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O SURGIMENTO DA CIÊNCIA POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL

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Academic year: 2021

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O SURGIMENTO DA CIÊNCIA POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL

Ana Pederzolli Cavalheiro Recuero1 (UFSM) analuciacavalheiro@gmail.com

RESUMO: O objetivo principal deste estudo é apresentar um panorama preliminar descritivo de algumas linhas teóricas que formaram as Políticas Linguísticas como área autônoma de conhecimento científico.

Para tanto, traz algumas das concepções e terminologias a ela relacionadas que alavancaram os estudos iniciais desta ciência, entre as quais destacamos as colaborações de Haugen (1959), com o conceito de planejamento linguístico – language planning; de Kloss (1969), sobre planificação do corpus e planificação do status; de Calvet (2007), com o binômio políticas/planejamento linguístico e, de forma subsidiária, as concepções de Orlandi (2002) sobre Políticas Implícitas X Políticas Explícitas, estabelecendo um paralelo com a Lei de 2005, enquanto o ato de Política Linguística mais significativo para o ensino do espanhol no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Linguísticas; Linhas Teóricas; Ensino de Espanhol.

ABSTRACT: The aim of this study is to present a descriptive overview of some preliminary theoretical lines that formed the Linguistic Policies as an autonomous area of scientific knowledge. To do so, brings some of the concepts and terminology related to it that leveraged the initial studies of this science, among which we highlight the contributions of Haugen (1959), with the concept of language planning - planning language, the Kloss (1969) on planning corpus and status planning, Calvet (2007), with the binomial policy / planning and language, in a subsidiary manner, the concepts of Orlandi (2002) policies on X Implicit Explicit policies, establishing a parallel with the 2005 Act, while Language Policy act more meaningful to the teaching of Spanish in Brazil.

KEYWORDS: Linguistic Policy; Theoretical lines; Teaching Spanish.

1 Introdução

A Linguística é, por definição e consenso, a ciência que estuda a linguagem humana. Entre as várias ramificações ou ciências a ela relacionadas e que podem ser consideradas como relativamente recentes, está a área definida como Políticas Linguísticas. Esta ciência, no entanto, é subsidiada por diferentes linhas teóricas e terminologias mais ou menos comuns ou específicas, por sua vez determinadas em

1 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Letras. Doutoranda em Estudos Linguísticos.

Email: analuciacavalheiro@gmail.com

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função dos diferentes nichos ou realidades sócio-históricas. A convergência entre todas é o fato de que objetivam tentar “dar conta” de questões que dizem respeito às relações entre linguagem e sociedade, mediadas por políticas públicas.

O objetivo deste estudo, portanto, é dissertar sobre a institucionalização das

“Políticas Linguísticas” enquanto área autônoma de conhecimento científico, apresentando um panorama introdutório sobre algumas das linhas teóricas que marcaram a sua fundação e que alavancaram desdobramentos posteriores, chegando até algumas iniciativas atuais, dentro da realidade brasileira. A partir deste movimento destacamos a relevância do entendimento das Políticas Linguísticas para os professores de línguas, desde uma perspectiva crítica, estabelecendo relações com o ensino do espanhol no sistema educativo brasileiro, marcado pela Lei de 2005, que instaura a obrigatoriedade da oferta do espanhol no Ensino Médio.

Seguindo por este viés e indo além dos significados mais tradicionais e dicionarizados sobre o que seja a política, podemos dizer que a própria linguagem é política, ou seja, é uma forma prática de ação e um ato político inserido na rede de relações de poder que constitui a sociedade. Desde Aristóteles, temos que “o homem é um animal político”, um animal da polis: anthropos physei politikon zoon, que tem a palavra e através dela constrói e participa nas relações sociais.

As relações políticas, portanto, a política não diz respeito só ao governo e suas ações ou às formas de comportamento adequado, mas a todas as posturas e escolhas frente à sociedade, sempre mediados e atravessados pela linguagem. Neste contexto, a escolha, o silenciamento ou a imposição de “que língua falar, quando falar ou não falar e como falar” são algumas entre as práticas sociais normatizadas de forma mais ou menos explícita, eminentemente, pelo que designamos “Políticas Linguísticas”. Tais práticas de intervenções na sociedade, através das línguas e com foco nas línguas, no entanto, existem desde remotos tempos na história das civilizações, muito antes de assim serem designadas.

