• Nenhum resultado encontrado

O Transtorno Bipolar era denominado como Psicose Maníaco-depressiva.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Transtorno Bipolar era denominado como Psicose Maníaco-depressiva."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Transtorno Bipolar

Mário Quilici Psicanalista, pesquisador do desenvolvimento infantil. Dedica-se ao estudo de neuropsicologia e psiconeuroimunologia.

O

Transtorno Bipolar era denominado como Psicose Maníaco-depres-siva. Esse nome foi abandonado porque alguns estudiosos acreditam que tal transtorno não apresenta, necessariamente, sintomas psicóticos. Eu discordo, porque parece haver um quadro dissociativo bastante evidente nessa patologia, coisa que veremos mais à frente. De qualquer forma, com a mudança de nome, esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação psicótica, para ser considerado uma perturbação afetiva.

No Transtorno Bipolar, o paciente apresenta episódios de mania, alternados com episódios depressivos (altos e baixos). As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas, por maníacas. Na prática, observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro; há pacientes bipolares que nunca fizeram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca, enquanto as fases depressivas foram numerosas.

(2)

O diagnóstico nem sempre é fácil, porque esse tipo de transtorno não tem um padrão que poderíamos chamar de uniforme. Muitas vezes temos quadros mistos. Pode surgir uma depressão inicial e depois de alguns anos, surgir o quadro maníaco. Por essa razão, o diagnóstico correto é demorado.

O início desse transtorno pode ocorrer tanto pela fase depressiva (de-pressão) como pela fase maníaca (mania). O surgimento pode ser abrupto ou menos marcante. Nos casos abruptos em que surge a mania, é mais fácil recon-hecer, porque os sintomas maníacos parecem rupturas psicóticas (ou são?). O indivíduo muda completamente de comportamento, passando de um estado de humor deprimido para um outro completamente oposto. Em geral, começam a ter atitudes onipotentes e egoístas, são alegres, faladores e realizadores.

Além dos quadros depressivos e maníacos mais definidos, há os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes pode confundir ou então ajudar no diagnóstico. Em geral, nesses quadros, ai-nda que as pessoas pareçam normais, observa-se alguns comportamentos hipo-maníacos como euforia “fora do lugar”, gastos além das possibilidades, promes-sas que não podem ser cumpridas e uma certa “onipotência em relação à vida”.

Entre uma fase e outra a pessoa pode ser normal, tendo uma vida como outra pessoa qualquer; outras pessoas podem apresentar leves sintomas entre as fases, não alcançando uma recuperação plena. Há também os pacientes, uma minoria, que não se recuperam, tornando-se incapazes de levar uma vida normal e independente.

Para que possa ficar mais claro, vamos observar as duas faces da bipolaridade:

Sintomas da Depressão:

(3)

psicomotora. A capacidade física fica comprometida, pois o indivíduo sente um cansaço constante. O humor é melancólico e a auto-estima rebaixada. O indi-víduo tem sentimentos de inferioridade. Em geral é uma pessoa triste, pessi-mista e desesperançada. Não consegue refletir e, em muitas ocasiões, quando consegue entabular uma conversa, perde o fio do pensamento deixando-o sem conclusão. Às vezes parece-nos que ele desistiu do que ia dizer porque simples-mente pára de falar. Ele pode ou não se aperceber disso. Isso ocorre porque as idéias fluem com lentidão e dificuldade e há uma impossibilidade de manter a concentração e a atenção. Há muito pouco interesse pelas coisas em geral, e o prazer pela realização dos objetivos de vida, que antes eram agradáveis, desaparece. À medida que o processo torna-se mais grave, o sujeito evita esta-belecer laços afetivos de qualquer natureza.

Seu interesse pelo ambiente e pelas pessoas de quem gostava diminui, o que contribui para um aumento do isolamento familiar e social. Em geral o indi-víduo vê as coisas do passado com culpa, chamando para si a responsabilidade pelos erros e fracassos da sua vida e daqueles que o cercam. A culpa e a auto-recriminação são constantes. Lamentos são freqüentes e a irritabilidade, mais forte, também acontece devido a uma diminuição da paciência.

