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Redução de danos: um desafio no sistema prisional

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Academic year: 2021

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(1)LAURA CARNEIRO LACERDA. REDUÇÃO DE DANOS: UM DESAFIO NO SISTEMA PRISIONAL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.. Orientadora: Drª Ana Cristina de Souza Vieira. RECIFE 2006.

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(4) Dedico este trabalho ao meu Pai que, ao longo de sua vida, sempre procurou me mostrar a importância da dignidade e justiça. Como um lutador que foi, serviu como um exemplo de perseverança e firmeza. Dedico ao meu irmão Deco, que, embora tenha partido cedo e de forma brusca, soube aproveitar a vida com alegria e felicidade..

(5) AGRADECIMENTOS. A Maurício pelo estímulo, solidariedade, ajuda, companheirismo e paciência. A Gabriel e Diego, meus filhos, que durante o período do mestrado em muitas horas tiveram que lidar com “uma mãe presente no computador” e ter muita paciência e compreensão. A minha Mãe que desde a minha infância me mostrou a importância do investimento na busca do conhecimento como caminho. A Ana Vieira, minha orientadora, que soube compreender o alcance e a importância da Redução de Danos, apesar de nunca ter trabalhado com o tema e que, muito mais do que uma professora, soube ser compreensiva e solidária. À diretoria do Centro de Prevenção às Dependências, nas pessoas de Ana Glória Malcop e Clarissa Dubeux, pela confiança ao me convidar para compor a equipe de trabalho do Projeto de Redução de Danos e posteriormente ao colocar a minha disposição todo material para pesquisa. Aos colegas de trabalho no Projeto Joelma, Mariana, Simone, Marcelo, Marcílio e Luciana. A diretoria da Colônia Penal Feminina que, compreendendo a importância do trabalho, facilitou a minha entrada na unidade e acesso a documentos. E finalmente, gostaria de fazer um agradecimento especial às detentas, que durante o Projeto acreditaram na possibilidade de mudança, crescimento e avanço. E durante o meu retorno à unidade como mestranda, se mostraram disponíveis e colaboradoras..

(6) RESUMO. O objetivo desta pesquisa é a análise do Projeto de Redução de Danos – PRORED executado na Colônia Penal Feminina do Recife pelo Centro de Prevenção às Dependências, questionando seus resultados e sua relação com: o aumento da auto-estima e melhoria da saúde das detentas que participaram como redutoras de danos; a incorporação da prática de redução de danos nas situações e relações cotidianas no trato da questão de uso de drogas e as conseqüências desse uso na Colônia; e a utilização das atividades do Projeto como espaço democrático de acolhimento e de estímulo à reflexão. Desenvolvendo uma avaliação ex-post, tomamos como referência à metodologia qualitativa, utilizando entrevista semi-estruturada com o grupo de detentas que participaram como redutoras de danos no período de 2001 a 2003. Como uma alternativa de enfrentamento aos problemas decorrentes do uso de droga na Colônia e com um caráter democrático e de inclusão social, a execução do PRORED favoreceu o desenvolvimento de ações práticas na área de prevenção e redução dos danos e contribuiu para reflexão e debate, que levaram à adoção de comportamentos e condutas menos danosas, que promoveram a saúde e a elevação do nível da auto-estima das redutoras de danos..

(7) ABSTRACT. The purpose of this research is to analyze the Project of Harm Reduction carried out in the Female Penal Colony of Recife by the Center of Prevention to Dependence, questioning its results and its relation to: self-esteem increase and health improvement of the prisoners that participated as harm reducers; incorporation of harm reduction practice into everyday situations related to the matter of drugs use and its consequences in the Colony; and the use of the Project activities as a democratic space of shelter and encouragement to reflection. Developing an ex-post evaluation, we took the qualitative methodology as reference, using semi-structured interview on the group of prisoners that participated as harm reducers in the period from 2001 to 2003. As an alternative for facing problems due to drug use in the Colony and with a democratic and of social inclusion mark, the accomplishment of the Project allowed the development of practical actions on prevention and harm reduction areas and contributed to debate and reflection, which led to adoption of less harmful behaviors and conducts, which promoted health and rise in the level of harm reducers’ selfesteem..

(8) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 08. 1 DROGAS: USO E ENFRENTAMENTO NA ATUALIDADE 1.1 Conceito e histórico de uso -------------------------------------------------------------- 15 1.2 Classificação das drogas e tipos de usuários --------------------------------------- 21 1.3 Tratamento e prevenção ----------------------------------------------------------------- 25. 2 REDUÇÃO DE DANOS – UMA NOVA FORMA DE ENFRENTAMENTO 2.1 Conceito e origem ------------------------------------------------------------------------- 35 2.2 História da redução de danos no Brasil ---------------------------------------------- 38 2.3 Redução como política oficial do Ministério da Saúde --------------------------- 44 2.4 Redução de danos nas prisões -------------------------------------------------------- 51 2.4.1 Significado e origem da prisão--------------------------------------------------- 52 2.4.2 Prisão no Brasil ---------------------------------------------------------------------- 55 2.4.3 Mulheres na prisão ----------------------------------------------------------------- 61. 3 PROJETO DE REDUÇÃO DE DANOS NA PRISÃO DE PERNAMBUCO 3.1Centro de Prevenção às Dependências e redução de danos -------------------- 66 3.2 Projeto de Redução de Danos da Colônia Penal Feminina do Recife --------- 68 3.2.1 Colônia Penal Feminina do Recife --------------------------------------------- 68 3.2.2 Capacitação de Educadoras Sociais ------------------------------------------ 77.

(9) 3.2.3 Redução de danos na Colônia Penal Feminina do Recife --------------- 80. 4 REDUÇÃO DE DANOS E INCLUSÃO SOCIAL 4.1 Metodologia utilizada ---------------------------------------------------------------------- 89 4.2 População estudada ---------------------------------------------------------------------- 89 4.3 Instrumento de pesquisa ----------------------------------------------------------------- 92 4.4 Redução de danos e melhoria da saúde da auto-estima -------------------------- 93 4.4.1 Visão das detentas acerca da realidade da droga, prisão e Estado --- 93 4.4.2 Motivação para atuação na redução de danos ------------------------------ 97 4.4.3 Forma de lidar com usuário ----------------------------------------------------- 100 4.4.4 Adoção das ações da redução de danos ----------------------------------- 106 4.4.5 Resultados do Projeto de Redução de Danos da Colônia Penal Feminina do Recife ------------------------------------------------------------------------110. CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 117. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------------- 122. ANEXOS ------------------------------------------------------------------------------------------- 130.

(10) INTRODUÇÃO.

(11) INTRODUÇÃO. O uso de substâncias para obtenção de prazer, superar angústia existencial e entrar em contato com forças sobrenaturais não é fato novo, contudo nos defrontamos hoje com mudanças que se caracterizam por novas formas de consumo, criação de drogas sintéticas, e organização do tráfico. Tentar entender o que levou a essas mudanças é um passo importante para também compreender esse fenômeno e seu agravamento na atualidade, pois hoje nos defrontamos com a presença das drogas e seu uso excessivo nos lares, nas escolas, nos locais de trabalho, nas ruas, nas penitenciárias e em tantos outros ambientes. A busca pela melhor compreensão desse fenômeno em seus diversos aspectos é o primeiro passo de um desafio permanente para as autoridades, educadores, familiares e profissionais. Um segundo passo, e não menos importante, desse desafio é o enfrentamento da questão do uso de drogas e os problemas decorrentes desse uso. Para tanto, é de fundamental importância considerar não só a substância (droga), mas também as condições biológicas e psicológicas das pessoas que compõem as populações-alvo, bem como seu contexto social, para que não terminemos por supervalorizar apenas um lado da questão. Aqui vale ressaltar que a epidemia da Aids e de todos os tipos de hepatite sinalizaram para a urgência de mudança no enfrentamento da questão do uso de.

