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Susana Cunha Cerqueira. Emmanuel Lévinas. Assimetrias Simétricas para a Educação da Sexualidade

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Academic year: 2021

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Em ma nu el L év in as Emmanuel Lévinas

Assimetrias Simétricas

para a Educação da Sexualidade

Susana Cunha Cerqueira

16.42 677190

---INFORMATION--- Couverture : Classique

[Roman (134x204)]

NB Pages : 206

pages

- Tranche : 2 mm + (nb pages x 0,07 mm) =

16.42

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Emmanuel Lévinas

Su sa na Cu nh a C er qu ei ra

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Resumo

Na sociedade hodierna, urge pensar a educação da sexualidade, alicerçando a prática pedagógica em pressupostos, os quais não reificarão o homem. Para que tal aconteça, o docente deverá perfilar no seu horizonte educativo os grandes desafios que a sociedade apresenta e a necessidade de uma modificação radical da interacção humana, tendo em vista o homem do século XXI. A pedagogização da sexualidade é uma realidade que poderá ser fundamentada nos pressupostos filosóficos de Emmanuel Lévinas.

Emmanuel Lévinas, filósofo da contemporaneidade, rompe com a idolatria do eu, com a ontologia, deixando o eu de ser a medida de todas as coisas, sem que isto implique a sua negação : o eu é infinitamente responsável pelo Outro. O Outro, exterioridade, separação, Altura, Transcendência adquire um novo estatuto. É no rosto do Outro que brilha o rasto do Infinito. O eu não é activo, mas passivo. É o Outro quem apela o eu.

A filosofia levinasiana encontra-se pejada de uma terminologia muito específica, formando uma trama que

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não é comum (Outro, rosto, separação, Altura, Transcendência, Infinito, responsabilidade, refém, exterioridade, estrangeiro, rasto, o eleito, acolhimento, Mestre, ética, palavra de honra, diaconia, anfibologia, expiação, por exemplo), provocando um traumatismo de espanto. É esta estupefacção que provoca ensino.

A relação eu-Outro acontece, tanto no acto educativo como na relação amorosa, em planos assimétricos, havendo sempre uma radical separação entre o eu e o Outro, o qual nunca se desvela. O discípulo, o filho, a amada são sempre um Outro, não resvalando nunca para a mesmidade, nunca acontecendo a posse do ser. A relação amorosa levinasiana percepciona-se como desejo, necessidade e exterioridade onde, momentaneamente, se vislumbra simetria, para rapidamente se afirmar a assimetria, a exterioridade do Outro, a sua Altura, onde a posse nunca acontece, porque no rosto do Outro se plasma a ordem primeira : Não matarás !

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Abstract

In modern society, it’s urgent to think about the teaching of sexuality, basing pedagogical practice in presuppositions which won’t turn man into a thing. In order to do that, the teacher should straighten up in his educational horizon not only the great challenges presented by society but also the need of a complete modification of human interaction, having in mind the 21st century man. The teaching of sexuality is a reality which can be grounded on Emmanuel Levinas’s philosophic assumptions.

Emmanuel Lévinas, philosopher of contemporariness, breaks with the idolatry of the One, with ondotology whereas the One stops being the measure of all things.

However, this doesn’t mean the denial of the One : the One is totally responsible for the Other. The Other, outwardness, separation, height, transcendency acquires a new status. It’s in the Other’s face that the trace of infinity shines. The One isn’t active, it’s passive. It’s the other that calls out for the One.

Lévinas’s philosophy is full of a very specific

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terminology, creating a not very common scheme (the Other, face, separation, height, Transcendency, Infinity, responsibility, hostage, outwardness, foreigner, trace, the chosen, shelter, Master, ethics, word of honour, deaconship, amphibiology, reparation, for example) and causing a trauma of astonishment. It’s this perplexity that causes teaching.

The relationship One-Other occurs both in teaching act and in loving relationship, in asymmetric plans. There is always a radical dissolution between the One and the Other who is never unveiled. The student, the son, the lover are always one Other, never stumbling into sameness and never occurring the possession of being. Levinas’s loving affair is seen as desire, need and outwardeness where for a moment, we can glimpse symmetry, and suddenly asymmetry is shown, the Other’s outwardness, his height. In this relationship, possession never occurs because in the other’s face the most important order is shown : “You shall not kill”.

