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Diferenças estilísticas entre o autor e o auto-tradutor em Viva o Povo Brasileiro e An Invincible Memory*

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Diferenças estilísticas entre o autor e o auto-tradutor em Viva o Povo Brasileiro e An Invincible Memory

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Diva Cardoso de Camargo

Universidade Estadual Paulista (UNESP – IBILCE) diva@ibilce.unesp.br

Resumo. O estudo tem por objetivo identificar o estilo de João Ubaldo Ribeiro enquanto autor e enquanto tradutor de si mesmo no par de obras Viva o Povo Brasileiro e An Invincible Memory. A fundamentação teórica apóia- se nos estudos da tradução baseados em corpus (Baker, 1993, 1995, 1996, 2000, 2004; Camargo, 2005) e na lingüística de corpus (Berber Sardinha, 2004). O cálculo estatístico gerado para a razão forma/item padronizada mostra que o auto-tradutor Ubaldo Ribeiro (44,34) apresenta um resultado menor em relação ao autor Ubaldo Ribeiro (49,07), indicando menos diversidade vocabular na obra traduzida.

Palavras-chave. Tradução literária; estilo do tradutor; estudos da tradução baseados em corpus; lingüística de corpus; literatura brasileira traduzida.

Abstract. This paper aims at observing a particular case of an author’s and self-translator’s style in the pair of works Viva o Povo Brasileiro and An Invincible Memory. Our investigation has its theoretical starting point based on Corpus-Based Translation Studies (Baker, 1993, 1995, 1996, 2000, 2004;

Camargo, 2005), and Corpus Linguistics (Berber Sardinha, 2004). By comparing the standardized type/token ratio of the translation and its respective original, the result shown by the self-translator Ubaldo Ribeiro (44.34) indicates a lower difference in relation to the result presented by the author Ubaldo Ribeiro (49.07).

Keywords. Literary translation; translator’s style; Corpus-Based Translation Studies; Corpus Linguistics; translated contemporary Brazilian Literature.

1. Introdução

Nos últimos anos, alguns teóricos da tradução têm enfatizado a presença do tradutor; no entanto, não apresentam nenhuma demonstração dos traços efetivamente deixados nos textos traduzidos (TTs). Venuti (1995, 1998) recrimina a transparência como efeito ilusionístico da presença do autor que seria [supostamente] alcançada pelas estratégias da tradução “domesticadora” e advoga a visibilidade do tradutor por meio de estratégias de resistência da tradução “estrangeirizadora”, mas sem explicitar quais seriam as marcas de uma “fidelidade abusiva”. De modo análogo, Hermans (1996) claramente reconhece a voz do tradutor; porém, focaliza principalmente a “voz do outro” no que tange ao emprego auto-referencial de primeira pessoa nas notas do tradutor.

No que concerne à sua presença e à noção de estilo, poderíamos incluir a escolha da parte de cada tradutor de material a ser traduzido, a utilização consistente de

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estratégias tradutórias e, sobretudo, o modo de expressão que é típico de um dado tradutor (mais do que simplesmente instâncias de intervenção aberta de material extratextual).

Por seu turno, mesmo com as disciplinas da crítica literária, da estilística e dos estudos da tradução não tendo chegado a um consenso geral sobre a concepção de estilo, Munday (1997: 117) explica que a estilística computacional (embora sendo ainda uma disciplina relativamente nova, e não existindo um arcabouço consolidado para estudos na área) parece já ter mais estabelecido o conceito básico de perfil estilístico apoiado em medidas estatísticas. No campo geral da estilística computacional, o conceito de estilo é visto como um fenômeno quantitativo, destacando-se as linhas de investigação desenvolvidas por Leech e Short (1981) sobre freqüência e estilo, e por Biber (1986) sobre análise de características múltiplas. Butler (1990), outro pesquisador importante nesse campo, descreve estudos que usam a estatística para observar aspectos estilísticos de determinados textos, autores e gêneros, e para examinar grandes quantidades de características lingüísticas de textos individuais (incluindo a freqüência e a extração de palavras mais comuns) numa tentativa de isolar o perfil estilístico ou “marca digital”, útil em casos de atribuição de autoria ou de determinação da cronologia dos textos. Contudo, Munday (ibidem) é de opinião que “deveria ser possível desenvolver um perfil estilístico amplo, além de sistemático, dos corpora sem ter de recorrer a estatísticas demasiadamente complexas de freqüência de palavras”1.

