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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Medicina Departamento de Medicina Especialização em Saúde Pública. Carine Reis Peixoto

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Academic year: 2021

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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Faculdade de Medicina Departamento de Medicina Especialização em Saúde Pública

Carine Reis Peixoto

IMPACTOS DA COVID-19 NA SAÚDE DOS TRABALHADORES DA SAÚDE:

UM ESTUDO DE REVISÃO NARRATIVA

Porto Alegre 2021

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2 CARINE REIS PEIXOTO

Impactos da Covid-19 na saúde dos trabalhadores da saúde: um estudo de revisão narrativa

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do Certificado de Especialização em Saúde Pública.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Antônio Barros Oliveira

Porto Alegre

2021

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CIP - Catalogação na Publicação

Peixoto, Carine Reis

Impactos da Covid-19 na saúde dos trabalhadores da saúde: um estudo de revisão narrativa / Carine Reis Peixoto. -- 2021.

39 f.

Orientador: Paulo Antônio Barros Oliveira.

Trabalho de conclusão de curso (Especialização) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Medicina, Especialização em Saúde Pública, Porto Alegre, BR-RS, 2021.

1. Trabalhador da Saúde. 2. Covid-19. 3. Trabalho.

4. Saúde do Trabalhador. 5. Saúde Mental e Trabalho.

I. Oliveira, Paulo Antônio Barros, orient. II.

Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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3 RESUMO

Este estudo versa a respeito da saúde dos trabalhadores da saúde, diante do contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil, ao mesmo tempo, que também descreve as condições de trabalho para estes profissionais. Os trabalhadores da saúde enfrentam um contexto de trabalho atravessado por diversas imprevisibilidades que se associam a insegurança laboral e aos riscos ocupacionais. O estudo teve como objetivo identificar os possíveis impactos da Covid-19 na saúde dos trabalhadores da saúde no processo de precarização do trabalho. O resultado, deste trabalho, originou um artigo de revisão narrativa de literatura que adotou a estratégia de associar artigos e materiais de livre acesso.

Os artigos foram selecionados através das bases de dados: SCIELO, Biblioteca Virtual em Saúde e PubMed, nos últimos dois anos. Também foram utilizados materiais de livre acesso, por meio, de blogs e sites. A seleção dos materiais ocorreu entre o período de janeiro a julho de 2021, totalizando em 41 produções que foram lidas na íntegra, a respeito da saúde do trabalhador, precarização do trabalho e a Covid-19. Tais resultados evidenciaram o processo de adoecimento para os trabalhadores da saúde, no que se refere ao esgotamento emocional e físico, depressão, ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático, transtorno obsessivo compulsivo e distúrbios do sono. Ademais, a pesquisa evidenciou o sofrimento no trabalho, diante das más condições de trabalho, a partir da escassez dos equipamentos de proteção individual, ausência de treinamento e recursos humanos. Isto é, o conjunto dessas características laborais associam- se ao processo da precarização na saúde pública. Por fim, os achados reafirmam que os trabalhadores da saúde estão vivenciando um cenário extenuante, acompanhado de péssimas condições de trabalho e com diversos riscos ocupacionais.

Palavra-chave: Trabalhador da Saúde; Covid-19; Trabalho; Saúde do Trabalhador; Saúde Mental e Trabalho.

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4 ABSTRACT

This study deals with the health of health workers, in the context of the Covid-19 pandemic in Brazil, at the same time, which also describes the working conditions for these professionals. Health workers face a work context crossed by several unpredictability that are associated with job insecurity and occupational risks. The study aimed to identify the possible impacts of Covid-19 on the health of health workers in the process of precarious work. The result of this study originated a narrative literature review article that adopted the strategy of associating articles and freely accessible materials. The articles were selected through the following databases: SCIELO, Virtual Health Library and PubMed, in the last two years.

