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Experiência e competência no ensino: o diálogo do conhecimento pessoal com a ação na construção do saber ensinar

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Academic year: 2018

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(1)

T h i s s t u d y t r e a t s

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

of

t h e r e l a t i o n s h i p b e t w e e n e x p e r i e n c e a n d c o m p e t e n c e i n t e a c h i n g a s

m a n i fe s t e d i n t h e d a i l y p r o fe s s i o n a l w o r k i n e d u c a t i o n i n t h e c 1 a s s r o o m . T h e s t u d y m a k e s

a

q u a l i t y a s s e s s m e n t

of

a n e x p l o r a t o r y n a t u r e a m o n g t e a c h e r s i n p u b l i c s c h o o l s t a k i n g i n t o c o n s i d e r a t i o n t h e i r p e r s o n a l a n d p r o fe s s i o n a l h i s t o r y a s w e l l a s t h e i r t e a c h i n g e x p e r i e n c e . W i t h t h i s i n m i n d a n a n a l y t i c p i c t u r e w a s m a d e b a s e d o n a c t i o n t h e o r y . A t t e n t i o n w a s fo c u s e d o n e p i s t e m o l o g i c a l p r a c t i c e t r y i n g to u n d e r s t a n d t h e d i a l o g u e b e t w e e n p e r s o n b a l k n o w / e d g e a n d a c t i o n . T h e t e a c h e r s w h o

t o o k p a r t i n t h i s r e s e a r c h s h o w e d t h e y h a d

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ac r i t i c a I o u t l o o k i n r e l a t i o n t o t h e d e m a n d s

of

fo r m a t i o n

a l t h o u g h n o t d i s c a r d i n g t h e s e d e fi n i t i v e l y . T h e y c h o o s e p r a c t i c e a s a c r i t e r i o n fo r v a l i d a t i o n a n d a s s o c i a t e d t h e c h a n g e s i n fo r m a t i o n k n o w - h o w w i t h t h e p r a c t i c e a c q u i r e d i n t h e i r p r o fe s s i o n a l c a r e e r s . A t t h e s a m e t i m e p r o fe s s i o n a l e x p e r i e n c e c o n s t i t u t e d t h e s p a c e fo r l e a r n i n g a n d t h e o r g a n i z a t i o n a l m e t h o d fo r c o m p e t e n c e .

EXPERIÊNCIA E COMPETÊNCIA

NO

ENSINO: O DIÁLOGO DO CONHECIMENTO

N N

PESSOAL COM A AÇAO NA CONSTRUÇAO

DO SABER ENSINAR

Francisco Antônio Loiola 1

Jacques Therrien/

Resumo

IHGFEDCBA

C H -U F C

i

o

t r a b a l h o a b o r d a a r e l a ç ã o e n t r e e x p e r i ê n c i a e c o m p e t ê n c i a d o c e n t e n a s s u a s m a n i fe s t a ç õ e s n a p r á x i s d o p r o fi s s i o n a l d e e d u c a ç ã o n o c h ã o d a s a l a d e a u l a a p r e s e n t a n d o o s r e s u l t a d o s d e um e s t u d o q u a l i t a t i v o d e n a t u r e z a e x p l o r a t ó r i a j u n t o a p r o -fe s s o r e s d e e s c o l a s p ú b l i c a s , c o t e j a n d o a t r a j e t ó r i a p e s s o a l ep r o fi s s i o n a l e a e x p e r i ê n c i a d o c e n t e c o n -c r e t a . N e s s e s e n t i d o fo i c o m p o s t o um q u a d r o a n a -l í t i c o a p o i a d o n a t e o r i a d a a ç ã o ou c o g n i ç ã o s i t u a d a . C e n t r a m o s n o s s a a t e n ç ã o n a e p i s t e m o l o g i a d a p r á t i c a p r o c u r a n d o c o m p r e e n d e r o d i á l o g o d o c o n h e c i m e n t o p e s s o a l com aa ç ã o . O s p r o fe s s o r e s p e s q u i s a d o s d e m o n s t r a m um o l h a r c r í t i c o em r e -l a ç ã o a o s s a b e r e s d e fo r m a ç ã o , t o d a v i a , n ã o r o m -p e m com e s s e s d e fo r m a d e fi n i t i v a ; e l e g e m ap r á t i c a

como c r i t é r i o d e v a l i d a ç ã o ea s s o c i a m a s t r a n s fo r -m a ç õ e s d o s s a b e r e s d e fo r m a ç ã o ao m o m e n t o d a p r á t i c a e em c u r s o d e c a r r e i r a ; a " e x p e r i ê n c i a p r o -fi s s i o n a l " c o n s t i t u i ao m e s m o t e m p o um e s p a ç o d e a p r e n d i z a g e m i n c o n t o r n á v e l e um m é t o d o o r g a n i z a d o r d a c o m p e t ê n c i a .

Palavras-chave: Epistemologia da prática -

Expe-riência - Competência.

Abstract: Experience and Competence

in Teaching:

A

Dialogue

Between

Personal

Knowledge

and Constructive

Action in

Teaching Ability

1 PhD em Educação pela Universidade de Laval. Professor da

Universidade de Montreal. E-mail faloiola@ufc.br

2PhD em Educação pela Universidade de Cornell e professor

da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. E-mail: jacques@ufc.br

Key words: Epistemological practice -

Experience-Competence.