No dia a dia há sérias dificuldades para adormecer. Quando consegue dormir, entretanto, o indivíduo dorme mal e de forma agitada. Ao amanhecer, há uma inquietação que o impede de levantar-se, mas ele não consegue ficar na cama. Mas o oposto também pode ocorrer, ou seja, sono em demasia. Essa é uma forma de fugir da realidade, e é mais comum em adolescentes.

(4)

A libido ou, desejo sexual, fica reduzida. O indivíduo afasta-se da companheira(o). Surge o pensamento ansioso, com idéias fixas e circulares que incomodam o indivíduo e agravam seu estado. Tais formas de pensamento tam-bém incomodam aquelas pessoas que os cercam.

Em alguns casos, a depressão pode estar mascarada por uma doença físi-ca, que é conseqüência da própria depressão, como por exemplo, úlcera, infarto, gastrite, dores reumáticas e tantas outras doenças de ordem psicossomática. Al-guns casos de depressão se caracterizam por dores vagas e difusas pelo corpo ou cabeça. Os exames laboratoriais apresentam resultados normais, o que pode despertar angústias persecutórias de que o paciente está padecendo de algum mal incurável. Juntamente com tudo isso, surge o pânico que agrava ainda mais o quadro. A ansiedade compromete a memória e causa ainda mais aflição, cri-ando fantasias de doenças mentais degenerativas. A situação fica realmente grave quando o indivíduo entra naquele estado de apatia, no qual não consegue sentir nem alegria, nem tristeza (“sensação da falta de sentimentos”).

Durante a depressão, é comum a presença de ideação suicida. Tais idéias não se concretizam porque o indivíduo não sente que tem energia suficiente para efetivar seus intentos. Tais idéias podem surgir diretamente ou na forma de fantasias persistentes de acidentes ou doenças. Mas, à medida que o quadro se agrava, pode acontecer que o paciente realmente venha a realizar o suicídio.

Sintomas da mania

(5)

Em geral, há uma perda da consciência a respeito de sua própria condição pa-tológica, o que faz com que se tornem pessoas socialmente inconvenientes.

Ao contrário da depressão, as atividades são aceleradas e até mesmo caóti-cas. Há uma evidente sensação de onipotência, que acaba por torná-los aborreci-dos e, ao mesmo tempo, perigosos. Não conseguem considerar a opinião aborreci-dos de-mais. Eles sabem tudo, se metem em tudo, sabem fazer qualquer coisa, resolvem todos os problemas e têm as melhores idéias. Não é fácil para um indivíduo, em estado maníaco, aceitar opiniões ou conselhos de quem quer que seja.

Nessa fase, esse tipo de paciente fala ininterruptamente. Mas de forma semel-hante ao que ocorre na fase de depressão, ainda que de maneira diametralmente oposta, as idéias ocorrem rapidamente, a ponto deles não conseguirem concluir o que começaram. A diferença é que na mania, o indivíduo fica emendando uma idéia não concluída em outra diferente e, assim, sucessivamente. A semelhança está apenas no fato de perder as idéias. Como a percepção está mais aguçada há um aumento para a percepção de estímulos externos que podem levá-los freqüentemente a distrair-se com acontecimentos e detalhes insignificantes, e que são alheios à conversa em andamento.

(6)

erada, interesse por tudo, excesso de otimismo e uma grande facilidade nos contatos sociais. Observe-se que todos estes comportamentos carecem de sen-so-crítico e podem, de maneira ruim, acabar por expor o paciente a situações vexatórias e, mesmo, levá-los a fazerem parcerias com pessoas que se aprovei-tam de seu estado para obter benefícios. Por exemplo, muitos pacientes fizeram empréstimos de grandes somas em dinheiro para pessoas ou organizações que não poderiam reembolsá-los. Tais somas foram tiradas das reservas da famí-lia e, assim, vieram depois a causar problemas no orçamento dessas mesmas famílias. Os prejuízos sociais e econômicos de uma fase maníaca podem ser devastadores, não só para o paciente, como também para seus familiares.

