• Nenhum resultado encontrado

Entreprendre de parler en linguiste du texte, c'est, en effel, se trouver

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Entreprendre de parler en linguiste du texte, c'est, en effel, se trouver"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Maria Antnia Coutinho

A

multiplicidade

de

acepes

em que se

pode

tomar texto e a

diversidade de reas cientficas que por ele se interessam seriam razo bastante para comear por esclarecer o que convir entender por texto em

lingustica.

A

pertinncia

da

questo

no assegura

porm

uma

resposta evidente. Ainda recentemente, num

artigo

publicado

em 95,

Franois

Rastier fazia sentir a

divergncia

que subsiste nesta matria, ao afirmar:

Le texte est attest: il n'est pas une crcation

thorique

comme

1'exem-ple

de

linguistique,

mme considere comme texte.

RASTIER 1995:195

No sendo

pois

consensual, esta

posio,

que

aqui

subscrevo,

implica

duas vertentes: assumir o texto como

patamar

de

descrio

lingustica

e encarar os textos como

sequncias lingusticas

empricas,

orais ou

escritas,

produzidas

numa

prtica

social determinada1.

Uma das dificuldades que decorre desta

noo

de texto tem a ver com o facto de nos reencontrarmos face a um

objecto

multifacetado

-e de nos redescobrirmos,

ns,

linguistas,

e mesmo

linguistas

do texto,

razoavelmente desmunidos. Como comentava

Jean-Michel

Adam, na

introduo

aos seus Elementos de

Lingustica

Textual:

1 Cf. a este

propsito, RASTIER 1989; 1991; 1995:185-6,195.

Revista da Faculdade de Cincias Sociais e Humanas, n." 10,

(2)

Entreprendre

de

parler

en

linguiste

du texte, c'est, en effel, se trouver en

prsence

d'un

objet pluridisciplinaire

et tre invitablement con

fronte aux limites d'une

discipline

constitue.

ADAM 1990:1 1

Estranha seria uma cincia que definitivamente se acomodasse aos limites do seu saber

j

constitudo. Como faz notar Jolle

Kohler--Chesny,

talvez no interesse tanto uma

oposio

entre "cincias duras"e "cincias

moles",

mas entre cincias que se encontraram e

cincias que se

procuram2.

Privilegiando,

por evidente necessidade de

reduo metodolgi

ca, o texto escrito e o ponto de vista da

produo,

a

perspectiva

sobre a

qual

me

proponho

trabalhar consiste em tomar em

considerao

a

relao

indissocivel entre texto e conhecimento. Entendo

aqui

conhecimento no como

espelho

de um mundo exterior tido por

objectivo

mas como

organizao

da

experincia

do

sujeito

em inte

raco

com o ambiente. Esta

perspectiva,

filiada na

epistemologia

construtivista de

Piaget

e

marcada,

mais recentemente,

pelo

trabalho

dos

bilogos

Maturana e

Varela3,

est presente na

investigao

em

lingustica.

Poder-se- apontar

Vignaux

como uma das referncias

significativas,

assumindo a

posio

construtivista e reconhecendo que todo o conhecimento se estabelece sempre discursivamente. Em

ltima anlise, como se

pode

ver, a

prpria

noo

de discurso que

resulta clarificada:

Tout discours est de la sorte, ensemble d'actions sur le

systmc

du lan

gage

qu'il

utilise, sur le monde travers ce

qu'il

choisit d'en "extrairc"

pour en

parler,

sur les

"objets

nouveaux"

qu'il

construa alors cl

qui

prennentforme

d'arguments

por d'autres discours.

