• Nenhum resultado encontrado

Utilização de plantas medicinais e implicações clínicas em uma população atendida pela Estratégia de Saúde da Família em Divinópolis (MG)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Utilização de plantas medicinais e implicações clínicas em uma população atendida pela Estratégia de Saúde da Família em Divinópolis (MG)"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Utilização de plantas medicinais e implicações clínicas em uma população atendida pela Estratégia de Saúde da Família em Divinópolis (MG)

MORAES-ROCHA, B.M.1*; DIAS, A.C.S.1; ALVES, A.R.1; SANCHES-GIRAUD, C.1; DUARTE-ALMEIDA, J.M. 1* Universidade Federal de São João Del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu, Divinópolis - MG,Brasil. *E-mail:

brianrocha1@hotmail.com, maudall@ufsj.edu.br

RESUMO: A associação entre plantas medicinais e medicamentos sintéticos, sem acompanhamento de profissional habilitado, pode ser prejudicial à saúde de seus usuários.

O objetivo deste trabalho foi estimar a prevalência de uso de plantas medicinais entre pacientes atendidos nas unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Divinópolis – MG, evidenciando a associação entre características sociodemográficas e o uso de plantas medicinais e verificar a forma de uso, potenciais interações medicamentosas e usos de plantas tóxicas. Foram aplicados 450 questionários estruturados em 5 unidades de ESF escolhidas aleatoriamente. Foi possível avaliar que várias plantas medicinais são utilizadas para diversas finalidades e que entre elas a erva cidreira (Melissa officinalis; Cymbopogon citratus) teve alta prevalência (79 - 35,4%) e um maior número de interações medicamentosas (16 - 20,3%) encontradas na literatura. O predomínio da população feminina (78,4%) ficou evidente, mostrando ainda que a idade superior a 40 anos (39,1%) abrange a maior porcentagem dos entrevistados. Concluímos que as plantas medicinas podem ser benéficas, desde que seus usuários sejam orientados de forma segura e eficaz, sobre algumas informações essenciais relacionadas ao uso das mesmas.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Fitoterapia, Estratégia de Saúde da Família.

ABSTRACT: Use of medicinal plants and clinical implications in a population served by the Family Health Strategy in Divinópolis (MG). The association between medicinal plants and synthetic drugs, without a trained professional follow-up, may be hazardous to the health of their users. The aim of this work was to estimate the prevalence of medicinal plants use among patients accompanied by the Family Health Strategy Units (ESF) from Divinopolis, Minas Gerais, Brazil, highlighting the association between socio-demographic characteristics and medicinal plants use and to evaluate the means of use, potential drug interactions and the use of toxic plants. Four hundred and fifty surveys were applied, structured in 5 ESF units randomly chosen.

It was possible to evaluate that several medicinal plants are used due a variety of reasons and, among them, Melissa officinalis, Cympopogon citratus displayed the highest prevalence (79.0 - 35.4%) with high drug interactions (16.0 - 20.3%) found on the literature. The predominance of female population (78.4%) was evident, showing that people over 40 years old represented the highest percentage of the interviewed people (39.1%). In conclusion, medicinal plants may be beneficial, as long as their users are oriented and educated about their safety and efficacy, regarding some essential information about their use.

Keywords: Medicinal Plants, Phytotherapy, Family Health Strategy.

Recebido para publicação em 13/06/2016

Aceito para publicação em 20/03/2017 10.1590/1983-084X/0084

INTRODUÇÃO

Estima-se que 25% dos fármacos selecionados para avaliação de possível ação terapêutica são derivados de produtos naturais (Brasil, 2015). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da população mundial depende ou faz uso de algum tipo de erva como única forma de acesso aos cuidados básicos de

saúde, tanto para tratamento quanto para profilaxia de doenças (Veiga Junior et al., 2005; Res, 2000).

Apesar da grande evolução do arsenal terapêutico sintético/semissintético a partir da segunda metade do século XX, o acesso aos centros de atendimento hospitalar, a obtenção de exames e medicamentos pelas populações de baixa renda é cada vez mais difícil. Estes fatores, relacionados

(2)

à facilidade de obtenção e baixo custo, contribuem para a utilização da fitoterapia, principalmente nos países em desenvolvimento (Veiga Junior et al., 2005).