Contextualizando

O

Tema

A investigação em pauta inscreve-se no

âmbito dos estudos que se interessam pelos

sabe-res dos docentes, o seu trabalho e a sua

forma-ção. O enfoque específico é anunciado no título

do projeto "Experiência e competência no

ensi-no: estudo da ação pedagógica na perspectiva da

ergonomia do trabalho docente", subvencionado

pelo CNPq.3

Ao longo dos últimos anos, uma série de

publicações vem priorizando e consolidando a

temática de investigação relacionada com a

práti-ca, a profissão e a formação docente. Privilegiar o

saber de experiência como eixo fundante da

práti-ca pedagógipráti-ca, tem permitido aprofundar o

conhe-3

o

projeto integrado de pesquisa em referência foi aprovado

no CNPq. para ser realizado em três anos (08/2000 aWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA0 7 1 2 0 0 3 ) ,

incluindo bolsa de pesquisador e auxílio financeiro (Pr. 522032/96-6).

(2)

·

,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

cimento sobre a natureza desse saber e sua função

na ação docente. A parti r desse referencial o

traba-lho docente foi abordado teoricamente

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à luz da

práxis (VASQUEZ, 1977; GRAMSCI, 1978),

segun-do a ótica sócio-epistemológica (TARDIF, LESSARD

et LAHAYE, 1991), na perspectiva da ação

comu-nicativa (HABERMAS,

J.

1997), como experiência

social (DUBET, 1994), enquanto ação reflexiva

(FENSTERMACHER, 1994a, 1994b; SCHÓN, D.

1983, 1994;), além de ser confrontado com os

pres-supostos da noção de competência no campo do

ensino (PERRENOUD, 1995, 1997) e da cognição

situada (GERVAIS & LOIOLA, 2000).

Entre outras constatações, nossas pesquisas

precedentes colocaram em evidência o caráter

plural dos conhecimentos dos professores,

corro-borando resultados de outras investigações e

confirmando a natureza social desses

conhecimen-tos (TARDIF & LESSARD, 1999). Mais

recentemen-te, nossos estudos em torno da dimensão da

experiência no trabalho docente fizeram surgir

novas indagações sobre os saberes envolvidos na

prática, o que nos levou a buscar o

desenvolvi-mento de abordagens centradas na análise da ação

situada de docentes, apoiando-se nas teorias da

ação (BOURDIER, 1997; DUBET, 1994;), nas

metodologias de pesquisa sobre saberes

profissi-onais e cognição em contexto (THEREAU, 1992;

DURANT, 1996, 1999; TARDIF, 1999, 2002).

Assim, após investigar a natureza do saber de

ex-periência, interessamo-nos presentemente em

co-nhecer as concepções dos professores a respeito

da sua própria competência - o qúe também

po-demos chamar de saber-ensinar - bem como

com-preender como essa competência se manifesta em

situações reais de prática e quais são os

mecanis-mos que ajudam ou viabilizam a construção das

mesmas.

A Pesquisa

A investigação da prática docente e sua

re-lação com o saber de experiência motivaram

nos-so interesse pelo estudo de manifestações

concretas do saber ensinar e, por extensão, pela

identificação de mecanismos ou dispositivos de

construção de competências. Duas questões

balizaram nossas observações e análises: como

o professor aprende a ensinar? Qual é o papel do

saber de experiência na transformação dos

sabe-res docentes? Assumimos como pressuposto o

re-conhecimento do protagonismo dos nossos

sujeitos de pesquisa (professores) evidenciando a

importância da transcendência do senso comum,

como categoria social e individual do

pensamen-to que regula toda a prática social (GIMENO,

1999). Centramos nossa atenção no que Gimeno

(1992) designa como

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e p i s t e m o l o g i a d a p r á t i c a

d o c e n t e , isto é, procuramos observar, prescrutar

e compreender o diálogo do conhecimento

pes-soal com a ação, considerando assim inseparáveis

teoria e prática no plano da subjetividade do

su-jeito (professor). Isso significa reconhecer o

pro-fessor como produtor de saberes, portanto de uma

e p i s t e m o l o g i a d a p r á t i c a d o c e n t e , conferindo

as-sim estatuto próprio de conhecimento ao

desen-volvimento dos saberes docentes."

Quadro Teórico-Metodológico

A etapa inicial da investigação foi centrada

no estudo da literatura em torno de pressupostos

e categorias centrais da nossa pesquisa:

episte-mologia da prática, competência, experiência,

ergonomia aplicada ao trabalho docente. Os

pes-quisadores, junto com os estudantes de

pós-gra-duação e bolsistas do Grupo de Pe qui a

organizaram diversos seminários e sessões de

es-tudos, associando as referidas noções ao

objeti-vos da pesquisa. Essasperpassaram todas as etapas

do estudo. A memória das reuniões do Grupo oi

4 Para M onteiro (2002) epistem ologia da prática é a . ise de

processos fonnativos cujo objeto seja a prática própria ao ensi-no, considerando sua situação e m ovim ento. Tardi (1999), por sua vez, prefere denom inar de epistem ologia da prática profissio-nal o conjunto de saberes utilizados realm en e pelos profissio-nais em seu espaço de trabalho cotidiano para desem penhar todas as suas tarefas. O s saberes referem -se a conhecim entos, com pe-tências, habilidades (ou aptidões) e atitudes, isto é, àquilo que m uitas vezes foi cham ado de saber, saber-fazer e saber-ser.

