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O direito à prioridade processual para os pacientes que sofrem de esclerose múltipla tcc arfguimarães

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Academic year: 2018

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FACULDADE DE DIREITO

ANA RENATA DE FREITAS GUIMARÃES

O DIREITO À PRIORIDADE PROCESSUAL PARA OS PACIENTES QUE SOFREM DE ESCLEROSE MÚLTPLA

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O DIREITO À PRIORIDADE PROCESSUAL PARA OS PACIENTES QUE SOFREM DE ESCLEROSE MÚLTIPLA

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo César Machado Cabral.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

G963d Guimarães, Ana Renata de Freitas.

O direito à prioridade processual para os pacientes que sofrem de esclerose múltipla / Ana Renata de Freitas Guimarães. – 2015.

53 f. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2015.

Área de Concentração: Direito Processual Civil. Orientação: Prof. Dr. Gustavo César Machado Cabral.

1. Esclerose múltipla - Brasil. 2. Processo civil - Brasil. 3. Direitos fundamentais - Brasil. I. Cabral, Gustavo César Machado (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

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O DIREITO À PRIORIDADE PROCESSUAL PARA OS PACIENTES QUE SOFREM DE ESCLEROSE MÚLTIPLA

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. Gustavo César Machado Cabral (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Mestrando Francisco Tarcísio Rocha Gomes Júnior

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Mestranda Vanessa Gomes Leite.

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Aos pacientes com Esclerose Múltipla e seus

familiares, em especial à Socorro Bessa.

Pela sua tolerância e fé em Deus diante das

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A Deus.

Aos meus pais, Aluízio e Nilda, e aos meus irmãos, Bruno e Aluízio Júnior, pela família maravilhosa e abençoada que nós temos.

Aos professores Gustavo Cabral e Renato Morais Filho por, mesmo inconscientemente, terem-me feito descobrir minha verdadeira vocação profissional.

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“É melhor lançar-se à luta em busca do triunfo, mesmo expondo-se ao insucesso, do que ficar na fila dos pobres de espírito, que nem gozam muito nem sofrem muito, por viverem nessa penumbra cinzenta de não conhecerem vitória e nem derrota.”

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O presente trabalho acadêmico tem por objetivo analisar a situação em que vivem os pacientes portadores de Esclerose Múltipla. Para isso, é necessário analisar a lei 12.008/09, que concedeu o benefício da prioridade na tramitação de processos. Para que se possa compreender a real gravidade da doença, esta será analisada minunciosamente, desde seu surgimento a nível celular, até os sintomas que ela causa e suas formas de tratamento existentes. Também serão mencionados os benefícios que os portadores dessa moléstia têm, tais como vantagens tributárias e previdenciárias.

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This present work has the objective of analyzing the living situation of patients with Multiple Sclerosis. To achieve this goal, is necessary to analyze the law 12.008/09, that conceded them the benefit of priority in the processing of cases. To fully comprehend the actual gravity of this disease, it will be thoroughly analyzed, since its appearance in the celular level, to the symptoms it causes and the forms of treatment available. Will also be mentioned the benefits that the patients have, such as tributary and social security privileges.

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1. INTRODUÇÃO... 12

2. DIREITO E CIDADANIA... 13

2.1 O Direito à Prioridade Processual no Brasil... 13

2.2 Os Direitos Fundamentais... 17

2.3 O Direito à Saúde. A situação atual da Saúde Pública brasileira... 18

2.4 A ideia de igualdade jurídica e o que legitima a prioridade processual... 19

3. ENTENDENDO A ESCLEROSE MÚLTIPLA... 21

3.1 A natureza celular da Esclerose Múltipla... 22

3.1.1 Células do tecido nervoso... 23

3.2 Relatos históricos relacionados à Esclerose Múltipla... 26

3.3 Principais fatores que, provavelmente, causam a Esclerose Múltipla... 28

3.4 Sintomas da Esclerose Múltipla... 28

3.5 Possibilidades de tratamento... 31

3.5.1 Tratamento com vitamina D: a esperança de uma vida sem dor para os portadores... 33

3.6 Outras pesquisas sobre tratamentos alternativos para Esclerose Múltipla... 36

3.6.1 Tratamento com células-tronco... 36

3.6.2 Tratamento com drogas à base de maconha medicinal... 37

4. O DIREITO E A ESCLEROSE MÚLTIPLA... 37

4.1 O Projeto de Lei nº 5.027, de 2013... 38

4.2 Isenção de Impostos para os portadores de Esclerose Múltipla... 40

4.2.1 Isenção de Imposto de Renda (IR) aos portadores de Esclerose Múltipla... 40

4.3 A tributação reduzida para aquisição de veículo automotor e a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) especial... 42

4.3.1 Carteira Nacional de Habilitação (CNH) especial... 42

4.3.2 Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)... 44

4.3.3 Isenção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)... 46

4.3.4 Isenção de Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA)... 47

4.3.5 Isenção de Imposto sobre Circulação de Mecadorias e Serviços (ICMS)... 47

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1 INTRODUÇÃO

A Esclerose Múltipla (EM) é uma espécie de doença autoimunitária que ataca a bainha de mielina (uma espécie de capa protetora) que reveste os neurônios localizados no sistema nervoso central (formado pelo encéfalo e pela medula espinhal). Essa doença é crônica e ainda não tem cura. Ela provoca uma série de deficiências: tonturas, dormências, parestesias (dificuldades na fala), dormências nos membros, entre outros sintomas. Os tratamentos convencionais são extremamente dolorosos e causam uma série de efeitos colaterais.

Como se pode ver, a moléstia é extremamente devastadora e, infelizmente, seus índices vem aumentando em todo o mundo. Vários pesquisadores têm descoberto novas formas de tratamento. Entretanto, ainda hoje, não é conhecida a verdadeira sua causa, muito menos um tratamento 100% (cem por cento) eficaz. Para agravar a situação, os remédios são extremamente caros.

A EM é uma das doenças graves que suscita o direito à prioridade na tramitação processual, garantindo, dessa forma, que pessoas tão debilitadas, física e emocionalmente, possam tem suas causas resolvidas mais rapidamente pela justiça. É a Lei nº 12.008/09 que garante esse beneficio, não apenas para os portadores de esclerose múltipla, mas também para os indivíduos que sofrem de outras enfermidades também consideradas graves.

A prioridade processual não é a única vantagem, se é que pode ser assim chamada, que os pacientes de EM têm. Eles também conseguiram uma série de benefícios tributários e previdenciários. Os pacientes, por exemplo, têm isenção de alguns impostos na aquisição de veículo automotor. Se os sintomas começarem a causar limitações permanentes, podem, obviamente, requisitar aposentadoria por invalidez. Além disso, eles também êm direito à quitação de financiamento de imóvel pelo Sistema Nacional de Habitação (SNH).

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2 DIREITO E CIDADANIA.

Para dar início à análise da situação de vida em que se encontram os pacientes portadores de esclerose múltipla, o ideal é começar com a análise de como o Direito vem se posicionando em relação a essa questão. Uma vez sendo a maior entidade responsável pelo “bom funcionamento” das relações humanas, o Direito deve estabelecer as regras para que isso ocorra. Para tanto, ele precisa dar mais atenção aos indivíduos que se encontram em situação de fragilidade, garantindo-lhes vantagens para que eles possam ter uma vida com dignidade.

2.1 O direito à prioridade processual no Brasil.

Para começar a análise do direto à prioridade processual, no Brasil, é bom ter, em mente, o que significa esse termo, morfologicamente falando. O substantivo feminino “prioridade” pode ter os seguintes significados: 1. Qualidade ou estado de primeiro; 2. Antecedência no tempo; 3. Precedência ou primazia no tempo ou no lugar; 4. Direito de falar primeiro ou de ser atendido em primeiro lugar. (MICHELIS, 2015).