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A todos aqueles que para mim são Mestre.

Este trabalho foi realizado sob a orientação do Prof. Doutor Silveira de Brito da Faculdade de Filosofa da Universidade Católica de Braga.

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Siglas das obras de Emmanuel Lévinas

A.E. Autrement qu’Être ou au-delà de l’Essence, La Haye, Martinus Nijhoff, 1974.

D.L. Difficile Liberté, Paris, Albin Michel, 1976.

E.E.H.H. En Découvrant l’Existence avec Husserl et Heidegger, Paris, Librairie Philosophique J. Vrin, 1967.

E.N. Entre-Nous. Essais Sur le Penser-à- l’Autre, Paris, Grasset & Fasquelle, 1991.

E.I. Éthique et Infini, Dialogues avec Philippe Nemo, Paris, Arthème Fayard et Radio France, 1982.

H.A.H. Humanisme de l’Autre Homme, Paris, Fata Morgana, 1972.

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T.A. Le Temps et l’Autre, Paris, Presses Universitaires de France, 1983.

T.I. Totalité et Infini. Essai sur l’Extériorité, La Haye, Martinus Nijhoff, 1961.

T.Int. Transcendance et Intelligibilité, suivi d’un entretien, Genève, Éditions Labor et Fides, 1984.

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Introdução

Ao iniciarmos este trabalho, não podemos deixar de enunciar as linhas mestras que nos conduzirão quer quanto ao tema quer quanto à organização. Justificaremos a escolha deste tema e deste autor e, de seguida, apresentaremos a estrutura do trabalho.

A nossa motivação decorre da necessidade de encontrar respostas para podermos fundamentar a prática pedagógica, quando, em Formação Cívica ou em qualquer outro momento da actividade pedagógica, se aborda a sexualidade.

Afinal, fala-se da educação da sexualidade, mas que pressupostos estão subjacentes à lei, aos documentos dos quais nos servimos para operacionalizar as práticas pedagógicas ou, simplesmente, quando abordamos o tema, intuitivamente ? Afinal, para onde conduzimos os discentes ? Possivelmente, teríamos de investigar para indagar quais os pressupostos que subjazem à prática pedagógica, quando os docentes abordam a sexualidade.

Neste momento, a nossa preocupação é outra. Ao longo deste trabalho, não nos debruçaremos sobre a

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existência virtual do outro, nem tão pouco procuraremos elaborar uma pedagogia específica de educação sexual numa só disciplina ou saber se deve haver uma educação sexual, ou uma educação para a sexualidade, ou da sexualidade, ou se a educação da sexualidade deve ser abordada transdisciplinarmente. A nossa tese baseia-se na possibilidade de uma educação formal da sexualidade assente numa ínfima parte do universo filosófico de Emmanuel Lévinas1, utilizando sobretudo alguns dos pressupostos levinasianos encontrados essencialmente na obra Totalité et Infini. Essai sur l’Extériorité. Centrar-nos- emos essencialmente nesta obra porque é emblemática e neste autor porque é um filósofo do séc. XX. Lévinas aborda a subjectividade de um modo revolucionário. O ser ou o ente são formulados em Totalité et Infini como subjectividade2. E esta subjectividade não pode ser entendida como uma concentração dos poderes do eu, de onde toda a acção irradia, mas é passividade absoluta, pois

1 Cf. BRITO, J. H. Silveira de – De Atenas a Jerusalém. A Subjectividade Passiva em Lévinas. Lisboa : Universidade Católica Editora, 2002, pp.

13-14 : Emmanuel Lévinas nasceu a 12 de Janeiro de 1906, no seio de uma família culta e judia, na Lituânia, mais precisamente em Kovno.

Em consequência da Primeira Guerra Mundial, a família desloca-se para Kharkov, na Ucrânia, tendo assistido, posteriormente, à Revolução Bolchevique. Em 1923, parte para Estrasburgo, iniciando aí os seus estudos de filosofia. Na Segunda Guerra Mundial, é feito prisioneiro, tendo sido deportado para um campo de concentração nazi. Visto ser oficial, não é exterminado. Terminada a guerra, volta para França, para Paris, continuando a sua carreira como filósofo e exercendo a actividade docente em várias universidades como Poitiers, Paris-Nanterre e Paris- Sorbonne. O seu ocaso acontece em 1995, deixando uma obra que rompe com a egologia do eu, tornando-se o filósofo da alteridade.