Tanto as plantas medicinais quanto os medicamentos fitoterápicos podem apresentar contraindicações, toxicidade e efeitos adversos (Alexandre et al., 2008). Adicionalmente, várias questões precisam ser respondidas, tais como:

mecanismo de ação, perfil de toxicidade e de evento adverso, principais interações medicamentosas (entre fitoterápicos, alimentos e medicamentos sintéticos), gravidade destas interações e, finalmente, quais as estratégias mais adequadas para a produção de fitoterápicos e o controle de qualidade para que se tenham produtos com segurança e eficácia (Rates, 2001; Veiga Junior et al., 2005).

Dentro deste contexto, a inclusão da fitoterapia nas Unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) pode resultar não só em benefícios para a saúde, mas também em benefícios de ordem econômica. Foi instituído no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) o projeto “Farmácia Viva”, que tem como objetivo melhorar a assistência à saúde da população, desenvolvendo trabalhos educativos sobre uso racional e correto das plantas medicinais (Brasil, 2015).

Portanto, é de grande importância que os profissionais da área de saúde, devidamente treinados e capacitados, para atender as necessidades dos pacientes, possam fornecer orientações de forma segura e eficaz para a comunidade que busca a assistência básica de saúde reconhecendo a importância e a tradição no uso de plantas medicinais. Desta forma, o presente estudo tem por objetivo estimar a prevalência de uso de plantas medicinais entre pacientes atendidos nas unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Divinópolis – MG, evidenciando a associação entre características sócio demográficas e o de plantas medicinais e verificar a forma de uso, potenciais interações medicamentosas e usos de plantas tóxicas.

MATERIAL E MÉTODOS Delineamento do Estudo

Trata-se de um estudo transversal, onde os pacientes que estavam em espera por atendimento foram convidados a participar até que a meta amostral de cada ESF fosse atingida. Após a concordância em participar do estudo, os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e, posteriormente, responderam a um questionário estruturado. Foram excluídos das entrevistas, funcionários das ESFs e menores de

18 anos. Esse estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal de São João Del Rei e Secretaria de Saúde de Divinópolis/MG.

Local do estudo

O estudo foi realizado nas unidades selecionadas de Estratégia de Saúde da Família da Rede Municipal de Saúde do Divinópolis-MG, no período de fevereiro a dezembro de 2014. A Rede é estruturada em 12 Distritos Sanitários.

Amostragem

Foram selecionadas 5 unidades de ESF das 12 regionais da Rede Municipal de Saúde de Divinópolis. Os princípios amostrais utilizados foram: a) inclusão de 5 distritos sanitários; b) inclusão somente de unidades com equipes ESF;

c) seleção de, pelo menos, uma unidade de ESF de cada distrito sanitário; d) inclusão de pacientes adultos (18 ou mais anos) que estavam aguardando atendimento nos Centros de Saúde até que a meta amostral de cada unidade fosse atingida.

Para efeito de cálculo amostral, foram considerados os seguintes parâmetros: a) prevalência de 50%, dado a escassez de evidências científicas sobre a prevalência de uso de plantas medicinais; b) precisão de 5%; c) nível confiança de 95%; e, d) 10% de perdas, totalizando 450 indivíduos a serem entrevistados.

Coleta de dados

Um questionário estruturado foi utilizado como instrumento de coleta. As perguntas consistiam de diversas áreas de atuação, desde levantamentos de dados sócio demográficos, medicamentos utilizados (apenas com a presença da prescrição médica), uso corriqueiro de plantas medicinais a condições de saúde dos pacientes e morbidades auto relatadas.

Pesquisa etnofarmacológica

Foram realizados levantamentos em bases de dados cientificos sobre as atividades farmacológicas e farmacodinâmicas das espécies relatadas pelos pacientes cadastrados nas unidades de Saúde da Família, visando esclarecer questões, dúvidas e problemas surgidos ao longo do trabalho de campo e retorno à comunidade com a entrega de um boletim informativo. As plantas medicinais descritas neste trabalho são corriqueiramente citadas em levantamentos etnofarmacológicos, desta forma, optou-se em designá-las pelo nome popular seguido pelo suposto nome científico, apesar de não ter sido efetuada a coleta, montagem de exsicatas e efetuada sua identificação por taxonomista.

(3)

Plano de análise dos dados

As entrevistas foram codificadas em banco de dados especifico (Epidata®). A análise estatística foi realizada usando o programa SPSS v.21. Para verificar a associação entre as variáveis socioeconômicas e a utilização de plantas medicinais foi utilizado o teste do Qui-quadrado e o teste U de Mann-Whitney. Considerou-se o um nível de confiança de 95% (p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar os dados sócios demográficos, verificou-se que o predomínio do número de entrevistados era do sexo feminino (78,0%), casados (as) (56,0%), de cor branca (49,6%), com idade superior a 40 anos (39,1%) e alguma crença religiosa (96,7%). Resultados semelhantes foram encontrados no estudo feito por Carvalho e Conceição (2015), onde foi observado que 78,4%

dos entrevistados eram do sexo feminino. Quando correlacionado o sexo com o uso de plantas

medicinais (Tabela 1) verificou-se não haver significância estatística entre as variáveis (p>0,05).

