam de classificação étnica, como nos apresenta o ^esjç^^Aor inglês Henry Koster, no escrito abaixo:

"Um mulato entra para as Ordens religiosas ou é nomeado para a Magistratura desde que seus papéis digam que ele é branco, embora seu todo demonstre plenamente o contrário. Conversando numa ocasião com um homem de cor ao meu serviço, perguntei-lhe se certo Capitão-Mor era mulato. Respondeu-me: Era, porém já não é! E como lhe pedisse eu uma explicação, concluiu: - Pois Senhor, um Capitão-Mor pode ser mulato?" (KÖSTER, 1978).

1 Carling, in Goffman, Estigma, p.30,1993.

2

"Signos corporales, sobre los cuales se intentaba exhibir algo

maio y poco habitual en el status moral de quien los presentaba".Goffman ,op. cit.,1993, p. 11).

J. um antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês. Era primo de Charles Darwin e, baseado em sua obra, criou o conceito de "Eugenia" que seria a melhora de uma determinada espécie através da seleção artificial.

(13)

Neste período já era comum encontrarem-se os de 'cor' exercendo cargos de importância nas cidades, durante o Oitocentos esta ocorrência deu-se com uma maior freqüência oriunda do fortalecimento de "duas grandes forças, novas e triunfantes, ás

vezes reunidas numa só: o bacharel e o mulato" (FREYRE, 2004), o próprio Köster

"(...) Mas, de fato, homens de cor se tornaram magistrados e membros do clero. Eu os vi inúmeras vezes investidos dessa condição, e o aspecto deles não deixava margens para dúvida". (...) O Capelão de Pernambuco é um mulato de pele escura que tem livre trânsito em toda parte. Ele se senta á mesa com o Governador e é tratado por todos como um igual".(KOSTER, 2003)

Almejava-se não somente a absorção da cultura branca pelos negros, mas também, o clareamento da pele deste indivíduo, uma vez que "os brasileiros achavam

até animador esse visível "clareamento" da população e sua ideologia racial ficava, assim, reforçada". (SKIDMORE, 1976).

Foi no âmago familiar que primeiro perpetrou-se a questão da superioridade da etnia branca, mesmo entre as famílias de origem negra, este 'mantra' era entoado. Por mais instruído, conceituadoe belo que fosse o indivíduo negro, no seu intimo sentia que

era insuficiente, precisava possuir a marca da pureza, ou seja, ser 'branco'. y^Ç^A/i^ ^ / b J k b ^

O fato é que, de forma consciente ou inconsciente, vários afro-de§cefícíentes fjp, assumiram esta postura de inferioridade e submissão, com relação aos^kícíivíduos de cor

'branca'. Alguns o fizeram para serem aceitos nos altos/ciçtos^ sociais, outros por aceitarem as estruturas ideológicas vigentes, ambas as ^ações coadunaram-se em detrimento de uma reformulação paulatina e gradativa que garantisse a equânime organização da sociedade oitocentista brasileira.

O escrito abaixo irá asseverar o que ora dizemos, uma vez que é um relato de um jovem artista negro que, almeja ser branco:

One of the most promising of the young Negro poets said to me once, "I want to be a poet-not a Negro poet," meaning, I believe, "I want to write like a white poet"; meaning subconsciously, "I would like to be a white poet"; meaning behind that, "I would like to be white." (...)But this is the mountain standing in the way of any true Negro art in America (...).His family is of what I suppose one would call the Negro middle class: people who are by no

(14)

means rich yet never uncomfortable nor hungry(...). The father goes to work every morning. He is a chief steward at a large white club. The mother sometimes does fancy sewing or supervises parties for the rich families of the town. The children go to a mixed school. In the home they read white papers and magazines. And the mother often says "Don't be like niggers" when the children are bad. A frequent phrase from the father is, "Look how well a white man does things." And so the word white comes to be unconsciously a symbol of all virtues. It holds for the children beauty, morality, and money. The whisper of "I want to be white" runs silently through their minds4.

(HUGHES^1926}.

Este texto nos faz percebéro quanto qaé as idéias da superioridade racial branca possuíam (e ainda possuem)! em sociedades qu^xíonviveram com o escravismo, um poder de determinar não apenas^as_orgâRT2ações externas (escolas, empresas, igrejas), mas também, as estruturas internas de cada ser (sonhos, desejos, medos), nos fazendo perceber que o preconceito racial não é algo meramente socioeconómico, como é crido pelos defensores da 'democracia racial'.

As buscas por justificativas física, climatológica, geográfica, religiosa e científica, fizeram surgir inúmeras pesquisas que pudessem respaldar o anseio de superioridade da população branca, sendo comum ouvir-se que,

"a população negra diminuía progressivamente em relação á branca por motivos que incluíam a suposta taxa de natalidade mais baixa, a maior incidência de doenças, e a desorganização social. A segunda é a miscigenação que produzia 'naturalmente' uma população mais clara, em parte porque as pessoas procurassem parceiros mais claros que elas"

(SKIDMORE, 1976).

4 Um dos mais promissor e jovem poeta negro disse-me uma vez: "Eu quero ser um poeta-não um poeta negro", significando eu creio, "Eu quero escrever como um poeta branco"; significando subconscientemente, "Eu queria ser um poeta branco"; significando por trás disto que, "Eu gostaria de ser branco". (...) Porém, esta é a montanha posta no caminho de qualquer verdadeira arte (artista) negra (o) na América. (...) A família dele é o que podemos chamar de Classe Média Negra: pessoas que não são muito ricas ainda, mas, nunca estiveram desconfortáveis ou famintas. (...) O pai vai trabalhar todo dia. Ele é chefe em um grande clube branco. A mãe ás vezes faz decorações ou supervisiona festas das famílias ricas da cidade. As crianças vão para uma escola mista. Em casa eles lêem jornais e revistas de branco. E a mãe sempre diz: "não seja como o negro", quando as crianças estão desobedientes. A freqüente frase vinda do pai é "olha como os brancos fazem as coisas bem". E então o mundo branco torna-se inconscientemente um símbolo de todas as virtudes. Isso provê para as crianças beleza, moralidade e dinheiro. O sussurro de "Eu quero ser branco" correndo silenciosamente nas mentes deles. "(HUGHES, 1926).

^.(Nascido em Ia de Fevereiro, de 1902 - morreu em 22 de Maio, del967) foi um poeta negro americano, /novelista, colunista e teatrólogo.

(15)

Nosso intuito ne^fe corrente capítulo^ apresentar intelectuais 'de cor', suas obras e relacionamento crtan o movim^«trrãnolicionista. para verificarmos se houve uma participação efetiva dos negros libertos no processo de eliminação da escravidão no Brasil, ou se foi algo articulado apeimg-pela alta cúpula do poder imperial.

Como fruto desta pesquisa íer^presentactój seis intelectuais negros de destaque no Brasil Oitocentista, não apenas devido á luta pelo fim da mácula escravista, mas, também pelo desempenho exercido por estes no Direito, Literatura e demais áreas do conhecimento.