VIGNAUX 1988:219

Poder-se- assim falar de um trabalho de

construo

de sentido,

insistindo no facto de esse trabalho

depender

necessariamente dos

dados

disponveis,

no sentido tanto dos aspectos

provocadores

(aspectos

do

ambiente,

em sentido

lato)

como das

possibilidades

2 A

propsito das cincias ditas constitudas, a autora lembra que" un moment de

leur histoire, elles ont bien du expliciter leur point de regard, leurobjet el 1'espace

de lcurs propositions.". Cf. KOHLER-CHESNY 1982:102

3 Le Moigne refere a teoria de H. Maturana

e F. Varela entre as contribuies

actuais

-e diversificadas

-para o paradigma construtivista (LE MOIGNE

(3)

internas de

reagir

-possibilidades

essas que incluem certamente

representaes

e conhecimentos.

Lembraria,

a este

propsito,

o des

dobramento a que se presta a

noo

de

representao,

em

psicologia

cognitiva:

por um lado

representaes,

isto ,

construes

transitrias

que, fazendo face a necessidades circunstanciais so, nessa mesma

medida, elaboradas

(e

substitudas)

pela

memria de trabalho ou memria

operacional;

e por outro

conhecimentos,

no sentido de estru turas estabilizadas na memria de

longa

durao,

que constituem

saberes de base face s

situaes

e

aco.4

No que diz

respeito

a

representaes,

poder-se-

apontar, a traos

largos

e sem

pretenso

de exaustividade, a

representao

que o locu

tor tem de si

prprio,

a que tem do seu

interlocutor,

daquilo

que trata, da

situao

comunicativa e at da

prpria lngua5.

Em

relao

aos

conhecimentos

-no sentido atrs

apontado

de

representaes

estabili

zadas e, como

tal,

a

distinguir

da

representao

que o

sujeito

tenha dos seus

prprios

conhecimentos e dos conhecimentos do interlocutor

- sabida

a

importncia

de que se revestem os conhecimentos relati vos ao assunto em causa. Mas no menos

importante

ser o conheci

mento

lingustico

do

sujeito

- a entender

como um estdio

personali

zado de

competncia lingustica,

com nveis

(variveis)

de

explicita

o,

modelado por

determinaes ligadas

ao estrato

social,

histria

familiar e

pessoal,

ao percurso escolar e s ocasies de

educao

informal,

poca,

gerao

-e, atravs de tudo isso, em

particular,

prtica

de

produo

de textos6. Esse conhecimento ser determinante

na forma como o

sujeito

faz face actividade

complexa,

lingustico--cognitiva,

em que o coloca a

situao

de

produo

textual: actividade

lingustica

atravs da

qual

toma forma o conhecimento e, simultanea

mente, actividade

cognitiva

atravs da

qual

toma forma o texto. Trata--se de um trabalho de

elaborao

sobre

representaes

lingustico--cognitivas prvias

-ou, se

preferirmos,

da

representao

de

represen-4 A este

propsito veja-se, por exemplo, VIGNAUX, G. 1 99 1:223-4

5 Grize,

que h muito toma em considerao este tipo de representaes, salienta

recentemente arecursividade da representao (por exemplo, a representao que o

locutor tem do interlocutor inclui a representao que o interlocutor ter do

locutor) e, salientando que ningum representa o outro globalmente, destaca trs

aspectos da forma como o interlocutor representado (os conhecimentos que tem,

o nvel de lngua e os valores e ideologias que subscreve). Cf. GRIZE 1996:63-65 6 A

propsito de percursos escolares e de prtica de produo de textos, seria de

todo o interesse repensarar, por um lado, a

importncia

dada produo de textos

orais - ano confundir

(4)

taces.

Trabalho que radicalmente define o

sujeito

que escreve como

sujeito

criador de um determinado conhecimento - o

seu,

aquele

que no existe fora da

formulao

que o torna

conhecido,

na

configurao

espacio-temporal

que , tambm, um texto. Deste ponto de vista

-aqum

dos critrios de

validao

e dos circuitos de transmisso de

conhecimentos, uns e outros mais ou menos convencionais e institu

cionalizados - o auto-conhecimento

produo

de conhecimento.

So

alguns

aspectos desse trabalho que

pretendo pr

em

destaque,

na anlise textual que se segue. Limitar-me-ei a abordar a

sequncia

inicial do texto7 - escolhido

pelo

carcter

exemplar

que exibe, em

particular

relativamente

perspectiva

atrs

apontada.

