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ELENISE CRISTINA PIRES DE ANDRADE E SUSANA OLIVEIRA DIAS

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Academic year: 2021

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ELENISE CRISTINA PIRES DE ANDRADE E SUSANA OLIVEIRA DIAS E-VENTO (IN)VENTANDO UMA E-DUCAÇÃO

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Os ventos do norte não movem moinhos!2

Educação que se pretende desfocada das delimitações, demarcações, territorializações.

Sul, norte, leste, oeste ventando, entrando e saindo por ventanas. Janelas. des- estabilizações. Monstruosidades. Nossos percursos pelos ventos que passam por esse texto querem potencializar outras possibilidades com imagens, divulgações científicas, linguagens e culturas na contemporaneidade. Tempos praticamente instantâneos, informações que circulam por jornais e revistas virtuais, sites de divulgação científica, HQs, imagens em movimentos (cinema, youtube, publicidades) e-mails, e-books, e- ventos. Proposta em buscar os vãos dos constrangimentos, hierarquias, julgamentos que, muitas vezes, têm se estabelecido como necessárias (quando não imprescindíveis) para pensar em bios, tecnologias e culturas. Dispersaremos estas idéias por entre as produções de uma equipe de artistas e pesquisadores do projeto de pesquisa, ação e intervenção “Biotecnologias de Rua”, financiado pelo CNPq, e dois outros projetos dele derivados – “Num dado momento: biotecnologias e culturas em jogo”, financiado pela Preac-Unicamp, e “Um lance de dados: jogar/poemar por entre bios, tecnos e logias”, finaciado no edital Proext 2008 do MEC/MinC

E os monstros do sul?

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1 Elenise Cristina Pires de Andrade – email:

.

2 Verso da canção “Sangue Latino” de João Ricardo e Paulinho Mendonça.

3 Alik Wunder (bióloga, fotógrafa e pós-doutoranda da FE-Unicamp); Carolina Cantarino (antropóloga, doutoranda do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp); Carolina Ramkrapes (bolsista SAE em 2008-2009, participou ativamente na criação do layout do blog Calçadão);

Elenise Cristina de Andrade (bióloga, doutora em educação pela FE-Unicamp, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc); Fernanda Pestana (designer, graduanda do Instituto Artes bolsista CNPq em 2007-2008, bolsista Pibic 2008-2009 e 2009-2010), desenvolvendo projeto de iniciação científica e responsável pelo visual de todos os folhetos, cartazes e logos das criações do grupo); Glauco Roberto Silva (graduando no IFCH-Unicamp, participa das ações do grupo, responsável pela criação e desenvolvimento dos blogs “petshop” e “igreja”, envolvido com os jogos de dados); Guilherme Martins (graduando da música, envolvido com os dados discotecados); Maria Cristina Bueno (atriz, diretora de teatro e arte educadora. Atuou na peça “Num dado momento” como mulher-dado-cliente-deus no Museu da Imagem e do Som (MIS), na Casa do Lago - Unicamp, na 60a. SBPC na Unicamp e nas ruas do centro de Campinas em 2008 . Fez performances durante a instalação “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, cores, vãos, sombras, sons…” em 2009); Marcelo Luís Silvério (ator e músico.

Atuou na peça “Num dado momento” como cientistas-vendedor e anjo, no Museu da Imagem e do Som (MIS), na Casa do Lago - Unicamp, na 60a. SBPC na Unicamp e nas ruas do centro de Campinas em 2008 . Fez performances durante a instalação “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, cores, vãos, sombras, sons…” em 2009); Sheyla Cristina Smanioto Macedo (graduanda no Instituto de Estudos da Linguagem, bolsista SAE 2008, bolsista Fapesp 2009, desenvolvendo projeto de iniciação científica, participou da criação do blog Calçadão e contribui ativamente com a alimentação do blog);

Susana Oliveira Dias (bióloga, doutora em educação pela FE-Unicamp, professora e pesquisadora do Labjor-Unicamp, coordenadora do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Labjor);

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“Monstrinhos” criados pelos visitantes em instalação do artista Thiago La Torre que fez parte do e-vento: “Num dado e- vento: biotecnologia e culturas em vãos, cores, sons, sombras...”