(12) drogas e problemas decorrentes desse uso e diversas áreas do conhecimento, incluindo ciências da saúde, sociais, jurídicas, entre outras, foram envolvidas nos estudos e trabalhos que passaram também a incorporar o usuário como interlocutor. A existência do uso de drogas dentro do ambiente prisional se apresenta como mais um elemento inserido no quadro geral do fenômeno droga em nossa sociedade e, como tal, merece atenção e reflexão diante dos problemas que apresenta. Com base na abordagem da redução de danos, foi implementado o Projeto de Redução de Danos da Colônia Penal Feminina do Recife – PRORED pela organização não-governamental Centro de Prevenção às Dependências. É foco desse estudo o PRORED e o enfrentamento do uso de droga na realidade prisional brasileira atual através da abordagem de Redução de Danos, que vem se apresentando como uma alternativa possível, que busca a saída da visão repressiva para possibilitar uma prática na qual os indivíduos reflitam sobre seu uso e o papel da droga na sua vida1. Pat O’Hare (apud Andrade, 1995) definiu redução de danos a partir do exemplo de uma brincadeira infantil que ocorreu com sua irmã, que, fugindo da forma convencional de se balançar, alongou todo corpo e girou com os pés as correntes do balanço, torcendo-o até o limite. Este movimento provocava um retorno acelerado à posição inicial, deixando-a completamente tonta, momento em 1. Este tema é de particular interesse pela nossa participação como instrutora do Centro de Prevenção às Dependências na Capacitação de Educadores Sociais e no PRORED, no período de setembro de 1999 a dezembro de 2003..

(13) que ela saía do balanço e caminhava, fazendo a brincadeira repetida vezes, com enorme prazer. Ao perceber que ao giro rápido, a cabeça de sua irmã passava muito próxima dos ferros das laterais do balanço e que, no caso de um choque, poderia haver uma lesão grave, ele se viu diante de duas opções: a) proibir a irmã de brincar ou, b) falar para ela encolher cabeça e pernas, de forma a ficar longe do ferro e impedir que se machucasse. Ele optou pela segunda alternativa, acreditando que, se proibisse, a irmã poderia parar naquele momento, mas como se tratava de uma brincadeira que estava lhe dando tamanho prazer, ela poderia fazer posteriormente às escondida com a manutenção do risco de acidente. Fazendo um paralelo entre a situação do balanço e o uso de droga observa-se que o prazer encontrado em se balançar daquela forma pode acontecer no uso de algumas drogas e a proibição e punição não têm surtido efeito na eliminação dos problemas advindos desse uso. Partindo do pressuposto de que sempre existirá o uso de drogas, a redução de danos tem a liberdade de escolha como princípio. Fazer a opção de usar ou não usar é direito de cada indivíduo, cabendo sim a esses indivíduos e aos profissionais buscar formas de lidar com essa realidade sem que haja a segregação, estigmatização e exclusão do usuário. A orientação dada no caso da brincadeira pode ser aplicada à prevenção aos problemas em conseqüência do uso de drogas através de medidas de redução de danos. Como exemplos, temos o uso de seringas descartáveis para usuários de drogas injetáveis (UDI) que não desejam, não podem ou não querem.

(14) parar de usar drogas injetáveis e, ainda, o uso de preservativo para o caso do sexo seguro. São objetivos deste trabalho: analisar os resultados do PRORED, realizado na Colônia Penal Feminina de Recife – PE, relacionando-o com o aumento da auto-estima e melhoria da saúde das detentas que participaram como redutoras de danos no período de 2001 a 2003; analisar a incorporação da prática de Redução de Danos nas situações e relações cotidianas da Colônia Penal Feminina; e verificar nas atividades do PRORED espaços democráticos de acolhimento e de estímulo à reflexão. A hipótese deste projeto de pesquisa é de que a execução do Projeto de Redução de Danos na Colônia Penal Feminina favoreceu o desenvolvimento de ações práticas na área de prevenção e redução dos danos ocorridos em conseqüência ao uso de drogas e contribuiu para adoção de comportamentos e condutas menos danosas que promoveram a saúde e a elevação do nível da autoestima das redutoras de danos. Supõe-se que a estratégia utilizada nesta política, que inclui liberdade de expressão e diálogo, se apresenta como alternativa de inclusão social e construção da cidadania dos beneficiários da política, colocando quem vive o problema como sujeito da ação, seja ele usuário ou pessoa que está próxima desta realidade. Na. investigação,. inicialmente. buscamos. um. quadro. teórico. de. conhecimento, que possibilitou situar o problema de uso de drogas no Sistema Penitenciário no contexto social, econômico e político de forma ampla..

(15) Após a apreensão do quadro teórico, realizamos leitura e análise documental do Projeto de Redução de Danos da Colônia Penal Feminina, bem como de outros projetos executados no Brasil na área de Redução de Danos, para, com isso, conhecer a história, as lutas e os avanços desse campo de trabalho. Com base no conhecimento apreendido no campo teórico, procedemos à coleta de dados junto às detentas da Colônia Penal Feminina, tomada como estudo de caso. A metodologia utilizada para coleta de dados foi de caráter qualitativo, com utilização de entrevistas semi-estruturadas com redutoras de danos. O primeiro capítulo desta dissertação está centrado nos elementos de enfrentamento da questão de uso de droga utilizados até década de 80, sem visar a esgotar a questão, mas a contribuir para um debate crítico sobre a mesma. No segundo capítulo, apresentamos os elementos que definem a redução de danos como novo modelo de enfrentamento da questão droga, sua origem e histórico no Brasil. Em seguida, definiremos a prisão, enfocando seu surgimento, sua função na sociedade e uso de droga no seu interior. No. terceiro. capítulo. apresentamos. o. Centro. de. Prevenção. às. Dependências, instituição que elaborou e executou o Projeto de Redução de Danos – PRORED, o próprio Projeto e, por fim, a Colônia Penal Feminina, unidade prisional onde foi executado o Projeto..

(16) No quarto capítulo, apresentamos a pesquisa e seus resultados, procurando demonstrar que o trabalho executado como redutora de danos contribuiu diretamente para melhoria da saúde e para elevação da auto-estima das detentas que participaram do Projeto de Redução de Danos da Colônia Penal Feminina..

(17) CAPÍTULO I. DROGAS: USO E ENFRENTAMENTO NA ATUALIDADE.

(18) 1 DROGAS: USO E ENFRENTAMENTO NA ATUALIDADE 1.1 Conceito e história de uso O uso de drogas excessivo e problemático apresentado hoje no mundo, atingindo as diversas camadas sociais da população e estando presente nos lares, nas escolas, nos locais de trabalho, nos bairros, nos centros de recreação, nas penitenciárias, entre outros espaços, traz a necessidade de se reconstruir a forma de enfrentar e compreender este fenômeno em sua amplitude, levando em consideração não só a substância (droga), mas também as condições sociais e psicológicas das pessoas que compõem as populações usuárias, o que é um desafio não só para os profissionais que trabalham na área, como também para toda sociedade. Mas, para isso, é preciso iniciar analisando a visão e o conceito que a sociedade tem sobre droga e partir do esclarecimento de alguns pontos que, durante anos, foram cultivados no imaginário das pessoas e que atualmente a mídia, com seu poder de formadora de opinião, faz questão de estimular e ampliar: •. Droga é uma coisa nova e é causadora de todos males da sociedade atual.. •. Todo usuário de droga é um “viciado”.. •. Só as drogas ilegais são perigosas.. •. Pode existir uma sociedade sem droga. Droga, uma palavra com vários significados, tem sua origem etimológica no. persa (droa= odor aromático), hebraico (rakab = perfume), holandês (droog = folha.