Assim, desta forma, não há uma associação direta entre o uso e o sexo do entrevistado.

Mais de 30% dos entrevistados disseram possuir ocupação como trabalhador doméstico. Em relação à escolaridade, 33,3% dos entrevistados possuíam apenas o ensino elementar (primário), cerca de 30% completaram o ensino fundamental e apenas 22,7% concluíram o ensino médio. Ao relacionarmos a escolaridade com o uso de plantas medicinais (Tabela 1) também não se observou significância estatística (p>0,05), indicando que não há associação entre as variáveis. Esses resultados também foram corroborados por Albertasse et al.

(2010) e Araújo et al. (2014), que não encontraram associação entre a escolaridade e o uso de plantas medicinais.

A maioria dos entrevistados não possuía plano de saúde (66,7%) e verificou-se que entre estes 52,8% utilizam plantas medicinais possivelmente devido ao baixo custo e fácil acesso. Assim, parece TABELA 1. Prevalência, perfil sócio demográfico e conhecimento de pacientes atendidos na Unidade de Saúde da Família de Divinópolis/MG.

Uso de plantas medicinais

Variáveis Não (%) Sim (%) p-valor*

Sexo 0,105

Masculino (n=97) 56 (12,4) 41 (9,1)

Feminino (n=353) 171 (38,0) 182 (40,4)

Total (n=450) 227 223

Escolaridade 0,600

Elementar (primário) (n=150) 81 (18,0) 69 (15,3) Ensino Fundamental (n=130) 63 (14,0) 67 (14,9)

Ensino Médio (n=102) 54 (12,0) 48 (10,7)

Superior (n=29) 13 (2,9) 16 (3,5)

Mestrado/ Doutorado (n=1) 0 (0,0) 1 (0,2)

Nunca frequentou escola (n=38) 16 (3,5) 22 (4,9)

Total (n=450) 227 223

Plano de saúde 0,043

Sim (n=146) 84 (18,9) 62 (13,9)

Não (n=300) 142 (31,9) 158 (35,4)

Total (n=446**) 226 220

Comorbidades 0,024

Não (n=221) 100 (22,3) 121 (27,0)

Sim (n=227) 127 (28,3) 100 (22,3)

Total (n=448**) 227 221

Conhecimento de complicação à fitoterapia 0,363

Não (n=413) 207 (46,8) 206 (46,6)

Sim (n=29) 12 (2,7) 17 (3,8)

Total (n=442**) 219 223

*Nível de confiança de 95% (p<0,05); **Alguns entrevistados se recusaram a responder estas perguntas (n<450).

(4)

que esta população carente de assistência médica tem escolhido esta terapia alternativa (Ribeiro et al., 2013). Isto pode ser evidenciado na Tabela 1, onde se observou haver diferença significativa entre o plano de saúde e o uso de plantas medicinais (p=0,043), podendo-se sugerir que a inexistência de um plano de saúde induz os entrevistados ao uso de plantas medicinais.

Em relação à saúde dos entrevistados, do total de pacientes que não utilizam plantas medicinais (n=227), quase todos (220 = 96,9%) disseram utilizar medicamentos sintéticos. E a maioria (74,7%) do montante total dos que usam ou não plantas medicinais relataram receber orientação quanto ao uso dos medicamentos sintéticos. Essas orientações foram feitas na maioria das vezes (67,6%) pelo próprio médico, e apenas em um quarto dos casos (24,4%) pelo farmacêutico. Verificou-se que a maioria (79,1%) dos entrevistados faz uso de medicamentos que agem no sistema cardiovascular, no qual estão incluídos os medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial, enquanto quase metade (36,7%) utiliza medicamentos que agem no sistema nervoso central. A presença de doenças crônicas foi relatada por 227 (50,4%) dos entrevistados, sendo que a maioria deles (32,6%) relatou ter diagnóstico de HAS. Verificou-se haver diferença significativa (p=0,024) na relação entre morbidade e o uso de plantas medicinais, como mostra a Tabela 1. Do montante total, somente 14,9% dos entrevistados disseram fazer ou terem feito uso de terapia alternativa, além da fitoterapia, como acupuntura ou homeopatia. Além disso, a maioria dos entrevistados (59,8%) declarou não ter realizado atividades físicas em seu tempo livre na semana que antecedeu a entrevista, e 7,4% dos entrevistados são fumantes.