Os registros fotográficos das ações dos projetos, bem como as criações imagéticas feitas a partir dessas produções, e registros feitos pelo e com o público, compõem possibilidade de explorar a questão: que divulgação pulsaria nem da rua nem das biotecnologias, mas no entre, desde dentro da partícula de, despojada de conexões, opiniões, representações, fixações? Nossa vontade não é territorializar as demarcações entre vida, tecnociência e cultura em pulsações que remetessem às diferenciações humano-inumano, mas pulsá-los (humano-inumano) sem distinção, nem comparação, nem hierarquia. Um “meio” imediato, sem mediação, imagens em proliferação, sem representação, assim como Zourabichvili (2007), ao comentar sobre o conceito de resistência, diz que a filosofia toma emprestado à arte o gesto de criar meios de indeterminação. Milieux, em francês, meio físico, isso é o que a filosofia empresta, e não as maneiras, as vias, moyens.

Apostamos numa divagação científica. Divulgação, divagação, fabulação. Esta escolha parece-nos possibilitar um pensamento que não se funda nos sujeitos como essência e substância da linguagem, que busca desviar de uma compreensão da comunicação sob o modelo da recognição. Divagação a promover um duplo arrombamento entre ciências e divulgações, convidando ao abandono das referências, correspondências, associações analógicas e equivalências. "(...) quando se cria uma outra língua no interior da língua, a linguagem inteira tende para um limite 'assintático', 'agramatical', ou que se comunica

Thiago La Torre (artista visual, VJ, bolsista Pibic-CNPq 2007-2008, desenvolve pesquisa de iniciação científica sob orientação do Prof. Dr. Antonio Carlos Rodrigues de Amorim, deu vida ao design e imagem de abertura do Calçadão, é responsável pelos dados discotecados. Criou uma instalação no evento “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, cores, vãos, sombras, sons…” em 2009).

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com o próprio fora" (DELEUZE, 1997: p.9). Esse limite, a subversão da sintaxe e da gramática, não se confunde com o erro, com a imaginação e fantasia em oposição ao real, são antes formas de afirmar a potência de um real-ficcionado ou de uma ficção- realizada. Este caminho parece-nos potente visto que as ciências, em especial as biotecnologias, insistem em combater a ficção, tratando-a como o erro, a distorção, a fantasia e, simultaneamente, investem em produções que estariam tornando o que antes seria considerado ficção, em possível: vidas modificadas, espécies inventadas em tempos a-históricos, sentidos ex-tendidos, antecipação de doenças, terapias probabilísticas. Que tempo seria esse? Qual o papel do futuro quando as previsibilidades

estariam sendo alcançadas? E se o vento fosse aprisionado...?

“Monstrinhos” criados pelos visitantes em instalação do artista Thiago La Torre que fez parte do e-vento: “Num dado e-vento: biotecnologia e culturas em vãos, cores, sons, sombras...”

O problema com o possível – ao menos é dessa forma que se tende a entendê-lo – é que ele limita o futuro a um espaço probabilística e estatisticamente governável, quando, na verdade, o futuro é definido por tantos caminhos bifurcados, tantas divergências, que não podemos considerar ou conciliar a todos eles, exceto como incompatíveis, ou mesmo “im-possíveis”. Não podemos conceber o futuro de acordo com um conjunto de possibilidades precisamente porque nenhum conjunto poderia completa ou consistentemente organizar o possível (FLAXMAN, 2008: p.4).

Anunciando a captura de passado e futuro, as biotecnologias colocam em cena questões ligadas ao tempo, à vida, à sobrevivência. Seria possível pensar numa divulgação científica que escapasse à lógica da medida do possível, da submissão do futuro a um conjunto de prováveis, da mutilação da vida reduzida às combinações dadas nos planos biológicos e culturais? E se, tomada por uma desmesura, a divulgação científica coloca- se em colapso expondo-se às queimaduras, erupções ou às “experiências que formaram as dobras delicadas da matéria cinza”, como nos sugere Gregory Flaxman ao pensar

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com o filósofo Gilles Deleuze não no futuro da filosofia, mas na filosofia do futuro?

Divulgar. Divagar. Fabular.

Produção de sentido na superfície, acompanhando a filosofia de Gilles Deleuze, escorregões e deslizes por profundidades imaginárias, descentramento da necessidade de uma linearidade temporal para produção e divulgação de conhecimentos. Poderíamos pensar em uma imagem de ciência e(m) divulgação antes da ciência assim como José Carlos Avellar, no livro O chão da palavra, toma emprestado o termo “cinemastine” de Eisenstein e discute o “cinema que existiu antes do cinema”? Antes que não é anterior ao depois, mas densidades de movimentos e fluxos pela superfície do acontecimento.

