Anatomia do declínio: a pesquisa no Rio de Janeiro
*Reinaldo Guimarães
**À memória de José Pelúcio Ferreira.
Resumo - Analisa-se a posição do Estado do Rio de Janeiro no sistema de ciência e tecnologia do Brasil. Procura-se demonstrar que há um processo de esvaziamento no campo científico-tecnológico no estado decorrente de uma lógica muito mais extensa no tempo e mais complexa em suas determinações do que apenas a mudança física da capital federal e dos centros de poder a ela associados. Identificam-se três momentos-chave: a Proclamação da República, a constituição das universidades, a partir de 1920, e o fim da política do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979). Este último momento, considerado a terceira onda de esvaziamento, apresenta evidências empíricas relativas aos seguintes aspectos: a evolução dos grupos de excelência no Brasil (1975-2001);
a produção científica de algumas unidades da Federação (1975-1999); aos egressos de cursos de doutorado (1987-1999); e ao financiamento das atividades de pesquisa e de ensino superior na década de 1990. No que diz respeito às restrições econômicas e políticas para a implementação de iniciativas federais positivamente diferenciadas para o Estado do Rio de Janeiro, observa-se que a possibilidade de retomada de crescimento da atividade de ciência e tecnologia no estado depende, em larga medida, da atuação da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
Palavras-chave: ciência e tecnologia; política de ciência e tecnologia; grupos de pesquisa; Rio de Janeiro; financiamento à pesquisa .
Introdução
A hegemonia da economia como disciplina explicadora dos mecanismos que movem o mundo lançou reflexos em muitas direções e no terreno de C&T, entre outras conseqüências, teve o condão de abafar a importância do que poderia ser chamado dimensão cultural do fenômeno científico e tecnológico. Nos países periféricos, onde os vínculos da ciência e da tecnologia com a economia e o progresso técnico são, por várias razões, mais débeis, aquela dimensão cultural tende a ser muito mais importante do que nos países centrais
1. A lembrança que faço da dimensão cultural da atividade
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Artigo originalmente publicado na Revista Parcerias Estratégicas, nº 15, outubro de 2002, p.61-91.
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