• Nenhum resultado encontrado

2013 CURITIBA A PASTORAL DA JUVENTUDE COMO ESPAÇO EDUCOMUNICATIVO E DE FORMAÇÃO CIDADÃ DANIELA BUSATO SCHREIBER UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "2013 CURITIBA A PASTORAL DA JUVENTUDE COMO ESPAÇO EDUCOMUNICATIVO E DE FORMAÇÃO CIDADÃ DANIELA BUSATO SCHREIBER UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ"

Copied!
79
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DANIELA BUSATO SCHREIBER

A PASTORAL DA JUVENTUDE COMO ESPAÇO EDUCOMUNICATIVO E DE FORMAÇÃO CIDADÃ

CURITIBA 2013

(2)

DANIELA BUSATO SCHREIBER

A PASTORAL DA JUVENTUDE COMO ESPAÇO EDUCOMUNICATIVO E DE FORMAÇÃO CIDADÃ

Monografia apresentada como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, no curso de Comunicação Social, Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Regiane Ribeiro

CURITIBA 2013

(3)
(4)

Dedico este trabalho a todos os que de alguma forma esforçam-se pelos ideais da juventude, confiam e apostam no potencial de transformação social através do jovem.

(5)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar ao Pai que me concedeu a vida, ilumina minhas escolhas e me concede forças para seguir em frente, acreditando na transformação do mundo através do envolvimento dos jovens com a religião.

A todos os que de alguma forma participaram e ainda participam de minha caminhada como jovem cristã, integrante de Pastoral, me incentivando a não desistir e a entender que em primeiro lugar sirvo a Deus e a construção de Seu Reino na Terra.

A minha orientadora Regiane que me despertou para o propósito social da comunicação, servir ao coletivo na construção de uma sociedade democrática e que pacientemente me auxiliou a construir este trabalho.

Aos meus pais que me incentivaram livremente na escolha de minha profissão e minhas irmãs que são base para meus momentos de angústia.

E ao meu amado João Bruno que me encoraja na busca pelos meus sonhos, se esforça para compreendê-los e realizá-los.

(6)

"Não vos conformeis com esse mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, da vossa mente e do vosso coração".

- Romanos 12,2 -

(7)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo posicionar a Pastoral da Juventude como um espaço que possibilita a formação dos jovens para cidadania através da proposta da Educomunicação. Ao se estabelecer ações que criam ecossistemas comunicativos, os jovens participam de seu processo formativo como protagonistas, tornando-se agentes de transformação da sociedade. Tal fim se concretiza através da busca da dialogicidade, por meio da comunicação participativa, e a mediação das relações entre os públicos envolvidos. Propõe-se nesse sentido, o estabelecimento de um planejamento estratégico de Relações Públicas, direcionado aos públicos prioritários da Pastoral da Juventude.

Palavras chave: Comunicação Popular. Educomunicação. Igreja Católica. Pastoral da Juventude. Planejamento Estratégico de Relações Públicas.

(8)

RÉSUMÉ

Ce document a comme but positionner la Pastoral de la Jeunesse comme un espace qui permet la formation des jeunes en ce qui concerne la citoyenneté à travers la proposition de l´Éducommunication. En établissant des actions qui créent des écosystèmes communicatifs, les jeunes participent à leur processus de formation comme des protagonistes, en dévenant des agents de transformation sociale. Cet objectif se matérialise à travers la recherche du dialogue, par la communication participative et la médiation des relations entre les publics concernés. Dans cette direction, il est proposé l´établissement d´une planification stratégique de Relations Publiques orientée vers le publique prioritaire de la Pastoral de la Jeunesse.

Mots-clés: Communication Populaire. Éducommunication. Église Catholique.

Pastoral de La Jeunesse. Planification stratégique de Relations Publiques.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...10

2 A INTERFACE COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO...13

2.1 Histórico do Processo Educativo no Brasil...13

2.2 A Perspectiva Educacional de Paulo Freire...18

2.3 Pensando a Comunicação...20

2.4 Comunicação e Educação: campos que dialogam...22

3 EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA...26

3.1 Construindo o conceito de Cidadania...26

3.2 Educar para Cidadania...31

4 COMUNICAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA...34

4.1 A Comunicação do povo e para o povo...34

4.2 Comunicação Popular no Brasil: a Igreja Católica como protagonista...37

5 EDUCOMUNICAÇÃO COMO CAMPO DE INTERVENÇÃO SOCIAL...43

5.1 A Educomunicação na proposta da Igreja Católica...48

6 PASTORAL DA JUVENTUDE: UM ESPAÇO PARA EDUCOMUNICAÇÃO...55

6.1 Pastoral da Juventude em essência...55

6.2 Pastoral da Juventude: espaço de formação para cidadania através da Educomunicação...60

7 PROPOSTAS EDUCOMUNICATIVAS PARA OS PÚBLICOS PRIORITÁRIOS DA PASTORAL DA JUVENTUDE...65

7.1 Planejamento de Relações Públicas e Educomunicação...65

7.2 Propostas Educomunicativas para os públicos da PJ...69

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...72

REFERÊNCIAS...75

(10)

1 INTRODUÇÃO

O retrato da sociedade atual, prejudicada pelas consequências emergentes do sistema capitalista, demanda a atuação do ser humano como ser social responsável pela garantia da cidadania e da vida digna a todos.

A cidadania possibilita os indivíduos interferir na sociedade participando das questões públicas de modo a concretizar seus direitos e deveres. Implica mobilização, cooperação e formação de vínculos de corresponsabilidade para com os interesses coletivos. Para que a cidadania se concretize de fato, faz-se necessário educar os indivíduos para que compreendam o ser cidadão, conheçam seus direitos e deveres e saibam analisar criticamente a sociedade, a fim de se tornarem agentes transformadores da realidade que os cerca.

A educação para cidadania tem a comunicação como seu ponto de partida.

Educar para cidadania envolve processos de relações dialógicas onde os indivíduos em contato uns com os outros, refletem sobre a realidade, conscientizam-se sobre as necessidades desta e se tornam sujeitos sociais ativos. Exige processos de comunicação que valorizem os envolvidos e se realizem de forma bidirecional. A comunicação popular atende essa perspectiva auxiliando o povo a refletir, discutir e expressar-se acerca de sua realidade, consolidando um processo educativo emancipatório que prepara o sujeito para desenvolver seu senso crítico.

Vem de encontro a esta proposta o novo campo de intervenção social denominado Educomunicação. Prioriza o diálogo como metodologia de aprendizagem, formando ecossistemas comunicativos, e alia a comunicação à educação para formar a competência comunicativa do cidadão. A união das duas áreas estimula a participação e relaciona conhecimento e aprendizagem. A formação para cidadania pode se estabelecer através de processos educomunicativos que ultrapassam ambientes formais de educação, ela é responsabilidade de toda sociedade em conjunto e de cada indivíduo em seu contexto social.

A Igreja Católica compreende a formação para cidadania como parte de sua essência, preocupa-se com a transformação social, valorizando a pessoa humana, seus direitos como cidadão, de inserção e participação na vida social. É definida como instituição religiosa que através de seus princípios teológicos constitui sua

(11)

identidade e direciona seus princípios e atuações às necessidades sociais. O conjunto de ensinamentos da Igreja Católica, denominado Doutrina Social, fixa os princípios, critérios e diretrizes gerais a respeito da organização social e política dos povos e das nações, e convida o leigo participante da Igreja à ação. A finalidade da Doutrina Social da Igreja é levar os homens a corresponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade. (JOÃO PAULO II, 1987).