Poder pensar o diálogo do cinema não apenas com a literatura, as artes plásticas e a música que surgiram já sob o seu impacto – ou seja, depois da invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, no final do século 19 – mas também com a pintura de Velásquez, a literatura de Machado de Assis e uma infinidade de experiências artísticas em que o cinema aparece em estado de embrião, desejo, potência.

Desejo neste texto. Intenções intensas de recuperar as potências do dizer e do escrever por meio de cartografias impessoais, que nos parecem não serem valorizadas quando a escolha recai sobre o modelo platônico de mundo fundado na necessidade das equivalências que precederiam o mundo em seu entendimento: primeira etapa, imprescindível para a continuidade da espiral centrípeta de significações, entende-se o mundo a partir das buscas de equivalentes verdadeiros, isto é, daqueles que se equivalem fielmente ao modelo de mundo para, numa segunda etapa, vislumbrar-se o mundo. Nessa linearidade fixa e hierárquica, encontramos que, muitas vezes, a produção/fixação de um conceito-modelo de mundo justificaria a realidade, a verdade, a rota didática para divulgar o mundo através da ciência, do conhecimento científico.

Meio, modo, maneira, mediação, moyens. O que fugisse a essa cadeia circular, a esse meio, seria ficção, imaginação do inexistente, não comprovado, por isso, mundos inexplicáveis. Não-meio, entre. Fábulas. Fábulas?

(...) a fabulação nada tem a ver com gêneros, moral, produção de medos científicos ou míticos, que terminam por expor o outro como condenação ou fatalidade. Também não se trata de eliminar a ficção, mas de libertá-la do modelo de verdade que a penetra e corrói, função da fabulação (DIAS, 2008:

p.149).

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Joel Birmam (2000), em seus estudos com Deleuze, ressalta que a fabulação, ao invés de se ater ao fora-do-meio, fora do mundo porque impossível, seria “a própria potência em ato” que implica na transformação do que é familiar em estrangeiro, numa ruptura, desde dentro, com a língua materna. Estas possibilidades-ventos nos levam e trazem a pensar numa divulgação científica que ex-põe as ciências, fazendo com que elas percam, provisoriamente, o poder de dizer “eu”, “é”, abrindo à invasão de outros ruídos, sons, texturas, cores, vãos, ventos das ruas, dos becos, dos escuros, das noites. Invasões inumanas que produzem fendas no pensar-criar-conhecer e, contrariamente à tradição nos campos da educação e comunicação em ciência, marcados pelas exigências de universalizações e totalizações, encontra na dispersão e nos fragmentos a possibilidade de uma dimensão política da escrita.

Descentramento da necessidade de uma linearidade temporal para produção e divulgação de conhecimentos; de delimitações, comparações e hierarquizações entre ciência, arte e divulgação. Trans-formações que ressoam em nossas possibilidades de expressão, sensação, entendimento, ensino-aprendizagem pelos mais diversos espaços formais e não-formais de ensino. Alguns apagamentos explicitam-se, não sendo rejeitados, como tradicionalmente propaga-se para questões de divulgação científica, desmontando a cadeia da necessidade em atravessar espaços de clareamento e organização para a produção de conhecimento.

Para nos ajudar a pensar sobre tais possibilidades, convidamos Bruno Latour (2001) com a aposta na criação da realidade nem pela concretude da neutralidade dos cientistas nem pela revelação dos não-humanos nos experimentos, mas nas articulações das proposições e dos elementos/autores que a compõe e a modifica assim como também são constantemente modificados. Realidade-ficção e(m) fabulação escutando Foucault (2006). “A fábula é feita de elementos colocados em uma certa ordem. A ficção é a trama das relações estabelecidas, através do próprio discurso, entre aquele que fala e aquele do qual ele fala. Ficção, ‘aspecto’ da fábula” (p. 210). Ficção aspecto da fábula e não um saltar de realidade. E a tão aclamada ficção científica? Utopia? Distopia? A- topia a perturbar os limites da representação, da equivalência, da busca pelo modelo ideal?

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Fotografia e montagem de Thiago La Torre do e-vento “Num dado e-vento: biotecnologia e culturas em vãos, cores, sons, sombras...”

Uma das instalações do e-vento – “Jogo dos Monstrinhos”, do artista e aluno que desenvolve pesquisa de iniciação científica no projeto – propôs uma invenção por essa figura popular, os monstros, comumente associadas às biotecnologias. Com relação ao jogo o artista Thiago La Torre explica:

Uma interface interativa onde imagens e sons são (des)controlados pelo toque úmido. Uma superfície d'água que refrata em distorções projetadas na imagens.

