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Dignidade da Vida Humana

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Academic year: 2022

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Dignidade da Vida Humana

Unidade letiva 1

O dom supremo da vida humana O valor da vida Mensagem cristã sobre o amor ao próximo A dignidade da vida humana em atitudes Vida humana: Originalidade e Beleza

(2)

João Paulo II percorreu o mundo revelando o seu amor por toda a humanidade. Fez viagens apostólicas a cento e vinte e nove países.

O seu amor aos jovens impulsionou-o a iniciar as Jornadas Mundiais da Juventude. E a sua atenção para com a família deu origem aos Encontros Mundiais das Famílias. Faleceu no dia 2 de abril de 2005. Desde essa noite até ao dia 8 de abril, momento em que se celebraram as exéquias, deslocaram-se mais de três milhões de peregrinos à basílica de São Pedro para lhe prestar homenagem.

Foi canonizado em 27 de abril de 2014.

Olá!

Com certeza já ouviste falar de mim. Sabes que tenho um carinho especial pelo teu país, que visitei cinco vezes.

Chamo-me Karol Józef Wojtyła e, quando fui eleito papa em 1978, escolhi o nome João Paulo II.

Nasci em Wadowice, uma pequena cidade perto de Cracóvia (Polónia), em 1920. Era o mais novo de três filhos. A minha mãe faleceu quando eu tinha nove anos; os meus irmãos também morreram muito jovens.

Fui batizado logo em criança e aos nove anos fiz a primeira comunhão. Aos dezoito, recebi a confirmação e matriculei-me na universidade de Cracóvia e numa escola de teatro – uma das minhas grandes paixões.

Quando o exército nazi ocupou a Polónia e fechou a universidade, em 1939, tive de ir trabalhar numa fábrica de produtos químicos, de modo a evitar a deportação para a Alemanha .

Por volta dos vinte e dois anos senti vocação para ser padre e ingressei no seminário de Cracóvia . Fui ordenado presbítero no dia 1 de novembro de 1946, já a guerra havia terminado. Nos anos que se seguiram continuei a estudar e também fui professor. Em 1958 fui ordenado bispo e participei nos trabalhos do Concílio Vaticano II (1962-1965).

Escolheram-me para apresentar esta unidade letiva sobre a dignidade da vida humana por ter sido a temática que mais me preocupou e que mais me fez refletir, escrever, falar e viajar.

Sempre que tinha oportunidade alertava as pessoas com quem me encontrava para o inestimável valor da vida humana, a riqueza que cada ser humano – único e irrepetível – significa para o outro e para o mundo.

Desejo sinceramente que a reflexão que vais fazer ao longo desta unidade letiva te ajude a reconhecer o bem e a beleza de cada pessoa .

(3)

Dignidade (do latim dignitas – virtude, honra, consideração) é uma característica inerente ao ser humano. A pessoa desenvolve-se num contínuo processo de autorrealização pessoal e social, mas esse facto não altera nem diminui a sua constante dignidade. Pelo simples facto de ser humana, a pessoa goza de valor inestimável e merece todo o respeito.

A dignidade da pessoa humana – núcleo essencial dos direitos fundamentais – é o supremo valor ético da civilização moderna.

Tu és especial

No início de uma conferência, um famoso orador mostrou uma nota de cinquenta euros, e perguntou:

– Quem quer esta nota?

Todos os que estavam na assembleia levantaram a mão.

O conferencista amarrotou-a e voltou a perguntar, enquanto a exibia:

– Quem está ainda interessado nesta nota?

E as mãos voltaram a erguer-se.

Então, deixou-a cair no chão e pisou-a violentamente. Depois pegou na nota suja e amarrotada e perguntou de novo:

– E agora? Ainda há alguém que a queira?

E mais uma vez as mãos se levantaram.

– Meus amigos – continuou o conferencista –, seja o que for que eu faça com esta nota, a maior parte das pessoas permanecerá interessada nela, porque, apesar do seu aspeto, não perde valor. Limpa ou suja, amarrotada ou não, valerá sempre cinquenta euros.

Mas, como podem calcular, não vim aqui para vos falar de questões financeiras.

Muitas vezes, na vida pessoal, somos amarrotados, humilhados e conspurcados por decisões que tomamos ou por circunstâncias que não dependem da nossa vontade. Quando tal sucede sentimo-nos profundamente desvalorizados ou mesmo insignificantes. Mas, aconteça o que acontecer, seja qual for a forma como nos sentimos, nunca perderemos o nosso valor nem a nossa dignidade. Quer estejamos sujos ou limpos, diminuídos ou inteiros, perdidos ou norteados, nada nos pode roubar o que verdadeiramente somos. É que o valor das nossas vidas não reside fundamentalmente no que fazemos ou sabemos, reside sobretudo no que somos. E todos somos especiais, porque únicos e irrepetíveis.

No meio das adversidades da vida, não nos esqueçamos disto! Autor desconhecido

O dom supremo

da vida humana

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1. Em que consiste a dignidade da vida humana?

2. Qual o motivo pelo qual se pode afirmar que a vida humana é o valor primordial?

TAREFA

A vida – dádiva de Deus

e primordial direito humano

Na perspetiva religiosa Deus é a origem da vida. É nele que se encontra a plenitude da existência, em toda a sua perfeição, a qual não conhece início nem terá ocaso. O ser humano é um ser vivente porque recebeu de Deus a vida como um dom inestimável.

A vida é, pois, o primeiro dom de Deus. Todo o crente sente que tem para com ele uma enorme dívida de gratidão. Nada fez para merecer existir e, contudo, Deus quis que existisse. Por isso agradece a Deus esta dádiva fundamental.

Mas a melhor maneira de a agradecer é cultivá-la e respeitá-la, como quem cuida da maior prenda que alguma vez lhe tenha sido oferecida. É por isso que o respeito pela vida faz parte do Decálogo: «Não matarás».

A vida humana é o valor primordial e condição de possibilidade de todos os outros valores. Como poderíamos, por exemplo, exigir que se fizesse justiça a alguém se lhe negássemos o direito de existir? Se a vida humana não estiver assegurada é simplesmente impossível a realização dos outros valores.

A criação de Adão, Miguel Ângelo (1475-1564) [Capela Sistina]

Declarações de direitos

A dignidade da vida humana é um valor partilhado pelas várias civilizações, que, de uma ou de outra forma, a entendem como um dom a respeitar e a preservar.

Uma vez que o ser humano é – em variadas situações – agredido, negado e violentado, ficando a vida humana seriamente comprometida, a humanidade elaborou códigos que têm como objetivo defender expressamente a vida humana e a sua dignidade.

(5)

Juramento de Hipócrates

Juro por Apolo médico, por Esculápio, por Higia, por Panaceia e por todos os deuses e deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com todas as minhas forças físicas e intelectuais. Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres. Guardarei castidade e santidade na minha vida e na minha profissão.

https://www.ordemdosmedicos.pt/

Hipócrates nasceu no século V a.C., na Grécia. Médico, compreendia a sua atividade como um serviço à vida. É considerado o «pai da medicina».

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 1.º

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2.º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa.

Artigo 3.º

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

https://dre.pt/comum/html/legis/dudh.html

Doc.1

Doc.2

(6)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi proclamada a 10 de dezembro de 1948 com o objetivo de defender a dignidade humana (severamente humilhada na segunda guerra mundial) e continua a exprimir o grito humano de libertação de todas as formas de opressão. No humanismo dos seus artigos manifesta-se o sonho de uma sociedade onde todos possam ser felizes, qualquer que seja a sua condição. Esta chama tem iluminado o mundo inteiro, incluindo o processo de construção europeia.