Em sua trajetória, a Igreja apropriou-se da comunicação popular para promover experiências de comunicação do próprio povo, incentivando-os a praticar a cidadania e criar seus próprios meios de expressão. A instituição acompanha os processos de evolução da comunicação e assume a necessidade de formação para área, esforçando-se para inculturar-se nos novos espaços comunicativos.

Reconhece como necessidade em sua proposta, criar condições para que os indivíduos se relacionem com o universo da mídia de forma criativa e crítica. Situa a educomunicação como alternativa para concretizar sua responsabilidade não somente de educação na fé, mas também para a sociedade.

Perante o novo universo instituido pela mídia, a Igreja posiciona como prioridade em sua ações a formação dos jovens, preparando-os para agir como sujeitos de transformação da sociedade, promovedores de uma comunicação para cidadania com base na educomunicação. Para concretizar este objetivo, a instituição apresenta como espaços proprícios para educação dos jovens os grupos de jovens, pastorais da juventude, movimentos, novas comunidade e demais experiências em grupo.

O objetivo deste trabalho é posicionar a Pastoral da Juventude como um espaço que possibilita a formação dos jovens para cidadania através do viés educomunicativo. A proposta da PJ oferece ao jovem a possibilidade de formação integral, orienta e auxilia os jovens em seu processo de educação na fé, e em seu amadurecimento nos âmbitos pessoal, eclesial e social. A Educomunicação fornece a possibilidade de um novo olhar e atuação do jovem na sociedade, a partir da educação para comunicação.

O presente trabalho utiliza o método de pesquisa bibliográfica, sendo aquela

“desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2007). Este tipo de pesquisa apresenta-se como

(12)

necessária para esclarecer conceitos abordados e permitir a análise das diversas posições acerca da definição dos termos utilizados.

A partir da exposição da trajetória da Educação e da Comunicação, se discutirá a interface entre as duas áreas ressaltando a discussão a cerca da Educação para Cidadania e o papel da Comunicação Popular nesse processo. Em seguida se discorrerá sobre o novo campo de intervenção social, a Educomunicação, e de que forma a Pastoral da Juventude se apropria das ações educomunicativas para concretizar a Educação para Cidadania.

Como forma de atender ao objetivo exposto, será abordado o papel das Relações Públicas no processo do Planejamento Estratégico, este essencial para realização de propostas educomunicativas voltadas aos públicos específicos da Pastoral da Juventude.

(13)

2 A INTERFACE COMUNICAÇÃO EDUCAÇÃO

2.1 Histórico do Processo Educativo no Brasil

Se perguntássemos a um grupo de pessoas o que é educação, acredito que grande parte das respostas utilizaria o ambiente de educação formal para responder a questão.

A trajetória de formação da sociedade conduziu-nos a pensar o conceito de educação relacionado ao ambiente escolar. É na escola que acreditamos ter o primeiro contato com a sociedade, onde buscamos nos inserir culturalmente, entender o ambiente do qual fazemos parte. Através do livro estabelecemos nosso primeiro contato com o mundo, somos bombardeados de informações que não necessariamente compreendemos, mas gravamos em nossa mente para em um futuro próximo, despejar como conteúdo aprendido nas avaliações escolares.

Apesar dos modelos educativos engessados nos ambientes escolares, não se pode desprezar a importância da instituição nos processos de sistematização pedagógica das práticas de transmissão do saber. A escola participa como espaço de democratização do saber, separando-o de forma hierárquica.

O ensino formal é o momento em que a educação se sujeita à pedagogia (a teoria da educação); cria situações próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece regras e tempos, e constitui executores especializados. É quando aparecem a escola, o professor e o aluno.

(BRANDÃO,1993, p.26).

Sabemos, entretanto, que a educação não se restringe a escola, mas acontece também nos espaços dos lares, nas ruas, igrejas, comunidades. Nasce em primeiro lugar das relações entre as pessoas, das intenções de ensinar – aprender.

Para Brandão (1993) a evolução da cultura humana levou o homem a transmitir conhecimento, criando situações sociais de ensinar – aprender e ensinar, misturando a vida com a educação. Das várias esferas que nos envolvem na sociedade, “surge a necessidade de disseminação e internalização de saberes e modos de ação (conhecimentos, conceitos, habilidades, hábitos, procedimentos, crenças, atitudes) levando a práticas pedagógicas”. (LIBÂNEO, 2002, p. 27). Para Brandão (1981) a educação é:

(14)

[...] uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho, ou como vida. […] A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. (BRANDÃO,1981,p.10).

Libâneo (2002) discute a educação associada a processos de comunicação e interação que contribuem para construção da sociedade. Através da assimilação de valores existentes no meio culturalmente organizado, os seres humanos adquirem o patamar necessário para produzir outros valores, saberes, técnicas.

Complementando este pensamento, Brandão (1993) posiciona a educação como principal meio de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das pessoas, em um mundo em mudança.

A educação está presente desde o início dos tempos. Os grupos humanos

“criam e desenvolvem situações, recursos e métodos para ensinar crianças, jovens e também adultos o saber, a crença e os gestos que o tornarão um dia o modelo de mulher ou homem que o imaginário da sociedade – ou mesmo cada grupo específico, dentro dela – idealiza, projeta e procura realizar”. (BRANDÃO,1993, p.

22).

Os primeiros sinais de estruturação da educação baseiam-se no modelo de educação escolar que surgiu na Grécia e vai para Roma. Os primeiros assuntos registrados sobre a educação grega aparecem em ofícios dos tempos de paz e guerra. Abordavam atividades como a agricultura, o saber pastoreio, o artesanato de subsistência cotidiana e da arte. Os ensinamentos aliavam-se aos princípios de honra, solidariedade e fidelidade à polis, a cidade grega onde começa e termina a vida do cidadão livre e educado. A princípio, o saber era estruturado pelos gregos através de duas divisões: o saber que se ensina para que se faça, denominado tecne, e o saber que transmitia as normas de vida, chamado pelos gregos como teoria. Surge assim um modelo de sociedade com estruturas de oposição, com uma educação dirigida conforme classes sociais: livres e escravos, nobres e plebeus, meninos nobres da elite guerreira e, mais tarde da elite togada, que determina as regras jurídicas. Por alguns séculos, mesmo para elite, não existia a escola, a educação estava ligada a formação do homem para o trabalho e para a vida em comunidade.

(15)

No início da vida, a criança convivia com sua mãe e escravos domésticos até atingir os sete anos de idade, momento chamado de Paidéia, onde a criança saia de casa para receber formação, desenvolver o corpo e a mente. Aprendia com o mestre- escola até os quatorze anos e tornava-se assim um cidadão maduro a serviço dos interesses da cidade – comunidade. Porém, a vida e o trabalho dividiam os homens livres e os escravos, ou outros tipos de trabalhadores manuais, em relação ao aprendizado.