Processados pelo computador, a interação das pessoas com o movimento da água, captados por uma microcâmera e microfone submersos, se transforma em dados subjetivos que causam ao mesmo tempo estranhamento e conforto em uma mixagem audiovisual imersiva. Por trabalhar com elementos comuns às demais instalações, poderá ser localizada em diferentes lugares da instalação- evento (LA TORRE, 2009).

Fotos do “Num dado e-vento: biotecnologia e culturas em vãos, cores, sons, sombras...” de Alik Wunder.

Na tela de projeção, a partir do movimento da água proporcionado pelo toque das pessoas eram criados monstrinhos. Esses “monstrinhos” eram compostos pelo

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alinhamento de três imagens que se relacionavam às partes do corpo: “cabeça”, “tronco”

e “membros inferiores”.

Outro espaço para a montagem de “monstrinhos” também acontecia em uma mesa com

“material biotecnológico” disponível: “modelos” para os monstrinhos4, revistas, cola, tesoura. Os monstrinhos criados pelo público, muitas vezes, escapam ao modelo sugerido, ao corpo-montro tradicionalmente horripilante, escapam à ideia de corpo. Tais imagens se encontram com as apostas do grupo de criar um tempo de re/combinações que possam confrontar/resistir/dialogar com a insistência na determinação, no controle, na substância, sugerida pelas biotecnologias, que insistem em delimitar ações, medidas, tempos dos corpos. Como escapar à autoridade do tempo presente dos corpos, do que se dá a ver e ouvir, das misturas de corpos, (pessoas, imagens, ruas, biotecnologias, sons), das qualidades físicas, das singularidades individuais, do barulho dos corpos? Haveria um tempo liberto capaz de ser expresso nas imagens, sons palavras? Remix. Restos de encontros. Passagens de corpos. Relances de olhares. Efemeridades de encontros intensos. Instante. Breve. Que insta. Que urge. Que aperta. Que persegue. Eminente.

Suspenso. Atópico.

Os projetos de divulgação científica foram pensados/inventados na busca por criar possibilidades de participação intensas do público na produção de conhecimentos, pensamentos, sensações. Expansões dos corpos. Desmaterialização dos monstros.

Extensões dos corpos-monstros. O público deixou de ser apenas um conjunto de pessoas, vozes, discursos que circulam pelas ruas, exposições, calçadões, supermercados, clínicas, pet shops, zôos, museus etc. O público deixou de ser apenas pensado pela possibilidade de entendimentos sobre como os sujeitos recebem, percebem, aprendem, apropriam-se, para ser aquele/aquilo com quem estabelecemos encontros.

4 Um pedaço de sulfite onde constava o logotipo do e-vento e três retângulos que indicavam as partes do “corpo” do “monstro” a ser montado.

Nesta direção, consideramos o público – as pessoas, a mídia, as instituições, a multidão, as representações e as concepções etc – como um forte aglutinador do que queremos buscar como indicadores em nosso projeto, e avaliar os fluxos que o atravessam, dele partem e passam com ou sem efeitos visíveis (VOGT et al, 2008: p. 297-298).

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Interessa-nos perseguir os deslizes do acontecimento monstro e encontrar (ir ao encontro), sem susto (os “monstros” que os visitantes criaram assustam?), das potencialidades políticas de uma divulgação que se quer monstra: que quer fugir (fazer fugir) ao organismo, à organicidade; que quer escapar (fazer escapar) às moralidades que marcam a maquinaria de expressão das biotecnologias; que deseja sustar as delimitações, classificações e fixações de conhecimentos, pensamentos, culturas na contemporaneidade.

A paisagem-corpo dos conceitos – vida, humano, futuro – se contorce compulsivamente, explode numa monstruosidade incontrolável, numa abertura para devires inauditos e imprevisíveis. A (de)formação do humano, da vida e do futuro, a libertação desses conceitos da excessiva organicidade pode não ser relevante para os estudos médicos, farmacológicos, para as grandes indústrias e corporações, ou ainda para aqueles que pretendem encontrar vida em outros planetas , mas apresenta-se potente para um pensamento por entre ciências, arte, educação, currículo e comunicação. Possibilidades de caotizar tais conceitos, de levá-los além de seus limites.