(3)

registrada em atas, detalhando o progresso das dis-cussões e apresentações.

A relação entre experiência e competência no

trabalho docente foi investigada a partir de um

enfoque ergonõmico apoiado na teoria da ação

si-tuada (THEUREAU, 1992; DURANT, 1996, 1999).

Nessa perspectiva o professor é considerado um ator

situado em um contexto de co-determinação da ação

e situação. "A ação sempre supõe uma realização

contextualizada e traz a marca deste contexto físico

e social" (DURANT, 1999 p. 15). Aceita-se aqui uma

elaboração mútua da ação e da situação. Isso

signi-fica que "no plano vivido da experiência, a situação

não é um "dado" - ela é construída pelo ator e não

tem existência independente de sua

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ação. A ação e

a situação definem-se uma a outra em um processo

circular. Esse acoplamento ação-situação, quando

viável (quer dizer, perene) caracteriza um tipo de

ação particular e, em certos casos, um trabalho

(DURANT, op. cit. p. 16)5.

A noção de competência foi relacionada com

o saber mobilizar em contexto de ação (LE BOTERF,

1997; PERRENOUD, 1999, PERRENOUD, 2000;

PERRENOUD, 2002). Essadefinição ampla

permi-tiu-nos aproximar dos esquemas ou hábitos

(BOURDIEU, 1980) mediante os quais os

profes-sores estruturam suas práticas e respondem às

exi-gências ou limitações do contexto onde estão

engajados. Nos termos de Giddens (1987) seria a

consciência prática, ou seja, o agir, o

saber-fazer dos atores em situação. A noção de

experiên-cia, categoria analítica central no âmbito da

pesquisa, inicialmente ficou restrita à noção de

experiência do trabalho docente. Nesse sentido,

"a experiência designa um registro de

conhecimen-tos e de saber-fazer originado do trabalho, que

cha-mamos de saber de experiência. A experiência torna

possível o "conhecimento trabalhado" (working

5Segundo esta perspectiva, o contexto é uma fonte de elemen-tos que servem àação e a própria cognição está dividida entre o sujeito e o contexto. A aprendizagem éa invenção de novas formas de ação, no desenrolar da própria ação de um indiví-duo dentro de um contexto específico. Assim, entende-se que a cognição e a ação são incompreensíveis fora de um contexto

e que, portanto, devem ser estudadas

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

i n s i t u e teorizadas em relação à situação.

know ledge)": Esse conhecimento está a serviço da ação e é portador das marcas da interação, C..) não

no sentido da compreensão cognitiva de objetos,

mas na direção da realização de práticas interativas

com os alunos" (TARDIF, op. cit. p. 537).

Após a primeira etapa iniciamos os estudos

e atividades para o trabalho de campo.

Limitamo-nos a um universo de quatro escolas da rede

pú-blica onde o Grupo de pesquisa já havia real izado

trabalhos anteriores. Observamos e registramos a

rotina própria de cada escola, sem esquecer de

caracterizá-Ias por meio da coleta de informações

relacionadas com a estrutura física, a

administra-tiva-financeira, funcional, pedagógica e cultural.

Através dessas visitas procuramos identificar

en-tre os docentes aqueles que apresentavam um

perfil próximo ou adequado considerando os

ob-jetivos da pesquisa. Os critérios adotados foram

motivados pela necessidade de formar um

qua-dro observacional composto por professores que

tivessem tempo de trabalho superior a cinco anos

de magistério, reconhecimento dos pares quanto

à capacidade profissional, além de

disponibilida-de e abertura para a realização do trabalho.

Através de uma amostragem intencional,

com base nos critérios acima citados,

escolhe-mos quatro docentes que atuavam em três

esco-las, sendo duas estaduais e uma municipal, essa

última localizada em um bairro de periferia.

Es-ses docentes, dois homens e duas mulheres

fo-ram contatados individualmente, ocasião em que

solicitamos a colaboração e formalizamos o

pe-dido de autorização para acompanhar

sistemati-camente a práxis pedagógica dos mesmos em sala

de aula.

De posse do termo de anuência

devidamen-te aceito e assinado pelos professores, aplicamos

um questionário que tratava de aspectos relativos

à carreira docente, incluindo a formação inicial e

continuada. Ao longo de um semestre realizamos

sessões de observação em sala de aula, incluindo

filmagens do trabalho dos docentes escolhidos.

Para cada sessão, com a participação de dois

ob-6Grifo do autor.

(4)

servadores, foram produzidos relatórios

detalha-dos tendo como pano de fundo o cotidiano dos

professores investigados, suas ações e discursos.

Nossa intenção era identificar situações

significa-tivas do trabalho docente em situação real de

en-sino, tendo em vista compreender as tramas

interativas e as ações, decisões e transformações

operadas pelos professores em sala de aula.