Free access materials were also used, through blogs and websites. Data selection took place from January to July 2021, totaling 41 materials that were read in full, regarding worker health, precariousness of work and Covid-19. These results evidenced the illness process for health workers, regarding emotional and physical exhaustion, depression, anxiety, post-traumatic stress disorder, obsessive-compulsive disorder and sleep disorders. Furthermore, the research evidenced the suffering at work, given the poor working conditions, from the scarcity of personal protective equipment, lack of training and human resources.

That is, the set of these labor characteristics are associated with the process of precariousness in public health. Finally, the findings reaffirm that health workers are experiencing an exhausting scenario, accompanied by poor working conditions and with various occupational risks.

Keywords: Health Personnel; Covid-19; Work; Occupational Health; Mental Health and Work.

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5 LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxograma das etapas do processo de seleção dos documentos...37

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6 LISTA DE TABELAS

1 Tabela - Caracterização dos periódicos científicos...34 2 Tabela - Caracterização dos materiais de livre acesso...36

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7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGAS

AMB Associação Médica Brasileira BVS Biblioteca Virtual em Saúde COFEN Conselho Federal de Enfermagem CFM Conselho Federal de Medicina EPIs Equipamento de Proteção Individual FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

LER/DORT Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

OIT Organização Internacional do Trabalho TEPT Transtorno de Estresse Pós-Traumático TOC Transtorno Obsessivo Compulsivo SCIELO Scientific Electronic Library Online SUS Sistema Unico de Saúde

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8 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 OBJETIVOS ... 12

2.1 Objetivo Geral ... 12

2.2 Objetivos Específicos ... 12

3 REVISÃO DE LITERATURA ... 13

3.1 Trabalho e Saúde ... 13

4 REFERÊNCIAS DA REVISÃO DE LITERATURA...16

5 ARTIGO...19

5.1 A Covid-19 e os impactos na saúde dos trabalhadores da saúde: um estudo de revisão narrativa...19

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...38

(10)

9 1. INTRODUÇÃO

O trabalho, como papel notório na vida das pessoas, assume um lugar de referência na subjetividade e nas relações humanas. Tendo em vista isso, considera-se que a fragilização das relações no trabalho, acompanhada da pressão e busca por resultados, têm suscitado repercussões na saúde dos trabalhadores. Nesta perspectiva, pretende-se compreender as condições de trabalho para os trabalhadores da saúde, no contexto da pandemia da Covid-19, diante dos possíveis impactos na saúde do trabalhador e nos processos da precarização do trabalho.

É importante conceber que, há uma tendência, no mundo do trabalho, pautada na perspectiva da “gestão eficiente”, isto é, na lógica da superprodução e no desempenho por excelência (GAULEJAC, 2007). Neste contexto, os modelos de gestão gerencialista têm influenciado e avançado em diferentes setores e organizações do trabalho. Tal como no âmbito da saúde, no qual vêm ocorrendo diferentes formas de instabilidade, insegurança e a precarização no trabalho. Sendo que isto, reflete na atuação dos trabalhadores da saúde, por meio, de acúmulo de funções, insegurança e exposição a riscos ocupacionais, entre outros. Além disso, são tempos de contrato de trabalho flexíveis e intermitentes, impulsionados pelas diversas formas e precárias condições de trabalho e a terceirização.

De acordo com Franco e Druck (2009), a terceirização está como fenômeno central nos processos da precarização do trabalho no Brasil, ao mesmo tempo, compreende e se instaura como fenômeno onipresente em todos os setores do trabalho. Deste modo, é uma forma de gestão, organização e controle que isola e, ao mesmo tempo, é um modelo de contrato flexível e sem proteção trabalhista (ANTUNES, 2018). Tal modo que as contratações são precárias, sem proteção social e salários mais baixos. Isto é, os trabalhadores terceirizados são os que mais sofrem acidentes no trabalho devido às condições precárias para a realização da atividade laboral (MUNIZ; TEIXEIRA e SILVA, 2020).