(19) seca) (Reghelin, 2002, p. 70). Lembramos que todo medicamento é chamado de droga e que esta palavra pode ainda ser usada como sinônimo de coisa ruim, contudo o significado que para nós é importante e, com o qual trabalharemos, é o de droga como substância psicoativa (SPA). Drogas ou substâncias psicoativas são substâncias naturais ou sintéticas, que atuam no cérebro através do sistema nervoso central e são utilizadas para produzir mudanças no comportamento, nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional (SENAD, 2000). Segundo Bucher (1989), os seres humanos recorrem às drogas para escapar à consciência da transitoriedade da existência e à angústia que isso provoca, na procura da transcendência, ou seja, na busca da relação com o sobrenatural e na busca do prazer. Encontramos o uso das substâncias psicoativas em diferentes culturas e em todos os cantos do mundo, cumprindo diferentes papéis, como, por exemplo, o uso em rituais religiosos (álcool), para integração social (álcool, maconha), para fins terapêuticos (morfina) e para combater efeitos da altitude (coca). Segundo Araújo e Moreira (2006), nossos primeiros ancestrais, que eram herbívoros, já faziam uso de plantas psicoativas para suprir necessidades neurológicas e tolerar as adversidades do ambiente em que viviam. Na antiguidade, encontramos o uso de drogas entre os egípcios e mesopotâmios com finalidades médicas e profanas; esses povos, que já conheciam o processo de fermentação das frutas desde 3000 a.C., tinham o.

(20) vinho, a cerveja e o ópio (extraído do fruto da papoula) como sustâncias mais consumidas. Na Índia, o hábito de usar substâncias psicoativas estava mais ligado ao fim religioso, tendo registro de que já se fumava maconha nos primeiros tempos da meditação budista. Existem registros de que, em 4000 a.C., o cânhamo era utilizado na China. O hábito da população indígena das Américas de mastigar a folha da coca remonta a quatro mil anos (Araújo e Moreira, 2006). Na Europa da Idade Média, fragmentada em feudos que tinham a moral cristã como principal elo de ligação entre si, o uso de substâncias psicoativas passou a ser associado a atitudes demoníacas que podiam incorrer em penas. Eram considerados bruxos aqueles que insistiam em manipular ervas, como a mandrágora, que tinha poder alucinógeno. Com o fim da Idade Média e o advento das grandes navegações, com conquistas de novas terras, às drogas conhecidas na Antiguidade somam-se a outras, trazidas do Novo Mundo, não só para experiências científicas, como para uso recreativo. Escohotado (Apud Araújo e Moreira, 2006, p. 12) considera o século XIX como um período de grande tolerância ao uso de substâncias psicoativas, tendo como marco a fundação do Clube dos Haxixins (1842) pelo psiquiatra francês J.J. Moraeu de Tours, que empregava o haxixe no tratamento de sofrimento mental. É deste período o aperfeiçoamento de métodos de pesquisa que causaram o isolamento de princípios ativos e desenvolvimento de produtos como morfina (1803), heroína (1859) e cocaína (1859)..

(21) O espaço da droga teve sua expansão e vem sofrendo transformações que acompanham a mudança mais geral da sociedade, na qual o avanço da tecnologia e do processo produtivo vem acompanhado de uma valorização dos interesses individuais e da lógica do mercado, que, contraditoriamente, ao mesmo tempo em que gera o aumento da riqueza, gera uma profunda desigualdade e miséria. Para Plastino (2000, p. 23), “A solidão e o desespero que resultam dessa situação se exprimem no sensível aumento de consumo de drogas (legais ou não) e do alcoolismo”. O uso de SPA saiu do âmbito tradicional, religioso e do prazer de pequenos grupos2, para se revestir de interesses de grandes grupos, refletindo as mudanças econômicas, sociais e políticas das últimas quatro décadas. Assim, Mourão (2003, p. 117) afirma: Aquele momento em que jovens, artistas e intelectuais experimentavam alternativas possíveis ao mundo existente, por meio da percepção propiciada pela droga, foi sendo progressivamente substituído por uma realidade muito aquém desses líricos ideais. O status ”revolucionário existencial” da droga na contracultura parece ter sido rapidamente manipulado e totalmente destituído de seu estatuto simbólico.. Em um mundo capitalista, no qual a meta é o lucro a qualquer preço, a droga entra como produto comercial, regido pela lei da oferta e da procura (mercado), ocupando um lugar de destaque no contexto mundial. Com caráter de negócio o tráfico de drogas, hoje organizado internacionalmente, apresenta-se 2. Passaram, por exemplo, por movimentos de contracultura na década de 60, no qual o uso era sinal de rebeldia ao sistema e de busca de novos valores (movimento hippie), ao rito de passagem quando se ingressava na universidade ou na adolescência,.

(22) como um conjunto de atividades em rede que tem como objetivo principal o lucro. O comércio de droga tornou-se uma fonte de lucros altos e rápido que para Zaluar (2004, p. 159), “atravessa classes sociais, tem organização empresarial e não sobrevive sem o apoio institucional das agências estatais incumbidas de combatêlo”. Concordamos com o Centro de Prevenção às Dependências (2002a, p. 17) quando afirma: A mudança dos hábitos em relação às drogas não aconteceu isolada do movimento geral da sociedade. O avanço da industrialização acarretou transformações nos meios de produção, comercialização e propagação dos produtos, numa era de aparente opulência, em que o consumo desenfreado de novos carros, roupas, telefones, comidas, casas e viagens tornou-se o ideal de vida de grande parte da população. Este padrão de consumo, estimulado pela propaganda, afetou igualmente a relação das pessoas com as drogas. Produtos recentes ou tradicionais, lícitos ou ilícitos, conhecem novas vias de fabricação e novas regras de oferta. A época moderna fez surgir novas motivações e novas formas de procura de substâncias psicoativas, tanto por jovens como por adultos de todas as classes sociais.. Contudo não é de se estranhar que a mesma sociedade que gerou injustiças tão profundas e ainda gera desequilíbrios na distribuição de bens e rendas decorrentes do modo de produção, por outro lado, estimule o consumo desenfreado de substâncias que possam trazer uma sensação de felicidade, prazer, beleza e alívio da dor e da fome..