Ao expor os direitos, liberdades e garantias do ser humano, este documento, baseado na noção de dignidade humana, apresenta a vida como um valor primordial e inviolável.

A Constituição da República Portuguesa, lei fundamental de Portugal (promulgada em abril de 1976), reconhece a dignidade da pessoa, da qual decorrem os outros direitos e afirma a inviolabilidade da vida humana.

Constituição da República Portuguesa

Artigo 1.º

Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Artigo 13.º

Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

Artigo 24.º

A vida humana é inviolável. Em caso algum haverá pena de morte.

http://dre.pt/comum/html/legis/crp.html

Doc.3

Dia dos direitos humanos

(7)

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, formalmente adotada em dezembro de 2000, representa um compromisso político e social onde se afirma que o direito à vida e a dignidade do ser humano fazem parte do património ético dos povos da europa.

Carta dos Direitos

Fundamentais da União Europeia

Preâmbulo

Os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união cada vez mais estreita, decidiram partilhar um futuro de paz, assente em valores comuns. Consciente do seu património espiritual e moral, a União baseia-se nos valores indivisíveis e universais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da solidariedade.

Artigo 1.º

A dignidade do ser humano é inviolável. Deve ser respeitada e protegida.

Artigo 2.º

Todas as pessoas têm direito à vida. Ninguém pode ser condenado à pena de morte, nem executado.

Artigo 3.º

Todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua integridade física e mental.

No domínio da medicina e da biologia, devem ser respeitadas, designadamente:

– a proibição das práticas eugénicas, nomeadamente das que têm por finalidade a seleção das pessoas; – a proibição de transformar o corpo humano ou as suas partes, enquanto tais, numa fonte de lucro.

Artigo 4.º

Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas desumanos ou degradantes.

http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/index.htm

3. Qual a finalidade das declarações de direitos humanos?

TAREFA

Doc.4

(8)

O valor da vida humana nas religiões

Todas as religiões exaltam o valor da vida e da dignidade humana apelando ao respeito pela pessoa.

Hinduísmo

Eu não desejo matar os meus professores, tios, filhos, avós, sogros, netos, cunhados e outros parentes. Ó Senhor Krishna, que prazer há em matar os nossos primos? Por matar os nossos semelhantes nós iremos incorrer num crime e, consequentemente, num pecado. Portanto, nós não mataremos os nossos primos. Como pode alguém ser feliz depois de matar os seus parentes, ó Krishna? De qualquer modo, eles estão cegos pela ambição e não veem maldade na destruição da família ou pecado por traírem os seus amigos.

Bhagavad-Gita

Budismo

Tudo o que existe no mundo possui uma alma, não só o ser humano e os animais, como também as plantas, as pedras, as gotas de água, etc.

O respeito pela vida é o primeiro e o mais importante mandamento budista.

Por essa razão é que, ao andar, deve o monge varrer diante de si para não correr o risco de matar algum animal pequeno.

A doutrina budista proclama o respeito absoluto pela vida humana.

Mircea Eliade, História das Ideias e Crenças Religiosas

Islão

Vós que credes, sede firmes na distribuição da justiça, mesmo contra vós mesmos, vossos pais e vossos parentes, trate-se de ricos ou indigentes. Deus vela sobre todos.

Quem matar uma pessoa seja julgado como se houvesse matado toda a humanidade.

Todos os crentes são irmãos. Fazei a paz entre os vossos irmãos e temei a Deus.

Alcorão 4,135; 5,33; 49,10

Doc.5

Doc.6

Doc.7

(9)

Judaísmo e Cristianismo

A vida é sempre um bem. Esta é uma intuição ou até um dado de experiência, cuja razão profunda o homem é chamado a compreender.

Por que motivo a vida é um bem? Esta pergunta percorre a Bíblia inteira, encontrando já nas primeiras páginas uma resposta eficaz e admirável. A vida que Deus dá ao homem é diversa e original, se comparada com a de qualquer outra criatura viva, dado que ele, apesar de emparentado com o pó da terra, é, no mundo, manifestação de Deus, sinal da sua presença, vestígio da sua glória. Isto mesmo quis sublinhar Santo Ireneu de Lião, com a célebre definição: «A glória de Deus é o homem vivo».

Ao homem foi dada uma dignidade sublime, que tem as suas raízes na ligação íntima que o une ao seu Criador: no homem, brilha um reflexo da própria realidade de Deus.

«Que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para dele cuidardes?»

– interroga-se o salmista (Sal 8,5). Diante da imensidão do universo, coisa bem pequena é o homem; mas é precisamente este contraste que faz sobressair a sua grandeza: «Pouco lhe falta para que seja um ser divino; de glória e de honra o coroastes» (Sal 8,6). A glória de Deus resplandece no rosto do homem. Nele, o Criador encontra o seu repouso, como comenta, maravilhado e comovido, Santo Ambrósio: «Terminou o sexto dia, ficando concluída a criação do mundo com a formação daquela obra-prima, o homem, que exerce o domínio sobre todos os seres vivos e é como que o ápice do universo e a suprema beleza de todo o ser criado.

Verdadeiramente deveremos manter um silêncio reverente, já que o Senhor Se repousou de toda a obra do mundo. Repousou-Se no íntimo do homem, repousou- -Se na sua mente e no seu pensamento; de facto, tinha criado o homem dotado de razão, capaz de O imitar, desejoso das graças celestes».

João Paulo II, Evangelium Vitae, 34-35

Doc.8

(10)

4. Porque é que a vida é sempre um bem?

TAREFA

que a dignidade da pessoa humana é um valor inalienável, mas que precisa de ser cuidado.

Decálogo

Preceitos de Buda

Juramento de

Hipócrates Bhagavad-Gita Mandamento

do Amor (Jesus)

Alcorão

D.U.D.H.

Carta dos Direitos Fundamentais da União

Europeia

Constituição da República Portuguesa Defesa da vida humana

- um percurso

Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na do outro, sempre e ao mesmo tempo, como um fim e nunca simplesmente como um meio.

Immanuel Kant (1724-1804) Séc. XIII a.C. Séc. V a.C. Séc. IV a.C. Séc. I Séc. VII 1948 1976 2000

(11)

A vida humana é o valor primordial, pelo que toda a ação política, económica e pessoal deve ter como parâmetro orientador e balizador o princípio da dignidade da pessoa humana.

Apesar de ser o valor primeiro, a vida pode não ser um valor supremo. Sempre se considerou uma característica de heroísmo ou de santidade dar a vida para ajudar os semelhantes (valor ético) ou para defender as próprias crenças (valor religioso).

Ainda que não seja um bem absoluto, por ser humana, a vida merece e exige o devido respeito, porque cada pessoa transporta consigo a dignidade da sua pertença à condição humana.

Cada humano “é presença de Deus”.

Cuidar da vida até à morte

A revelação bíblica mostra-nos a existência humana como resultado da bondade divina, isto é, como um dom que suscita em nós gratidão e não nos dispensa da responsabilidade de cuidar dele. Para o crente, a vida não está à inteira disposição de quem quer que seja, não é arbitrariamente disponível, mas tem de ser respeitada como a condição básica de realização pessoal.

