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DEVERES QUE PODEM CONDICIONAR A SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 58/01.5TAMNC-D.G1 Relator: NAZARÉ SARAIVA

Sessão: 25 Maio 2009 Número: RG

Votação: MAIORIA COM * VOT VENC Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: NEGADO PROVIMENTO

SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA

DEVERES QUE PODEM CONDICIONAR A SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

FALTA DE CUMPRIMENTO DOS DEVERES

COMPENSAÇÃO DE DÍVIDA

Sumário

I – Nos termos do art. 853 nº 1 al. a) do Cod. Civil estão legalmente excluídos da compensação os créditos provenientes de factos ilícitos dolosos;

II – O condenado em pena de prisão cuja execução foi suspensa, mas

subordinada à obrigação de pagar ao lesado determinada quantia, não pode invocar a compensação de créditos como meio de satisfazer a obrigação imposta.

Texto Integral

Acordam, em conferência, os Juízes do Tribunal da Relação de Guimarães:

No processo comum singular nº58/01.5TAMNC, do Tribunal Judicial da Comarca de Monção, o arguido Fernando E... foi condenado, por sentença transitada em julgado, como autor material de um crime de emissão de

cheque sem provisão p. p. pelo artº 11º, nº 1, al. b) do DL nº 454/91, de 28 de Dezembro, com as alterações introduzidas pelo DL nº 316/97, de 19/11, na pena de 18 meses de prisão, cuja execução foi declarada suspensa pelo

período de dois anos, subordinada ao pagamento à assistente “L... & P..., Lda”

do montante titulado pelo cheque (7.000.000$00 = 34.915,85 euros).

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***

Por requerimento entrado em juízo em 27/07/07, o arguido veio aos autos « informar … que, em 11 de Novembro de 2004, procedeu ao pagamento por compensação da quantia de euros 43.915,85, cumprindo deste modo a

sentença a que havia sido condenado, pelo que requer a junção aos autos do contrato de cessão de créditos, carta enviada à assistente Lobato 6 Pires, Lda e correspondente registo postal.»

***

Debruçando-se sob o teor de tal requerimento, proferiu então o Exmº Juiz a quo o seguinte despacho (transcrição):

“Conforme bem se realça na promoção que antecede, Fernando E... foi condenado nestes autos na pena de 18 meses de prisão suspensa na sua execução por um período de dois anos, subordinada à condição de pagar à assistente L... & P..., Lda. a quantia de 7.000.000$00 (correspondente hoje a € 34.915,85). O prazo de suspensão da execução de tal pena de prisão já há muito que se esgotou e o arguido não demonstrou nos autos ter procedido ao pagamento que lhe foi imposto como condição daquela suspensão.

Com efeito, após numerosas vicissitudes que se verificaram e que ainda se verificam na obtenção da sua notificação, o condenado juntou apenas aos autos o documento de fls. 471 e 472, mediante o qual teria adquirido um crédito sobre a assistente em valor superior ao que lhe teria de que pagar, e que portanto ficaria assim compensada a sua obrigação e cumprida a condição de suspensão da pena de prisão que lhe foi aplicada nestes autos.

Ora, como bem se promove, a mera junção desse documento não cumpre de forma nenhuma aquela condição de suspensão. Desde logo, não se demonstra sequer que o crédito exista, com a agravante de o condenado ser sócio da sociedade (alegadamente) cedente do crédito, conforme resulta até da

sentença proferida nos autos. Depois, não estamos propriamente perante um crédito de natureza civil que haja de ser satisfeito à assistente nestes autos, e mesmo que estivéssemos, sempre o disposto no artigo 851º, n.º 2, do Cód.

Civil obstaria a que a pretendida compensação operasse.

Assim sendo, decorre do exposto que até à presente data não se pode dar como cumprida a condição de suspensão da pena de prisão que foi nestes autos aplicada ao condenado Fernando E.... Neste quadro o Tribunal pode adoptar qualquer das medidas que se prevêem nos artigos 55º e 56º do Cód.

Penal. No caso concreto, julgamos que, atendendo à resposta que acabaria por ser dada pelo condenado no sentido de juntar o documento aqui em apreço e sendo certo que se trata do pagamento de uma avultada soma monetária por parte de uma pessoa singular, será algo excessivo partir-se desde já e de imediato para a revogação da suspensão da pena de prisão aqui aplicada.

