• Nenhum resultado encontrado

A dependência pela prática de exercícios físicos e o uso de recursos ergogênicos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A dependência pela prática de exercícios físicos e o uso de recursos ergogênicos"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

A dependência pela prática de exercícios físicos e o uso de recursos

ergogênicos

José Luiz Lopes Vieira1, Priscila Garcia Marques da Rocha2* e Ricardo Aparecido Ferrarezzi1

1

Departamento de Educação Física, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. 2Curso de Educação Física, Faculdade Ingá, Av. Colombo, 9727, Km 130, 87070-810, Maringá, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência.

E-mail: pgmrocha@uol.com.br

RESUMO. Objetivou-se Investigar a ocorrência de dependência por exercícios físicos quanto às características de praticantes de musculação e ginástica em academias, como uso de recursos ergogênicos, sexo e índice de massa corporal. Participaram do estudo 80 sujeitos (27,12 ± 6,60 anos), praticantes de ginástica e/ou musculação em academias, de ambos os sexos. Utilizou-se a Escala de Dependência por Exercícios Físicos, a listagem do tipo de suplemento alimentar utilizado como recurso ergogênico e o Índice de Massa Corporal – IMC (Kg/cm²). A análise estatística foi realizada por meio da correlação de Spearman e o teste de Wilcoxon (p < 0,05). Os resultados demonstraram que não houve diferença estatisticamente significativa entre a dependência pela prática de exercícios físicos para homens (5,14 ± 1,28) e mulheres (5,60 ± 1,45). O índice de massa corporal também não apresentou correlação estatisticamente significativa com os escores de dependência. No entanto, os homens dependentes apresentaram alta prevalência de uso de recursos ergogênicos (63,63%, p = 0,01) enquanto que para as mulheres dependentes, não houve resultados estatisticamente significantes. Concluiu-se que o índice de massa corporal não apresentou relação estatisticamente significativa com a presença de dependência por exercícios físicos. No entanto, mesmo com o IMC normal, o uso de recursos ergogênicos esteve presente em alta prevalência entre os homens dependentes. Em face disto, há evidências de que a dependência por exercícios físicos é um fator de risco para o desenvolvimento de distúrbios emocionais relacionados ao exercício físico, como dismorfia muscular e vigorexia.

Palavras-chave: dependência, exercícios, índice de massa corporal.

ABSTRACT. Physical exercise dependence and the use of ergogenic resources. The aim of this study is to investigate the occurrence of physical exercise dependence in regards to the characteristics of participants in weight training and exercises at gyms, such as the use of ergogenic resources, gender and body mass index. Eighty subjects (27.12 ± 6.60 years) from both genders took part in the study, all of whom practiced gymnastics and/or weight training in gyms. The study utilized the Exercise Dependence Scale, a check list of the kinds of nutritional supplementation used as ergogenic resources, and the Body Mass Index – BMI (Kg cm-²).

Statistical analysis was performed using Spearman's correlation and the Wilcoxon test (p < 0.05). The results showed that there was no statistically significant difference between physical exercise dependence in men (5.14 ± 1.28) and women (5.60 ± 1.45). The body mass index did not show statistically significant correlation with the scores of dependency, either. However, dependent men showed high prevalence of use of ergogenic resources (63.63%, p = 0.01), while for dependent women there were no statistically significant results. The body mass index does not relate to the scores of exercise dependence. However, even with a normal BMI, the use of ergogenic resources presents high prevalence among dependent men. As a result, there is evidence that physical exercise dependence is a risk factor for the development of emotional disturbances related to exercise, such as muscle dysmorphia and overtraining.

Key words: dependence, exercise, body mass index.

Introdução

O exercício físico regular tem sido recomendado para a população geral por importantes entidades médicas, incluindo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), como

meio de prevenção e tratamento de doenças crônico-degenerativas (PATE et al., 1995; ACSM, 1998) e de ordem psiquiátrica (PELUSO; ANDRADE, 2005; VIEIRA et al., 2007).