2 Cf. op. cit. p. 105.

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o Outro é quem faz o chamamento, a interpelação, tornando-se a subjectividade, o eu, ser-para-o-outro.

Apoiar-nos-emos, ainda, em dois documentos que nós consideramos fundamentais : Educação, um Tesouro a Descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI e Educação Sexual em Meio Escolar – Linhas Orientadoras. O primeiro, consideramos que se trata de uma obra fundamental, pois a educação desempenha um papel crucial no desenvolvimento humano e social, num mundo global, onde se debatem forças antagónicas entre o público e o privado, o correcto e o incorrecto (politicamente), o espiritual e o material, o particular e o grupo, o local e o mundial, o interior e o exterior, o ancestral e o actual, o legal e o ilegal, o igual e o diferente. Na outra face da realidade, temos o homem, um ser de meras limitações, mas confrangedoras : capacidade limitada para absorver e compreender o mundo num tempo que lhe é oferecido, mas escasso. O segundo, Educação Sexual em Meio Escolar – Linhas Orientadoras, datado de 2000, revela-se um documento pertinente pela actualidade e porque « o objectivo último da escola é a construção de sujeitos livres e responsáveis, e […] a educação sexual e dos afectos é parte essencial do processo que conduz ao reconhecimento do outro como sujeito de direitos »3. Quanto à legislação utilizada, basear-nos-emos na Lei nº 120/99, de 11 de Agosto, onde se afirma no nº1 do Artº 2º do Capítulo II que nos « estabelecimentos de ensino básico e secundário será implementado um programa para a promoção da saúde e da

3Educação Sexual em Meio Escolar. Linhas Orientadoras. Lisboa :

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sexualidade humana »4. Tanto anteriormente como posteriormente, nova legislação surgiu, mas na Lei nº 120/99, de 11 de Agosto encontramos nomeados, pertinentemente, os conteúdos da educação da sexualidade.

É por demais notório que, ciclicamente, alguém acorda da sua letargia e (re) lembra que a sexualidade5 está

4 Lei nº 120/99, de 11 de Agosto. Diário da República nº 186/99 – I Série – A. Lisboa : Assembleia da República, 1999.

5 Por questões metodológicas, não faremos o elencar de definições sobre o que é a sexualidade. No entanto, não poderemos deixar de citar aquelas que para nós se revelam pertinentes, na perspectiva da sexologia, da Organização Mundial de Saúde e de uma antropologia da sexualidade. A sexualidade pode ser entendida como « uma base de diferenciação entre homens e mulheres e a capacidade específica do nosso organismo responder a determinados estímulos, através do desejo, prazer e satisfação erótica que, integrando a genitalidade, tende a extravasá-la para um conjunto mais amplo e mais rico de sensações físicas e psíquicas ». Cf. VILAR, D. – « Aprendizagem Sexual e Educação Sexual », in : GOMES, F. Allen ; ALBUQUERQUE, A. ; NUNES, J. Silveira (coord.) – Sexologia em Portugal, Vol. II. Lisboa : Texto, Lda. 1987, p. 166. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a sexualidade é « a integração dos elementos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual, por meios que sejam positivamente enriquecedores e que potenciem a personalidade, a comunicação e o amor ». Cf. Instrucción y Asistencia en Cuestiones de Sexualidad Humana : Formación de Profesionales de la Salud. Informe de una Reunión de la OMS. Serie de Informes Técnicos-572.

Organización Mundial de la Salud : Ginebra, 1975, p. 6 : « la integración de los elementos somáticos, emocionales, intelectuales y sociales del ser sexual, por medios que sean positivamente enriquecedores y que potencien la personalidad, la comunicación y el amor ». Na linha de uma antropologia da sexualidade, hoje não se percepciona a sexualidade como mera genitalidade – visão redutora da sexualidade. « A sexualidade é uma espécie de porta aberta para o outro, uma energia que leva o homem a procurar a sua realização na relação e que, entretanto, constitui a modalidade segundo a qual essa relação se

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aí. Uma revolução política acontece e a sexualidade emerge ; uma doença invade o corpo e a sexualidade salta em catadupa para os mass media ; as jovens e as mulheres não reflectem e deixam-se influenciar pelo marketing e por uma cultura do corpo hoje muito em moda, sustentada, em parte, pelo instinto gregário e a sexualidade de novo assalta o quotidiano ; o número de gravidezes de mães adolescentes aumenta e, uma vez mais, a sexualidade é exposta, mediatizada, camuflando os verdadeiros objectivos ; os metrossexuais quase ofendem Adónis, pondo em causa o papel do homem e da mulher na sociedade hodierna e, mais uma vez, se repensa a educação da sexualidade.

