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Comunicação na maternidade: entre o profissional de saúde e paciente na pandemia da COVID-19

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Academic year: 2023

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Ligia Bechara Saft

Comunicação na maternidade: entre o profissional de saúde e paciente na Pandemia da COVID-19

Mestrado em Comunicação Humana e Saúde

São Paulo

2022

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Secretaria Acadêmica da Pós-Graduação em Comunicação Humana e Saúde

Ligia Bechara Saft

Comunicação na maternidade: entre o profissional de saúde e paciente na Pandemia da COVID-19

Mestrado em Comunicação Humana e Saúde

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação Humana e Saúde, sob orientação da Profa. Dra.

Marta Assumpção de Andrada e Silva.

São Paulo 2022

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Banca Examinadora

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DEDICATÓRIA

A todos os profissionais da saúde, os verdadeiros HERÓIS no enfrentamento da Pandemia da COVID-19.

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“O presente trabalho foi realizado com o apoio da bolsa dissídio (FUNDASP).”

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AGRADECIMENTOS

Meus maiores e mais calorosos agradecimentos serão sempre à minha família.

Minha mãe, minhas irmãs e tias que nunca deixaram de acreditar em mim em um momento de tantos desafios e incertezas, tanto profissionais quanto pessoais. Minha sobrinha e sobrinho, fontes de inspiração para eu ser sempre melhor.

Minhas amigas queridas, Carolina Ribeiro e Liria Jomori, que incansavelmente e pacientemente ouviram as minhas lamúrias.

Às minhas amadas colegas de trabalho, Marcela Cornejo e Natalia Fernandes, e aos nossos cafés da manhã na copa.

Às minhas companheiras de pós-graduação, Fernanda Tonon, Madalena Bonfim e Mara Pallotta, que nunca largaram a minha mão nessa caminhada.

A todas as minhas colegas do hospital. Equipe maravilhosa, que sempre me apoiaram e me ajudaram nessa jornada.

E por fim, não poderia deixar de agradecer à minha orientanda, Marta Assumpção de Andrada e Silva, por toda paciência e dedicação. Toda a minha gratidão.

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RESUMO

Introdução: no ambiente hospitalar, a comunicação é a base fundamental para que haja acolhimento e humanização na relação com paciente. A Pandemia da COVID-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2, exigiu a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI).

O uso, por exemplo, de uma máscara facial, pode criar barreira comunicativa e dificultar a interação entre profissional de saúde e paciente. Objetivo: investigar a comunicação entre os profissionais de saúde e pacientes em maternidades da cidade de São Paulo durante a Pandemia da COVID-19. Método: a amostra teve como fator de inclusão profissionais da área da saúde com atuação em maternidades há pelo menos um ano antes do inicio da pandemia (março/2020). A amostra foi finalizada com 81 sujeitos, 78 mulheres e 3 homens, com média de idade de 41,3 anos. Os profissionais de saúde voluntários responderam um questionário online, com foco na caracterização da atividade profissional, na investigação do uso de equipamentos de proteção individual e sua relação com os diversos aspectos comunicativos e o instrumento validado Índice de Triagem do Distúrbio de Voz (ITDV) com foco em estabelecer o risco para o distúrbio de voz. Resultados: da amostra de 81 sujeitos, a atividade profissional em maior número (35,8%) foi de técnicas de enfermagem, seguido por enfermeiras (24,7%) e fonoaudiólogas (18,5%), atividade profissional da pesquisadora. A maioria (80,2%) afirmou que a comunicação se alterou com o uso de máscaras, 72,8% referiram a presença de aspectos negativos na comunicação, embora 66,7% destacaram que essa questão não interferiu no acolhimento ao paciente. As principais mudanças na comunicação não-verbal e verbal com o uso de máscara foram na voz (84%), seguida pela escuta (79%) e contato físico (72,8%). A intensidade da voz mais elevada foi pontuada por 79%, seguido da necessidade de mais articulação para 67,9% e uma fala mais lenta para 65,4%). Para 55,6% a comunicação com máscara tornou a relação menos humanizada. No ITDV 79% não apresentaram risco para o distúrbio de voz.

Conclusão: a maioria dos profissionais de saúde que atuam em maternidades pontuou que existe diferença na comunicação durante a Pandemia da COVID-19. O destaque ficou com a comunicação com máscaras faciais.

Descritores: Comunicação; Voz; Equipe Multiprofissional; Pandemia; COVID-19.

ABSTRACT

Introduction: in the hospital environment, communication is the fundamental basis for welcoming and humanizing the relationship with the patient. The COVID-19 Pandemic caused by the SARS-CoV-2 virus required the use of personal protective equipment (PPE).

The use, for example, of a face mask, can create a communicative barrier and hinder the interaction between healthcare professionals and patients. Objective: to investigate the communication between health professionals and patients in maternity hospitals in the city of São Paulo during the COVID-19 Pandemic. Method: the sample had as an inclusion

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factor health professionals working in maternity hospitals for at least one year before the beginning of the pandemic (March/2020). The sample ended with 81 subjects, 78 women and 3 men, with a mean age of 41.3 years. Volunteer health professionals answered an online questionnaire, focusing on the characterization of the professional activity, on the investigation of the use of personal protective equipment and its relationship with the various communicative aspects and the validated instrument Screening Index for Voice Disorder (SIVD) with focus on establishing risk for voice disorder. Results: from the sample of 81 subjects, the predominance professional activity (35.8%) was nursing technicians, followed by nurses (24.7%) and speech therapists (18.5%), the researcher's professional activity. The majority (80.2%) stated that communication changed with the use of masks, 72.8% reported the presence of negative aspects in communication, although 66.7%

highlighted that this issue did not interfere with patient reception. The main changes in non- verbal and verbal communication with the use of a mask were in the voice (84%), followed by listening (79%) and physical contact (72.8%). Higher voice intensity was scored by 79%, followed by the need for more articulation for 67.9% and slower speech for 65.4%). For 55.6%, communication with a mask made the relationship less humanized. In the SIVD, 79% were not at risk for voice disorders. Conclusion: most health professionals working in maternity hospitals pointed out that there is a difference in communication during the COVID-19 Pandemic. The highlight was communication with face masks.

Keywords: Communication; Voice; Multidisciplinary Health Team; Pandemic; COVID-19.

