Registro: 2014.0000673145
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0027584-52.2011.8.26.0068, da Comarca de Barueri, em que é apelante SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SINCOPETRO, é apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE BARUERI:
ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos.
Desembargadores JOÃO CARLOS GARCIA (Presidente sem voto), PAULO DIMAS MASCARETTI E JARBAS GOMES.
São Paulo, 22 de outubro de 2014.
PONTE NETO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
VOTO Nº 3.749
APELAÇÃO Nº 0027584-52.2011.8.26.0068
APELANTE: SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SINCOPETRO
APELADO: PREFEITO MUNICIPAL DE DUMONT
MANDADO DE SEGURANÇA POSTOS DE COMBUSTÍVEIS BARUERI OBRIGATORIEDADE DE AFIXAÇÃO DE CARTAZ OU PLACA DIREITO DO CONSUMIDOR À INFORMAÇÃO DO PREÇO Pretensão do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo - SINCOPETRO objetivando determinar a suspensão da eficácia da Lei n.º 2067/2011, do Município de Barueri, que dispõe “sobre a obrigatoriedade de afixação de cartaz, nos postos revendedores de combustíveis com informação sobre o percentual da diferença entre os preços da gasolina e do etanol e dá outras providências”, sustentando o impetrante que o Município não tem competência para legislar sobre combustíveis, mas somente a Agência Nacional do Petróleo (ANP) Segurança denegada Direito do consumidor à informação sobre o preço do produto, assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor Ratificação dos fundamentos da r. sentença, cujos elementos de convicção não foram infirmados (art. 252 do RITJSP/2009) Apelo desprovido.
1. Trata-se de mandado de segurança, com
pedido de liminar concedido às fls. 116, impetrado por SINDICATO DO
COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO DO ESTADO
DE SÃO PAULO - SINCOPETRO contra ato praticado pelo PREFEITO
MUNICIPAL DE BARUERI, objetivando que seja determinada a suspensão
da eficácia da Lei n.º 2067, de 09 de maio de 2011, do Município de
Barueri, que dispõe “sobre a obrigatoriedade de afixação de cartaz, nos
postos revendedores de combustíveis com informação sobre o percentual
da diferença entre os preços da gasolina e do etanol e dá outras
providências”, sustentando que o Município não tem competência para
legislar sobre combustíveis, mas somente a Agência Nacional do Petróleo
(ANP).
A r. sentença de fls. 172/176 denegou a segurança, revogando a liminar.
Inconformado, apela o impetrante, pleiteando a reforma do julgado, sustentando, em resumo, que é inconstitucional a Lei n.º 2067/2011, do Município de Barueri, por influenciar o consumidor e por invadir a competência da ANP, agência reguladora exclusivamente competente para questões de interesse do consumidor quanto a preços e ofertas de combustíveis, nos termos do artigo 1º, III, da Lei n.º 9.478/97, que “Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional de Petróleo e dá outras providências” (fls. 183/192).
Foram apresentadas contrarrazões (fls.
198/204v).
O parecer da Promotoria de Justiça (fls. 150/153) e da douta Procuradoria Geral de Justiça (fls. 214/222) foi pela denegação da segurança e pelo desprovimento do apelo.
É O RELATÓRIO.
2. Fica mantida a respeitável sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos, pois as razões recursais não infirmam os elementos de convicção da decisão recorrida, cujos fundamentos ficam ratificados (artigo 252 do Regimento Interno/2009) e parcialmente transcritos abaixo:
“
Quanto às alegações de que o mandado de segurança é contra lei em tese e que é inadequada a via ou que há impossibilidade jurídica do pedido, não assiste razão à autoridade coatora e ao Ministério Público.Não resta dúvidas de que, com a vigência da lei, os postos de combustíveis que não afixassem cartaz quanto aos preços dos dois combustíveis - gasolina e etanol - estavam sujeitos a serem autuados e serem penalizados com imposição de
multa.
Assim, em potencial, há tal possibilidade de autuação daqueles, sendo, então, cabível o mandado de segurança, havendo legítimo interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido.
O pedido de declaração de inconstitucionalidade é apenas incidental pois o que se busca é que os postos de combustíveis não sejam obrigados a afixar os cartazes com os dizeres acima e, consequentemente, não o fazendo, que não sejam autuados e multados.
Quanto à necessidade de ata da assembleia e relação nominal dos associados da impetrante, com seus respectivos endereços, não está com razão a digna autoridade coatora.
A lei n.º 9.494/1997, como bem aduzido às fls.126, disciplina a aplicação da tutela antecipada contra a Fazenda Pública em ações coletivas.
Ora, no caso dos autos, nem há que se aventar em tutela antecipada mas sim em liminar que, aliás, foi concedida em parte e não houve qualquer recurso contra a decisão que a concedeu.
Não se trata de ação coletiva ou ação civil pública mas sim de um mandado de segurança coletivo.
Ademais, o mandado de segurança não é contra o Município mas sim contra ato de uma autoridade que, no caso, é o Prefeito.
Assim, inaplicáveis são as disposições citadas às fls.126/7.
Porém, quanto ao mérito, não assiste qualquer razão ao impetrante.
Trata-se de matéria de interesse local.
Não se trata de algo quanto à regulamentação de combustíveis mas sim diz respeito ao direito de informação ao consumidor que, inegavelmente, é do interesse público local.
Por outro lado, a determinação de afixação de cartaz com o preço de cada um dos combustíveis etanol e gasolina nos postos de combustíveis
de modo algum influencia no poder de escolha do consumidor de qual combustível irá utilizar.
A lei visa isto sim é assegurar ao consumidor seu direito à informação sobre um produto ou mercadoria, de conformidade com o Código de Defesa do Consumidor.
Aliás, não se pode olvidar que não é porque os postos vendem combustíveis que não se sujeitam à tributação estadual, à tributação da União, que não têm que obter do Município alvarás de construção e de funcionamento dos estabelecimentos.
A afixação de cartaz para informação ao consumidor é, aliás, algo inerente ao funcionamento regular e legal do estabelecimento comercial, no caso, o posto de combustíveis.
Assim, não há qualquer invasão de competências da ANP mas de exercício de competência que a Constituição Federal outorga ao Município para legislar sobre assuntos de interesse local (artigo 30, I).
Não bastasse, não se pode olvidar do disposto no artigo 66, parágrafo 1º, do Código de Defesa do Consumidor. Este reza que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fiscalizarão e controlarão a produção, industrialização, a publicidade de produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias.” (grifei).
Ademais, como bem salientado nas informações, a determinação de afixação de cartaz apontando a diferença de preços entre o etanol e a gasolina nada tem a ver com algo inerente à competência da ANP.
O caso dos autos, de fato, é similar à questão de lei que determina a instalação de cadeiras à disposição dos usuários. É evidente que não se trata de matéria somente da competência do Banco Central do Brasil ou do Conselho Monetário Nacional.
Não vislumbro, enfim, afronta a qualquer direito líquido e certo do impetrante ou de seus
associados e muito menos abuso de direito ou ilegalidade praticada pela autoridade coatora ou pelo Município, como assistente litisconsorcial.