No entanto, de acordo com Hughes (1984), a prática excessiva de exercícios físicos tem

(2)

preocupado pesquisadores pelo fato de hipotetizar o desencadeamento de transtornos compulsivos. Existem estudos, como os de Morgan (1985), Pierce et al. (1993), Rosa et al. (2003) e Antunes et al. (2006), que investigaram a dependência pela prática de exercícios físicos em atletas. No entanto, não há muitos estudos realizados no Brasil para se identificar o perfil de dependência por exercícios físicos na população não-atleta.

Na população não-atleta, a prática excessiva de exercícios físicos pode estar associada a uma preocupação exacerbada com a imagem corporal (GREENSPAN et al., 1991; BAMBER et al., 2000). Os estudos realizados apontam a anorexia e a vigorexia (YATES et al., 1983; DAVIS; FOX, 1993) ou os processos aditivos (WEST, 2001; WISE; BOZARTH, 1987) na prática exagerada de exercícios físicos. Porém, a dependência pela prática destes parece ser fator de risco para o desencadeamento de transtornos alimentares ou obsessivos-compulsivos (DE COVERLY VEALE, 1987; ROSA et al., 2003).

Pelo fato de as desordens alimentares incidirem frequentemente com o perfil de dependência pela prática de exercícios físicos, os termos “dependência primária” e “dependência secundária” são utilizados para se diferenciar a prática excessiva como uma patologia independente (primária) de um perfil associado à desordem alimentar (secundária) (DE COVERLY VEALE, 1987; BAMBER et al., 2000).

A “dependência primária” possui um caráter da prática de exercícios físicos encerrada em si mesma, ou seja, a motivação intrínseca é responsável pela presença indispensável do exercício físico na vida diária, e um rendimento melhor da performance física é meta para esses sujeitos (HAGAN; HAUSENBLAS, 2003). Na “dependência secundária”, o exercício físico apresenta-se como um suporte importante na manutenção do peso corporal, que, em casos extremos, desencadeiam anorexia e bulimia nervosa para o sexo feminino e a vigorexia, para o sexo masculino, com uso excessivo de recursos ergogênicos (DE COVERLY VEALE, 1987).

Desta maneira, este estudo se propôs a investigar a ocorrência de dependência por exercícios físicos quanto às características de praticantes de musculação e ginástica em academias, como uso de recursos ergogênicos, sexo e índice de massa corporal.

Material e métodos

Participantes

Foram credenciados para o estudo 80 praticantes de exercícios físicos regulares, selecionados aleatoriamente dentre 150 praticantes dos mesmos que atenderam os critérios propostos para esta pesquisa, de sete academias de ginástica e musculação. Os critérios para participação do estudo foram: tempo de prática ininterrupta de exercícios físicos regulares há pelo menos 12 meses, a idade entre 21 e 35 anos e a frequência às sessões de exercício de no mínimo três sessões semanais. A Tabela 1 apresenta as características dos participantes deste estudo:

Tabela 1. Característica dos praticantes de exercícios físicos de

academias de ginástica e musculação participantes deste estudo (n = 80). Masculino (n = 53) Feminino (n = 27) (n = 80) Geral M sd M sd M sd Idade 26,20 ± 6,49 28,92 ± 6,56 27,12 ± 6,60 Índice de Massa Corporal (kg cm-2) 23,30* ± 4,03 21,59* ± 2,47 22,72* ± 3,66 Tempo de Prática de Exercícios Físicos (meses) 37,01 ± 39,89 39,40 ± 45,03 37,82 ± 41,43

* Índice de massa corporal considerado normal (Organização Mundial da Saúde). Os participantes da pesquisa foram esclarecidos dos objetivos deste estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido como requisito de concordância em ser sujeito da amostra. Esta pesquisa obteve aprovação prévia pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá.