(23) É nos Estados Unidos, a partir dos anos 50, que é inaugurado o “problema público” das drogas, com a “epidemia de heroína” (Paixão, 1999, p. 131). Naquele momento, com os jovens desempregados e desmobilizados com o fim da guerra, dá-se início à estruturação e expansão de um mercado de produção, distribuição e consumo de drogas. Como conseqüência, começam a se aprofundar, nos diversos países, uma divisão de quais seriam as drogas permitidas e quais seriam as proibidas, isso, “obedecendo muito mais uma ordem histórica e moral do que farmacológica” (REDUC, s/d). Já Parsons e Geertein (apud Paixão, 1999, p. 130) acrescentam que, nos Estados Unidos, “cruzadas moralistas de forte conotação racista – os migrantes chineses eram vistos como inveterados consumidores de ópio - e a profissionalização da medicina e da farmácia resultaram na regulação legal do uso e comercialização de narcotráfico nas primeiras décadas do século XX”. No Brasil existe registro do uso recreativo de éter, cocaína e morfina pelas elites, já nas primeiras décadas do século XX. A maconha era liberada, mas considerada como “ópio de pobre” (Paixão, 1999, p. 131), só na década de 30 foi considerada ilegal, o que serviu de desculpa para perseguir a população negra, considerada perigosa, e que, na época, era a maior consumidora. “Com esse novo artifício legal, qualquer negro era automaticamente suspeito de ser ”maconheiro“, podendo ser abordado, interrogado ou preso para averiguação” (REDUC, s/d). Apesar da repressão, a partir da década de 60, a maconha ganhou espaço e se tornou hábito entre os jovens da classe média..

(24) Logo, é importante não perdermos de vista que o que faz certas drogas serem consideradas verdadeiros “demônios”, é originário de uma questão de ordem moral, histórica, econômica e política, pois, conforme é sabido, tanto o cigarro como o álcool, que são as drogas que hoje mais danos trazem aos indivíduos e à sociedade, são consideradas lícitas e seu uso é estimulado em todas as camadas sociais. As drogas podem ser classificadas como lícitas (legais) quando têm seu consumo, distribuição e fabricação permitidos por lei, ou ilícitas (ilegais) aquelas que têm proibidas por lei a sua produção, distribuição e consumo.. 1.2 Classificação das drogas e tipos de usuários Assim como é importante não perder de vista essa questão da licitude ou não das drogas, é importante entendermos que os efeitos provocados por determinada droga não são os mesmos para todas as pessoas e até mesmo para a mesma pessoa, eles podem ser diferentes dependendo do momento, do local, do estado físico e psicológico e, principalmente, da intenção de uso. Segundo Olievenstein (1985), em todo episódio de droga devem ser analisados três elementos: a droga em si (substância), o indivíduo que faz o uso e o contexto sócio-cultural..

(25) Bastos (2003, p. 37) acrescenta: Nenhuma substância determina comportamentos, mas tão somente contribui para explicitação de comportamentos e atitudes que já são característicos das pessoas, ou seja, não é a bebida que torna uma pessoa agressiva, mas sim que pessoas agressivas podem se tornar explicitamente agressivas quando alcoolizadas.. As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental. Segundo os efeitos que provocam, podem ser classificadas em depressoras, quando retardam a atividade mental diminuindo a atenção e a concentração, fazendo com que as pessoas se sintam relaxadas e calmas (álcool, tranqüilizantes, inalantes); estimulantes, se acelera a atividade mental fazendo com que a pessoa se sinta animada, alerta e disposta (cocaína, tabaco, anfetaminas); e as perturbadoras, que alteram o funcionamento do cérebro fazendo com que ele funcione de forma desordenada (artane3 e LSD). Deve-se considerar também que as alterações que são causadas pelos vários tipos de drogas podem variar de acordo com as características do indivíduo que está fazendo uso, da substância que está sendo utilizada e da quantidade, do efeito que se espera da droga e da situação em que está sendo consumida. (SENAD, 2000) Diferenciar os tipos de usuários é também uma questão de grande importância, pois o comum é ser considerado “viciado” apenas aquele usuário da droga ilícita (maconha, cocaína, crack e outras), esquecendo que drogas como. 3. Medicação para Parkinson..

(26) álcool e cigarro também causam dependência. Assim, existe uma classificação usada pela OMS, independente da substância que se utilize, que distingue quatro tipos de usuários: •. Experimentador – aquele indivíduo que fez uso alguma vez na vida para experimentar.. •. Recreativo ou social – aquele que utiliza um ou vários tipos de drogas de forma esporádica, seja em uma festa ou alguma outra ocasião.. •. Problema – aquele indivíduo que faz uso reiterado de droga e que já apresente problema relacionado com o consumo.. •. Dependente – aquele indivíduo que consome a droga e não tem nenhum controle sobre seu uso, apresentando problemas de ordem psicológica, física e social.. Para Silveira (1995, p.142): Não se trata do desejo de consumir drogas, mas da impossibilidade de não consumi-la. Estabelece-se, assim, um duo indissociável indivíduo-droga, onde tudo o que não é pertinente a essa relação passa a constituir pano de fundo na existência de dependente. Este duo permanece indissociável enquanto a droga for capaz de proporcionar esta alteração da percepção de uma realidade insuportável, respondendo assim pela manutenção do equilíbrio do indivíduo. Para o dependente, a droga é uma questão de sobrevivência.. Uma pergunta com a qual nos defrontamos e para a qual até o momento não existe uma resposta precisa é: o que faz uma pessoa passar de simples experimentador a usuário social ou dependente? Conforme Andrade (1995), o.

(27) certo é que, mantendo um ciclo de preconceito e estigmatização em decorrência da exclusão que se impõe ao usuário de droga, estamos habituados a confundir os vários tipos de consumo e rotular todos na condição de “viciado” e a fazer uma relação direta entre o uso de droga e a criminalidade, esquecendo muitas vezes que a droga é utilizada em todas as classes sociais, sem distinção de sexo, idade ou etnia. O consumo de drogas tem atingido formas e proporções preocupantes no decorrer das últimas décadas, contudo, como diz Andrade (1995, p. 125), “o fato de se usar drogas, inclusive nas formas mais comprometedoras e arriscadas, não significa que o indivíduo tenha de fazê-lo por toda vida”. Se não pensarmos o uso de droga apenas como doença, poderemos entender e aceitar que existem vários padrões de consumo e que nem todos podem ser considerados prejudiciais e nem necessariamente levam o usuário à dependência, pois as estatísticas apontam que, para os usuários de álcool e maconha, um percentual de menos de 10% desenvolverá a dependência (Silveira, 2006, p. 6). Compreender o fenômeno das drogas na nossa sociedade exige adotar uma atitude ao mesmo tempo crítica e aberta, tentando analisar todos os aspectos que nos informam sobre o significado do uso dessas substâncias pelos vários grupos sociais. A droga em si é apenas uma substância, ela é apenas um instrumento na mão do homem. Mas é importante também ter claro que o uso de droga está intimamente relacionado com comportamentos de riscos, que deixam vulneráveis tanto os.

(28) próprios usuários como aqueles que o cercam. Acidentes de trânsito, homicídios, suicídios, exposição às doenças sexualmente transmissíveis e aids, violência doméstica são freqüentemente permeados pelo uso de drogas lícitas e/ou ilícitas. Por isso, é necessário perceber de que maneira o uso de determinada substância, em situações específicas, expõe as pessoas a perigos que podem até acabar com as suas vidas e com as de terceiros, como por exemplo, o binômio sexo x droga sem proteção.. 1.3 Tratamento e Prevenção A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD) identificam quatro aspectos para caracterizar um tipo de tratamento (Apud: Ribeiro, Figlie e Laranjeira, 2004, p. 484): • Caráter da intervenção – identifica qual o tipo de intervenção utilizado em um serviço de atendimento, podendo ser usado mais de um tipo no mesmo serviço:  Intervenção. biofísica. procedimentos. físicos. –. sem. como. usar. medicação,. acupuntura,. utiliza. massagem. e. eletroconvulsores;  Intervenção farmacológica – utiliza medicamentos;  Intervenção psicológica – engloba o acompanhamento terapêutico e intervenções psicoterapêuticas;.