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2 Políticas Linguísticas: fundação e terminologias

Como área relativamente recente em comparação aos demais estudos linguísticos, a ciência Políticas Linguísticas emerge entre os anos de 1960 e 1970, apresentando diferentes pontos de vista e, consequentemente, diferentes terminologias.

Quanto ao seu nascimento podemos situá-lo relacionado à área da Sociolinguística, a qual tem como marco enquanto área científica dedicada às relações entre língua e sociedade, a reunião que ocorreu em 1964, na Universidade da Califórnia (UCLA), com a presença de Haugen, Ferguson, Fisher, Bright, Rona, Labov, Gumperz e Hymes.

(CALVET, 2002). Neste momento, estes pesquisadores definiram a sociolinguística nos Estados Unidos, fazendo referência a diferentes situações e contextos linguísticos, estabelecendo relações com o que se denominou planejamento linguístico – language planning, termo cunhado por Weinreich em 1957 e apresentado nos estudos de Haugen, em 1959, segundo aponta o estudo de Silva (2013, p. 291). Haugen estudou as intervenções do estado em questões de ordem linguística na Noruega, especificamente sobre a relação entre a intervenção de certas regras ortográficas do norueguês e a construção de uma identidade nacional no país. A proposta de Haugen alavancou estudos posteriores relativos a planejamentos linguísticos em outros contextos, em sua grande maioria caracterizados por situações de plurilinguismo e questões sócio-culturais e identitárias, entre outras. Ainda segundo os dados que integram o estudo de Silva (2013, p. 292), as pesquisas iniciais da área conceberam as questões abordadas como

“problemas linguísticos” a serem resolvidos, como está explícito no título do primeiro periódico da área, a revista “Language problems and language planning”, que teve o primeiro número publicado em 1980. O que se designa por planejamento linguístico, portanto, antecede e se relaciona diretamente ao que se designou e se concebe como Políticas Linguísticas, estando vinculado à constituição de alguns estados nacionais resultante do processo de descolonização de partes da África e da Ásia, após a II Guerra Mundial. A situação destes estados, em sua maioria multilíngues, foi considerada, portanto, como um problema, pois o ideal seria o espelho à imagem do monolinguismo

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característico de países europeus. Neste sentido, podemos vislumbrar a estreita relação entre nacionalismo e Políticas Linguísticas.

Para alguns estudiosos, o planejamento linguístico vem a ser considerado a aplicação do que se designou, posteriormente, como política linguística, termo que apareceu em estudos desenvolvidos entre os anos de 1970 e 1980 com alguns pesquisadores como Fishman (1970) nos Estados Unidos, Ninyoles (1975) na Espanha e Glück (1981) na Alemanha. As concepções de planejamento linguístico e política linguística passaram a ser tratadas, muitas vezes, como vinculadas entre si ou na forma de um binômio, o qual, segundo Calvet (2007), “implica ao mesmo tempo uma abordagem científica das situações sociolinguísticas, a elaboração de algum tipo de intervenção sobre estas situações e os meios para se fazer essa intervenção.” As concepções de outros estudiosos não se afastam muito desta, considerando que “o planejamento é a aplicação da política” e que as políticas linguísticas seriam formas de intervir na sociedade, através da línguas, mediante um planejamento. Ainda assim, algumas divergências existem tanto com relação aos sujeitos atores dos possíveis planejamentos linguísticos (governo X sociedade), como do próprio objeto: integração nacional ou internacional, ensino de línguas, normatização na forma da língua ou com relação às funções sociais da mesma.

No entanto, as décadas subsequentes, e pese o desenvolvimento da área, serão marcadas por controvérsias epistemológicas. De acordo com dados estudados por Silva,

“pesquisadores de orientação marxista e pós-estruturalista acusaram a área de servir aos interesses de grupos sociais específicos ao mesmo tempo em que se autoproclamava um empreendimento objetivo (científico) e ideologicamente neutro” (SILVA, 2003, p. 296).