Essa palavra tem origem greco-latina: a palavra grega “prin” e a latina “primus”, antigamente, serviam para designar “primeiro, à frente”. Prioridade é a termo contemporâneo derivado. A expressão latina “a priori”, largamente usada no mundo jurídico, também veio desses dois vocábulos (LISTA DE PALAVRAS, 2013).

Foi o senador César Borges (PR-BA) que elaborou o Projeto de Lei nº 12.008/2009 “que garante prioridade na tramitação de processos judiciais e administrativos aos portadores de doenças graves e aos idosos acima de 60 anos.”. (JORNAL GRANDE BAHIA, 2009)

No Brasil, antes do advento dessa lei, o Código de Processo Civil concedia o direito à prioridade processual se figurassem como parte, ou interessada, pessoa com idade superior a 65 (sessenta e cinco) anos. E, mesmo assim, com o óbito desse indivíduo, o benefício cessava. Era uma garantia fraca, uma vez que até os idosos só poderiam ter direito à esse benefício após os 65 (sessenta e cinco) anos. Deficientes físicos e mentais ficavam à mercê de um sistema judiciário que, ainda hoje, com todas as mudanças que já houve, é lento e demorado.

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nº 12.008/09, que amplia esse benefício. Agora, idosos com 60 (sessenta) anos ou mais poderão pleitear o direito à tramitação prioritária. Não somente anciãos, mas também pessoas portadoras de deficiência física ou mental e pacientes de doenças graves.

Com a lei, que modificou os artigos 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C, o CPC passou a ter as seguintes redações:

Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte, ou interessada, pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, terão prioridade de tramitação em todas as instâncias.

Art. 1.211-B. A pessoa interessada na obtenção do beneficio, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as providencias a serem cumpridas.

Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, essa não cessara com a morte do beneficiado estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, em união estável.

A lei 12.008/09 não alterou apenas esses dispositivos do CPC. O Estatuto do Idoso e a Lei nº 9.784/99 também sofreram mudanças.

Primeiramente, em relação ao Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), já havia sido estabelecida a prioridade na tramitação para pessoas com 60 (sessenta) anos ou mais, mesmo antes do advento da lei 12.008/09. Segundo o art. 71, do Estatuto do Idoso:

Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligencias judiciais em figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instancia. §1º. O interessado na obtenção da prioridade a cque alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o beneficio à autoridade judiciaria competente para decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se esta circunstancia em local visível nos atos do processo.

§2º. A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.

§3º A prioridade se estendera aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos serviços de Assitencia Judiciaria.

§4º. Para o atendimento priritario sera garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com a destinação a idoso em local visível e caracteres legíveis.

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Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como parte, ou interessada:

I- Pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; II-Pessoa portadora de deficiência física ou mental; III-VETADO;

IV-Pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropativa grave, hepatopatia grave, estágios avançados da doença de Paget (osteíte dorformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusões da medicina especializada mesmo que a doença tenha sido contraída após o inicio do processo.;

§1º. A pessoa interessada na obtenção do beneficio, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administrativa competente, que determinará as providencias a serem cumpridas;

§2º. Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação prioritária.

§3º. VETADO. §4º. VETADO.

O benefício foi estendido para pessoas deficientes, seja essa deficiência física ou mental. Além disso, os portadores de doenças graves também foram beneficiados. A lei, inclusive, não foi taxativa: se algum indivíduo sofrer de enfermidade não citada pelo artigo, e provando a gravidade da moléstia, também poderá se beneficiar da tramitação prioritária. Infelizmente, o número de doenças graves tem crescido gradativamente. A expectativa de vida, no Brasil, cresceu bastante, nos últimos tempos. Vive-se mais, mas a suscetibilidade a doenças também aumentou.

O novo CPC, sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, em março de 2015, trouxe uma série de alterações a fim de tornar os procedimentos judiciais mais céleres. É importante analisar se houve alguma mudança em relação ao direito à prioridade processual. Segundo Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (GEN Jurídico, 2015) , eles afirmam que “tal prioridade foi mantida pelo novo Código de Processo Civil com a seguinte redação”:

Art. 1048. Terão prioridade de tramitação em qualquer juízo ou tribunal os procedimentos judiciais:

I-Em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988; II-Regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990;

§1º. A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo a autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as providencias a serem cumpridas;

§2° Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação prioritária;

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devera ser imediatamente conferida.

Obviamente, esse dispositivo seria mantido pela nova redação do CPC. Pereira e Lazzari (CEN JURÍDICO, 2015) observam que “essa norma processual tem significativa importância para dar maior celeridade às ações previdenciárias”. Idosos e doentes graves estão em primeiro lugar quando se fala em ações contra a previdência social, principalmente no que se refere à aposentadoria por idade ou por invalidez e ao auxílio-doença.

Em relação às pessoas portadoras de doenças graves, o novo CPC atribuirá o direito à prioridade àquelas pessoas enfermas listadas pelo art. 6º, inciso IV, da Lei Nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988. Essa lei é a que altera a legislação do imposto de renda. De acordo com esse artigo:

Art. 6º, XIV. Os portadores de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos por moléstia profissional, tuberculose ativa, alteração mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, cardiopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusões da medicina especializada, mesmo que a doença tenho sido contraída depois da aposentadoria ou reforma.

A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, é a que define o Estatuto da Criança e do Adolescente. Fica uma certa incógnita se o procedimento prioritário se estenderá também para crianças e adolescentes. A princípio, tende-se a achar que não há necessidade. Crianças e adolescentes não tem por que ter urgência na conclusão de processo se comparados, por exemplo, a indivíduos que estão com câncer ou com esclerose múltipla.

Pode-se fazer a seguinte crítica em relação à Lei nº 12.008/09: de que adiante dar prioridade na tramitação aos idosos, deficientes e doentes graves se os demais atos judiciais continuarão a ser processados da mesma forma, no mesmo ritmo? Tirar um doente crônico do “fim da fila” e colocá-lo no começo não é a única medida que deveria ser feita. A justiça ainda continuará lenta para todos e ainda mais para aqueles que estão em uma situação de fragilidade e vulnerabilidade.

Segundo publicação feita pelo Correio Forense, extraída pelo JusBrasil:

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insatisfeitos com a lentidão de julgamentos, a principal queixa dos cidadãos em relação à Justica brasileira. A pesquisa não levou em conta os recursos judiciais.

(CORREIO FORENSE, 2009, apud JUSBRASIL, 2015)

Pode-se perceber que a prioridade processual, infelizmente, não passa de uma pequena regalia para pessoas que já passam por tantos problemas, acarretados pela idade avançada, pela deficiência ou por doenças terríveis. É preciso fazer muito mais por esses cidadãos, bem como para todos os outros que têm demandas no judiciário. A justiça brasileira tem uma note péssima no quesito satisfação. O principio da duração razoável do processo parece não existir nas leis brasileiras. Se existe, o cumprimento é nulo.

