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Quais São os Fatores Que Explicam a Evidenciação no Nível 3 do Valor Justo? Uma pesquisa com empresas listadas na BM&FBOVESPA

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Quais São os Fatores Que Explicam a Evidenciação no Nível 3 do Valor Justo?

Uma pesquisa com empresas listadas na BM&FBOVESPA

MONIQUE CHRISTINE BATISTA DE SOUZA Universidade de Brasília

Resumo

O objetivo deste estudo consistiu em analisar os fatores que explicam o grau de evidenciação das empresas sobre o nível 3 de hierarquia do valor justo, aquele que possui maior subjetividade atrelada à sua avaliação. Esta pesquisa analisou 322 empresas não-financeiras listadas na BM&FBovespa, sendo 62 delas as que detinham itens classificados no nível 3 e compuseram a amostra deste estudo. Para a amostra, foi feita uma análise de conteúdo sobre as notas explicativas conforme um check-list baseado no CPC 46, atribuindo nota 1 ou 0 conforme o cumprimento ou não da norma, respectivamente. Além disso, realizou-se uma contagem de palavras sobre o texto divulgado acerca dos itens exigidos como uma forma de proxy de qualidade do disclosure, identificando os setores mais prolíficos em questão de evidenciação no tema. Os fatores explicativos analisados foram: o tamanho da empresa, sua participação no mercado, seu resultado líquido, setor pertencente e endividamento, estas foram as variáveis independentes utilizadas tanto na regressão logística, para os itens do check-list, como na regressão linear múltipla para análise da contagem de palavras. Os resultados revelaram que as empresas ainda não estão em conformidade ideal ao CPC 46, sendo 31% que não divulgaram classificação entre níveis de hierarquia de seus itens e dentro daquelas que possuem ativos ou passivos em nível 3, algumas delas não cumpriram com nenhum dos requisitos de divulgação analisados. Foram encontradas relações estatisticamente significantes (5%) para o tamanho da empresa, participação de mercado e resultado, sendo este o único com relação negativa ao nível de divulgação, sugerindo que quanto menor o desempenho, mais prolíficas as empresas tendem a ser sobre estas informações. Ao nível de 10% de significância, a variável setor também explicou o modelo positivamente relacionado com a evidenciação, por fim a única hipótese rejeitada por esta pesquisa foi o nível de endividamento.

Palavras chave: Disclosure. Valor Justo. CPC 46. Nível 3.

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1 Introdução

O objetivo da Contabilidade é fornecer informação útil, relevante e em tempo hábil para a tomada de decisão. Logo, para que ela cumpra o seu papel há uma necessidade de maior transparência por parte das empresas, tornando os relatórios compreensíveis e evitando o envolvimento com fraudes ou irregularidades (Iudícibus, 2000).

Além disto, a qualidade da evidenciação gera eficiência de mercado, pois garante base para tomada de decisão dos investidores, diminuindo assim a assimetria informacional (Singhvi

& Desai, 1971). Porém, algumas informações, inclusive obrigatórias, possuem uma natureza subjetiva, pois estão baseadas em opiniões, prognósticos, estimativas e para elas, conforme Dantas, Zendersky, Santos e Niyama (2005) é necessário ter o devido cuidado em sua divulgação para que não impeça a qualidade e a transparência que o processo de evidenciação pretende alcançar.

Uma discussão acalorada na Contabilidade no que diz respeito à subjetividade é a utilização da mensuração pelo o seu valor justo. Esta forma alternativa para avaliação de ativos e passivos tem complementado ou até substituído a regra tradicional de mensuração dos elementos patrimoniais ao redor do mundo, o uso do custo histórico. Em conformidade com as IFRS, as atuais práticas contábeis brasileiras incorporaram o uso desta metodologia para mensuração em determinados casos, principalmente para aqueles itens que geram mais benefícios econômicos para a empresa através da sua liquidação.

Acontece que na falta de um mercado ativo, de pouca ou nenhuma atividade, a mensuração precisa ser feita através de dados não observáveis, ou seja, é necessário o uso do julgamento e assumir o risco das técnicas de avaliação específicas (Pronunciamento técnico CPC-46, 2012). Os diferentes tipos de informação utilizados são classificados pelo CPC 46 de acordo com uma hierarquia em 3 níveis. O nível que apresenta maior grau de subjetividade é o nível 3. Estudos indicam que as informações de todos os níveis são relevantes para a tomada de decisão por parte dos investidores, porém o nível 3 parece ser analisado de forma diferente, resultado da baixa confiabilidade em suas medidas (Song, Thomas, & Yi , 2010; Kolev, 2009).

A escolha por evidenciação por parte das empresas tem sido abordada como uma variável dependente desde os estudos elaborados por Cerf (1961), para ele existem fatores explicativos que alteram o grau de evidenciação. Esta abordagem foi seguida por diversos pesquisadores na qual testaram a significância estatística entre a qualidade da evidenciação e outras variáveis independentes, estas características das empresas.