Neste contexto, motivações de cunho político, social e ideológico estariam sendo negligenciadas em prol de um suposto discurso baseado na racionalidade científica. E mais: um modelo ocidental de estado-nação, monolíngue, estaria sendo “imposto” aos países africanos, entre outros, de outras partes do mundo.

Ainda com relação a concepções e terminologias relacionadas à área, segundo estudo de Savedra e Lagares (2012, p. 11-12), destacam-se também as colaborações de

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Ferguson (1959), quem propôs os conceitos de diglossia e bilinguismo, língua dominante, língua dominada, substituição e normalização, e as de Kloss (1967), primeiramente com os conceitos de Abstandsprache (línguas independentes) e Ausbausprache (línguas próximas, de uma mesma família linguística ou de famílias diferentes) e, posteriormente, com os conceitos dicotômicos de Sprachplanung – planificação do corpus, e Statusplanung – planificação do status. A planificação do corpus diz respeito às intervenções na forma da língua, ou seja, à sua padronização, como por exemplo, a elaboração de gramáticas e dicionários ou a criação de uma escrita para as línguas ágrafas, a inclusão de estrangeirismos e neologismos, entre outras intervenções da mesma ordem. Já a planificação do status diz respeito às intervenções nas funções da língua, ou seja, seu status socialmente construído e legitimado dentro de uma comunidade ou de uma nação, além de suas relações com outras línguas de outras comunidades ou nações ou dentro das próprias, com outras línguas que “dividam espaço”. A proposta de Kloss é adotada e desenvolvida por Glück (1979) e Haugen (1983): o primeiro propõe o termo Sprach(en)politik, também diferenciando forma e status de uma língua com relação a outras, enquanto o segundo adota para seus estudos as concepções de status e corpus, para distinguir a forma da língua – planificação linguística, da função da língua – cultura da língua. Posteriormente, Cooper (1989) também vai ampliar o binômio proposto por Kloss (1967), introduzindo a noção de planejamento de aquisição como outra modalidade de planejamento linguístico, a qual visaria o aumento do número de falantes e, consequentemente, a gerência do ensino da mesma. Outra colaboração importante com relação ao tema vem de Ninyoles (1991), que traz os conceitos de language policy, para se referir a atitudes ou planos de ação relativos à língua e language politics, para referir-se às decisões que implicam em um ato de poder.

As questões terminológicas aqui apresentadas constituem-se apenas em uma parte relevante de um escopo maior que caracteriza a constituição das Políticas Linguísticas como área científica. Com relação ao seu desenvolvimento no Brasil, até pouco tempo não se tinha quase referências dentro do espaço acadêmico e poucas produções científicas. No entanto, pode-se afirmar que a área vem ampliando seu

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espaço, seja através de intervenções ou pesquisas, ambas de forma contundente, como veremos no capítulo subsequente algumas das ações que vêm sendo desenvolvidas.

3 Políticas Linguísticas no Brasil

Com relação aos estudos sobre Políticas Linguísticas no Brasil, têm-se dados da primeira coletânea publicada no país em 1988, com o ensaio inaugural de Alberto Escobar problematizando o multilinguismo e o pluriculturalismo característicos da sociedade peruana. Segundo Ataliba de Castilho (2001, p. 2), a obra antecipava uma questão que inevitavelmente viria à tona, empurrada pelo advento da Globalização, a partir de um movimento liderado no Brasil por Antonio Houaiss, em 1960 e por Celso Cunha, em 1964, que na época discutiam a questão do padrão linguístico do português.

Posteriormente, em 1988, Eni Orlandi publicou a primeira obra desenvolvida no Brasil sobre o tema das Políticas Linguísticas, com “Políticas Linguísticas para a América Latina” e, em 1999, Scliar-Cabral publicou "Pela definição da política linguística no Brasil", fruto de um debate promovido pela Associação Brasileira de Linguística.

