ANÁLISE DE CONTEÚDO EM MAPAS CONCEITUAIS SOBRE RADIOATIVIDADE
Analysis Of Content On Conceptual Maps On Radioactivity
ROBERTA MARIA DA SILVA
Resumo
Os mapas conceituais são considerados uma importante ferramenta para a (re)construção do conhecimento, contudo as estratégias de avaliação de mapas conceituais não são muito claras ou consensuais. E ante a esse cenário onde não há uma metodologia explícita, este trabalho apresenta uma proposta alternativa atrelada à Análise de Conteúdo da Laurence Bardin. Os mapas conceituais aqui analisados foram obtidos de um grupo de licenciandos em Química antes e após a formação em Radioatividade Ambiental realizada no âmbito de uma disciplina pedagógica. E apesar de terem recebidos instruções de como elaborar um mapa conceitual, observamos que os mapas por eles construídos fugiam do modelo hierárquico, o que não impossibilitou sua análise. Entre os resultados, observamos que houve um aumento no número de unidades semânticas de tal maneira que a maioria dos sujeitos conseguiu explorar diferentes temas, embora ainda tenhamos encontrados algumas inconsistências. Com isso, concluímos que através da Análise de Conteúdo foi possível identificar não só os principais temas presentes na estrutura cognitiva dos licenciandos, mas como e quais destas áreas se comunicam entre si.
Palavras-chave: Radioatividade, Formação de professores, Mapas conceituais.
Abstract
Conceptual maps are considered an important tool for the (re) construction of knowledge, however the strategies of evaluation of conceptual maps are not very clear or consensual. And before this scenario where there is no explicit methodology, this paper presents an alternative proposal linked to the Content Analysis of Laurence Bardin. The conceptual maps analyzed here were obtained from a group of graduates in Chemistry before and after the training in Environmental Radioactivity carried out within the scope of a pedagogical discipline. And although they had received instructions on how to draw up a conceptual map, we observed that the maps they had constructed were not in accordance with the hierarchical model, which did not preclude their analysis. Among the results, we observed that there was an increase in the number of semantic units in such a way that the majority of the subjects managed to explore different themes, although we have still found some inconsistencies. With this, we conclude that through Content Analysis it was possible to identify not only the main themes present in the cognitive structure of the licenciandos, but how and which of these areas communicate with one another.
Keywords: Radioactivity. Teacher training. Concept maps.
Introdução
Considerados como um instrumento facilitador para o processo de aprendizagem, os mapas conceituais podem ser utilizados para diversos fins: em situação de ensino, instrumento de avaliação da aprendizagem e da análise dos conteúdos curriculares (MOREIRA, 2013; SOUZA;
BORUCHOVITCH, 2010).
Em virtude disso, Tavares (2007) afirma que o mapa conceitual, quando concebida por
Joseph Novak para desenvolver estudos sobre aprendizagem significativa, representaria a
estrutura cognitiva quando estruturado de modo hierárquico um conjunto de conceitos ligados
Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 2 por conectivos. E as relações entre esses conceitos estão sujeitas a modificações quando o processo de ensino e aprendizagem significativamente interage com os conhecimentos prévios do estudante.
Diante disso, acreditamos ser a Radioatividade Ambiental uma proposta potencialmente significativa para que os professores de Química e Física desenvolvam o tema Radioatividade (AQUINO et al, 2016), até porque este tema está presente em “[...] filmes, livros, desenhos, quadrinho e outras manifestações da cultura moderna. Sempre é fascinante saber um pouco mais sobre as radiações nucleares e suas aplicações” (SILVA; SIMÕES NETO, 2012, p. 1). No entanto, dentre os conteúdos de Química estudados no Ensino Médio, o tema Radioatividade é normalmente deixado em segundo plano.
Pesquisas apontam que a Radioatividade é comumente tratada no último ou parte de um dos capítulos finais dos livros didáticos (COSTA; PINHEIRO; MORADILLO, 2016; SÁ; SANTIN FILHO, 2009), e ocupando poucas páginas (SILVA; SIMÕES NETO, 2012). Além disso, outros fatores impossibilitam o professor de Ciências explorarem as diferentes temáticas da Radioatividade ou do currículo em geral, tais como a “[...] falta de interesse, de tempo ou esgotados em sua jornada de trabalho” (SÁ; SANTIN FILHO, 2009, p. 160).
Observamos ser, em parte, o conteúdo Radioatividade ainda um tabu no meio escolar já que este fenômeno tem deixado marcas históricas de catástrofes e desastres (DOMINGUINI;
CLEMES; ALLAIN, 2012) como as ocorridas em Chernobyl (Ucrânia), Goiânia (Brasil) e, mais recentemente, Fukushima (Japão). Além de estar presente em noticiários relacionados ao programa de enriquecimento de urânio no Irã, e rumores de armas nucleares intercontinentais vindos da Coreia do Norte
1, que avivam à nossa memória os mais de 70 anos das explosões das bombas atômicas no Japão.
Diante desses fatos, novas tensões políticas e sociais são geradas trazendo à tona no imaginário da sociedade os malefícios quanto ao uso da Radioatividade, esquecendo-se, por exemplo, do uso da mesma na Medicina Nuclear (COSTA; PINHEIRO; MORADILLO, 2016).
Na frase célebre de Marie Curie: “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido.
Agora é hora de compreender mais para temer menos”, podemos dizer que habita o papel do professor de Ciências para desconstruir a fama negativa da Radioatividade. Revelando para os estudantes que este fenômeno apresenta uma vasta aplicabilidade e utilidade de grande importância quando usado para o bem estar social (COSTA; PINHEIRO; MORADILLO, 2016).
Se por um lado há indícios de um temor muito grande sobre as tecnologias derivadas da Radioatividade, é preciso lembrar que se trata de um fenômeno físico-químico natural. Nele, os átomos de núcleos instáveis emitem partículas e ondas de poder energético interessante para diversos fins e naturalmente presentes no ciclo dos elementos químicos: urânio-238 na água que bebemos; potássio-40 na banana; radônio-222 no concreto e no ar que respiramos (AQUINO; AQUINO, 2012). Aspecto este negligenciado pelos livros didáticos, inclusive os do Ensino Superior, e não pelos estudiosos das Ciências Nucleares, sobretudo, da Radioatividade Natural ou mais amplamente da Radioatividade Ambiental (que também envolve os impactos das atividades da Radioatividade Artificial no meio ambiente seja ele urbano ou não).
Embora seja possível através do tema Radioatividade explorar diferentes temáticas e de modo ricamente contextualizado, em especial do ponto de vista sócio-histórico e ambiental, o Ensino de Radioatividade deverá ter como sua principal meta discutir as potencialidades e riscos envolvidos no uso da energia nuclear permeando questões sociais, éticas, políticas e ambientais capazes de dialogar com a realidade do estudante (DOMINGUINI; CLEMES;
ALLAIN, 2012; SÁ; SANTIN FILHO, 2009).
Diante dessa constatação, questionamo-nos sobre o que futuros professores de Química entendem por Radioatividade após formação em Radioatividade Ambiental. Pretendemos aqui, além de apresentar uma nova proposta de análise de mapas conceituais por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (1994): identificar os principais temas presentes na estrutura cognitiva dos licenciandos de Química sobre Radioatividade; e, diante dessa nova proposta de análise, verificar os processos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa após serem expostos a uma nova informação (Radioatividade Ambiental). Este material é um
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