(29)  Intervenção social - visa modificação do contexto social do usuário. • Estratégias terapêuticas – são organizadas a partir de três componentes: a) tratamento profissional especializado, b) estrutura de apoio não profissional e c) atividades de ajuda mútua ou auto-ajuda. • Metas terapêuticas – dizem respeito ao “propósito maior” do tratamento e englobam:  Serviços que objetivam tratar a dependência e suas comorbidades, tendo como base à abstinência total, promovem a redução da demanda.  Serviços que querem atuar sobre os fatores estimuladores e mantenedores do consumo buscam a redução da oferta.  Serviços interessados em reduzir as conseqüências do uso sem que exatamente influa na demanda fazem redução de danos. • Filosofia do tratamento – refere-se aos aspectos ideológicos e teóricos que norteiam o programa:  Tratamento de orientação moral – trata o uso de drogas como “falha de caráter” e usa a culpa como elemento reabilitador, contudo considera que “a pessoa é um dependente em recuperação para a vida toda” (Lacks e Quaglia, 2006, p. 129);.

(30)  Tratamento de orientação espiritual – trabalha com a religiosidade e espiritualidade como elementos terapêuticos;  Tratamento de orientação biológica – trata o uso de droga na sua relação com o organismo. “O dependente é incapaz de exercer controle sobre o comportamento em razão da influência vigorosa dos fatores biológicos subjacentes” (Lacks e Quaglia, 2006, p. 129). A abstinência é o referencial para alta e cura;  Tratamento de orientação psicológica – parte do princípio que a dependência é a expressão de conflitos ou disfunções emocionais.  Tratamento de orientação sociocutural – toma como referência o processo de socialização do sujeito e considera a dependência um mau comportamento aprendido. Segundo Lacks e Quaglia (2006), a abstinência é o maior referencial de cura. Observa-se que até a década de 80 essas orientações reconheciam a abstinência como principal objetivo a buscar. Diante do pequeno índice, de 30 a 35% (Silveira, Julião e Moreira, 2006, p. 110) de procura e permanência nos tratamentos por parte dos dependentes químicos e com os avanços nos campos psicológicos e sociais e no conceito de saúde, foi ampliado o debate em relação ao uso de droga, valorizando-se outros aspectos, que não só a abstinência total. Para Teixeira (2006, p. 123) “Entretanto, o julgamento moral, o preconceito e a exclusão, derivados da raiz histórica de um olhar conservador e retrógrado.

(31) perduram nos dias de hoje, contribuindo para aumentar as dificuldades na atenção aos usuários de drogas”. O tratamento vem sendo oferecido ao usuário de droga em vários ambientes. que. apresentam. diversos modelos de tratamento, como os. mencionados por Ribeiro, Figlie e Laranjeira (2004): •. Rede primária de atendimento à saúde – o crescente aumento do uso de drogas e, conseqüentemente, a necessidade de tratamento, obrigou à capacitação dos profissionais no que refere à questão dos problemas advindos desse uso e, considerando que o usuário procura com mais freqüência o tratamento clínico na rede primária do que o serviço especializado, esse tipo de atendimento tem sido de grande importância para o diagnóstico e encaminhamento, quando necessário, para tratamento especializado;. •. Unidades comunitárias de álcool e droga – Estas unidades são uma alternativa, devido ao pequeno número de hospitais e clínicas especializadas para atender à demanda de tratamento. Estão mais próximas das redes primárias e tentam manter maior contato com a comunidade para, com isso, estar mais próximo da realidade do paciente;. •. Unidade ambulatorial especializada – centros especializados com médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e educadores voltados ao atendimento de usuários de.

(32) drogas. Nesta categoria se enquadram os Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD); •. Hospital geral – espaço onde hoje encontramos enfermarias de desintoxicação (Ribeiro, Figlie e Laranjeira, 2004, p. 467) para álcool e drogas e é também um espaço bastante utilizado por ocasião do surgimento de problemas físicos relacionados com o uso de drogas, como por exemplo, problemas cardíacos e acidentes. Deveria ser usado, com maior freqüência e de forma mais eficaz para motivação e. orientação,. para. diminuição. de. condutas. de. riscos. e. encaminhamento a tratamento, quando necessário; •. Moradia assistida e albergue comum – a moradia assistida é uma opção de ambiente terapêutico que busca proporcionar ambiente estável e protegido com estrutura de hotel, já no caso do albergue o indivíduo pode apenas buscar um local para pernoitar e não participar do tratamento;. •. Hospital psiquiátrico – espaço ainda utilizado para tratar pacientes que apresentam quadro de agressividade e risco de suicídio;. •. Hospital-dia – ambiente de tratamento que tem a vantagem de manter o indivíduo em seu grupo de convívio, mas que oferece cuidados no controle de medicamento e manejo de sintomas agudos;. •. Grupos de auto-ajuda – com característica de grupo de leigos e voluntários, normalmente são constituídos por pessoas que já.

(33) apresentaram o problema e que apresentam seus depoimentos como recurso terapêutico. O AA (Alcoólicos Anônimos), que foi criado nos Estados Unidos em 1935, surgindo como primeira resposta ao crescente problema do alcoolismo, é considerado até hoje como um dos esforços para ajudar os dependentes. Na mesma linha de trabalho encontramos também o NA (Narcóticos Anônimos); •. Comunidades terapêuticas – constituídas por grupo de leigos e voluntários, partem da necessidade de remover o indivíduo do seu meio ambiente e promover mudanças necessárias para alterar sua condição;. •. Sistema Judiciário / Justiça Terapêutica - em situação de contravenção penal com uso de drogas, o indivíduo pode ser encaminhado pelo juiz a tratamento como alternativa à punição;. •. Empresas – hoje muitas empresas optam por tratar seus funcionários, ao invés de demiti-los.. Contudo é importante ter claro que nenhuma dessas intervenções teve ou tem hoje capacidade de absorver e ter êxito para todos os tipos de dependências e dependentes. Encontramos pessoas que conseguem se adaptar e ter efeitos positivos em um determinado modelo de intervenção e não em outro. Ainda para Ribeiro, Figlie e Laranjeira (2004, p. 462), “a compreensão e o entendimento das possibilidades e limitações de cada ambiente de tratamento auxiliam o processo de adequação de um serviço às necessidades da comunidade à qual presta assistência”..

(34) Cabe ressaltar que, no Brasil, desde a década de 90, o Ministério da Saúde, com suas novas diretrizes governamentais para a atenção aos usuários de álcool e outras drogas, tem o objetivo de diminuir as internações psiquiátricas por meio da ampliação da rede ambulatorial e criação, pelos estados e municípios, de unidades intermediárias entre o tratamento ambulatorial e a internação hospitalar, com ênfase nas ações de reabilitação psicossocial dos usuários. A prevenção ao uso de drogas surge como um conjunto de ações que é oferecido à comunidade para evitar problemas de saúde e que buscam fortalecer o indivíduo no enfrentamento da questão. Tradicionalmente, a prevenção ao uso de drogas pode ser caracterizada em: •. Prevenção primária – como uma intervenção anterior ao contato, é o conjunto de ações que busca evitar o uso de droga;. •. Prevenção secundária - como uma intervenção depois do contato com a droga, é o conjunto de ações que procuram evitar complicações para as pessoas que fazem uso de uma droga, mas que apresentam níveis relativamente baixos de problemas associados a este uso;. •. Prevenção terciária – no caso da existência de uma dependência, conjunto de ações que procuram evitar prejuízos adicionais.. Para Pereira, Bordim e Figlie (2004), existem três principais linhas de atuação:.