ANTONIO PEREIRA REBOUÇASfi

fik,. . /*> . y/J;

fef«*tf**»**.-» 1-tt, S/MútGÇtiJ

te , ' //* "Sem letras, Povos do Brasil, nada seremos nunca: a liberdade proclamada de uma duração efêmera será substituída pelo mais insolente despotismo e arbitrariedade; sem letras debalde se esforçarão os amigos da Humanidade por assegurar-nos um código, resumo de direitos naturais e sociais do cidadão (...)".

O Constitucional, n.5,20 de abril del822. Local e data de Títulos Atividade Outras atividades Livros

nascimento honoríficos política

Maragogipe Oficial da Deputado Membro do Requerimento ao Imperador (BA), ordem do IHGB, da D. Pedro I; Ao Sr.chefe de 10/08/1798-Rio Cruzeiro e Sociedade Polícia;Observações á de Janeiro, Conselheiro do Auxiliadora á Consolidação das Leis Civis 28/03/1880. Imperador. Indústria do Dr.Augusto Teixeira de

Nacional, Freitas;Aos poderes políticos Sociedade dos e aos brasileiros em geral Amantes da Recordações da vida Instrução, luta parlamentar;Recordações da pela vida patriótica.

Independência e na repressão á Sabinada.

Dados biográficos dos advogados atuantes nas ações de liberdade

Época de atuação Parte representada Desempenho Número de atuações 1847-1864 4 senhores 3 vitórias

4escravos 4 derrotas 8 1 indeterminado

(16)

á ações escravistas, que datam de 1847 á 1864, período de grandes discussões 5 acerca da temática escravista, tendo em vista as promulgações das Leis de 850 e de 1854, as quais iremos nos debruçar mais atentamente no segundo . O anseio jurídico de Antonio Pereira Rebouças era que ao conquistar a e, o ex-escravo tivesse todaí im cidadão, uma vez que a

independi" ror, p^r^rp : foi desacreditado devido á

"Assim, mesmo já estando acostumado á conexão feita por seus adversários entre sua cor e suas idéias políticas, passou a ser muito mais difícil para Antonio Pereira Rebouças defender-se de xingamentos como o de Gonçalves Martins, que o chamou de" moleque de rua" em plena assembléia provincial ou de alusões como a de seu conterrâneo João Maurício Wanderley, que em debate parlamentar de 1846, diz dele que "água impura e lamacenta, não importa quão filtrada e purificada, sempre mostra sua origem"

(GRINBERG, Keila. O fiador de brasileiros).

(17)

Nestas falas podemos perceber o quão difícil era para um negro, ou mulato, ou afro-dèseeftdertíeTtransitar nas esferas sociais e políticas sem promover grande alarido, devido á sua ancestralidade africana.

Mesmo sendo {d^^riminado na Corte por sua cor, Rebouças mantinha uma grande lealdade para com a monarquia, que deixou de herança para seu filho André P. Rebouça^/fo<Iayaj)elo desatrelamento^dajxiobitidage social á origem, Rebouças possuía escravos como qualquer senhor 'branco', fazeri^onronT^jélruíítõrnegros abolicionistas 'vissem-rio com maus olhos. Estes escravos serviam apenas para mostrar á elite que ele

Sntrário á recessão a plena liberdade do ex-escravo, e não ao sistema escravista. Entretanto, o seu filho foi completamente contra ao escravismo, e mais que seu pai foi firme em suas convicções abolicionistas, como poderemos notar em Memórias e Notas

Autobiográficas, de André Rebouças que, assim diz:

"Libertei com meu pai os três últimos escravos que possuíamos - Roque, Julia e Emília." (24-06-1870)

Este acontecimento deu-se um ano antes da lei do 'Ventre-|rvre', ((riostrando-nos apenas que, as modificações acerca do pensar e fazer com relação ao sistema escravista estava em pleno curso, embora, sofressem por parte de mercadores e proprietários de escravos transgressões.

Era muito difícil tremular a bandeira da liberdade, possuindo em seu poder escravos, embora que bem tratados, estavam em condição de inferioridade com relação aos sejjs-senhoses, e por esse motivo os Rebouças alforriaram seus últimos escravos, vadensando desta/iorma o anseio pelo fim do escravismo no Brasil.

Iremos agora falar do primeiro engenheiro negro do Brasil, que em sua trajetória profissional nos deixou um legado, o qual hodiernamente ainda encontra-se um uso, tais como:

Sua insistência na importância dos portos e estradas; Saneamento da Baixada Fluminense;

Recomendou a criação de parques florestais pelo país; Defendeu a reforma agrária;

Criou a proposta da higiene pública para tornar a cidade mais habitável, limpa e confortável-para-seus habitantes.

Além destas, (o André Rebouças devotou-se á qpestão Abolicionista que será alvo de nossa escrita a partiTcjeSte-memento.

(18)

André Pinto Rebouças

Nasceu em Cachoeiras, na Bahia, no dia 13 de janeiro de 1838. André conseguiu o grau de engenheiro militar em 1860. Como engenheiro militar, partíclpòu daguêrra^do Paraguai entre maio de 1865 e junho do ano seguinte. Devidová motivo não oficial/e conhecido foi impedido de prestar concurso para professor na Escola^Centrál^ então, passou a fazer projetos, junto ao seu irmão Antônio, para companhias privadas. Mas as obras que deram dimensão ao seu talento de engenheiro foram as do projeto de abastecimento de água do Rio, na seca de 1870, e a construção das primeiras docas brasileiras, no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão. Na década seguinte, já professor da Escola Politécnica, participou ativamente da campanha abolicionista e fundou, com outros de mesmo ideal, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e a Sociedade Abolicionista. Era o ideólogo dos abolicionistas. Pregava a

democracia rural7, uma espécie de reforma agrária. Mesmo após a abolição da

escravatura, em maio de 1888, os ânimos dos grandes proprietários rurais contra os abolicionistas continuaram acirrados. No ano seguinte, quando a República foi proclamada, André, que era monarquista, embarcou com a família imperial para a

6 Criada em 1792, a freal Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho que, em 1588 passou a ser chamada de Escola Central. O ensino nessa Escola abrangia três cursos distintos: um curso teórico de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, um curso de Engenharia e Ciências Militares, e um curso de Engenharia Civil voltado para as técnicas de construção de estradas, pontes, canais e edifícios.

7 "A divisão das grandes propriedades territoriais é indispensável para o desenvolvimento de nossa agricultura, principalmente depois que a escravidão estiver totalmente extinta", André Pinto.