A escola surge por volta do ano 600 a.C., trazendo a ideia da democratização da cultura. Entretanto, “o menino escravo, que aprende com o trabalho a que o obrigam, não chega sequer a esta escola. O menino livre e plebeu em geral para nela. O menino livre nobre passa por ela depressa em direção aos lugares e aos graus onde a educação grega forma de fato o seu modelo de 'adulto educado'”. (BRANDÃO,1993, p.40).

O princípio que orientou a educação clássica dos gregos foi sempre entendido como processo pelo qual a cultura da cidade é incorporada à pessoa do cidadão, ansiando torná-lo o jovem perfeito (o guerreiro, o atleta, o artista de seu próprio corpo e mente) e o adulto educado (o cidadão político a serviço da polis).

Apesar das distinções entre classes, os gregos deixaram como ensinamento que a educação existe além da escola.

Finalmente os gregos ensinam o que hoje esquecemos. A educação existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo meio sociocultural sobre os participantes. É o exercício de viver e conviver que educa. E a escola de qualquer tipo é apenas um lugar e um momento provisórios onde isto pode acontecer. Portanto, é a comunidade quem responde pelo trabalho de fazer com que tudo que pode ser vivido e aprendido da cultura seja ensinado com a vida – e também com a aula – ao educando. (BRANDÃO, 1993, p. 47).

Em toda parte podem existir redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, sem um modelo de ensino formal e centralizado. A educação pode assim ocorrer em diferentes espaços, como na família, em comunidades, na Igreja, movimentos sociais, através de situações pedagógicas interpessoais.

No Brasil, o processo educativo se estrutura após a colonização do país pelos portugueses. Antes desse período, os índios instruíam suas crianças e jovens através da transmissão dos valores culturais pelos adultos: pais, tios e avós. Em

(16)

1549 através da atuação dos jesuítas, que se propunham a ensinar a fé católica, as lições educativas e os costumes europeus, os índios passaram pelo aprendizado da língua portuguesa ou espanhola, profissões e operações mentais básicas, como contar.

A educação era ministrada em latim, latim da Igreja e da ordem eclesiástica do Estado, não podendo dela decorrer nenhum interesse pelo estudo de problemas novos que a situação real da Colônia pudesse suscitar. Era uma educação dominantemente escolástica e imóvel, idêntica na Metrópole e na Colônia, que somente no fim do século XVIII vem a sofrer o primeiro choque com as reformas 'revolucionárias' de educação do período do Marquês de Pombal, que trouxe tardiamente para Portugal os reflexos do Iluminismo já dominante no restante da Europa. O próprio uso da língua vernácula portuguesa para escola só então surge como inovação 'revolucionária'.

(TEIXEIRA, 1989, p. 58).

A educação da colônia segue, e os jesuítas recebem a determinação da Coroa Portuguesa para assumir a educação dos brancos. O sistema se estrutura e o primeiro colégio surge em 1564 na Bahia para atender órfãos portugueses e filhos da elite colonial em regime de internato. A abertura das escolas aos índios é restrita, mas com dedicação e interesse alguns conseguiam completar sua educação na escola. Ao completar os estudos, os interessados em cursar a Universidade eram obrigados a procurar vagas em outros países, porém, poucos cursavam. A formação recebida na época era suficiente para viver em sociedade no século XVI. Os jesuítas, organizados pela Companhia de Jesus, consolidam sua metodologia baseada na repetição, memorização e provas periódicas. Mas enfrentam problemas de estrutura, inclusive a falta de professores.

Em 1759, Marquês de Pombal expulsa os Jesuítas com justificativas comerciais, reduzindo assim a influência do grupo. A educação brasileira passa então a ser organizada pelo Estado e pela primeira vez um novo método de ensino é criado. Porém, ainda são poucos os que se direcionam para Universidade. Os alunos formados direcionam-se para as atividades na agricultura, na Igreja e ao funcionalismo público.

Com a chegada da Família real portuguesa ao Brasil, em 1808, o panorama da educação se altera. Lima (1969) comenta que a vinda da Família Real representou a verdadeira "descoberta do Brasil". Segundo o autor, "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no

(17)

mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura”. (LIMA, 1969, p.103). Surge nessa época a primeira Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. Porém, as mulheres ainda são educadas em casa pela mãe ou pela ama, aprendem a ler e são treinadas para as tarefas domésticas. Em 1827, a Primeira Lei Geral do Ensino cria colégios nas vilas e cidades mais populosas do Império e dá acesso às salas de aula também às meninas. Á partir desse momento novas Universidades e Colégios são criados, e aos poucos a educação migra para iniciativa privada.

Até a Proclamação da República em 1889, praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. Com a instauração do governo republicano, reforma-se o ensino primário e normal e organiza-se uma rede de escolas normais e complementares. Aumenta a presença feminina nos cursos de formação de professores através do Magistério. No ano seguinte, a nova constituição separa Igreja do Estado, laiciza a sociedade e a educação. Institui-se o voto do cidadão masculino alfabetizado.

No século XX, a discussão sobre a importância da educação para o desenvolvimento do Brasil e do mundo ganha forças. Foca-se o olhar para o aluno, defendendo a adoção de novos métodos e a reforma dos currículos escolares. O conhecimento ganha um novo conceito e aproxima-se da realidade dos estudantes.

Em 1932, defende-se o Manifesto da Escola Nova, que teve Anísio Teixeira como um de seus protagonistas. Defendia-se a universalização da escola pública, laica e gratuita e delega-se a ela a função de promover a cidadania e a saúde.

Na década de 40, com a industrialização do país, cresce a necessidade de formar mão de obra e o governo cria como principal medida o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). As décadas seguintes foram marcadas pela alfabetização de adultos com o objetivo de capacitar o povo brasileiro para uma participação ativa na vida social e política do país.

Nos anos 60, no auge da repressão do Regime Militar, os movimentos em defesa da escola pública e de ampliação da educação, assim como outros movimentos sociais, são reprimidos. Nesse período cria-se o vestibular, restringindo o acesso à Universidade como medida contra a falta de vagas. É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. Segundo

(18)

BELLO (2001), a característica mais marcante desta Lei era dar a formação educacional um cunho profissionalizante.

Em 1988, a nova Constituição obriga a União e os Estados a aplicar parte de suas receitas em educação. Uma nova fase se instaura, e nos anos 90, é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases que edita os parâmetros curriculares nacionais. Surge em seguida o ENEM, criado para avaliar os conceitos aprendidos durante o ensino médio e agora para ingressar na Universidade e o Programa Universidade para Todos (PROUNI), que vincula a concessão de vagas em universidades ao ENEM.

Apesar das novas medidas, a educação no Brasil enfrenta problemas em relação à exclusão de grande parte da população, a qualidade de ensino e a formação de professores. Ações na área de educação popular apareceram como alternativa na trajetória da educação no Brasil a fim de sustentar uma educação voltada a classes menos favorecias. O principal precursor desse pensamento é o educador Paulo Freire, que defende a educação como legitimizadora do protagonismo dos cidadãos, formando-os para vida em sociedade.

2.2 A Perspectiva Educacional de Paulo Freire

O pensamento de Paulo Freire surge como produto das condições histórico- sociais em que o Brasil e o Chile viviam na década de 60, momento de ditadura militar no contexto brasileiro. Em resposta a opressão que sofriam os indivíduos, Freire (1989) defende a educação como prática de liberdade.