Apesar da obrigatoriedade de divulgação exigida pelos pronunciamentos técnicos, o nível de evidenciação no que concerne a avaliação do valor justo ainda não é ideal conforme alguns autores, Talasca e Oliveira (2016), Silva e Souza (2017) e Andruchechen e Alberton (2016), e quando a informação revela uma queda na qualidade das informações como o uso do nível 3 para valoração dos seus ativos e passivos este cenário tende a piorar.

Diante a especificidade que são as informações sobre a mensuração no nível 3, a discussão existente na literatura sobre a percepção dos investidores acerca deste tipo de informação e sua obrigatoriedade, o presente estudo propõe a investigar: Quais são os fatores que explicam o grau de evidenciação das informações exigidas pelo nível 3 da hierarquia do valor justo?

Para isto, a pesquisa levantou hipóteses buscando encontrar relação significante entre tamanho da empresa, participação do mercado, nível de endividamento, lucratividade, setor e a evidenciação destas informações.

O trabalho está divido em 5 seções. A primeira sendo esta introdução, apresentando o contexto geral e objetivo da pesquisa, a segunda apresenta uma revisão da literatura sobre o tema, a terceira expõem a metodologia utilizada para atingir os objetivos deste trabalho, tal como a amostra pesquisada, a quarta são os resultados e as análises feitas e por fim, a última seção aborda as principais conclusões e indicações para pesquisas futuras.

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2 Referencial teórico

2.1 Teoria do disclosure

A evidenciação tem um papel fundamental para a manutenção da eficiência de mercado, pois os investidores passam a ter embasamento para a tomada de decisões quando possuem acesso à informação de qualidade. Esta abertura aos detentores de capital traz vários benefícios, entre eles uma melhor alocação de recursos na economia, diminuindo o custo de capital empregado. Além disto, o valor intrínseco das ações passa realmente a ser baseado em fatos, reduzindo a dispersão entre ele e seu valor de mercado (Singhvi & Desai, 1971).

Existem dois tipos de disclosure, o obrigatório e o voluntário, a teoria contábil positivista introduzida pelos estudos de Watts e Zimmermann (1978) discutem que há uma dualidade quanto a decisão para evidenciar, de um lado o custo para prover a informação e de outro, o efeito que a abertura causa no valor de mercado. Quando o custo é superior ao seu impacto na formação de valor, há necessidade da obrigatoriedade para produzir a informação, com o intuito de diminuir as assimetrias informacionais do mercado.

Diante a importância da qualidade do disclosure, diversos estudos empíricos tentaram buscar explicações para a decisão quanto ao nível de evidenciação pelas empresas. Cerf (1961) foi pioneiro ao provar empiricamente o disclosure como uma variável dependente e Singhvi e Desai (1971) publicaram um estudo onde testou a significância estatística entre a qualidade da evidenciação e outras variáveis independentes, estas características das empresas.

Singhvi e Desai (1971) demostraram que a divulgação era provavelmente inadequada devido ao tamanho da empresa, pois empresas maiores possuem mais facilidade de gerar informação por dois grandes motivos. Primeiramente pelo seu custo, que para grandes empresas o alto volume de informação acumulada internamente para os grandes executivos não é tão custosa para evidenciar quanto para as menores necessitam para produzi-las. Outro motivo é que para as grandes empresas é possível usufruir dos benefícios de uma melhor evidenciação, por conta da possibilidade maior de financiamento, enquanto as menores não conseguem angariar recursos.

Uma variável que foi considerada no estudo deles foi a taxa de retorno da empresa.

Quando a taxa de retorno é alta, os gerentes provavelmente irão evidenciar mais informação como suporte de sua posição, em contrapartida, quando a taxa é baixa os gerentes tentam de certa forma esconder os motivos da queda em sua rentabilidade. Além destas, foram testadas a relação com o número de acionistas, a margem de lucro e o tamanho da empresa que auditou.

Outro ponto de discussão na literatura relacionado ao disclosure e que gerou insumo para análise nesta pesquisa é o value relevance. A informação é importante de ser evidenciada a partir do momento em que causa mudança na tomada de decisão por parte dos usuários. Para identificar a relevância da informação, Barth, Beaver e Landsman (2001) propõe analisar a relação entre o número contábil e o valor de mercado das ações, caso a divulgação gere variação no preço delas, a informação é dita como relevante.

2.1.1 Trabalhos correlatos de disclosure

Em decorrência dos estudos de Singhvi e Desai (1971) diversos autores buscaram encontrar relações para o nível de evidenciação das empresas a partir de suas características, inclusive no mercado brasileiro. Mapurunga, Ponte, Coelho e Meneses (2011) estudaram a relação entre divulgação de informações acerca de instrumentos financeiros derivativos e as características econômicas das empresas, estas foram selecionadas como representativas de tamanho, endividamento e desempenho financeiro. Para medir o nível de disclosure foi

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construído uma métrica baseado no CPC 14 e aplicado em 75 empresas, o resultado aponta que a evidenciação é baixa, 50% da amostra apresentaram 11 itens de 30, além disso, com o uso da técnica de análise de correspondência (ANACOR) identificou-se associação positiva e significante entre o disclosure e (1) tamanho e (2) maior lucro, assumindo que empresas maiores tem tendência a maior eficiência informacional, porém as hipóteses de endividamento e rentabilidade foram rejeitadas pelas pesquisa, indicando não haver relação significativa entre estes fatores e a evidenciação.

