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RESUMO Palavras-chave: INTRODUÇÃO

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Academic year: 2022

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RESUMO

Com o crescimento da população idosa, cria-se a necessidade de maior atenção a esta faixa etária, especificamente, no que diz respeito às possíveis doenças crônicas que acometem o idoso. O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) está entre as doenças crônicas mais frequentes e suas especificidades podem interferir diretamente nos aspectos psicológicos de idosos com DM2. Compreender e analisar as percepções e vivências emocionais de idosos portadores de DM2. Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal de multicasos, com grupo único e de abordagem qualitativa. Foi utilizado questionário de caracterização, entrevista semidirigida e a prancha 14 do teste de Apercepção Temática para Idosos (SAT). A amostra é composta por dois participantes, sendo um homem e uma mulher, respectivamente, frequentadores do Ambulatório de Diabetes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP. No que diz respeito aos resultados, observou-se que os idosos consideram as mudanças de hábitos necessárias e as realizam para melhor conviverem com o DM2. Verificou-se que os participantes atribuem ao diagnóstico e convívio da doença a aspectos negativos e associados à privação, restrição e mudanças no estilo de vida. Trouxeram aspectos emocionais como desesperança e incerteza em relação ao futuro com o DM2. Verificou-se que a utilização da técnica projetiva SAT e o Questionário Desiderativo favoreceram a expressão de conteúdos emocionais não manifestos. Através desta pesquisa, foi possível demonstrar a importância de se compreender e identificar os aspectos psicológicos de idosos portadores de DM2, a fim de embasar a construção de possíveis estratégias futuras para esta população que é tão vulnerável ao aumento de morbidades.

Palavras-chave: Doenças crônicas; Aspectos Psicológicos; Envelhecimento.

INTRODUÇÃO

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), estima- se que em 2060 um em cada quatro brasileiros terá 65 anos ou mais, correspondendo a 58,2 milhões de pessoas, 25,5% do total da população. Este aumento da proporção de idosos traz consigo problemáticas, como a elevação dos casos de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). A doença crônica está associada a uma variedade de causas, seu prognóstico é incerto e manifesta-se gradualmente, podendo gerar impotência (Ministério da Saúde, 2013).

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Dentre a ocorrência de doenças crônicas, destaca-se o Diabetes Mellitus Tipo II (DM2), que consiste no inadequado aproveitamento da insulina produzida pelo corpo, e está associado ao sedentarismo, obesidade, maus hábitos alimentares e envelhecimento populacional. O DM2 é o mais comum e atinge cerca de 90% dos portadores de diabetes no Brasil e acredita-se que 50% da população desconhece que é portador da doença, pois ela é silenciosa (International Diabetes Federation, 2013). Neste contexto, o tratamento de idosos portadores de DM2 envolve uma mudança repentina de comportamento, baseada em restrições alimentares, dependência do controle glicêmico diário e, por vezes, aplicação da insulina.

Considerando os fatores emocionais, Jerez-Roing e Souza et al. (2016), discorrem acerca da importância da autopercepção que viabiliza o relato do próprio indivíduo considerando sua percepção a respeito do bem-estar, físico, psicológico e emocional. Além disso, a percepção de saúde está relacionada à aspectos sociodemográficos como a idade, o sexo, o nível de escolaridade e a renda.

Frente a este cenário, é significativa a importância de dirigir o olhar à população idosa, pensando nos desafios que o portador de DM2 enfrenta, identificando quais são as suas necessidades, dificuldades, facilidades e funcionamento psíquico manifestados nesta população.

OBJETIVO

Compreender e analisar as percepções e vivências emocionais de idosos portadores de DM2.

METODOLOGIA Desenho do estudo

Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal e multicasos, com grupo único e de abordagem qualitativa. O estudo será baseado na busca da compreensão da dinâmica do ser humano, partindo do significado vivenciado para o indivíduo (Turato, 2013).

Participantes

A amostra é composta por 2 idosos, com idade igual ou superior a 60 anos, sendo um homem e uma mulher, oriundos do Ambulatório de Diabetes do Hospital

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das Clínicas da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Adotou-se nomes fictícios para preservar a identidade dos participantes.

Instrumentos

Foi utilizado um questionário com perguntas relativas aos dados de caracterização sociodemográfica, entrevista semidirigida e a prancha 14 do Teste de Apercepção Temática para Idosos (SAT) (Bellak & Abrams, 1998). O SAT é um teste projetivo que possibilita a investigação de questões e problemáticas específicas desta etapa da vida. Foi utilizada a prancha de número 14 que é denominada “no banheiro”

e retrata uma pessoa frente a um armário de banheiro e evoca temas como autonomia e independência para cuidar de si, cuidados pessoais e necessidade de tomar remédios frente ao adoecimento.

DESENVOLVIMENTO

Inicialmente, o projeto deste estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética (CAAE: 68825417.5.0000.0089 Parecer: 2.144.289) e deu-se início a coleta dos dados e aplicação dos questionários. Para isto, a pesquisadora acompanhou as consultas no Ambulatório de Diabetes do HCFMUSP e após o término do atendimento, os pacientes foram abordados. Inicialmente, foi apresentado ao paciente o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), que foi apresentado em duas vias, sendo uma via para o participante e outra via para a pesquisadora e, na sequência, foi dada à aplicação dos instrumentos.