(35) •. Aumento do controle social – essa linha defende ações que visem o aumento do controle sobre os indivíduos e a diminuição da tolerância do uso de drogas, com proibição e extrema fiscalização.. •. Oferecimento de alternativas – essa linha de ação parte do princípio de que o uso tem sua origem em problemas e tensões sociais e que a busca pela droga aparece como escape, assim procura-se formar grupos de discussão e oferecer atividades culturais, esportivas e de lazer.. •. Educação – essa linha de ação apresenta os seguintes modelos:  Modelo do princípio moral – interpreta e associa o uso de drogas ao campo da moral e ética;  Modelo do amedrontamento – expondo fundamentalmente os pontos negativos, procura aliar o uso de drogas a fatos amedrontadores;  Modelo do conhecimento científico – oferece informações científicas e imparciais sobre drogas, em contraposição ao modelo anterior;  Modelo da educação afetiva – neste modelo, o centro da atenção se volta para a pessoa e não para a droga, buscando modificar fatores pessoais, como auto-estima, que possam influenciar na negação do uso de drogas;.

(36)  Modelo de estilo de vida saudável – valoriza o estilo de vida saudável, trabalhando alimentação e prática de esporte e o uso de drogas é encarado como fator de impedimento para uma boa saúde;  Modelo da pressão positiva de grupo – acredita na possibilidade e força que o grupo tem de influenciar positiva ou negativamente..

(37) CAPÍTULO II. REDUÇÃO DE DANOS: UMA NOVA FORMA DE ENFRENTAMENTO.

(38) 2 REDUÇÃO DE DANOS - UMA NOVA FORMA DE ENFRENTAMENTO 2.1 Conceito e origem Pensar no conceito da Redução de Danos nos remete á constatação de que não existe sociedade sem a presença do uso de droga e que muitos usuários não querem, não podem ou não conseguem parar de usar. A partir dessas duas constatações, a Redução de Danos, da maneira como é usada hoje na Saúde Pública, tem a preocupação de diminuir os prejuízos ocorridos em conseqüência do uso de droga, sem que o usuário tenha exatamente que cessar o uso. A estratégia de Redução de Danos, segundo Marlatt (1999), representa uma abordagem pragmática, realista e extremamente comprometida com os direitos humanos. Como princípio básico, reconhece a liberdade de cada pessoa de escolher as mais variadas maneiras de obtenção de prazer, mas, acima de tudo, respeitando o direito do usuário e aceitando que as pessoas poderão continuar a usar drogas, seja porque não conseguem, porque não podem ou porque não querem parar. Partindo dessa compreensão a questão não pode se limitar a prevenir o uso de drogas, mas é preciso reduzir os danos associados a esse uso. Algumas pessoas continuarão usando droga, mas é necessário não perder de vista que, mesmo continuando a usar drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, as pessoas continuam portadoras de direito à saúde, entre outros direitos sociais, como qualquer outro ser humano..

(39) Segundo Andrade (Apud REDUC, s/d), a “Redução de Danos é uma política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos de natureza biológica, social e econômica do uso de drogas, pautada no respeito ao indivíduo, no seu direito de consumir drogas”. Nesta perspectiva, de acordo com Sampaio e Campos (2003, p. 12): “A apropriação da Redução de Danos pela coletividade e, mais importante, a compreensão e aceitação social dessa proposta, passam pela revisão de questões profundamente arraigadas nas formas de perceber as drogas e, conseqüentemente, das formas de lidar com elas”.. A Redução de Danos não é uma coisa nova, pois teve sua origem em 1926, na Inglaterra, com o Relatório Rolleston4: Estabeleceu o direito dos médicos ingleses de prescrever suprimentos regulares de opiatos a adictos dessas drogas, nas seguintes condições: como manejo de síndrome de abstinência em tratamentos com objetivo de cura; quando ficasse demonstrado que, após prolongadas tentativas de cura, o uso da droga não pode ser seguramente descontinuado; e quando ficasse demonstrado que o paciente apenas é capaz de levar uma vida normal e produtiva se uma dose mínima da droga for administrada regularmente, mas ficasse incapaz disso quando a droga fosse inteiramente descontinuada.. Tal política continuou a ser utilizada pelo Departamento de Saúde de Merseyside, atendendo à população da cidade de Liverpool. (Marlatt, 1999, p. 35). 4. O Rolleston Report é um relatório de recomendações de uma comissão interministerial presidida pelo Ministro da Saúde da Inglaterra. Consultar Manual de Redução de Danos. (Brasil, 2001, p. 11)..

(40) Seguindo essa linha de pensamento e defendendo mudanças na política de drogas, associações de usuários de drogas injetáveis - Junkiebond5, preocupadas com a disseminação das hepatites virais nos anos 80 na Holanda, implementaram ações baseadas nesse princípio, tendo como destaque a troca legal de seringas. Ao mostrar-se uma grande aliada também na luta contra o crescimento da disseminação da aids, essas ações foram ganhando força em várias partes do mundo. É importante chamar atenção que a Redução de Danos, da maneira que é vista e trabalhada hoje nos diversos programas conhecidos pelo mundo, surgiu como uma abordagem de “baixo para cima”, pensada por dependentes e baseada na defesa da sua saúde, que tem os usuários e ex-usuários como seus principais parceiros na ação, “indivíduos afetados são aceitos como parceiros capazes de assumir responsabilidade pela realização de mudanças pessoais em seus comportamentos e de ajudar os outros a fazer o mesmo” (Marlatt, 1999, p. 50). Na Holanda, o termo Redução de Danos foi introduzido pela primeira vez em uma publicação da Secretaria de Estado para Proteção da Saúde e do Meio Ambiente em 1981. O sociólogo holandês Engelsman (Apud Marlatt, 1999, p. 31) afirma: Nos anos 80 surgiu uma nova filosofia... Cada vez mais, o governo incentiva formas de auxílio cujo principal objetivo não era eliminar o comportamento adictivo como tal, e sim melhorar o bem-estar físico e social dos viciados e. 5. Junkiebond (Liga de Dependentes) foi fundada em Roterdã como sindicato para usuários de drogas pesadas com o objetivo de zelar pelos interesses, no que refere a vida e saúde dos usuários de drogas (Marlat, 1999, p. 31)..

(41) ajudá-los a atuar socialmente. Nessa fase, a incapacidade (temporária) do viciado de abandonar o uso de drogas estava sendo aceita como fato. Esse tipo de assistência pode ser definido como Redução de Danos ou, em termos mais tradicionais, prevenção secundária e terciária. Sua efetividade só pode ser assegurada por serviços de baixa exigência e auxílio acessível, os quais são conceitos-chave na política holandesa em relação às drogas. Isso toma a forma de: trabalho de campo nas ruas, em hospitais e em prisões; centros de livre circulação para prostitutas; fornecimento de metadona6 prescrita como droga substituta; apoio material; e oportunidade de reabilitação social.. 2.2 História da Redução de Danos no Brasil Até a década de 80, no Brasil, as tentativas de controle do uso de drogas adotavam estratégias pautadas nos modelos: • Jurídico-policial – buscando a redução da oferta, trabalha com políticas ligadas a repressão da produção, tráfico e consumo. Sem diferenciar o usuário do traficante, termina por penalizar o usuário, que passa a ser visto como delinqüente. A estigmatização e a segregação são conseqüências deste modelo; • Médico tradicional – busca a redução da demanda, procurando desestimular o consumo tem a visão de que o usuário é um doente. Centra-se no modelo de abstinência e do controle social que também gera segregação. Essa intervenção seguia fielmente o comando e orientação americana, que, com o crescimento do comércio de drogas ilícitas aliado ao crescimento do 6. Opiáceo substituto da heroína. Droga sintética produzida por serviço médico (Zaluar, 1999, p. 17)..