Pereira (2008) analisou o nível de disclosure contido nos relatórios de administração de 58 companhias abertas do setor de materiais básicos listadas na BMF&Bovespa, através de regressão linear múltipla foi testado a relação como tamanho, representado pela receita líquida, a adesão ou não aos níveis de governança corporativa da Bovespa, a nacionalidade do acionista controlador e em um outro modelo, uma variável binária indicando presença ou ausência de lucro contábil do exercício. Nenhuma hipótese foi rejeitada, representando relação positiva entre as variáveis estudadas e o disclosure, porém não podendo afirmar qual é a intenção dos administradores ao decidir aumentar a evidenciação apenas na presença de lucro.

Moura, Carmo, Ribeiro e Pereira (2016) verificou os fatores explicativos do nível de conformidade da divulgação contábil requerida dos ativos biológicos com empresas listadas na BMF&Bovespa. Para isto, construiu um indicador de divulgação com base no CPC 29 e CPC 46 e aplicou em 20 empresas e através de análise de regressão de dados em painel constatou que a representatividade dos ativos biológicos em relação ao ativo total e a auditoria por uma Big4 são significativas para o disclosure, porém variáveis de tamanho, rentabilidade, práticas de governança corporativa e endividamento foram rejeitadas.

Oliveira (2015) verificou o impacto do CPC 46 na evidenciação sobre o valor justo das companhias abertas brasileiras que operam com ativos biológicos e propriedades para investimento, para tal foi calculado o nível de disclosure através de uma métrica elaborada com base no CPC 46 e testado através de regressão linear múltipla, as variáveis: norma, tamanho, desempenho, empresa de auditoria big4, nível de governança corporativa e setor de atuação.

Ao nível de 5% de significância, somente a variável auditoria por uma big4 não foi rejeitada pelo estudo. Além disso, entre 2011 e 2013, através do teste estatístico de Wilcoxon, o nível de divulgação não apresentou evolução significativa.

2.2 Valor justo e hierarquias

As informações sobre mensuração do valor justo estavam dispersas em outras interpretações internacionais e não articulavam um objetivo claro sobre seu conceito e exigências de divulgação até a emissão da IFRS 13, a qual surgiu como fruto de trabalho desenvolvido pelo Conselho de Normas de Contabilidade Financeira (FASB), apoiado no SFAS 157, e com o Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB). De acordo com este pronunciamento, o valor justo é mensurado baseado nas condições de mercado e não nas condições específicas da entidade, ele serve para estimar o preço pelo o qual em uma transação ordenada venderia o ativo ou o passivo seria transferido entre os participantes de mercado de acordo com as condições atuais.

Iudícibus e Martins (2007) debateram que a aplicação do valor justo era espetacular por revolucionar a avaliação de ativos, agressiva por poder substituir o tradicional método utilizado, o custo histórico, mas ao mesmo tempo arriscada, por tanto dificultar o rastreamento entre fluxo de caixa e competência, como o lado da existência do grau de subjetividade dos cálculos de fluxos descontados quando da inexistência de um mercado ativo, em detrimento da objetividade e consistência que os tradicionais métodos trazem.

Lustosa (2010) expôs que a estrutura de mensuração do valor justo prescrita no SFAS 157 parece injusta, pois seria impossível obter justiça na avaliação de ativos de uso quando não

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há intenção de venda por parte da entidade, além da alta subjetividade inerente quando há projeção das expectativas futuras, pois nas situações de anormalidade ou inexistência de mercado, quando é necessário o uso de modelos internos da empresa para encontrar o valor do ativo, a medida sempre será inexata e subjetiva.

Em contrapartida, Palea (2014) acredita que o custo histórico e o valor justo não devem ser comparados como excludentes e que somente se evidenciados juntos conseguem prover completa informação aos investidores, de forma a impactar a tomada de decisões. Sobre este aspecto, há uma calorosa discussão na academia sobre a relevância do valor justo para os usuários da informação.

Palea (2014) defende que a evidenciação do valor justo aumenta a qualidade percebida e que é um incremento na transparência. Ele consegue gerar informação que reflete melhor as condições de mercado, isto contribui para uma alocação de recursos mais acertada, tornando o mercado mais eficiente. Em contrapartida, outros autores debatem que o value relevance do valor justo não representa o valor real dos ativos que possuem longo período de maturação, além de que na presença de investidores irracionais os preços podem ser distorcidos, não gerando eficiência de mercado (Barth, 2004).

O debate sobre value relevance também se aplica sobre os diferentes tipos de informações utilizadas na mensuração do valor justo. O CPC 46 define uma hierarquia que a classifica em 3 níveis de acordo com os tipos de informações usadas para as avaliações dos ativos e passivos.