2.2 Os direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais estão garantidos, constitucionalmente, e se encontram no artigo 5º da Constituição Federal, de 1988 (CF/88). Eles asseguram o tratamento igualitário entre homens e mulheres, o direito de ir e vir, a liberdade de imprensa e de livre associação, entre muitos outros. São 73 incisos que comportam os direitos dos cidadãos. Esses direitos fundamentais foram conquistados a partir de diversas lutas e debates, lutas que ocorreram há muito tempo. Os direitos advindos desses movimentos foram positivados pela

Cf/88. O art. 5º, CF/88, se inicia da seguinte maneira:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, segurança e à propriedade, nos termos seguintes;

Como se pode perceber, a CF/88 determina que todos serão tratados de forma igualitário, sem qualquer distinção ou privilégio. Ainda sobre os direitos fundamentais, segundo Canotilho:

Direitos dos homens são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais sãos os direitos dos homens, jurídico-institucionalmente granatidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos do homem arrancariam de própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal; os direitos fundamentais seriam os diritos objectivamente vigentes numa ordem jrídica concreta (CANOTILHO, p. 391)

Para Paulo Bonavides:

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formais de caracterização. Pelo primeiro, podem ser designados direitos fundamentais todos os direitos ou garantias nomeados e especificados no instrumento constitucional. Pelo segundo, tão formal quanto o primeiro, os direitos fundamentais são aqueles direitos que receberam da Constituição um grau mais elevado de garantia ou de segurança. (BONAVIDES, 1997)

Direitos fundamentais e direitos do homem se confundem, mas, independente do nome que eles recebem, são as garantias que um ser humano tem de ter uma vida digna e respeitada pelos demais. Essa vida digna, pelo menos nos textos da lei, determina que essas pessoas precisam ter um local seguro para morar, devem ter um bom serviço publico de saúde à sua disposição, assim como escolas e assistência social e jurídica.

Essa pequena retrospectiva em relação aos direitos fundamentais veio a fim de demonstrar a sua ligação com o direito à saúde. Ter direito à saúde para garantir a vida, “bem” maior que qualquer pessoa pode ter.

2.3 O direito à saúde. A situação atual da saúde brasileira.

Para manter a vida, a saúde é indispensável. Por isso que a CF/88 determina que:

Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante politicas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Constitucionalmente falando, o artigo está perfeito, assegurando o direto à saúde para todos os cidadãos. Entretanto, na prática, não é o que se verifica. A situação nos hospitais públicos, em sua grande maioria, é caótica, um verdadeiro desrespeito à população.

Faltam médicos, enfermeiros, leitos, remédios e outros profissionais que devem compor o corpo de um hospital, como nutricionistas e fisioterapeutas. O serviço de saúde é precário em hospitais e postos de saúde de grandes cidades. No interior, nas zonas rurais, a situação é alarmante. O problema, muitas vezes, não é a falta, mas a completa inexistência até de hospitais e de postos de atendimento.

O que determina o art. 196 da CF/88 parece perfeito. Entretanto, há problemas na real efeitavação prática dessas medidas constitucionais. Muitos médicos evitam o setor público de saúde por se encontrarem quase que completamente desamparados pra realização normal e satisfatória de seus trabalhos.

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CF/88. Segundo o art. 37, II, CF/88:

Art. 37, II- A investidura em cargo ou emprego publico depende de aprovação previa em concurso publico de provas ou provas e títulos, de acordo com a natureza ou complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

Esses médicos não foram aprovados em concurso publico e, muito menos, tiveram seus diplomas revalidados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A revalidação de diplomas médicos é feita por determinação do Decreto nº 44.045/58. Para piorar, esses estrangeiros recebem muito menos do que um médico brasileiro (uma afronta à igualdade) e, do que recebem, parte precisa ser enviada ao país de onde vieram, segundo o Dr. João Gonçalves de Medeiros Filho (CRM-PB, 2015).

Como se pode perceber, o que falta para que a saúde pública brasileira funcione corretamente, atendendo com dignidade todos os cidadãos, é a real efetividade do que determina a CF/88.

2.4 A ideia de igualdade jurídica e o que legitima a prioridade processual.

ACF/88, determina que todos os cidadãos serão tratados igualmente, sem distinção de qualquer natureza. Homens e mulheres, brancos e negros, jovens e idosos têm direito ao mesmo tratamento perante a lei. É o princípio da isonomia, presente no art. 5º, CF/88:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

As pessoas são diferentes, mas têm os mesmos direitos apesar do que as distinguem. Entretanto, não há como estabelecer esse parâmetro de igualdade para 100% (cem por cento) dos seres. Não há como dar os mesmos direito a uma pessoa cega e a outra que não possui deficiência alguma. Aristóteles já dizia que se deve tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade. O que ele quis dizer com essa máxima é que, a partir do momento em que determinado individuo apresentar alguma característica que o torne diferente dos demais, ele terá direito, na verdade, a um tratamento desigual.

No entanto, é difícil se estabelecer como essa desigualdade será tratado pela lei. Segundo Hugo de Brito Machado:

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questão de saber se o legislador pode estabelecer hipóteses discriminatórias e qual o critério de descrime que pode validamente utilizar. Na verdade a lei sempre discrimina. Seu papel fundamental consiste principalmente na disciplina das desigualdades naturais ecistentes entre as pessoas. A lei, assim, forçosamente, discrimina. O importante, portanto, é saber como será validassa discriminação, quais os critérios admissíveis e quais os critérios que implicam lesão ao princípio da isonomia. A este propósito existem formulações doutrinarias interessantes, entre as quais se destaca aquela segundo a qual o critério de descrime deve ter um nexo plausível com a finalidade da norma. Assim, em um concurso para o cargo de Juiz, pode a norma exigir que os candidatos sejam bacharéis em Direito. (critério finalístico plausível, tendo-se em vista as funções do cargo). Não pode, todavia, exigir que os candidatos tenham determinada altura ou peso. Já em se tratando de uma seleção para competição esportiva, acontecerá precisamente o contrário. A exigência de altura, ou peso, pode ser um critério seletivo plausível, enquanto não o será a exigência do titulo de bacharel em Direito. (1992, p. 12)

Como se pode ver, segundo as próprias palavras do grande tributarista, para haver desigualdade, é imprescindível a existência de um critério plausível finalístico. Portanto, para conseguir o benefício da prioridade na tramitação, os critérios plausíveis finalísticos são, por exemplo, a idade avançada (a partir de sessenta anos) ou a existência comprovada de alguma deficiência.

Para Humberto Ávila:

É que as pessoas são iguais ou diferentes. Duas pessoas são iguais de acordo com o critério da idade (ambas têm 36 anos) ou são diferentes (uma tem 5 anos e outra tem 50 anos); duas pessoas são iguais de acordo com o critério do sexo (uma é do sexo feminino e a outra do sexo masculino); duas pessoas são iguais de acordo com o critério da riqueza patrimonial (ambas têm um patrimônio de 100 mil reais); ou são diferentes( uma tem um patrimônio de 10 mil e outra um patrimônio de 100 mil); dois contribuintes são iguais (ambos são contadores ou diferentes em relação à profissão (um é contador e o outro é publicitário), e assim por diante. Enfim, as pessoas são iguais ou são diferentes. O problema da igualdade no Direito, porém, não se esgota aí. Não importa apenas saber se as pessoas são ou não são iguais (igualdade descritiva). É preciso saber, também, se as pessoas devem ou não devem ser tratadas igualmente (igualdade prescritiva). Esses juízos comparativos estão evidentemente relacionados: para saber se as pessoas devem ser tratadas igualmente é preciso verificar, no plano dos fatos, se elas tem as propriedades selecionadas como relevantes pela norma; ás vezes, uma razão para tratar as pessoas é o prioprio fato de elas serem iguais, quando se pretende mantê-las iguais; outras vezes, uma razão para trata-las igualmente é o fato de elas serem diferentes, caso se queira separá-las. Mas embora relacionados, esses juízos devem ser discernidos. De fato, duas pessoas podem ser iguais ou diferentes segundo o critério da idade, mas deverão ser tratados de modo diferente para votar em alguma eleição, se uma tiver atingido a maioridade não alcançada pela outra; e deverão ser tratadas igualmente para pagar impostos, porque a concretização dessa finalidade é indiferente à idade.