Subitamente, a sociedade sexuada6 debate, suscita opiniões, fala em sexualidade, ininterruptamente, adoptando posições diametralmente opostas, fruto de uma herança cerrada vinda de um passado conservador e de

exprime. […] Qualquer relação humana está marcada pela presença da sexualidade que abre o “eu” não só ao “tu”, mas também ao “nós”, assumindo sinais de carácter social ». Cf. LEONE, S. ; PRIVITERA, S. ; CUNHA, J. Teixeira da (coord.) – Dicionário de Bioética. Trad. do italiano de A. Maia da Rocha, rev. de José Madureira Beça. Vila Nova de Gaia : Editorial Perpétuo Socorro, 2001, p. 1022.

6 Consideramos que a actuação e a relação que se estabelece entre os seres humanos é “sexuada”, mas apenas alguns desses comportamentos e relacionamentos são “sexuais”, no sentido de incorporarem a genitalidade. Saliente-se que nas relações cuja componente genital é preponderante, interferem todas as dimensões da pessoa, sobretudo a psicológica, a sociocultural e, como é evidente, a genital, apesar de haver quem considere outras dimensões. Cf. ROCHA, F. – Educar em Valores.

Aveiro : Estante Editora, 1996, p. 128. A relação sexual implica duas pessoas e não duas matérias físicas, cujo apelo na diferença aconteceu, obrigando ao esquecimento de si próprio na entrega ao outro, sem

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uma concepção liberalizante e permissiva de uma determinada época, edificada sobre novos valores e novos costumes. A sociedade política fala da urgência da educação da sexualidade como uma necessidade social, escamoteando objectivos que não devem ser de imediato inferidos : rampa oculta para referendos ou porque realmente necessária. A comunicação social alimenta jogos de poder e modela o pensamento, uniformizando-o. A sexualidade, porque energia dinâmica, demasiado apelativa, foi remetida a um silêncio, a transgressões de segredo ; hoje, é dissecada, enaltecida, arrasada, tornando- se extra-ordinária, quando deveria ser in-ordinária, no extradordinário que a vida é, fazendo, tão naturalmente7, parte integrante da vida humana.

Posteriormente, virá um novo ciclo em que as mentes estarão mais apaziguadas porque, após a tempestade de ideias, surgirá um novo ciclo, um clarificar de entendimentos subjectivos, permitindo a estabilização de ideias e de ideais para, após esse período, e porque as mudanças sociais assim o

7 Cremos que Eduardo Sá não estará totalmente de acordo com esta afirmação. Segundo este autor, os professores, ansiosos e tentando aparentar segurança, abordam a sexualidade como se esta fosse « tão natural como a sua sede ». Cf. SÁ, Eduardo – Tudo o que o Amor não É.

3ª ed. Lisboa : Oficina do Livro, 2003, p. 134. Em certa medida, concordamos, porque se o homem é um ser extraordinário, tudo que lhe diz respeito deve ser, consequentemente, extraordinário. Mas se a Natureza tem o seu próprio ritmo (ainda que alterado pela força esmagadora do homem, que a Natureza depressa reenvia para o seu devido lugar, lembrando-lhe a sua mesquinhez), também no homem a sexualidade tem os seus próprios ritmos, o seu próprio fluir, apesar de ser diferente, porque energia dinâmica de vida, de relação, de encontro com o Outro. Não é « tão natural como a sua sede », mas, diríamos, é somente “natural”.

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exigirão, surgir um novo período de altercação sobre sexualidade. Tal devir não deverá desesperar os mais cépticos, nem inflamar desmesuradamente os mais altaneiros porque a própria essência da sexualidade é também composta por momentos de ruptura, de crescimento e de estabilização.