A vida humana é prévia a qualquer projeto pessoal, por isso ninguém é senhor absoluto da sua própria vida e muito menos senhor da vida dos outros. A convicção de que só Deus é o Senhor da vida não retira ao ser humano a sua responsabilidade de procurar as melhores opções para cuidar da vida que tem diante de si. Cada pessoa deve ser respeitada como sujeito da sua própria existência e nunca simplesmente como objeto do qual se possa dispor arbitrariamente. (…) A obrigação moral de garantir à vida humana uma especial proteção está testemunhada em preceitos primordiais da humanidade, com expressões diversas em todas as culturas, e codificada no mandamento bíblico do Decálogo: «Não matarás» (Dt 5,17).

Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 2009

5. Porque é que a vida humana é um valor primordial mas não absoluto?

TAREFA

O valor da vida

Doc.9

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Dar a própria vida pelo outro

Ao longo da história, encontramos vários testemunhos de pessoas que, com toda a dignidade, foram capazes de entregar a sua própria vida em prol dos outros. Giana Beretta Molla e Martin Luther King são dois exemplos de entrega da própria vida em benefício da vida de outrem.

Mãe de Família

Gianna Beretta Molla (1922-1962), médica italiana, casada e mãe de quatro filhos, foi proclamada santa pela Igreja católica.

Fruto do seu matrimónio com Pietro Molla nasceram quatro crianças: Pierluigi, Mariolina, Laura e Gianna Emanuela. Na última gestação, aos 39 anos, descobriu que tinha um fibroma no útero. Foram-lhe apresentadas três opções: retirar o útero doente, o que ocasionaria a morte da criança; abortar o feto; ou, a mais arriscada, submeter-se a uma cirurgia de risco e preservar a gravidez. Não hesitou! Disse:

«Salvem a criança, pois tem o direito de viver e ser feliz!» Submeteu-se à cirurgia.

Alguns dias antes do parto, sempre com grande confiança em Deus, disponibilizou-se para sacrificar a sua vida se essa fosse a condição para salvar a do filho: «Se tiverem de decidir entre mim e o meu filho, nenhuma hesitação: exijo que escolham a criança. Salvem-na». Deu entrada, para o parto, na sexta-feira santa de 1962. No dia seguinte, 21 de abril, nasceu Gianna Emanuela. Gianna Beretta morreu uma semana depois.

Foi beatificada em 1994, Ano Internacional da Família, e canonizada no dia 16 de maio de 2004, recebendo do papa João Paulo II o sugestivo título de «Mãe de Família».

Adaptado de http://www.vatican.va/

Doc.10

(13)

Em prol da justiça e da fraternidade

Martin Luther King (1929-1968) foi um pastor batista e um importante ativista político norte-americano. Lutou em defesa dos direitos sociais para os negros e as mulheres, combatendo o preconceito e o racismo. Defendia a luta pacífica, baseada no amor ao próximo, como forma de construir um mundo melhor, fundamentado na igualdade de direitos sociais e económicos.

Em 1955 foi um dos líderes ao boicote às empresas de transportes, que levou a Suprema Corte Americana a pôr fim à discriminação que havia contra os negros nos transportes públicos. Na década de 1960 Luther King liderou várias manifestações pacíficas defendendo os direitos dos negros. Em 1964 recebeu o Prémio Nobel da Paz por combater pacificamente o preconceito racial nos Estados Unidos. Em 1968 organizou a Campanha dos Pobres, apelando à justiça social e económica.

Com a sua atuação social e política, Luther King despertou muito ódio naqueles que defendiam a segregação racial. Durante quase toda a sua vida adulta foi constantemente ameaçado de morte por estas pessoas e grupos.

Na manhã de 4 de abril de 1968, antes de uma marcha, Martin Luther King foi assassinado no quarto de um hotel na cidade de Memphis.

A sua atuação foi fundamental nas mudanças que ocorreram nas leis dos Estados Unidos da América nas décadas de 1950 e 1960. As leis segregacionistas foram caindo dando espaço a uma legislação mais justa e igualitária.

Adaptado de Christy Whitman, O jovem Martin Luther King

6. Dar a própria vida por uma causa ou um projeto será estupidez ou uma atitude aliciante e radical? Justifica a resposta.

TAREFA

Doc.11

O que mais preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.

Luther King

(14)

Dar a vida pela verdade libertadora

Ao apresentar-se como pastor, Jesus quer identificar-se com a vida e o cuidado de cada pessoa. A figura do Bom Pastor transporta-nos para a doação, a simplicidade, o serviço, a proteção total.

Um pastor de ovelhas cuida do rebanho para sua própria conveniência: para aproveitar a lã, o leite e a carne; e em situação de perigo (por exemplo ataque de um lobo) foge, deixando as ovelhas em risco. Mas um bom pastor nunca abandona as suas ovelhas. Um bom pastor é aquele que se torna íntimo do rebanho, que conhece cada ovelha e é reconhecido por elas. Conduz cada uma a pastagens seguras e refrescantes sendo especialmente atencioso para com a ovelha debilitada (que carrega aos ombros) sempre com a preocupação de não perder nenhuma.

Jesus é o Bom Pastor que protege, ama e salva da destruição proporcionando a vida eterna, ou seja, uma vida em comunhão com o próprio Deus. Morreu dando a vida por nós, suas ovelhas, mas ressuscitou e continua a ser o Bom Pastor.

Também estas “ovelhas”, cada uma na sua medida, têm a missão de imitar o Pastor, oferecendo a vida pelos outros numa dinâmica de amor gratuito. Ser Bom Pastor é entregar-se a projetos de amor ao serviço dos outros dignificando a vida.

que o valor da vida humana implica um agir ético em situações vitais do quotidiano.

Bom Pastor, Vitral da Igreja de Santo Condestável, Lisboa

O Bom Pastor

11Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 14Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me,

15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas.

Jo 10,11.14-15

(15)

7. Pesquisa notícias sobre grupos em desvantagem social.

TAREFA

Grupos em desvantagem social

A ética vigente exige o respeito pela pessoa e pelos seus direitos, garantindo o exercício da liberdade e o reconhecimento fundamental dos valores da igualdade e da fraternidade, que excluem quaisquer segregações. Mas apesar da consciência universal dos direitos humanos, o preconceito e a discriminação continuam a produzir ataques à dignidade humana.

Muitos grupos minoritários ou

«não produtivos» continuam em situação de desamparo.

Ideologias racistas e fanatismos políticos e religiosos continuam a dizimar vidas humanas.

Crianças, idosos, deficientes e doentes terminais continuam a ser maltratados.

A vida é um bem inestimável. Mas a história da humanidade está repleta de contínuos atentados à vida humana e de brutais violências contra o ser humano.

Tal acontece porque cada pessoa é, em si mesma, um ser dividido; no seu coração habitam o bem e o mal. Por imperativos egoístas ou por condicionalismos sociais, aprisiona, por vezes, a liberdade e a dignidade dos outros. Se é verdade que «a medida do amor é amar sem medida» – princípio que tem sido testemunhado por muitas pessoas de bem –, também é verdade que outros não se deixaram transformar pela beleza da vida. E o preço a pagar tem sido excessivo.

Maus tratos contra crianças e jovens

Os maus tratos contra crianças e jovens podem ser definidos como qualquer ação ou omissão não acidental perpetrada pelos pais, cuidadores ou outrem que ameace a segurança, dignidade e desenvolvimento biopsicossocial e afetivo da vítima.