Entre os entrevistados, 223 (49,5%) afirmaram utilizar ou já ter utilizado pelo menos uma planta medicinal e, verificou-se que a família é a principal fonte de informação sobre o uso de plantas medicinais (78,5%). Dessa forma, verificamos que, o conhecimento proveniente de gerações anteriores tem sido conservado. Entretanto, quem detêm este conhecimento tem idade superior a 60 anos e nível de escolaridade mais baixo, ao passo que as pessoas mais jovens e com melhor nível de escolaridade se mostraram pouco interessadas na fitoterapia (Sacramento, 2001).

Em relação à obtenção de plantas medicinais, 69,5% dos entrevistados mencionaram obtê-las em plantações próprias, o que mostra facilidade de tanto de obtenção, quanto de utilização de plantas medicinais, uma vez que são cultivadas pelos próprios usuários e, provavelmente, utilizadas ainda frescas (Brasileiro et al., 2008). A maioria das plantas utilizadas pelos pacientes era preparada na

forma de infusão (87,8%), sendo as folhas (86,7%) o farmacógeno utilizado. Finalmente, 67,3 % dos entrevistados consideravam o uso de plantas medicinais seguro e a maioria (98,2%) relatou obter melhora com a fitoterapia.

De acordo com a Tabela 2, as plantas mais citadas pela população foram erva cidreira (Melissa officinalis/Cymbopogon citratus), hortelã (Mentha sp.) e camomila (Matricaria recutita). Foram listadas 48 plantas medicinais com finalidades terapêuticas.

Como não foi realizada a identificação botânica das plantas mencionadas nas entrevistas, optou-se por agrupar erva-cidreira e capim-cidreira em uma só categoria, correspondendo às espécies Melissa officinalis e Cymbopogon citratus.

O conhecimento sobre as plantas medicinais utilizadas é importante para avaliar o risco-benefício (Barnes, 2003). Realizou-se um levantamento em bases de dados cientificas sobre as atividades toxicológicas das plantas mencionadas e suas possíveis interações com medicamentos sintéticos, conforme descrito na metodologia, cujos dados encontram-se descritos na Tabela 3.

Observa-se que a toxicidade de plantas medicinais é um problema de saúde pública (Canton et al., 2010). A falta de comprovação científica ainda é notória, sendo de extrema importância estudos que avaliem a segurança, a forma de utilização, o mecanismo de ação, a efetividade, e, além destes, é necessária a capacitação dos profissionais para o aconselhamento da utilização da fitoterapia como medicina integrativa no SUS (Santos et al., 2011).

Por outro lado, é importante ressaltar que as plantas medicinais são constituídas de misturas complexas de vários compostos químicos, responsáveis pelas atividades farmacológicas e que não possuem somente efeitos imediatos, mas também podem ser acumulados e de longo prazo, além de ocorrerem de forma assintomática, podendo desencadear processos carcinogênicos, hepatotóxicos e nefrotóxicos (Silveira et al., 2008;

Nicoletti et al., 2007; Alexandre et al., 2008).

Entre plantas mais citadas pelos pacientes, 15,9% são utilizadas conjuntamente com medicamentos sintéticos com os quais possuem interações (Tabela 3). Dentre as mais citadas, observou-se que 20,3% dos 79 pacientes que utilizam a erva cidreira (Melissa officinalis), faziam uso concomitante de depressores do Sistema Nervoso Central (SNC) ou hormônios tireoidianos. A erva cidreira interage com os hormônios tireoidianos, podendo se ligar à tirotropina (TSH), interferindo assim na terapia (Nicoletti et al., 2007) e, quando usada juntamente com medicamentos depressores do SNC, pode potencializar o efeito sedativo destes (Posadzki et al., 2012). Dos 45 pacientes que utilizam hortelã (Mentha sp.), 7 faziam uso de

(5)

TABELA 2. Plantas medicinais mais utilizadas pelos usuários da ESF, suas indicações segundo os entrevistados e indicações conforme a literatura.

Planta medicinal Prevalência Indicação segundo

entrevistados Indicações segundo literatura científica (Ref.) Erva cidreira

(Melissa officinalis; Cymbopogon citratus)

32,4%

(n=79) Calmante/gripe/

pressão alta.

Carminativo/ antiespasmódico/

distúrbios do sono (Nicoletti et al., 2007).