(2008, p. 40-41):

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outros tipos de benefícios (previdenciários e tributários). Na verdade, para ir mais fundo nessa questão, seria um erro não conceder esses privilégios aos que se encontram em uma situação de fraqueza e debilidade.

Já há inúmeras ações na justiça com pedido de prioridade processual por conta de doença grave, idade superior a 60 (sessenta) anos ou deficiência. Pode-se citar, como exemplo, a seguinte ação no Tribunal Superior do Trabalho:

TRT-PEDIDO DE PRIORIDADE PROCESSUAL: PP 38447920135000000 3844 –

79.2013.5.000000 – Decisão Monocrática. Relatório: Trata-se de Pedido de Providência formulado pela Cheve Caminhões Ltda. (seq. 1, págs. 1-3, no qual postula a imediata inclusão do processo TST – RO – 52000 – 75.2007.5.12.2000 em pauta para julgamento. Argumenta que seu sócio majoritário, Sr. Andrey Leonardo Chechetto, é portador de doença degenerativa, qual seja, -esclerose múltipla-, e, por isso, faz jus à rápida tramitação e solução do feito.

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3 ENTENDENDO A ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM).

A esclerose múltipla é uma das doenças graves que suscita o direito à tramitação prioritária. Para que se tenha uma real percepção da gravidade dessa moléstia, é preciso analisar, em todos os sentidos, a situação na qual vive um portador de esclerose múltipla. Portanto, é preciso que se verifique a natureza celular da doença, como ela surge, como os sintomas se manifestam, quais as possibilidades de tratamento e cura e quais pesquisas médicas são feitas em relação ao problema.

Em um plano geral, segundo o neurologista Leandro Teles:

A esclerose múltipla é uma doença neurológica que acomete predominantemente jovens em idade produtiva. É uma das principais causas de incapacidade física nessa faixa etária. Causa alterações neurológicas conhecidas como surtos. O surto é um processo inflamatório que ocorre em qualquer ponto do cérebro, nervo óptico ou da medula. O paciente apresenta um sintoma neurológico agudo e deve ser prontamente tratado a fim de minimizar a probabilidade de sequelas. Neste primeiro parágrafo, já vai um conceito importante: a esclerose múltipla clássica (EM) não é uma doença degenerativa (como o Alzheimer ou a doença de Parkinson, por exemplo). Diferente disso, é uma doença inflamatória que deve ser tratada prontamente a fim de diminuir o acúmulo de sequelas. A somatória de sequelas pós-surtos é que propicia o aumento progressivo da incapacidade neurológica (e essa evolução é muito variável – caso a caso). No primeiro ano da doença, os surtos respondem melhor ao tratamento agudo, com a evolução da doença, os surtos podem ir tendo uma resposta menor. Geralmente, o paciente acaba, após muitos anos de seguimento, evoluindo com intensidade bem menor ou mesmo sem surtos agudos, no entanto pode piorar, lenta e progressivamente, do ponto de vista neurológico (chamamos essa fase de Secundariamente Progressiva). (LEANDRO TELES, 2015).

A análise detalhada a seguir ajudará a entender, minunciosamente, como essa terrível enfermidade age.

3.1 A natureza celular da Esclerose Múltipla.

O ponto de partida dessa análise é a célula nervosa. A esclerose múltipla é uma doença que atinge e sistema nervoso central. Esse sistema é responsável pela integração de todo o corpo. Respiração, batimentos cardíacos, secreção de hormônios, percepção sensorial, entre outras atividades, acontecem por que o sistema nervoso dá o comando para que tudo ocorra na hora e momento certos.

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comprometendo as atividades normais do encéfalo e da medula espinhal. Ele é responsável pelo processamento e integração de informações. Por sua vez, o sistema nervoso periférico se encarrega da condução de informações entre órgãos receptores de estímulos, o sistema nervoso central e os órgãos efetuadores (músculos, glândulas, etc.)

3.1.1 Células do tecido nervoso.

O tecido nervoso é composto por neurônios, que representam cerca de 10% das células que o constituem, e pelos gliócitos ou células gliais (anteriormente denominados neuroglia), que formam os outros 90% (AMABIS; MARTHO, 2004, p. 336).

Os neurônios são células especializadas na condução do impulso nervoso, que são alterações elétricas que se propagam pela membrana plasmática. O neurônio apresenta uma parte mais volumosa onde se localizam o núcleo e a maior parte das estruturas citoplasmáticas, o corpo celular, e prolongamentos citoplasmáticos finos que constituem as neurofibras ou fibras nervosas. Estas podem ser de dois tipos: dendritos e axônios. Enquanto os dendritos recebem os impulsos provenientes de outros neurônios, o axônio transmite os impulsos recebidos do corpo celular e dos dendritos aos outros neurônios e também aos músculos (LOPES, 2004, p. 337).

A maioria dos corpos celulares dos neurônios localiza-se no encéfalo e na medula espinhal. Os poucos corpos celulares de neuronios presentes fora do sistema nervoso central ficam agrupados em pontos específicos de certos, formando os gânglios nervosos. As neurofibras estão geralmente agrupadas em feixes que, no interior do sistema nervoso central, são chamados de tratos nervosos. Fora do encéfalo e da medula espinhal, os feixes de neurofibras constituem os nervos, que atingem todas as partes do corpo e são responsáveis pela sua comunicação com o sistema nervoso central (AMABIS; MARTHO, 2004, p.337)

No encéfalo, a parte mais externa é formada pelos corpos celulares, o que dá uma coloração acinzentada. Por sua vez, a parte mais interna é constituída pelas neurofibras revestidas de extratos mielínicos, o que confere uma coloração esbranquiçada. Na medula espinhal, as posições se invertem: a região interna é constituída pela “massa cinzenta”, enquanto a região mais externa é formada pela “substancia branca”.

(25)

células sensoriais. Por fim, os neurônios associativos localizam-se principalmente na medula espinhal e tem o papel de servir como ponte de comunicação entre os neuronios motores e os neurônios associativos. Para ilustrar o funcionamento desses três tipos de nervos, pode-se usar, como exemplo, uma queimadura. Ao sofrer uma queimadura, os neurônios sensitivos são sensibilizados imediatamente e levam esse estímulo aos neurônios motores (àqueles que estão no local da queimadura), fazendo com que a região que entrou em contato com o calor excessivo afaste-se. Na enfermidade conhecida como hanseníase, popularmente chamada de lepra ou doença de Lázaro, a bactéria causadora da doença se aloja em nervos sensitivos próximos a superfície do corpo, levando à perda da sensibilidade, por isso são frequentes as lesões na pele e nas extremidades afetadas. Uma pessoa com hanseníase não é capaz de sentir queimaduras ou cortes na sua pele, uma vez que os neurorios sensitivos são afetados. Como não há sensação, os neuronios motores não são estimulados a afastar a pele do objeto causador da lesão. Em outras palavras, o individuo se corta e se queima, mas não sente nada.

Como já fora mencionado, os gliócitos são as células em maior abundancia no sistema nervoso. Eles têm uma função assistencial em relação aos neurônios, desempenhando funções de envolvimento, proteção e nutrição. Podem se classificados em astrócitos, micróglias, oligodendrócitos e células de Schwann.

Astrócitos são os gliócitos de maior dimensão. São os responsáveis pela nutrição dos neurônios, bem como pela cicatrização de tecidos nervosos lesados. Se eventualmente ocorre a morte de neurônios, os espaços que eles ocupavam são preenchidos por um tecido de cicatrização resultante da multiplicação de astrócitos (AMABIS; MARTHO, 2004, p.339).