(42) consumo, fez surgir a chamada “guerra às drogas”. Segundo Bucher (1995), desde o final dos anos 70, os Estados Unidos é o principal defensor deste modelo, privilegiando a repressão ao tráfico e consumo, à custa da supressão de direitos civis, cujo “objetivo final é o de promover o desenvolvimento de uma sociedade livre de drogas” (Marlatt, 1999, p. 45). Esta política tem um eixo interno que tenta reprimir o tráfico e o consumo através da criminalização, com a rigidez da lei, e um eixo externo com o combate a redes e rotas de narcotráfico e a participação na destruição de plantações em países produtores de drogas ilícitas. Mesmo com um alto investimento nacional e internacional, os Estados Unidos são “apontados pelas estatísticas e pelos especialistas como o país com o maior número de drogas diversificadas em circulação” (Zaluar, 1999, p. 19). Sua taxa de criminalidade não foi reduzida, o que resultou foi o aumento do índice de encarceramento dos usuários como denunciam agentes penitenciários daquele país que “hoje encarceram e vigiam simples usuários de drogas e não perigosos criminosos” (Zaluar, 1999, p. 20). Para Bigg7 (2003, p. 200): A reação inicial da sociedade americana às pessoas que experimentaram problemas com o uso de drogas, especialmente a condenação moral e a opressão legal, impediu-nos de focalizar mais cedo o desenvolvimento de um sistema de alívio de drogas, que só surgiu formalmente no século XX. Além disso, a luta da sociedade contra um uso individual não-problemático de drogas distorceu nossa capacidade em prevenir e tratar seus problemas, pois. 7. Psicólogo, diretor do Chicago Recovery Alliance (CRADC) EUA..

(43) nossos recursos foram gastos na utopia de uma “sociedade livre de drogas”8, e não em focalizar realisticamente a prevenção e diminuição dos danos produzidos por elas.. Para Trigueiros e Haiek (2006), as ações de redução de danos ingressaram tardiamente na nossa realidade, pois as epidemias de HIV e hepatite C já tinham infectado muitos usuários de drogas injetáveis. A primeira iniciativa de adoção de estratégias de Redução de Danos no Brasil aconteceu em 1989, em Santos – SP, cidade portuária, onde 60% do total de casos de Aids notificados eram de usuários de drogas injetáveis. A ação realizada por uma equipe ligada à Secretaria de Saúde daquela cidade, tendo como objetivos a prevenção e a manutenção da vida de seres humanos, foi interrompida pela Justiça, por não compreender o seu alcance, enquanto ação de saúde pública. A equipe de profissionais e inclusive o secretário municipal de saúde foram ameaçados de prisão, mas houve uma negociação com a promotoria pública e desistência da ação para não se criar precedentes que impedissem a ação em outros locais do país. Em 1990, uma organização não-governamental chamada Instituto de Estudos e Pesquisas em Aids de Santos – IEPAS foi clandestinamente às ruas e, em contato com usuários de drogas injetáveis, passou a distribuir seringas, ensinar e orientar a limpar os equipamentos de uso de droga injetável (Trigueiros e Haiek, 2006).. 8. Grifo do autor..

(44) Em 1991, em São Paulo, o PROAD – Programa de Orientação e Atendimento às Dependências treinou pacientes atendidos em seu programa para, na rua, junto aos usuários de drogas injetáveis, distribuir hipoclorito de sódio e orientar a desinfetar suas seringas e a não compartilhar seus equipamentos de injeção. Como fruto do processo de discussão já implantado, o Conselho Federal de Entorpecentes (COFEM), órgão ligado ao Ministério da Justiça, em setembro de 1994, por meio de parecer, autorizou a troca de seringas, mas com a ressalva de que a troca só poderia ocorrer quando associada à pesquisa. Em março de 1995, com o apoio do Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional DST / Aids e financiamento do governo do estado da Bahia, surge, em Salvador – BA, o primeiro programa oficial de Redução de Danos do Brasil e da América Latina, no Centro de Estudos e Terapia ao Abuso de Drogas (CETAD), tendo como uma das principais ações, a troca de seringas de usuários de drogas injetáveis. Em 1996, a partir de projetos elaborados pela Coordenação Nacional DST/Aids -Ministério da Saúde, contando com a experiência e o apoio dos técnicos do CETAD, seis novos Programas de Redução de Danos (PRD) são implementados no país. A primeira lei estadual a legalizar troca de seringas e agulhas descartáveis entre usuários de drogas injetáveis, com autoria do deputado Paulo Teixeira, foi sancionada no Estado de São Paulo, em 15 de março de 1998, durante a IX Conferência Internacional de Redução de Danos. Contamos hoje com 15 leis.

(45) estaduais e municipais, mas encontramos programas que funcionam sem que tenha havido a devida legalização (Brasil, 2001). A incorporação da Redução de Danos na Política Nacional sobre Drogas (PNAD), em 2001, teve seu nascimento no I Fórum Nacional Antidrogas de 1998, quando especialistas, profissionais da área e sociedade passaram a discutir essa prática, como mais uma opção na questão da droga. Como fruto do processo de organização, participação e debate entre usuários, comunidades, educadores e técnicos, hoje contamos com duas associações nacionais e 16 associações estaduais de redutores de danos e uma associação de usuários de drogas. Podemos considerar que o surgimento e a incorporação gradativa da Redução de Danos em nosso país faz parte de um movimento maior que vem acontecendo desde a década de 80 e que diz respeito à luta pela democratização e direitos humanos. Para Oliveira e Alesi (2005, p. 192) na ocasião “a sociedade reencontrava as vias democráticas de expressão e reivindicação”. Neste processo histórico é importante salientar a luta por conquistas envolvendo trabalhadores, intelectuais, movimentos sociais na Constituição de 88, considerada a Constituição Cidadã, justamente, por ter transformado em lei uma ampla garantia de direitos. A reforma psiquiátrica, considerada pelos autores Oliveira e Alesi (2005, p. 193) “como um movimento, um processo histórico que se constitui pela crítica ao paradigma médico-psiquiátrico”, levantando a bandeira da des-hospitalização e do.