Hortelã

(Mentha sp.) 18,4%

(n=45) Verme/calmante/gripe/

colesterol alto/má digestão.

Problemas intestinais, gripe, resfriado, bronquite, asma (Andrade

& Casali, 2002).

Camomila

(Matricaria recutita) 12,3%

(n=30) Calmante/enxaqueca. Antiespasmódico/ anti-inflamatório tópico/distúrbios digestivos/insônia

leve (Nicoletti et al., 2007).

Boldo

(Plectranthus barbatus) 10,2%

(n=25) Estômago/fígado/

Ressaca.

Colagogo/colerético/ tratamento sintomático de distúrbios gastrintestinais espásticos (Nicoletti et al., 2007). Atividades analgésicas,

anti-inflamatórias, antifúngica (Bandeira, 2011).

Alecrim

(Rosmarinus officinalis) 9,0%

(n=22)

Calmante/pressão alta/

Gripe/dor no peito/

Depressão.

Calmante/digestivo (Albertasse et al., 2010).

Tansagem

(Plantago major) 6,1%

(n=15)

Infecção/Inflamação/

garganta inflamada/

estômago.

Inflamação da garganta, úlceras de pele (Albertasse et al., 2010).

Alfavaca

(Ocimum gratissimum) 5,7%

(n=14) Gripe/tosse/calmante. Gripe, insônia, semente para limpar os olhos (Albertasse et al., 2010).

Quebra-pedra

(Phyllanthus niruri) 4,5%

(n=11) Rim. Rins, cálculos renais (Albertasse et

al., 2010).

Carqueja

(Baccharis trimera) 1,2%

(n=3) Inflamação das vias urinárias/

fígado/ inflamações da garganta.

Atividade bacteriostática e bactericida, atividade anti- inflamatória e analgésica (Ustulin et

al., 2009).

Total = 244

antilipemiantes, podendo esta interação causar o aumento dos níveis plasmáticos da droga (Nicoletti et al., 2007). Dos 14 pacientes que fazem uso de alfavaca (Ocimum gratissimum), 5 utilizam a planta em conjunto com anti-hipertensivos e, por ser uma planta hipotensora, essa interação com o medicamento pode diminuir ainda mais a pressão arterial (Batista et al., 2003). Das 30 citações de pacientes que usam camomila (Matricaria recutita), 13,3% utilizam depressores do SNC ou anticoagulantes/antiagregantes plaquetários, podendo intensificar ou prolongar o efeito dos depressores do SNC (Nicoletti et al., 2007). Há também um risco aumentado de hemorragia se associada com anticoagulantes/antiagregantes plaquetários devido ao efeito anticoagulante da planta (Mendes et al., 2010).

Dos pacientes que utilizam plantas medicinais (n=223), apenas 7 relataram aparecimento de sintomas diferentes após o uso da planta, como sonolência, dor de barriga, alergia, úlcera, enjoo e tireoide irritada. E, pelo menos, 29 das 450 pessoas entrevistadas relataram ter

conhecimento de algum caso de complicação relacionado ao uso de fitoterápicos. Não houve significância estatística (p>0,05) quando relacionado o uso das plantas medicinais e o conhecimento de alguma complicação relacionada a elas (Tabela 1).

Portanto, tal conhecimento não influenciou no uso das plantas medicinais.

Verificou-se ainda que 76,8% dos entrevistados relataram não terem sido questionados pelo seu médico sobre a utilização de plantas medicinais. E, entre os 223 pacientes que fazem uso de plantas medicinais, somente 34,1% avisam ao médico sobre o uso das plantas. A ausência deste conhecimento pode causar prejuízos aos pacientes em função das diversas interações possíveis entre planta e medicamento, que podem causar alterações na eficácia e segurança dos fármacos através de efeitos sinérgicos ou antagônicos, e devido também às possíveis toxicidades das plantas, podendo afetar ou agravar o tratamento/morbidade, ou trazer novos problemas de saúde para os pacientes (Alexandre et al., 2008; Veiga Junior et al., 2005).

(6)

TABELA 3. Plantas medicinais mais citadas pelos usuários da ESF e suas possíveis implicações.

Planta medicinal / Número de citações (%)

Toxicidade Interações

Medicamentosas Interações Encontradas N (%)

Referências

Erva-cidreira (Melissa officinalis/

Cymbopogon citratus) / n=79 (32,4%)

Depressão leve, sonolência, perda de reflexos. Alergias.

Dermatite de contato quando usada topicamente.

Depressores do sistema nervoso central (SNC) e hormônios tireoideanos.