Os referidos relatórios possibilitaram a

ela-boração de documentos-síntese descritivos que,

posteriormente, foram devolvidos a cada

docen-te. Cada documento incluía uma carta que

pre-tendia reforçar os laços e compromissos do estudo.

Nesse documento, rememoramos os objetivos e

encaminhamentos da pesquisa. Destacamos

even-tos significativos ocorridos em sala de aula que

explicitavam intenções, ações e decisões dos

pro-fessores na interação com os alunos, com a maté-ria e com o contexto.

Essa estratégia tinha como objetivo

propici-ar aos docentes a oportun idade de reconhecer sua

própria prática por meio de uma leitura crítica e,

ao mesmo tempo, convidá-Io a um diálogo

consi-go mesmo e com a equipe de pesquisadores, na

medida em que o próprio professor considerasse

necessário. Esses contatos possibilitaram novas

condições para a fase posterior de pesquisa na

medida em que consolidou laços de colaboração

com os professores.

Em uma etapa posterior procedemos de

for-ma intensiva e concentrada

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à análise do material

coletado tendo em vista a classificação e

catego-rização das situações de ensino, registradas nos

relatórios de observação. A partir dessa

categori-zação preparamos um roteiro de entrevista,

pos-teriormente real izada com cada professor. Essa

entrevista foi concebida como um momento

des-tinado a explicitar a dinâmica da relação da

expe-riência com os saberes de formação.

O roteiro de entrevista fundamentou-se na

tipologia de Tardif (1991) para o qual o professor

integra na sua prática um amálgama de saberes

plu-rais com os quais mantém diferentes relações: os

saberes disciplinares, curriculares, os saberes de

formação pedagógica e os saberes de experiência.

A entrevista constou de três momentos.

Inici-almente incluiu um depoimento sobre a trajetória e

experiência de formação e de prática profissional

de cada sujeito, e os saberes que julgava mais im-portantes para a sua prática pedagógica. O segundo

momento abordou o curso da ação pedagógica a

partir da explicitação de situações vivenciadas pelo

docente, já identificadas nos relatórios de

observa-ção, onde se destaca a presença de saberes

curriculares e disciplinares ou ainda de saberes

pe-dagógicos e sua evolução no saber ensinar e na

prá-tica cotidiana. Finalmente, foram formuladas de

modo colaborativo algumas indagações sobre as

concepções relativas aopapel do professor.

As entrevistas foram momentos

importan-tes que estimularam nossos colaboradores a

recu-perar e refletir sobre suas trajetórias profissionais

à luz de suas experiências. Tal medida significou,

na prática, uma tentativa de estabelecer um

para-lelo entre sua formação e sua ação no início da

carreira e nos dias atuais de docência,

fornecen-do elementos para compreender como se deu o

processo de construção de competências e sua

relação com o saber de experiência.

Mediante a utilização do

NUD*IST,

um

programa que se enquadra nas técnicas que

desen-volvem uma análise qualitativa, nomeadamente

uma análise temática e relacional, definimos um

conjunto de categorias analíticas para a

organiza-ção dos dados obtidos através da transcrição das

entrevistas associadas aos relatórios de observação.

o

IHGFEDCBA

Q u e o s D a d o s S u g e re m

Após confrontar e analisar dados empíricos

em busca de pistas conclusivas, apresentamos a

seguir alguns elementos gerais obtidos através de

análises temáticas da categorização dos dados, a

fim de demonstrar sua relação com o horizonte

de pesquisa que surge como conseqüência da

in-vestigação em curso. Esses resultados oferecem

alguns indícios que ampliam a problemática

ini-cial e sugerem novas questões relacionadas com

o objeto de investigação.

(5)

A tarefa e a atividade na ação pedagógica

Por meio da observação da dinâmica da

ação pedagógica dos quatro

(4)

professores

parti-cipantes da pesquisa, constatamos que as regras

da situação impõem uma organização à atividade

dos docentes que, ao mesmo tempo, selecionam

e definem as regras às quais eles respondem. Este

duplo controle do sujeito (ator) sobre seu

contex-to e do contexcontex-to

sobre a atividade

do ator é

polimorfa (assume diversas formas) e complexa.

Trata-se de uma interação regulada segundo

di-versas modalidades, dos mais diretos (quando o

contexto provoca e controla diretamente alguns

componentes da atividade do ensino), aos mais

indiretos (quando a ação resulta de uma

delibera-ção mental). Confirmando

algumas pesquisas

(DURANT, 1999), pudemos constatar igualmente

que essainteração pode corresponder a uma

adap-tação (ou seja, é no interior da ação que este

du-plo movimento de controle se opera), ou (ação)

diferenciada (uma atividade antecipadora de um

lado, e retroativa de outro lado, permitindo

um

enquadramento antecipador e metacognitivo desta

atividade).