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Pelo exposto, afastada que ficou a consideração do documento de fls. 471 e 472 como cumprindo a condição de suspensão da pena de prisão aqui aplicada ao condenado Fernando E..., decide-se efectuar-lhe uma solene advertência de que se encontra em incumprimento, e decide-se conceder-lhe o prazo

acrescido de 15 dias para que proceda ao pagamento em causa à assistente e o documento nos autos, agora claramente sob pena de ser determinada de imediato a revogação da suspensão da pena de prisão que aqui lhe foi aplicada e ser consequentemente determinado o seu cumprimento efectivo.”

***

Inconformado com tal decisão, interpôs o arguido recurso, terminando a respectiva motivação com as seguintes conclusões:

“ A - O contrato de cessão de créditos junto a fls …celebrado entre o arguido e a sociedade H..., Lda, e conforme notificação da assistente desse contrato, o arguido passa a ser credor da assistente da quantia de euros 34.915,85 (…).

B - A cessão, conforme decorre do disposto no artigo 577º do Código Civil, implica a transmissão desse crédito para a esfera jurídica do arguido independentemente do consentimento do devedor (o chamado «debitor cessus), neste caso da assistente ora recorrida).

C- Na realidade, ocorrida uma cessão de créditos opera-se, imediatamente, a transferência do direito à prestação do cedente para o cessionário.

D - No nº 1 do art. 583º do Código Civil, estabelece-se, com efeito, que a cessão produz efeitos face ao devedor a partir da notificação (denuntiatio) a qual pode ser judicial ou extrajudicial, notificação já junta , efectuada Há mais de 2 anos.

E - Desde esse momento que o arguido, por mero efeito do contrato de cessão de crédito, passou a ser credor da assistente, não tendo esta impugnado ou de alguma forma rejeitado a cessão de crédito que lhe foi notificada.

F - Assim, o crédito do arguido sobre a assistente é próprio e não de terceiro ou alheio, havendo, igualmente, reciprocidade entre ambos.

G - Deste modo, deve o Tribunal concluir que a compensação efectuada é válida e legalmente admissível pois cumpre todos os requisitos legais,

especialmente, a reciprocidade exigida nos arts 847º e 851º do Código Civil».

***

Respondeu o MP no sentido da improcedência do recurso.

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***

O Exmº Juiz a quo sustentou tabelarmente o despacho recorrido.

***

Nesta instância, o Exmº Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer no sentido da improcedência do recurso.

***

Foi cumprido o artº 417º, nº 2 do CPP, não tendo o arguido apresentado resposta.

***

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

A única questão trazida à apreciação desta Relação consiste em saber se o arguido cumpriu o dever a que ficou subordinada a suspensão da execução da pena de 18 meses de prisão.

Ora, a resposta a esta questão só pode ser negativa, desde logo pela razão que se segue.

Como sabido a compensação traduz-se fundamentalmente na extinção de duas obrigações, sendo o credor de uma delas devedor na outra, e o credor desta última devedor da primeira. É, assim, um encontro de contas que se justifica pela conveniência de evitar pagamentos recíprocos - cfr artº 847º do Código Civil.

Porém, nos termos do artº 853º, nº 1, al. a), do Código Civil, É a seguinte a redacção deste preceito, com a epígrafe «Exclusão da compensação»:

“1. Não podem extinguir-se por compensação:

a) Os créditos provenientes de factos ilícitos dolosos;

(…)”

estão legalmente excluídos da compensação os créditos provenientes de factos ilícitos dolosos.

Como refere Antunes Varela “ A razão justificativa da medida está em que, podendo a compensação traduzir-se num benefício para o compensante (que tem, através dela, plenamente assegurada a realização indirecta do seu

contra-crédito), não se considera justo que o autor do facto ilícito doloso aproveite de semelhante regime. O devedor terá, nesses casos, de

cumprir a obrigação de indemnização e de correr, quanto à cobrança do seu crédito, os riscos que suportam todos os demais credores” - vide

“Das Obrigações em Geral”, 2ª ed. volume II, Livraria Almedina, pág. 172 e 173. (sublinhado nosso).

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E acrescenta o mesmo autor: “o que a ratio legis permite acrescentar (…) é que a compensação pode operar os seus efeitos, se o compensante for o credor (e não o devedor) da indemnização pelos danos provenientes do facto ilícito doloso”.

Ora, não há dúvida nenhuma de que o crédito de que a assistente é titular sobre o arguido/recorrente provém dum facto ilícito doloso, pois advém da prática de um crime doloso praticado por este último, reconhecido em

sentença com trânsito em julgado.

Sendo assim, a dívida do arguido causada por facto ilícito doloso nunca seria, face ao aludido normativo, susceptível de extinção por compensação com qualquer crédito que o arguido dispusesse contra a assistente.