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SUMÁRIO

Resumo 7

1. Introdução 10

2. Objetivo 14

2.1. Objetivos Específicos 14

3. Revisão de Literatura 15

4. Método 23

4.1. Preceitos Éticos 23

4.2. Casuística 23

4.3. Instrumento 23

4.4. Procedimentos 24

4.5. Análise dos Dados 25

5. Resultados 26

6. Discussão 38

7. Conclusão 47

8. Referências Bibliográficas 48

Anexos 52

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1. Introdução

No ambiente hospitalar, a comunicação entre o profissional da saúde e o paciente e seus familiares é a base do cuidado e da atenção com o outro, é dessa relação que se estrutura a humanização. No papel de fonoaudióloga, profissional da comunicação, que trabalha em maternidades deparei-me com questões relacionadas a comunicação durante o período pandêmico da COVID-19, esse foi o ponto de partida para esta pesquisa. Refletir sobre questões relacionadas a humanização nesse momento são fundamentais, para que ocorra o acolhimento de mãe e recém-nascido e interação entre os profissionais da saúde.

Em um hospital, a comunicação precisa acontecer nas relações interpessoais dos profissionais da saúde, no contato com pacientes e familiares e com todas as pessoas que trabalham na parte administrativa e operacional da instituição. Para Lima e Bastos (2007) o trabalho irá fluir de forma assertiva se todos os envolvidos conseguirem de comunicar e a comunicação interpessoal multidisciplinar é uma das características do trabalho em equipe, a qual acontece à medida que iniciam as conversas, as discussões de casos, o convívio, o vínculo, o relacionamento de confiança e o respeito com o trabalho do outro.

Para Ponte et al (2008) a comunicação não é simplesmente uma troca de mensagens entre a enfermeira e o paciente, mas é uma ação que deve ser planejada e individualizada, não sendo realizada somente por impulsos e de forma intuitiva. A enfermeira, a partir da comunicação desenvolvida com o paciente, identifica suas necessidades, informa sobre procedimentos ou situações que ele deseja saber, promove o relacionamento do paciente com outros pacientes, com a equipe multiprofissional ou com familiares, promove educação em saúde, troca de experiências e mudança de comportamentos, entre outros. Essas são algumas das funções da comunicação em que a enfermeira pode estar envolvida, o que não quer dizer que o paciente não possa ser também sujeito ativo dessas ações.

Mota e França (2010) conceituam que a comunicação entre enfermeiro-paciente é conhecida como comunicação terapêutica. Essa comunicação deve ser efetiva, ou seja, apropriada a uma determinada situação, pessoa, tempo, e que alcança um objetivo definido. Dessa forma, o profissional de saúde consegue atuar junto a seus pacientes, solucionando ou auxiliando-os na resolução de seus problemas.

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Para análise e compressão da competência comunicativa, segundo Kyrillos e Jung (2015) precisamos destacar três recursos: não verbais, verbais e vocais. Os recursos não verbais têm relação com a linguagem corporal, com o uso dos gestos, com a expressão facial, com o olhar principalmente, com a roupa, entre outros aspectos. Os aspectos verbais são a fala, a escolha das palavras, o uso das ênfases e pausas, a inflexão da frase, a velocidade da fala etc. Juntamente com os recursos vocais, que tem como característica a frequência, intensidade, ressonância da voz determinam a expressividade de cada indivíduo. Os mesmos autores pontuam que esses três recursos são alinhados pelo contexto e pela emoção.

Auad (2010) contextualiza a voz como um componente da linguagem humana, como elo de interação no processo de comunicação, como espelho do falante. Nesse contexto, reflete a evolução sociocultural da humanidade. Esse elo de relacionamento é reforçado ou enfraquecido pela dinâmica vocal, definida pelo impacto que a voz do falante causa no ouvinte, distanciando-os ou aproximando-o de seu interlocutor. A voz transforma e é transformada pelo sujeito nos diversos contextos sociais dos quais ele participa.

Santos e Andrada e Silva (2016) destacam a comunicação não verbal como uma ferramenta comunicativa poderosa, tendo grande importância no processo comunicativo, e podem influenciar positiva ou negativamente um discurso. A linguagem não verbal pode ser reveladora das relações de comunicação, expõe verdades, reforça ideias, favorece ou dificulta o entendimento, dá ênfase à comunicação. A linguagem não verbal pode estar expressa nos sons, nos gestos, nas expressões faciais, na motricidade corpórea, na arte e nos símbolos com significação conotativa.

No início de dezembro de 2019 a China divulgou um aumento expressivo de internações por pneumonia na cidade de Wuhan causada por um vírus desconhecido. Em 31 de Dezembro o vírus foi identificado como SARS-CoV-2, da família dos coronavírus. Os sintomas da doença COVID-19, que podem variar de um resfriado, a uma Síndrome Gripal - SG, a até uma pneumonia severa, rapidamente começou a ser identificada em vários países, fazendo com que em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretasse estado de Pandemia. Aqui no Brasil o projeto de decreto legislativo que reconheceu o estado de calamidade pública no Brasil em decorrência da pandemia do

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coronavírus foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) no dia 20 de março de 2020 (Ministério da Saúde, 2020).

A transmissão da COVID-19 acontece ou de uma pessoa doente para outra ou por contato próximo por meio de toque do aperto de mãos contaminadas, gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, objetos ou superfícies contaminadas. Para conter a disseminação da doença, a OMS elencou algumas medidas de segurança a serem adotadas, dentre elas (WHO, 2020):

• Higienização das mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70º;

• Distanciamento de pelo menos um metro de uma pessoa para a outra;

• Evitar abraços, beijos e apertos de mãos;

• Utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), como máscaras faciais.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) os profissionais de saúde, que atuam na linha de enfrentamento à COVID-19, devem tomar medidas protetivas ainda mais rigorosas. Faz-se necessário a utilização de EPI como:

• Gorro;

• Óculos de proteção ou protetor facial;

• Máscara (cirúrgica ou máscara de proteção respiratória, conforme o procedimento);

• Avental impermeável de mangas longas;

• Luvas de procedimento.

A Norma Regulamentadora 32 (NR 32) (Ministério do Trabalho e Previdência), voltada para a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde, vem sendo uma aliada para a prevenção da COVID-19 entre os profissionais que atuam no setor. Com o objetivo de estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção, traz itens voltados especificamente aos riscos biológicos.

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Comunicar é partilhar. Como se faz isso olhando apenas os olhos? Como se estabelece a troca sem enxergar o sorriso? Diante do exposto, fica evidente que os profissionais de saúde enfrentaram dificuldades para se comunicar durante a Pandemia da COVID-19. Uma pandemia que de fato não acabou, que enfrenta diferentes cepas, diferentes gestores, opiniões divergentes sobre a sua origem e tratamento, sobre a eficácia da vacina, entre tantos outros abismos que continuamos a enfrentar. Os profissionais de saúde que, durante esse período, continuaram sua rotina de trabalho aprendendo a lidar com diferentes equipamentos de proteção e procurando manter a qualidade do seu atendimento não tiveram na realidade tempo para refletir sobre o assunto. Essa pesquisa poderá contribuir para esta reflexão, além de destacar como podemos estabelecer relações de comunicação com o acolhimento desejado em um local no qual o nascimento é o foco.