Qualquer tipo de mau trato atenta, de forma direta, contra a satisfação adequada dos direitos e das necessidades fundamentais das crianças e jovens, não garantindo, por este meio, o crescimento e desenvolvimento pleno e integral de todas as suas competências físicas, cognitivas, psicológicas e socioemocionais.

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Manual Crianças e Jovens vítimas de violência: compreender, intervir e prevenir

Doc.12

(16)

8. Comenta a afirmação

«Antigamente os mais velhos eram respeitados, tidos como fonte de sabedoria».

TAREFA

Idosos vítimas de crime

Nos últimos anos aumentaram as queixas de violência contra idosos. O aumento da esperança média de vida e o enfraquecimento dos sistemas de proteção social, coloca-os numa situação de grande fragilidade. É urgente mudar mentalidades e recuperar o respeito pelo saber de experiência feito. Tendemos a associar imediatamente o termo violência a maus tratos físicos, no entanto, o âmbito da violência contra os idosos assume muitos outros contornos tão ou mais graves do que a agressão física, tais como agressões psicológicas, privação de cuidados adequados, abandono, desvalorização da sua personalidade e experiência, usurpação e administração indevida dos seus próprios bens.

A sociedade atual tem vindo a tratar muito mal os idosos, desvalorizando-os constantemente. Os ritmos de vida, as exigências profissionais e a falta de medidas específicas para o desenvolvimento de recursos para integração e proteção dos idosos acabam por potenciar uma cultura em que os mais velhos são postos de parte por não corresponderem aos padrões sociais de beleza, dinheiro e consumo.

É preciso recuperar a importância do papel do idoso para a comunidade e assegurar ou reforçar a formação

dos técnicos que trabalham diretamente com eles em casas de repouso e lares. Se antigamente os mais velhos eram respeitados, tidos como fonte de sabedoria, hoje a permanente falta de tempo e a busca incessante pela novidade ignora a sua experiência de vida. Esta é uma atitude que nos cabe alterar e que espelha também a nossa fuga perante o inevitável envelhecimento.

Excertos de Vânia Machado, Família Cristã, fevereiro de 2009

Cristãos enfrentam perseguição em mais de 60 países

A Coreia do Norte ocupa, pelo 12º ano consecutivo, o primeiro lugar na World Watch List de 2013.

A World Watch List é um ranking de 50 países onde a perseguição aos cristãos por motivos religiosos – e não por motivos políticos, económicos, sociais, étnicos ou acidentais – é mais grave.

A opressão comunista na Coreia do Norte não deixa espaço para qualquer outra re- ligião que não seja a adoração da dinastia Kim. Os cristãos são enviados para campos de trabalho de onde não há libertação possível.

Por causa do fundamentalismo islâmico, em 2013 a Somália é o segundo lugar do mundo onde é mais difícil ser cristão e a Síria, o terceiro.

Adaptado de http://www.worldwatchlist.us/

www.apav.pt

*

*0,100€ / min de rede fixa,

0,250€ / min de rede móvel, tarifação ao segundo após o 1º minuto

Doc.13

Doc.14

(17)

Na origem dos atentados à dignidade humana estão, quase sempre, atitudes preconceituosas e egoístas.

O

preconceito

é um juízo (opinião) preconcebido, injustificado e irracional. Manifesta-se geralmente em atitudes discriminatórias relativamente a determinadas pessoas, lugares, ideologias ou tradições que, pelo simples facto de serem diferentes, são considerados destituídos de valor. Indica, portanto, desconhecimento e ignorância relativamente ao outro. Em geral, a ignorância produz o medo do que se desconhece e conduz à adoção de comportamentos defensivos que podem manifestar-se desde a simples indiferença até à violência explícita. O outro, cuja verdadeira natureza se ignora, é entendido como uma ameaça, como um potencial inimigo que deve, por conseguinte, ser combatido ou mesmo eliminado. O preconceito conduz ao autoritarismo, à discriminação, à marginalização e à violência.

O

racismo

é uma forma de pensar e de agir fundada num preconceito.

Acredita-se que alguns indivíduos ou grupos, pelo simples facto de possuírem determinadas características físicas hereditárias ou certo tipo de manifestações culturais, são seres inferiores. O racismo baseia-se em opiniões preconcebidas e injustificadas segundo as quais as diferenças biológicas entre os seres humanos lhes atribuem um estatuto superior ou inferior. De acordo com esta ideologia, os seres humanos não têm todos o mesmo valor nem são todos dotados da mesma dignidade. O valor depende da sua pertença a determinados grupos raciais. O racismo pretende justificar a escravidão, a opressão, o domínio de uns povos sobre outros, o genocídio contra um grupo ou uma etnia. O racismo afirma a necessidade de um grupo social dominante (em termos económicos ou numéricos) se distanciar de outros grupos que, por razões históricas, possuem tradições ou comportamentos diferentes. O grupo dominante constrói um mito (um estereótipo) sobre os outros grupos e com base nessa ideia preconcebida nega-lhes a liberdade ou mesmo o direito à existência.

(18)

Ser racista é desprezar o outro em nome da sua pertença a um grupo que se distingue pela cor da pele ou por outras características físicas, normalmente associadas ao uso de uma língua própria, à prática de uma religião diferente, etc. Os racistas utilizam sempre argumentos de ordem irracional para justificar a hierarquização entre as pessoas.

Estalinismo

é o regime político adotado por Joseph Stalin, líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) entre 1929

e 1953.

Stalin impôs aos soviéticos um governo totalitário, baseado na eliminação de qualquer oposição ao regime e na constituição de um

poderio militar que colocou a URSS em condições de levar adiante uma Guerra Fria com os Estados Unidos. A grande meta de Stalin era tornar a URSS uma potência industrial. Para construir as indústrias expropriou os agricultores. Muitos camponeses e fazendeiros ricos foram mortos. Toda a produção tinha de ser entregue ao Estado e os operários foram impedidos de mudar de emprego e de fazerem greves. Cerca de 20 milhões de pessoas foram mortas nas perseguições políticas e na coletivização forçada das terras agrícolas e outros 20 milhões terão sido vítimas de prisões e exílios. Stalin é considerado um dos piores tiranos da história.

9. Define

“preconceito” e

“racismo” ilustrando- -os com episódios históricos.

TAREFA

As diferenças entre as pessoas ou os grupos humanos não justificam que se lhes atribua um valor diferente. Ser pobre ou rico, europeu ou asiático, preto ou branco, não retira nem acrescenta dignidade ou valor às pessoas.

Xenofobia

é um medo injustificado perante estranhos; é a aversão e hostilidade relativamente a povos estrangeiros. Trata-se de um fenómeno que esteve presente ao longo de toda a história da humanidade e que ainda é atual, particularmente face aos imigrantes.

Preconceito e racismo originaram episódios de inaudita crueldade, entre muitos outros: o estalinismo, o nazismo e o apartheid.

Os homens diferem pelo saber,

mas são iguais na sua aptidão para o saber.

Cícero, filósofo romano

(19)

Nazismo

é a ideologia de Adolf Hitler, líder da Alemanha de 1933 a 1945.

Eleito democraticamente, o führer iniciou uma propaganda alienante, recorrendo à violência policial para implantar uma ditadura baseada no pangermanismo, no racismo, no antissemitismo, no anticomunismo e na oposição ao liberalismo.