Por último, a talho de foice dir-se-á que o Tribunal Constitucional, no ac. nº 535/01, de 5/12, já se pronunciou sobre a adequação do citado artº 853º, nº 1, al. a), do Código Civil, ao artigo 13º, nº 1, da CRP, o que fez nos seguintes termos:

« (…)

Ora, não se vê que seja uma solução legal arbitrária ou materialmente infundada a do Código Civil que impede o devedor de indemnização

proveniente de crime doloso, aqui o recorrente, de impor ao lesado e credor dessa indemnização a extinção da dívida com qualquer crédito de que ele disponha contra aquele credor.

A ratio legis de tal solução revela a sua razoabilidade material e coerente e adequado fundamento, pois como diz o Ministério Público, nas suas alegações, a “especial censurabilidade do facto ilícito gerador do direito à indemnização por parte do lesado justifica, pois, plenamente a exclusão da possibilidade de compensação com um puro e vulgar crédito contratual e lícito, “cruzado” – no que respeita à sua titularidade – com o referido direito ao ressarcimento por parte da vítima, justificando, deste modo, que o lesante deva assegurar o seu real e efectivo pagamento, sem se poder prevalecer do efeito extintivo da compensação”.

Tanto basta para concluir que não se tem por verificada a alegada violação do princípio da igualdade.

(…)”.

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Concluindo: é de manter a decisão recorrida, embora por fundamentos distintos dos que nela são invocados.

***

Decisão:

Em face do exposto, acordam os Juízes desta Relação em, negando provimento ao recurso, confirmar o despacho recorrido.

Custas pelo recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 4 (quatro) UC.

Voto de vencido

Procº nº 58/01.5TAMNC-D.G1

*

VOTO DE VENCIDO

OBJECTO DO RECURSO

Por sentença de 21-10-03, transitada em 21-05-04, o arguido foi condenado na pena de 18 meses de prisão suspensa na sua execução por um período de dois anos, subordinada à condição de pagar à assistente L... & P..., Lda a quantia de 7.000.000$00 (correspondente, hoje, a € 34.915,85).

Por requerimento de 27-07-07, o arguido vem dizer que em 11 de Novembro de 2004 procedeu ao pagamento por compensação da quantia de € 43.915,85, cumprindo deste modo a sentença a que havia sido condenado, pelo que

requer a junção aos autos do contrato de cessão de créditos, carta enviada à assistente L... & P..., Lda e correspondente registo postal.

Junta 6 facturas da H..., Lda, cedente do crédito, contra a Lobato & Pires, e bem assim cópia da carta a esta enviada.

Sobre este requerimento, veio, em 12-11-08, a ser proferida a seguinte decisão:

Conforme bem se realça na promoção que antecede, Fernando E... foi condenado nestes autos na pena de 18 meses de prisão suspensa na sua execução por um período de dois anos, subordinada à condição de pagar à assistente L... & P..., Lda. A quantia de 7.000.000$00 (correspondente hoje a € 34.915,85). O prazo de suspensão da execução de tal pena de prisão já há muito que se esgotou e o arguido não demonstrou nos autos ter procedido ao pagamento que lhe foi imposto como condição daquela suspensão.

Com efeito, após numerosas vicissitudes que se verificaram e que ainda se verificam na obtenção da sua notificação, o condenado juntou apenas aos autos o documento de fls. 471 e 472, mediante o qual teria adquirido um

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crédito sobre a assistente em valor superior ao que lhe teria de que pagar, e que portanto ficaria assim compensada a sua obrigação e cumprida a condição de suspensão da pena de prisão que lhe foi aplicada nestes autos.

Ora, como bem se promove, a mera junção desse documento não cumpre de forma nenhuma aquela condição de suspensão. Desde logo, não se demonstra sequer que o crédito exista, com a agravante de o condenado ser sócio da sociedade (alegadamente) cedente do crédito, conforme resulta até da

sentença proferida nos autos. Depois, não estamos propriamente perante um crédito de natureza civil que haja de ser satisfeito à assistente nestes autos, e mesmo que estivéssemos, sempre o disposto no artigo 851º, n.º 2, do Cód.

Civil obstaria a que a pretendida compensação operasse.

Assim sendo, decorre do exposto que até à presente data não se pode dar como cumprida a condição de suspensão da pena de prisão que foi nestes autos aplicada ao condenado Fernando E.... Neste quadro o Tribunal pode adoptar qualquer das medidas que se prevêem nos artigos 55º e 56º do Cód.

Penal. No caso concreto, julgamos que, atendendo à resposta que acabaria por ser dada pelo condenado no sentido de juntar o documento aqui em apreço e sendo certo que se trata do pagamento de uma avultada soma monetária por parte de uma pessoa singular, será algo excessivo partir-se desde já e de imediato para a revogação da suspensão da pena de prisão aqui aplicada.

Pelo exposto, afastada que ficou a consideração do documento de fls. 471 e 472 como cumprindo a condição de suspensão da pena de prisão aqui aplicada ao condenado Fernando E..., decide-se efectuar-lhe uma solene advertência de que se encontra em incumprimento, e decide-se conceder-lhe o prazo

acrescido de 15 dias para que proceda ao pagamento em causa à assistente e o documento nos autos, agora claramente sob pena de ser determinada de imediato a revogação da suspensão da pena de prisão que aqui lhe foi aplicada e ser consequentemente determinado o seu cumprimento efectivo.

Notifique, sendo-o o condenado pessoalmente.

MOTIVAÇÃO/CONCLUSÕES

São as seguintes as conclusões do recurso:

A. O contrato de cessão de créditos junto aos autos a fls…, celebrado entre o arguido e a sociedade H..., Lda., e conforme notificação da assistente desse contrato, o arguido passa a ser credor da assistente da quantia de € 34.915,85 (trinta e quatro euros novecentos e quinze euros e oitenta e cinco cêntimos).

B. A cessão, conforme decorre do disposto no artigo 577º do Código Civil, implica a transmissão desse crédito para esfera jurídica do arguido

independentemente do consentimento do devedor (o chamado «debitor cessus», neste caso da assistente ora recorrida).

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C. Na realidade, ocorrida uma cessão de créditos opera-se, imediatamente, a transferência do direito à prestação do cedente para o cessionário.

D. No nº 1 do art. 583º do Código Civil, estabelece-se, com efeito, que a cessão produz efeitos face ao devedor a partir da notificação (denuntiatio) a qual pode ser judicial ou extrajudicial, notificação já junta, efectuada à mais de 2 anos.

E. Desde esse momento que o arguido, por mero efeito do contrato de cessão de crédito, passou a ser credor da assistente, não tendo esta impugnado ou de alguma forma rejeitado a cessão de credito que lhe foi notificada,

F. Assim, o crédito do arguido sobre a assistente é próprio e não de terceiro ou alheio, havendo, igualmente, reciprocidade entre ambos.

G. Desde modo, deve o Tribunal concluir que a compensação efectuada é válida e legalmente admissível pois cumpre todos os requisitos legais,

especialmente, a reciprocidade exigida nos art. 847.º e 851.º do Código Civil.

***

Paralelamente às condições da sua concessão, a lei prevê as circunstâncias, alternativas, em que a medida da suspensão da execução da pena pode ser alterada ou revogada, a saber, as previstas no artº 55 e 56ºº do Código Penal, que dizem assim:

Artigo 55.º

Falta de cumprimento das condições da suspensão

Se, durante o período da suspensão, o condenado, culposamente, deixar de cumprir qualquer dos deveres ou regras de conduta impostos, ou não

corresponder ao plano de reinserção, pode o tribunal:

a) Fazer uma solene advertência;

b) Exigir garantias de cumprimento das obrigações que condicionam a suspensão;

c) Impor novos deveres ou regras de conduta, ou introduzir exigências acrescidas no plano de reinserção;

d) Prorrogar o período de suspensão até metade do prazo inicialmente fixado, mas não por menos de um ano nem por forma a exceder o prazo máximo de suspensão previsto no n.º 5 do artigo 50.º.

Artigo 56.º

Revogação da suspensão

1- A suspensão da execução da pena de prisão é revogada sempre que, no seu decurso, o condenado:

a) Infringir grosseira ou repetidamente os deveres ou regras de conduta impostos ou o plano individual de readaptação social; ou

b) Cometer crime pelo qual venha a ser condenado e revelar que as

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finalidades da suspensão não puderam, por meio dela, ser alcançadas.

Nota-se, assim, que, em certas circunstâncias e casos, ao objectivo primordial da reinserção se alia a reparação dos danos do crime, através da imposição do pagamento, dentro de certo prazo, no todo ou na parte que o tribunal

considerar possível, a indemnização devida ao lesado…

Deste modo, as regras do cumprimento serão as estabelecidas no Código Civil, em especial as dos artºs 762º, 767º, 769º, 770º, 771º, 772º, 774º, 777º, nº 1, 837º (a leitura atenta destes normativos justificará a sua aplicabilidade) e, eventualmente, o disposto nos artºs 847º e ss., podendo, neste último caso, discutir-se a verificação ou não dos respectivos requisitos.

Ora, se com a imposição de uma obrigação da natureza da destes autos, ou seja, o pagamento do montante da indemnização (que inclui os juros legais), se visa também proteger o património do lesado, é inquestionável que, face aos termos dos autos, nomeadamente aos dos documentos juntos e, em particular, ao teor da carta dirigida pelo arguido à credora, este tem que ser ouvida, até com a advertência de que se terá a obrigação por cumprida caso nada diga.

Este é o procedimento mais consequente e correcto.

O Tribunal tem interesse, necessariamente resultante e expresso no seu juízo de prognose e da pertinência da condição, em saber se os fins que ditaram tal medida se verificaram. Então, se o condenado vem invocar, seja por que forma for - perdão da dívida, dação em cumprimento, cumprimento por terceiro, etc… -, que a obrigação que lhe foi imposta está extinta, deve imperiosamente ouvir-se o credor para dizer de sua justiça, decidindo-se depois, com sujeição a recurso, se for o caso - Deve lembrar-se que, atendendo às demoras

processuais (o requerimento do arguido, entrado em 27-07-07, só veio a ter despacho em 12-11-08, ou seja, cerca de 16 - dezasseis - meses depois), se aproxima ao data da prescrição da pena, podendo até já nem se chegar a discutir utilmente a questão levantada.

Com efeito, sendo a pena de 18 meses de prisão, nos termos do artº 122º do Código Penal, prescreve em 4 anos, havendo apenas, por aplicação de lei mais favorável (também para este efeito), que contar com uma suspensão (cf. artº 126º, nº 1, al. a) do Código Penal) de dezoito meses, por ser agora esse o período de suspensão da pena.

Assim, tendo a sentença transitado em 21-05-04, acrescendo os 4 anos do período de prescrição mais 18 meses de tempo de impossibilidade legal, por suspensão da pena, de execução desta, ocorrerá a sua prescrição, em

princípio, em 21-11-09..

Ressalvada a caducidade, cuja apreciação oficiosa se impõe nos termos do artº

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333º do Código Civil, o Tribunal conhece oficiosamente das excepções peremptórias cuja invocação a lei não torne dependente da vontade do interessado - artº 496º do C.P.Civil.

Ora, como acima se disse, o interesse no cumprimento da obrigação é

essencialmente do ofendido credor, pelo que, em situações como esta, deve ele ser ouvido e tomar posição, expressa ou tácita sobre a questão.

Aliás, imagine-se que o próprio ofendido credor vem aos autos, por sua iniciativa invocar uma compensação ou aceitar a compensação que lhe foi declarada e, desse modo, dar quitação da quantia que lhe era devida. Será que, em qualquer desses casos, o Tribunal se vai intrometer para declarar a compensação ineficaz?

Pelas razões expostas, julgaria o recurso procedente, anulando a decisão recorrida, a substituir por outra que ordenasse a notificação da assistente nos termos referidos, ou seja, para responder, querendo, ao requerimento do

arguido, com a advertência de que se terá a obrigação como cumprida se nada disser.

*

Guimarães, 25 de Maio de 2009 Anselmo Augusto Lopes

______________________________________

É a seguinte a redacção deste preceito, com a epígrafe «Exclusão da compensação»:

“1. Não podem extinguir-se por compensação:

a) Os créditos provenientes de factos ilícitos dolosos;

(…)”

2 - Deve lembrar-se que, atendendo às demoras processuais (o requerimento do arguido, entrado em 27-07-07, só veio a ter despacho em 12-11-08, ou seja, cerca de 16 - dezasseis - meses depois), se aproxima ao data da

prescrição da pena, podendo até já nem se chegar a discutir utilmente a questão levantada.

Com efeito, sendo a pena de 18 meses de prisão, nos termos do artº 122º do Código Penal, prescreve em 4 anos, havendo apenas, por aplicação de lei mais favorável (também para este efeito), que contar com uma suspensão (cf. artº 126º, nº 1, al. a) do Código Penal) de dezoito meses, por ser agora esse o período de suspensão da pena.

Assim, tendo a sentença transitado em 21-05-04, acrescendo os 4 anos do

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período de prescrição mais 18 meses de tempo de impossibilidade legal, por suspensão da pena, de execução desta, ocorrerá a sua prescrição, em

princípio, em 21-11-09.

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