Nesse sentido, os estudos da tradução baseados em corpus têm trazido importantes contribuições para a teoria e prática tradutórias ao procurar descrever o que o tradutor realmente faz com a língua de chegada (LC).

2. Perspectiva teórica

Dado que o conceito de estilo tem-se mostrado ainda de difícil definição, esta investigação sobre o estudo do estilo do auto-tradutor representado no corpus de estudo optou por fundamentar-se na noção fornecida por Baker, que entende:

estilo como uma espécie de impressão digital que fica expressa [no TT] por uma variedade de características lingüísticas [...] as quais estão provavelmente mais no domínio do que algumas vezes é chamado de “estilística forense” que no da estilística literária (Leech & Short, 1981: 14). Tradicionalmente, a estilística literária focaliza o que se assume serem escolhas lingüísticas conscientes da parte do autor, porque os estilistas literários estão principalmente interessados na relação entre as características lingüísticas e a função artística, em como um dado autor obtém certos efeitos artísticos. Por outro lado, a estilística forense tende a focalizar hábitos lingüísticos razoavelmente sutis e moderados que estão bem acima do controle consciente do autor e que nós, como receptores, registramos, na maioria das vezes, de forma subliminar. Todavia, como ambos os ramos da estilística, estou interessada em padrões de escolha (quer essas escolhas sejam conscientes ou subconscientes) mais do que em escolhas individuais isoladas2. (BAKER, 2000:

245-6).

Com o propósito de observar padrões de escolha estilística do auto-tradutor selecionado para análise, o termo “estilo” é definido no âmbito deste estudo como o perfil de seus hábitos lingüísticos individuais, recorrentes, preferenciais e distintivos, referentes à variação e diversidade de vocabulário, a qual pode ser medida em termos da razão forma/item (type/token ratio). Dentre as diferentes concepções de estilo

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oferecidas pela literatura e pela lingüística, proponho, com base em Baker (2000), esta noção de estilo focalizada em padrões de variação vocabular empregados pelo tradutor por mostrar-se a mais adequada às necessidades da presente investigação.

Com referência à linguagem do TT, a utilização de corpora eletrônicos paralelos ou comparáveis possibilita maior amplitude e funcionalidade para estudos da natureza da tradução e do uso do léxico. Investigações realizadas no Centre for Translation and Intercultural Studies − CTIS têm detectado certas características recorrentes (Baker, 1996: 180-184) que se apresentam tipicamente na tradução.

Dentre os traços recorrentes, um dos que mais especificamente se relacionam com este trabalho é a simplificação (Baker, ibidem), que pode ser identificada como uma tendência em tornar mais simples e de mais fácil compreensão a linguagem empregada na tradução, como, por exemplo, a utilização de uma quantidade maior de repetições em relação à obra original. Uma medida possível de traços de simplificação é fornecida pela razão forma/item (FI), por permitir o exame da variação e diversidade de vocabulário empregadas pelo tradutor e pelo escritor num dado corpus ou corpora. São contadas todas as palavras corridas (running words ou tokens) nos textos, e cada forma ou vocábulo (type) é contado apenas uma vez a fim de identificar padrões de repetição nos TTs e nos texto originais (TOs). Por exemplo, o fragmento: “I shall answer you. I shall answer that question with another question, even though, ha-ha, l am not a Jesuit” contém 20 itens (tokens), mas somente 15 formas (types), porquanto há 3 itens para a forma: I e 2 itens para as formas: shall, answer e question.

