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Marilu Martens Oliveira Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Cornélio Procópio (UTFPR)

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Academic year: 2021

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UMA PROPOSTA DE ENSINO INTERDISCIPLINAR MEDIANTE ANÁLISE FILMICA

Zenaide de Fátima Dante Correia Rocha Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Londrina (UTFPR) Mário Cézar Alves Ferreira Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Londrina (UTFPR)

Marilu Martens Oliveira Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Cornélio Procópio (UTFPR)

RESUMO

A atividade com cinema em sala de aula exige do professor uma série de procedimentos pedagógicos, aos quais se deve estar atento, sendo que um destes remete à acessibilidade dos alunos aos novos meios tecnológicos. Este trabalho apresenta uma reflexão sobre um procedimento metodológico interdisciplinar colaborativo utilizado por um professor de Ciências e um professor de História, ambos do Ensino Fundamental II, em uma turma de 33 alunos de uma escola pública de Londrina, no ano de 2014. O trabalho teve como substrato os conteúdos Tabela Periódica e a Construção do Conhecimento Científico, mediante o filme “Madame Curie” (1943), baseado na biografia da famosa cientista, escrita por sua filha Eve Curie. Ao utilizarem o filme, veiculando conteúdos de química e história da ciência em estudo, professores e estudantes puderam discutir e analisar de forma mais crítica e interativa como se dá a construção do conhecimento científico. Outra contribuição desta abordagem metodológica é seu aspecto lúdico, crítico e reflexivo no sentido de se opor a uma abordagem tradicional. Dentre os resultados promissores da experiência didática, destaca-se a mobilização de um espaço para formação cidadã, no qual os educandos tiveram a oportunidade de desmistificar visões estereotipadas sobre os conteúdos trabalhados.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Representações fílmicas. Madame Curie.

Introdução

O uso do filme em aulas de Ciências permite uma série de abordagens críticas e interativas as quais o professor deve estar atento, visto que nas produções fílmicas encontram-se representações sobre procedimentos investigatórios e explicações de fenômenos que são, muitas vezes, questionáveis e sem base científica, mas que podem servir de contraponto ao estudo de determinado campo cientifico real (NAPOLITANO 2011). Por meio do cinema, os alunos podem visualizar a reconstituição de cenários e

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como ocorre a construção do conhecimento, mediante cenas que simulam experiências de química e podem perfeitamente substituir idas ao laboratório e poupar tempo em atividades perigosas (MORAN, 2007).

Nessa perspectiva, a presente prática pedagógica que envolve as disciplinas de Ciências e História teve a intenção de promover, por meio de uma proposta interdisciplinar, a reflexão dos alunos quanto à construção do conhecimento, oportunizando-lhes a visualização de que o conhecimento não é algo “posto”, inquestionável, mas uma construção e reelaboração de conceitos a partir de conhecimentos anteriores de forma dinâmica e, nesse sentido, a tecnologia e a ciência são inerentes à história da humanidade, pois são frutos do trabalho humano.

Por meio dessa visão teórico-metodológica do processo educativo, este trabalho apresenta um procedimento metodológico interdisciplinar colaborativo, utilizado por dois professores, um de Ciências e outro de História, em turma do nono ano do Ensino Fundamental, com 35 alunos, de uma escola pública de Londrina, no ano de 2014. O objetivo é trabalhar os conteúdos Tabela Periódica e a Construção do Conhecimento Científico utilizando o filme “Madame Curie” (1943), cuja fonte é a famosa biografia da cientista, escrita por sua filha Eve Curie, livro que atingiu grande sucesso comercial e de crítica.

De natureza qualitativa, a presente pesquisa- ação visou problematizar e lançar as diferentes questões. Que potencial pedagógico tem a utilização de filmes ao trabalhar os conteúdos de História e Ciências em uma perspectiva interdisciplinar? Como explorar os conceitos da história do desenvolvimento tecnológico, relacionando-os às descobertas feitas pelo casal Marie e Pierre Curie, que lançaram as bases para um novo campo do conhecimento - a “química nuclear”? Os filmes são fontes em potencial para o Ensino de História e Química crítica e reflexivamente?