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2. Objetivos

O objetivo do estudo foi investigar a comunicação entre os profissionais de saúde e pacientes em maternidades da cidade de São Paulo durante a Pandemia da COVID-19.

2.1. Objetivos específicos

2.1.1. Caracterização da comunicação com o uso de máscaras faciais, dos profissionais de saúde de maternidades com foco nos aspectos não verbais, verbais e vocais.

2.2.1. Identificação das dificuldades relacionadas à comunicação em decorrência ao uso de equipamento de proteção individual (EPI).

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3. Revisão de literatura

A revisão de literatura apresenta pesquisas sobre a atuação profissional no período da pandemia. Engloba, também, aspectos relacionados a comunicação, além da relação profissional de saúde e paciente. Optou-se no texto apresentar os autores por ordem de assunto na perspectiva de garantir fluidez na leitura.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pandemia é a disseminação m u n d i a l d e u m a n o v a d o e n ç a . O t e r m o p a s s a a s e r u s a d o q u a n d o uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa (WHO, 2020).

Sampath et al (2021) traçaram a cronologia das pandemias já vivenciadas na história da humanidade. Descreveram várias doenças com alto potencial de disseminação que se espalharam e causaram mortes, além de muitos prejuízos em diversos países por todo o mundo. Ao longo de nossa história várias pandemias foram registradas, como a Peste Negra, a Gripe Espanhola, recentemente o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e atualmente a Pandemia da COVID-19.

Segundo Le Goff (2011), a Peste Negra foi uma pandemia de Peste Bubônica que ocorreu de 1346 a 1353 na Europa, Ásia e África. É considerada a pandemia mais letal registrada na história. Totalizou um número de mortes de cerca de 200 milhões de pessoas, estimativas sugerem que conseguiu matar até 60% da população da Europa.

Sampath et al (2021) descrevem, que após décadas de pesquisa por vários cientistas e organizações, a Indian Plague Research Commission, estabelecida em 1905, encontrou uma associação entre a peste e ratos mortos ao redor do habitat humano, por meio da pulga do rato como vetor. Existem três tipos clínicos de Peste - a Peste Bubônica, na qual o paciente sofre de febre alta de início súbito; a Peste Septicêmica, em que o paciente apresenta septicemia avassaladora e gangrena do nariz, orelhas e extremidades devido à coagulação intravascular disseminada; e a terceira a Peste Pneumônica, que se espalha por aerossóis e causa hemoptise e morte. Em média, os pacientes morrem em 7-10 dias, uma vez que a doença atingiu seu pico.

Le Goff (2011) descreve outra pandemia de grandes proporções, a da Gripe Espanhola (1918-1919). Os primeiros casos foram registrados em um acampamento militar

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chamado Fort Riley, que estava instalado no estado no Kansas, nos Estados Unidos da América (EUA) e se espalhou devido ao movimento das tropas durante a I Guerra Mundial.

Uma gripe, causada por uma mutação do vírus influenza A - H1N1, de origem aviária, causou a Gripe Espanhola de 1918, e teve alta mortalidade em indivíduos jovens. Sampath et al (2021) complementam que essa pandemia matou jovens suficientes para reduzir a expectativa de vida média dos EUA em 12 anos.

Le Goff (2011) destaca que no Brasil a gripe espanhola causou muitas perdas também. O vírus chegou em setembro de 1918, por meio dos passageiros de uma embarcação inglesa que atracou em três cidades: Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

Grandes cidades, como São Paulo, sofreram bastante com a doença. Acredita-se que metade da população paulistana da época tenha se contaminado. A doença se apresentou em três formas, a leve foi associada a sintomas do trato respiratório superior, como dor de garganta, tosse, faringite, febre, mialgia e prostração. A forma grave da doença foi caracterizada por desconforto respiratório, cianose e edema pulmonar. Sampath et al (2021) destacam que a broncopneumonia e a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) foram observadas em casos fatais.

A Medicina do início do século XX não sabia qual o vetor que disseminava a Gripe Espanhola, uma vez que a tecnologia da época não permitia que os microscópios enxergassem o vírus responsável pela enfermidade. Usava-se aspirina para combater alguns dos sintomas, mas o exagero no uso dessa medicação mostrou-se nocivo. Le Goff (2011) pontua que locais que implantaram medidas de prevenção baseadas no isolamento social conseguiram passar pela gripe espanhola com efeitos reduzidos. Por outro lado, os que não seguiram as medidas de isolamento acabaram sofrendo duramente com a doença. Intervenções como quarentena e higiene pessoal foram a base da prevenção. No Brasil, as medidas de isolamento foram tomadas, porém ao todo, 35 mil pessoas morreram de Gripe Espanhola. No mundo, estima-se que, pelo menos, 50 milhões de pessoas perderam suas vidas.

De acordo com Faria et al (2014), uma das pandemias mais duradouras da atualidade é a do vírus HIV (sigla em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana) causador da AIDS (sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), caracterizada pelo enfraquecimento do sistema de defesa do corpo e pelo aparecimento de doenças oportunistas. Teve início em meados de 1981 e segue até os dias de hoje, e a

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hipótese é que caçadores de chimpanzés, em Camarões, no final do século XIX, foram os primeiros seres humanos a contrair o vírus. Os casos de AIDS teriam aparecido primeiramente em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, que seria a área urbana mais próxima, no ano de 1937. De acordo com cientistas, como os casos eram raros e os sintomas da AIDS diferentes entre indivíduos, foi apenas em 1981 que os primeiros casos foram detectados e em 1983, o vírus HIV-1 foi isolado e caracterizado.

Segundo dados do Ministério da Saúde (2020), em 31 de dezembro de 2019, a província de Wuhan relatou à OMS o surgimento de um novo vírus, da família dos coronavírus, o SARS-CoV-2, que estava causando um aumento significativo de casos graves de pneumonia. O alto poder de contágio do vírus fez com que a OMS decretasse estado de Pandemia em 11 de março de 2020, quando já havia mais de 118 mil casos da doença registrados, em mais de 100 países, com mais de quatro mil mortes. Até maio de 2022, o mundo contabilizou mais de 6 milhões de mortes. O Brasil, de janeiro de 2020 até maio de 2022, contabiliza mais de 660 mil mortes (WHO Coronavirus-dashboard, 2022).