(19)

Europa, mantendo a leakíade á monarquia herdada de seu pai. O relacionamento dos Rebouças com a Real/za deu-se de fojma afetiva, o imperador sempre perguntava ao seu Conselheiro pelosymenjQpg^este. E quando André Rebouças já era adulto, tem uma odorrência d e u m baile imperial) no qual André não conseguiu um par para dançar, e o impera4or percebendoJss€rrmandou sua própria filha (Princesa Isabel) dançar com ele. Porém, antes de partir^^eifíjdegredo paka a França, obteve o reconhecimento de grandes nomes de rfossa História, vejamcjsí pois, o comentário de José do Patrocínio com relação ao am i go&fanl i ci on is

"Rebouças encarnou, como nenhum outro de nós, o espírito antiescravista; o espírito inteiro, sistemático, absoluto, sacrificando tudo, sem exceção que lhe fosse contrário ou suspeito, não se contentando de tomar a questão por um só lado, olhando-a por todos, triangulando-a, por assim dizer - era uma das suas expressões favoritas -, socialmente, moralmente, economicamente. Ele não tinha, para o público, nem a palavra, nem o estilo, nem a ação; dir-se-ia assim que em um movimento dirigido por oradores, jornalistas, agitadores populares, não lhe podia caber papel algum saliente; no entanto, ele teve o mais belo de todos, e calculado por medidas estritamente interiores, psicológicas, o maior, o papel primário, ainda que oculto, do motor, da inspiração que se repartia por todos..."(MAGALHÃES,1972).

O escrito ^cerca do André Rebouças nos apresen/a o quão importante foi, não apenas a atuação cte§te no movimento escravista<-et5íno também sua vida e obra que, serviram para apresentar o-^potencial intelectual dos negros, em um período preponderantépafa o fim do escravismo, uma vez que, a Engenharia era tida como uma das mais belas e amplas áreas do/saber. Foi um dos precursores na construção de docas no Rio dei Janeiro, Mararjhão, Paraíba e Pernambuco, ganhando por isto grande notoriedade-poí-seusreitos, atualmente, ainda é homenageado no estado do Rio de Janeiro por suas benfeitorias na localidade, durante o Oitocentos.

(20)

JOSÉ DO PATROCÍNIO

"A escravidão é um roubo. Todo dono de escravo é um ladrão".

Nesta frase ousamos dizer que esteja sintetizada^o_pensamento do intelectual

negro que ora iremos apresentar aos nossos leitores^serícfÕêite diferente dos anteriores, Ç pois, para Patrocínio a escravidão era um grande emi, e m b o f ã ^ p ^ ^ " ao tipo de criação por este recebido, não tenha percebido o seu atrelahjento com a

questão escravista, ou seja, sua ascendência africana.

A mácula proveniente do escravismo além de ter produzido umãTmagem deturpada dos negros também produziu nestes indivíduos uma auto-deformação, pela ignorância e preconceito da população com anseios europeizantes, como fica notório neste folhetim de José do Patrocínio:

"Eu sei que V. Ex.a não me pode ver nem pintado. Acha-me feio, antipatiza com a minha cor de mestiço, cor de tijolo queimado, de quando em quando açafroada por derramamentos hepáticos. V. Ex.â não suporta o meu olhar parado, coado de duas pupilas negras, ora tranqüilas como dois brejos, ora ardentes como dois brasidos e flamívomas como as coivaras. Detesta o meu nariz grosso, cujas narinas se entumecem, como duas velas bojadas pelo vento, sempre que me acendem as paixões patrióticas, as únicas que tenho intensas. A minha boca muito rasgada parece a V. Ex.a um abismo de onde deve sair uma parte dos turbilhões rubros, acumulados por

exploração no horizonte da grande propriedade..." (MAGALHÃES, op.^cit.).

Este fragmento/íís apresenta não apenas a escrita direta do Patrocínio, como também, o repúdio deste-jr-eseravidão, qMe"ioi mantida no Brasil mesmo após a proclamação da Independência.

UMA ESMOLA Ah! Piedade aos coitados, Sem tugúrio e sem ninguém. Piedade aos pais sem filhos

(21)

E aos filhos que pais não têm. Segundo a lei do mais forte Demarcais vossos caminhos,

Ai! Orgulhosos mesquinhos Deus é mais forte também! Quanto maiores seremos No dia em que se tornar Um cidadão - cada escravo

E cada senzala - um lar! Brilharão mais fulgurantes Os astros das nossas zonas,

E o Missisípi e Amazonas Hão de alegres se abraçar. Oh! Não guardemos a esmola

Que temos em nossas mãos, Quebremos essas algemas Que oprimem nossos irmãos,

E quebrando o passado Os ferros id'los sangrentos, Brademos aos quatro ventos: "Escravos, sois cidadãos!"

(Uma esmola, José do Patrocínio, O Lábaro acadêmico, 1873).

Esta poesia apresenta o anseio do Patrocínio pelo fim da escravidão, na primeira estrofe nosjsleriibra que quando vendidos os escravos eram separados dos parerttes, os fjüjerê^os pais elos maridos das esposas, tendo em vista tão somente os interessf econômico^âos^ríercadores e senhores de escravos. A segunda e terceira estrofes versam jcercâ-áaredenção humana com o fim do escravismo, dando por esmola àqueles que foram tirados de suag_x,asasja liberdade.

É deçta forma fulgurante quKo filho do Vigário João Carlos Monteiro e de uma 'negrinha', entnT~12 e^? anosr~3ustina Maria do Espírito Santo buscava chamar a atenção para a escravidão no Brasil. Em 1872 entra na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no curso de Farmácia, pórem, começou a interessar-se por poesia, publicando algumas no jornal "O Lábaro Acadêmico". Depois de formado foi trabalhar no jornal liberal "A Reforma", como conferente de revisão, mas, foi no "Os Ferrões" com o pseudônimo de Notus Ferrão que conseguiu notoriedade, buscando levar a voz do Abolicionismo cada vez mais longe. Vejajríoseste escrito para o Impeí^dor D. Pedro II, acerca dos maus tratos sofridos pelos soldados negros:

"Se são feros e desumanos os fazendeiros do interior quando colocam no tronco os seus escravos rebeldes e mais infelizes - que é tudo o mesmo - não menos feros e desumanos são os que consentem que aqui na Corte, no coração do Império, se pratique do mesmo modo com os cidadãos

(22)

beneméritos da pátria - os soldados. A solitária do soldado é o tronco do escravo. Vossa Majestade não sabe o que é o tronco: é provável que nem um camarista desasado e imprudente lhe fosse falar nestas coisas ou deixasse chegar até si um livro que tratasse disso - assim como não permitirão que cheguem até Vossa Majestade estas palavras humildes que enviamos em nossos folhetos inocentes, despretensiosos e inofensivos". (MAGALHÃES,i^L

op. cit.). ^ O escrito além de apresentar uma ocorrência normal e desumana nas fazendas,

que eram os açoites nos tronco&^alerta os-Igitores para a reprodução similar na Corte, ou seja, mesmo estando livre e servindo á Corpa-o negro ainda era tratado como escravo. Os críticos não se^cãnsavãrfíde elogiar o Patrocínio e certa feita Joaquim Serra (critico literário), assim falou dele:

"Como Gaboriau, em seus romances judiciários, o auto de Mota Coqueiro teceu uma intriga que, parecendo dar razão à justiça pública, ao mesmo tempo demonstra quão falível e errado é o juízo dos homens. Acrescente-se que o estilo do livro é sempre imaginoso e poético, e que todos os personagens falam a linguagem apropriada. Depois disso digam os leitores do curioso volume se J. do Patrocínio não é promessa de um romancista notável e de primor. Quando ele, no silêncio do gabinete, sem a pressão da tarefa diária, imaginar, descrever e polir um trabalho nesse gênero, verão todos que o assunto será tratado com a máxima delicadeza e perfeição. È a expressão sincera do que sinto o pouco que aí fica escrito e que resumo num aperto de mão ao ilustre colega." (MAGALHÃES, op.cit.).