Limites e autonomia

do professor

em

sala de aula

Ainda a partir das observações de situações

reais de ensino, constatamos que os professores

lançam mão do que poderíamos chamar de

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

l i b e r

-d a -d e p e -d a g ó g i c a ( e s c o l h a d e m é t o d o s

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ep r o c e d i -m e n t o s , a v a l i a ç ã o , d e c i s õ e s , u s o d a l i n g u a g e m ) ,

mas não tem a liberdade de definir os objetivos

de suas atividades, nem as condições de ensino

(liberdade de definir seus horários, a composição

de suas classes, etc.). Todavia, as regras oficiais,

isto é, a dimensão normativa, como na maioria

das tarefas oficiais, não são exaustivas. Na

verda-de elas acabam (verda-deliberadamente ou não) sem

definir totalmente o trabalho do professor. Esta

margem nos limites oficiais deixa, como afirma

(TERSSAC, 1996, apud DURANT, 1992) um

es-paço vazio, uma margem de autonomia, de

auto-determinação dos professores. Seria, como

afir-ma Durant (1996, p. 28), o espaço da relativa

au-tonomia do trabalho do professor em sala de aula.

o

caráter

pragmático

do trabalho

docente

Por outro lado, os dados empíricos

resul-tantes das nossasobservações estão a sugerir que,

na medida em que o professor procura

transfor-mar suas intenções em ações, ou seja, viabilizar a

consecução dos objetivos educativos, surge a

pos-sibilidade de regular ou não sua própria atividade

em relação aos objetivos educativos oficiais, ao

contexto, e nas interações com os alunos. Como

sugere Tardif (2002), o professor, na maioria das

vezes precisa tomar decisões e desenvolver

estra-tégias de ação em plena atividade, sem apoiar-se

num "saber fazer" técnico-científico

que lhe

per-mita controlar uma determinada situação com a

certeza de que obterá êxito. Em síntese, o caráter

pouco ou mesmo não definido dos

procedimen-tos pedagógico-didáticos contribui para dar à

ati-vidade docente características

de concepção,

resolução e delimitação de problemas, e mesmo

de improvisação.

Relação entre saber de experiência

dos

professores

e os saberes de formação

profissional

(disciplinar,

pedagógicos,

curricula r)

Com base nas entrevistas realizadas junto

aos professores sujeitos da nossa pesquisa,

cons-tata-se que são, em geral, muito críticos em

rela-ção à sua própria formarela-ção profissional, à qual

eles tendem a opor justamente seu saber de

expe-riência. Os dados que evidenciam essa oposição

entre formação inicial e experiência reafirmam a

tese de que o trabalho cotidiano serve aos

profes-sores como uma instância crítica para avaliar os

conhecimentos adquiridos fora de sua prática real

(Cf. TARDIF, 1999, op. cit). Poder-se-ia dizer que

não existe uma ruptura entre o saber de

experiên-cia e os diferentes saberes adquiridos quando da

(6)

formação inicial e continuada. A partir da análise

dos dados colhidos podemos indicar que essa não

ruptura entre o saber: de experiência e os saberes

da formação profissional, tal como

estudados/abor-dados nesta pesquisa, se define muito

proxima-mente do sentido formulado por Tardif (1991, p.

123 ). Esse autor sugere existir uma releitura dos

saberes provenientes da formação através do

sa-ber de experiência: "os professores não rejeitam

totalmente os outros saberes; ao contrário, eles

os incorporam às suas práticas retraduzindo-os em

categorias através dos seus próprios discursos [... ],

eliminando o que Ihes parece inútil, abstrato ou

sem relação com a realidade vivida, conservando

o que lhe pode servir de uma maneira ou de ou-tra". Desse ponto de vista resulta que o trabalho,

o chão da sala de aula, não é simplesmente um

"lugar de aplicação de conhecimentos", mas

tam-bém um espaço onde esses são transformados,

adaptados, questionados ou rejeitados.

Ação pedagógica

na ecologia

da classe

pautada

predominantemente

na

perspectiva

de uma educação

emancipatória

Os depoimentos dos docentes entrevistados,

posteriormente

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à observação de sua ação

pedagó-gica na sala de aula, apontaram consistentemente

para a importância maior que eles atribuem à

for-mação para a vida. A predominância que atribuem

aos saberes de experiência na condução de sua

prática aparece na insistência de relatos de

even-tos e de momeneven-tos de gestão pedagógica

envol-vendo desafios educacionais de situações

periféricas à gestão direta da matéria. Sem

menos-prezar os saberes disciplinares e curriculares, sua

atenção é sempre pautada pela formação para a

vida que pode ser explicitada numa concepção de

educação emancipatória. Essa postura é reveladora

de uma ação e de uma racional idade interativa ou

comunicativa como elemento fundante das suas

estratégias de intervenção no cotidiano da sala de

aula. Encaminhamentos de ação pautados em ação

e racional idade instrumental/normativa não

cons-tituem referência recorrente para suas estratégias

de gestão da classe. Essa compreensão da

epistemologia fundante da prática desses docentes

encontra igual mente suporte nas constatações e

evidência anteriormente relatadas,

particularmen-te no que diz respeito

à

relativa autonomia e ao

caráter pragmático do trabalho desses profissionais.