O educador discute a educação em espaços diferenciados, contribuindo com o desenvolvimento de um indivíduo participativo na sociedade. A educação de Freire preocupa-se com a formação do indivíduo crítico, criativo e atuante, e deve ser realizada com base no diálogo, no exercício de busca ao conhecimento participativo e transformador. Entende-se a participação como:

Um processo de vivência que imprime a um grupo ou movimento social, tornando-o protagonista de sua história, desenvolvendo uma consciência crítica, desalienadora, agregando força sociopolítica a esse grupo ou ação coletiva, e gerando novos valores e uma cultura política nova. (GOHN, 2005, p.30).

(19)

Freire propõe uma educação que esteja disposta a considerar o ser humano como sujeito da sua própria aprendizagem, permitindo uma leitura crítica do mundo.

Educar neste sentido não é mera transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida, construção de identidade e intervenção do indivíduo no melhoramento de suas condições enquanto cidadão.

O modelo pedagógico do autor compromete-se com a sociedade, principalmente com as camadas populares, incentivando a transformação de realidades através do processo educativo. O diálogo é a base entre o educador e o educando, estabelecendo uma relação horizontal entre as pessoas. Dessa forma os indivíduos apropriam-se de forma consciente de sua realidade, para assim, terem condições de transformá-la. Segundo Freire (1984) os seres humanos educam-se juntos na transformação do mundo, valorizando o saber de todos. “Ninguém educa a ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. (FREIRE, 1984, p.13).

A perspectiva do autor traz a liberdade como ponto central de sua concepção educativa. A libertação da realidade opressiva e da injustiça é o fim da educação. A opressão e a injustiça existem em todo o mundo, não são somente parte dos países terceiro-mundistas. O autor situa o papel da educação a partir do ponto de vista do oprimido, colocando-a como necessária na construção de uma sociedade democrática, “sociedade aberta”. Esta só poderá ser construída como resultado da luta das classes populares, capazes de operar a mudança. As elites são incapazes de oferecer as bases de uma política de reformas, não conseguem assim, participar da construção de uma sociedade democrática.

O modelo pedagógico de Freire atinge as camadas populares, os grupos responsáveis pela educação não formal, que é aquela realizada a partir da educação em espaços não formais ligados à educação popular; ou informais, a cargo da família, Igreja, grupos de amigos. De fato o modelo de educação formal ainda não se apropria do modelo de educação libertadora, ao contrário, segue os modelos tradicionais, com processos não participativos, onde a educação é mera transmissão de informação.

Nossa realidade social exige transformações na educação formal, valorizando os sujeitos como agentes do processo, como detentores de conhecimento, incentivando-os a reflexão para ação. Enquanto mudanças não acontecem, podemos criar novos espaços que proporcionem a educação libertadora

(20)

e fortalecer os já existentes. Ressalta-se o papel da comunicação nesses espaços, responsável por criar ambientes participativos que favoreçam o diálogo e a troca de conhecimentos, possibilitando a formação de cidadãos protagonistas na sociedade.

No próximo item deste capítulo verificaremos a importância da comunicação nas relações dialógicas dos seres humanos, bem como no processo educativo e de que forma, ambas as áreas se complementam no sentido de formar os seres humanos para a atuação em sociedade.

2.3 Pensando a Comunicação

Comunicação é necessidade para o ser humano. Já antes do nosso nascimento, nos apropriamos da comunicação para manifestar nossa presença no útero de nossa mãe. Somos seres que temos a comunicação como que intrínseca a nós. Faz parte do ser humano e não se pode tirar. Precisamos dela para nos conscientizar de nossa própria existência, para estabelecemos nosso primeiro contato com o mundo, nos reconhecemos como sujeitos capazes de se relacionar.

A comunicação serve para as pessoas se relacionarem entre si, transformando-se mutuamente a realidade que as rodeia. Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, ideias e sentimentos.

Ao se relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e, juntas modificam a realidade onde estão inseridas.

(BORDENAVE, 2003, p. 36).

Os processos comunicativos nascem da necessidade de cooperação entre os homens que precisavam encontrar formas de união para garantirem a sobrevivência da espécie. A comunicação foi essencial na criação e efetivação dos elos que os semelhantes necessitavam. O ser humano é um ser social, embora cada indivíduo seja único, incomparável, diferenciado, ele depende dos outros para viver.

Michael Traber (2004) baseado na filosofia, indica como núcleo central da comunicação a noção da intersubjetividade – “estar-com-os-outros”- que implica uma comunicação na liberdade, igualdade e solidariedade. Nossa vida é orientada para nossos semelhantes, necessitamos uns dos outros socialmente. É a partir da

(21)

comunicação que constituímos a sociedade, estabelecendo a sua cultura, hábitos, valores e crenças, e nos organizamos como grupos sociais.

A trajetória da comunicação inicia com os homens primitivos, que agrupados em pequenas sociedades se comunicavam através de grunhidos, gritos ou gestos com objetos que produziam sons. Mais tarde, com o aparecimento da linguagem oral, a comunicação torna-se mais compreensível. Cada grupo criava seus próprios códigos linguísticos para estabelecer diálogo.

Da necessidade de registro das atividades, do arquivamento, surgem os desenhos fixados nas cavernas e mais tarde a linguagem escrita que seguia inicialmente a mesma sequência que a língua falada. Nos primeiros pictogramas, os signos correspondiam diretamente com o desenho e o objeto representado. A sequência dos signos reproduzia a cronologia dos eventos narrados. Os homens perceberam que as palavras ou nomes de objetos formavam-se por unidades de som, os fonemas. A partir deste momento os signos passaram então a representar as unidades de som e não mais objetos ou ideias. Os signos representavam unidades de som menores do que as palavras, originou-se assim o conceito de letras. Qualquer pessoa podia aprender a combinar os sons, facilitando o maior alcance da língua escrita. Mas apesar de existirem alfabetos, por muitos séculos, a cultura transmitiu-se oralmente, pois a transmissão das informações escritas em pedras e pergaminhos de couro para locais mais distantes era complicada.

Antes do advento da imprensa, que surge em 1440 por iniciativa de Johann Gutenberg, já existiam redes organizadas de comunicação na Europa. A Igreja Católica necessitava comunicar-se com o clero e as elites políticas do continente. As redes facilitavam a administração e pacificação de cada território. Os negociantes também criaram sua própria forma de comunicação para fornecer informações aos clientes. As redes de comerciantes, mascates e ambulantes transmitiam informações às cidades, nos espaços públicos relatavam acontecimentos ocorridos em locais mais distantes. Essas redes de comunicação desenvolveram e deram origem aos correios e a imprensa para produção e disseminação de notícias. Com o surgimento da imprensa, facilitava-se a difusão de notícias que acontecia cada vez com maior rapidez. A nova forma de comunicação contribuiu para o surgimento das línguas nacionais e para transmissão de dados e teorias da época.

A partir da invenção da fotografia, desenvolveu-se a comunicação visual possibilitando a ilustração de livros, revistas e inspirando o cinema, que mais tarde

(22)

aliado à eletrônica, possibilitou a transmissão de imagens através da televisão. A comunicação estabelece assim novos tipos de relações, mediadas agora pelos meios de comunicação, que passaram a ganhar cada vez mais importância, influenciando e interferindo na vida dos indivíduos.