Tais pacientes não sentem culpa e parecem amorais. Não têm senso-crítico, o que agrava o seu comportamento sexual, já que sua sexualidade fica exacer-bada nesse período. Eles tendem a ficar dando cantadas em pessoas por quem se interessam. A “onipotência” – característica destes estados – faz com que os pacientes não tomem os devidos cuidados, e, assim, muitos deles, apare-cem com quadros de DST no período de depressão. Muitos pacientes maníacos apresentam quadros de DST, como gonorréia, sífilis e condiloma, após a fase maníaca. Aliás, este aumento da libido pode levá-los a situações críticas, como por exemplo cantar companheiros de outras pessoas ou fazer propostas inad-equadas para pessoas desconhecidas com quem não têm a menor intimidade.

Em geral, esses pacientes dormem pouco e, apesar disso, acordam bem dispostos. Conseguem executar muitas tarefas ao mesmo tempo e também aquelas tarefas que haviam sido deixadas de lado durante o período depressivo. Diferente do estado encontrado na fase depressiva, o paciente em fase manía-ca, não sente que está doente e nem que pode ficar doente. Esse é um aspecto que pode dificultar a busca e a realização do tratamento.

Sintomas (maníacos):

(7)

inaba-láveis; nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis direta-mente ligados ao paciente podem abalar o seu estado de humor. Nessa fase, o paciente literalmente ri da própria desgraça.

Sentimento de grandeza; o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido de Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente, quando os sintomas ainda não se aprofundaram, o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma con-vicção delirante.

Sente-se invencível, acha que nada poderá detê-los.

Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sen-tados por mais do que alguns minutos ou relaxar.

O senso de perigo fica comprometido, e eles envolvem-se em atividades que apresentam tanto risco para sua integridade física, como patrimonial.

O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e, até mesmo promíscuo, tendo numerosos parceiros num curto espaço de tempo.

Os pensamentos ocorrem de forma incontrolável para o próprio paciente. Essa grande confusão de idéias, na verdade, constitui-se de uma interrupção de temas que foram interrompidos antes de terem sido completados e deram lugar ao início de outro, que, por sua vez, também não é terminado, e assim suces-sivamente. Chama-se a isso de fuga de idéias.

A maneira de falar, geralmente, se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto freqüente nesses pacientes.

(8)

restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade. Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provo-cadas por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece, se desfaz.

Qual a causa da doença?

Apesar de sabermos que o Transtorno Bipolar tem origens genéticas, a causa propriamente dita é desconhecida. Mesmo sendo considerado endóge-no, geralmente o Transtorno Bipolar é desencadeado por algumas das diversas condições estressantes que ocorrem na vida, como traumas, acidentes, mudan-ças, quebras financeiras, troca de emprego, perda de status social, separações, morte de pessoa querida etc. No Brasil não conhecemos as estatísticas, mas sabemos que nos Estado Unidos, mais de 2 milhões de americanos sofrem de distúrbio bipolar, popularmente conhecido como psicose maníaco depressiva. Mesmo sendo considerada uma doença endógena, até agora, não há marca-dores químicos ou psicológicos que possam ser utilizados para diagnosticar a doença. Ela é diagnosticada por sintomas comportamentais, incluindo mudan-ças freqüentes de humor, entre a euforia excessiva e a depressão grave.

Muitos grupos de cientistas estudam o distúrbio familiar bipolar. Alguns dess-es dess-estudos dess-escolheram pacientdess-es que herdaram o distúrbio de seus pais, e o objetivo foi o de verificar se existiam mudanças dignas de nota, na função e nas estruturas cerebrais.

Para chegar a esses resultados, os pesquisadores estão usando espec-troscopia de ressonância magnética do próton. Nenhuma novidade importante foi obtida até o momento. A única observação que vem sendo considerada uma descoberta é uma nos níveis de um aminoácido chamado N-acetilaspartato, ou NAA, no hipocampo, que é parte de um complexo de aminoácidos dos circuitos neurais do cérebro e que regulam as emoções e a memória

(9)

Segundo essa pesquisa observou-se que há concentrações significativa-mente mais baixas de N-acetilaspartato no hipocampo direito dos seres humanos com distúrbio bipolar, quando comparados ao grupo de controle. Observou-se, também, que quanto mais tempo os pacientes sofrem do distúrbio bipolar, meno-res se tornam os níveis de N-acetilaspartato que eles têm no hipocampo direito. Essa associação entre duração da doença e o NAA parece estar restringida a certas regiões cerebrais, uma vez que essa associação não foi encontrada em estudos anteriores que envolveram o lobo frontal e o tálamo.

Mas o que significa isso? Bem, segundo os pesquisadores, uma baixa quan-tidade de N-acetilaspartato é uma indicação de que a integridade dos neurônios e/ou axônios está comprometida de alguma maneira, ou por dano, perda ou disfunção, dizem eles. A diminuição de N-acetilaspartato no hipocampo dos in-divíduos testados ao longo do tempo, indica que talvez exista uma natureza progressiva desta doença. Mas o problema aqui – como sempre – aparece nas depressões, é que a diminuição dos níveis de N-acetilaspartato é também obser-vada em doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e a Esclerose Múltipla. Então, fica difícil saber se estes indivíduos estão evoluindo para uma dessas doenças ou se essa é uma condição relacio-nada com o transtorno Bipolar.

De acordo com Deicken, as descobertas também confirmam o importante papel do hipocampo no distúrbio bipolar. Os estudos das imagens cerebrais dos pacientes que sofrem de depressão têm demonstrado hipocampos menores.

Psicoterapia Individual

(10)

Psicoterapia Familiar

O Distúrbio Bipolar é visto como uma doença que se espalha no seio familiar, com um poder desestruturante não apenas para o doente, como também para aqueles que o cercam mais intimamente. Enquanto um membro familiar padecer de bipolaridade, todos, de alguma forma, estarão implicados em seus efeitos. A Psicoterapia vem em auxílio à família com o objetivo de melhor orientá-la na forma de lidar com o paciente Bipolar, como também em reestruturar-se diante dos conflitos.

2004 - Copyright CEMP - Centro de Estudos em Psicologia Todos os Direitos Reservados

R Tomás Acioli, 576 - Aldeota - Fortaleza - Ce CEP: 60135-180 Fone/Fax: (85) 246-5757 - e-mail: cemp@cemp.com.br

Referências

Documentos relacionados

E perceberás, então, como o Cristo fustigado na cruz, que os teus mais acirrados perseguidores são apenas crianças de curto entendimento e de

Os candidatos a bolsistas participarão normalmente do processo seletivo do programa e deverão obter nota igual ou superior a 7,0 (sete) nas etapas. Havendo mais candidatos do que

Considerando a formação da equipe de trabalho, o tempo de realização previsto no projeto de extensão e a especificidade das necessidades dos catadores, algumas

A Bíblia diz que “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” A Bíblia diz que “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”

Na concorrência entre os fornecedores de TI para a atualização da infraestrutura da Ibiuna Investimentos, a Planus se destacou não só pela proposta mais completa, mas pela

Os isolados foram submetidos à determinação da resistência à oxacilina pela detecção do gene mecA por PCR (Murakami et al., 1991), considerado o método padrão-ouro para

a) um dever do Estado, as creches e pré-escolas têm como tarefa somente ensinar as crianças pequenas. b) um direito político, as creches e pré-escolas têm como tarefa

(UNESP)/NALingua-CNPq 1 , no Brasil; b) explicitaremos os conceitos teóricos mobilizados durante as análises dos dados de fala de crianças, tais como sujeito, língua, gêneros