A experiência didática

O objetivo da proposta é apresentar aos alunos a construção do conhecimento como um processo que envolve árduo trabalho de pesquisa. Esse objetivo geral desdobra-se em quatro específicos: 1) discutir a condição da mulher na sociedade contemporânea e a sua dificuldade em inserir-se nas universidades; 2) refletir sobre a relação entre a história da ciência e os grandes conflitos mundiais; 3) compreender a relação entre ciência e política; 4) discutir o papel da Química no sistema produtivo

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industrial; refletir sobre as relações entre o desenvolvimento científico e tecnológico da Química e seus aspectos políticos, sociais e culturais.

Para a implementação do projeto, foram consideradas diversas etapas.

1ª etapa: Nessa fase, que precedeu a apresentação do filme, foram ministradas aulas expositivas a partir dos recursos convencionais disponibilizados na escola: leitura do livro didático, explicações sobre o modelo atômico, tabela periódica (organização e número de elementos já descobertos) e comentários dos professores de Ciências e História sobre a história da ciência ao descrever os equipamentos utilizados na época em que o casal Curie iniciou suas pesquisas (essa etapa durou cerca de duas aulas).

2ª etapa: (duração: 30’) elaboração de um questionário de conhecimento prévio para os alunos responderem individualmente sobre o filme “Madame Curie”, com as seguintes perguntas:

 Você já assistiu ao filme “Madame Curie”?

 Você acredita que filmes podem ser utilizados como recurso para o ensino de História e Ciências?

 Você já ouviu falar sobre Madame Curie e suas contribuições para o campo das ciências?

As três questões receberam “não” como resposta, o que leva a concluir que por ser considerado cult, e transitar fora do circuito comercial, o filme teve pouca ou nenhuma adesão por parte do público jovem.

3ª etapa: (duração: 10’) Os estudantes receberam a ficha técnica do filme, contendo ano de produção, direção, roteiro, música etc. Foi destacado que o filme se baseou na biografia da cientista, escrita por sua filha mais nova, Eve. Esta etapa é importante para que os estudantes percebam o filme como produto elaborado a partir de um processo trabalhoso, no qual estão envolvidos diversos tipos de profissionais antes da sua distribuição e exibição nos cinemas.

4ª etapa: fase em que o filme foi apresentado integralmente. Enquanto os alunos se acomodavam para assisti-lo, receberam um questionário que visava organizar a interpretação sobre trechos selecionados acerca das seguintes questões: Quais as dificuldades que Madame Curie encontrou para estudar? Quais as circunstâncias que a levaram a pesquisar sobre os raios de natureza desconhecida emitidos pelo urânio?

Quais os novos elementos encontrados e como ocorreram? Quais as dificuldades encontradas para separar e definir os elementos bário e rádio? Descreva como o casal Curie descobriu o metal polônio. A descoberta do polônio lançou os fundamentos para

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um novo campo da física. Como é denominado esse campo? Prestou-se atenção aos equipamentos de laboratório da época em que Marie e Pierre Curie iniciaram sua pesquisa? Quais os efeitos da exposição à radioatividade para Marie? (Foram utilizadas duas aulas nessa etapa).

5ª etapa: (duração: 50’) Realização do debate sobre o filme. Os estudantes foram divididos em grupos para apresentação em forma de seminários e debate. Nessa atividade todos os grupos deveriam apresentar e expor suas opiniões sobre as impressões dos outros grupos. As meninas, que representam pouco mais de 50% da sala, ficaram admiradas com a condição subalterna a que as mulheres estavam submetidas no final do século XIX e início do século XX. Marie Curie (antes do casamento Maria Sklododowska) era polonesa e emigrou para a França porque na sua terra natal as mulheres não eram aceitas nas universidades, enfrentando discriminação, e Madame Curie enfrentou adversidades também para estudar na Universidade de Paris, a Sorbonne. As opiniões foram do tipo: “Eu não queria ter nascido naquela época”; “Ser mulher hoje já é difícil, mas naquela época era pior ainda”; “Os homens tinham medo que as mulheres fossem mais inteligentes do que eles”. Quanto aos meninos, houve falas preconceituosas como: “Naquele tempo é que era bom, não tinha moleza para a mulherada”; “Hoje em dia as mulheres estão muito folgadas”.

Apenas um aluno sabia que o rádio é utilizado em aparelhos de raio X. Os estudantes ficaram admirados com a utilização desse elemento químico na indústria de cosmético e dos males que ele causou até que a comunidade cientifica descobrisse seus efeitos nocivos, após a morte de muitas pessoas. Os alunos foram unânimes em louvar a atitude do casal Curie, que considerava que as novas descobertas deveriam estar disponíveis para beneficio de toda a humanidade. Quando foi exposto que os americanos fizeram uso do rádio para a fabricação da bomba atômica e a utilizaram durante a Segunda Guerra contra o Japão, surgiu a seguinte fala: “Esses Estados Unidos metem o bedelho em tudo quanto é guerra... fazer guerra é com eles mesmos”; “Eu acho eles massa, cara”. Nesse momento, o professor chamou a atenção dos alunos para o caráter imperialista da nação americana e da sua intenção em alardear para o mundo o seu poderio bélico, principalmente para a União Soviética, sua principal rival no novo cenário geopolítico que se redesenhava após a Segunda Guerra Mundial, e daria início ao período que ficou conhecido como Guerra Fria.

Dentre as reflexões obtidas mediante a aplicação da atividade, é possível, ainda, pontuar que os estudantes puderam reconhecer o potencial informativo e a

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produção artística do filme. Visualizaram cenas de laboratórios com seus artefatos e conseguiram fazer a relação daquele contexto histórico com as descobertas científicas e seus desdobramentos nos dias atuais.

Algumas considerações

O cinema, dentre outros recursos metodológicos utilizados nesta proposta didática, foi promissor no processo educativo dos estudantes, pois ao “recuperar”

cenários desconhecidos e simular experiências realizadas num contexto histórico, social e cultural distante da realidade desses sujeitos, estimulou-os à curiosidade e investigação no ensino dos conteúdos de Ciências e de História, promovendo o senso crítico sobre a realidade retratada em analogia com a contemporaneidade.

A respeito da condução da análise fílmica, vale ressaltar a importância da mediação docente, no sentido de estar atento ao poder de “sedução” exercido pela imagem em movimento, já que os estudantes mais ingênuos podem considerar real tudo o que é visto no filme. Napolitano (2006) afirma que em uma sociedade onde a presença do audiovisual faz-se constante, mediante a existência de aparatos técnicos cada vez mais sofisticados, presume-se que os alunos se habituaram a construir seus saberes por meio desse tipo de material. Os filmes de ficção científica não são os únicos a projetarem imagens sobre o conhecimento científico: todos os gêneros de filme podem contribuir para o ensino de Ciências e ensino de História, pois também contribuem para a formação de estereótipos, modelos e expectativas que permeiam o imaginário social acerca da ciência e de suas técnicas. Nesse contexto, é conveniente à escola apropriar-se dos conteúdos veiculados pelas mídias para, por meio deles, promover a reflexão crítica sobre os discursos por elas emitidos.

Agradecimento: à Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Londrina, pelo apoio à divulgação do trabalho.

Referências

MADAME CURIE. Direção: Mervyn LeRoy. Produção: Metro-Goldwyn-Mayer; EUA, 1943, (DVD: 1999) 124 minutos.

MOCELLIN, Renato. História e cinema: educação para as mídias. São Paulo: Ed. do Brasil, 2009.

MORAN, José Manuel. Desafios na comunicação pessoal. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2007. P. 162 - 166

______. As mídias na educação. 3. ed. revista. São Paulo: Paulinas, 2007.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. 5ª ed. São Paulo:

Contexto, 2011.

Referências

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