Micróglias são macrófagos especializados cuja função é fagocitar dendritos e restos celulares presentes no tecido nervoso. São células pequenas, com poucos prolongamentos, geralmente muito ramificadas. A forma fagocitária ativa da micróglia é encontrada no tecido nervoso após vários tipos de lesões como infartos e hemorragia.

Células de Schwann são gliócitos presentes no sistema nervoso periférico onde desempenham papel semelhante ao dos oligodendrócitos no sistema nervoso central. Seus prolongamentos enrolam-se sobre as neurofibras que constituem os nervos, formando ao redor delas estratos mielínicos protetores que auxiliam no funcionamento dos neurônios.

(26)

funções.

A bainha de mielina possui uma composição lipoproteica branca, com maior concentração liquida que membranas em geral; seus percentuais são de 75% de líquidos (cerebrosídeos, fosfolipídios, esfingomielina e colesterol) e 25% de proteínas. O maior conteúdo liquido confere à bainha um aspecto branco brilhante, em estado fresco, o que se remove parcialmente em preparados histológicos, tornando possível sua visualização com tetróxido ósmico (TRAGHETTA, 2014). As membranas dos extratos mielínicos apresentam alguns componentes específicos, como certos proteolipídios e a proteína básica da mielina, que participam da união entre as camadas de membrana enroladas, dando consistência ao envoltório. Este atua como um isolante e evita que o impulso se propague entre neurofibras adjacentes além de contribuir para aumentar a velocidade de propagação do impulso nervoso pelo neurônio.

A bainha de mielina tem o indispensável papel de fazer com que o neurônio funcione corretamente e em uma velocidade adequada para desempenhar as funções normais do corpo. Ao longo de seu comprimento, uma neurofibra mielinizada apresenta interrupções no extrato mielínico, os nós neurofibrosos ou nódulos de Ranvier, que correspondem aos pontos de separação entre células gliais vizinhas que formam o extrato mielínico (AMABIS; MARTHO, 2004, p. 340).

Nas neurofibras não mielinizadas, o impulso propaga-se continuamente ao longo da membrana do neurônio. Nas neurofibras mielinizadas, a condução do impulso é descontinua, isto é, ele “salta” de um nó neurofibroso para o seguinte e por isso sua propagação é muito mais rápida que nas neurofibras não mielinizadas. Nas neurofibras mielinizadas, a velocidade da propagação dos impulsos é muito maior devido à “economia no percurso” Não é necessário percorrer todas a neurofibra, uma vez que o impulso pode “pular” de um nó para o outro.

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para correr, seria impossível (AMABIS; MARTHO, 2004, p.340). Como se pode ver, a bainha de mielina acelera a transmissão dos impulsos, possibilitando atividades corriqueiras: correr, andar. falar, levantar um livro ou uma cadeira, entre outros.

É justamente a bainha de mielina, tão importante para uma vida normal de qualquer pessoa, que é a afetada na doença em análise. Na esclerose múltipla ocorre degeneração gradual do estrato mielínico, o que resulta na perda progressiva da coordenação nervosa. As causas da esclerose múltipla ainda não são conhecidas, mas acredita-se que seja uma doença autoimune, isto é, em que as defesas corporais se voltam contra o próprio organismo. Outros exemplos ilustrativos de doenças autoimunes são vitiligo, lúpus, artrite reumatoide, diabetes do tipo 1, entre outras.

3.2 Relatos históricos relacionados à Esclerose Múltipla.

A esclerose múltipla sempre esteve presente, mas os relatos históricos não são fartos e evidentes, uma vez que a própria medicina também passou por um processo de evolução ao longo dos anos. É certo que os relatos mais antigos dessa doença baseiam-se em suposições feitas em cima de registros deixados por médicos e, na grande maioria, pelos próprios pacientes.

Segundo o médico neurologista Carlos Augusto Ciarlini (2011, p. 22), a partir de pesquisas feitas sobre o assunto, afirma que um dos relatos mais antigos de que se tem notícia é o de Lidwina de Schiendam (1380-1433), posteriormente consagrada como Santa Liduína. Registros da época contam que, aos 15 (quinze) anos de idade, Liduína começou a sofrer de patologia neurológica desconhecida, causando-lhe perdas visuais e dificuldades motores, que vinham em um determinado momento e depois desapareciam (os conhecidos “surtos”). A enfermidade, inclusive, levou a Santa Liduína, quando jovem, a levar uma terrível queda durante uma patinação em um campo congelado. Especula-se que esse acidente tenha sido provocado por paresia (dormência) e ataxia dos membros inferiores, sintomas típicos de quem sofre de esclerose múltipla. Santa Liduína morreu, após 40 anos com a doença, tetraparética (perda parcial dos movimentos dos membros inferiores e/ou superiores) e quase cega.

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diplopia (visão dupla), paralisia parcial dos membros inferiores, alterações na sensibilidade, impotência e incontinência urinária. Augustus veio a óbito após 26 anos com a doença.

O neurologista que, efetivamente, deu a maior contribuição para as descobertas em relação à esclerose múltipla (CIARLINI, 2011) foi Jean-Martin Charcot (1825-1893). O médico norte-americano descreveu, pela primeira vez, detalhadamente, os sintomas da doença e como ela se manifesta. Sua monografia de faculdade foi a primeira que abordou o assunto. Charcot participou de inúmeros congressos e escreveu diversos artigos sobre o assunto. Ele analisou e acompanhou vários pacientes com esclerose, entre eles, sua empregada doméstica, que também padecia da moléstia.

Um dos principais méritos de Charcot é, sem dúvida, a descrição das fases de manifestação, estágios, da doença. A partir de seus estudos, Charcot viu que havia três fases na esclerose múltipla.

A primeira fase apresenta apenas algumas formas de manifestações da doença, como diplopia, tonturas, perda de equilíbrio e dormência dos membros (não necessariamente todos de uma vez). Esses “surtos” são seguidos do seu desaparecimento. É a fase mais branda da doença, a chamada fase recorrente-remitente (EM-RR). Essa fase, na maioria dos casos, dura vários anos.

A segunda fase é mais grave que a primeira. Há maior número de sintomas e manifestações, principalmente devido a vários anos com surtos e remissões da doença. É a fase de acúmulo de déficits e cerca de 50% dos pacientes que se encontram nesse segundo estágio já apresentam uma série de dificuldades, sendo a motora a mais acentuada.

A terceira fase consiste na progressiva piora, a chamada fase secundariamente progressiva (EM-SP). O enfermo possui uma série de dificuldades motoras, paralisias incapacitantes, descontrole esfincteriano, perdas visuais, disartria intensa (dificuldades na fala) e alterações cognitivas sérias (CIARLINI, 2011).

Outras personalidades, dessa vez brasileiras, que também tiveram suas vidas marcadas pela esclerose múltipla são o aviador Santos Dumont e a atriz Cláudia Rodrigues.

Alberto Santos Dumont (1873-1932), pioneiro brasileiro da aviação, talvez sofresse de esclerose múltipla, segundo relatos de biógrafos (NARDLOCH, 2009). Em 1910, aos 37 anos, apresentou quadros de tonturas e visão dupla; sua enfermidade teve curso recorrente, com tremores, depressão e dificuldade para andar.

(29)

seu famoso programa de humor, “Adiarista”.

3.3 Principais fatores que, possivelmente, causam a Esclerose Múltipla.

A hipótese de causa da escleroso múltipla mais aceita, hoje em dia, é a combinação de fatores genéticos de predisposição à doença combinada com fatores ambientais. Seria essa associação que, de uma forma ainda desconhecida pela medicina, provocaria o aparecimento dessa enfermidade autoimune.