Quanto a precarização do trabalho, consequentemente, tem sido compreendida como um dos efeitos mais visíveis da flexibilização no mundo do

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10 trabalho, que propaga o crescimento de formas de emprego de modo flexível (e intermitentes), além das diversas formas de contrato e ofertas de emprego (ARAÚJO e MORAIS, 2017). Para Antunes (2008), a precarização do trabalho tem modelo estrutural, baseada na reestruturação produtiva, uma vez que as empresas visam aumentar seus lucros, a partir da diminuição dos encargos trabalhistas, condições precárias no posto de trabalho e “mão-de-obra” barata.

Este modelo de organização do trabalho tem buscado uma maior produtividade a qualquer custo, visto que tem levado à intensificação da jornada, ao assédio moral, a insegurança e ambientes nocivos à saúde dos trabalhadores (ANTUNES, 2008; DRUCK, 2011).

Também, neste contexto, de reformas e desregulamentação de direitos trabalhistas, nos últimos anos, temos a Lei nº 13.467/2017 que trouxe uma expressiva perda de direitos trabalhistas. Tal como a Emenda Constitucional nº 95/2016 que se constitui como novo regime fiscal, limitando o crescimento das despesas públicas e o investimento em saúde e educação, durante o período de 20 anos. Consequentemente, gerando novos impactos nas políticas públicas, tal como no Sistema de Saúde Pública (SUS) e na própria ação de cuidado em saúde aos trabalhadores que, por muitas vezes, tornam-se adoecidos pelo/no trabalho.

Para Giongo, Monteiro e Sobrosa (2015), a saúde no trabalho não está implicada no processo de ausência ou surgimento de sofrimento, mas no potencial em que cada trabalhador dispõe de recursos internos e externos para a transformação das vivências em prazer ou sofrimento psíquico. Diante disso, o ambiente de trabalho necessita acolher o trabalhador em sofrimento, dar suporte para que o coletivo se reorganize e não culpabilize o profissional em adoecimento. Da mesma forma, esse ambiente de trabalho deve oportunizar uma rede solidária para o reconhecimento desse sofrimento junto ao trabalhador (DEJOURS e BÈGUE, 2010). Tal como os trabalhadores da saúde que, atualmente, estão sofrendo com a pandemia da Covid-19, por estarem na linha de frente vivenciam o sofrimento e adoecimento no ambiente de trabalho.

A pandemia da Covid-19, no contexto brasileiro, encontra um cenário marcado pela perda de direitos sociais, pela precarização do trabalho, por políticas de austeridade e estado mínimo (MENDES, 2020). No tocante, a crise sanitária que, também, tornou-se uma crise econômica e social, marcada pelo

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11 aumento de desemprego e perda de postos de trabalho, tal como o aumento da precarização do trabalho (MENDES, 2020). Diante disso, a pandemia tem desencadeado novas relações no mundo de trabalho, através do desemprego, subemprego e aumento da precarização. Sendo que as principais vítimas são e continuarão sendo trabalhadores e trabalhadoras, diante da desigualdade social preexistente e agora agravada (MENDES, 2020).

No tocante, os efeitos da pandemia frente ao mundo do trabalho está sendo alvo de pesquisas no cenário nacional e internacional, ao mesmo tempo, que têm se observado as influências das diferentes formas das relações de trabalho (MENDES, 2020). Consequentemente, os dados preliminares a respeito dos trabalhadores da saúde indicam exposição a condições precárias, risco de contaminação e sofrimento psíquico no trabalho (TEIXEIRA et al., 2020). Assim como, existem diversos relatos da precariedade e das condições de trabalho, através de jornadas extenuantes, falta de treinamento, ausência de equipamentos de proteção individual e insuficiência de recursos humanos (JACKSON FILHO et al., 2020). Estudo realizado por De Boni et al. (2020) evidenciou os transtornos de ansiedade e depressão entre os trabalhadores essenciais no cenário brasileiro. É importante destacar que estes dados preliminares evidenciam uma realidade, anterior ao contexto da pandemia da Covid-19 no mundo do trabalho, principalmente, na saúde dos trabalhadores.