O povo alemão, como todos os outros, era bastante miscigenado (mistura de várias etnias) e, portanto, não havia uma «raça pura» cujos traços físicos fossem inteiramente distintos dos

do resto da humanidade. A propaganda nazi defendia a pureza racial do povo alemão e a sua superioridade em relação a todos os povos, pelo que o nazismo implementou formas de discriminação com vista a «purificar» o povo alemão de todo o contágio que pudesse tornar-se um obstáculo à manutenção da «raça pura ariana».

A sede de poder de Hitler não tinha limites. Invadiu e anexou vários países europeus, dando origem à Segunda Guerra Mundial. Um grande objetivo de Hitler era a extinção do povo judeu (a «solução final»). Confinou a população judaica a guetos, sujeitou-a à deportação em massa e isolou-a em campos de concentração. Nestes “campos de morte”, para além de serem sujeitas a trabalhos forçados, as pessoas viviam em condições desumanas. Eram permanentemente torturadas e utilizadas como cobaias em experiências científicas que tinham por objetivo melhorar artificial e cientificamente a «qualidade» da população alemã. Estima-se que cerca de seis milhões de judeus foram vítimas do nazismo.

A este genocídio chama-se geralmente «holocausto». Mas o ódio de Hitler não se confinava apenas ao povo judeu; comunistas, homossexuais, ciganos, pessoas com deficiência e todos os que se opusessem à sanguinária ideologia nazi eram considerados como indignos de existir.

(20)

10. Comenta a frase:

«A Igreja sente o dever de, com coragem, dar voz a quem a não tem»

TAREFA

Apartheid

(separação) foi o regime que manteve a população da África do Sul sob o domínio de um povo de origem europeia (Holanda e Inglaterra) durante quase cinquenta

anos. Embora a segregação na África do Sul existisse desde a colonização no século XVII,

a partir de 1948 passou a ser uma prática legal. Tal legislação dividia os habitantes em grupos raciais. A segregação acontecia nas áreas residenciais, na saúde, na educação e em vários serviços públicos. Aos negros, indianos e mestiços eram prestados serviços muito inferiores.

Este regime político racista, em que uma minoria branca dominava uma maioria negra, chegou ao seu termo quando, por pressão mundial e após a libertação de Nelson Mandela, foram convocadas as primeiras eleições para um governo multirracial de transição, em abril de 1994. Mandela assumiu então a presidência da África do Sul, tornando-se o primeiro presidente negro do país.

Dar voz a quem a não tem

A história da humanidade é testemunha de como o ser humano abusou, e abusa ainda, do poder e das capacidades que lhe foram confiadas por Deus, dando lugar a diversas formas de discriminação injusta e de opressão para com os mais fracos e os mais indefesos. Os atentados quotidianos contra a vida humana; a existência de grandes áreas de pobreza, onde as pessoas morrem de fome e de doença, excluídas dos recursos cognitivos e práticos, que muitos países possuem em abundância;

um progresso tecnológico e industrial que cria o risco concreto de uma queda do ecossistema; o uso das investigações científicas no âmbito da física, da química e da biologia para fins bélicos; as numerosas guerras que ainda hoje dividem povos e culturas, infelizmente são apenas alguns sinais eloquentes de como o ser humano pode fazer mau uso das suas capacidades e tornar-se o pior inimigo de si mesmo, perdendo a consciência da sua alta e específica vocação de colaborador da obra criadora de Deus. Paralelamente, a história da humanidade manifesta um real progresso na compreensão e no reconhecimento do valor e da dignidade de cada pessoa. Assim, por exemplo, as proibições, jurídico-políticas, e não apenas éticas, das diversas formas de racismo e de escravidão, das injustas discriminações e marginalizações das mulheres e crianças e das pessoas doentes ou com grave deficiência são testemunhos evidentes do reconhecimento do valor inalienável e da intrínseca dignidade de cada ser humano e sinal de um progresso autêntico. A Igreja sente o dever de, com coragem, dar voz a quem a não tem. O seu é sempre o grito evangélico em defesa dos pobres do mundo, de quantos são ameaçados, desprezados e oprimidos nos seus direitos humanos.

Congregação para a Doutrina da Fé, Dignitas Personae, 36-37

Doc.15

(21)

Quando um Homem Quiser

Tu que dormes à noite na calçada do relento Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento És meu irmão amigo

És meu irmão.

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume E sofres o Natal da solidão sem um queixume És meu irmão amigo

És meu irmão.

Natal é em dezembro Mas em maio pode ser.

Natal é em setembro

É quando um homem quiser.

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher.

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar Tu que inventas bonecas e comboios de luar E mentes ao teu filho por não os poderes comprar És meu irmão amigo

És meu irmão.

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei És meu irmão amigo

És meu irmão.

José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), As Palavras das Canções

11. Comenta o verso

«Natal é quando nasce uma vida a amanhecer».

TAREFA

interpretar criticamente factos sociais sobre a situação de grupos minoritários em desvantagem e reconheço a importância da proposta do agir ético cristão.

Doc.16

Presépio, Faustino José Rodrigues (1760-1829) [Museu Nacional de Arte Antiga]

(22)

A Igreja Católica na promoção da dignidade da vida humana

De acordo com os apelos e ensinamentos da Igreja Católica cada pessoa deve considerar o próximo como “outro eu”, respeitá-lo e rejeitar tudo o que viola a integridade pessoal e social – porque qualquer forma de discriminação é contrária à vontade de Deus.

Respeito pela pessoa humana

A Igreja recomenda a reverência para com o homem, de maneira que cada um deve considerar o próximo, sem exceção, como um «outro eu», tendo em conta, antes de mais, a sua vida e os meios necessários para a levar dignamente.

Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de todo e qualquer homem, e de o servir efetivamente quando vem ao nosso encontro, quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente desprezado, ou o exilado, ou o indigente que interpela a nossa consciência, recordando a palavra do Senhor: «todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,40).

Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 27

Doc.17

(23)

Igualdade essencial entre todos os homens

A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma vocação e destino divinos.

Sem dúvida, os homens não são todos iguais quanto à capacidade física e forças intelectuais e morais, variadas e diferentes em cada um. Mas deve superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo, etnia, cor, condição social, língua ou religião. É realmente de lamentar que esses direitos fundamentais da pessoa ainda não sejam respeitados em toda a parte. Por exemplo, quando se nega à mulher o poder de escolher livremente o esposo ou o estado de vida ou de conseguir uma educação e cultura iguais às do homem.

Além disso, embora entre os homens haja justas diferenças, a igual dignidade pessoal postula, no entanto, que se chegue a condições de vida mais humanas e justas. Com efeito, as excessivas desigualdades económicas e sociais entre os membros e povos da única família humana provocam o escândalo e são obstáculo à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e, finalmente, à paz social e internacional.

Procurem as instituições humanas, privadas ou públicas, servir a dignidade e o destino do homem, combatendo ao mesmo tempo valorosamente contra qualquer forma de sujeição política ou social e salvaguardando, sob qualquer regime político, os direitos humanos fundamentais.

Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 29

que a mensagem cristã apela à defesa e à promoção da dignidade humana.

12. Qual a posição da Igreja Católica sobre a dignidade da vida humana?

13. A que desafios interpela esta mensagem?

TAREFA

Doc.18

(24)

Na parábola do bom samaritano, Jesus afirma a dignidade da vida humana, qualquer que seja a sua proveniência, e revela a natureza de uma religião autêntica, que consiste não apenas na adesão a determinadas crenças ou na prática de alguns rituais, mas fundamentalmente numa vida orientada pelo princípio do amor ao próximo.