16 (20,3%)

(Nicoletti et al., 2007) (Posadzki et al., 2012).

Hortelã (Mentha sp.) / n= 45 (18,4%)

Reações alérgicas,

teratogênica. Aumenta níveis sanguíneos de drogas antilipemiantes, (Sinvastatina, p.ex.).

7 (15,5%) (Rodrigues et al., 2011)

(Nicoletti et al., 2007).

Camomila

(Matricaria recutita) / n=30 (12,3%)

Reações alérgicas Náuseas, excitação nervosa e insônia.

Anticoagulantes.

Intensifica ou prolonga a ação de depressores do SNC.

4 (13,3%) (Alonso, 1998) (Teske et al., 1997) (Kuhn, 2002) (Mendes et al., 2010) (Nicoletti et al., 2007).

Boldo

(Plectranthus barbatus)/

n=25 (10,2%)

Alterações do sistema nervoso central, hemorragias internas, hepatotoxicidade.

Ação aditiva à anticoagulantes orais (Varfarina p.ex.), medicamentos hepatotóxicos (amiodarona, carbamazepina p.ex.)

2 (8,0%) (Bochner et al., 2012) (Salvi & Heuser, 2008).

Alecrim (Rosmarinus officinalis) / n=22 (9,0%)

Dermatite de contato, contraindicado na gestação, lactação e criança menores de seis anos.

Diuréticos, laxantes e

hipotensores. 2 (9,1%) (Cunha et al., 2003) (ESCOP, 2003).

Tansagem (Plantago sp.) / n=15 (6,1%)

Reações alérgicas, contraindicado em estenose do TGI.

- - (Blumenthal et al.,

1998) (Facts &

Comparisons, 2005) Alfavaca

(Ocimum gratissimum) / n=14 (5,7%)

- Induz hipotensão em uso

concomitante de Anti- hipertensivos

5 (35,7%) (Batista et al., 2003).

Quebra-pedra (Phyllanthus niruri) / n=11 (4,5%)

Lesões na pele, olhos e

litíase renal. Interage com diuréticos tiazídicos, (hidroclorotiazida, p.ex.).

2 (18,2%) (Ritter et al., 2002) (Prace et al., 2011).

Carqueja

(Baccharis trimera)/

n=3 (1,2%)

Indução de aborto, ação uterotônica.

Contraindicada em pessoas hipotensas.

Analgésicos,hipotensore

s,hipoglicemiantes 1 (33,3%) (Ruiz et al., 2008).

Total = 244 39 (15,9%)

Assim, é de extrema relevância a realização de estudos multidisciplinares para que sejam ampliados os conhecimentos das plantas medicinais, como agem, quais são os seus efeitos tóxicos e adversos e como são as interações com medicamentos sintéticos (Veiga Junior et al., 2005).

Tendo em vista que as informações sobre a fitoterapia, na maioria dos casos, são embasadas na cultura popular e em estudos etnofarmacológicos, destaca-se a importância de esclarecer a população os riscos envolvidos na utilização inadequada de

plantas medicinais, principalmente quando está associada ao uso de medicamentos (Tôrres et al., 2005). Desta forma, é importante dar um retorno à população e promover a divulgação de boletim informativo por meio das correções das informações oriundas dos entrevistados de forma a incentivar o uso racional de plantas medicinais.

CONCLUSÃO

Foi possível observar neste estudo que

(7)

houve predomínio da população feminina, mas este fator não está associado com o uso das plantas medicinais. A maioria da população entrevistada possui idade superior a 40 anos e verificou-se que boa parte dos entrevistados não possui plano de saúde, o que os influencia na opção pela fitoterapia, já que esta possui menor custo e tem fácil acesso pela população.

Aproximadamente metade dos entrevistados disseram usar ou já terem usado plantas medicinais, que são adquiridas na maioria das vezes no próprio quintal sendo a erva-cidreira (Melissa officinalis / Cymbopogon citratus), o hortelã (Mentha sp.) e a camomila (Matricaria recutita) as mais utilizadas.

Apesar de poucos relatos de reações adversas oriundas das plantas medicinais pelos entrevistados, estão descritos na literatura potenciais interações entre estas e alguns medicamentos. Além disso, a maioria dos entrevistados não recebe orientação dos profissionais de saúde, assim como não comunica o médico sobre a utilização de plantas medicinais concomitantes ao uso de medicamentos.