Procedimentos e instrumentos de medida

Para verificação da existência de dependência pela prática de exercícios físicos utilizou-se a Escala de Dependência em Exercícios Físicos, com boa consistência interna (α = 0,86). A Escala de Dependência de Exercício Físico (HAILEY; BAILEY, 1982 apud ROSA et al, 2003) é um questionário auto-aplicável, que possui 13 questões que descrevem desde a frequência de sessões de exercício físico praticado semanalmente, as sensações da prática e de quando não há prática de exercícios até as relações intra e interpressoais pertinentes ao ambiente do exercício físico. Quando a pontuação alcançada é igual ou maior a quatro pontos, o sujeito apresenta perfil de dependente de exercícios físicos.

Coleta de dados

Os sujeitos foram abordados, no local da prática de exercícios físicos, e, em um primeiro momento, os

(3)

participantes atenderam a Escala de Dependência de Exercícios Físicos e uma anamnese, constando as informações referentes ao tempo de prática de exercícios, quantas sessões semanais e informações sobre o uso de recursos ergogênicos. A Coleta de dados foi realizada em academias de musculação e ginástica, no segundo semestre de 2007, por pesquisadores credenciados no grupo de pesquisa pró-esporte, vinculados ao CNPq e certificados pela Instituição.

Tratamento dos dados

Os dados estão apresentados por meio da estatística descritiva (média, desvio-padrão e frequência). Em face de os dados não atenderem os padrões de normalidade, após aplicação do teste kolmogorov-smirnov, utilizaram-se testes não-paramétricos. Para constatação das relações entre os dados, utilizou-se a correlação de Spearman para idade, escore de dependência por exercícios físicos e índice de massa corporal. O Teste de Wilcoxon foi utilizado para se verificar diferenças estatisticamente significativas entre os grupos feminino e masculino para níveis de dependência por exercícios físicos e o Anova, para se comparar os grupos: feminino e masculino, dependentes por exercícios físicos e não-dependentes; utilização de recursos ergogênicos e a não- utilização destes. Como nível de significância estatisticamente relevante, adotou-se p < 0,05. Resultados

Os resultados estão organizados da seguinte forma: primeiramente será apresentado o perfil de dependência dos praticantes de exercícios físicos de academias, de ambos os sexos. Em seguida, será demonstrada a relação entre o índice de massa corporal e o perfil de dependência. Na conclusão da sessão de resultados serão apresentados o perfil de dependência e a incidência do uso de recursos ergogênicos.

A Tabela 2 apresenta o perfil de dependência pela prática de exercícios físicos em praticantes de ginástica e/ou musculação. Não houve diferença estatisticamente significativa para o perfil de dependentes entre homens e mulheres (♂ 5,14±1,28; ♀ 5,60±1,45; p = 0,524), assim como para os não-dependentes (♂ 1,74±1,03; ♀ 2,42±0,67; p = 0,167). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre dependência e dependência para o mesmo sexo nos homens (♂ não-dependente: 1,74±1,03; não-dependente: 5,14±1,28; **p = 0,001) e nas mulheres (♀ não-dependente: 2,42±0,67; dependente: 5,60±1,45; **p = 0,001).

Tabela 2. Descrição do perfil de dependência por exercícios

físicos em praticantes de exercícios físicos de academias de musculação e ginástica (n = 80) de ambos os sexos.

Dependência por

exercícios físicos Masculino Feminino

M sd f % M sd f %

Dependentes 5,14 ± 1,28 22 41,51 5,60 ± 1,45 15 55,55 Não-dependentes 1,74 ± 1,03ª** 31 58,49 2,42 ± 0,67 b** 12 44,45 ** p < 0,01. ªDiferenças estatisticamente significativas para comparação entre dependência e não-dependência para o sexo masculino. bDiferenças estatisticamente

significativas para comparação entre dependência e não-dependência para o sexo feminino.