Para Piret e Boivin (2021), esse cenário poderia estar pior se não fosse pelas várias medidas de saúde pública implementadas pela maioria dos países, como ações individuais (distanciamento físico, lavagem das mãos, uso de máscaras faciais); identificação de casos, rastreamento e isolamento de contatos; ações regulatórias (fechamento de escolas, local de trabalho, ordem de permanência em casa, fechamento e restrição de transporte público); fechamento de fronteiras internas e internacionais; restrições de viagem e quarentena forçada. O objetivo dessas medidas de saúde pública foi de retardar e achatar a curva epidêmica, tentando impedir o colapso do sistema de saúde e proteger os indivíduos com maior risco de desfecho grave, antes que vacinas e outros tratamentos seguros e eficazes estivessem disponíveis.

Sobre a disseminação da doença, Piret e Boivin (2021) pontuam que a contaminação viral em pacientes com COVID-19 começa alguns dias antes do início dos sintomas (pré-sintomáticos) e determinados pacientes permanecem assintomáticos enquanto eliminam o vírus. Fato que dificulta o controle dos casos, uma vez que a transmissão da COVID-19 acontece de uma pessoa doente para outra ou por contato próximo por meio de toque, do aperto de mãos contaminadas, por gotículas de saliva vindas do espirro, da tosse, do catarro, da fala, do canto ou ainda de objetos ou superfícies contaminadas.

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Kumar (2020) enfatiza em seu estudo que não podemos perder de vista, também, a importância da atuação dos profissionais da saúde frente às pandemias, no decorrer da história. Durante a pandemia da COVID-19, eles veem desempenhando um papel de suma importância, para todo o sistema de saúde, garantindo o acesso a cuidados de qualidade para toda a população. Segundo dados da OMS, os profissionais de saúde representam menos de 3% da população da maioria dos países e menos de 2% nos países de baixa e média renda. No entanto, 14% dos casos de COVID-19 relatados à OMS ocorreram entre profissionais de saúde, indicando que eles correm maior risco de infecção do que a população em geral. Além da proximidade com pessoas potencialmente infectadas, os profissionais de saúde foram solicitados a trabalhar em condições extraordinárias e extremamente desafiadoras, o que introduziu novos riscos à saúde ocupacional e os colocou em maior risco de doença e até morte.

No Brasil, a Norma Regulamentadora 32 (NR 32), voltada para a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde, tem sido uma aliada para a prevenção da COVID-19 entre os profissionais que atuam no setor. Com o objetivo de estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção, traz itens voltados especificamente aos riscos biológicos. As orientações abrangem questões de higienização, vestimentas, equipamentos de proteção individual (EPI) e capacitação. A NR 32 obriga os serviços de saúde a adequarem os ambientes de trabalho e a fornecer todos os materiais e EPI necessários a fim de assegurar a proteção dos trabalhadores. Também obriga a capacitação contínua dos profissionais quanto ao risco e às medidas de proteção e controle que devem ser adotadas. Ainda, exige que o serviço de saúde elabore e implante diferentes procedimentos para o controle do ambiente de trabalho e para a prevenção e o acompanhamento de doenças que podem surgir nesses trabalhadores (ANVISA, 2021).

Entretanto, Bandaru et al (2020) pontuam que com o aumento da carga de trabalho, a comunicação eficaz entre os profissionais de saúde e entre esses e o paciente torna-se ainda mais essencial para garantir que os cuidados de saúde sejam prestados de forma eficaz. O uso de EPI, no entanto, dificulta muito a comunicação. As pistas visuais da leitura labial são completamente cortadas e as visualizações das expressões faciais diminuem bastante. Os pacientes podem não entender completamente as instruções dos médicos.

Considerando o ruído ambiente, a comunicação entre os profissionais de saúde pode exigir

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ainda múltiplas repetições e maior esforço na escuta. Além disso, erros de comunicação são bastante prováveis, com potencial para graves consequências.

Segundo Paixão et al (2021), o próprio uso de EPI, por si só, restringe a relação entre quem assiste e quem é assistido. O uso de equipamentos como touca, óculos de proteção, máscara facial, luvas, dentre outros, fundamentais para garantir a proteção tanto do paciente, quanto do profissional de saúde, causam estranheza e distanciamento. Tais aparatos dificultam o olhar nos olhos, a percepção do sorriso, bem como outras manifestações que tranquilizam o paciente, promovendo uma cisão no processo de vinculação para esse cuidado.

Para além disso, Goldin et al (2020) e Corey et al (2020) realizaram pesquisas com diferentes modelos de máscaras faciais, testando como cada tipo de máscara funcionou.

As máscaras funcionaram essencialmente como um filtro acústico para a fala, atenuando as altas frequências (2000-7000 Hz) faladas pelo usuário em 3 a 4 dB para uma máscara médica simples e próximo a 12 dB para as máscaras N95. Os autores concluem que a degradação da qualidade da fala, em combinação com o ruído/reverberação do ambiente e a ausência de pistas visuais, torna a fala quase ininteligível para muitos pacientes.

O estudo de Magee et al (2020) destaca que o uso de máscaras faciais (além do distanciamento físico) fornece alguma proteção contra a infecção pelo COVID-19. As máscaras faciais também podem alterar a forma como as pessoas se comunicam e, posteriormente, afetar a qualidade do sinal de fala. Nesse estudo investigou-se como três tipos comuns de máscaras faciais (N95, cirúrgica e de pano) afetaram a análise acústica da fala e a inteligibilidade percebida em indivíduos saudáveis. Medidas acústicas de tempo, frequência, perturbação e densidade espectral de potência foram medidas. A inteligibilidade da fala e a precisão das palavras e frases também foram examinadas usando a Avaliação da Inteligibilidade da Fala Disártrica. Os resultados obtidos foram que, o tipo de máscara impactou a distribuição de energia em frequências acima de 3 kHz para a máscara N95 e acima de 5 kHz nas máscaras cirúrgicas e de pano. As medidas de tempo e inclinação espectral diferiram principalmente com o uso da máscara N95. As proporções de cepstral e harmônicos para ruído permaneceram inalteradas em todos os tipos de máscara. Não foram observadas diferenças entre as condições para medidas de inteligibilidade de palavras ou frases; no entanto, a precisão das traduções de palavras e frases foi afetada por todas as máscaras. Os autores concluem que as máscaras faciais

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alteram o sinal de fala, mas algumas características acústicas específicas permanecem em grande parte inalteradas (por exemplo, medidas de qualidade de voz), independentemente do tipo de máscara.

A pesquisa de Bandaru et al (2020) teve como objetivo avaliar quantitativamente o efeito do uso da máscara N95 e do protetor facial na comunicação.. Foram realizados testes de logoaudiometria, compreendendo tanto o componente de audibilidade (perda de sensibilidade) quanto o componente de distorção (perda de clareza), avaliados por meio da medida do limiar de recepção de fala e escore de discriminação de fala, respectivamente.