As informações coletadas na entrevista semiestruturada e no SAT foram analisados de forma qualitativa no método de estudo de caso múltiplo (Steak, 2007).

O estudo de caso múltiplo caracteriza-se como o estudo profundo de um objeto, de maneira a permitir amplo e detalhado conhecimento sobre o mesmo.

RESULTADOS A - João

A.1 Relato da história clínica

João foi um participante responsivo, receptivo e bem-humorado diante dos questionamentos. Respondeu todas as perguntas atribuindo detalhes, que contribuíram para com a proposta do estudo. Ao contextualizar como adquiriu a diabetes, João discorre que a descoberta foi através da percepção de mudanças

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físicas. Disse que a perda de peso foi significativa nesse período e passou constantemente por consulta médica com clínico geral para a realização de diversos exames bioquímicos. Conta que após o diagnóstico sentiu-se “bravo” e que houve aumento do apetite, pois não conseguia saciar-se após a alimentação.

Diante de uma perspectiva futura relacionada à doença, o participante diz “é ficar bom disso aí”, além disso acredita que a fé tem papel importante no processo, segundo ele até alcançar a melhora é necessário “seguir com fé, muita fé e eu fico bom disso aí”, percebe-se que João estabelece um paralelo entre a expectativa de melhora e a fé, essa que o ajuda e o fortalece para manter-se confiante de que conseguirá “ir em frente” sem desanimar, pois assim acredita que irá recuperar-se.

A.2 SAT

No SAT o participante relata que observa um senhor de idade, que está sozinho e pega um medicamento, diz “ele não está enxergando bem”. Repete posteriormente que está vendo “uma pessoa de idade pegando um frasco de medicamento”. Segundo ele essa pessoa está doente e, mora sozinha e que depois “irá acontecer o pior”, pois não há quem cuide dele. Considera que o “pior” é a tristeza e a solidão, permanecer sozinho sem que haja alguém para conversar. Pelo fato de não haver quem cuide dele o “pior” acontece porque “A pessoa fica isolada”.

As questões emocionais não são relatadas por João, a autopercepção em relação à doença diz respeito apenas às mudanças de hábitos comportamentais e alimentares. João considera que não enfrenta dificuldades no tratamento e refere-se ao processo como sendo “tranquilo” e “normal”, porém na projeção realizada através da situação apresentada à João, houve muito conteúdo emocional, afetivo e familiar envolvidos no processo, mas que não foi trazido no momento da entrevista. A técnica projetiva contribuiu para que João trouxesse conteúdos emocionais vivenciadas por ele e que não são compartilhados, porém, despertam influência no processo de elaboração de mecanismos para o enfrentamento da doença e perspectivas futuras.

B. – Ana

B.1 - Relato da história clínica

Ao esclarecer como descobriu a diabetes Ana inicialmente não soube descrever os sintomas que a levou a procurar o médico, relata que “já tava assim meio coisa né”. Após ida efetiva ao médico descobriu de fato que havia adquirido DM2.

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Conta que sentia “tanta coisa” e, acredita que possa estar equivocada na percepção que tem de que a aquisição da DM2 teria sido resultante de fatores emocionais, pois após a separação da filha, o seu neto “foi no lugar errado” e “foi morto” e, que após esse episódio, difícil inclusive para ser contado atualmente, visto que Ana se emocionou, acredita que isto tenha acarretado o seu quadro de DM2.

Além dessa perda Ana ainda relata que após um tempo outro neto também faleceu, ambos os netos de Ana faleceram de overdose. Considera que os primeiros sintomas, portanto “os problemas da diabetes” iniciaram há muito tempo assim como quando os netos faleceram, Ana não sabe especificar ao certo o ano. A participante possui dificuldade para elucidar datas por isso recorre à filha.

Ana é incerta ao relatar sobre os sintomas e relaciona a doença com fatores emocionais, mas ao frequentar o médico esse confirmou para ela que “a diabetes era emocional”. Em relação à perspectiva futura frente a doença, a participante mostra-se desalentada, diz que para “diabetes acha que a cura é a morte” após essa fala, Ana torna a se emocionar.

B.2 SAT

Ana observa no SAT “uma pessoa que tem tristeza na vida e se joga no lado errado”. Ela atribui a expressão “lado errado” o significado de “morar na rua” ou “ficar quieta num canto debaixo de uma ponte, lá naquela pobreza”. Segundo ela, a pessoa está mostrando um vidro de remédio, com o braço levantado, erguendo o frasco. Essa pessoa irá se “jogar na tristeza e vão matar”. E complementa dizendo que “é a vida assim”, “não tem mais benção pra ela”.