A correlação entre o índice de massa corporal, a idade e os escores de dependência pela prática de exercícios físicos para o sexo masculino e para o sexo feminino está apresentada nas Tabelas 3, 4, 5 e 6, respectivamente. É possível verificar que em nenhum dos casos houve correlação estatisticamente significativa, embora, tanto para os dependentes por exercícios físicos quanto para os não-dependentes, independente do gênero, o índice de massa corporal tenha apresentado correlação negativa com os escores de dependência por exercícios, que seria indício qualitativo de que, quanto menor é o índice de massa corporal, maior a chance de se ocorrer o perfil de dependente por exercícios, sendo também o inverso verdadeiro.

Tabela 3. Correlação entre idade, índice de massa corporal e

escores de dependência dos praticantes de musculação/ginástica dependentes por exercícios físicos do sexo masculino.

Praticantes Dependentes pela Prática de Exercícios Físicos (n = 22)

Escores de

Dependência Índice de Massa Corporal

Idade 0,478 0,316

Índice de Massa Corporal - 0,116

Tabela 4. Correlação entre idade, índice de massa corporal e

escores de dependência dos praticantes de musculação/ginástica não-dependentes por exercícios físicos do sexo masculino.

Praticantes Não-Dependentes pela Prática de Exercícios Físicos (n = 33)

Escores de

Dependência Índice de Massa Corporal

Idade 0,186 0,352

Índice de Massa Corporal - 0,210

Tabela 5. Correlação entre idade, índice de massa corporal e

escores de dependência dos praticantes de musculação/ginástica não-dependentes por exercícios físicos do sexo feminino.

Praticantes Dependentes pela Prática de Exercícios Físicos (n = 12)

Escores de

Dependência Índice de Massa Corporal

Idade 0,187 0,143

Índice de Massa Corporal - 0,061

Tabela 6. Correlação entre idade, índice de massa corporal e

escores de dependência dos praticantes de musculação/ginástica dependentes por exercícios físicos do sexo feminino.

Praticantes Não-Dependentes pela Prática de Exercícios Físicos (n = 14 )

Escores de

Dependência Índice de Massa Corporal

Idade 0,045 0,183

(4)

A Figura 1 apresenta a frequência da utilização de recursos ergogênicos para ambos os sexos, para o perfil de dependência pela prática de exercícios físicos e os praticantes de ginástica e/ou musculação que não apresentaram o perfil dependente.

Figura 1. Comparação entre os praticantes dependentes pela

prática de exercícios físicos do sexo feminino (n = 15) e do masculino (22) e os praticantes não-dependentes mulheres (n = 12) e homens (n = 22) quanto ao uso de recursos ergogênicos (**p < 0,01).

Dentre os dependentes pela prática de exercícios físicos (♀n = 15 e ♂n = 22), assim como entre os não-dependentes (♀n = 12 e ♂n= 31), houve divergências quanto ao uso de recursos ergogênicos. Para o sexo feminino, 20% das dependentes (n = 3) e 16,66% das não-dependentes pela prática de exercícios físicos (n = 2) faziam uso de recursos ergogênicos, especificamente maltodextrina e complementos proteicos. Entre os homens, 63,63% (n = 14) dos dependentes e 25,81% (n = 12) dos não-dependentes pela prática de exercícios físicos faziam uso de recursos ergogênicos como maltodextrina e complementos proteicos com base em aminoácidos como BCAA, creatina e albumina.

Foi criada uma classificação ordinal para se categorizar o uso de suplementos nutricionais como recursos ergogênicos para a análise de variância para se possibilitar a análise de possíveis existências de diferenças estatisticamente significativas entre dependentes e não-dependentes por exercícios físicos do sexo feminino e do masculino, que utilizam recursos ergogênicos e os que não os utilizam. Quando a utilização destes recursos foi positiva (o praticante admitiu o uso de suplementos), atribuiu-se “1” e, quando negativa, (o praticante negou usar suplementos), atribuiu-se “2”. A partir disto, compararam-se todos os grupos (feminino e masculino; dependentes e não-dependentes; que utilizam recursos ergogênicos e que não os utilizam) e verificou-se diferença estatisticamente significativa para o grupo de homens dependentes por exercícios físicos que usam recursos ergogênicos (n = 14, **p = 0,001).