A comunicação é essencial no processo de formação da sociedade. Permite o registro das descobertas, a transmissão de conhecimentos, da cultura, do saber.

Apesar das transformações na comunicação através dos meios, devemos lembrar que ela existe antes de tudo como essência na construção das relações humanas.

Através do diálogo entre os seres, analisamos e descobrimos o mundo, partilhamos ideias e pensamentos e nos influenciando mutuamente, somos formados para transformar realidades.

2.4 Comunicação e Educação: campos que dialogam

A educação em seus processos necessita da comunicação como componente responsável pelo encontro dos sujeitos, que buscam a compreensão de um assunto através do diálogo.

E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança. Da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois polos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se então, uma relação de simpatia entre ambos. Só ai há comunicação. (FREIRE, 1987, p.

107).

O diálogo é fundamental no processo de comunicação e aprendizagem.

Freire (1976) coloca que ser dialógico é vivenciar o diálogo, é não invadir, é não manipular, é não “sloganizar”. O diálogo é o encontro amoroso dos homens, que mediatizados pelo mundo, o pronunciam, isto é, o transformam e, transformando-o, o humanizam. Se a base da educação é o diálogo, “educação é comunicação, não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”. (FREIRE, 1992, p.69).

Soares (2011) propõe que para construirmos a interação entre os dois campos devemos partir do pressuposto de que a educação só é possível enquanto

(23)

“ação comunicativa”, uma vez que a comunicação configura-se, por si mesma, como um fenômeno presente em todos os modos de formação humana. Os diferentes modelos de educação deixam claro que a qualificação do processo educativo deriva do tipo de comunicação adotada. A “educação bancária” apontada por Paulo Freire adota uma maneira vertical de transferir, de disseminar conteúdos. A comunicação nesse modelo aparece como mera transmissão da informação. Já na denominada

“educação dialógica”, modelo apontado como adequado, a comunicação aparece como possibilidade de se obter uma construção solidária e compartilhada de conhecimentos. O processo educativo nessa concepção se sustenta através do diálogo, possibilitando o educando ser sujeito do processo.

Também aponta Soares (2011), que uma comunicação dialógica e participativa, mediada pela gestão compartilhada dos recursos e processos da informação, contribui para a prática educativa, que tem como finalidade maximizar as possibilidades de aprendizagem, de tomada de consciência e de mobilização para ação. A educação traz consigo o propósito de incentivar o diálogo para que se analise a realidade, se reflita sobre ela e se parta para uma ação transformadora. As diferentes formas de comunicação e expressão aliadas ao processo educativo possibilitam o incentivo aos sujeitos para que sejam mais ativos na sua realidade.

Educar-se é envolver-se em um processo de múltiplos fluxos comunicativos.

O sistema será tanto mais educativo, quanto mais rica for a trama de interações e comunicações que saiba abrir e por à disposição dos educandos. Uma comunicação educativa concebida a partir dessa matriz pedagógica teria como uma de suas funções capitais a provisão de estratégias, meios e métodos destinados a promover o desenvolvimento da competência comunicativa dos sujeitos educados. (KÁPLUN, 1999, p.74)

“A própria comunicação deve tornar-se vértebra dos processos educativos:

educar pela comunicação”. (SOARES, 2011, p. 23). Um processo de comunicação educativa se estabelece se os atores envolvidos forem transformados pela experiência de contato um com o outro. No contexto da educação, a comunicação é muito mais que um instrumento, é um elemento que possibilita práticas transformadoras.

A interface entre as áreas também pode partir da função da comunicação perante a sociedade, como instrumento de educação. Ambas convergem na função de transmissão de conhecimento. Essa função materializa-se principalmente pelos meios, que se transformam e se desenvolvem com rapidez, atingem a imensa

(24)

maioria da população e chegam aos locais mais distantes. Através deles muitos seres humanos interagem com o mundo, aprendem sobre ele e sentem-se parte da humanidade.

No Brasil, o surgimento do rádio aliou-se ao objetivo da educação, da luta pela democratização do acesso ao conhecimento. Em 1923, Roquete-Pinto criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, uma rádio educativa, com fins científicos, sociais e culturais. Justamente por este ser um meio de longo alcance pensava-se nas possibilidades como instrumento educativo. Apesar dos objetivos não terem sido alcançados naquele momento, a iniciativa de Roquete abriu perspectivas para outras experiências que utilizaram o rádio como um meio capaz de melhorar a instrução do povo brasileiro.

Kenski (2008) afirma que com a evolução dos meios surgiram novas condições complementares para que os homens pudessem realizar mais intensamente seus desejos de interlocução. Os meios possibilitam que a aprendizagem ocorra em múltiplos espaços, seja nos espaços escolares formais, seja nos espaços virtuais de aprendizagem. Os distanciamentos foram superados e redefiniram-se comportamentos e cultura, gerando outros valores e aprendizagens coletivas.

É nos meios de comunicação que a educação encontra sua democratização, a sua popularização, pois suas atividades, suas transformações e suas conquistas ultrapassam os espaços das discussões eruditas, os círculos culturais restritos e alcançam outras camadas da sociedade. Por intermédio da comunicação, que testemunha e relata o caminhar da educação, a sociedade compreende o alcance das suas possibilidades e de sua formação cultural. Ainda, as mudanças profundas no nosso próprio modo de viver como indivíduos sociais refletem-se na disponibilidade e na estrutura dos meios de comunicação. (FREIRE, 2000, p.32).

Apesar da contribuição dos meios nos processos de evolução da sociedade e formação de indivíduos, no cenário atual, os meios de comunicação massivos aparecem mais como instrumentos que impossibilitam o diálogo do que incentivam processos educativos. A comunicação se direciona pautada pelos interesses econômicos e políticos, impedindo um processo de formação crítica dos cidadãos.

O campo da comunicação/educação é um desafio na contemporaneidade. As possibilidades de discussão entre as interações das áreas de conhecimento são inesgotáveis. Educação e comunicação são campos interdisciplinares, que se

(25)

complementam. A educação acontece através do processo comunicativo, mas nem todo processo comunicativo é educativo. É bem verdade que nem sempre a comunicação cumpre o papel social que deveria exercer, se reduz a transmissão de informações, impossibilitando o diálogo e impondo modismos, teorias, políticas, que divergem de uma proposta educativa.

Diante dessa disparidade, a área de educação para comunicação aparece como alternativa para formar cidadãos críticos perante os meios. SOARES (2002) coloca que a interface alimenta-se dos estudos de recepção e volta-se para reflexão entre os polos vivos do processo de comunicação (relação entre os produtores, o processo produtivo e a recepção das mensagens), assim como no campo pedagógico, para os programas de formação de receptores autônomos e críticos frente aos meios. Também a área de Gestão Comunicativa oferece às questões aqui relacionadas, possibilidades em torno da ampliação do coeficiente comunicativo das ações humanas:

A área de gestão comunicativa volta-se para o planejamento, execução e realização dos processos e procedimentos que se articulam no âmbito da Comunicação/Cultura/Educação, criando ecossistemas comunicativos, espaços construídos a favor do diálogo social, levanto em conta inclusive, as potencialidades dos meios de comunicação e de suas tecnologias.