Segundo essa hipótese, a predisposição genética juntamente ao fator ambiental manteria certas células T (células de defesa) em uma espécie de dormências. Entretanto, alguns fatores poderiam “despertar” essas células, as quais começariam a atacar os oligodendrócitos, bem como a bainha de mielina dos neurônios. Esses linfócitos Th-1 conseguem passar pela barreira hemato-encefálica e acabam reconhecendo a bainha de

mielina como se fossem antígenos, começando aí a desorganização do SNC (MADEIRA, et

al, 2000, p. 460-466).

Infelizmente, a esclerose múltipla e, principalmente, suas causas ainda continuam muitos obscuras. Não há dúvidas de que os fatores ambientais interferem ativamente. É a doença neurológica que mais acomete adultos jovens na Europa e na América do Norte. Países de altas latitudes têm maior número de doentes do que os de baixas latitudes. Algumas hipóteses levantadas acerca do surgimento dessa doença no mundo afirmam que ela teve início com os povos escandinavos e se espalhou com as invasões dos vikings. Coincidência ou não, a região escandinava apresenta uma das maiores taxas de pessoas afetadas pela esclerose múltipla.

Além disso, a incidência de esclerose múltipla entre mulheres é maior do que entre os homens, atingindo uma proporção de 2:1 (dois para um). No começo das investigações sobre a doença, calculava-se que essa frequência era de 1:1 (um para um). Entretanto, hoje se verifica que as mulheres estão mais suscetíveis.

O intervalo de idade mais provável de alguém desenvolver a esclerose múltipla se situa entre 15-50 (quinze e cinquenta) anos. Entretanto, é claro que há pessoas com 10 (dez) ou com 60 (sessenta) anos que também podem desenvolver a enfermidade.

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3.4 Sintomas da Esclerose Múltipla.

Segundo o chefe do Centro de tratamento de esclerose múltipla do Hospital Geral de Fortaleza (HGF, 2010), dr. Artur D’Almeida, a esclerose múltipla é hoje a segunda maior causa de sequelas neurológicas entre pessoas jovens, ficando atrás apenas dos traumas.

Estima-se que há cerca de 300 (trezentos) casos confirmados da doença no Ceará. No Brasil, são 50.000 (cinquenta mil) portadores. O número calculado, em todo o mundo, é de aproximadamente 2,3 (dois vírgula três) milhões de pessoas com esclerose múltipla. Um número preocupante: nos últimos cinco anos, o aumento foi de 10% (dez por cento).

Os sintomas da esclerose múltipla, em geral, começam muito sutilmente. Os principais sintomas, do início da doença, verificados na maioria dos portadores são:

• Formigamento, adormecimento ou fraqueza em algum (ns) do (s) membros (s);

• Visão embraçada, turva em algum ou nos dois olhos;

• Visão dupla;

• Alterações na marchar (“andar”);

• Alterações no equilíbrio (labirintite);

• Distúrbios na fala;

• Tonturas, vertugens;

• Fadiga excessiva, cansaço;

• Alterações nas sensações de calor/frio;

Muitos pacientes dizem que os sintomas começam de uma hora para outra: um pé começa a “arrastar”, a marcha (andar) começa a se alterar, cansaço excessivo, indisposição anormal e formigamento em algum dos membros. É claro que os sintomas e sequelas acumuladas em virtude de tantos surtos, após muitos anos com a esclerose múltipla, são gradativamente mais graves e permanentes.

(31)

(progressividade da moléstia). O estudo está representado pela tabela abaixo1:

SINTOMAS EM ALGUNS

MOMENTOS NO

CURSO DA DOENÇA (%).

NO INÍCIO

DA DOENÇA (%).

NA OCASIÃODA

ENTREVISTA DE

PREVALÊNCIA (EVOLUTIVOS)(%).

Fraqueza 89 22 80

Sintomas sensitivos

87 34 73

Ataxia (desordem cerebelar)

82 11 72

Sintomas vesicais

71 1 62

Fadiga 57 2 48

Câimbras e

espasmos

52 0,6 44

Diplopia (visão dupla)

51 8 26

Sintomas visuais 49 13 33

Sintomas intestinais

44 0 37

Disartria (desarticulação da fala)

37 0,6 25

Vestigem 36 4,3 19

Dor facial 35 2 14

Problemas de

memória

32 0,3 27

Cefaleia 30 2 17

Síndromes mentais

23 0,3 16

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Surdez 17 0,6 13

Paralisia facial 16 1 5

Diafargia

(dificuldades de deglutição)

13 0,3 10

Escaras de

decúbito

(feridas, úlceras de pressão)

12 0 7

Desmaios 11 0,6 4

Ageusia (falta de paladar)

6 0,3 2

O diagnóstico é feito através de analises clinicas, exame do liquido cefalorraquidiano, através da punção lombar, e monitoramento de exames como a ressonância magnética (RM).

Os neurologistas são os profissionais adequados para esse tipo de problema (D’ALMEIDA,

HGF, 2010.

Ocorre que uma das principais dificuldades para o diagnóstico da esclerose múltipla é o fato de os sintomas iniciais serem muito comuns a outros tipos de doenças: a visão turva pode ser associada à catarata ou glaucoma; a tontura, à labirintite; o cansaço e fadiga podem ser diagnosticados como a deficiência em alguma vitamina, entre outros exemplos. Uma vez que um médico não especializado para esse tipo de doença diagnostica algum sintoma de esclerose múltipla como sendo de outra enfermidade, o paciente pode demorar muito tempo para iniciar o tratamento adequado e continuar piorando gradativamente.

3.5 Possibilidades de tratamento.

(33)

série de desconfortos e dor aos pacientes, além de não terem muitas eficácias na grande maioria dos pacientes. Eles não impedem o surgimento de novos surtos e podem deixar uma série de sequelas no indivíduo. Muitos portadores de esclerose afirmam que preferem não interferir no curso natural da doença por não conseguirem suportar as dores das aplicações constantes.

Em um vídeo publicado na Internet, no canal YouTube2, foi divulgada uma série de depoimentos de pessoas que sofrem dessa doença. Uma dessas pessoas é a senhora Luciana Campos, de 44 anos. Ela fala que sofreu muito com as aplicações dos interferons, as dores eram quase insuportáveis. O relato dela foi o seguinte:

É uma coisa muito complicada, nenhuma família tá preparada pra ter uma pessoa com essa doença: crônica, progressiva e desconhecida ainda, né? Acho que, principalmente no Brasil, não se conhece muito sobre esclerose múltipla. Eu, particularmente, não suportava a dor das aplicações. Eu tinha que aplicar deitada, na cama, de noite, porque depois eu não conseguia me mexer mais. Eu aguentei esse tratamento durante 3 meses, aí eu abandonei totalmente. E falei que eu preferia a doença do que qualquer outro tratamento, porque eu não aguentava mais.

São exemplos de medicamentos usados para o combate aos surtos da esclerose múltipla:

• Fingolimod;

• Glateramer;

• Interferon Beta-1a;

• Interferon Beta-1b;

• Mitoxantrone;

• Natalizumab;

• Teriflunamida.

Além de todo o desconforto causado pela ação desses anti-inflamatórios, muitos pacientes ainda precisam se submeter a diversas internações para aplicação das drogas. No

2YouTube.Vitamina D Por uma outra terapia para a esclerose múltipla. 2012. Disponível em:

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Brasil, esses medicamentos são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tendo em vista os altos custos desse tratamento. Se for feito em clínicas particulares, os portadores gastariam, no mínimo, cerca de R$ 7.000,00 (sete mil reais).

3.5.1 Tratamento com vitamina D: a esperança de uma vida sem dor para os pacientes com

Esclerose Múltipla.

