39º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
26 a 30 de outubro de 2015, Caxambu, MG
GT 33: Sexualidade e gênero: sujeitos, práticas, regulações Coordenação: Júlio Assis Simões (USP) e María Elvira Díaz
Benítez (UFRJ)
Notas sobre práticas homoeróticas e experiências de
envelhecimento entre mulheres em Maceió (AL) e João Pessoa
(PB)
Jainara Gomes de Oliveira (UFSC)
Notas sobre práticas homoeróticas e experiências de envelhecimento entre mulheres em Maceió (AL) e João Pessoa (PB)
Jainara Gomes de Oliveira (UFSC)
1Resumo: Esta comunicação objetiva problematizar a relação entre experiências de envelhecimento e práticas homoeróticas entre mulheres, enquanto experiências individuais e coletivas, que se exprimem em uma multiplicidade discursiva. Para tanto, apresento as trajetórias individuais de Clara (negra, 52 anos) e Ana (negra, 51 anos), o foco de análise recai sobre as suas experiências individuais de envelhecimento como efeitos de atos de linguagem concebidos a partir de um campo relacional. A experiência geracional, deste modo, será analisada como um campo de possibilidades que permite atribuir sentidos ao lugar que a sexualidade possui na configuração das trajetórias destas mulheres e, o pertencimento geracional, por sua vez, será interpelado a partir de um 'dispositivo de idade' que produz um marcador etário.
Podese sugerir, assim, que Clara e Ana compartilham experiências básicas, experiências estas que são construídas a partir de uma gramática geracional particular. Gramática que produz, assim, um vocabulário singular que permite conferir inteligibilidade às interações sociais, no curso da vida, em uma sociabilidade dada.
Introdução
A produção acadêmica sobre práticas homoeróticas entre mulheres, no campo das ciências sociais brasileiras, tem adquirido relevante expressividade.
No entanto, ainda permanecem incipientes os estudos que versam sobre a relação entre práticas homoeróticas e experiências de envelhecimento entre mulheres (ALVES, 2009; 2010). Esta temática ainda desperta pouco interesse dos pesquisadores, principalmente se comparada aos estudos sobre envelhecimento e sua relação com a heterossexualidade feminina e a homossexualidade masculina (BARROS, 1999, 2006; MOTTA, 2014; PAIVA, 2009; MOTA, 2009, 2012; SANTOS, 2012; SANTOS & LAGO, 2013). Esta
1 Doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina [PPGAS/UFSC]; Pesquisadora do NIGS – Núcleo de
comunicação, nesse sentido, pretende contribuir para a constituição do emergente campo de pesquisa sobre as experiências de envelhecimento e práticas homoeróticas tendo como foco as mulheres.
Deste modo, a presente comunicação objetiva analisar, sob a ótica de um olhar etnográfico, a relação entre experiências de envelhecimento e práticas homoeróticas entre mulheres, enquanto experiências individuais e coletivas, que se exprimem em uma multiplicidade discursiva (TÓTORA, 2008, 2013). Podendo, assim, ser problematizadas como estilos de vida, formas de sociabilidade e visões de mundo que produzem um ethos e um modo de existência (VELHO, 2006). Para tanto, apresento as trajetórias individuais de Clara (negra, 52 anos) e Ana (negra, 51 anos), a entrevista com Clara foi realizada no verão de 2012 e a de Ana no verão de 2013, a primeira na cidade de Maceió, Alagoas , e, a segunda na cidade de João Pessoa, Paraíba .
2 3O foco de análise sobre as suas experiências individuais de envelhecimento como efeitos de atos de linguagem concebidos a partir de um campo relacional (DEBERT, 2004, 2006; DEBERT & SIMÕES, 2011). A experiência geracional, deste modo, será analisada como um campo de possibilidades que permite atribuir sentidos ao lugar que a sexualidade possui na configuração das trajetórias destas mulheres e, o pertencimento geracional, por sua vez, será interpelado a partir de um 'dispositivo de idade' que produz um marcador etário (POCAHY, 2011, 2012; SIMÕES, 2004a, 2004b, 2011a, 2011b, 2014).
Nos rastros das análises alvitradas por Koury (2014a), assim, procuro analisar o processo de construção simbólica do envelhecimento como forma de vida pessoal, ou seja, a partir dos ajustamentos pessoais e sociais de Clara e
2 A entrevista de Clara resulta da pesquisa realizada em Maceió, Alagoas, para a elaboração do meu Trabalho de Conclusão de Curso em Bacharelado em Ciências Sociais, realizado junto ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas, sob orientação da Profa. Dra.
Nádia Meinerz, em 2012, ver Oliveira (2012).
3 A entrevista de Ana resulta da minha pesquisa realizada em João Pessoa, Paraíba, para a elaboração da minha dissertação de mestrado em antropologia, realizada junto ao Programa de