E desta forma quéos críticos falam dojrabalho^o-PatcQcínio, a^serifáTas idéias são postas e escritas |ue além de prazepteíra/nos traz informações importantes do cotidiano. Com relação á bravura cSnrqtíecombateu^ã^cravÍBàbsno Brasil, ninguém poderia ser mais eloqüente em representá-lo do^qtí^oíavo Bilaó qug, teceu um breve comentário acerca do desempenho e afinco do/Patrocínio:

"Se fosse possível reunir todos os artigos, todos os discursos, com que Patrocínio atacou a escravidão e seus defensores, o livro em que ficassem compendiados esses libelos seria o mais belo poema da Justiça [...]". Olavo Bilac.

O movimento abolicionista brasileiro recebeu de Patrocínio não apenas a força, a vontade de mudança, mas também, a eficiência na escrita e na fala, que produzia em todos que o lessem e ouvissem um afã pela transformação social brasileira, iniciando-se como fim da espoliação físico-moral do escravo negro.

(23)

ONZAGA PINTO DÁ GAMA

"O escravo que mata o senhor,seja em que circunstância for,mata sempre em legitima defesa."

7

Ninguém foi tão incisivo contra a escravidão negra no Brasil^quanto Luiz Gama^a-4pasg_açima nos oferece apenasjama pequena demonstração do vigor com que

íé combatia este 'crmje', abaixo /á&guem algumas das obras e ações políticas que, o fizeram conhecido em todo o Brasil.

Atividades artísticas de Luiz da Gama.

1864/1865 São Paulo SP -Fundador e redator do jornal

Diabo Coxo, ilustrado pelo

italiano Angelo Agostini (considerado marco da imprensa humorística em São Paulo)

1864/1875 São Paulo SP -Colaborador dos jornais

Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno

1869 - São Paulo SP - Fundador do jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa

(24)

1864/1880c. - São 1873 - Itu SP - 1880c. - São Paulo 1880 - São Paulo 1880c. - São Paulo Paulo SP - Fundador do SP - Participação SP - Publicação do SP - Líder da Utilização de Partido em sociedades artigo Questão Mocidade trabalho na Republicano emancipadoras; Jurídica, no jornal Abolicionista e imprensa para a Paulista organização de A Província de Republicana divulgação de suas sociedades São Paulo (sobre o

idéias secretas para fugas acobertamento do antiescravistas e e ajuda financeira crime de

republicanas a negros: importação e libertação nos venda ilícitas de tribunais de mais escravos pelos de 500 escravos magistrados)

Luiz da Gama nasceu na Rua da Bângala, centro de Salvador, Bahia,em 21 de Julho de 1830,sendo filho de uma negra livre8 e um fidalgo de origem portuguesa9. Com apenas dez anos de idade foi vendido pelo pai, devido uma dívida de jogo. Foi morar em São Paulo, Campinas, com o Sr.Antônio Pereira Cardoso, aos 18 anos já era alfabetizado chegando até a ensinar os filhos do seu senhor, por este motivo pleiteou sua alforria, em sendo negada juntou provas que era livre e fugiu.

Foi ser praça na Polícia,por 6 anos,onde era cabo,ao sair da polícia trabalhou como copista no gabinete do conselheiro Furtado de Mendonça.

Com o objetivo de estudar Direito Matriculou-se na Faculdade, todavia, a idéia de igualdade étnica ainda não havia sido completamente absorvida pela elite, a qual se utilizou de estratagemas para por fim nos anseios do jovem negro.

Tornou-se rábula e lutou juridicamente contra a escravidão e os escravistas. Em 1859, publicou seu primeiro livro "Primeiras trovas Burlescas de Getulino ", no qual assim se apresenta:

U

O que sou, e como penso Aqui vai com todo senso Posto que já vejo irados Muitos lorpas enfurnados,

Vomitando maldições, Contra minhas reflexões. Eu bem sei que sou qual Grilo,

De maçante e mal estilo;

8 "Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina(Nagô de nação)de nome Luíza Mahin, jjagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã".

"Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmações,neste país,constituem grave perigo perante a verdade".

(25)

E que os homens poderosos Dessa arenga receosos Hão de chamar-me - tareio,

Bode, negro, Mongibelo; Porém eu que não me abalo

Com repique impertinente, Pondo a trote minha gente. Se negro sou, ou sou bode Pouco importa. O que isto pode?

Bode há de toda a casta, Pois que a espécie é muito vasta....

Há cinzentos, há rajados, Baios, pampas e malhados, Bodes negros, bodes brancos,

Uns plebeus, e outros nobres, Bodes ricos, bodes pobres,

Bodes sábios, importantes E também alguns tratantes (...) ("Quem sou eu ", Luiz da Gama)

A poesia acima "Quemj>ou_eu" ou "jBodarrada", como ficou sendo conhecida, apresentada forma irreverente de Luiz Gama combater o preconceito racial, a palavra bode era dada aos afro-descentes: _ou mulntm- que almejavam de alguma forma a ""aseensãoisocial, no decorrer deste escrito vamos apresentar uma ironia que Gama fez á

um dos seus oponentes.

Foi ser jornalista, trabalhando no O Ipiranga, Radical Paulistano, Cabrião, Coroaci e O Polichinelo, em alguns destes assinava como "Orfeu de Carapinha", possuidor que era da ironia conseguia não apenas prender a atenção do leitor como também a ira de seus opositores, certa feita em uma audiência Luiz Gama interrompe o brigadeiro Carneiro Leão, dizendo:

"Então o primo afirma que viu...". O Sr. Carneiro Leão interrompe-o para saber que primo

era esse, e pasmo ouvi a resposta: "O senhor, naturalmente. Eu sempre ouvi dizer que

bode e carneiro são parentes. E parentes chegados ".

O historiador Sílvio Romero assim falou de Luiz da Gama:

"Eu disse, uma vez, que a escravidão nacional nunca havia produzido um Terêncio, um Epitecto, ou se sequer um Spártaco. Há, agora, uma exceção a fazer: a escravidão, entre nós, produziu Luiz Gama, que teve muito de Terêncio, de Epitecto e de Spártico" (ROMERO, Silvio. História da Literatura Brasileira, tomo II, 1879, p.447).