IHGFEDCBA

R e fle tin d o S o b re o s D a d o s

Nossos estudos estão a evidenciar que a

relação entre os saberes desenvolvidos por outros

atores e o saber de experiência dos professores é

muito mais complexa do que parece à primeira

vista. De fato, o saber-fazer dos professores está

longe de ser produzidos somente pelos professores

ou simplesmente resultante do seu trabalho

coti-diano (TARDIF, 1991, 1997,2000). Por outro lado,

é possível afirmar que o saber profissional integra

conhecimentos e saber fazer cuja origem social é

manifesta; alguns provêm da família, da sua

cul-tura pessoal, da escola na qual ele foi formado;

outros conhecimentos provêm dos universitários,

das regras ou recomendações governamentais, de

colegas, dos cursos de aperfeiçoamento, etc.

A análise do trabalho docente numa

perspec-tiva ergonômica e situada nos mostrou que os

pro-fessores são sujeito estratégicos (Cf. Dubet, 1994)

que adotam uma "lógica" a partir de seus recursos e

competências, visando dar sentido à sua trajetória

profissional e a realizar seus objetivos práticos. Essa

lógica, todavia, não corresponde a uma

racio-nalidade planificadora acima da ação e das

limita-ções do contexto. Ao contrário, trata-se de uma lógica

enraizada em um contexto de determinação da ação

e situação (DURANT, 2000). Trata-se de uma lógica

enraizada na ação, uma racional idade situada, cuja

epistemologia traz a marca do ator (sua

subjetivida-de, seus recursos, sua personalidasubjetivida-de, das

informa-ções disponíveis, etc.) e da situação que é a sua, em

determinados momentos.

Conseqüentemente, mas sob diferentes

pon-tos de vista, a análise das trajetórias profissionais

indicam que os professores adotam estratégias e

(7)

táticas que evidenciam a existência de uma

dimen-são racional-estratégica subjacente

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

à sua inserção

e consolidação enquanto profissionais da educação.

Por exemplo, em certas passagens remem oradas

pelos professores participantes da pesquisa,

apare-cem situações que à primeira vista podem ser

con-sideradas constitutivas de uma prática equivocada

e não ética. Ora, longe de ser puramente reativas,

as ações dos professores se inserem em uma

intensionalidade graças à qual os professores se

esforçam, em cada momento de sua trajetória, para

tirar proveito das situações vividas e se adapatar

estrategicamente. Todavia, não cabe superestimar

essa dimensão, pois ela depende estreitamente do

contexto de ação. Desse ponto de vista pode-se

dizer que a racional idade estratégica dos

professo-res é limitada e, em boa parte, improvisada:

limita-da em função da normatividade explícita, das

incertezas e limitações estruturais e institucionais

no campo da educação brasileira; improvisada

porque é uma racional idade estratégica que deve

se adaptar a circunstâncias e a uma trajetória

tem-poral e dinâmica.

Essas considerações permitem formular a

hipótese de que o professor aprenderia a ensinar

navegando em uma via mão dupla entre os

sabe-res de formação e o saber de experiência. Em

cer-ta medida isso reafirma o resultado de pesquisas

que caracterizam o professor como um

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s u j e i t o

e s t r a t é g i c o que desenvolve determinadas ações,

cuja finalidade éagir selecionando aqueles saberes

que parecem pertinentes à sua prática (saberes da

formação inicial). Assim, eles rejeitariam aqueles

saberes que não resolvem problemas que

apare-cem cotidianamente. Esse seria uma espécie de

primeiro diálogo ou conversa do saber de

experiência com os saberes de formação inicial.

Um outro diálogo ocorreria ao longo da carreira.

Os saberes oriundos da formação continuada

ser-viriam para reforçar seu saber de experiência.

A prática é considerada pelos professores

como uma instância de produção de saberes e com-petências. A produção desses saberes e

competên-cias passaria por um processo de autoformação

prática dos professores em exercício. Essa situação

de formação prática, de natureza dinâmica e de

pers-pectiva temporal, comporta componentes

estru-turantes, ou seja, artefatos culturais (SHORE, 1996)

relativos ao modo de organização dessa atividade.

Além disso, eles possuem dimensões implícitas nas

maneiras de proceder e de normas inscritas (histori-camente) nessa situação específica de aquisição de

saberes que passa necessariamente pelo universo

cultural da escola onde o professor trabalha.

A partir das nossas observações e de

acor-do com as narrativas dos quatro professores, a

experiência dos profissionais de ensino propicia

a construção de competências no trabalho

cotidi-ano na medida em que os múltiplos saberes

do-centes, adquiridos tanto na formação inicial e

contínua como no mundo vivido, são articulados

e moldados através de diálogos que se

configu-ram nas situações de ação pedagógica no chão da

sala de aula, tornando-se base da evolução do

saber ensinar e da competência docente.

Das considerações acima podemos

desta-car a idéia de que a "experiência profissional"

constitui ao mesmo tempo um espaço de

apren-dizagem incontornável e um método organizador.

Os professores pesquisados demonstram um olhar

crítico em relação aos saberes de formação,

toda-via, não rompem com esses de forma definitiva.

Na verdade, elegem a prática como critério de

vai idação e associam as transformações dos

sabe-res de formação ao momento da prática e em

cur-so de carreira (trajetória).

Considerações

Finais

Nosso estudo exploratório evidenciou o

professor, enquanto profissional de ensino,

trabalhando com saberes múltiplos e heterogêneos,

transformando-os pedagogicamente. Essa

cons-tatação nos conduziu a um olhar

episterno-logicamente diferenciado quanto a relação

indissociável entre autonomia, experiência e

com-petência docente.