Discussão

Embora a dependência por exercícios físicos seja classificada pelo CID-10 por características comuns a outros tipos de dependência, como um forte desejo ou compulsão pelo objeto de desejo ou estado de abstinência fisiológica e psicológica na ausência da substância ou prática de alguma atividade, a sua definição e o seu diagnóstico são extremamente difíceis (JOHNSON, 1996; RUDY; ESTOK, 1989; MORGAN, 1985).

Estudos como o de Morgan (1979) e o De Coverly Veale (1987) discutem a dependência pela prática de exercícios físicos como um comportamento observável em qualquer outro tipo de dependência com explicações fisiológicas (CARLSON, 2002) e psicológicas (CHAPMAN; DECASTRO, 1990), com caráter de diagnóstico psiquiátrico. Outros estudiosos como Lyons e Cromey (1989) e Yates et al. (1983) fomentam suas conclusões com o excesso de exercícios físicos relativos a transtornos alimentares como a anorexia.

Neste estudo, a maioria de dependentes por exercícios físicos foi encontrada no sexo feminino, embora não tenha havido diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, o que corrobora com estudo de Antunes et al. (2006). No entanto, quando se verificou o uso de recursos ergogênicos, os homens dependentes obtiveram a maior prevalência de consumo (63,63%), quando comparados aos homens não-dependentes e às mulheres dependentes e não-dependentes pela prática de exercícios físicos.

Além de a prática excessiva de exercícios ser considerada uma dependência, pode ser classificada ainda, em suas características clínicas, como um transtorno obsessivo compulsivo (DAVIS et al., 1994; YATES et al., 1983). Hagan e Hausenblas (2003) apontam que, na dependência secundária pela prática de exercícios físicos, é evidente a co-existência de transtornos alimentares, havendo motivação extrínseca pela prática de exercícios com o intuito de se controlar ou se alterar o peso corporal.

A idade dos dependentes também demonstrou um fato relevante a ser discutido, embora não tenha havido correlação estatisticamente significativa quanto à idade para os participantes deste estudo. A prevalência do perfil de dependência por exercícios físicos apresentou-se concentrada nos praticantes dos mesmos com idade acima de 24 anos. A este fato, é possível argumentar sob duas possibilidades. A primeira é que, quando ocorre acúmulo de responsabilidades no trabalho ou o início de carreira profissional, responsabilidade com a família, com 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Dependentes Não Dependentes Dependentes Não Dependentes

P orc en ta ge m (% )

Utilizam recursos Ergogênicos Não utilizam recursos ergogênicos

(5)

filhos, ou com outros compromissos que os indivíduos adquirem conforme a maturidade e as plenas funções cognitivas se reforçam, pode acarretar a necessidade de fontes de prazer que servem para aliviar o estresse físico e mental e que, em condições extremas, desencadeiam quadros de dependência por exercícios físicos (McKINLEY; RANDA, 2005; ANTUNES et al., 2006). A segunda possibilidade é que, com o avanço da idade, ocorra preocupação demasiada com a imagem corporal, quando a tentativa de se anular os efeitos que a idade cronológica e os hábitos de vida adquiridos têm sobre a aparência física, acarretando o perfil de dependência por exercícios físicos (DIONNE; DAVIS, 2004; SWAMI; TOVEÉ, 2007).