Os resultados demonstraram claramente um aumento significativo no limiar de recepção de fala, em média de 12,4 dB, com o uso tanto de máscara N95 quanto do protetor facial.

O trabalho de Yi et al (2021) avaliou os efeitos do uso de máscaras faciais na inteligibilidade da fala e utilizando diferentes estilos de fala em ruído, durante a pandemia da COVID-19, concluíram que, em uma comunicação em que se utiliza apenas a via auditiva, a atenuação acústica mínima é compensada com o uso da fala clara. A análise acústica das frases dos falantes também mostrou que a fala clara melhorou os sinais acústicos. Esses sinais acústicos tornaram-se mais audíveis quando o orador usou intencionalmente uma fala clara, isto é, diminuindo sua velocidade de fala e ampliando suas variações de tom. A fala clara, também, reduziu a perda de energia acústica em frequências mais altas entre 3 e 10 kHz em comparação com a fala convencional.

Outro destaque do mesmo estudo foi a observação de, para combater as barreiras acústicas criadas pelas máscaras faciais, os locutores utilizaram-se de gestos na porção superior da face, movimentando os olhos e as sobrancelhas, facilitando de forma significativa a compreensão dos ouvintes, criando assim pistas para determinar o início de cada frase. A expressão da porção superior da face, como o movimento das sobrancelhas, está associada a informações prosódicas e as pessoas utilizaram-se desses gestos do locutor como uma dica para determinar um padrão de entonação ou de palavra enfatizada de um enunciado.

Embora esse estudo de Yi et al (2021) não tivesse entre seus objetivos examinar as pistas faciais específicas sobre a inteligibilidade da fala, eles constataram que os movimentos espontâneos das sobrancelhas do locutor podem ter ajudado os ouvintes a detectar palavras-chave fornecendo pistas prosódicas. Os resultados sugeriram que a

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informação visual, incluindo gestos labiais, movimentos da mandíbula, movimento dos olhos e sobrancelhas, foram um componente crucial para a compreensão. Esses achados podem fornecer evidências e recursos úteis e aplicáveis para a escolha de uma máscara transparente para trocas comunicativas, especialmente para indivíduos (por exemplo, com perda auditiva) que precisam ver os movimentos articulatórios e as expressões faciais do locutor para entenderem as palavras faladas em ambientes ruidosos. Assim como, numa sala de emergência hospitalar, em que um profissional de saúde precise se comunicar cara a cara com um colega de trabalho ou com um paciente, e ele será mais bem compreendido por seu parceiro de comunicação ao utilizar uma máscara transparente, pois seu ouvinte poderá aproveitar pistas visuais de fala e expressões faciais.

O objetivo da pesquisa, realizada no Brasil, de Ribeiro et al (2020) foi investigar a autopercepção vocal de indivíduos que utilizavam máscaras faciais para atividades profissionais e essenciais durante a pandemia da COVID-19. O estudo incluiu 468 indivíduos que foram estratificados em dois grupos: o Grupo de Trabalhadores, composto por indivíduos que usavam máscaras faciais para atividades profissionais e essenciais durante a pandemia; e o Grupo de Atividades Essenciais, com indivíduos que usavam máscaras faciais apenas para atividades essenciais durante a pandemia. As medidas de desfecho testadas foram autopercepção de fadiga vocal, desconforto no trato vocal, esforço vocal, inteligibilidade de fala, feedback auditivo e coordenação entre fala e respiração. Como resultado, um dos achados foi que as máscaras faciais aumentaram a percepção de esforço vocal, com um aumento de sintomas de fadiga e de desconforto vocal, além do relato de dificuldade na inteligibilidade de fala, piora do feedback auditivo, aumento da incoordenação pneumofono-articulatória, independentemente do modelo de máscara facial.

Paixão et al (2021) observaram em seu estudo, que em um ambiente hospitalar, em questão uma maternidade, a atuação de profissionais da saúde, como enfermeiras obstétricas, que prestam assistência direta à mulher, ao adotarem as medidas de precauções, acabavam por evitar também o próprio contato físico. Nesse sentido, grandes implicações são vivenciadas na assistência ao parto, pois a ausência do contato direto com a gestante dificulta a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor, a exemplo da realização de massagem, apoio para agachar-se, entre outros. Além disso, a mulher, por vezes, carece de apoio para lidar com os sentimentos aflorados no momento

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do parto, demandando maior proximidade com as(os) profissionais. Esse tipo de suporte é ofertado por meio de abraços, apertos de mão e palavras de incentivo ditas próximas ao ouvido. A ausência desse apoio pode repercutir na sintonia profissional-parturiente, crucial para uma experiência satisfatória nesta fase.

Um estudo de Mehrabian e Ferris (1967) sobre as interações humanas apresentaram o coeficiente "7-38-55", no qual apenas 7% de toda comunicação é realizada por elementos verbais, como velocidade, vocabulário, ênfase etc. Enquanto os elementos vocais, como: intensidade, frequência, qualidade vocal correspondem a 38%. Os aspectos denominados não verbais, os relacionados a linguagem corporal equivalem a 55% dessa interação.

Na pesquisa de Santos e Shiratori (2005), cujo objetivo foi identificar o significado da comunicação não verbal para os acadêmicos de enfermagem e analisar a influência da mesma no cuidado de enfermagem, os participantes responderam duas questões: o que para eles significava comunicação não verbal e o quanto ela influenciava nos cuidados para com o paciente. Os participantes apresentaram dificuldade para descrever a comunicação não verbal, contudo puderam concluir que a necessidade de compreender a expressão não verbal emitida pelo paciente, reforça a aproximação da equipe de enfermagem com os pacientes e ao realizar essa aproximação o enfermeiro se acerca das reais necessidades do enfermo e facilita desta maneira a elaboração de um plano terapêutico, ao objetivar a realização de um cuidado abrangente e sistematizado.

Marques et al (2009) complementam que o processo comunicativo é definido como um ato caracterizado não por relações de poder, mas por atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre os sujeitos, em um universo de significações que envolvem tanto a dimensão verbal como a não verbal (posturas e gestos). Nesse processo, é relevante o interesse pelo outro, a clareza na transmissão da mensagem e o estabelecimento de relações terapêuticas entre os profissionais da saúde e pacientes.

Viana (2014) pontua que a comunicação é muito mais do que a simples troca de mensagens entre indivíduos. É um processo e uma ação de combinação e permuta em cuja inter-relação e contexto se produz sentido e compreensão. A comunicação interpessoal é fundamentalmente o processo de criação de relações sociais entre os agentes que participam num processo de interação.

(23)

4. Método

4.1. Preceitos Éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP, com o número de Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE):

51344621.5.0000.5482 e Número do Parecer: 5.017.460 (anexo 1).