Subsequentemente a estas produções, começam a surgir muito paulatinamente outras pesquisas. No entanto, ainda que seja relativamente restrito o desenvolvimento da área no meio acadêmico brasileiro, carecendo disciplinas e linhas de pesquisa mais específicas, além de programas, o espaço encontra-se, sem dúvida, em movimento de ascensão. Podemos comprová-lo ao citar algumas produções e iniciativas como, por exemplo, em 2011, a Revista Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM);

em 2012, a Revista Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense (UFF); e, em 2012, a Revista Brasileira de Linguística Aplicada, da Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB), as quais publicaram números específicos sobre questões de Políticas Linguísticas. Somado a isso, destacamos os Encontros Internacionais de Pesquisadores de Políticas Linguísticas, promovidos pela Associação das Universidades do Grupo Montevidéu; o I e II CIPLOM - Congresso Internacional de Línguas Oficiais do

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Mercosul (2010 e 2013, respectivamente); e, em 2013, o 10º CBLA – Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada, que teve como tema “Política e Política de Línguas”.

De forma geral, os estudos brasileiros que atentam à área das Políticas Linguísticas, apresentam-se distribuídos em 6 (seis) eixos temáticos:

(1) a língua oficial do Estado e sua gestão, (2) gestão das comunidades bilíngües e plurilíngües, (3) gestão das minorias lingüísticas, (4) o Estado e o ensino da Língua Portuguesa como língua materna, (5) atuação das universidades brasileiras nas questões da pesquisa e ensino da Língua Portuguesa, (6) o Estado e o ensino das línguas estrangeiras. (CASTILHO, 2001, p.3)

Como podemos ver, a pesquisa relativa às Políticas Linguísticas no Brasil vive um momento de ascensão em seu desenvolvimento. No entanto, retornando no tempo e considerando os ciclos de imigração provenientes de vários países e geradores de inúmeras situações de contato linguístico e cultural no Brasil, não construímos uma realidade social plurilíngue e multicultural. Ao contrário, durante séculos o Brasil manteve um imaginário monolíngue – no Brasil de fala português – forjado através do silenciamento e do apagamento das várias culturas e línguas que constituíram e que ainda formam parte do contexto brasileiro, de forma central ou periférica (de fronteira), tal como vimos sobre a constituição de alguns estados nacionais quando do processo de descolonização de partes da África e da Ásia. Ou seja: preferencialmente, mas equivocadamente, acima de tudo os cidadãos de um mesmo país deveriam estar unidos por uma única língua, cultivando, desta forma, um suposto monolinguismo impossível.

Lamentavelmente, os primeiros registros de intervenção linguística no Brasil podem ser considerados como coibitivos que oscilaram “entre momentos de indiferença e de imposição severa de medidas prescritivas e proscritivas” (ALTENHOFEN, 2003, p.83) sobre os vários extratos que constituíram e geraram a realidade brasileira, como as comunidades indígenas, africanas, de imigrantes e as situações de contatos nas fronteiras. A primeira intervenção linguística explícita no Brasil foi, sem dúvida, a Reforma Pombalina, em 1758, quando o Marquês de Pombal se opõe contra a língua

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geral, de base tupi, proibindo, através do Diretório dos Índios, toda e qualquer manifestação linguística que não fosse em língua portuguesa.

Dentro deste caleidoscópio étnico, multicultural e plurilíngue que se tentou apagar, muitas vezes, interessa-nos as relações construídas com o espanhol. Mais especificamente sobre o ensino do espanhol no Brasil, dadas as questões políticas que têm movido e favorecido a valorização e a inclusão desta língua dentro do sistema educativo brasileiro. Optamos, pois, por pensar a questão das Políticas Linguísticas brasileiras a partir das concepções de Orlandi, que as situa entre dois polos, a partir do viés da História das Ideias desenvolvida no Brasil (ORLANDI, 2002, p. 95): haveria uma política linguística “explícita, planejada, assumida claramente como organizacional” e outra “menos evidente, mais implícita”. Pensamos que uma Política Linguística Explícita – PLE é, por exemplo, aquela que se instaura a partir de uma lei, como a “Lei de 2005”, que sancionou a obrigatoriedade da oferta do espanhol como disciplina no Ensino Médio das escolas brasileiras. É, portanto, uma ação explícita do estado, expressa em documentos legais ou oficiais e que, portanto, deve ser cumprida. A Constituição Federal de 1988 pode ser outro exemplo de PLE, sobre a língua oficial do Brasil: “Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.”. Ao não fazer referência à diversidade linguística, por exemplo, mostra também uma Política Linguística Implícita – PLI, que de certa forma apaga as demais línguas que são faladas no Brasil, ao ponto de que se reafirme o imaginário de que “no Brasil se fala português”. As demais línguas brasileiras serão reconhecidas somente em 2010, através de uma PLE: o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (Decreto 7.387, de 09 de dezembro de 2010).