As instituições de ensino, hoje, revelam-se o espaço pedagógico mais adequado para implementar a educação da sexualidade, numa perspectiva formal, porquanto abrangem um número muito elevado de discentes : crianças, adolescentes e adultos. No entanto, a educação da sexualidade sempre aconteceu. Cremos que se passou para a massificação da educação da sexualidade. Não podemos deixar de citar Valentim Alferes :

« a educação sexual, tomada em sentido amplo […], enquanto conjunto de práticas discursivas, de rituais simbólicos e de mecanismos de socialização, constitui um traço comum a todas as sociedades conhecidas. O que é original nas nossas sociedades é a duplicação das disposições normativas de ordem genérica pelas orientações consignadas numa acção pedagógica sistemática de tipo escolar »8.

Sendo a sexualidade inerente ao homem, um ser de descontinuidades, com um único propósito de continuidade, confrangedoramente radical – ser para a morte, surge a sexualidade e é por nós percepcionada, tendo subjacente alguns dos conceitos filosóficos de Emmanuel Lévinas. A sexualidade é uma das possibilidades de escapar à lei da morte, o esquecimento,

8 ALFERES, V.R. – Encenações e Comportamentos Sexuais. Para uma Psicologia Social da Sexualidade. Porto : Edições Afrontamento, 1997, p.

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através do que está para lá – o Outro, o filho, ponto máximo da alteridade. Lévinas é o filósofo da alteridade.

O pensamento filosófico de Emmanuel Lévinas é o reflexo dos acontecimentos históricos passados na Europa, no século XX, durante a Segunda Guerra Mundial. A filosofia levinasiana revela-se uma mais-valia além do ser, procurando a « unidade do logos, a verdade, a significação, por relação ao Ser, como lugar originário da inteligibilidade »9 ; reflecte também um substrato judaico, sem que seja teológico.

Enquanto os filósofos da antiguidade, os filósofos greco- ocidentais, eram os pensadores do ser, aglutinando todo o pensamento filosófico em torno do eu, numa egologia circular, Lévinas é o filósofo do Outro, isto é, tendo sido o Outro deglutido pelo mesmo, com Lévinas a situação altera- se e o Outro revela-se como transcendência, sendo o eu pura passividade, tornando-se refém do Outro, porque é o Outro que o chama.

Lévinas, ao longo do seu percurso filosófico, projecta um novo fôlego e uma nova visão a determinadas concepções do pensamento clássico, nomeadamente circunscrevendo « na ética o sentido ou a inteligibilidade da transcendência »10.

Relativamente à estrutura, o nosso trabalho apresenta três partes, com vários subtítulos. Na Parte I, apresentamos as assimetrias levinasianas que preenchem parte da

9 PINHEIRO, H. – Subjectividade Plural. Trajectos do Sofrimento em Emmanuel Lévinas. Porto : Campo das Letras – Editores, S.A., 2001, p.26.

10 CIARAMELLI, F. – Transcendance et Éthique. Essai sur Lévinas.

Bruxelles : Éditions Ousia S.C., 1989, p.7 : « dans l’éthique le sens ou l’intelligibilité de la transcendance ».

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concepção filosófica de Lévinas, as quais surgem como palavras-chave. Estas permitirão ao leitor, não habituado a estas leituras, familiarizar-se com uma determinada terminologia. Ao mesmo tempo, o leitor ficará imbuído do espírito levinasiano, assimilando os conceitos. Na Parte II, os objectivos serão os mesmos, mas considerando as assimetrias que se verificam no relacionamento entre o feminino e o masculino e na relação amorosa. A Parte III encontra-se dividida em dois pontos, nomeadamente, Educar para a Assimetria e Educar para a Assimetria Simétrica. Continuaremos a utilizar palavras-chave, pois cremos que se revelarão eficazes para a assimilação dos conceitos e condensam o pensamento deste filósofo.

Nestas duas partes, constataremos a pertinência do pensamento levinasiano, o modo como ele se articula e onde o encontramos nas entrelinhas, tendo em conta a legislação portuguesa e os documentos que já mencionámos, os quais servem de orientação para a prática pedagógica. Objectivamente, em Educar para a Assimetria, focaremos a importância do Mestre, do docente e a escolarização da sexualidade. Em Educar para a Assimetria Simétrica, tentaremos constatar que o Outro é sempre alguém que não se encontra em situação de paridade, apesar da existência de pontos de contacto, não se alcançando nunca o seu conhecimento. O eu encontrar- se-á numa posição tal que sobre ele recairá uma enorme responsabilidade pelo Outro.

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