(46) respeito ao “doente mental”, serve como pano de fundo e é campo fértil para o ingresso dessa nova forma de prática e de visão do usuário de droga, a redução de danos. Ao analisarmos o caminho percorrido pela assistência ao usuário de droga perceberemos que esta também se apresenta como um processo que, ao longo do tempo, tem buscado ampliação e melhoria. Representando um avanço na história do tratamento e atenção aos usuários de droga, encontramos inserida no campo da saúde mental, a criação dos serviços especializados. Nascidos, muitas vezes, a partir de equipe profissional oriunda de serviços ligados à área da psiquiatria (ambulatórios e hospitais psiquiátricos) estes representaram, na época, avanços importantes na melhoria da visão e tratamento do uso de drogas, como foi o caso da criação do Centro de Prevenção, Tratamento e Reabilitação do Alcoolismo – CPTRA9.. 9. Na segunda metade da década de 80 a equipe da emergência do Hospital Ulisses Pernambucano (ex-Tamarineira) se defrontava com uma realidade que muito angustiava e incomodava: nos finais de semana e princípio de cada semana, era admitido no serviço um número elevado de pacientes com problemas advindos do uso de álcool, esses eram recebidos e tratados e quando já havia ocorrido à desintoxicação e não havia necessidade clínica de internação para tratamento mais longo era dada a alta hospitalar. Na semana seguinte o movimento se repetia havendo casos de pacientes que já haviam se internado mais de dez vezes. Os que tinham complicações clínicas mais sérias e exigiam maior tempo de internação eram transferidos para uma enfermaria específica, na qual havia um número de vagas limitado (25) para esse tipo de paciente, as demais vagas da enfermaria (25) eram destinas aos pacientes com sofrimento mental. Após amplo processo de discussão entre as equipes das duas unidades (emergência e enfermaria) sobre problema do alcoolismo e possíveis medidas para criar estratégias de tratamento, como primeiro passo criou-se uma enfermaria só para pacientes alcoolistas. O que na época gerou grande desconforto para muitos técnicos que não estavam na equipe de alcoolismo e que tinham a visão de que tal procedimento estaria criando tratamentos diferenciados para pacientes considerados “folgados e abusados”, mas esta ação foi o ponto de partida que culminou na criação do Centro de Prevenção, Tratamento e Reabilitação do Alcoolismo – CPTRA. (cópias de relatórios do Hospital Ulisses Pernambucano e do CPTRA)..

(47) Na contra mão dessa orientação e inserida no processo de critica mais amplo, a Redução de Danos se apresenta como uma prática de enfrentamento aos problemas de uso de droga que questiona, transforma e supera o modelo médico tradicional. Para Bravo (2003, p. 273): Algumas características das novas estratégias de prevenção e tratamento às toxicomanias excedem uma simples intervenção técnica para constituir-se em questionadoras de uma ideologia e uma política. Colocamos aqui a redução de danos como representante desta revolução político-ideológica referente aos usuários de drogas, na medida em que está centrada no resgate da cidadania e na reinserção social dos mesmos como sujeitos e cidadãos de direitos e de deveres.. 2.3 A Redução de Danos como política oficial do Ministério da Saúde A Redução de Danos é hoje uma política oficial do Ministério da Saúde, que surge como alternativa aos tradicionais modelos médico e jurídico, que afastam e marginalizam o indivíduo quando ele não aceita as opções de tratamento ou “bom comportamento”. Muitos dos danos derivados do consumo de drogas decorrem da estigmatização social que pode ser reforçada nesses tipos de visões. Como por exemplo, condenação de simples usuário como traficante e internamento de usuários que não dependentes. Os Programas de Redução de Danos estão em permanente expansão no Brasil, sendo possível afirmar que existem “mais de 279” destes programas em.

(48) atividade no país (Trigueiros e Haiek, 2006, p. 356), ofertando um amplo leque de alternativas preventivas, assistenciais, de suporte psicossocial e de promoção da saúde, sempre em clima receptivo e amigável, contudo este número não é suficiente, já que se verifica uma alta concentração de Programas de Redução de Danos nas regiões sul e sudeste, sendo necessário que esta ação se difunda em todo território nacional. Para Andrade (In Oliveira, Santos e Andrade, 2003, p. 256), entre usuários de drogas injetáveis, “a adoção da troca de seringas é a mais importante medida adotada pelos programas de redução de danos (PRD) e é considerada, atualmente, um dos principais instrumentos na luta contra a transmissão do HIV” e foi a adoção destas medidas em países do norte da Europa, Austrália e em alguns estados americanos, que trouxe a redução dos índices de infecção por HIV entre essa população. Segundo Bigg (2003, p. 205): É tão estabelecido na crença popular que a abstinência é o único resultado de sucesso do sistema de ajuda às drogas que ficar limpo/ficar sem beber/sobriedade são parte e parcela de qualquer entendimento comum de tratamento. Na verdade, as pessoas poderiam se beneficiar do sistema de tratamento pela simples moderação em seu uso de droga ou, por outro lado, aliviando os problemas relacionados às drogas.. Aqui, é importante que se esclareça que a “Redução de Danos reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita alternativas que reduzam os danos” (Marlatt, 1999, p 46) advindos do uso de droga. Através de possíveis mudanças.

(49) nos modos de consumo, a Redução de Danos vem para somar e oferecer alternativas que, até então, eram negadas aos usuários de droga. Quando se escuta nos diversos programas de tratamento a frase “Se você quer parar de beber o problema é nosso”, a Redução de Danos quer completar dizendo: “Se você não quer, o problema também é nosso”. Para Marlatt (1999, p. 46): Em conformidade com uma política de abstinência total, o princípio de tolerância zero estabelece uma dicotomia absoluta entre nenhum uso (zero) e qualquer outro uso. Essa dicotomia de tudo-ou-nada rotula qualquer uso de drogas como igualmente criminoso (ou doentio), e não faz distinção entre o uso de drogas mais moderado ou os graus de uso prejudicial.. A abstinência total, em muitos casos, torna-se uma “alta exigência”, que termina por afastar os usuários dos programas. Ainda segundo Marlatt (1999), a Redução de Danos promove acesso a serviços de “baixa exigência”, que considera cada conquista como uma verdadeira vitória e a serviços de “fácil acesso”, que se caracterizam por abordar os usuários em suas próprias comunidades e em seus locais de uso, mantendo contato direto, pois como afirma Bastos (2003, p. 29) “não existe como reduzir danos de indivíduos fora do seu contexto social”.10 Encarar como fato as recaídas que podem acontecer, sem julgar se é certo ou errado, se é doentio ou criminoso, exige um exercício de aceitação e empatia. 10. Em Amsterdã, cerca de 60 a 80% dos usuários de drogas tem acesso a algum tipo de. assistência (Englesman)..

(50) e, ao mesmo tempo, uma abordagem humanitária que a Redução de Danos se propõe a buscar. Tem sido a troca de seringas a ação que mais chama atenção, mas com a prática da Redução de Danos objetiva-se proporcionar aos sujeitos o direito de acesso à informação sobre um consumo de drogas que implique menos danos a si mesmos e à sociedade, responsabilizando-os por esse consumo, para com isso minimizar as conseqüências adversas do uso de droga. Esses danos podem ser orgânicos, mas também podem surgir em decorrência dos riscos a que o usuário pode se expor sob o efeito das drogas lícitas e ilícitas. Para Bastos (2003, p. 18): Um usuário de drogas ao procurar um Programa de Redução de Danos (PRD), pode trocar suas seringas, receber preservativos, ser consultado e fazer exames laboratoriais, fazer curativos, ser vacinado para hepatite B ou gripe (influenza), receber apoio quanto à sua reinserção profissional e se beneficiar de inúmeras outras ações e iniciativas – portanto, os PRDs são programas integrados de prevenção, assistência e promoção da saúde dirigidos à população de usuários de drogas.. A marginalização e estigmatização do usuário de drogas por parte dos profissionais de saúde, como também o abandono dos cuidados com a saúde pelo usuário e a desconfiança com relação a esses profissionais têm levado a um quadro de desamparo desta população. O surgimento de programas específicos voltados para usuários de drogas, com formação de uma rede de atendimento no sistema de saúde, tem se apresentado como opção no trato desta questão. Aqui.

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