Desta forma, o conhecimento científico sobre a fitoterapia precisa ser difundido entre os profissionais da saúde e repassado também para a população para que haja o uso racional da terapia, diminuindo assim os riscos de toxicidade e reações adversas provindas de interações entre medicamentos e plantas medicinais, melhorando a qualidade do tratamento.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de São João del Rei pela bolsa de iniciação científica e à FAPEMIG pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

ALBERTASSE, P.D.; THOMAZ, L.D.; ANDRADE, M.A.

Plantas medicinais e seus usos na comunidade da Barra do Jucu, Vila Velha, ES. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.12, n.3, p.250-260, 2010.

ALEXANDRE, R.F.; BAGATINI, F.; SIMÕES, C.M.O.

Interações entre fármacos e medicamentos fitoterápicos à base de ginkgo ou ginseng. Revista Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa, v.18, n.1, p.117-126, 2008.

ALONSO, J.R. Tratado de Fitomedicina - bases clínicas y farmacológicas. ISIS Ediciones S. R. L., Buenos Aires, Argentina, p.350-354,1998.

ANDRADE, F.M.C.; CASALI, V.W.D. Etnobotânica e estudo de plantas medicinais. Plantas medicinais e aromáticas: etnoecologia e etnofarmacologia.

Viçosa: UFV/Departamento de Fitotecnia, p.77-144, 2002.

ARAÚJO, T.A.S.; MELO, J.G.; ALBUQUERQUE, U.P.

Plantas medicinais. Introdução à etnobiologia.

Recife: NUPEEA, p.91-98, 2014.

BANDEIRA, J.M. et al. Composição do óleo essencial de quatro espécies do gênero Plectranthus. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.13, n.2, p.157- 164, 2011.

BARNES, J. Quality, efficacy and safety of complementary medicines: fashions, facts and the future. Part II: Efficacy and safety. British Journal of Clinical Pharmacology, v.55, p.331–340, 2003.

BATISTA, R.S.; CORRÊA, A.D.; QUINTAS, L.E.M. Plantas medicinais: do cultivo à terapêutica. 6ed. Rio de Janeiro, Vozes, 2003.

BLUMENTHAL, M.; BUSSE, W.R.; KLEIN, S. The complete German Commission E monographs: therapeutic guides to herbal medicines. Austin: American Botanical Council, p.685,1998.

BOCHNER, R.; FISZON, J.T.; ASSIS, M.A.; AVELAR, K.E.S. Problemas associados ao uso de plantas medicinais comercializadas no Mercadão de Madureira, município do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.14, n.3, p.537-47, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, 2015. 96p.

BRASILEIRO, B.G.; PIZZIOLO, V.R.; MATOS, D.S.;

GERMANO, A.M.; JAMAL, C.M. Plantas medicinais utilizadas pela população atendida no “Programa de Saúde da Família”, Governador Valadares, MG, Brasil.

Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v.44, n.4, p.630-636, 2008.

CANTON, M.; ONOFRE, S.B. Interferência de extratos da Baccharis dracunculifolia DC, Asteraceae, sobre a atividade de antibióticos usados na clínica. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v.20, n.3, p.348-354, Jun./Jul, 2010..

CARVALHO, A.P.S.; CONCEIÇÃO, G.M. Utilização de plantas medicinais em uma área da Estratégia de Saúde da Família, Caxias, Maranhão. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.11 n.21, p.34-77, 2015.

CUNHA, A.P.; SILVA, R.A.; ROQUE, O.R. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. 1ed. Lisboa:

Serviço de Educação e Bolsas, Fundação Calouste Gulbenkian, p.9-11, 2003.

ESCOP Monographs. The Scientific Foundation for Herbal Medicinal Products, 2ª ed. compl. rev. and exp. Exeter: ESCOP, 2003, xiv, 556p.

FACTS & COMPARISONS. The review of natural products:

the most complete source of natural product information.

4 ed, St Louis: Facts & Comparisons, 2005.

KUHN, M.A. Herbal Remedies: Drug-Herb Interactions.

Critical Care Nurse, v.22, n.2, p.22-35, 2002.

MENDES, E.; HERDEIRO, M.T.; PIMENTEL, F. O uso de terapêuticas à base de plantas por doentes oncológicos.

Acta Médica Portuguesa, v.5, p.901-908, 2010.

NICOLETTI, M.A.; OLIVEIRA JUNIOR, M.A.; BERTASSO, C.C.; CAPOROSSI, P.Y.; TAVARES, A.P.L. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos.

Infarma – Ciências Farmacêuticas, v.19, n.1/2, p.32- 40, 2007.

POSADZKI, P.; WATSON, L.; ERNST, E. Herb–drug interactions: an overview of systematic reviews. British Journal of Clinical Pharmacology, p.603-618, 2012.