(SOARES, 2002, p.24).

Os campos aqui discutidos se invadem mutuamente, com forte relação de fluxos. SARTORI (2005) discute que a aproximação Comunicação/Educação exige um novo pensar que reelabore modelos pedagógicos e novas estratégias de intervenção na sociedade que consigam responder aos processos mediáticos e educacionais contemporâneos. Faz-se necessário pensar na interface entre os campos lembrando de não somente restringir a tarefa de educar às escolas, mas compreender que comunicação humana nos processos educacionais, pode ocorrer em qualquer lugar, a qualquer momento, transformando e levando pessoas a aprender não apenas conteúdos, mas valores, sensibilidades, comportamentos e práticas, em múltiplos e diferenciados caminhos.

(26)

3 EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA

3.1 Construindo o conceito de cidadania

Faz-se necessário compreender o conceito de cidadania pelas diferentes concepções do termo que acompanha o desenvolvimento histórico da sociedade, variando assim no tempo e espaço. O desenvolvimento da cidadania confunde-se com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles que lutam pela concretização dos direitos, pela liberdade, por garantias individuais e coletivas. Ser cidadão é conscientizar-se de que somos sujeitos de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, direitos civis, políticos e sociais.

Foi na Grécia antiga que o conceito de cidadania teve a sua primeira expressão. O termo cidadão (habitante da cidade) traduz um conceito grego, político, habitante da polis, a cidade-estado. Na Grécia, político era adulto livre, pertencente a uma cidade-estado, participante ativo nas atividades públicas, detentor de direitos e deveres. “De fora ficavam as mulheres, os estrangeiros (metecos) e os escravos”. (ARAÚJO,2008, p.77).

A concepção grega de cidadania fazia a distinção entre cidadão e o súdito, considerando-os desiguais e dando primazia ao cidadão - homem, reservando à cidadania, com direitos como o da participação na vida da cidade, a possibilidade de ser eleito para cargos públicos, e excluindo do direito de cidadania às mulheres, os escravos e os estrangeiros. (PRAIA, 1990, p.10)

A cidadania é vista nesta perspectiva como um direito coletivo, que favorecendo o direito a individualidade, pressupõe a ação política e sua socialização.

A “polis” correspondia a uma sociedade politizada, na qual a esfera pública estava situada em um plano mais elevado do que a esfera privada. “A cidadania refletia a integração do indivíduo à coletividade política”. (ABRANCHES, 1985, p. 09).

Para Aristóteles, autor da democracia ateniense, o elemento central da cidadania era a participação na comunidade política, que para além de ser a essência da liberdade, dependia também dela o desenvolvimento e a promoção pessoal dos indivíduos como pessoas. (ARAÚJO, 2008, p. 78). Foi na Grécia

(27)

clássica que surgiram iniciativas para educar os jovens para cidadania através de um currículo composto por um conjunto de saberes e competências, a chamada Paideia, que formava plenamente o Homem para a vida na polis.

Segundo Peruzzo (1998), a cidadania funda-se em concepções de sociedade e, como tais, são essas concepções que orientam a cidadania. No direito internacional, o termo relaciona-se à nacionalidade: direito de pertencer a uma nação. Cidadania incorpora o direito de se ter: proteção legal – na perspectiva de igualdade, todos são iguais perante a lei; o direito de locomover-se, ir de um lugar para o outro livremente; a participação política, representada pela possibilidade de votar e ser votado e o direito a expressão.

A concepção moderna de cidadania parte de uma perspectiva liberal, considerando a igualdade de todos os homens perante a lei. Esta concepção de cidadania remete à Revolução Francesa (1789) num contexto novo de democracia.

Surge como resultante dessa fase histórica a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada na Assembleia Nacional Francesa em 26 de Agosto de 1789. A cidadania passa a ser tratada de forma mais individualizada.

Consideram-se os direitos da pessoa individualmente e a busca central é a satisfação do interesse próprio. “O modelo liberal separa as esferas pública e privada e desaconselha à ação social e política, com base na concepção de que apenas a ação econômica privada pode conduzir ao bem-estar coletivo”.

(ABRANCHES, 1985, p. 09). Peruzzo (1998) cita Barbalet (1989), para ressaltar a problemática que envolve a cidadania:

A cidadania encerra manifestamente uma dimensão política, mas a prática mostra que isto não é suficiente para que ela seja compreendida. O problema está em quem pode exercê-la e em que termos é exercida. A questão está, de um lado, na cidadania como direito e, de outro, na incapacitação política dos cidadãos, em razão do grau de domínio dos recursos sociais e de acesso a eles. (BARBALET, 1989, p.11).

Peruzzo (1998) aponta como a principal diferença entre a cidadania nas cidades-estados gregas e no moderno Estado democrático a extensão do âmbito da comunidade política em cada um deles. Nas cidades-estados a cidadania era o 'status' privilegiado de um grupo. No Estado democrático moderno a base da cidadania é a capacidade de participar no exercício do poder político por meio do processo eleitoral. A conquista da cidadania significa a passagem de súditos para

(28)

cidadãos, cujo arcabouço social requer o envolvimento das pessoas, condicionando- se seu status de cidadão à qualidade da participação.

O estabelecimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, contribuiu para o surgimento de um conceito de cidadania que rompe o princípio de legitimidade baseado até o momento nos deveres dos súditos, e passa a estruturá-lo a partir dos direitos do cidadão. No Brasil, os primeiros esforços para a conquista e estabelecimento dos direitos humanos e da cidadania confundem-se com os movimentos patrióticos reivindicativos de liberdade para o País, a exemplo da Inconfidência Mineira, as lutas pela independência, abolição e no período da república, as alternâncias democráticas, dilemas históricos que custaram lutas, sacrifícios e vidas humanas.

O conceito e a prática de cidadania no mundo ocidental ampliaram-se ao longo dos tempos, estendendo-se para mulheres, crianças, minorias nacionais, étnicas, sexuais, etárias. Cidadania pode ser apontada assim, como a expressão concreta do exercício da democracia, definida por Bobbio (1986) como “um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizando a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos. [...] A regra fundamental da democracia é a regra da maioria, na qual são consideradas as decisões coletivas”. O conceito de democracia pressupõe que os cidadãos estejam preparados para usar as regras de participação democrática, que exista algum nível de igualdade social entre os indivíduos, e que os mecanismos institucionais de representação sejam realmente democráticos.

O exercício da cidadania passa a ser pensado de forma coletiva através de grupos e instituições que se legitimaram juridicamente a partir de 1988. Não se trata mais de reivindicar, pressionar ou demandar. É a hora de fazer, de propor, de participar qualificadamente. A exclusão social também ganha nova roupagem no período com a violência generalizada, a desagregação da autoridade estatal e o surgimento de estruturas paralelas de poder. “Esses pontos acabam tendo efeito sobre as estruturas organizativas da população”. (GOHN, 1997, p. 288). Peruzzo (2002) aponta duas dimensões dos direitos que envolvem a cidadania e uma terceira citando Krohling (1997) ressaltando o aspecto da coletividade. Os direitos civis e políticos são chamados de direitos de primeira geração, os sociais de segunda geração.