O desafio é valorizar a vida, tornando-se próximo de quem precisa.

14. Quem ajudaria eu? Porque ajudo os outros? Quem precisa mais da minha ajuda?

TAREFA

Mensagem cristã sobre o amor

ao próximo

Parábola do bom samaritano

25Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar:

«Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu:

«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. 33Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. 34Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo:

‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» 37Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»

Lc 10,25-37

(25)

Um doutor da Lei interroga Jesus sobre o que deve fazer para alcançar a vida eterna. É a questão central da vida humana: como alcançar a plenitude da vida, a felicidade sem limites? Mas, na boca do doutor da Lei, é também uma pergunta armadilhada, porque pretendia apanhar Jesus em falso e conseguir matéria para o condenar. Jesus, porém, devolve-lhe a pergunta, conduzindo-o à Lei de Moisés, e o escriba recita o preceito do amor a Deus e ao próximo.

Vendo a sua síntese aprovada, o doutor da Lei acrescenta outra questão muito discutida: «E quem é o meu próximo?»

No tempo de Jesus não havia consenso entre os mestres a respeito desta questão e muitos consideravam que o próximo

era apenas o que pertencia ao mesmo grupo étnico, à mesma religião e ao mesmo grupo social. Jesus, no entanto, tinha uma perspetiva muito diferente da que era geralmente defendida. É precisamente para explicar a sua interpretação que conta a «parábola do bom samaritano».

Os doutores da Lei ou escribas eram peritos na interpretação da Lei de Moisés, cujo cumprimento impunham ao povo. Os sacerdotes, no tempo de Jesus, estavam encarregues de oferecer diariamente sacrifícios no Templo de Jerusalém. Além das tarefas cultuais, competia-lhes a instrução do povo em assuntos religiosos e a administração dos bens do Templo. Os levitas eram auxiliares dos sacerdotes, constituindo uma espécie de baixo clero.

Judeus e samaritanos eram dois povos que viviam separados. Os judeus desprezavam os samaritanos por serem o resultado da miscigenação entre israelitas e outros povos estrangeiros e por não frequentarem o templo de Jerusalém. Por outro lado, os samaritanos retribuíam aos judeus o mesmo desprezo.

A parábola situa-nos na estrada, de cerca de trinta quilómetros, que desce de Jerusalém para Jericó. Era um itinerário perigoso, cheio de contracurvas e ravinas, onde facilmente se escondiam salteadores. Ora «um homem» não identificado (pelo contexto, depreende-se que é um judeu, pois veio de Jerusalém) foi assaltado por bandidos e deixado caído na berma da estrada. Trata-se, portanto, de um homem ferido, abandonado, a necessitar de ajuda urgente.

15. Se Jesus contasse esta parábola hoje, que personagens escolheria?

TAREFA

O Bom Samaritano, Clive Uptton (1911-2006)

(26)

Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote e um levita que o ignoraram. Nada se diz a respeito das razões que levaram estes homens a não prestar ajuda ao moribundo. Talvez o medo de serem também eles assaltados, ou a preocupação com a pureza legal (que proibia que tocassem em sangue), ou a pressa, ou a simples indiferença diante do sofrimento alheio. Apesar dos seus conhecimentos religiosos não se sentem animados por qualquer espécie de sentimento de misericórdia!

Eles sabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com o culto divino, mas, afinal, nada sabem a respeito da sua verdadeira natureza: o amor e a vida em plenitude. A sua religião resume-se a um conjunto de ritos estéreis, cerimónias faustosas e solenes, contudo sem a densidade espiritual que só o amor pode oferecer.

Pela estrada passou, finalmente, um samaritano: um estrangeiro, um inimigo de Israel e da sua religião, um infiel às tradições judaicas antigas, um homem que vivia, sob a ótica dos judeus, longe da salvação e do amor de Deus. No entanto, foi ele quem parou – sem medo de correr riscos ou de adiar os seus interesses pessoais – para cuidar do homem estendido na berma da estrada. O samaritano poder-se-ia ter deixado conduzir pelo ódio entre os dois povos. Porém, a sua atitude marcou a diferença. Cheio de compaixão aproximou-se do homem caído, desinfetou-lhe as feridas com vinho, atenuou-lhe as dores com azeite, levou-o para a estalagem e ainda pagou para cuidarem dele. Apesar de ser um estrangeiro e de pertencer a outro grupo religioso, deixou-se guiar pela atenção ao próximo, independentemente do seu grupo de pertença, porque tinha um coração repleto de amor e, portanto, cheio de Deus.

O Bom Samaritano, Dinah Roe Kendall (pintora contemporânea) JUDEIA

A Palestina no tempo de Jesus SAMARIA

GALILEIA

Jerusalém

Jericó

Belém

N Escala: 1:30.000.000

(27)

Ao apresentar como modelo um samaritano, Jesus ultrapassa as expetativas do doutor da Lei, dado que o herói da história não é quem seria de esperar, mas, pelo contrário, alguém que despertava os piores sentimentos: um excluído, um estrangeiro, um ser menor.

Toda a parábola se centra na ideia de que o amor não tem qualquer espécie de limite, é universal e estende-se a todas as pessoas, porque todas são portadoras da mesma dignidade. E é sobretudo aquele que precisa de auxílio que constitui o nosso próximo. O critério do amor concreto não é a pertença étnica, religiosa ou outra, mas a necessidade das pessoas que se cruzam connosco no percurso da vida.

«Vai e faz o mesmo» – Com este desafio Jesus desloca totalmente o centro da questão. Não se trata de saber quem é o nosso próximo, porque toda a pessoa o é; trata-se, isso sim, de saber como nos tornamos próximos do outro. A narrativa inverte os papéis e coloca o próximo não do lado daquele que deve ser amado, mas daquele que deve amar. O doutor da Lei esperava um esclarecimento teórico, porém foi remetido para a sua responsabilidade de praticar os mandamentos.

que a parábola do bom samaritano explicita a grandeza da dignidade humana e desafia à prática do amor.

16. Identifica situações atuais e concretas que esperam por um

«bom samaritano».

17. Refere situações em que tenhas agido como o sacerdote ou o levita da parábola.

TAREFA

«Que fazer para ter direito à vida eterna?» – A conclusão é óbvia: para alcançar a felicidade é preciso amar a Deus e tornarmo-nos próximos dos que necessitam da nossa ajuda. Trata-se, portanto, de fazer com que o amor percorra as duas coordenadas fundamentais da existência: a vertical (relação com Deus) e a horizontal (relação com os outros).

Como o bom samaritano que se aproximou do homem caído para o levantar, Jesus nasceu para salvar e libertar a humanidade.

O homem ferido, caído, espoliado e incapaz de se ajudar a si mesmo, personifica a condição da humanidade submetida ao poder do mal e do egoísmo.

O bom samaritano simboliza Jesus Cristo, que se aproximou de nós assumindo a condição de homem para propor à humanidade um Deus próximo que eleva a condição humana.

O Bom Samaritano Van Gogh (1853-1890)

O amor ao próximo é sinónimo de disponibilidade para ajudar qualquer pessoa que precise, seja amiga ou inimiga, conhecida ou desconhecida, da mesma etnia ou de qualquer outra; significa reconhecer em todos e em cada um a dignidade de ser pessoa.