Como se pode ver, além de ser muito doloroso para os pacientes, o tratamento com interferons ainda representam um grande gasto para o governo. No entanto, várias pesquisas têm sido feitas por renomados neurologistas no sentido de melhorar a qualidade de vida de quem sofre com a esclerose múltipla. Um desses médicos, já famoso pelas conquistas que tem conseguido, é o dr. Cícero Galli Coimbra (anexo 8).

O dr. Cícero Coimbra é neurologista, formado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), professor desta instituição e dedicado aos seus pacientes e às pesquisas de tratamento de doenças autoimunitárias, em especial, a esclerose múltipla.

O dr. Coimbra, em suas pesquisas, verificou que o índice de incidência de doenças autoimunitárias era bem maior em regiões de altas latitudes, mais distantes da linha do equador, locais onde a incidência dos raios solares era bem menor do que em regiões mais próximas dessa linha imaginária que corta o planeta. Por conseguinte, constatou que, pelo fato de a exposição ao sol ser menor, as pessoas que moram nessas regiões tendem a ter uma certa deficiência de vitamina D. O dr. Coimbra acabou relacionando esses dois fatos: pacientes que sofrem desse tipo de doença têm uma certa deficiência de Vitamina D (ANEXO 9).

A vitamina D, ou o calcicoferol, é um hormônio. Ele é responsável pela homeostase (equilíbrio) da taxa de cálcio, formação e reabsorção óssea, através da interação que tem com as paratireoides, os rins e os intestinos. A principal forma de obtenção da vitamina D é a exposição à radiação solar. Ela também pode ser adquirida a partir da alimentação. Óleo de fígado de bacalhaus, leite, carne, peixe, manteiga, óleo de salmão e queijo também são fontes desse hormônio. Entretanto, a taxa de obtenção a partir da ingestão desses nutrientes é baixa: não chega a 20% do valor que é necessário para uma vida normal. A vitamina D desempenha papel muito importante no sistema imunológico: participa ativamente da regulação e da diferenciação de células como linfócitos e macrófagos (MARQUES, et al, 2010).

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vitamina D, em excesso, pode causar a calcificação dos rins, desencadeando outros distúrbios. O resultado de tudo isso foi quase que completamente positivo: 95% (noventa e cinco por cento) dos pacientes do dr. Coimbra apresentaram incríveis melhoras, com diminuição radical dos surtos, regressão de sequelas deixadas por surtos passados e até o completo desaparecimento de sintomas provocados por essa doença. Os outros 5% (cinco por cento), apesar de a recuperação não ter sido completa, também apresentaram significativas melhoras se comparadas à situação em que se encontravam antes do inicio da ingestão das superdoses de vitamina D.

A partir de então, o dr. Coimbra trata seus pacientes que sofrem de doenças autoimunitárias com essas altas doses e tem obtido resultados mais que satisfatórios. Entretanto, apesar de todas essas vitórias, ainda não há uma unanimidade entre os médicos em relação ao tratamento dessas doenças com vitamina D. A grande maioria ainda é resistente em relação a essas descobertas.

Para agravar essa situação, a maioria dos laboratórios tende a não financiar essas pesquisas com a vitamina D. O tratamento com essas doses é muito menor do que com os interferons. Enquanto estes custam entre R$ 7.000,00 – R$15.000,00, as vitaminas têm um custo entre R$50,00-R$ 80,00. Pode-se presumir, então, o porquê dessa falta de interesse.

A verdade é que muitos resultados bons têm sido alcançados graças às pesquisas do dr. Coimbra. Para ter uma maior chance de remissão total de doenças autoimunitárias, é imprecindível que o tratamento comece o quanto antes.

3.6 Outros pesquisas sobre tratamentos alternativos para a Esclerose Múltipla.

O tratamento com o uso de vitamina D não foi o único desenvolvido até o presente momento. Outros também têm ganhado destaque na mídia e entre os profissionais da saúde. Dois que mais se destacam são os tratamentos que utilizam células-tronco e o que prescreve certas drogas desenvolvidas a partir de compostos de maconha medicinal. Apesar de não haver tantos resultados positivos. Como aqueles conseguidos a partir do uso de altas dose de vitamina D, de uma forma ou de outra, esses protocolos inéditos também melhoraram a situação de vida desses pacientes.

3.6.1 Tratamento com células-tronco.

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desenvolvidos. Um deles é o que utiliza células tronco. Pesquisadores do Centro de Medicina Regenerativa do Instituto Scripps Research, em La Jolla, Califórnia, trataram camundongos que possuíam dificuldades motoras com a aplicação de células-tronco.

Esses camundongos são geneticamente modificados e apresentavam os mesmo sintomas da esclerose múltipla. Em algumas semanas, os roedores já estavam “aleijados” e tinham dificuldades para comer e beber. Estavam tão sensíveis que só conseguiam fazer isso com a ajuda dos cientistas.

Após o uso de células-tronco humanas nos roedores, os resultados foram surpreendentes. Em duas semanas, esses pequenos animais não apresentavam mais dificuldades de locomoção e, em cerca de 6 (seis) meses após, eles não tinham uma sequela sequer da esclerose múltipla.

Esse resultado ajudará a desenvolver outra droga que barre os efeitos da esclerose múltipla. Segundo o professor Tom Lane, da Universidade de Utah, EUA: “em vez de introduzir as células-tronco em pacientes, o que poderia ser um desafio do ponto de vista médico, podemos desenvolver uma droga que facilitaria a terapia” (O Globo, 2014).

Como se pode ver, é uma conquista e tanto, mas, infelizmente, ainda está em uma fase inicial e ainda não há como ser usada em seres humanos. Segundo Sorrel Bickeley, membro da Sociedade Americana de Esclerose Múltipla:

É interessante e está em fase inicial, o que pode dar novas ideias para outras pesquisas sobre terapias voltadas para a esclerose múltpla- avaliou.- Não estams planejando aplicar este experimento em seres humanos, mas trata-se de um caminho útil a ser explorado pelos cientista. Estamos ansiosos para saber como essa área de pesquisa pode ser desenvolvida (O Globo, 2014).

O Brasil também tem conquistas em relação ao uso de células-tronco no combate contra a esclerose múltipla. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) também têm realizado conquistas nesse sentido. Já existe, inclusive, um protocolo desenvolvido para esse tipo de tratamento. São implantadas células-tronco retiradas da medula do próprio paciente a fim de “reorganizar” o sistema imunológico do paciente.

Ressalte-se que esse tratamento, assim como ocorre com a vitamina D, não serve apenas para os pacientes que têm esclerose múltipla, mas também para os que desenvolvem outros tipos de doenças autoimunitárias, como o lúpus eritematoso e artrite reumatoide.

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Outro tipo de tratamento alternativo para a esclerose múltipla é o que utiliza compostos da maconha para fabricação de drogas que aliviam os sintomas. Pesquisas já realizadas indicaram que essas drogas produzidas com maconha aliviaram os sintomas da esclerose em muitos pacientes. Entretanto, ainda não foi possível comprovar cientificamente como os compostos existentes na Cannabis foram capazes de surtir esses efeitos. O certo é

que sintomas como dores e rigidez musculares, espasmos e qualidade do sono melhoraram em vários pacientes que tomaram esse tipo de pílula.

Em 2014, o governo francês autorizou a produção e comercialização de um medicamente, o sativex, na forma de spray, feito à base de maconha, e que alivia os sintomas da esclerose múltipla. Essa droga é liberada para as pessoas em que os tratamentos convencionais não surtiram nenhum efeito.

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4 O DIREITO E A ESCLEROSE MÚLTIPLA.