Como vimos acima, o repertório de saberes

profissionais do docente inclui os saberes de

(8)

mação construídos objetivamente pelas ciências

disciplinares, curriculares e pedagógicas. Inclui,

igualmente, os saberes individuais construídos e

acumulados subjetivamente na experiência

soci-al (familisoci-al, escolar e cultural) e profissional de

formação e trabalho, aos quais se associam

hábitus, atitudes e valores. Estabelece-se um

diá-logo entre sabres de formação e saber de

experi-ência. No momento da tomada de decisão em

situação de gestão pedagógica da sala de aula esse

último repertório de saberes, próprios à

experiên-cia soexperiên-cial e individual do docente interfere na

racionalidade prática que sustenta a

intenciona-lidade assumida por esse profissional. Define-se,

neste processo, um espaço de autonomia relativa

de ação pedagógica.

Essa 'autonomia relativa' do professor

ma-nifesta-se, portanto, no seu modo próprio de

re-correr tanto aos saberes individuais e subjetivos

construídos na sua experiência de vida

profissio-nal e social, como aos saberes construídos e

reco-nhecidos nos processos científicos.

É

nesta fonte

que a racional idade desse profissional, marcada

por traços objetivos e subjetivos, encontra os

ele-mentos necessários para enfrentar problemas,

di-ficuldades e necessidades que emergem nos

espaços situados e específicos onde atua com

con-tornos de intervenção responsável e intencional.

Parece evidente que uma determinada

epistemologia da prática dá suporte à

compreen-são da autonomia relativa do docente reflexivo e

transformativo, que no seu trabalho cotidiano

transforma pedagogicamente a matéria curricular,

conduzindo moral e eticamente a totalidade do

processo educativo. Essa mesma epistemologia é

igualmente subjacente à compreensão da noção

de competência docente que não pode prescindir

da intencional idade do sujeito que dá o

significa-do e o direcionamento da ação.

Portanto, o conceito genérico de

competên-cia visto como a capacidade do educador buscar,

no seu repertório de múltiplos saberes

heterogê-neos, elementos para tomadas de decisão

profis-sional em circunstancias específicas e situadas,

deve ser ampliado para permitir a análise de

ma-nifestações de competência em situações

especí-ficas no chão da sala de aula.

O reconhecimento da autonomia relativa

do docente atribuindo ao sujeito em situação a

capacidade profissional de proceder aos

arran-jos necessários para a ação requer uma

com-preensão ampla e diferenciada do conceito de

competência. Nesta compreensão, a

competên-cia docente em contexto real de práxis, que

bus-ca a afirmação e concretização de uma ética no

chão da sala de aula, inclui saberes normativos

e instrumentais de ação objetiva, assim como

saberes experiênciais subjetivos da ação

interativa marcada pela individualidade.

É

nes-ta perspectiva de relação com a autonomia

ob-servada no chão da sala de aula que deve ser

abordada a noção de competência na sua

rela-ção com a experiência.

Em síntese, a complexidade dos espaços de

gestão pedagógica da sala de aula oferece

condi-ções de olhares diversos e múltiplos de

observa-ção 'in situ' do trabalho cotidiano de profissionais

de ensino. A ciência contemporânea preconiza a

possibilidade de compreensões alternativas do

mundo vivido. Este pressuposto nos levou não

somente a reconhecer a necessidade de revisitar

o conceito de competência como, sobretudo, a

buscar uma fundamentação teórico-metodológica

capaz de sustentar uma compreensão alternativa

desse conceito em apoio às constatações

eviden-ciadas em observações da ecologia da classe.

Portanto, considerando o professor

enquan-to profissional de ensino que trabalha com

sabe-res múltiplos e heterogêneos, que transforma

pedagogicamente estes em situação de gestão da

sala de aula regida por uma práxis ética, nos

le-vou, apoiados nas constatações e conclusões

referenciadas nos pontos anteriores, a formular

enunciados que conduzem a um olhar

epistemo-logicamente diferenciado da relação indissociável

entre autonomia, experiência e competência

do-cente. Admitir que é na práxis situada que o

sujei-to articula seus saberes tomando decisões de

intervenções intencionais de modo competente

nos obriga a rever esse conceito.

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(9)

W

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

f

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

X TM

~,,$

Essa noção de competência articulada à

autonomia relativa do sujeito docente expressa

uma compreensão ampla e diferenciada desse

conceito, atribuindo ao sujeito em situação a

ca-pacidade profissional de proceder aos arranjos

necessários para a ação.

Nesta compreensão, a competência

docen-te em condocen-texto real de práxis ética no chão da

sala de aula inclui elementos normativos e

instru-mentais de ação objetiva, assim como elementos

subjetivos da ação interativa do professor

marca-do pela individualidade do seu repertório de

sa-beres.

É

nesta dupla dimensão característica da

autonomia docente observada na escola que deve

ser abordada a noção de competência na sua

re-lação com a experiência.