O índice de massa corporal (IMC) é um indicativo da proporção do peso corporal em virtude da altura do indivíduo. Quando o IMC está baixo

(abaixo de 18 kg cm-²) ou alto (acima de 25 kg cm-²),

o sujeito deve se preocupar com os problemas na saúde que o baixo peso ou o sobrepeso podem causar. No entanto, na população estudada nesta presente pesquisa, o IMC apresentou-se na faixa de normalidade. Este fato, embora positivo para protocolos de saúde pública, é preocupante para os praticantes de exercícios físicos com dependência dos mesmos estudados, uma vez que os homens, mesmo apresentando IMC satisfatório, fazem uso de suplementos nutricionais para ganho de massa muscular. Em face disto, de acordo com Levine e Piran (2004), nota-se que a preocupação excessiva com a imagem corporal pode causar comportamentos equivocados quanto ao volume de exercícios físicos e, somada a isto, a utilização de recursos egorgênicos a fim de se obter músculos hipertrofiados a qualquer custo. Este comportamento pode apresentar-se como fator de risco quanto ao aparecimento de transtornos obsessivos-compulsivos e/ou alimentares (BUHLMANN et al., 2007).

A preocupação com a imagem corporal, antes considerada exclusiva do universo feminino, apresenta crescente ascensão entre os homens. De acordo com Pope et al. (2000), os grupos de praticantes de exercícios físicos que usam recursos ergogênicos possuem uma excessiva preocupação com a aparência física. No caso dos homens, há incessante procura em se aumentar a massa muscular. Em casos patológicos, homens muito fortes se acham fracos, sentem-se coagidos em apresentar o peito nu em público e normalmente têm dificuldades de relacionamento (VENANCIO et al., 2004).

Estudo de Hausenblas e Downs (2002) demonstrou que, em geral, as mulheres apresentam

maiores escores de dependência pela prática de exercícios físicos do que os homens, o que corrobora com os resultados encontrados neste estudo. No entanto, nestes resultados,, constatou-se que as mulheres dependentes não usam recursos ergogênicos tanto quanto os homens dependentes. Neste caso, as mulheres não usam suplementos alimentares na tentativa da manutenção do baixo peso corpóreo (THOME; ESPELAGE, 2004). No entanto, neste estudo, as mulheres não foram questionadas sobre o uso de diuréticos e laxantes, característico de sintomas de anorexia e bulimia nervosa (KAYE et al., 2004; VARDAR et al., 2007).

Entre os homens dependentes, pela incidência de uso de recursos ergogênicos, há evidências de que a dependência de exercícios físicos relativa ao uso de suplementos desencadeia um grupo de risco para o desenvolvimento da síndrome de Adônis ou dismorfia muscular, que é a visão distorcida do perfil muscular autopercebido e a vigorexia (POPE et al., 2000). No entanto, todos os homens negaram uso de esteroides anabolizantes.

Quanto ao desejo de um corpo forte entre os homens, de acordo com McKinley e Randa (2005), além da dismorfia muscular, outros dois perfis de homens podem fazer uso de recursos ergogênicos: as pessoas que sofreram violência na infância e que, ao praticar exercícios excessivamente e usar suplementos, estariam fortes o suficiente para se defender e grupos de adolescentes que buscam a aceitação social.

Embora este estudo tenha apresentado resultados interessantes, existem limitações metodológicas quanto ao real diagnóstico de uso de medicamentos, além de suplementos, na busca de um corpo perfeito, tanto para homens quanto para mulheres. Pesquisas futuras são necessárias para se investigar o uso desses medicamentos aliados a testes de percepção da imagem corporal e distúrbios alimentares para que o ambiente do fitness seja compreendido e transformado em um ambiente psicológica e fisicamente saudável.

Conclusão

O perfil de dependência pela prática de exercícios físicos foi equivalente entre o sexo feminino e o masculino; no entanto, o uso de recursos ergogênicos foi mais evidente entre os homens dependentes. Tendo em vista que o índice de massa corporal apresentou-se dentro da faixa normal para a maior parte dos participantes deste estudo, o uso de recursos ergogênicos, aliado ao perfil de dependência por exercícios físicos, pode ser indício

(6)

de risco para o desenvolvimento de transtornos obsessivos compulsivos como dismorfia muscular e vigorexia.

Referências

ACSM-American College of Sports Medicine. Position stand: the recommended quantify and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Medicine Science of Sports and Exercise, v. 30, n. 6, p. 975-991, 1998.