Por conseguinte, este estudo versa sobre a temática das condições de trabalho e a saúde, no que se refere aos trabalhadores da saúde no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. Concluindo-se, assim, nas próximas páginas será apresentado o artigo de revisão narrativa de literatura, advindo de periódicos científicos e materiais de livre acesso; titulado como “A Covid-19 e os impactos na saúde dos trabalhadores da saúde: um estudo de revisão narrativa”.

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12 2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Identificar os possíveis impactos da Covid-19 na saúde dos trabalhadores da saúde no processo de precarização do trabalho.

2.2 Objetivos Específicos

 Conhecer o contexto da precarização de trabalho no ambiente laboral de trabalhadores da saúde;

 Entender o contexto de trabalho durante a pandemia para os trabalhadores da saúde;

 Compreender os processos de saúde/doença, tal como os possíveis índices de esgotamento profissional (síndrome de burnout) nos trabalhadores da saúde.

(14)

13 3. REVISÃO DE LITERATURA

O trabalho, em seu escopo, é uma atividade que contribui para a manutenção da vida, ao mesmo tempo, é mediador de bem-estar, saúde e desenvolvimento de identidade para o trabalhador (DEJOURS, 2007). Com isso, torna-se necessário refletir acerca do trabalho mediante a análise da produção da identidade e subjetividade, sendo a subjetividade considerada como modo de ser, pensar e agir (GUATARRI e ROLNIK, 1986), diante dos processos de relação do sujeito com seu tempo, cultura, sociedade e coletivo.

Para Lancman e Sznelwar (2008), o trabalho exerce uma função psicológica, uma vez que abrange diferentes significados para o trabalhador.

Nesta perspectiva, o trabalho precisa fazer sentido para a identidade do trabalhador (DEJOURS, 1992). Por conseguinte, o trabalho pode ser tanto fonte de prazer quanto de sofrimento, visto que produz efeitos positivos e nocivos para a saúde mental (DEJOURS, 2007).

Somado a isso, é importante considerar que o mundo do trabalho contemporâneo retrata uma “sociedade-que-vive-do-trabalho” (ANTUNES, 2008), ao mesmo tempo, as relações laborais estão cada vez mais frágeis e precárias de tal modo que têm reverberado na saúde dos trabalhadores (VIZZACCARO-AMARAL, 2012). Neste sentido, a sociedade capitalista assume que o mundo do trabalho necessita de diferentes formas e acordos de trabalho, como, por exemplo, flexibilização e a terceirização (ANTUNES, 2008;

SELIGMANN-SILVA, 2011). Em síntese, tais contextos de trabalho associado a lógica da gestão flexível (GAULEJAC, 2007) tendem a fragilizar as forças e as relações no trabalho, principalmente, no âmbito da saúde.

3.1 Trabalho e saúde

O mundo do trabalho promove diferentes vivências de bem-estar e mal- estar, principalmente, em termos de saúde mental para o trabalhador. É possível, ainda, destacar que cada trabalhador possui uma “caixa de ferramentas”, que se

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14 traduz nos conhecimentos técnicos e recursos, ao passo, que é permeado de modo individual e coletivo em termos de saúde (MERHY e FRANCO, 2008).

Outrossim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define o conceito de saúde não apenas como a ausência de doenças, mas também a condição de bem-estar físico, mental e social (OMS e OPAS, 2006). Nesta circunstância, a compreensão das vivências de prazer e sofrimento são fenômenos importantes no ambiente de trabalho diante do processo de saúde e doença.

Compreende-se que o trabalho e a saúde são atravessados pelas diferentes transformações no contexto mundial (MENDES e WUNSCH, 2007).

Também é importante destacar que as transformações nos modos de gestão, resultantes da reestruturação produtiva, tendem a influir na fragilidade das relações laborais e de saúde, tal como nas condições de trabalho. O trabalho é um cenário de vivências de sofrimento, uma vez que não se pode evitar, ao mesmo tempo, que as situações no trabalho sempre colocam os trabalhadores frente ao inesperado acerca do real e do prescrito.

