Avaliação do estatuto de conservação de
Armeria berlengensis endemismo do
arquipélago das Berlengas, Portugal
Arquipélago das Berlengas
Reserva Natural das Berlengas, ICNB - 1981 Rede Natura 2000
Reserva da Biosfera da UNESCO - 2011
Vegetação composta essencialmente por plantas anuais, com vários endemismos:
Armeria berlengensis Pulicaria microcephala
Herniaria lusitanica subsp. berlengiana Echium rosulatum subsp. davaei
#
Km
200 0
Arquipélago das Berlengas
Península Ibérica
Arquipélago das
Berlengas
• c. 10Km do litoral
• 10 ilhas com vegetação
vascular
• Area de ocupação de Armeria
berlengensis fragmentada e inferior a 10 Km2
Armeria berlengensis Daveau
(Plumbaginaceae)
Estatuto de protecção:
Espécie do Anexo II da Directiva Habitat 2004 foi proposto ao ICNB a categoria:
‘Critically Endangered’ CR B2ab(i, ii, iii, v).
2011 IUCN atribuíu a categoria: ‘Critically Endangered’ CR
Armeria berlengensis é uma entidade
taxonómica válida?
Pergunta da IUCN: Qual é o nivel de diferenciação deste taxon relativamente aos próximos do litoral? Género Armeria : c. 80 % das espécies são
endemismos da península Ibérica.
Comparando com A. welwitschii, espécie mais próxima:
• Diferenças morfológicas fracas
• Diferenciação genética fraca, mas dentro do padrão das espécies litorais deste Género; sinais de hibridação
• % elevada de híbridos estéreis • Diferença de habitat
PC1 = 57.76 %
PC2
=
17.28
%
welwitschii sul dunas welwitschii sul planalto welwitschii norte dunas welwitschii norte planalto berlengensis -3 -2 -1 0 1 2 3 4 -3 -2 -1 0 1 2 3
Diferenciação morfológica
Análise de Componentes Principais A.berlengensis e A.welwitschii, in situ
ACP = 75.04 % (6 variáveis, n = 473 )
Haplo_1
A.pseudoarmeria - Cabo da Roca A.pseudoarmeria - Magoito
A.pseudoarmeria x A.welwitschii - Magoito A.welwitschii - Guincho
Haplo_12 A.welwitschii São Pedro de Muel.
Nazaré
Haplo_24 A.berlengensis Ilha Berlenga (Peniche)
Haplo_10 A.welwitschii
Pedrógão (Marinha Grande)
Haplo_7 A.welwitschii Papoa (Peniche) Haplo_4
A.pungens - Pontevedra, I.Cíes. A.pseudoarmeria - Montachique
Haplo_28
A.pungens x A.pubigera Pontevedra. Ilhas Cíes. Haplo_6
A.pseudoa. x A.welwitschii Magoito
Haplo_3
A.pseudoarmeria - Magoito A.pseudo. x A.welw.hii - Magoito
A.welwitschii - Magoito
Haplo_29
A.pungens x A.pubigera Pontevedra. Ilhas Cíes.
Haplo_25 A.berlengensis Ilha Berlenga (Peniche)
N. sequências = 213 N. haplótipos = 41
N. posições com variabilidade para os marcadores cloroplásticos usados :
trnL-F : 6 trnS-fM : 9 matK-K : 25
Diferenciação genética
(SYNTHESYS ES-TAF-2758. RJB-CSIC. 2007)F1: Esterilidade polínica B x W 64.1 % P x W 65.8 % B x P Ausência de dados E x W * 100 % E x P * Ausência de floração M x P * Ausência de floração W : A. welwitschii P : A. pseudoarmeria B : A. berlengensis
E : A.maritima subsp. elongata (N. Europa) M : A.maritima subsp. maritima (N. Europa) (* dados C. Lefèbvre)
Isolamento reprodutor
Isolamento postzigótico de híbridos experimentais F1
F1: A. berlengensis x A. welwitschii
• Desenvolvimento vegetativo normal
• Floração normal
• Esterilidade polínica elevada
Quanto mais afastados geograficamente os parentais, menor o sucesso das F1
Variabilidade genética
mais baixa nos grupos
Farilhões e Estelas
• Farilhões e Estelas: indivíduos vilosos (var. villosus)
• Berlenga: indivíduos vilosos (var. villosus) e glabros (var.
berlengensis)
• Vilosidade: caracter mendeliano dominante simples Parentais fen. glabro Parentais fenótipo viloso gg gg g gg vg g vv vv v gg gg g vg vv v vv vv v g g g v v v
A r m e r i a
berlengensis
Presença em pontos de monitorização. ••••••• • •• • •• •• • • • • • •• • • • • • • •••• • • • •••• • • • • • • • • • • • • • • •••• • • •• • • • • •• • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • • • • • •• •• • • •• • • •• • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • •• •• • • ••• • • • • • • • • • • • • • • 0 + + 0.1 Kilometers 0.2 + +Decréscimo da população: Factores endógenos ?
• Fertilidade polínica
• Taxa de produção de sementes • Peso das sementes
• Taxa de germinação • Taxa de sobrevivência
Fertilidade polínica in situ
Sistema dimórfico de incompatibilidade polínica que resulta numa xerogamia obrigatória.