Esta homenagem serviu apenas para respaldar aí luta do Gama lontra o escravismo, tendo em observância que ele jamais titubeou na quçstão da criminal idade

(26)

da escravidão, pois, mesmo que o escravo fosse bem tratado, ainda faltava á este o direito primordial de todo o cidadão, o de ir e vir.

Certa feita entra um escravo em seu escritório querendo comprar a alforria, em seguida veio um amigo de Luiz Gama, o dono do escravo, querendo fazer com que o último desistisse da liberdade, uma vez que era bem tratado, mesmo ouvindo a confirmação dos bons tratos do senhor pelo escravo, esta foi a fala do rábula- "Falta-lhe o direito de ser infeliz

onde, qupndo^ecomo queira ". ^

Nunca o direito á liberdade foi tão veementemente defendido, quanto por Luiz Gama, para ele o Brasil deveria tornar-se um país "sem rei e sem escravos e por este motivo iniciou em 1855, um movimento para a libertação dos escravos, que era a compra dos mesmos nos mercados. Gama era visivelmente contrário á monarquia e a escravidão, e estas foram suas maiores lutas, fazer do Brasil um país livre e republicano.

Na tarde de 25 de Agosto de 1882, uma multidão multicolor fazia o cortejo de um ataúde, cedido pela Loja Maçónica ' América', que se dirigia para o cemitério da Consolação, em São Paulo, levando o corpo de um negro, pobre e ex-escravo, mostrando a importância e o respeito que Luiz Gonzaga Pinto da Gama havia conquistado.

Filiação Data natalícia e fúnebre

Guilherme da Cruz e Carolina Eva da Conceição, ambos os escravos do Cel. Guilherme Xavier de Sousa

24 de Novembro de 1861, Nossa Sra. Do Desterro ; 19 de Março 1898,Antônio

Carlos,Minas Gerais..

Broqueis (1893, poesia) • Últimos Sonetos (1905, • Missal (1893, poema em

poesia) prosa)

(27)

Faróis (1900, poesia) • Últimos Sonetos (1905, • Evocações (1898,

poesia) poemas em prosa)

Obras publicadas:

Estas são algumas das obras do poeta negro, Cruz e Sousa, chamado por alguns de "cisne negro ", talvez o intelectual negro que mais foi afetado, não apenas na vida como também em obra, pela questão do escravismo negro e do preconceito racial que lhe é inerente. / h 9 \ . n / * , 0 '

Vida Obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres. Embriagado, tonto dos prazeres,

O mundo para ti foi negro e duro Atravessaste no silêncio escuro A vida presa a trágicos deveres E chegaste ao saber de altos saberes

Tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto, Que o coração te apunhalou no mundo. Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeu-te os braços, E o teu suspiro como foi profundo!

Nesta poesia, o sofrimento do negro escravo, as mágoas que traz consigo e o seu isolamento nos são apresentadas, assim como, o envolvimento e o compartilhamento do autor com a dor destes.

O coronel Guilherme Xavier de Sousa10 admirado com a inteligência do

'negrinho'que aprendeu as primeiras letras com sua esposa apadrinha-o, dando-lhe além do nome de família, coloca-o e aos pais em seu testamento, possibilitando desta forma a continuidade nos estudos. Indo para o Ateneu Provincial estarrece^jhdos,

principalmente, um zoólogo alemão que ensinava ciências naturais e matemática, o

(28)

professor Fritz Müller11, que assim fala dele: "Este preto representa para mim mais um reforço da minha velha opinião, contraria ao ponto de vista dominante, que vê no

negro um ramo da raça humana em tudo, por tudo inferior incapaz de desenvolvimento racional por suas próprias forças ".

Cruz e Sousa sempre foi bem conceituado, porém,suas origens ainda produzia em algun/deáavisados/um espanto,ao verem um negro falar e comportar-se tal qual um branco europe«rv^jarnos estas palavras de Araújo Figueiredo acerca do 'cisne negro':

"Seus grandes olhos negros em fundo de opala guardavam doçuras inefáveis, 'A

mas possuíam quase sempre certo ar de tristeza. Eram um misto de sombra, de sol e de luar. (...)Humilde com os humildes,manifestava-se,no entanto,austero para com os grandes,afastando-se deles com um olhar que ás vezes se tornava como umas funda da qual saíam pedradas".

Em sua obra primeira "Broqueis", apresenta seu fascínio pela cor branca, na qual crer encontrar toda beleza e pureza, vejamos, na poesia "Antífona", como era seu ideário de beleza:

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume.

O amor deve ser branco, puro, cristalino, porém^Cruz e Sousa não conseguiu casar-se com uma branca, desposou uma mulata que veno á enlouquecer.

Mesmo produzindo tão belos versos e tendo seu estilo aplaudido por vários intelectuais, Cruz e Sousa nunca foi chamando para fazer parte da Academia Brasileira

U/foi um naturalista, (zoólogo de invertebrados, botânico) e professor de matemática e ciências naturais, 'oi pioneiro no apoio factual à teoria da evolução apresentada por Charles Darwin.

(29)

de Letras, o escritor Nestor Vítor saiu em sua defesa, dizendo: "Com o caráter e o

gênio do poeta Negro tudo isso lhe foi dando mais impulso, mais ardor e uma visão cada vez mais solene, porém, ainda mais dramática do seu papel neste mundo como filho de Cam que nasceu, por sarcasmo do destino, para a alta vida do espírito"

(MAGALHÃES, 1972). _ . . . 0

O poeta ficou tão indignado por n ã o _ i a ^ - ^ á r t e dã "Academia Brasileira de Letras que, passou a ter alucinações, a^quais lhe davam os motivosjjara sua exclusão da ânfora de intelectuais brasileiros:

"—Tu és dos de Cam, maldito, réprobo, anatematizado! Falas em Abstrações, em Requintes, em Sonhos! Como se tu fosses das raças de ouro e da aurora, viesses dos arianos, depurado por todas as civilizações, célula por célula, tecido por tecido, cristalizado o teu ser num verdadeiro cadinho de idéias, de sentimentos (...). Artista! Pode lá isso ser se tu és d'África, tórrida e bárbara, devorada, insaciavelmente pelo deserto, tumultuando de raças bravias, arrastada, sangrando no lodo das civilizações despóticas (...). Não! Não! Não! Não! transporás os pórticos milenários da vasta edificação do mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, pedra sobre pedra (...). Se caminhares para direita, baterás e esbarrarás ansioso e aflito,numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos!Se caminhares para a esquerda,outra parede.de Ciências e Críticas,mais alta que a primeira,te mergulhará profundamente no espanto!Se caminhares para a frente,ainda nova parede,feita de Despeitos e de Impotências,tremenda,de granito,broncamente se elevará ao alto!Se caminhares,enfim,para trás,ah!ainda uma verdadeira parede,fechando tudo(...)" (MAGALHÃES,o». Cit.).

O escrito acima nos revela não somente a frustração ao Cruz e Soj*4a, como também, as idéias dainferiõrídade racial, a origem africana e o preconceito, sofrido por todos aqueles que fossem "de cor".