Na maneira tradicional, a razão é obtida dividindo-se o total de formas pelo total de itens. Já na função WordList Statistics, disponibilizada pelo programa computacional WordSmith Tools, transforma-se esse valor em porcentagem: divide-se o total de formas pelo total de itens dividido por cem (Berber Sardinha, 2004). Desse modo, o cálculo gerado para esta pesquisa é o fornecido pelo WordList Statistics para a razão forma/item padronizada (standardised type/token ratio), apropriada para observação em textos de tamanhos diferentes. Ao contrário da razão FI, a forma FI padronizada calcula FI em intervalos regulares, ou seja, faz este mesmo cálculo por partes do texto e, depois, tira a média dos valores FI entre os vários trechos.

No tocante a outra característica apontada por Baker (1996: 180-184), destaca-se a explicitação, que consiste na tendência geral de explicar e expandir dados do TO, por meio de uma linguagem mais explícita, mais clara para o leitor do TT. Manifestações dessa tendência podem ser expressas sintática e lexicalmente, e podem ser observadas habitualmente, em relação aos TOs, como a maior extensão dos TTs, o emprego exagerado de vocabulário e de conjunções coordenativas explicativas.

Com referência ao material, a compilação dos subcorpora de TO e TT teve por objetivo a observação de padrões estilísticos de um caso particular de um escritor e também tradutor de si mesmo. Com esse propósito, o critério de seleção favoreceu uma obra da literatura brasileira, escrita por um autor contemporâneo de renome internacional, com vários livros traduzidos em diferentes idiomas. Em Viva o Povo Brasileiro, João Ubaldo Ribeiro faz uma experimentação de estilos e vozes narrativas que marca todo o desenvolvimento do tempo e da ação ficcional em um tipo de “mock- heroic epic”. A obra aborda o problema da decantada procura de uma identidade nacional, e revisita o Brasil em três épocas: o século XVII com a colonização, o século XIX com o mito das narrativas de fundação, e o século XX com as ditaduras. No

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romance, destaca-se a forte presença da cultura popular, com manifestações das religiões afro-brasileiras, festas, costumes, lendas, bem como expressões variadas e fragmentos de “língua de preto” (conforme notados por Pasta Júnior, 2002). Já na tradução, Ubaldo Ribeiro recria a própria ficção sobre a história moral do sofrido povo brasileiro, traduzindo para uma língua estrangeira e para leitores com sensibilidades e vivência cultural distintas.

Para uma observação do seu perfil estilístico, procurei identificar usos lingüísticos característicos e individuais, ou seja, traços de seu comportamento lingüístico relacionados à variação vocabular, efetuando comparações internacorpus − na obra traduzida (variação intratextual), − na obra traduzida em relação à respectiva obra original (variação intersubcorpora da pesquisa); e ainda estabelecendo comparações externacorpora − na obra traduzida com os corpora de referência Translational English Corpus − TEC, e British National Corpus − BNC; bem como − na obra original com o corpus de referência Banco de Português − BP (variações interna e externacorpora).

3. Resultados e discussão

A razão de formas em relação aos itens (ocorrências) indica a variedade de vocábulos (formas) em um determinado texto ou corpus de tradução. De acordo com o programa WordSmith Tools, se for empregado um grande número de repetições, pode- se esperar uma razão FI mais baixa; em decorrência, havendo maior diversidade de vocabulário a razão FI tenderia a ser mais alta.

Contudo, é preciso ter cuidado no uso da razão forma/item. Esse cálculo estatístico é extremamente sensível ao comprimento do texto, uma vez que as palavras têm maior probabilidade de se repetirem em textos mais extensos, conseqüentemente levando a uma razão FI mais baixa. Por esse motivo, costuma-se utilizar a razão FI padronizada.