Trata-se de uma pesquisa prospectiva, descritiva, de caráter quantitativo, qualitativa e transversal. Todos os participantes que aceitaram voluntariamente participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Live e Esclarecido (TCLE – anexo 2).

4.2. Casuística

A seleção da amostra considerou como critério de inclusão, ser profissional da saúde que trabalhe em maternidade, pública ou privada, na cidade de São Paulo há no mínimo um ano antes (março/2019) do início da pandemia da COVID-19 (março/2020).

Considerando que a pesquisadora é fonoaudióloga e trabalha em maternidades da Prefeitura de São Paulo há mais de dez anos, sendo que os últimos 8 anos esteve atuando na maior maternidade pública do município de São Paulo, que possui uma média de 550 partos/mês e é referência em parto humanizado, atendendo gestantes vindas inclusive de outros países, os primeiros sujeitos por conveniência foram do rol de relações profissionais e na sequência a amostra foi ampliada por meio da técnica de bola de neve (Goodman, 1961).

A amostra foi finalizada com 81 sujeitos profissionais de saúde, 78 mulheres e 3 homens com média de idade de 41,3 anos. Entre as profissões dos sujeitos voluntários tivemos: enfermeiras, técnicos de enfermagem, médicos, fonoaudiólogas, assistentes sociais, psicóloga e fisioterapeuta.

4.3. Instrumento

O instrumento - Questionário de caracterização de aspectos comunicativos de profissionais de saúde e pacientes em maternidades na Pandemia da COVID-19 (anexo 3) elaborado pela experiência profissional das pesquisadoras com base na literatura (Puggina

(24)

et al, 2014; Campos et al, 2017). Vale destacar que apesar das pesquisas realizadas em 2020 e 2021, não existe nenhum instrumento validado com foco na comunicação.

O instrumento (anexo 3) está dividido em três partes. Na primeira está a caracterização da amostra com dados sobre: sexo, idade, profissão, formação. tempo de atuação na área da maternidade dos participantes. Na segunda parte o foco foram os aspectos relacionados a comunicação não verbal, verbal e vocal com o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI). As questões investigaram a percepção dos sujeitos em relação aos ajustes nos aspectos comunicativos realizados com o uso de EPI, complementados por acolhimento e humanização no atendimento ao paciente.

A terceira parte do questionário apresentava o instrumento validado Índice de Triagem de Distúrbio de Voz (ITDV) que investiga o possível risco de uma alteração vocal (Ghirardi et al, 2013). O questionário compreende 12 sintomas relacionados diretamente ou indiretamente com a voz, com opções de frequência (nunca (0), raramente (0), às vezes (1) e sempre (1)). Se a soma total for maior ou igual a 5, nas frequências "às vezes" e

“sempre”, o resultado é capaz de prever, de forma confiável, as chances de um indivíduo estar ou não com alteração vocal. O ITDV é um instrumento validado para triagem vocal do professor, com alto grau de sensibilidade e passível de ser utilizado com qualquer outro profissional da voz para verificar o risco de distúrbio vocal. O instrumento na íntegra encontra-se no anexo 3.

Foi realizado um Estudo Piloto, com três profissionais de diferentes áreas da saúde, para verificação da compreensão dos enunciados, assim como o tempo de aplicação. Não foram necessárias mudanças e o tempo de aplicação em média foi de 7 minutos.

4.4. Procedimentos

O instrumento foi inserido no Google Forms. Optou-se por esse formato pelo momento em que a pesquisa foi realizada, entre 20 de outubro de 2021 à 10 de dezembro de 2021, com os casos de infecção voltando a aumentar, pela chegada da variante Ômicron ao Brasil, quando os profissionais da saúde estavam tendo jornadas exaustivas, com necessidade de manter o distanciamento social, e o questionário online propiciou ao participante responder no momento que fosse mais oportuno.

(25)

O link gerado ao final da inserção do instrumento no Google Forms foi encaminhado por WhatsApp. Primeiramente a pesquisadora por mensagem conferia os fatores de inclusão e na sequência fazia o convite e em caso de aceite o link do Questionário (anexo 3) era enviado. A primeira tela era o TCLE (anexo 2) e ao CONCORDAR EM PARTICIPAR DA PESQUISA, o sujeito voluntário continuava as respostas. A última tela solicitava a indicação de dois ou três colegas de maternidade para participar da pesquisa. Vale lembrar que nenhum sujeito convidado não concordou em participar.

4.5. Análise dos Dados

Foi realizada a análise descritiva dos dados por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e dispersão.

Para a comparação das variáveis qualitativas independentes associadas aos desfechos categóricos foi aplicado o teste do Qui-quadrado ou teste Exato de Fisher, quando alguma casela apresentou valor esperado menor ou igual a cinco.

Assumiu-se um nível descritivo de 5% (p<0,050) para significância estatística. Os dados foram digitados em Excel e analisados no programa SPSS versão 23.0 para Windows.

As perguntas abertas sobre haver diferença em se comunicar com máscara facial (Quadro 2), os aspectos negativos (Quadro 3) e positivos (Quadro 4) da comunicação com EPI, as mudanças dos aspectos não verbais e verbais que ocorrem na comunicação com máscara facial (Quadro 5), as modificações no vocabulário para ser entendido (Quadro 6) e as modificações no acolhimento do paciente (Quadro 7) estão apresentadas no anexo 4 e algumas dessas falas aparecem na discussão.

(26)

5. Resultados

Foram analisados 81 sujeitos, sendo 96.3% do sexo feminino. A média de idade foi de 41,3 anos (dp=8.6) mediana de 40, variando entre 26 e 67 anos. Quanto à profissão, 35.8% eram técnicos de enfermagem (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição em número (n) e percentual (%) de sujeitos da amostra segundo características demográficas e do trabalho.

Variáveis categorias n %

Sexo feminino 78 96.3

masculino 3 3.7

Profissão

fonoaudióloga/o 15 18.5

médica/o 12 14.8

enfermeira/o 20 24.7

técnica/o de enfermagem 29 35.8

assistente social 3 3.7

psicóloga e fisioterapeuta 2 2.5

Tempo de trabalho (anos)

de 2 a 4 18 22.2

de 5 a 7 25 30.9

de 8 a 10 12 14.8

mais de 10 26 32.1

Se trabalha em outro hospital não 48 59.3

sim 33 40.7

Caso você trabalhe em outro hospital, em qual função?

não 48 59.3

fonoaudióloga/o 5 6.2

médica/o 12 14.8

enfermeira/o 6 7.4

técnica/o de enfermagem 9 11.1

cargo administrativo 1 1.2

Curso e/ou formação acadêmica (atualmente)

não 68 84.0

sim 13 16.0

Gestão da Maternidade pública 68 84.0

privada 13 16.0

Total 81 100.0

(27)

Dos profissionais analisados, 80.2% relataram que há diferença ao se comunicar com o uso de máscara, e 72,8% disseram que há aspectos negativos na comunicação desta forma (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição em número (n) e percentual (%) de sujeitos segundo a diferença da comunicação com o uso de equipamento de proteção individual (EPI) e qual o usado durante o trabalho.