(29)

Na segunda metade do século XX surgiram os direitos de terceira geração, que tem como titular não o indivíduo, mas os grupos humanos, como o povo, a nação, coletividades étnicas, minorias discriminadas e até o direito de autodeterminação dos povos. [...] Entre esses direitos da terceira geração estariam também os dos “novos movimentos sociais”, como direitos relativos a interesses difusos, direito do consumidor, direito à ecologia, direito à qualidade de vida, direito da terceira idade, direito das crianças, dos jovens. (KROHLING, 1997, p.118).

A capacidade de intervenção do cidadão é apontada por Duarte (2009) no seu conceito de cidadania: cidadania implica em mobilização, cooperação e formação de vínculos de corresponsabilidade para com os interesses coletivos. O cidadão é um sujeito capaz de interferir na ordem social em que vive, participando das questões públicas, debatendo e deliberando sobre elas. A cidadania é histórica e varia conforme o contexto do período histórico em que se vive, mudando portanto, quem a exerce plenamente. A capacidade política dos cidadãos e a qualidade participativa influenciam a ampliação dos direitos de cidadania. Ela é sempre uma conquista do povo e as formas de participação dependem da sociedade política em que se vive.

“A cidadania não se encerra nas suas dimensões da liberdade individual e participação política, mas inclui os direitos sociais e coletivos”. (PERUZZO, 2002, p.

4).

Observa-se que no decorrer da história, o conceito de cidadania passou por transformações e requer hoje a constituição de sujeitos sociais ativos, definindo o que eles consideram serem os seus direitos e lutando pelo seu reconhecimento.

Segundo Peruzzo (2007), a cidadania exige participação nos seus múltiplos sentidos e dimensões.

Na década de 60, na América Latina, são implantados regimes militares que violam os Direitos Humanos e a liberdade democrática. Neste contexto, destaca-se a valorização da cidadania pela Igreja Católica, que através do Concílio Vaticano II e a publicação da Encíclica Pacem in Terris, do Papa João XXII, começou a atuar firmemente na defesa pelos direitos humanos e pela cidadania. A Igreja abraça através da sua Doutrina Social os direitos do ser humano, impulsionando novas ações pastorais neste sentido.

Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza.

Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, e inalienáveis. (JOÃO XXIII, 1963, parte I).

(30)

A Encíclica foca seu olhar preferencialmente aos pobres, e se expressa no ideal de “ver o mundo com os olhos dos pobres”, identificar-se com suas necessidades, com o seu sofrimento, demandas e anseios para então buscar compreender a sociedade e constituir uma nova espiritualidade. Pobre nesse sentido ultrapassa condições econômicas, ressalta outras formas de opressão como cultural, étnica, racial, sexista. O pobre não é mais um único sujeito, as lutas pela justiça e cidadania são múltiplas e a construção de uma sociedade mais inclusiva complexa.

O novo olhar da Igreja busca transformar o pobre em sujeito da história, sujeito evangelizador e sujeito de seu destino e da luta pela justiça, cidadania e direitos, conduzindo-o a uma ação na qual ele possa transformar-se e ser ele mesmo protagonista das transformações da história. A Igreja Católica compreende que faz parte da essência de sua missão evangélica a luta pela justiça, pelos direitos do ser humano, pela cidadania, o apoio efetivo à organização popular, tendo sempre presente que esse apoio tem por objetivo fortalecer o protagonismo dos agentes sociais na transformação da realidade e não o de substituí-los como sujeitos da história.

Desde então a preocupação da Igreja Católica com os aspectos da cidadania manifesta-se na Doutrina Social da Igreja (DSI), conjunto de escritos e mensagens – cartas, encíclicas, exortações, pronunciamentos, declarações – que compõe o pensamento do magistério católico a respeito da chamada “questão social”. Através da DSI o olhar da Igreja dirige-se ao mundo exterior, identificando nele os desafios principais à fé cristã e buscando alternativas às contradições da sociedade em que vive.

O pensamento da Igreja salienta que a consciência da cidadania faz ver que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. Essa dimensão abre o povo para os problemas sociais locais, nacionais, internacionais: de moradia, saúde, alimentação, educação, direitos, discriminação. Através da prática da cidadania os indivíduos ganham poder de interferir decidir, modificar, criar e usufruir, em condições de igualdade dos direitos e deveres inerentes a cidadania. Mas para que a cidadania de fato se consolide, faz-se necessário formar os indivíduos para que compreendam o ser cidadão, conheçam de fato seus direitos e deveres, analisem criticamente a sociedade e se tornem agentes transformadores de suas realidades.

(31)

3.2 Educar para Cidadania

Formar cidadãos, eis um dever do Estado, das instituições que o compõe.

Todos nós deveríamos entender a cidadania e participar de forma ativa da busca pela sua concretização na sociedade. Acreditamos compreender o que é a cidadania e o que a envolve, mas nem sempre lembramos que assim como temos direitos, também temos deveres, somos os responsáveis por analisar criticamente a forma como ela se desenvolve na sociedade e lutar pelas transformações necessárias.

A educação pela cidadania ultrapassa os ambientes formais de educação, ela é responsabilidade de toda sociedade em conjunto, de cada indivíduo em seu contexto social.

A educação para a cidadania se insere num movimento amplo de luta pelos direitos humanos no mundo inteiro; um movimento pluralista, polissêmico, vário, polêmico, divergente, mas um movimento histórico concreto, aliás, o único movimento que tenha uma linguagem, uma abrangência, uma articulação, uma organização que supera as fronteiras estaduais, tanto horizontalmente (as redes) como verticalmente (do bairro às Nações Unidas). (TOSI, 2004, p.04).

Peruzzo (1998) comenta que nos inserimos em processos de educação para cidadania informais ao participarmos de uma práxis cotidiana voltada para os interesses e necessidades dos próprios grupos do qual pertencemos, ou ao participarmos de organizações e movimentos comprometidos com interesses sociais mais amplos. “É no dia-a-dia, no relacionamento com as instituições que afetam diretamente a vida das pessoas, como uma associação de moradores ou poder público local, que se firmam os alicerces da educação para a cidadania”.

Dentro dessa concepção de aprendizado da cidadania em espaços informais, Haddad (2003) sugere a ideia da “cidadania ativa”, que requer a participação na esfera pública, a relação com outros atores, com interesses divergentes e diversos.

Tem como base o respeito em relação às diferenças e a superação das desigualdades sociais, bem como a capacidade de dialogar, buscar consensos que privilegiem a maioria dos envolvidos, ou, num sentido mais amplo, o bem comum. Tal processo não é fácil de ser produzido, dado o emaranhado de interesses e a necessidade de construção de uma outra cultura de solidariedade. (HADDAD, 2003, p. 02).

(32)

Nesta luta diária de novas relações é que se apreende o compromisso com o respeito pelos direitos de outras pessoas ou grupos sociais, portanto, com seus deveres. Paixão (2000) expõe o papel das instituições da sociedade nesse processo, mas cita como dever natural da escola educar para cidadania.

A educação para a cidadania constitui uma garantia da democracia e só pode realizar-se em contextos experienciais democráticos. Diz respeito a todas as instituições de socialização, de formação e de expressão da vida pública, mas naturalmente, cabe aos sistemas educativos desenvolverem, nas crianças e nos jovens, os saberes e as práticas duma cidadania ativa.