3.1. Alguns padrões distintivos de vocabulário entre o TT e o TO (comparações internacorpus)

A fim de observar a distribuição de itens e formas no corpus de TT e de TO, foram extraídas as Tabelas 1-2:

Tabela 1. Estatística do TT pelo auto-tradutor João Ubaldo em relação ao TO do autor Subcorpus de TT Subcorpus de TO An Invincible Memory Viva o Povo Brasileiro

Itens (tokens) 256.951 236.300

Formas (types) 18.075 25.113

Razão FI pdr (Stnd tt ratio) 44,34 49,07

Tabela 2. Diferença da razão FI padronizada entre o TT e o TO Resultado do TT pelo

auto-tradutor

Razão FI pdr

44,34

Diferença da razão FI padronizada

Resultado do TO do autor Razão FI pdr 49,07 4,73

Procedi, separadamente, a comparações dos textos, a fim de examinar se o uso de vocabulário na obra traduzida para o inglês é mais ou menos variado do que o da respectiva obra originalmente escrita em português. Algumas evidências puderam ser encontradas nas variações intratextuais.

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Para as comparações do par de obras consideradas individualmente, a distribuição dos itens e das formas (Tabela 1) aponta, em termos absolutos, que esse TT registra, como esperado com base no princípio de explicitação, um número mais alto de itens (256.951) e um menor número de formas (18.075) em relação ao respectivo TO (236.300 itens e 25.113 formas).

Por sua vez, uma indicação de que haveria um uso menos ou mais variado de vocabulário no TT é fornecida pelo exame da razão FI padronizada ou densidade lexical simples e em intervalos regulares. Para An Invincible Memory tomada conjuntamente em relação a Viva o Povo Brasileiro, a forma padronizada gerada no TT (44,34) é menor em relação ao respectivo TO (49,07). A diferença de 4,73 (cf. Tabela 2) indica que existe, na verdade, menos palavras ‘diferentes’ na obra traduzida, o que mostra que há mais repetições nas escolhas efetuadas pelo tradutor de si mesmo. O comportamento lingüístico observado parece evidenciar uma maneira de tornar a tradução mais fácil de ser processada pelo leitor de língua inglesa, confirmando o princípio da simplificação.

Contudo, é necessário ter em mente, de um lado, que as listas de palavras e as estatísticas disponíveis para este tipo de estudo, geradas pelo WordSmith Tools, versão 4, são ainda incipientes, porque o programa permite somente a identificação de repetições exatas de palavras, não sendo sensível a tipos de palavras resultantes das variantes morfológicas. Por outro lado, esse programa computacional possibilita a busca de padrões lexicais na totalidade dos textos que compõem o corpus, o que, provavelmente, não seria exeqüível de ser obtido na mesma extensão apenas pela análise manual.

3.2. Alguns padrões distintivos de vocabulário do TT em relação ao TEC e ao BNC (comparações externacorpora)

A fim de distinguir entre a variação de vocabulário empregada pelo auto- tradutor e a encontrada no inglês traduzido, foi examinado um corpus de referência: o Translational English Corpus − TEC. Nesse corpus, os textos estão compilados na íntegra, englobando quatro tipologias textuais: ficção, revistas de bordo, biografia e artigos de jornais. O tipo de texto predominante é o ficcional, que abarca 82% do total do corpus e 84 arquivos por ocasião da coleta de dados efetuada para este trabalho;

como os outros tipos de texto constituem apenas uma pequena porção do TEC, somente o subcorpus de textos de ficção foi aqui considerado para fins estatísticos. As traduções armazenadas no TEC são realizadas por tradutores falantes nativos de língua inglesa, e a maior parte desses TTs foi feita a partir de 1983. Os dados extraídos do TEC constam da tabela abaixo:

Tabela 3. Estatística do corpus de referência TEC

TEC Subcorpus de ficção

Itens 5.848.203

Formas 70.700

Razão FI padronizada 44,53

Tabela 4. Diferença da razão FI padronizada entre o TT e o TEC Resultado do TT pelo

auto-tradutor

Razão FI pdr

44,34

Diferença da razão FI padronizada

Resultado do TEC Razão FI pdr 44,53 0,19

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No TEC, há 5.848.203 itens e 70.700 formas, e uma razão FI padronizada de 44,53 (Tabela 3). Já o cálculo efetuado para o TT An Invincible Memory, ao gerar um resultado de 44,34, mostra um valor ligeiramente menor do que a forma padronizadada apresentada pelo TEC. Conforme a Tabela 4, os dados revelam uma diferença muito pequena para o auto-tradutor João Ubaldo (0,19), indicando uma variação próxima do empate quanto ao padrão vocabular do seu TT em comparação ao uso de padrões lexicais registrados por parte dos tradutores representados no TEC.