*

Todos que assinalaram “outros” na Tabela 2 se referiram ao uso da roupa privativa, uma vestimenta de uso obrigatória em áreas de risco a agentes biológicos, como centros cirúrgicos e UTI, mas na pandemia tornou-se obrigatória em todos os setores da maternidade.

Variáveis categorias n %

Há diferença em se comunicar com máscara facial?

não 16 19.8

sim 65 80.2

N95/PFF2 não 44 54.3

sim 37 45.7

Máscara cirúrgica não 10 12.3

sim 71 87.7

Máscara de pano não 81 100.0

Faceshild não 75 92.6

sim 6 7.4

Luva cirúrgica não 56 69.1

sim 25 30.9

Óculos de proteção não 70 86.4

sim 11 13.6

Touca não 35 43.2

sim 46 56.8

Avental cirúrgico não 68 84.0

sim 13 16.0

Outros

*

não 73 90.1

sim 8 9.9

Aspectos positivos ou negativos na comunicação com o paciente, com a utilização dos EPI?

positivo 15 18.5

negativo 59 72.8

nenhum dos dois 7 8.6

Total 81 100.0

(28)

Dos 80,2% sujeitos que responderam que há diferenças em se comunicar com máscara facial, o Quadro 1 apresenta quais foram os aspectos negativos relatados. O Quadro 3 no anexo 5 apresenta todas as respostas na íntegra.

Quadro 1 – Aspectos negativos na comunicação com o uso de máscara facial .

Quantos aos aspectos negativos e positivos na comunicação com o paciente (Quadros 3 e 4 no anexo 4), com a utilização do EPI, os itens referidos pelos profissionais de saúde que responderam que há aspectos positivos (18,5%), foi para sua própria proteção e a do paciente, higiene, sentir segurança e diminuir a transmissão do vírus evitando assim contaminar outras pessoas. A maioria (72,8%), refere ter mais aspectos negativos e queixam-se de precisar falar mais alto, ocasionando um desgaste maior da voz, dificuldade de compreensão da fala, falta de pistas visuais e expressões faciais, distanciamento, dificuldade de ouvir e dificuldade para respirar.

Aspectos negativos Quantidade de vezes citada

Dificuldade de entender/compreender 28

Falta de pistas/expressões faciais 14

Dificuldade de comunicação 10

Falar mais alto 10

Dificuldade de ouvir 7

Dificuldade de falar/articular 7

Distanciamento 5

Incômodo do EPI 5

(29)

Na Tabela 3, estão descritas as mudanças percebidas na comunicação não verbal e verbal com o uso de máscara. As principais mudanças foram na voz (84%), escuta (79%), contato físico (72,8%), gestos (66,7%), olhar (61,7%) e sorriso (59,3%). Os Quadros 2 e 5 no anexo 4 apresentam todas as respostas na íntegra.

Tabela 3 – Distribuição em número (n) e percentual (%) dos sujeitos de acordo com os aspectos da comunicação que se alteraram com o uso de máscara.

Verificou-se na Tabela 4 que 65.4% dos profissionais de saúde auto referiram que a fala ficou mais lenta e a intensidade da voz mais alta (79%). Em relação ao instrumento – Índice de Triagem do Distúrbio de Voz (ITDV) 79% não apresentou risco para alterações vocais.

Variáveis da comunicação categorias n %

Postura não 54 66.7

sim 27 33.3

Olhar não 31 38.3

sim 50 61.7

Escuta não 17 21.0

sim 64 79.0

Voz não 13 16.0

sim 68 84.0

Gestos não 27 33.3

sim 54 66.7

Empatia não 66 81.5

sim 15 18.5

Sorriso não 33 40.7

sim 48 59.3

Velocidade de fala não 39 48.1

sim 42 51.9

Contato físico não 22 27.2

sim 59 72.8

Total 81 100.0

(30)

Os profissionais que precisaram modificar o seu vocabulário para serem entendidos referiram ter feito uso de palavras mais diretas e simples, falaram mais devagar, tentaram ser mais objetivos e aumentaram o uso de gestos (Quadro 6, no anexo 4). Quando questionados se o acolher o paciente se modificou, os que sentiram essa mudança pontuaram principalmente o distanciamento, a falta de contato físico e do toque (Quadro 7 no anexo 5).

Tabela 4 – Distribuição em número (n) e percentual (%) de sujeitos de sujeitos em relação ao auto- relato da característica da voz, da fala e da comunicação e resultado do ITDV para risco de distúrbio de voz (DV).

Variáveis categorias n %

Como está a sua fala

mais rápida 1 1.2

mais lenta 53 65.4

não alterou 27 33.3

Como está a intensidade/volume da sua voz

mais alto 64 79.0

mais baixo 3 3.7

não alterou 14 17.3

Como está a ressonância da sua voz

mais nasal 25 30.9

menos nasal 4 4.9

não alterou 52 64.2

Com está a articulação

aumentou 55 67.9

diminuiu 3 3.7

não alterou 23 28.4

Necessidade de modificar o vocabulário não 61 75.3

sim 20 24.7

Teve modificação no acolhimento do paciente nesse período de Pandemia

não 54 66.7

sim 27 33.3

Na sua opinião a comunicação ficou ...

menos humanizada 45 55.6

mais humanizada 7 8.6

não alterou 29 35.8

ITDV não risco 64 79.0

risco 17 21.0

Total 81 100.0

(31)

No risco ao distúrbio vocal (DV) obtido pelo instrumento Índice de Triagem do Distúrbio de Voz - ITDV (Tabela 5), dos profissionais que responderam às frequências “às vezes” e “sempre”, a maioria (54,3%) referiu cansaço ao falar, seguido por rouquidão (41,9%), garganta seca (37%), pigarro (30,8%) e tosse seca (30,8%).

Tabela 5 – Distribuição em número (n) e percentual (%) dos sujeitos de acordo com as frequências

“às vezes” e “sempre" nos sintomas do ITDV.