(8)

PRACE. Interações plantas medicamentos. Disponível em: <http://www.prace.ufop.br> (Acesso em Novembro de 2015).

RATES, S.M.K. Plants as source of drugs. Toxicon, Oxford, v.39, p.603–613, 2001.

RES, B.J.M.B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines for herbal medicines (phytotherapeutic agents). Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ribeirão Preto, v.33, n.2, p.179-189, 2000.

RIBEIRO, L.U.; GONÇALVES, G.R.; BESSA, N.G.F.

Plantas medicinais e conduta terapêutica de idosos atendidos em unidade básica de saúde do município de Gurupi – Tocantins. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 11, n.37, 2013.

RITTER, M.R.; SOBIERAJSKI, G.R.; SCHENKEL, E.P.;

MENTZ, L.A. Plantas usadas como medicinais no município de Ipê, RS, Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.12, n.2, p.51-62, Jul/Dez, 2002.

RODRIGUES, H.G.; MEIRELES, C.G.; LIMA, J.T.S.;

TOLEDO, G.P.; CARDOSO, J.L.; GOMES, S.L. Efeito embriotóxico, teratogênico e abortivo de plantas medicinais. Revista Brasileira Plantas Medicinais, Botucatu, v.13, n.3, 2011.

RUIZ, A.L.T.G.; TAFFARELLO, D.;SOUZA, V.H.S.;

CARVALHO, J.E. Farmacologia e Toxicologia de Peumus boldus e Baccharis genistelloides. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.18, n.2, João Pessoa Abr/Jun, 2008.

SACRAMENTO, H.T. Legislação para produção,

comercialização e uso de plantas medicinais. In:

Jornada Paulista de Plantas Medicinais, 5 ed, 2001.

SALVI, R.M.; HEUSER, E.D. Interações: medicamentos x fitoterápicos, em busca de uma prescrição racional. Porto Alegre: EDIPUCRS, p.144, 2008.

SANTOS, R.L.; GUIMARAES, G.P.; NOBRE, M.S.C.;

PORTELA, A.S. Análise sobre a fitoterapia como prática integrativa no Sistema Único de Saúde. Revista Brasileira Plantas Medicinais, Botucatu, v.13, n.4, p.486-491, 2011.

SILVEIRA, P.F.S.; BANDEIRA, M.A.M.; ARRAIS, P.S.D.

Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.18, n.4, p.618-626, 2008.

TESKE, M.; TRENTINI, A.M.M. Herbarium compêndio de fitoterapia. Curitiba: Herbarium Laboratório Botânico, p.317, 1997.

TÔRRES, A.R.; OLIVEIRA, R.A.G.; DINIZ, M.F.F.M.;

ARAÚJO, E.C. Estudo sobre o uso de plantas medicinais em crianças hospitalizadas da cidade de João Pessoa: riscos e benefícios. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.15, n.4, p.373-380, Out/Dez, 2005.

USTULIN, M.; FIGUEIREDO, B.B.; TREMEA, C.;

POTT, A.; POTT, V.J.; BUENO, N.R.; CASTILHO, R.O. Plantas medicinais comercializadas no Mercado Municipal de Campo Grande-MS. Revista Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa, v.19, n.3, p. 805- 813, Set, 2009.

VEIGA JUNIOR, V.F.; PINTO, A.C.; MACIEL, M.A.M.

Plantas medicinais: cura segura?. Química Nova, v.28, n.3, p. 519-528, 2005.

Referências

Documentos relacionados

Esse trabalho teve como objetivo determinar as contagens mesófilos aeróbios, fungos filamentosos e leveduras, psicrotróficos e Staphylococcuscoagulase positivo em

Manuel João Neves Ferreira Pinto Survivin Role in Pulmonary Arterial Hypertension..

Por outro lado, esta investigação concorre para a construção de uma linha de cuidados para a pessoa dependente e o familiar cuidador e para o planeamento de práticas educativas

Apresenta a Campanha Obra-Prima, que visa a mudança comportamental por meio da conscientização diante de algumas atitudes recorrentes nas bibliotecas da

As for the average germination time of the seeds, the increase in the saline concentration negatively affected the average time that the seeds led to germinate,

A referência a este documento processual é já feita nesta fase do estudo e não somente num capítulo mais avançado e dedicado inteiramente a processos e

Aborda questões como disfunção sexual, sida, sexo seguro, sexo desprotegido, fatores de risco, satisfação sexual, sexualidade juvenil, relação entre sexo e outras questões