A classificação se dá pelo nível 1, quando há disponibilidade de preços cotados em mercados com ativos e passivos idênticos com possibilidade de acesso pela entidade, o nível 2 quando há a utilização de inputs, exceto preços cotados, para a precificação, ou a mensuração com base em ativos ou passivos similares e por fim, o nível 3, o mais discricionário, onde os inputs são dados não observáveis de mercado, podendo incluir dados da própria entidade (CPC 46, 2012).

Os estudos de value relevance apontam que a informação do nível 3 é menos relevante se comparado ao de nível 2 e menos ainda sobre o 1. Song et al. (2010) constataram que todas as informações utilizadas para mensuração, independentemente do nível são relevantes, porém quando se trata do nível 3 sugere-se que os investidores percebem preocupação na confiabilidade. Em consonância, Kolev (2009) sugere que os investidores estão conscientes dos erros de estimativa e por isso, avaliam as informações dos 3 níveis de forma diferente.

2.2.1 Trabalhos anteriores

2.2.1.1 Disclosure sobre valor justo

Tratando-se de evidenciação sobre as exigências que os pronunciamentos trazem ao mensurar utilizando o valor justo, estudos empíricos apontam que há baixo cumprimento por parte das empresas. Talasca e Oliveira (2016) realizaram um estudo para analisar o nível de disclosure dos ativos biológicos nas empresas listadas na BM&FBovespa após a adoção do valor justo, foi constatado que as empresas possuem grande variação quanto à adequação às normas, mesmo entre aquelas pertencentes a um mesmo setor, além disso, observou-se que nenhuma empresa atendeu à totalidade dos itens propostos pelo CPC 29, indicando distanciamento do padrão de compliance, porém comparado ao trabalho de Barros, Araújo, Souza, J. D. G. Silva e M. C. Silva (2012), realizada entre 2008 a 2010, contatou-se um pequeno aumento no nível de evidenciação.

Silva e Souza (2017) verificaram a evidenciação dos critérios de mensuração das propriedades para investimento, instrumentos financeiros e ativos biológicos das 40 maiores empresas de capital aberto, segundo a revista Exame, entre os anos de 2014 e 2015. Foi constatado que instrumentos financeiros possuem a maior frequência de ocorrência entre a amostra e ativos biológicos aparecem em 100% das empresas de papel e celulose analisadas,

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além disso, o nível 2 de hierarquia foi o mais utilizado e que somente 30,42% demonstraram de alguma forma os critérios para mensuração dos ativos e as que divulgaram ainda não estão em plena concordância com as exigências dadas pelo CPC 46.

Andruchechen e Alberton (2016) verificaram as evidenciações da mensuração do valor justo e as alusões nos relatórios dos auditores independentes apresentadas pelas empresas de construção e engenharia listadas na BM&FBovespa. Com a construção de um check-list baseado no CPC 46, pôde-se verificar que (1) a maioria classifica seus itens no nível 2, (2) há uma necessidade de evidenciação mais específica sobre o assunto, (3) as empresas ainda estão em processo de adequação ao pronunciamento estudado e (4) não são feitas alusões em relação à mensuração do valor justo nas empresas auditadas.

2.2.1.2 Hierarquia do valor justo

Diversos estudos compararam as informações divulgadas entre os níveis que são exigidos pela norma. Santos, A., Gomes, Brito, Gaio e Furlan (2015) demonstraram quais as empresas de capital aberto possuem ativos biológicos, quais são suas classificações dentro da hierarquia do valor justo e uma análise sobre as metodologias utilizadas para estes ativos pelas empresas listadas na BM&FBovespa no ano de 2013. Resultou-se que todas as empresas cumprem o CPC 29 utilizando o valor justo, que 68% das empresas utilizam o nível 3 do valor justo e que há similaridade entre as premissas utilizadas de acordo com o setor e o nível de governança corporativa.

Marques, Niyama, Souza e Schultz (2017) verificaram se o value relevance atribuídos às informações do valor justo dos ativos e passivos do nível 1 e 2 são maiores se comparados ao do nível 3. A amostra consistiu em 50 empresas retiradas da Bovespa em um período de 8 trimestres, analisadas com uma regressão linear logarítmica, os resultados de uma forma geral discordam da literatura. Os resultados da pesquisa dele confirmam que o value relevance é menor para o nível 3 somente no caso dos passivos, acredita-se que a pequena representatividade dos valores de passivos no nível 3 e a complexidade das informações sobre o tema para os usuários da informação são fatores para este resultado.

Mendes e Freire (2014) buscaram verificar se a governança corporativa inibe a prática de gerenciamento de resultados no processo de mensuração a valor justo nos bancos comerciais, a amostra foi composta de instituições de 125 países retiradas da base Bloomberg, a pesquisa aponta que são poucos os bancos que divulgam os ativos que são avaliados pelo valor justo, mesmo que a norma obrigue não somente esta divulgação, como seus critérios de mensuração.

Ficou constatado que a governança corporativa exerce uma forte influência na escolha dos critérios de avaliação dos ativos a valor justo, demonstrando que quanto mais eficiente são as ações de Governança Corporativa maior são os ativos avaliados no nível 1.

3 Metodologia

Para atingir os objetivos deste estudo, de identificar os fatores explicativos do nível de evidenciação dos itens classificados no nível 3 pela hierarquia do valor justo, a metodologia utilizada foi baseada em uma pesquisa descritiva, que busca relatar as características de determinadas populações, com utilização de técnica padronizada para a coleta de dados (Gil, 2008). O delineamento do tratamento dos dados é quantitativo e qualitativo, pois utiliza-se de técnicas de análise de conteúdo e estatísticas.

Primeiramente, foi feito um levantamento das notas explicativas do final do exercício de 2016 das empresas listadas na BM&FBovespa, excluídas somente aquelas do setor financeiro, visto que estas possuem regulamentações próprias e não são comparáveis aos outros setores

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deste estudo. De 322 empresas analisadas, 62 foram as que divulgaram em seus balanços itens classificados em nível 3 de hierarquia e compuseram a amostra desta pesquisa.

Para descrever o nível de evidenciação foram utilizados dois métodos, tanto uma classificação binária através de um check-list baseado nos parágrafos 91 a 99 do CPC 46, quanto uma classificação alternativa com contagem de palavras dos textos divulgados nas notas explicativas pelas empresas. O check-list foi composto de três itens de divulgação exigidos pela norma, assim como demonstrado na Tabela 1, recebendo valor de 1 caso haja o cumprimento ou de 0 caso não haja.

Tabela 1

Requisitos de divulgação conforme CPC 46

Requisitos Nível 3 Item

A descrição das técnicas de avaliação 93 (d) O valor dos ganhos ou perdas totais para o

período incluídos nos resultados 93 (f) Descrição narrativa da sensibilidade da

mensuração do valor justo a mudanças em

dados não observáveis 93 (h)(i)

O nível de divulgação pelo método de contagem de palavras tem o intuito de aumentar a pontuação percebida daquelas empresas que discorrerem a mais sobre a temática, serve como uma proxy de qualidade do disclosure. Para tal, foram coletados os textos divulgados nas notas explicativas tanto a respeito (1) da descrição do processo de avaliação, como (2) a narrativa da sensibilidade sobre os dados não observáveis utilizados para a mensuração do item classificado no nível 3. A identificação dos textos de descrição por parte da pesquisadora foi baseada nos exemplos ilustrativos 17, 18 e 19 das disposições transitórias do Pronunciamento Técnico CPC 46.

Na tentativa de explicar o comportamento da variável dependente com base no valor das independentes foi utilizado o modelo de regressão logística, método adequado quando a variável estudada possui natureza dicotômica (Gurajati & Porter, 2011). Cada item analisado pelo check list, sendo a descrição do processo de avaliação (PROCES AV), divulgação de ganhos ou perdas (GAN/PER), divulgação da análise de sensibilidade (SENS), compõem as variáveis dependentes deste modelo. A regressão linear múltipla, através do Mínimos Quadrados Ordinário (MQO), também foi utilizada para mostrar a relação entre as variáveis dependentes de texto e suas explanatórias. Esta foi aplicada sobre a contagem de palavras, tanto do processo avaliativo (TXTPROC), como sobre a análise de sensibilidade (TXTSENS) divulgada nas notas explicativas.

As cinco variáveis independentes foram selecionadas de acordo com a problemática da pesquisa e em conformidade com estudos anteriores, utilizadas para formulação e teste de hipóteses, são elas: tamanho da empresa, setor econômico, lucratividade, endividamento e participação no mercado. O modelo de regressão, as variáveis utilizadas e as hipóteses são explicitadas na Tabela 2.

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Tabela 2

Hipóteses da pesquisa

Variável Independente Características Relação esperada com a divulgação sobre o nível 3 Tamanho da Empresa

(TAM) Utilizada como proxy o

logaritmo do total do ativo. Empresas maiores apresentam um maior nível de divulgação.

Setor Econômico (SETOR)

Variável dummy (empresa pertence ao segmento de energia elétrica ou papel e

celulose=1, outros segmentos=0)

Espera-se que pertencer aos segmentos de energia elétrica ou papel e celulose aumentam o nível

de divulgação.

Lucratividade (RESULT) Utilizado o logaritmo do Resultado Líquido

divulgadoª

Quanto maior a lucratividade da empresa, maior é sua tendência

para a divulgação.

Endividamento (ENDIV) Total do passivo dividido

pelo total do ativo Quanto maior o endividamento espera-se maior divulgação.

Participação no Mercado

(PARTICIP) Utilizado como proxy a Receita divulgada

Quanto maior a eficiência operacional, maior é a adequação

às normas exigidas

Nota.ªPara fins de cálculo, todos os resultados divulgados foram acrescidos do maior prejuízo encontrado na amostra mais 1, tornando todos os resultados, independentes de lucro ou prejuízo, positivos e passíveis de análise.

Os dados acerca do setor econômico foram retirados do site do Bovespa, as outras variáveis independentes foram retiradas da base de dados da Economática, todas sobre o ano de 2016. A partir da observação dos dados, a variável dummy foi criada com o intuito de testar caso empresas pertencentes ao setor de utilidade pública do segmento de energia elétrica e as do setor de materiais básicos, papel e celulose apresentam maior divulgação acerca dos itens classificados no nível 3. A regressão e as estatísticas descritivas foram calculadas a partir do auxílio do software Gretl.

4 Resultados e Análises

Da análise de 322 notas explicativas retiradas do site Bovespa resultaram que 161 (50%) divulgaram itens avaliados na hierarquia do valor justo somente nos Níveis 1 ou 2, 99 (31%) não cumpriram com o exigido pelo CPC 46, tanto por não evidenciar para cada classe de ativo ou passivo classificação em sua totalidade por níveis de mensuração, ou por não mencionar nada a respeito delas e por fim, 62 (19%) as que divulgaram itens classificados no nível mais discricionário, compondo a amostra deste estudo.

A Tabela 3 apresenta a divisão por setor e por segmento econômico, conforme classificação da BM&FBovespa, para as empresas que apresentaram itens classificados no nível 3 de hierarquia e que tiveram frequência maior que um. Empresas do segmento de energia elétrica tiveram uma participação relevante na amostra de 46,77% do total, uma explicação para este fenômeno pode ser a forte presença de regulação no setor e a necessidade de mensurar o ativo financeiro indenizável da concessão, sendo 27 empresas do segmento que entraram na amostra por conta deste item.

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A segunda maior participação foi do segmento de papel e celulose, plausível explicação é a necessidade de mensuração dos ativos biológicos por este setor, segundo Carvalho, Paulo, Sales e Ikuno (2013), 100% das empresas deste setor do Ibovespa reconheceram seus ativos biológicos e produtos agrícolas, sendo de acordo com Santos, Gomes, Brito, Gaio e Furlan (2015) a mensuração no nível 3 a mais utilizada quando se trata de ativos biológicos.

Tabela 3

Presença do Nível 3 por setor econômico

Setor Econômico Segmento Qtd. Empresas Utilidade Pública Energia Elétrica 29 Materiais Básicos Papel e Celulose 5

Bens Industriais Exploração de Rodovias 2 Consumo Cíclico Edificações 2

Consumo não

cíclico Açúcar e Álcool 2

Saúde Serv.Méd.Hospit.

Análises e Diagnósticos 2 Tecnologia da

Informação Programas e Serviços 2

Telecomunicações Telecomunicações 2

A respeito da métrica de evidenciação dado pelo check-list as empresas poderiam pontuar de 0 a 3, sendo 3 o considerado com maior nível de divulgação. 7 empresas (11,3%) tiveram como resultado 0, não cumprindo com nenhuma das exigências verificadas, 4 (6,4%) cumpriram com somente 1 requisito, 15 (24,2%) receberam 2 pontos e 36 (58,1%) seguiram os 3 requisitos. O item mais divulgado foi acerca da descrição do processo de avaliação, sendo 85,5% das empresas cumprindo com este requisito, em contrapartida o menos divulgado foi acerca da análise de sensibilidade sobre os dados não observáveis para a mensuração, sendo 61,3% das empresas que evidenciaram. A Figura 1 apresenta a distribuição de frequência da pontuação em cada item.

Figura 1. Distribuição de Frequência das variáveis do check-list  

A conformidade apenas parcial com o CPC 46 vai ao encontro da pesquisa realizada por Andruchechen e Alberton (2016), pode-se inferir que as empresas ainda estão desenvolvendo a adaptação sobre as mensurações de valor justo, sustentado por 31% da amostra desta pesquisa não divulgar as classificações entre níveis hierárquicos. Outro ponto pode ser que a utilização de informações no nível 3 representa uma piora na qualidade percebida para a avaliação de ativos e passivos por parte dos investidores, sendo preferência das empresas a não divulgação deste nível. Em comparação aos resultados da pesquisa realizada por Mendes e Freire (2014) com bancos comerciais e múltiplos entre 2008 e 2013, na América do Sul menos de 5% dos

9 11 24

53 51 38

P R O C E S A V G A N / P E R S E N S

0 1

(10)

10  ativos eram avaliados no nível 3, onde das 91 instituições estudadas apenas 5,5% divulgam informações da avaliação de ativos e passivos a valor justo.

Observando a Tabela 4 é possível notar que comparado a todas as empresas não financeiras analisadas do BM&FBovespa e somente aquelas com a presença da avaliação de itens no nível 3, o tamanho, o resultado e a participação do mercado são maiores, enquanto o endividamento é menor para aquelas que classificaram no nível mais subjetivo. Este resultado é coerente ao observar os valores da correlação de Pearson na Tabela 5, onde a participação de mercado e o tamanho são altamente correlacionados.

Tabela 4

Estatística descritiva das variáveis independentes

Média Desvio Padrão Nº de Obs.

Variável Nível 3 Geral Nível 3 Geral Nível 3 Geral TAM 15,695 14,521 1,6099 2,0682 62 322 RISCO 0,66679 0,922 0,79909 0,6888 30 214 RESULT 15,561 7,1534 2,0354 0,3958 61 322 ENDIV 35,643 48,59 18,914 203,7 62 322 PARTICIP 14,937 13,862 1,6589 2,1424 61 321

Tabela 5

Matriz de correlação entre as variáveis independentes

Variável RESULT PARTICIP TAM ENDIV SETOR

RESULT 1,0000

PARTICIP -0,1227 1,0000 TAM -0,1536 0,8633 1,0000

ENDIV -0,1640 0,0893 0,1960 1,0000 SETOR 0,1350 0,2955 0,1734 0,1320 1,0000 Nota. 5% valor crítico (bicaudal) = 0,2521 para n = 61

Além da observação descritiva que a divulgação de ativos e passivos no nível 3 pode estar positivamente relacionado com as variáveis indicadas, foi rodada uma regressão logística de acordo com a divulgação ou não de cada item requerido pelo CPC 46 e analisado por esta pesquisa. A Tabela 6 aponta que a hipótese pode ser aceita a um nível de significância de 1%

que quanto maior sua participação no mercado maior é sua divulgação sobre o processo de avaliação de ativos e passivos e com 5% de significância pode-se afirmar sobre a evidenciação de ganhos e perdas, o que é razoável visto que uma maior participação de mercado pode exercer influência pressionando por maior divulgação e também por a variável ser bastante correlacionada com o tamanho da empresa, ou seja, maior ativo total.

A hipótese do tamanho da empresa também foi confirmada, com significância a 5%, quando analisado a divulgação da análise de sensibilidade sobre as informações não observáveis. Este item foi o menos divulgado em relação aos outros 3 e quando se trata dele, a variável tamanho explicou melhor do que a de participação de mercado, por exemplo. Este resultado vai ao encontro dos estudos de Singhvi e Desai (1971) que já haviam relatado significância estatística e relação positiva entre nível de divulgação e tamanho da empresa.

A variável dummy, que são empresas pertencentes ao setor de papel e celulose ou energia elétrica, também pôde ser confirmada ao nível de significância de 10% ao se analisar a divulgação de perdas e ganhos. A presença de regulação tanto do setor elétrico, como a existência do CPC 29 para instruir sobre a avaliação da mensuração do valor justo para os ativos biológicos pode ter influenciado uma maior evidenciação por parte destas empresas.

A variável RESULT apresentou resultado e relevância estatística para os 3 itens

(11)

11  analisados do check-list com uma relação diferente daquela que estava sendo esperada por esta pesquisa. Foi confirmada a relação entre resultado e nível de divulgação, porém com relação negativa, ou seja, quanto menor o resultado divulgado (lucro ou prejuízo) maior é sua divulgação. Esta relação pode apontar que quanto mais baixo é o desempenho da empresa, mais ela tenta trazer de informação para atrair o investidor, essa relação pode ser melhor investigada ao analisar a Tabela 7.

Por fim, a variável que não apresentou nenhuma relação e podemos rejeitar a hipótese, de acordo com os dados desta pesquisa, foi sobre o endividamento. A presença de maiores níveis de endividamento parece não impulsionar a divulgação, este resultado pode ter relação com a estatística descritiva demonstrada em que empresas que evidenciaram o nível mais descritivo apresentam média de endividamento menor que as empresas no geral.

Tabela 6

Regressão Logística sobre itens do check-list

PROCES AV

Modelo Completo Modelo Enxuto Var. Ind. Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

TAM −0,1302 0,8159

PARTICIP 1,2551 0,0402** 1,1408 0,001***

RESULT −0,8525 0,0161** −0,9130 0,0028***

SETOR 0,4991 0,6433

ENDIV −0,0234 0,4002

Número de Casos "corretamente previstos" 90,20% 91,80%

GAN/PER

Modelo Completo Modelo Enxuto Variável Coeficiente

−0,3460 P-valor

0,4966 Coeficiente

P-valor TAM

PARTICIP 0,893 0,086* 0,5457 0,0287**

RESULT −0,3802 0,1208 −0,4470 0,0431**

SETOR 1,6559 0,0736* 1,6034 0,0781*

ENDIV −0,0218 0,3404

Número de Casos "corretamente previstos" 83,60% 80,30%

SENSIB

Modelo Completo Modelo Enxuto

Variável Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor TAM 0,3648 0,309 0,4795 0,0191**

PARTICIP 0,1775 0,6189

RESULT −0,4752 0,0263** −0,4473 0,0271**

SETOR −0,1337 0,8316

ENDIV −0,0092 0,5817

Número de Casos "corretamente previstos" 72,10% 68,90%

Nota.*Significância a 10% **Significância a 5% ***Significância a 1%

Tabela 7

MQO sobre contagem de palavras

TXTPROC

Modelo Completo Modelo Enxuto Var. Ind. Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

TAM 57,9856 0,3698 97,8461 1,94e-06***

PARTICIP 47,3678 0,4706

RESUL −83,8695 4,14e-05*** −81,9291 4,30e-05 ***

SETOR 253,144 0,0260** 272,506 0,0115**

ENDIV −1,11216 0,7052

(12)

12  TXTSENS

Modelo Completo Modelo Enxuto Variável Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

TAM 7,84311 0,7091

PARTICIP 7,80845 0,7149

RESULT −8,33549 0,1806

SETOR 36,1344 0,3214

ENDIV −0,454832 0,6354

Nota.*Significância a 10% **Significância a 5%

A fim de contornar a perda de informação que o uso de variáveis dicotômicas traz, foi utilizado como proxy de qualidade do disclosure a contagem de palavras sobre os textos divulgados. A Tabela 7 apresenta resultados em consonância com a regressão logística dos itens do check-list da Tabela 6, porém quando se trata do texto sobre o processo de avaliação dos ativos e passivos a relação entre tamanho da empresa, resultado e setor apresentaram ainda mais fortes. Feito outra regressão sem a inclusão da variável tamanho, a participação do mercado passa a explicar o modelo também e a um nível de 1% de significância.

A forte relação negativa entre resultado e palavras discorridas sobre o processo de avaliação enfatiza os resultados encontrados na Tabela 6, este fenômeno pode estar explicado que empresas com desempenho baixo tendem a ser mais prolíficas em seus relatórios, divulgaram mais informações para atrair os investidores.

A média de palavras discorridas sobre a análise de sensibilidade, 112,27 palavras, foi quase 4 vezes menor que o texto sobre processo de avaliação (415,35), a pouca narrativa encontrada sobre essa variável pode ter afetado a comprovação estatística das variáveis estudadas e esta baixa divulgação pode estar relacionada que por vezes, fazer uma análise de sensibilidade compromete a situação da empresa.

5 Conclusão

A contabilidade objetiva trazer informação para seus usuários, logo a pesquisa sobre a evidenciação passa ter um papel fundamental para a melhora da sua ciência. Além disso, a prática do valor justo tornou-se uma importante forma de avaliação para o Brasil desde a introdução das normas internacionais, porém sua principal crítica está concentrada na subjetividade que apresenta quando o item a ser mensurado não possui mercado ativo, quando as informações estão classificadas de acordo com a hierarquia do valor justo em seu nível 3.

Diante o exposto, esta pesquisa investigou os fatores explicativos da evidenciação sobre o nível 3, através de regressão entre dois indicadores criados para medir o nível de evidenciação e características econômicas das empresas que possuem ativos e passivos classificados nesta hierarquia. De 322 empresas não-financeiras retiradas da Bovespa, somente 19% apresentaram classificação no nível 3, a baixa presença de itens mensurados neste nível está em conformidade com os estudos de Mendes e Freire (2014), Silva e Souza (2017) e Andruchechen e Alberton (2016), destas a maior presença foram de empresas do segmento de energia elétrica e papel e celulose.

Em contrapartida, 31% não apresentaram classificação entre níveis de hierarquia, indicando que um alto percentual ainda não se adequou ao exigido pelo CPC 46, além disto, foi observado que o atendimento aos critérios exigidos pela norma para as empresas que possuem itens mensurados ao nível 3 ainda não são ideais, tendo empresas que não atenderam nenhum deles. A menor evidenciação foi a análise de sensibilidade sobre os dados não observáveis,

(13)

13  apresentando cerca de quatro vezes menos palavras do que o texto discorrido sobre o processo de avaliação.

Sobre as hipóteses levantadas, não foi rejeitada a proposição que a participação de mercado é positivamente relacionada com a divulgação sobre processo de avaliação e divulgação de perdas e ganhos, com uma significância de 1 e 5% respectivamente. A relação de tamanho da empresa e divulgação também foi verificada quando analisada a contagem de palavras sobre o processo de avaliação e a divulgação de análise de sensibilidade, com 1 e 5%

de significância, respectivamente. Portanto, as duas variáveis podem explicar o modelo, visto que são altamente correlacionadas.

A variável RESULT foi a verificada em mais modelos, em todos os itens testados no check-list e na descrição do processo de avaliação, tanto a 1% como 5% de significância. Porém, o resultado foi diferente do que estava sendo esperado por esta pesquisa, apresentando relação negativa com a divulgação, ou seja, empresas com piores resultados tendem a divulgar mais informação sobre o nível 3, este resultado não está em conformidade com o estudo de Mapurunga et al (2011) quanto testou essa relação especificamente para os instrumentos financeiros derivativos.

A variável do setor também foi constatada estatisticamente tanto pela divulgação de ganhos e perdas (10% de significância), quanto a descrição do processo de avaliação (5% de significância), ou seja, pertencer ao setor de energia elétrica ou papel e celulose aumenta a divulgação sobre o nível 3. A hipótese sobre o nível de endividamento foi rejeitada, não apresentando relação estatisticamente significante.

Esta pesquisa contribui ao apresentar um estudo de evidenciação específico para o nível 3 de hierarquia, apresentando novas relações com as características das empresas estudadas.

Para pesquisas futuras, recomenda-se um estudo com séries temporais comparando a divulgação sobre este nível em anos anteriores, além de apresentar possibilidade para novas variáveis explicativas serem estudadas.

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