A identificação com o estímulo se dá quando Ana diz que acredita que a pessoa está “mostrando um vidrinho de remédio” situação corriqueira na vida dela. Atribui limitação ao que diz respeito a melhora quando diz que a “pessoa” que observava na figura “não tem mais benção pra ela” como ela comentou sobre perspectivas futuras mostrando-se bem pessimista “diabetes, acho que a cura é a morte”, semelhante a visão que tem para si própria no que diz respeito a DM2. Além disso, esse conteúdo apresentado por Ana possui duplo sentido, pois ela expõe sentimentos ambíguos que se referem tanto à doença enfrentada por ela quanto a tristeza que sente ao relatar sobre o falecimento dos netos.

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Discussão integradora dos resultados

João ressalta que segue uma rotina regrada e, demonstra preocupação com o peso. A adesão ao tratamento da DM2 exige mudança tanto no comportamento como no estilo de vida do paciente. Para João e Ana a descoberta da diabetes foi devido a percepção de mudanças físicas. Ana, não definiu exatamente o sintoma que a levou ao médico, mas acredita que a diabetes foi desencadeada por aspectos emocionais, o que foi confirmado pelo médico. Percebe-se que existe uma congruência entre os relatos, visto que a descoberta não foi através de um exame de rotina, mas sim sintomas desagradáveis que impediam de seguir suas vidas e por isso foi necessário à procura da avaliação médica.

Ao comentar sobre aspectos emocionais após o diagnóstico, Ana chora e acredita que a diabetes possui relação com momentos críticos em sua vida familiar e, João contou que ficou bravo após o diagnóstico. Nota-se que todos realçaram emoções parecidas de tristeza diante da descoberta da doença crônica. João, ao abordar sobre a perspectiva futura com relação à doença, comentam que possui fé em Deus e que espera melhorar. Apesar de não associar melhora dos sintomas da doença e fé Ana também cita Deus ao se referir ao local onde realiza o tratamento

“graças a Deus estou em um bom lugar”. Como já discutido acima, a religiosidade assume papel importante na vida do idoso, pois eles compreendem a importância da espiritualidade em sua vida e a relação da religiosidade com a velhice está na capacidade de suportar as limitações, perdas e dificuldades que perpassam no decorrer do processo (Chaves & Gil, 2015).

Gil (2010) afirma que as técnicas projetivas facilitam a expressão de aspectos emocionais e na elaboração de conteúdos psíquicos do indivíduo. Visto que, possibilita a emersão de conteúdos latentes e inconscientes, os instrumentos projetivos podem ter a função de mediador do contato entre paciente e psicólogo, participante e pesquisador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, foram avaliados dois idosos portadores de DM2, sendo um homem e uma mulher. No que se refere à visão da doença do Diabetes e as interferências desta na vida do indivíduo, perdas e adaptação foram destacados pelos participantes. Além disso, foi hegemônico a incorrência de mudança no estilo de vida e a necessidade do autocuidado para o tratamento do diabetes.

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Os idosos evocaram, principalmente, as dificuldades enfrentadas no que diz respeito ao diagnóstico e convivência com a DM2. Destacam-se os conteúdos associados à privação, restrição em relação ao estilo de vida que levava anteriormente, limitações físicas e a relação com os familiares.

Destaca-se que os instrumentos utilizados contribuíram de modo relevante para esta pesquisa, pois eles possibilitaram a emersão de conteúdos latentes relacionados ao DM2, que não puderam ser atribuídos de modo manifesto, servindo como mediadores e facilitadores nesses aspectos. Como limitações desse estudo, pode-se considerar as resistências dos participantes para relatar sobre as dificuldades no tratamento, visto que alguns dos participantes responderam à entrevista de forma direta e através de monossílabos, o que dificultou o aprofundamento das análises.

FONTES CONSULTADAS

Bellak, L., & Abrams, D. M. (1998). Manual for the senior apperception technique. New York, NY: CPS.

Chaves, L.J, & Gil, C. A. (2015). Concepções de idosos sobre espiritualidade relacionada ao envelhecimento e qualidade de vida. Ciênc. Saúde coletiva, 20 (12), 3641-3652. Doi:10.1590/1413-812320152012.19062014.

Gil, C. A. (2010). Recordação e transicionalidade: a oficina de cartas, fotografias e lembranças como intervenção psicoterapêutica grupal com idosos. (Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Recuperado de www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde20012011.../gil_do2.pdf.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2018. Projeção da população 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Recuperado de:https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-

dapopulacao.html? t=resultados.

Jerez-roing, J., Souza, D.L.B., Andrade, F.L.J.P., Filho, B.F.L., Medeiros, R.J., Oliveira, N.P.D., Neto, S.M.C., Lima, K.C. (2016). Autopercepção da saúde em idosos institucionalizados. Ciênc. saúde coletiva, 21 (11), 3367-3375. Doi:

10.1590/1413-812320152111.15562015.

Ministério da Saúde. (2013). Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:

diabetes mellitus. Recuperado de:

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http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategias_cuidado_pessoa_diabete s_mellitus_cab36.pdf

Turato, E. R. (2013). Clarificando para o empreendimento da pesquisa clínico- qualitativa. In E. R. Turato, Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa:

construção teórico epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas (6ª ed., pp. 245-303). Petrópolis, RJ: Vozes.

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