Paisagem-corpo-pensamento monstra, em que humanos, vida e futuro não estão dados e aprisionados, antes libertos, abertos à experimentação.

O monstro (violência, desidentificação e anormalidade) é potência de pensar pedagogias da ausência, de singularidades puras e experienciar a fuga do controle de existir na realidade, similarmente a alguns estilos de escrita literária com personagens que querem fazer o leitor se desencontrar (AMORIM, 2007).

“Mas afinal, que modelo é esse? Onde está a efetiva divulgação das ciências?”. A exposição dos projetos e suas apostas, por vezes, assustam. Que divulgação é essa que quer se afirmar divagação, multiplicação, proliferação? Um querer que não significa, na maioria das vezes, concretização, antes fracasso e decepção. Um querer que não significa modelo de formação, antes deformação do modelo, da ideia de modelo. A perda da identidade do que é “divulgação científica”, do que poderia ser considerado

“divulgação científica”, parece assustar. Como sustar o susto e discutir politicamente os efeitos da divulgação de ciências num mundo de tempos, cada vez mais, marcados pelo controle e exclusão? Os papéis mídias – papel jornal, revista, tela do cinema, tela da TV – têm priorizado excessivamente a comunicação da informação e da opinião.

A opinião é um pensamento que se molda estreitamente sobre a forma de recognição: recognição de uma qualidade na percepção (contemplação),

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recognição de um grupo na afecção (reflexão), recognição de um rival na possibilidade de outros grupos e outras qualidades (comunicação). Ela dá à recognição do verdadeiro uma extensão e critérios que são , por natureza, os de uma ‘ortodoxia’: será verdadeira uma opinião que coincida com a do grupo ao qual se pertencerá ao enunciá-la (DELEUZE; GUATTARI, 1992: p.192).

“Monstrinho” criado por visitante em instalação do artista Thiago La Torre. Criança na mesa-laboratório de monstrinhos.

Instalações que fizeram parte do e-vento: “Num dado e-vento:

biotecnologia e culturas em vãos, cores, sons, sombras...”

Lançarmos as biotecnologias ao e-vento, ao tempo, às experimentações, sem sujeito, inumanas. Um acontecimento que foge ao que está dado pelos estados de coisas e, ao mesmo tempo, dado pelos enunciados. Pelas sensações: texturas, cores, sombras, ventos, vãos. Por entre ações, pensamentos, idéias criadas num projeto de pesquisa divulgação científica – o Biotecnologias de Rua – ex-por as biotecnologias, inseri-las

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em outros fluxos e velocidades, criar. Divulgações, divagações, fabulações. Num dado momento resistir. Restituir a força política do dizer e do escrever e imagens e criar entre-tempos, entre-momentos, entre-tenimentos. Entre-ter, distrair, desviar, fazer esperar, fazer demorar. Uma escrita-pesquisa-divulgação monstra.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. (Coleção TRANS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIRMAN, Joel. (2000). Os signos e seus excessos: a clínica em Deleuze. In: ALLIEZ, Eric (Org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Ed. 34. (Coleção Trans).

DELEUZE, Gilles. (1997). Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: ED 34 DIAS, Susana Oliveira. (2008). Papelar o pedagógico... escrita, tempo e vida por entre

imprensas e ciências. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP.

FLAXMAN, Gregory. (2008). Gilles Deleuze, filósofo do futuro. Educação Temática Digital (ETD).Campinas, v.9, n. esp., p.1-14, out.

AMORIM, Antonio Carlos Rodrigues de. Ponto.Ponto.Ponto.Identidades, diferenças e imagens. Leitura. Teoria&Prática, Campinas, v.48, p.13-18, 2007.

FOUCAULT, Michel. Estética, literatura e pintura, música e cinema. Ditos e Escritos III, Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2006.

LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora. Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa, Bauru, Editora da Universidade do Sagrado Coração, 2001

VOGT et al. Biotecnologias de rua. In: ALBORNOZ, Mario;VOGT, Carlos;

ALFARAZ, Cláudio. Indicadores de ciencia y tecnologia em Iberoamerica. Agenda 2008. Buenos Aires, Argentina: Ricyt, 2008. pp. 285-298.

ZOURABICHVILI, François. O jogo da arte. IN LINS, Daniel (Org.) Nietzsche/Deleuze: arte, resistência: Simpósio Internacional de filosofia, 2004. Rio de Janeiro: Forense Editora; Fortaleza : Fundação de Cultura, Desporte e Turismo, 2007.

Referências

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