Além disso, torna-se relevante o conhecimento a respeito do trabalho prescrito e o real, em razão de que pode descrever as relações de poder da organização do trabalho e as divisões de tarefas. O trabalho prescrito retrata o que antecede a realização da atividade, isto é, descrevem-se as normas, as regras e as instruções definidas pela gestão. Por outro lado, o trabalho real simboliza a atividade viva, define o que não está previsto e pode levar os trabalhadores a realizarem infrações, a utilizarem estratégias e criatividade para efetivarem as finalidades de suas funções (DEJOURS, 2007). Por conseguinte, o trabalho sobrepõe-se às normas da organização do trabalho, visto que estão sempre relacionadas aos imprevistos e às intercorrências (DEJOURS, 2007).

Assim, o enfrentamento entre o prescrito e o real pode influenciar os trabalhadores a adotarem estratégias na resolução das exigências no trabalho, o que pode repercutir, por muitas vezes, na saúde dos trabalhadores.

Para Dejours e Bègue (2010), o trabalho pode influenciar na formação da identidade, entretanto, pode atuar, dependendo da organização do trabalho, como desestabilizadora da saúde. De tal modo, as pressões no trabalho podem afetar a saúde dos trabalhadores, visto que estão relacionadas à divisão de tarefas, em razão daquilo que é assimilado pelos trabalhadores e do controle da organização do trabalho (DEJOURS, 2007). É importante frisar que, caso as

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15 normativas da organização do trabalho sejam desfavoráveis para os trabalhadores, podem repercutir em desprazer e sofrimento. Contudo, quando as condições geradoras de desprazer podem ser modificadas em prazer, de outro modo, podem influenciar e dar lugar à saúde. Por conseguinte, o prazer- sofrimento no trabalho retrata o resultado do processo entre o confronto da organização do trabalho e a história do trabalhador, diante da luta contra o sofrimento no trabalho (DEJOURS, 2007).

Apesar de o sofrimento ter um sentido nocivo, para Dejours (2007), este pode ser o ponto de partida por atitudes e modificações nas vivências diante das relações de trabalho. Cabe destacar que sofrimento e adoecimento no trabalho estão relacionados aos modos de gestão, organização e precarização do trabalho (SELIGMANN-SILVA, 2011). Com isso, observa-se que os impactos na saúde advêm das condições de trabalho, exposição e os riscos ocupacionais, de tal modo que repercutem na saúde física e psíquica. Diante disso, os principais diagnósticos em adoecimento físico referem-se a Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT), doenças infecciosas, exposição a riscos de contaminação, acidentes de trabalho e entre outros. Quanto à saúde mental, verifica-se a prevalência dos sintomas de ansiedade e depressão, assim como nos casos de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), esgotamento profissional (síndrome de burnout), uso de substâncias psicoativas e quadros associados a crises psicóticas (SELIGMANN-SILVA, 2011).

É importante destacar que, no contexto da pandemia da Covid-19, os trabalhadores estão vivenciando ambientes de trabalho que refletem na possibilidade de exposição a riscos, diante de condições biológicas, físicas, químicas e ergonômicas, assim como estão suscetíveis aos diferentes modos de instabilidade, flexibilização e a precarização no trabalho, a exemplo da sobrecarga, aumento de jornada e redução de salários. Por fim, os trabalhadores têm vivenciado e sido expostos a diferentes situações de trabalho e riscos ocupacionais, realidade que merece a atenção, em termos de gestão, política e coletivo de trabalho (SELIGMANN-SILVA, 2011; CARDOSO e MORGADO;

2019).

(17)

16 4. REFERÊNCIAS DA REVISÃO DE LITERATURA

Antunes, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2008. 95 p.

Antunes, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018. 364 p.