ANTUNES, H. K. M.; ANDERSEN, M. L.; TUFIK, S.; MELLO, M. T. O estresse físico e a dependência de exercício físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 12, n. 5, p. 234-238, 2006.

BAMBER, D.; COCKERILL, I. M.; CARROL, D. The pathological status of exercise dependence. British Journal of Sports Medicine, v. 34, n. 2, p. 125-132, 2000.

BUHLMANN, U.; COOK, L. M.; FAMA, J. M.; WILHEM, S. Perceived teasing experiences in body dysmorphic disorder. Body Image, v. 4, n. 4, p. 381-385, 2007.

CARLSON, N. R. Fisiologia do comportamento. Barueri: Manole, 2002.

CHAPMAN, C. L.; DECASTRO, J. M. Running addiction: measurement and associated psychological characteristics. Jounal of Psychology, v. 30, n. 3, p. 125-128, 1990.

DAVIS, C.; FOX, J. Excessive exercise and weight preoccupation in women. Addict Behavour, v. 18, n. 2, p. 201-211, 1993.

DAVIS, C.; KENNEDY, S. H.; RALEVSKI, E.; DIONNE, M. The role of physical activity in development and maintenance of eating disorders. Psychological Medicine, v. 24, n. 4, p. 957-967, 1994. DE COVERLY VEALE, D. M. W. Exercise dependence. British Journal of Addict, v. 82, n. 1, p. 735-740, 1987. DIONNE, M. M.; DAVIS, C. Body image variability the influence of body-composition information and neuroticism on young women's body dissatisfaction. Body Image, v. 1, n. 1, p. 335-349, 2004.

GREENSPAN, M.; FITZSIMMONS, P.; BIDDLE, S. Aspects of psychology in sports medicine. British Journal of Sports Medicine, v. 25, n. 4, p. 178-180, 1991.

HAGAN, A. L.; HAUSENBLAS, H. The relation between exercise dependence symptoms and perfectionism. American Journal of Health Studies, v. 18, n. 2-3, p. 133-137, 2003.

HAUSENBLAS, H. A.; DOWNS, D. S. Relationship among sex, imagery, and exercise dependence symptoms. Psychology of Addictive Behaviors, v. 16, n. 2, p. 169-172, 2002.

HUGHES, J. R. Psychological effects of habitual aerobic exercise: a critical review. Preventive Medicine, v. 13, n.1, p. 66-68, 1984.

JOHNSON, R. Exercise dependence: when runners don´t know when to quit. Sports Medicine and Arthroscopy Review, v. 3, n. 4, p. 267-273, 1996.

KAYE, W. H.; BULIK, C. M.; THORNTON, L.; BARBARICH, N.; MASTERS, B. S. Comorbidity of Anxiety disorders with Anorexia and Bulimia Nervosa. American Journal of Psychiatry, v. 163, n. 2, p. 2215-2221, 2004.

LEVINE, M. P.; PIRAN, N. The role of body image in the prevention of eating disorders. Body Image, v. 1, n. 1, p. 57-70, 2004.

LYONS, H. A.; CROMEY, R. Case report: compulsive jogging: exercise dependence and associated disorders of eating. Ulster Medical Journal, v. 58, n. 1, p. 100-102, 1989. McKINLEY, N. M.; RANDA, L. N. Adult attachment and body satisfaction An exploration of general and specific relationship differences. Body Image, v. 2, n. 1, p. 209-218, 2005.

MORGAN, W. P. Negative addiction in runners. Physician Sports Medicine, v. 7, n. 2, p. 56-63, 1979. MORGAN, W. P. Affective beneficence of vigorous physical activity. Medine of Science of Sports and Exercise, v. 17, n. 1, p. 94-100, 1985.

PATE, R. R.; PRATT, M.; BLAIR, S. N.; HASKELL, W. L.; MACERA, C. A.; BOUCHARD, C. Physical activity and public health: a recommendation from the Centers for Disease Control and Prevention and the American College of Sports Medicine. JAMA, v. 273, n. 5, p. 420-427, 1995.