(28)

Numa sociedade marcada pelos valores económicos, que atribui maior importância ao ter do que ao ser, em muitas situações parece prevalecer a importância da aquisição e manutenção de bens materiais em detrimento da defesa do valor essencial que é a pessoa humana.

Todos os dias vemos, ouvimos e lemos notícias em que se atenta contra a dignidade da vida humana por razões insignificantes: uma discussão motivada pela simples e natural diferença de opiniões ou a disputa acerca de uma propriedade. E a violência gera sempre mais violência. Num processo de desculpabilização, encontramos atenuantes que pretendem «explicar» os nossos desvarios em momentos de mau humor: desestruturação familiar, pobreza, desemprego, deficiente acesso à educação ou à saúde, ausência de perspetivas de futuro, incapacidade para sonhar ou para nos empenharmos fortemente na realização dos nossos sonhos. E apesar de não constituírem justificações para os comportamentos desumanos, são motivos que nos põem à mercê dos nossos piores instintos.

Cada pessoa vale por si mesma e não porque alguém a ama e lhe quer bem, ou porque é reconhecida pelos demais (embora, por ser pessoa, mereça ser amada e respeitada por todos). É por causa do valor inalienável de cada pessoa que todos têm direito a ser reconhecidos e valorizados, sobretudo os mais vulneráveis, os que se sentem excluídos e aqueles cuja voz não é escutada pela sociedade.

Onde não há reconhecimento da dignidade, não há humanidade. Daí que a dignidade humana exija a responsabilidade de cada um pelo seu próximo.

A dignidade

da vida humana

em atitudes

(29)

A prática dos valores éticos – respeito, tolerância, paciência, solidariedade, carinho, dedicação, diálogo, justiça… – é essencial ao reconhecimento efetivo da dignidade da vida humana.

quais são as atitudes que promovem a dignidade da vida humana e sinto-me desafiado a vivê-las no meu quotidiano.

18. O que é que podes fazer para promover a dignidade humana?

TAREFA

Participação em grupos e organizações de defesa e promoção da vida Atenção e cuidado

da vida dos mais necessitados Fraternidade

como centro das escolhas

morais

Empenho pessoal na DENÚNCIA DOS ATENTADOS

à vida humana

Não pode haver paz verdadeira sem respeito pela vida .

João Paulo II

(30)

Os dados científicos remetem-nos para a singularidade do ser humano, enquanto indivíduo que se distingue dos outros seres vivos. Possuidor de uma inteligência superior, capaz de criar mundos alternativos, de desenvolver consciência ética e de se reconhecer numa relação social, o ser humano foi ganhando consciência da sua dignidade. Mas a sua ação ora se orienta para a defesa da mesma, ora a fere, pondo em causa a própria vida humana.

19. Identifica a singularidade do ser humano relativamente aos outros seres vivos.

TAREFA

A taxonomia – ciência que tem por finalidade a classificação dos seres vivos – cataloga o ser humano da seguinte forma:

- Reino: Animalia (o homem é um animal) - Filo: Chordata (possui uma coluna vertebral)

- Classe: Mammalia (classe dos que mamam; inclui todos os mamíferos) - Subclasse: Placentalia (é um mamífero cuja fêmea possui placenta) - Ordem: Primata

- Família: Hominidae (a este grupo pertencem também os gorilas e os chimpanzés) - Género: Homo

- Espécie: Homo Sapiens

- Subespécie: Homo Sapiens Sapiens

Vida humana:

Originalidade e Beleza

Toda a pessoa – independentemente da sua cor, nacionalidade, religião ou condição social – encontra na organização taxonómica um estatuto de pertença e dignidade distinto dos outros seres vivos.

(31)

O início da vida humana

O primeiro facto biologicamente identificável na formação do ser humano é a fusão de duas células (ovócito e espermatozoide) provenientes de cada um dos progenitores, contendo cada uma metade do número de cromossomas de um ser humano.

A fusão dos dois gâmetas inicia o ciclo vital de uma nova pessoa. O seu corpo terá um desenvolvimento autónomo, contínuo e progressivo a partir das fases mais primordiais, seguindo um percurso que está inscrito nos seus genes.

O zigoto (célula resultante da fusão dos gâmetas) é, sem dúvida nenhuma, um ser vivo com características genéticas humanas. O momento a partir do qual se inicia a vida da pessoa ainda está sujeito a debate e há diferentes opiniões:

20. Qual a razão de muitas pessoas defenderem que a vida humana tem início no momento da fecundação?

TAREFA

A Igreja Católica afirma que a vida humana tem início no momento da fecundação.

A vida humana começa no momento da fecundação porque o desenvolvimento de um ser

humano é um processo contínuo que não permite identificar com

precisão saltos de qualidade.

A vida humana começa quando a atividade cerebral

emite ondas tipicamente humanas porque é este aspeto que distingue o ser humano dos outros animais.

A vida humana começa com o início da atividade cerebral,

por analogia com a morte que é determinada pela paragem do

funcionamento do cérebro.

A vida humana começa quando ocorre a nidação

porque nos estádios anteriores as células que vão constituir o ser

humano ainda não se diferenciaram .

A vida humana começa no momento do

parto porque o feto só assume personalidade jurídica quando

nasce para a sociedade.

(32)

Adaptado de http://vida.aaldeia.net/desenvolvimentoembrionario.htm FECUNDAÇÃO

O gâmeta masculino (espermatozoide) e o gâmeta

feminino (ovócito) unem-se formando o zigoto (embrião unicelular). É o início de uma

nova vida.

BLASTÓCITO A CAMINHO DO ÚTERO

Três a quatro dias após a fecundação, o blastócito, resultante das divisões do zigoto, implanta-se na parede do útero

e dá origem ao embrião.

DUAS SEMANAS O embrião produz hormonas

que fazem cessar o ciclo menstrual da mãe. Começam

a formar-se a coluna vertebral, a espinal medula

e o sistema nervoso. Mede cerca de 2 milímetros

QUATRO SEMANAS O coração já começou a bater.

Olhos, orelhas, nariz, boca e língua desenvolvem-se; o fígado e intestinos começam a tomar

forma. Mede cerca de 5 milímetros.

SEIS SEMANAS O cérebro coordena movimentos de músculos e de

órgãos e é possível medir a atividade cerebral através de eletroencefalograma. Já é um

feto. Mede cerca de treze milímetros.

OITO SEMANAS A formação dos órgãos está finalizada. São visíveis traços faciais, mãos, pés, dedos e unhas. O feto mostra resposta

reflexa a estímulos. Mede vinte e cinco milímetros.

DEZ SEMANAS O cérebro está completamente

formado e o feto pode sentir dor. Todas as partes do corpo

são sensíveis ao toque; se a palma da mão for tocada, afasta-a decididamente. Chupa

no dedo. A face tem feições marcadamente humanas. Mede

cerca de quatro centímetros.

DOZE SEMANAS Podem ser observados movimentos espontâneos e

mostra uma personalidade específica. A mãe começará a

sentir, em breve, os primeiros batimentos da criança pontapeando e movendo-se dentro da sua barriga. Mede

cerca de sete centímetros.

VINTE SEMANAS Demonstra que não é indiferente

ao que se passa no mundo extrauterino: assusta-se e sossega como reação a estímulos externos.

Mede cerca de 22 centímetros.