Somente uma maldição para poder explicar sua exclusão da aurora da Literatura Brasileira, é inegável a interferência da questão da 'cor' nestes indivíduos que estamos apresentando, seja na necessidade de ocultá-la ou de superá-la,como se fosse está capaz de mensurar a capacidade cognitiva, moral, física e psicológica de uma determinada pessoa ou grupo. «Por fim, iremos apresentar e/ou reapresentar um dos maiores expoentes da Literatura Brasileira.

(30)

Comédia Poesia Romance

Desencantos, 1861. Crisálidas, 1864. Ressurreição, 1872; A mão e a luva, 1874;

Helena, 1876. Tu, só tu, puro amor,

1881. Falenas, 1870. Memórias Póstumas de Iaiá Garcia, 1878; Brás Cubas, 1881; Quincas Borba, 1891. Americanas, 1875.

/Poesias completas, 1901. Dom Casmurro, 1899; Esaú Jacó, 1904; Memorial de Aires, 1908.

A Literatura Brasileira, quiçá mundial, prestou e prestam muitas homenagens á um escritor de grandeza maior, Joaquim Maria Machado de Assis, era filho de

Francisco José de Assis (operário mestiço) e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis (mestiça). Nasceu em 21 de jurihcuieJjJ^âjia cidade do Rio de Janeiro.

Possuía várias^ebüitações de ^rdemjsico^>atológica (saúde frágil, epilétiço, gago), que o faziam buscaTõl^ulartiefitüT" V V ^

Em 12-01-1855 publica seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito, neste momento possuía apenas 16 anos.

Consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, aos dezessete anos. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, fundada no Rio de Janeiro,em 20 de Julho de 1897, eleito por aclamação pela Revista Brasileira como presidente, assim pronunciou-se na solenidade de inauguração:

"Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. (...) Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, e aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão publica, mas ainda e principalmente a vossa constância. (...)"

(31)

A uma grande honra e justiça para o íaiulato, Machado de Assis, ter sido empossaçlo do cargo da presidência da Acaderríía Brasileira de Letras, mostrando não apenas sua capacidade intelectual, mais também, sua importância política.

Muitos escritores de Literatura e História escreveram que^ Assis ignorou por completo a questão da escravidão, com receio de ser visto como um 'negróide'. Contudo, novas pesquisas mostram que o mesmo muitas das vezes escrevia em anonimato ou com pseudônimos, evitando desta forma represálias, observemos, pois, o texto abaixo:

Era um leilão de escravos na fileira dos infelizes que estavam ali de mistura com os móveis, havia uma pobre criancinha abrindo os olhos espantados e ignorantes para todos. Todos foram atraídos pela tenra idade e triste singeleza da pequena (...). O preço definitivo da desgraçadinha era fabuloso (...). Não perdi de vista o comprador, convencido de 2que iria disfarçadamente ao leiloeiro dizer-lhe que a quantia lançada era aplicada á liberdade da infeliz. O comprador não me desiludiu, porque, apenas começava a espreitá-lo, ouvi-lhe dizer alto e bom som:

- É para a liberdade!

(Diário do Rio de Janeiro, 1864).

Neste fragmento textual podemos observar uma ação que já mencionamos ao falarmos de Luiz da Gama que, é a compra do escravo para dar-lhe a liberdade, ao reproduzir esta ocorrência contrária ao escravismo, Machado de Assis espargia o anseio pela abolição da escravatura.

Olavo Bilac foi incumbido de fazer um pronunciamento por ocasião de ser afixada uma placa de bronze na frontaria da casa em que viveu Machado de Assis,em 29 de setembro de 1909, e assim falou:

"Poucas palavras, poucas e carinhosas, devem ser ditas aqui, para que em tudo a comemoração seja digna do comemorado. Seria uma ofensa à memória do Mestre qualquer manifestação que destoasse da sobriedade encantadora e do recato severo que governaram a sua vida artística e a sua vida íntima, a sua teoria literária e o seu estilo. (...) Machado de Assis temia acima de tudo o barulho e a cintilação das palavras vazias, que tanto agradam aos espíritos fúteis. A sua face triste e suave, o seu modo natural, a brandura da sua palavra e de seu gesto, a modéstia dos seus gostos, a moderação dos seus juízos, a sua filosofia que condenava como crimes as cegueiras da paixão, e o seu estilo que repudiava como vícios os exageros retóricos, - tudo nele aconselhava e pedia não o aplauso frenético, mas a afeição sincera e a consideração inteligente; tudo nele parecia dizer: não me admireis; amai-me, e compreendei-me..." (Gazeta de Notícias em 30 de setembro de 1909.)

(32)

A sociedade brasileira como um todo tem um grande apreço mfígura do Machado de Assis, a ancestralidade negra contestada por alguns, o anseio pelo distanciamento da questão escravista dita por muitos não

anqueamento e iseguiram i

interpretações-conseguiram minimizá-lo,sua vida e obra são objetos de constante pesquisa e

0

"O mau elemento da sociedade brasileira não foi o negro, mas, este elemento na condição de escravo". Joaquim Nabuco.

;

o

Esta frase nog^ traz a assertiva^ de que devemos reavaliar nossos escritos históricos, nossas relaçôes^^^ia^^^^de^ãojriâi^ontinuarmo^ a cometer o ^ e r r o s d ^ ^utrorã^)Uma reflexão minuciosa faz^se^necessária por parte da^^opuíação i r a s ilerraN que

deve reconheGêr-se-eomo_séndo multicolor e pluriétnica, poisT^sOffTente^desta forma ff (/

poderemos viver numa sociedade justa e equânime. Neste capítulo, apresentamos alguns intelectuais negros e o relacionamento destes com a questão do Movimento

Abolicionista, com o propósito d | ^ j ^ ^ r m o s o 'senso c o m u m ^ d e que a Abolição foi t ^ j ^ ^ dada ao negro, e que este /não teve de ehfrentar e transpor muitas barreiras para ^

conquistar sua liberdade.

A existência-destes intelectuàis negros aqui apresentados e de outros que não tivemos condíções^de escrever sobre,-tais como: Francisca Edwiges Neves Gonzaga, Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira Barroso, Afonso Henriques de.Lima Barreto e tantos outrolfque surgiram no alvorecer da República, nosVespalda o anseio^eN^ma sociedade mais igualitária,_çom-medida§ políticas profícuaTenão^profiiáticãs, para que

/

(a ypassamosjier orgulho não apenas do Brasil, como também de seu povo pluriétnico.

c No-próximo capítulo, iremos elencar os motivos prováveis da exclusão destes intelectuais negros acima citados.

7 , j } ^ Negros Livres e Negros Escravos: Legislação escravista do período Oitocentista

(1840-' V 1888).