IHGFEDCBA

N o v a s P is ta s d e In v e s tig a ç õ e s

Nosso estudo exploratório evidenciou a

complexidade do trabalho docente no interior

da gestão pedagógica em sala de aula; destacou

a importância da prática, considerada pelos

pro-fessores como uma instância de produção de

sa-beres e competências, e explicitou elementos de

uma epistemologia da prática que se apóia no

constante diálogo entre experiências e saberes

de formação a partir do exercício do que

chama-mos de relativa autonomia didático-pedagógico

do professor.

Essas constatações sugerem novas pistas de

investigações apontando para a necessidade de

compreender como as instituições formadoras,

através de suas concepções, práticas, e projetos

pedagógicos, preparam atualmente os futuros

pro-fessores da educação básica, considerando as

re-lações entre a pedagogia por competência e a

epistemologia da prática que fundamentam o

modelo de formação, tendo em vista desenvolver

um conceito de competência implicando a

for-mação de um profissional transformativo.

Nessa perspectiva as temáticas descritas a

seguir poderiam ser exploradas de forma

integra-da e colaborativa.

A p e d a g o g ia p o r C o m p e tê n c ia

e a

E p is te m o lo g ia d a P rá tic a

A pedagogia por competência expressa nas

Diretrizes Curriculares para a Formação de

Pro-fessores vem sendo analisada na literatura mais

recente sob o prisma de uma concepção fundada

na perspectiva da ação instrumental e normativa

onde predominam a objetividade e a eficiência

como fatores de orientação das estratégias da ação

docente. Por outro lado, nossos estudos de caso

junto a docentes de escolas públicas apontam a

predominância da ação interativa/comunicativa de

cunho emancipatório apoiada na subjetividade

dos saberes de experiência docente no

encami-nhamento de ações estratégicas de gestão da sala

de aula. Neste quadro hipoteticamente

contradi-tório, em que epistemologia de prática fundamenta

a pedagogia por competência desenvolvida nas

instituições formadoras de professores para a

edu-cação básica, assim como nas próprias Diretrizes

Curriculares para a formação de professores? O

enaltecer da prática na configuração dos novos

projetos pedagógicos das instituições e dos

cur-sos de licenciatura gera uma nova compreensão

da relação teoria-prática nos processos de

forma-ção. Situado nos contextos dos princípios de

fle-xibilidade, descentralização e autonomia,

reconhecidos pela LDB 9394/96 para as

institui-ções formadoras, esse fenômeno justifica as

inda-gações a respeito de compreensões diferenciadas

de pedagogia por competência e da epistemologia

da prática que as fundamenta.

S a b e re s /P rá tic a P ro fis s io n a l e F o rm a ç ã o

U n iv e rs itá ria

A construção da competência, no âmbito

do trabalho docente, estaria articulada a uma

con-figuração que se daria através de um diálogo

coti-diano entre a experiência e os múltiplos saberes

docentes, adquiridos tanto na formação inicial e

contínua como no mundo vivido. Qual é a

im-portância e o papel da "experiência profissional"

(10)

como elemento estruturante no processo de cons-trução do

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s a b e r - e n s i n a r , ou seja, saber-fazer

es-pecífico do trabalho docente? Em que medida as

instituições formadoras de professores no âmbito

universitário reconhece o modo de integrar

sabe-res e competências a partir do chão da escola?

Como a prática, reconhecida, tacitamente, como

uma instância de produção de saberes e

compe-tências, está sendo integrada ao processo de

auto-formação do professor?

IHGFEDCBA

C o m p e tê n c ia e F o rm a ç ã o d o P ro fis s io n a l

T ra n s fo rm a tiv o

As mudanças no mundo do trabalho exigem,

não apenas uma maior qualificação dos

trabalhado-res e servidotrabalhado-res, mas também uma nova dimensão do conteúdo de suas capacidades, orientadas para o

entendimento do processo integral da produção, nas

c o m p e t ê n c i a s i n t e g r a i s eu n i v e r s a i s . As futuras

exi-gências de qualificação para o trabalho são cada vez

menos prognosticáveis. O objetivo de uma

forma-ção dos profissionais para o futuro não deve estar

fundamentada na aquisição de determinadas

habili-dades, mas sim na "capacidade de transferir

conhe-cimentos para novas situações complexas"

(MARKERT, 2002), de desenvolver c o m p e t ê n c i a s

t é c n i c o - m e t o d o l ó g i c a s t r a n s v e r s a i s . As mudanças

sócio-culturais levaram a uma crescente exigência

de mudanças nas relações pessoais, no nível

mun-dial, cujas orientações individuais entravam

cons-tantemente em conflito com os papéis sociais

tradicionais na família, na escola e no trabalho.

Es-sas mudanças de uma "crescente subjetivação

normativa" (BAETHGE, 1994) das aspirações dos

indivíduos se direcionam às instituições escolares e

profissionais, procurando uma relação intersubjetiva

que se orienta no "entendimento mútuo"

(HABERMAS, 1997) para poder experimentar e

es-tabelecer c o m p e t ê n c i a s s ó c i o - c o m u n i c a t i v a s

(MARKERT, 2002). Para evitar, que o conceito de

competência seja restrito a um entendimento

somen-te funcionalista, destaca-se a necessidade de poder

transgredir e transformar instituições e ofícios

tradi-cionais resistentes ao assumir um "poder

estru-turante" (TANGUY, 1997) em direção àc o m p e t ê n

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Referências

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