Por sua vez, com o propósito de observar a linguagem empregada pelo tradutor de si mesmo em relação à linguagem normalmente usada em textos originalmente escritos em inglês, utilizei o corpus de referência British National Corpus − BNC. É considerado um marco histórico por ter sido o primeiro corpus eletrônico a conter cem milhões de palavras no inglês britânico, escrito e falado; ainda é, dentre os mega- corpora, o único disponível para compra. De modo análogo ao TEC, os TOs compilados para o BNC são produzidos por autores falantes nativos de língua inglesa.

Diferentemente do TEC, porém, os tipos de texto predominantes são os de língua geral;

o subcorpus de textos de ficção do BNC contava, no momento da coleta para este estudo, com 485 arquivos e alguns dos textos são fragmentos − ainda que com a extensão de 40.000 a 50.000 palavras. Por essa razão, tanto o BNC como o subcorpus de textos de ficção do BNC foram tomados em consideração na tabela abaixo:

Tabela 5. Estatística do corpus de referência BNC

BNC BNC Ficção

Itens 90.748.880 19.444.150

Formas 377.784 101.577

Razão FI padronizada 44,04 41,54

Tabela 6. Diferença da razão FI padronizada entre o TT e o BNC Resultado do TT pelo

auto-tradutor Razão FI pdr 44,34

Diferença da razão FI padronizada

Resultado do BNC Razão FI pdr 44,04 0,30

Resultado do BNC ficção Razão FI pdr 41,54 2,80

De acordo com a Tabela 5, no BNC há 90.748.880 itens e 377.784 formas, o que corresponde a uma razão FI padronizada de 44,04. No subcorpus de ficção do BNC, os dados levantados mostram 19.444.150 itens e 101.577 formas, gerando uma razão FI padronizada de 41,54.

No que concerne ao cálculo estatístico gerado para o tradutor de si mesmo (Tabela 6), a forma padronizada de 44,34 é só um pouco maior, com uma diferença de apenas 0,30 do que a gerada para o BNC (44,04); já em relação à forma padronizada extraída do subcorpus de ficção do BNC (41,54), passa a ser mais alta com uma diferença de 2,80. Esses dados indicam que João Ubaldo emprega, no seu TT em inglês, uma variação vocabular similar à encontrada nos TOs do BNC e maior do que a presente no BNC ficção.

3.3. Alguns padrões distintivos de vocabulário entre o TO e o BP (comparação externacorpora)

Com a intenção de obter um parâmetro similar a respeito da linguagem utilizada pelo autor em relação à linguagem habitualmente empregada em textos originalmente escritos em português, foram efetuados os mesmos procedimentos entre o TO e o corpus

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de referência Banco de Português − BP, sediado na Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP − LAEL). A versão 2.0 do Banco de Português possui 660 milhões de palavras, de português contemporâneo do Brasil. A preponderância é de textos acadêmicos (52%), jornalísticos (34%) e debates do congresso nacional (12%). Como o conjunto de textos literários constitui apenas uma pequena parte do BP, foram utilizados os dados totais para o levantamento estatístico, os quais podem ser observados na tabela abaixo:

Tabela 7. Estatística do corpus de referência BP BP

Itens 230.460.560

Formas 607.392

Razão FI padronizada 46,08

Tabela 8. Diferença da razão FI padronizada entre o TO e o BP Resultado do TO pelo

autor

Razão FI pdr

49,07

Diferença da razão FI padronizada

Resultado do BP Razão FI pdr 46,08 2,99

No BP, de acordo com os resultados obtidos por ocasião da coleta (Tabela 7), há 230.460.560 itens e 607.392 formas, e uma razão FI padronizada de 46,08.