"A escravidão está fora da lei, porque lei não é conchavo indecente dos interesses da oligarquia e do trono; lei é a relação necessária entre o direito de cada um e o de todos. Ninguém está obrigado a respeitar e escravidão; pelo contrário, é dever de cada cidadão combatê-la por todos os modos. Contra a escravidão todos os meios são legítimos e bons. O escravo que se submete atenta contra Deus e contra a civilização; o seu modelo, o seu

(33)

mestre, o seu apóstolo deve ser Espártaco12". José do Patrocínio. (MAGALHÃES, 1972)

No Brasil, a escravidão foi combatida por escravos libertos, mas também pelos cativos, os enfrentamentos entre os escravos e os seus senhores davam-se peranteas autoridades legais. O fim da escravidão representada pela Lei Áurea, nos "foi

apresentada como doação, concessão feita aos escravos, um ato de redenção não só dos cativos, mas também dos senhores ", contudo, "não aceito a idéia de que a história da legislação emancipacionista definida pelo Parlamento tenha sido uma história somente dos" de cima" (MENDONÇA, 2001, p.35). Com o anseio de esconder os

levantes dos negros o poder de enfretamento dos intelectuais negros j u n t ^ T c o r o a foi que se excluiu da História nomes como os de Zumbi dos Palmares, Antônio Pereira Rebouças, André Pereira Rebouças, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Luiz^^Gama, Luíza Mahin, Francisco Sabino, José do Patrocínio, Machado de Assis, João Cândido dentre tantos outros que^ seja^onijalavras, jições, armas oiu^c^idutajnoral marcaram suas presenças no cenário nacional.

Ao longo deste capítulo apresentaremos a legislação escravista e suas formas de burlamento^ como também a c r i a ç ã ^ d ^ H ^ ^ por sentimentos eürdeêrrtfícos e eugênicos, os quais amalgamado^cremos ter favorecido e/ou facilitado a expansão e a continuidade do sêntimento~13e superioridade racial (étnica) que permeava a sociedade brasileira Oitocentista.

A princípio vamos apresentar como deu-se a formulação e/ou criação da História da escravidão brasileira, utilizando-se de uma análise das leis que por ventura iriaríkpor fim a tal prática.

A legislação brasileira no tocante ao escravismo era uma simples formalidade, pois, desde a Constituição de 1824, em seu art. 179, parágrafo 19, a qual dizia que

"desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as penas cruéis", que notamos o descumprimento da lei. Essas mesmas leis como não foram

revogada&fasanroti^^ combaSãm^ escravismo.

Obnubilantápejorativa,^contraditória, /excludenteysão os adjetivos que podemos i n f e r i r ^ i i i s i s i ú e ^ a ü a ^ B T ^ ^ ^ ^ o t o Q a m e abs-negíoCuma vez quç^este/gfujxTsocial era unicamente retratado de forma submissa, aviltante e atrelado àsmciosidade!^sociais, obstaculando desta forma todos os anseios de ascensão desta elite intelectual negra. 12(Nasceu eml20 a.C. - faleceu em 70 a.C) foi um gladiador de origem trácia, líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como "Terceira Guerra Servil", "Guerra dos Escravos" ou "Guerra dos Gladiadores".

(34)

0( período de transição entre o golpe da 'Maioridade13' e o alvorecer da RepúblicaV foi bastante turbulento no Brasil^A=JTiarvutençâo da escravidão após o processo de Independência gerou querelas no território nacional

I f e

Embora fosse um período de e£erv^scência_jntelectual, oriunda da Europa, na qual ecoava o lema doJUuminismo (Liberté, Egalité, Fraternité), foi outro movimento, também gerado novâmago europeu que iniciou o combate ao escravismo no Novo

— - — - V Vavm^*3

Mundo. A Inglaterra, almejando novos consumidores para os seus produtos não poderia \ \1" conceber um sistema político-administrativo que utilizasse o trabalho servil. A

escravidão não era somente^uma inconveniência social, mas também, econômica, pois, com o aperfeiçoamento das /tecnologias de produção, minaram-se as produções artesanais e familiares. surgindoj^Jábricas e a produção em larga escala.

Para atendeivfos)anseios da Inglaterra o governo do Brasil criou uma lei com o propósito de por fim aõ^síravi^mo, com a lei de 7 de Novembro de 1831 que, determinava em seu artigo 1Q que: "Todos os escravos que entrarem no território ou portos do Brasil vindos de fora ficam livres", no entanto(com a/violação desta lei era

algo comum, a mesma passou a ser conhecida como "leipara inglês ver". Com o intuito de combater ao tráfico de escravos no Atlântico Sul e atribuindo às embarcações inglesas (Royai Navy), o direito de apreender quaisquer navios negreiros que porventura se dirigissem ao Brasil, o Parlamento Inglês (Casa dos Lords) .propõe esta lei 8 de Agosto de 1845, de autoria do Ministro George Hamilton-Gordon (Lord Aberdeen).Esta intervenção estrangeira15 em nossa administração suscitou o surgimento da lei Eusébio

de Queirós. ^ \ A venda de escravos continuava sendo uma atividade normal e lucrativa, como

iremos ver nesta denúncia feita por José do Patrocínio, no folhetim "Os Ferrões", dirigida ao então Ministro do Império, José Bento da Cunha Figueiredo:

"Quando chegam os paquetes do Norte, desembarca uma classe de passageiros que veste camisa vermelha ou azul e que faz vir à memória da gente a lembrança de uma procissão do gloriosíssimo São Benedito. Chama-se a isso uma vara de escravos. Vêm para Chama-ser vendidos, esChama-ses desgraçados, 13 Em julho de 1840, encerrando longo processo de confrontos regenciais, o Senado antecipou a

maioridade de Dom PedroMI"ào proclamá-lo imperador aos 14 anos.

14 Em 15 de novembro de 1889, aconteceu a Proclamação da República, liderada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Nos cüJgQ anos iniciais, o Brasil foi governadojjpF-núlitares.

15 Sntre 1849 e 1851 foram abordadas e destruídas pela ^yal Navj} cerca de 90 embarcações suspeitas de tráfico para o Brasil, muitas em águas territoriais do paísxbm-opfopósito único de por fim ao tráfico negreiro. 1 ''

(35)

como porcos ou perus. É natural que os vendam, uma vez que eles não são mais que coisas, ou menos que isso - negros cativos. O que achamos sobrenatural é seja posto sob a proteção do governo esse mercado ignóbil; o que achamos sobrenatural é que a Secretaria de polícia seja a casa de comissões em que os míseros esperam os compradores. Faz vir lágrimas aos olhos ver estes infelizes acabrunhados pela desgraça, estendidos em alas na calçada das portas da Polícia, com os braços cruzados e os olhos baixos. Pensa-se que pela noite daqueles cérebros passam as doces recordações do torrão que os viu nascer, as sagradas reminiscências dos amores e carinhos dos pais e amigos, que deixaram as esperanças de os tornar a ver .Parecem estátuas da dor que têm por pedestal trevas e cadeias, trevas que se lhes alongam até as faces."(MAGALHÃES,1972,p.98).