(PAIXÃO, 2000, p. 11)

Mas não basta aprender somente o conceito de cidadania para que transformações aconteçam. Gentili e Alencar (2001) afirmam que o mais importante é a prática dessa definição. Cidadania significa, além do reconhecimento dos direitos e deveres dos cidadãos, o cumprimento dos mesmos por parte da sociedade. A cidadania deve ser pensada como um conjunto de valores e práticas cujo exercício não somente se fundamenta no reconhecimento formal dos direitos e deveres que constituem a vida cotidiana dos indivíduos.

Educar é um ato que visa à cidadania e a tomada de consciência política, que somente se concretiza se houver a prática de reivindicação, da apropriação de espaços, do confronto para fazer valer os direitos do cidadão. A consciência crítica só se efetiva através de um processo educativo, onde os indivíduos incentivados por uma comunicação dialógica refletem a realidade e motivam-se a participar, a tornarem-se agentes de transformação. “A ampliação da cidadania levará o homem e a mulher a serem, cada vez mais, sujeitos e não objetos da história”. (PERUZZO, 1998, p. 287). A prática da cidadania pode ser o caminho para a construção de uma sociedade melhor, mas requer um processo de formação para de fato chegar lá.

Peruzzo (2002) lembra que educação significa "educar para a sociedade". É a socialização do patrimônio de conhecimento acumulado, a construção de um saber sobre os meios de obter o conhecimento e as formas de convivência social. É também "educar para a convivência social e a cidadania", para a tomada de consciência e o exercício dos direitos e deveres do cidadão. O educar para cidadania só pode se concretizar através de um processo de relações horizontais, dialógicas, onde um em contato com o outro reflita sobre a realidade, se conscientize sobre as necessidades dessa realidade e busque viver a prática cidadã.

(33)

O processo educativo nutre-se da comunicação como fonte para realizar seus objetivos. “Educar para cidadania envolve o incentivo a criança, ao jovem ou ao adulto a desenvolver hábitos de solidariedade, de partilha, de justiça, de verdade, de respeito por si e pelos outros, de respeito pela diferença e pelo bem comum”.

(ARAÚJO, 2002, p.03). A educação para cidadania envolve ainda o ensinar o indivíduo a expor suas ideias, saber escutar e desenvolver condutas de tolerância para num futuro próximo, serem capazes de fazer escolhas livremente.

Essas questões atribuídas a educação para cidadania exigem processos baseados em uma educação dialógica para que de fato aconteçam. É esse modelo de educação que possibilita uma construção compartilhada e solidária de conhecimentos, priorizando os educandos como sujeitos do processo. O aprender nesse sentido, significa tomar consciência da realidade e o ter consciência é justamente ter conhecimento do seu ambiente e de sua história, aprender a realidade subjetiva e objetiva.

A partir desse diagnóstico, refletir sobre sua responsabilidade e conceber uma prática individual, e também coletiva, para interferir e modificar esta realidade. A construção de uma cultura de paz requer uma prática educativa que promova a capacidade de crítica e a formulação de propostas, e não a passividade, que termina por ser cúmplice dos mecanismos de injustiça e violação de direitos. (HADDAD, 2003, p. 03).

Diante do cenário multicultural, diferenciado, em que nos encontramos, surgem novos autores sociais na participação política. Há necessidade de se manter uma reflexão permanente sobre o “ser cidadão”, e pensar em alternativas que possibilitem a concretização de uma cidadania plena. A Igreja Católica como uma instituição que atua na construção da sociedade, concretiza a formação para cidadania através de sua ação Pastoral. Destaca-se no contexto atual a necessidade de formação aos jovens: “há a necessidade de formar o jovem para o exercício da cidadania e direitos humanos à luz do Ensino Social da Igreja”. (CNBB, 2007, p. 52).

A educação para cidadania necessita da comunicação como base do processo, para se concretizar. Na trajetória da Igreja Católica destacam-se ações que se apropriaram da comunicação popular como alternativa para transformações sociais, proporcionando interferências na sociedade e contribuindo para mudanças de contextos desfavorecedores da cidadania, como será demonstrado a seguir.

(34)

4 COMUNICAÇÃO POPULAR E A EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA

4.1 A Comunicação do povo e para o povo

Apesar das dificuldades e das desilusões, algumas experiências de envolvimento popular na comunicação comprovam que o homem e a mulher encerram a potencialidade de ser sujeitos da história. Ser sujeito e não mero objeto é a essência da condição humana. (PERUZZO, 1998, p. 23).

Inserir o indivíduo na sociedade, fortalecendo a cidadania, favorecendo a mudança social e a transformação do indivíduo em sujeito, eis o propósito da comunicação popular. “Uma comunicação que vem do povo ou tem a ver com ele. O povo aparece como protagonista mesmo que não na totalidade, de novas práticas culturais, sociais e políticas”. (PERUZZO, 1991).

Está [a comunicação popular] articulada a um processo de conscientização-organização-ação mais amplo de setores de classes subalternas. [...] Ela não tem um fim em si mesma, mas relaciona-se com um pleito mais amplo. É meio de conscientização, mobilização, educação política, informação e manifestação cultural do povo. (PERUZZO, 2004, p.

125).

Povo nesse sentido compreende-se como sinônimo das categorias sociais que não detém poder político e nem econômico, é um conjunto de classes subalternas. Povo não tem estatuto teórico e universal, não se podendo, portanto, vê-lo sob uma categoria de análise prefixada. “Considera-se esse conceito dentro de um contexto, como uma realização histórica, cujos interesses variam em função de fatores determinantes, estruturais e conjunturais, constituindo-se sempre num todo plural e contraditório”. (PERUZZO, 1998, p.117,118).

Ligada à cultura do povo, a comunicação popular caracteriza-se pelas manifestações populares e se estrutura de acordo com a forma com que as pessoas se expressam a respeito de determinados assuntos e pelos pontos de interesse dos indivíduos. Possibilita o reconhecimento e a construção de identidade das comunidades. A compreensão da comunicação popular passa necessariamente por um mergulho profundo no universo das culturas populares, em meio a todos os conflitos e ambiguidades que elas encerram. “Torna-se indispensável entender e resgatar os valores que perpassam o cotidiano e o imaginário, tanto de emissores

Referências

Documentos relacionados

A entrega dos documentos acima referidos também poderá ser feita por meio postal (SEDEX), com cópia autenticada em cartório a ser encaminhado para a Comissão Organizadora do Processo

Para tal, iremos: a Mapear e descrever as identidades de gênero que emergem entre os estudantes da graduação de Letras Língua Portuguesa, campus I; b Selecionar, entre esses

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,

O raciocínio jurídico pode ter um papel importante para a ratio, mas a ratio em si mesma é mais que o raciocínio, e no interior de diversos casos haverá raciocínios judiciais

A través de esta encuesta fue posible comprender el desconocimiento que existe sobre este tema y lo necesario que es adquirir información para poder aplicarla y conseguir

A teoria das filas de espera agrega o c,onjunto de modelos nntc;máti- cos estocásticos construídos para o estudo dos fenómenos de espera que surgem correntemente na

filmes que são, excepcionalmente, verdadeiras obras de arte), Mas, apesar de todos estes "contudo", admitamús para argumentar, que os meios audio- visuais (oralidade