Uma PLI é, por exemplo, aquela apresentada através de documentos de caráter orientativo, como as Diretrizes e as Orientações Curriculares, que não funcionam como atos de lei, mas que, no entanto, estão como “abrigadas” e relacionadas a uma política

“maior”, subjacente e explícita. Podemos dizer que dentro de uma Política Linguística Explícita há elementos implícitos e latentes ou, se preferirmos, ideológicos. Neste sentido, podemos dizer que políticas linguísticas também se impõem por ideologias,

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perdurou por muitos anos sem nenhuma explicitação ou imposição em qualquer lei ou diretriz curricular. Por outro lado, prestígio intelectual, como o francês entre outras línguas, também motivaram políticas linguísticas. (Oliveira, 2013, p. 12).

Com relação ao ensino do espanhol no Brasil, podemos dizer que a “Lei de 2005”, que vem instaurar a oferta obrigatória do ensino do espanhol no Ensino Médio das escolas brasileiras, é o ato de Política Linguística Explícita mais significativo.

Conforme o Artigo 1º da Lei2: “O ensino da língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do ensino médio”.

Situamos esta Política Linguística como decorrente do advento do Mercosul, uma realidade que gerou não só o interesse, como a necessidade de um planejamento que promovesse e assegurasse o ensino do Português e do Espanhol na América Latina, ultrapassando, desta forma, as atividades de cunho econômico que alavancaram as intenções iniciais. Do Mercosul é também decorrente o setor do Mercosul Educacional, no qual se insere o Comitê Assessor de Políticas Linguísticas, o CAPL, que desempenha funções mais específicas relativas às políticas educacionais que integram os países associados ou membros do Mercosul. O Cômite, sem dúvida, é mais uma entre as ações que têm favorecido o desenvolvimento das Políticas Linguísticas brasileiras.

Neste contexto, destacamos a intervenção voltada ao ensino do espanhol no currículo das escolas públicas e privadas de Ensino Médio, decorrente da Lei de 2005:

as OCNEM – Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, publicadas em 2006, pelo MEC – Ministério da Educação. Tais orientações e referências específicas para o ensino do espanhol no Brasil divulgam o conhecimento científico-acadêmico sobre o ensino de línguas produzido na academia, desta forma, constituindo-se em um ato de Política Linguística Implícita. Neste movimento, enquanto o estado dita uma Política Linguística Explícita, a academia traz uma Política Linguística Implícita.

2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11161.htm

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4 Considerações Finais

Este estudo apresentou um panorama preliminar sobre algumas das linhas teóricas mais relevantes que alavancaram os estudos iniciais sobre Políticas Linguísticas e o seu desenvolvimento dentro do contexto brasileiro. De forma complementar, trouxe à baila a maior conquista de Política Linguística no que se refere ao ensino do espanhol no Brasil, ou seja, a Lei de 2005. Através deste movimento podemos verificar que ao se tratar de Políticas Linguísticas, “nem tudo foram, nem serão flores”, ou seja, que como todas as ciências, não há neutralidade científica e nem sempre o que foi feito objetivou o favorecimento dos usuários das línguas. No entanto, se olharmos atentamente às ações que vêm sendo implementadas com relação ao ensino de línguas no Brasil, poderemos comprovar melhorias significativas que visam, de fato, a valorização da diversidade linguística. E, aos professores brasileiros de línguas, esperamos ter podido sinalizar para a importância de um conhecimento sobre as Políticas Linguísticas visando a uma prática mais politizada.

Referências Bibliográficas

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ORLANDI, E. Língua e Conhecimento Linguístico. Para uma história das Ideias no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2002.

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SAVEDRA, Mônica Maria Guimarães, LAGARES, Xoán Carlos. Política e planificação linguística: conceitos, terminologias e intervenções no Brasil. Revista Gragoatá, Niterói, n.32, p. 11-27, 2012.

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52, p. 289-320, jul./dez. 2013.

Recebido Para Publicação em 30 de junho de 2014.

Aprovado Para Publicação em 27 de julho de 2014.

Referências

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