Com o intento de sensibilizar aos leitores para a questão do escravismo negro, Patrocínio utilizou-se de um linguajar simplJ^como também da capacidade do leitor de colocar-se no lugar do escravo, imaginando a saída abrupta do lar e o desvencilhar-se dos familiares. A denúncia de Patrocínio nos relata não somente o sofrimento dos negros, mas, também a conivência das estruturas estatais com este tipo de ação, mostrando-nos a naturalidade como era vista e trabalhada a espoliação negra no Brasil.

foram promulgadas outras leis que interferiram de forma visceral na história pt ^ (^se-do negro brasileiro: a primeira foi a Lei Eusébio de Queirós (4 de Setembro de 1850),

que extinguiu definitivamente o tráfico negreiro no país. Foi uma solução encontrada pelo governo monárquico brasileiro diante das constantes pressões e ameaças da Inglaterra, nação que estava determinada a acabar com o tráfico negreiro. O artigo ls assim discorria:

Art. 1: As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importação é proibida pela lei de 7 de novembro de 1831, ou havendo-os desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos. Aquelas que não tiverem escravos a bordo, nem os houverem proximamente desembarcado, porém que se

- ca

encontrarem com os sinais de se empregarem no tráftfáj/de escravos, serão

,

/

igualmente apreendidas e consideradas em tentativa de importação de escravos.

(36)

f f

Embora ^amente fe&hada,com o próposito único de impedir,dificultar ou anular completamente o trafico negreiro,por falta de interesse político,a lei de 1831 foi por muitas vezes burlada.

Como já foi dito,esta lei não tevê o desempenho êsperado pelos abolicionistas e negros escravos pois,quem iria fiscalizar osportõs^como seria feita a apreensão,em que local ficariam os cativos até o regresso,foram questões desconsideradas durante a formulação da mesma,e os abolicionistas ainda iriam sofrer com o impacto de uma outra lei,naquele mesmo ano.

Concomitantemente, a Lei supracitada surge a Lei da Terra (lei N.Q601 de 18 de Setembro de 1850), foi assinada com o propósito de que:

"Todos os possuidores de terras que não têm título legal perderão as terras, que se atribuem excepto num espaço de 650 jeiras, que lhe deixara, caso tenhão feito algum estabelecimento ou sítio ", (José Bonifácio).

A não obtenção documentada da posse da terra expurgariá^da-rnesma, a família

de ex-escravos (alforriados ou fugidos), uma vez que estes não tinham como fazê-lo. Çu í

/

De fato como um ex-escravo poderia comprar terras, para retirar seu sustento se Co não era pago por seus trabalhos? Desta forma, o fim do trafico negreiro não foi aplicado j ^ £/>lX>-"'

e não foram estabelecidas medidas para estabelecer condições necessárias para os ^ antigos escravos viverem em condições dignas.

No inicio da colonização a terra era doada pelo rei, neste momento uma junta imperial recebeu a incumbência de decidir a quem conceder a propriedade, a quem vender e o valor da venda.

No ano de 1854 foi aprovada a Lei Nabuco de Araújo (Ministro da Justiça de 1853 a 1857) que previa sanções para as autoridades que encobrissem o contrabando de escravos.

Em 28 de Setembro dei 871, foi sancionada a lei do Ventre Livre, na qual todos os nascidos após esta data ficavam 'livres', tendo apenas que ficar sob a tutela do 'senhor' de seus pais até a idade de 21.

A falta de preparo do Estado Brasileiro para garantir a liberdade destes novos cidadãos era tanta, que assim falou Patrocínio acerca da mesma:

(37)

"V. Ex.a não gosta de lirismo, nós o percebemos, e por isso passamos adiante. Os negros cativos nada têm conosco, dirá. Pois bem: falemos acerca dos filhos das negras cativas. A 28 de setembro de 1871, a aurora da regeneração fundiu, com os propícios raios de seu sol, as cadeias que se fundiam nos ventres das mulheres escravas para logo apertarem os pulsos de seus filhos. O governo formulou a lei de liberdade aos nascidos após esse bendito dia e, pensando que nem só isto bastava, falou em criação de hospícios, em remuneração aos senhores, em mil coisas, enfim. Ora, lá vão quase quatro anos e o governo ainda está com os braços cruzados. O que quer? Quer que essa massa enorme de homens desabe com toda a violência da ignorância por sobre os nossos lares? Quer que esses redimidos venham desempenhar na sociedade, simplesmente, naturalmente, graciosamente, o papel de consumidores de aguardente, mascadores de fumo e irmãos santo ócio? Quebrar os grilhões do cativeiro nada é, ficando intactos os não menos pesados grilhões da ignorância. O escravo não se redimirá somente com a liberdade; é complemento dessa redenção - o livro e a oficina. Ou isto, ou o governo mandar fornecer queijo e garoupa a toda essa gente, quando chegada aos vinte e um anos."(MAGALHÃES,1972,p,122).

A * *

O ^scritoj acirfia nos fala da lei de 1871, a qual garantia a liberdade dos nascituros, porem, o que foi apregoado em lei não foi posto em prática, tendo em vista o abandono a que foram colocados os oriundos do "ventre- livre", ficando estes, assim legados a própria sorte. Como poderia sem pão e educação este novo elemento livre da sociedade brasileira tornar-se cidadão?

Desta vez, Patrocínio escreveu diretamente para o Imperador na esperança que chegasse ao conhecimento deste o descumprimento das leis abolicionistas, como também, a falta de respaldoHos Tíõvos^cidadãos por parte do Império. Tendo em vista que os mesmos estavam entregues~a'própria sorte, o que haveriam de ser e fazer sem terra, dinheiro, trabalho e instrução?

Sucede^esta, a Lei Sexagenári^ou Saraiva /cotegipe (ne. 3.270, aprovada em 1885), na qual todos os escravos com mais defsessènta ficam livres, mas, sem uma política de inclusão social os 'pretos veios' mendigavam nas cidades ou continuavam nas fazendas contando estórias parasues)'nhonhôzinho'. r^ ^

Todas estas leis, escritas, mas nãdí postas em prática,'fizeram com que a elite branca buscasse a manutenção de sua soferat^ia—sobr^ o s d e m a i s grupos étnicos, utilizando-se desta forma da História, ou melhor, dizendo do escrito desta acerca da sociedade brasileira.

Referências

Documentos relacionados

The present study evaluated the potential effects on nutrient intake, when non- complying food products were replaced by Choices-compliant ones, in typical Daily Menus, based on

Durante as quatro semanas de permanência no Hospital Lusíadas, tive a oportunidade de assistir a várias das actividades desenvolvidas pela Ginecologia e Obstetrícia,

Quanto às suas desvantagens, com este modelo, não é possível o aluno rever perguntas ou imagens sendo o tempo de visualização e de resposta fixo e limitado;

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados

Alguns estudos internacionais vêm demonstrando a associação entre a maturação sexual precoce e obesidade em adolescentes, principalmente no sexo feminino.3,28 O objetivo desse

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença