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DANÇANDO NA PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

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Academic year: 2021

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DANÇANDO NA PRÁTICA DE ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Irma Charlene Flores Corrêa Nunes

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RESUMO: Dificilmente o ensino da Dança na escola é desenvolvido enquanto cultura de movimento nas aulas de Educação Física. Quando ocorre, muitas vezes não é considerada a realidade dos(as) educandos(as), tornando-os apenas reprodutores de uma prática não significativa.

Em vista disso, através da disciplina Prática de Ensino, do curso de licenciatura plena em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Maria, foi oportunizado o ensino da Dança na Educação Física para alunos(as) do ensino fundamental. Isto se justifica no sentido de contribuir em novas práticas na Educação Física Escolar, que respeitem a realidade e experiências dos(as) alunos(as), de acordo com os princípios pedagógicos da Dança enquanto educação, distanciando-se das visões mecanicistas do movimento. Os participantes foram alunos(as) do segundo ano do ensino fundamental, de uma Escola Pública de Santa Maria (RS). A metodologia e conteúdos da Dança utilizados foram baseados no Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP), que trata do ensino na concepção crítico-emancipatória. As avaliações das aulas, também de conformidade com o PPP, foram emancipatória e diagnóstica, servindo de reflexão para determinar caminhos, onde os(as) educandos(as) demonstraram o resultado de um processo de construção de conhecimento e não apenas a acumulação de dados.

PALAVRAS-CHAVE: Dança; Educação Física Escolar; Prática de Ensino.

A Dança como componente curricular da Educação Física Escolar é de grande benefício para a educação integral dos(as) educandos(as), pois os abrangem em todos os aspectos, físico, social, cognitivo e afetivo. Atualmente, apesar dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação básica (PCN) contemplar o ensino da Dança na escola, dificilmente ela é desenvolvida enquanto cultura de movimento nas aulas de Educação Física e quando ocorre, muitas vezes não é considerada a realidade dos(as) educandos(as), tornando-os(as) apenas reprodutores(as) de uma prática não significativa à eles(as).

Na busca de proporcionar o dançar enquanto conteúdo da Educação Física Escolar, este ensaio tratará de algumas das experiências obtidas nas aulas da Prática de Ensino que tiveram

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Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação - CE/UFSM, Especialista em Educação

Física Escolar e Licenciada em Educação Física - CEFD/UFSM. icharlenecorrea@hotmail.com

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dentre os conteúdos desenvolvidos, elementos da dança criativa, partindo-se do mundo vivido do educando, tendo como proposta a concepção crítico-emancipatória. A Prática de Ensino é uma das disciplinas do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Maria, a qual foi realizada nos anos iniciais do ensino fundamental, em uma Escola Pública da cidade de Santa Maria-RS.

As aulas ocorreram no turno da tarde, duas vezes por semana (quarenta e cinco minutos cada), com 23 alunos de uma turma de segundo ano. A escola tinha como espaço físico para as aulas uma quadra de esportes, uma área coberta, mas também foi utilizada a própria sala de aula da turma em função do espaço ser mais propício para determinadas atividades. Sobre os materiais, a escola possuía bolas, cones, colchonetes, aros, bastões, cordas, em condições relativamente precárias.

A disciplina de Prática de Ensino é um momento em que a teoria e prática finalmente se encontram com força. É neste momento que ocorre o enfrentamento da realidade escolar, e a oportunidade de romper com a idéia dicotômica de teoria e prática que permeia muitos cursos de formação. Segundo Teixeira (1994), o papel que a Prática de Ensino deve exercer é o de fornecer subsídios para a formação do futuro professor, tanto no aspecto teórico quanto prático, a fim de que ele possa desenvolver um trabalho docente competente.

Durante a Prática de Ensino foram realizados encontros semanais com os acadêmicos, a fim de oportunizar leituras e debates acerca das vivências e experiências que se estavam tendo e o universo da Educação Física Escolar. Numa dessas leituras, os acadêmicos da Prática de Ensino foram desafiados a elaborar suas aulas a partir de uma análise feita no Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola onde se realizou o estágio orientado. Neste caso, a proposta identificada trazia como abordagem a “concepção crítico-emancipatória” (Kunz, 2001). Entretanto, um ponto claramente evidenciado que dificultou bastante o desenvolvimento das aulas com os alunos, é que a proposta de trabalho da Escola estava apenas no papel, pois os alunos não estavam acostumados a terem aulas na perspectiva desta concepção de ensino.

Mas do que se trata a Concepção Crítico-emancipatória na Educação Física e como desenvolver a Dança neste sentido? De acordo com Kunz (2001), esta concepção surge como aporte teórico-metodológico que implica num direcionamento estruturado com orientações para a prática pedagógica, buscando alcançar, como objetivos primordiais do ensino e através das atividades com o movimento humano, o desenvolvimento de competências como autonomia, a competência social e a competência objetiva. Para isso, segundo o autor, devemos levar em consideração o contexto e vivência dos alunos para contribuirmos numa construção do conhecimento.

No caso da Dança, conforme Fiamoncini; Saraiva (2001) sua caracterização mais típica é a

constante busca de alegria e do prazer através de movimentos ritmados e compassados,

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desenvolvidos de forma criativa e expressiva. Segundo elas, “um sentido pedagógico da dança seria o desenvolvimento de um ser humano mais pelo estético do que pelo lógico, mais emocional- afetivo do que intelectual-racional” (p. 92).

Em específico, as autoras acima entendem a Dança enquanto caminho co-educativo, que para tornarmos possível, devemos desatrelá-la dos estereótipos tradicionais de movimento em relação ao masculino e feminino e buscar conteúdos e metodologias diferenciadas dos convencionais. Neste sentido foi utilizado o método criativo, onde a improvisação surge como possibilidade dos(as) educandos(as) se expressarem e adquirirem o entendimento de suas relações com a natureza e com o meio social, bem como a reelaboração dos seus valores e finalmente, a reelaboração das ações de movimentos significativas.

Os conteúdos desenvolvidos nas aulas enfocaram alguns dos elementos e movimentos básicos da Dança, assim como as habilidades físicas, a criatividade e a socialização, sem ater-se a um estilo de dança específico. Nos elementos básicos temos a relação música/ritmo/movimento e expressão corporal de acordo com Verderi (2000); relação espaço, tempo, conhecimento/consciência corporal, e nos movimentos básicos, temos conforme Laban (1990), transferências (por baixo, por cima, alta), saltos (fases do salto – impulsão – vôos – quedas), locomoções, giros (podem ser giros, semi-giros, giros inteiros), equilíbrios (sustentação de uma base menor) e demais variações. Todos eles adequados a descoberta realizada nas primeiras aulas acerca da cultura de movimento dos(as) educandos(as) e seu mundo vivido.

Isto se enquadra num dos focos de sistematização das diversificadas possibilidades para abordagem das culturas de movimento relativas à Dança no ensino escolar, citadas por Fiamoncini;

Saraiva (2001), que neste caso foram, “as técnicas corporais básicas e a criatividade, onde são abordadas as mais variadas experiências de movimento, principalmente a partir da temática social e do imaginário das pessoas, com vistas à elaboração de expressão próprias” (p.104).

A estratégia didática baseada no processo criativo e co-educativo e na concepção crítico- emancipatória tiveram os seguintes momentos: a experimentação/descoberta, que é determinada a partir de uma temática/conteúdo, onde o(a) educando(a) vivencia em movimentos um relacionamento com fatos que o estimulam (o próprio corpo, o colega, os objetos, o espaço, a música, etc.) num processo de percepção do mundo exterior para a conscientização do movimento;

a experimentação/invenção, que se efetiva na transformação e construção de novas técnicas de movimento, na apreensão dos conteúdos e ressignificação do movimento, e por fim a representação pedagógica do movimento em Dança.

A avaliação com base no PPP da escola foi emancipatória e diagnóstica, servindo de

reflexão para determinar caminhos, na qual se buscou que os alunos demonstrassem o resultado de

um processo de construção de conhecimento e não apenas a acumulação de dados. Portanto para

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isso, além da avaliação a partir da observação do aluno como um todo (capacidades motoras, a conduta, os conhecimentos), foi feita uma auto-avaliação por parte dos(as) educandos(as) sobre os trabalhos realizados por eles.

No entanto, na busca de uma aula na perspectiva crítico-emancipatória, aconteceram várias problemáticas que dificultaram as ações pedagógicas, dentre elas, a agressividade, questões de gênero, indisciplina, ou seja, todos são temas polêmicos diagnosticados. Outra situação foram as atitudes e valores demonstrados pelos(as) educandos(as) dentro de uma perspectiva de ensino tradicional, onde queriam apenas executar as atividades sem nada problematizar.

Na tentativa de sanar estas dificuldades, foi de extrema importância a reflexão sobre as aulas e as atitudes dos(as) educnados(as), para que à cada encontro, através do diálogo sobre as problemáticas ocorridas e novas iniciativas, fosse possível vencer barreiras que dificultavam o andamento das aulas e o aprendizado dos alunos. O professor reflexivo deve ser sensível a apreensão de possibilidades alternativas de ação; deve ter consciência de que ele também é passível de erros nas suas concepções mais profundas, uma vez que continuamente, está examinando os fundamentos subjacentes a estas concepções, para descobrir contradições, buscando uma síntese, isto é, o cíclico movimento ação-reflexão-ação (RIBAS; CARVALHO apud KRUG, 2001).

Através de trabalhos em grupos, com improvisações e espontaneidade, considerando-se o mundo vivido dos alunos, pude perceber a Dança enquanto processo educacional nas aulas de Educação Física contribuindo muito além da aquisição de habilidades físicas, também numa melhora no desenvolvimento social e emocional dos(as) alunos(as). À medida que transcorreram as aulas, eles(as) demonstravam mais segurança em expressar-se e relacionar-se com o seu corpo, e com os colegas, diminuindo também em alguns deles a agressividade e os problemas de gênero.

Entretanto, a maior dificuldade foi sobre o objetivo maior da concepção de ensino proposta: formar cidadãos críticos e emancipados. Apesar de a escola evidenciar no PPP este objetivo, ficou claro que as disciplinas curriculares não buscam enquadrar-se nesta perspectiva de ensino, e sim numa educação, conforme Freire (1996), na qual o professor limita-se a depositar em seus alunos os conhecimentos que possui sem desenvolver a capacidade de leitura crítica do mundo ao redor. A proposta realizada nas aulas de Educação Física pode ser um começo, mas ficará apenas no começo se não houver um comprometimento por parte de toda a comunidade escolar neste sentido.

Enquanto professora em constante formação, essa experiência foi extremamente significativa, pois pude vivenciar uma possibilidade para a Educação Física Escolar que trouxe um novo olhar sobre a importância de uma educação construída com os alunos, e não reprodutora.

Apesar do curto espaço de tempo, percebeu-se que esta iniciativa fez também uma diferença

positiva aos alunos. Para eles a Educação Física se resumia a jogar bola, desconhecendo o universo

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da cultura corporal, sua importância e possibilidades de aprendizado. Mas, através de uma metodologia diferenciada, abordando, entre outros conteúdos, a Dança, que é tão pouco oportunizada aos educandos, o entendimento deles acerca da Educação Física foi ampliado.

Portanto, uma mudança de compreensão, de significações e de hábitos no convívio escolar, demanda muito tempo e dedicação. Assumir uma nova postura educacional por parte tanto dos alunos quanto de nós professores é um processo de transformação demorado, mas se vencermos o comodismo e tivermos comprometimento com a prática educativa teremos uma escola melhor, uma sociedade melhor.

REFERÊNCIAS

FIAMONCINI, L.; SARAIVA, M. C. Dança na Escola: a criação e a co-educação em pauta. In:

KUNZ, E. Didática da Educação Física 1. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2001, p. 95-120.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KRUG, H. N. Formação de Professores Reflexivos: ensaios e experiências. Santa Maria: O Autor, 2001.

KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2001.

LABAN, R. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

TEIXEIRA, O. P. B. Didática e Prática de Ensino em Licenciatura: que conteúdo. In: VIII ENDIPE.

Anais - Volume I..., Florianópolis: UFSC/UCG, 1996, p. 35.

VERDERI, E. Dança na Escola. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.

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