Araújo, M. R. M. de, Morais, K. R. S. de. Precarização do trabalho e o processo de derrocada do trabalhador. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 1-13, 2017. Disponível em:

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_______. Ministério do Trabalho. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de

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17 _______ A banalização da injustiça social. 7 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007. 160 p.

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(19)

18 Muniz, H. P., Teixeira, E. M., Silva, C. O. da. Desafios colocados pelas estratégias neoliberais de precarização do trabalho para a pesquisa-intervenção voltada para a transformação das situações de trabalho. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v 23, n. 1, p.13-27, 2020.

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20/04/2021.

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38 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo do trabalho já enfrentava diferentes transformações, anteriormente ao cenário da pandemia da Covid-19, relacionadas às relações de trabalho, pressões por eficiência e resultados. É possível indicar que os efeitos da pandemia frente ao mundo descrevem e reafirmam um contexto que impõe as desigualdades preexistentes, no que se refere às questões de gênero, raça, renda, moradia, entre outras. Isto é, afirmam as vulnerabilidades na sociedade e no mundo do trabalho.

O impacto da pandemia diante das relações de trabalho assume inúmeras formas de insegurança, desigualdades e péssimas condições laborais.

Concomitantemente, isso tem gerado no trabalhador diferentes formas de se relacionar com o ambiente de trabalho, seja pelas condições laborais, vivências de bem-estar, mal-estar e sofrimento no trabalho, seja também pela própria subjetividade enquanto profissional.

Estudos apresentados neste artigo evidenciam as más condições do trabalho devido à escassez de insumos, recursos humanos e à sobrecarga de trabalho, associado ao contexto da precarização do trabalho no âmbito da saúde.

Também é demonstrado o mal-estar e o sofrimento no trabalho, relacionado aos transtornos de ansiedade e depressão, tal como associado ao medo frente à exposição e ao risco de contaminação pelo coronavírus. Consequentemente, esse estudo corrobora com a literatura nacional e internacional, afirmando que os trabalhadores da saúde vivenciam o esgotamento profissional (síndrome do Burnout) no cotidiano e nas relações de trabalho. Além disso, tais vivências somam-se diante da pandemia da Covid-19 mediante o cenário que se instaura no contexto da saúde pública.

A doença e as medidas de prevenção adotadas têm reafirmado resultados socioeconômicos tanto no âmbito do contexto individual e coletivo, quanto nas organizações de trabalho público e privado. De certa maneira, qualquer profissional foi se colocando (e está sendo colocado) diante de diferentes incertezas e riscos, não somente no trabalho, mas também em todos os contextos e nas relações da vida humana. Deste modo, ampliar novas medidas de proteção e políticas de saúde torna-se uma necessidade emergente para os trabalhadores da saúde e outras categorias de trabalho, uma vez que essas

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39 ações podem resultar em estratégias para a saúde pública e saúde dos trabalhadores. É importante ressaltar que identificar os possíveis impactos na saúde dos trabalhadores da saúde, assim como para as outras categorias de trabalho, promove um diagnóstico situacional da doença no mundo do trabalho.

Em razão, que instrumentaliza em termos de política para os trabalhadores no que se refere à segurança, à proteção e aos direitos trabalhistas, assim como afirma a saúde enquanto direito para todos. Consequentemente, reafirma a existência do SUS nessa luta para garantia de cuidado e proteção para todos.

Espera-se que este estudo seja mais um outro olhar para relações de trabalho mais humanas, mais dignas e saudáveis. Almeja-se que este estudo possa traduzir as vivências enfrentadas por estes “heróis” durante a pandemia, mas não somente, pois o cenário dos trabalhadores da saúde é permeado pela imprevisibilidade. Também se espera que possa ser um conforto, no meio de tantas adversidades e inseguranças, como uma pequena homenagem aos tantos trabalhadores que foram vitimados pela doença. Ainda assim, sugerem- se novos estudos que possam tratar a complexidade dos diferentes momentos da pandemia na saúde mental dos trabalhadores da saúde, como em outras categorias de trabalho.

Referências

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