Heterozigótico AC/ac (pólen reticulado Aa; estigma globuloso Cc) Homozigótico ac/ac (pólen ponctuado aa; estigma papilhoso cc)
A. berlengensis (n= 160) pólen fértil > 90 % 50 COB : 50 PAP A. welwitschii (n= 96) pólen fértil > 90 % 50 COB : 50 PAP • Fertilidade polínica elevada.
• Não ocorre quebra das proporções esperadas para os dois tipos de pólen e os dois tipos de estigma.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % A. berlengensis A. welwitschii A. pseudoarmeria ex-situ, solo de origem, regas controladas
in-situ ex-situ, solo hortícola
esterilizado, regas controladas
Ensaios experimentais: taxa de germinação in situ e ex-situ
Taxa de germinação após 12 semanas in-situ e 4 semanas ex-situ.
Sementes para cada ensaio provenientes das mesmas plantas-mães (n=100 por sp. e por ensaio)
* Destruídas por acção das aves
Decréscimo da população: Factores exógenos ?
Diminuição da qualidade do habitat por influência de:
Larus michahellis (=Larus cachinanns)
[Gaivota-argêntea de patas amarelas ]
Carpobrotus edulis s.l. [chorão]
Larus michahellis (= L.cachinnans)
Ameaças:
• Pressão física: pisoteio, construção de ninhos,
comportamento territorial.
• Pressão química.
• • • • • • • • 0 + + 0.1 Kilometers 0.2 + + 1 to 2 2 to 3 3 to 3 • • • • • • • • 0 + + 0.1 Kilometers 0.2 + + Baixo Médio Elevado
Larus michahellis
(= L.cachinnans)Distribuição dos níveis de pressão ornitológica na ilha da Berlenga.
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000 50000 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 N .º d e in d iv íd u o s re p ro d u to re s 1994-1996 Controlo de gaivotas reprodutoras 1999-2004 Destruição de ovos 1974 : 2 600 gaivotas reprodutoras 1994 : 44 698 gaivotas reprodutoras 2004 : 23 446 gaivotas reprodutoras
Contagens de indivíduos nidificantes de gaivota-argêntea de patas amarelas Larus michahellis na Ilha da Berlenga (Morais et al. 2004 Reserva Natural das Berlengas - ICNB).
2004-2011
c.22.000 reprodutores
• Armeria berlengensis está adaptada a uma ornitocoprofilia leve do meio.
• A acumulação de excrementos e regurgitos no substrato origina uma pressão
química, com alteração dos teores de micro-elementos do solo e aumento do pH.
Influência do guano sobre o desenvolvimento das plântulas
de A. berlengensis: ensaio experimental
0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 5 10 20 Guano no substrato (gKg-1) Peso seco biomassa aérea (mg) Armeria berlengensis Raphanus sativus (controle) F 3 : 15 = 18,33 *** LSD = 17,9 F 3 : 11= 0,64 n.s.
Carpobrotus edulis s.l.
Ameaças:
•Eliminação da vegetação autóctone por competição pelo espaço. • Alteração das características do solo.
• Taxa de crescimento exponencial com possibilidade de colonizar
• • • • • • • • 0 + + 0.1 Kilometers 0.2 + +
Carpobrotus edulis s.l.
5,5 4,3 5,3 5,8 6,4 pH do solo Solo sob Armeria berlengensis Solo sem Carpo. Erradicação 3 anos Erradicação 2 anos Solo sob Carpo.
Carpobrotus edulis s.l.
Efeito da manta-morta de sobre o pH do solo
Carpobrotus edulis s.l. : 46 % Mesembryanthemum crystallinum : 82 %
Taxa de germinação de Aizoaceae invasoras
ou potencialmente invasoras
Oryctolagus cuniculus
Referências à sua presença na Berlenga desde 1465.
Volta a estar citado em 1758. Unicamente na ilha Berlenga.
• • • • • • • • 0 + + 0.1 Kilometers 0.2 + + Oryctolagus cuniculus ● presença de tocas ● sinais de actividade
Oryctolagus
cuniculus
Ameaças: • Dispersão de sementes de Carpobrotus edulis s.l.Presença de tocas ou de sinais de actividade: presença de dejectos, latrinas, vegetação predada, solo revolvido.
Levantamentos realizados na Primavera (n=169).
Frequência de sementes de Carpobrotus edulis s.l.
germinadas por amostra de excremento de Oryctolagus cuniculus.
N= 42 amostras de peso variável, secas ao ar. Peso seco total 62,09 g e 36 sementes germinadas. Frequência de sementes de Carpobrotus edulis s.l.
germinadas por amostra de excremento de O. cuniculus
0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 1 2 3 4 7 9 %
Sobre o habitat:
• Larus michahellis - principal problema. Correcção do solo? • Controle da população de Carpobrotus edulis s.l.
• Vigilância de Mesembryanthemum crystallinum.
• Reforço das populações de espécies autóctones de modo a evitar a
erosão do solo no Verão ou após acções de eliminação de C. edulis s.l.
Sobre Armeria berlengensis:
• Recolha de sementes de A. berlengensis, identificando a planta-mãe. • Reforço das sub-populações aportando sementes na época das
chuvas de Outono.
• Reforço das sub-populações aportando plântulas de 1 ano oriundas de
plantas-mãe controladas.
• Constituição de um pequeno viveiro na própria ilha para a
multiplicação do material autóctone sem contaminação genética.
Agradecimentos:
Reserva Natural das Berlengas.
Capitania do Porto de Peniche, Marinha Portuguesa. Fotografias António Teixeira.