A partir da análise detalhada sobre a esclerose múltipla, pode-se imaginar a situação penosa em que vive um paciente. A rotina de vida da pessoa muda, muitas vezes totalmente, de uma hora para outra. Os períodos de surtos demandam inúmeros cuidados e esses aumentam ainda mais quando alguma sequela fica permanente.

Para amparo dessas pessoas vitimadas pela esclerose múltipla, o Direito garantiu, com a Lei nº 12.008, de 29 de julho de 2009, a prioridade processual para essas pessoas. Essa lei alterou os artigos 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C do CPC assim como o artigo 69-A à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Esse artigo regula os processos administrativos em que figuram como parte indivíduos considerados vulneráveis em virtude da doença de que padecem (entre elas os portadores de esclerose múltipla).

Entretanto, esse não é a única vantagem para os portadores dessa enfermidade. Além dela, são também assegurados benefícios:

• Benefícios previdenciários: o direito à aquisição da aposentadoria por invalidez;

• Isenção do imposto de renda nos proventos de aposentadoria;

• Isenção de imposto na aquisição de veiculo automotor;

• Carteira Nacional de Habilitação com regime diferenciado;

• Saque do FGTS, PIS, PASEP;

• Quitação do financiamento da casa própria adquirido adquirido através do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

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4.1 O Projeto de Lei nº 5.027, de 2013: prioridade no atendimento para pessoas com Esclerose Múltipla no Sistema Único de Saúde (SUS).

Como se pode ver, só a prioridade processual para os portadores de esclerose múltipla não é suficiente. Com o Sistema Único de Saúde lotado, na quase totalidade dos hospitais públicos brasileiros, conseguir consultas com especialistas e realizar as pulsoterapias (introdução intravenosa de interferons e de corticoides) para combater os surtos se tornam difíceis, para não dizer quase impossíveis. Muitas cidades, principalmente aquelas localizadas no interior, não têm estrutura para tratar esses pacientes. Enquanto isso, os acometidos pela enfermidade pioram, uma vez que a esclerose múltipla também se traduz em uma luta contra o relógio: quanto maior a demora no tratamento dos surtos e sintomas, maior a probabilidade de esses indivíduos ficarem paraplégicos, cegos e surdos, completamente incapacitados.

Para combater esse problema e resguardar ainda mais esses pacientes, o ex-deputado federal Marçal Gonçalves Leite Filho (PMDB) elaborou um projeto de lei, a lei 5.027 de 2013, quem tem por objetivo dar prioridade, no SUS, ao atendimento de pessoas que tem esclerose múltipla.

Segundo palavras do próprio Marçal Filho, quando perguntado sobre o assunto na Câmara dos Deputados:

A esclerose múltipla precisa de atendimento prioritário por gerar incapacidade progressiva e exigir uma série de cuidados que precisam de diagnósticos e terapias em tempo oportuno. As providências da proposta trazem menores custos sociais e uma melhor integração do paciente com a sociedade, com diminuição nos raumas psicológicos e psicossomáticos. (MARÇAL FILHO, 2013)

O projeto de lei atentou para o fato de esses pacientes não precisarem apenas de exames com neurologistas para administração das pulsoterapias (administração endovenosa de interferon), mas também de uma série de outras especialidades. Segundo publicação feia na Gazeta Digital, Marçal Filho afirma que:

O projeto de lei lista ações de saúde para minimizar danos e incapacidade para pessoas com esclerose múltipla. Entre elas está o atendimento e acompanhamento por neurologistas e atendimento prioritário em áreas de apoio como fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional. (MARÇAL FILHO, 2013).

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Pessoa com Deficiência. Segundo um jornal da cidade de Dourados (MS):

O projeto de lei Nº 7.699/2006 prevê medidas de inclusão social para esses cidadãos (deficientes). Na peça legislativa, encontram-se apensados alguns projetos de autoria do deputado federal Marçal Filho (PMDB/MS) que, nessa última sexta-feira

(29/09/13), também participou da audiência pública ‘Plano Nacional de Educação e Inclusão com responsabilidade’ na Câmara Municipal de Dourados, onde falou sobre os trabalhos das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais de Dourados, Sociedade Pestalozzi, Associação dos Amigos do Autista e Instituto Weimar Torres. [...] Marçal Filho também é o autor de vários projetos que tramitam na Câmara dos Deputados e que beneficiam as pessoas com deficiência ou portadoras de doenças que levam a algum tipo de dela. É o caso do Projeto de Lei nº 802/2011 que promove a isenção do Imposto sob Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto de Importação-II, na aquisição de equipamentos ortopédicos e equipamentos para pessoas com deficiência física, visual ,mental severa ou profunda, autistas ou seus representantes legais. (>>>) O último Projeto de Lei apresentado pelo Parlamentar é o PL nº 5.027/13 e dispõe sobre a ciração do Programa Nacional de Atendimento Diferenciado às Pessoas com Esclerose Múltipla, doença que leva a vários tipos de deficiência. (DOURADOS NEWS, 2013)

Resta esperar que o projeto de lei nº 5.027/13 seja aprovado para que as pessoas com esclerose múltipla tenham mais esperanças de uma vida normal dentro dos limites possíveis.

4.2 Isenção de Impostos aos portadores de Esclerose Múltipla.

Os portadores de esclerose múltipla possuem uma série de isenções em relação aos impostos cobrados, quais sejam: isenção no imposto de renda nos proventos da aposentadoria; isenção de impostos na aquisição de veículo automotores (IOF, IPI, IPVA e ICMS).

Entretanto, para entender esse benefícios tributários que essas pessoas têm, é preciso ter em mente três conceitos fundamentais: lançamento tributário, base de cálculo e alíquota.

Sobre o fato gerador, segundo Luciano Amaro, professor da Faculdade Direito da Mackenzie:

O fato gerador do tributo é uma situação material descrita pelo legislador: adquirir renda, prestar serviços, importar mercadorias estrangeiras, etc. Por isso, diz-se que adquirir renda é o fato gerador do imposto de renda (locução elíptica para expressar o fato gerador da obrigação de pagar imposto de renda (2006, p. 263).

(41)

Em relação à base de cálculo, essa se traduz como “algo que dimensiona a materialidade da hipótese de incidência”(JusBrasil, 2015). Por exemplo, em uma situação fictícia, dizer que a base de cálculo de um determinado imposto corresponde a 5% (cinco por cento) do seu valor de mercado é informar a base de cálculo de incidência desse imposto.

A alíquota, por sua vez, corresponde ao “percentual que será aplicado sobre a base de

cálculo para apurar o valor de determinado tribulo” (GLOSSÁRIO DE TERMOS FISCAIS,

2015). A alíquota é informada através de porcentagens.

4.2.1 Isenção do Imposto de Renda (IR) nos proventos da aposentadoria.

O imposto de renda tme previsão legal tanto na Constituição Federal de 1988 (CF/88) quanto no Código Tributário Nacional (CTN). Segundo o art. 153, I, CF/88: “art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:III- Renda e proventos de qualquer natureza;

O CTN, em seu art. 29, dispõe que:

Art. 43. O imposto de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica:

I- de renda, assim entendido o produto do capial, do trabalho ou da combinação de ambos;

II- de produtos de qualquer naureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.

§1º. A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção.

§2º. Na hipótese de receita ou de rendimentos oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo.

O imposto de renda, de natureza fiscal, é um dos que mais arrecada fundos para a União. A região sudeste é a que mais arrecada. Como se pode ver, a partir da leitura desses dois dispositivos legais, ele é calculado em relação a todos os proventos que qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, venha a receber. Portanto, salário, aposento, aluguel, bônus salarial, enfim, tudo é contabilizado para cálculo desse imposto.

Referências

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