IDTV Frequência n total %

Rouquidão às vezes 31

34 41,9

sempre 3

Perda da voz às vezes 9

9 11,1

sempre 0

Falha na voz às vezes 11

11 13,5

sempre 0

Voz grossa às vezes 11

11 13,5

sempre 0

Pigarro às vezes 23

25 30,8

sempre 2

Tosse seca às vezes 20

25 30,8

sempre 5

Tosse com secreção às vezes 4

4 4,9

sempre 0

Dor ao falar às vezes 8

9 11,1

sempre 1

Dor ao engolir às vezes 5

5 6,1

sempre 0

Secreção na garganta às vezes 5

5 6,1

sempre 0

Garganta seca às vezes 20

30 37,0

sempre 10

Cansaço ao falar às vezes 35

44 54,3

sempre 9

(32)

Dos profissionais que relataram que há diferença em se comunicar com máscara facial, 38.5% foram associados a postura (p=0.048). O uso de gestos também apresentou associação estatisticamente significativa. Profissionais que identificaram diferença ao se comunicar com máscara, apresentaram uma proporção superior no uso de gestos quando comparados àqueles que não relataram mudança na comunicação por uso da máscara (73.8% vs 37.5%; p=0.006), Tabela 6.

Quanto à mudança do olhar, 69.2% dos profissionais relataram que há diferença em se comunicar com máscara facial (p=0.005). Da mesma forma, foi observado mudanças no contato físico para os profissionais que relataram a diferença em se comunicar com máscara facial, quando comparados àqueles que não relataram mudanças (78.5% versus 50.0%; p=0.030). A escuta e voz também apresentaram associação estatisticamente significativa respectivamente, p=0.034 e p=0.018 (Tabela 6).

(33)

Tabela 6 – Associação das variáveis independentes à comunicação com uso de máscara.

* Utilizou-se o teste Exato de Fisher

Na Tabela 7, profissionais que disseram que há diferença em se comunicar com máscara facial apontaram percentual negativo superior em relação aqueles que não perceberam mudanças na comunicação com a máscara facial (84.6% vs 25.0%; p<0.001).

Quanto ao volume da voz, observou-se aumento deste para o grupo que relatou alteração na comunicação (p=0.005).

Existe diferença em se comunicar com

máscara facial? Total

Variáveis categorias não sim p

n % n % n %

Postura não 14 87.5 40 61.5 54 66.7 0.048

sim 2 12.5 25 38.5 27 33.3

Gestos não 10 62.5 17 26.2 27 33.3 0.006

sim 6 37.5 48 73.8 54 66.7

Sorriso não 9 56.3 24 36.9 33 40.7 0.159

sim 7 43.8 41 63.1 48 59.3

Empatia não 14 87.5 52 80.0 66 81.5 0.723*

sim 2 12.5 13 20.0 15 18.5

Olhar não 11 68.8 20 30.8 31 38.3 0.005

sim 5 31.3 45 69.2 50 61.7

Contato físico

não 8 50.0 14 21.5 22 27.2 0.030*

sim 8 50.0 51 78.5 59 72.8

Escuta não 7 43.8 10 15.4 17 21.0 0.034*

sim 9 56.3 55 84.6 64 79.0

Voz não 6 37.5 7 10.8 13 16.0 0.018*

sim 10 62.5 58 89.2 68 84.0

Velocidade de fala

não 10 62.5 29 44.6 39 48.1 0.200

sim 6 37.5 36 55.4 42 51.9

Total 16 100.0 65 100.0 81 100.0

(34)

Tabela 7 – Associação das variáveis independentes à comunicação com uso de máscara.

Existe ou não diferença em se

comunicar com máscara facial Total

Variáveis categorias não sim p

n % n % n %

Aspectos positivos ou negativos na

comunicação com uso do EPI

positivo 8 50.0 7 10.8 15 18.5 <0.001*

negativo 4 25.0 55 84.6 59 72.8

nenhum dos

dois 4 25.0 3 4.6 7 8.6

Como está a sua fala

mais rápida 0 0.0 1 1.5 1 1.2 0.315*

mais lenta 8 50.0 45 69.2 53 65.4

não alterou 8 50.0 19 29.2 27 33.3

Como está a

intensidade/volume da sua voz

mais alto 8 50.0 56 86.2 64 79.0 0.005*

mais baixo 1 6.3 2 3.1 3 3.7

não alterou 7 43.8 7 10.8 14 17.3

Como está a

ressonância da sua voz

mais nasal 7 43.8 18 27.7 25 30.9 0.418*

menos nasal 0 0.0 4 6.2 4 4.9

não alterou 9 56.3 43 66.2 52 64.2

Com está a articulação

aumentou 9 56.3 46 70.8 55 67.9 0.291*

diminuiu 0 0.0 3 4.6 3 3.7

não alterou 7 43.8 16 24.6 23 28.4

Necessidade de modificar o vocabulário

não 15 93.8 46 70.8 61 75.3 0.102*

sim 1 6.3 19 29.2 20 24.7

Foi modificada ou não o acolher no período de Pandemia

não 10 62.5 44 67.7 54 66.7 0.693

sim 6 37.5 21 32.3 27 33.3

Na sua opinião a comunicação ficou ...

menos

humanizada 5 31.3 40 61.5 45 55.6 0.079*

mais

humanizada 2 12.5 5 7.7 7 8.6

não alterou 9 56.3 20 30.8 29 35.8

ITDV não risco 11 68.8 53 81.5 64 79.0 0.308*

risco 5 31.3 12 18.5 17 21.0

Total 16 100.0 65 100.0 81 100.0

(35)

Observa-se na Tabela 8 que não houve associação entre as variáveis profissão e tempo de trabalho com risco para o distúrbio de voz (DV).

Tabela 8 – Associação das variáveis independentes e risco para o distúrbio de voz (DV).

*Teste Exato de Fisher.

Risco DT

Total

Variáveis categorias não sim p¥

n % n % n %

Profissão

fonoaudióloga/o 11 17.2 4 23.5 15 18.5 0.590

médica/o 10 15.6 2 11.8 12 14.8

enfermeira/o 18 28.1 2 11.8 20 24.7

técnica/o de

enfermagem 21 32.8 8 47.1 29 35.8

outros 4 6.3 1 5.9 5 6.2

Tempo de trabalho

de 2 a 4 anos 15 23.4 3 17.6 18 22.2 0.591

de 5 a 7 anos 18 28.1 7 41.2 25 30.9

de 8 a 10 anos 11 17.2 1 5.9 12 14.8

mais de 10 anos 20 31.3 6 35.3 26 32.1

Há diferença em se comunicar com máscara facial?

não 11 17.2 5 29.4 16 19.8 0.308

sim 53 82.8 12 70.6 65 80.2

Aspectos positivos ou negativos na comunicação com o paciente, com a utilização dos EPI?

positivo 12 18.8 3 17.6 15 18.5 0.525

negativo 45 70.3 14 82.4 59 72.8

nenhum dos dois 7 10.9 0 0.0 7 8.6

Total 64 100.0 17 100.0 81 100.0

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