A respeito do autor João Ubaldo (Tabela 8), a forma padronizada de 49,07 é maior do que a extraída para o BP (46,08), com uma diferença de 2,99. Tais resultados mostram que, enquanto autor, João Ubaldo utiliza, no seu TO em português, uma variação vocabular mais alta do que a encontrada nos TOs do BP. A diferença acentua- se mais se comparada na relação autor/tradutor que, conforme a Tabela 2, atinge a ordem de 4,73 diante do respectivo TT em inglês.

A diversidade de vocabulário já era esperada para o escritor João Ubaldo, uma vez que a crítica literária enfatiza a sua habilidade na exploração do verbo brasileiro, e que o seu TO apresenta uma predominância de termos culturalmente marcados.

4. À guisa de conclusão

Como já comentado acima a respeito das deficiências nas listas de palavras e de estatísticas do programa WordSmith Tools, não é possível fazer conclusões definitivas para as comparações automáticas geradas pelo software para esta investigação. No entanto, os resultados da razão forma/item padronizada sugerem diferenças acentuadas tanto entre a obra traduzida e a obra original como também entre, respectivamente, o subcorpus de ficção do BNC e o corpus de referência BP, que parecem validar o exame proposto.

O acesso ao corpus paralelo tornou possível a identificação de uma freqüência acentuadamente mais baixa nos padrões estilísticos do TT em relação aos do TO, o que significa que, embora o auto-tradutor João Ubaldo Ribeiro registre uma forma padronizada alta (44,34), o seu comportamento lingüístico apresenta uma diversidade lexical menor do que o autor João Ubaldo Ribeiro (49,07).

Em contraste, levando em conta o processo de simplificação, seria esperada uma freqüência mais baixa de formas (types) para um dado tradutor em relação ao BNC.

Mesmo com a restrição de apenas um par de obras para este estudo de pequena escala, o uso do corpus paralelo em formato eletrônico permitiu observar que o auto-tradutor

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João Ubaldo também apresenta maior diversidade de usos de padrões lingüísticos e menor repetição vocabular do que os padrões registrados nos textos ficcionais escritos originalmente em inglês armazenados no subcorpus de ficção do BNC (41,54).

Desta feita, se considerarmos a razão FI padronizada como uma indicação do emprego que os tradutores fazem da linguagem, pode-se destacar, apesar da influência de possíveis variáveis, que é significativa a diferença apresentada por João Ubaldo, enquanto auto-tradutor, em relação a João Ubaldo, enquanto autor. Os resultados observados revelam marcas próprias, individuais e recorrentes da utilização de padrões estilísticos preferenciais e distintivos desse tradutor de si mesmo, as quais evidenciam o impacto da extensão dessa diferença, respectivamente na obra traduzida para o inglês An Invincible Memory em comparação com a obra originalmente escrita em português Viva o Povo Brasileiro.

Nota

* Parte deste estudo baseia-se em trabalho preliminar apresentado na “ACLA 2007 Conference”, patrocinada pela American Comparative Literature Association, em Puebla, México, de 19 a 22/04/2007 (Auxílio FAPESP, proc. 2007/00516-5). A autora também agradece o apoio da FAPESP (04/13154-7) e CNPq (303029/05-6).

1 [...] it should be possible to carry out a broad, yet systematic, stylistic profiling of corpora without resorting to overcomplex word statistics. [A tradução das citações é de minha responsabilidade.]

2 style as a kind of thumb-print that is expressed in a range of linguistic features [...] which are probably more in the domain of what is sometimes called “forensic stylistics” than literary stylistic (Leech & Short, 1981, p. 14). Traditionally, literary stylistics has focused on what are assumed to be conscious linguistic choices on the part of the writer, because literary stylisticians are ultimately interested in the relationship between linguistic features and artistic function, in how a given writer achieves certain artistic effects. Forensic stylistics, on the other hand, tends to focus on quite subtle, unobtrusive linguistic habits which are largely beyond the conscious control of the writer and which we, as receivers, register mostly subliminally. But like both branches of stylistics, I am interested in patterns of choice (whether these choices are conscious or subconscious) rather than individual choices in isolation.

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