VINTE E OITO SEMANAS Ainda estará mais oito a doze

semanas no ventre materno a crescer, mas já é capaz de nascer (prematuro) e sobreviver fora do útero. Mede cerca de 37

centímetros. NÓS OS 3 :-)

38

(33)

Três razões médicas

para ser a favor da vida intrauterina

1 – Uma mulher, com uma gravidez normal e com um feto em desenvolvimento, normal, não é uma pessoa doente. Por isso, ao médico apenas cabe uma intervenção de vigilância que, em muitos países, é feita por enfermeiros especializados e o médico só é chamado a intervir quando há risco de doença e a gravidez passa a ser classificada como gravidez de risco. Portanto, destruir um feto em desenvolvimento não é um ato médico, porque a gravidez não é uma doença. Nenhum médico o pode praticar em circunstância nenhuma.

2 – E se a mulher grávida pedir o abortamento ao médico, invocando motivos sociais ou económicos e declarando que não pode suportar mais o estado de gravidez? O médico terá de lhe responder que não pode dar satisfação ao seu pedido porque a função que lhe cabe desempenhar como médico e a sua competência específica só podem estar ao serviço do diagnóstico e tratamento de doentes. Se a causa do pedido de abortamento não é uma doença mas uma carência financeira ou um abandono e marginalização social, é às estruturas de proteção e segurança social e familiar que compete eliminar as causas do pedido de abortamento. Se o médico acolhesse o pedido e praticasse o crime do abortamento, ofendendo as disposições do seu código de deontologia, não iria resolver nada; os ditos motivos sociais ou económicos ficariam na mesma ou piores do que estavam antes do abortamento. Este teria sido um crime inútil e deixava a porta aberta para novo pedido de abortamento algum tempo depois.

3 – O médico não pode praticar o abortamento não só por estas duas razões, mas ainda por outras de natureza médica. O médico sabe que esta intervenção abortiva sobre o corpo da mulher grávida, além de provocar, obviamente, a morte do feto, tem riscos importantes para a mãe, tanto no ato de fazer o abortamento como no futuro, no que se refere à sua saúde geral e à sua saúde sexual. Mesmo o chamado

«abortamento seguro» pode complicar-se com infeção uterina e das trompas, com septicemia, com esterilidade pós-abortamento, com depressão moderada ou grave;

em casos raros até com suicídio da mãe. Cabe ao médico, contudo, acolher as mulheres que se fizeram abortar, sem qualquer discriminação, tratar as alterações patológicas de que sofram, físicas ou psicológicas, e promover a informação necessária para que aquela pessoa não volte a encontrar-se na situação que a levou a fazer-se abortar.

Daniel Serrão, http://aborto.aaldeia.net/

21. Elabora um poema, uma quadra ou um slogan que expresse a beleza e o mistério da vida humana.

TAREFA

Doc.19

(34)

O aborto

O aborto consiste na expulsão – voluntária ou involuntária – de um embrião ou de um feto quando o mesmo não tem condições de vida fora do útero.

O aborto pode ser espontâneo (involuntário) ou induzido (provocado voluntariamente). São vários os fatores que podem originar um aborto espontâneo: desenvolvimento anormal do embrião ou do feto, problemas uterinos, diabetes, alterações hormonais, entre outros. Também o consumo excessivo de álcool e drogas pode ocasionar o aborto espontâneo.

A expressão eufemística «Interrupção Voluntária da Gravidez» (IVG) designa oficialmente o aborto induzido.

Se aceitarmos que a vida humana tem o seu início no momento da fecundação, torna-se evidente que realizar uma interrupção voluntária da gravidez é atentar contra a vida de um ser humano.

A palavra «aborto» – «não nascido» – provém do latim abortus, que significa privação (ab) do nascimento (ortus). Derivado de aboriri, Abortus designa também crepúsculo, desaparecimento e morte.

ABORTO

ESPONTÂNEO INDUZIDO

TERAPÊUTICO

• Malformações congénitas

• Perigo de vida da mãe VOLUNTÁRIO

• Violação

• Mãe adolescente

• Falta de condições económicas

• Bebé não desejado Tipos de

aborto

(35)

O aborto induzido pode ser realizado através de medicamentos – aborto químico – ou através de técnicas cirúrgicas – aborto cirúrgico. O aborto químico é realizável apenas durante as primeiras doze semanas de gravidez e consiste na administração de medicamentos que provocam a expulsão do embrião.

Nos casos em que o aborto químico não se revela eficaz, recorre-se a técnicas cirúrgicas. É de referir e salientar a crueldade destas técnicas.

Consequências do aborto

Embora o aborto realizado adequadamente não implique graves riscos para a saúde física da mulher até às dez semanas, o perigo aumenta progressivamente para além desse tempo. Entre as possíveis complicações fisiológicas do aborto destacam-se as hemorragias, as infeções, as lacerações cervicais, as perfurações uterinas, o aumento da possibilidade de uma nova gravidez terminar em aborto espontâneo ou em parto prematuro e a esterilidade. Estas consequências surgem com maior frequência no aborto mais tardio.

Entre os eventuais efeitos psicológicos sobressaem sentimentos de culpa, baixa autoestima, impulsos suicidas, frustração e depressão.

Até 1984, o aborto era legalmente proibido em Portugal.

A Lei n.º 6/84, de 11 de maio, veio permitir a realização da interrupção voluntária da gravidez até às doze semanas nos casos de perigo de morte ou de grave perigo para a saúde física ou psíquica da mulher e nos casos de gravidez resultante de violação; e até às dezasseis semanas nos casos de doença grave ou malformação fetal.

A Lei n.º 90/97 alargou os prazos de permissão do aborto até às vinte e quatro semanas nos casos de malformação ou de perigo de doença incurável do nascituro; e até às dezasseis semanas nos casos de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual (violação).

A Lei nº 16/2007 introduziu, nas primeiras dez semanas de gestação, a legalização da interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher, ou seja, sem necessidade de apresentar qualquer justificação.

Legislação portuguesa sobre o aborto

(36)

Argumentos a favor e contra o aborto

Quase ninguém é a favor do aborto. A maior parte das pessoas considera-o um mal a evitar. A polémica situa-se sobretudo no combate ao aborto clandestino que, realizado sem quaisquer condições de higiene, tem provocado inúmeras mortes e graves problemas de saúde às mulheres que a ele recorrem. Alguns consideram que a única maneira de erradicar esta calamidade é liberalizar o aborto voluntário em unidades de saúde com condições médicas adequadas.

Outros pensam que esta não pode ser a solução e advogam maior controlo e fiscalização com vista a erradicar o aborto clandestino. Mas o problema não se coloca só a este nível. Para alguns, o aborto é simplesmente uma opção da mulher, no uso da sua liberdade, que deve ser reconhecida legalmente.

Para que o aborto seja excluído ou reduzido ao mínimo, todos defendem a promoção do planeamento familiar e a adoção de medidas socioeconómicas de apoio às famílias e às mães solteiras, bem como a educação sexual dos jovens.

Todos os códigos penais das civilizações antigas puniam severamente a prática abortiva. O primeiro Estado do mundo a liberalizar o aborto foi a União Soviética de Vladimir Lenine, em 1926; o segundo foi a Alemanha de Adolf Hitler, em 1935. Ainda na década de 30, o aborto foi legalizado na Islândia, na Dinamarca e na Suécia. Após a Segunda Guerra Mundial foi legitimado em quase todo o mundo. Atualmente, existem legislações de toda a espécie (desde a total proibição à permissão até aos nove meses), revelando que na base destas leis não estão critérios científicos nem critérios morais universalmente aceites.

Referências

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