PELUSO, M. A. M.; ANDRADE, A. H. S. G. Physical activity and mental health: the association between exercise and mood. Clinics, v. 60, n. 1, p. 61-70, 2005. PIERCE, E. F.; McGOWAN, R. W.; LYNN, T. D. Exercise dependence in relation to competitive orientation of runners. Jounal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 32, n. 2, p. 189-193, 1993.

POPE, H.; PHILIPS, A. K.; OLIVARDIA, R. O complexo de Adônis: a obsessão masculina pelo corpo. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

RUDY, E. B.; ESTOK, P. J. Measurement and significance of negative addiction in runners. Western Journal of Nursing Research, n. 11, n. 5, p. 548-558, 1989.

ROSA, D. A.; MELLO, M. T.; SOUZA-FORMIGONI, M. L. O. Dependência da prática de exercícios físicos: estudo com maratonistas brasileiros. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 9, n. 1, p. 9-14, 2003. SWAMI, V.; TOVEÉ, M. J. Adult attachment and body satisfaction An exploration of general and specific relationship differences. Body Image, v. 4, n. 219, p. 391-396, 2007.

THOME, J.; ESPELAGE, D. L. Relations among exercise, coping, disordered eating and psychological health among college students. Eating Behaviors, v. 5, n. 4, p. 337-351, 2004. VARDAR, E.; VARDAR, S. A.; KURT, C. Anxiety of young female athletes with disordered eating behaviors. Eating Behaviors, v. 8, n. 2, p. 143-147, 2007.

VENANCIO, P. D.; TUFIK, S.; MELLO, M. T. Esteróides Anabolizantes e Exercício Físico. In: MELLO, M. T.; TUFIK, S. (Org.). Atividade Física, exercício físico e aspectos psicobiológicos. Niterói: Guanabara Koogan, 2004.

(7)

VIEIRA, J. L. L.; PORCU, M.; ROCHA, P. G. M. A prática de exercícios físicos como terapia complementar ao tratamento de mulheres com depressão. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 56, n. 1, p. 23-28, 2007.

WEST, R. Theories of addiction. Addiction, v. 96, n. 1, p. 3-13, 2001.

WISE, R. A.; BOZARTH, M. A. A psychomotor stimulant theory of addiction. Psychological Review, v. 94, n. 4, p. 469-492, 1987.

YATES, A.; LEEHEY, K.; SHISSLAK, C. M. Running: an analogue of anorexia? The New England Journal of Medicine, v. 308, n. 5, p. 308-520, 1983.

Received on July 17, 2008. Accepted on March 20, 2009.

License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

Referências

Documentos relacionados

Para tratamento da hipertensão tem-se como uma das estratégias a prática regular de exercícios físicos, tanto aeróbio quanto de força, que por muitos autores tem

Por outro lado, consideramos o estudo relevante, uma vez que não foram encontradas pes- quisas sobre insatisfação com a imagem corporal entre praticantes de exercícios físicos

Os benefícios da ginástica laboral são de caráter físico, psicológico e social para o trabalhador, havendo diversas vantagens para a empresa como: melhoria do meio ambiente de

Os processos e serviços presentes no escopo da área de Tesouraria variam dentre as empresas participantes, como, por exemplo, fluxo de caixa, pagamentos,

De um modo abrangente, através da prática de atividade regular de exercícios físicos é possível perceber uma melhora significativa dos sintomas de depressão, humor,

O objetivo desse guia é apresentar exercícios físicos direcionados para jovens que estimulem a prática regular de atividades físicas e exercícios físicos, frente

Sente no centro da cadeira com a coluna alinhada, cruze os braços sobre o peito, mantenha os pés paralelos e abertos na largura do quadril... AGACHAMENTO

Além da análise do esforço físico pela escala de Borg modificada, outros instrumentos são de extrema importância para controle do treinamento como por exemplo o oxímetro e