A

anlise do

primeiro pargrafo

dar conta da

multiplicidade

de repre

sentaes

em causa, e dos efeitos

lingustico-discursivos

associados

re-representao

estabelecida. Num

segundo

momento,

sublinhar-se-a

articulao

entre

aquelas

mesmas

representaes

e uma

especfica

organizao

textual.

Anlise do 1"

Como bem

sabemos,

um texto

apresentado

a um congresso

quase sempre um texto escrito - e mesmo cuidadosamente escrito

-que se l em

situao.

O binmio escrita /leitura

(cronologicamente

orientado, neste caso, neste mesmo

sentido)

aqui apagado pela

ocor rncia do lexema

falar

- atravs do

qual

o

sujeito

reconstitui a

situao

de

interlocuo

como no diferida.

Representar

a

situao

como sendo ou no diferida

depende

de se

privilegiar

a tomada de

palavra,

oralmente,

ou o acto

prvio

de

produo

escrita. A ocorrncia de

falar

corresponde

assim

opo

mais fecunda. Por um lado, pre

servando,

atravs de

'proximidades

lexicais' a fazerem-se valer numa rede de

relaes paradigmticas8,

a

representao

mais

complexa

e menos linear do "facto":

7 O excertoem anliseencontra-se

reproduzido em Anexo.

8 A expresso 'proximidades lexicais' de

Vignaux que, por sua vez, se refere a D.

Kayser, a propsito da possibilidade de organizar em arborescncia as diferentes

significaes de uma palavra. Sublinhe-se, entretanto, como o ponto de vista de

Vignaux vem confirmar a anlise proposta: "De mme faut-il envisager, dans le

futur, des recherches traitant mieux les proximits lexicales et les niveaux de

comprhension requis, la manire dont nous-mmes sommes capables dexercer

toute une gamme de niveaux de lecture d'un texte, selon nos connaissances, nos

(5)

tomar apalavra

FALAR

ler

(em vozalta)

escrever

Por outro,

privilegiando

uma das

representaes

- a da interlocu

o

no diferida -como forma de acentuar a

relao

discursiva

-ou,

por outras

palavras,

de

representar

a

proximidade

dessa

relao.

Essa mesma

representao

corroborada

pela

ocorrncia do presente do

indicativo do verbo

principal

("Foro-me")

-que, a marcar o presente

da

enunciao,

no

pode

deixar de ser

aqui

um presente de

encenao:

o presente deste

[falar

que ler diante desta assembleia o que est

escrito/o que me

forcei

a

escrever].

O conector porque introduz

(retroactivamente)

o argumento para a concluso

j apresentada.

Esquematicamente:

a

PORQUE

b

Foro-me

afalar diante faz-lo

desta assembleia

[falar

diante desta assembleia]

reconhecer-me como... e mais: como...

A

relao

entre concluso e

argumento

envolve tambm diferen

tes

representaes

que o

sujeito

de si

prprio

pe

em

jogo. Foro-me

a

falar

marca a

representao

da diviso do

sujeito

-(querer)

talar /

no

(querer)

falar. Se o

argumento

apresentado

constitui razo para

falar,

"Foro-me

a falar" ser

equivalente

a

[Foro-me

a reconhecer--me

como...],

cabendo

hiptese

excluda

(no

falar)

assinalar a per

tinncia

(at mesmo a

persistncia),

de um

ponto

de vista contrrio,

isto

[no

me reconhecer

como...]

-ponto

de vista esse anteriormente

experimentado

pelo sujeito

como, de resto, se faz tambm sentir na

(6)

A ocorrncia do pronome de

segunda

pessoa na

superfcie

textual

atestaria,

por si

s,

a

representao

da

proximidade

do interlocutor

-representao

antecipada

/

consagrada pela

escrita que

precede

o face e face. Mas a ocorrncia da forma de

plural

(a

desusada

segunda

pes soa do

plural)

vem acrescentar

representao

da

proximidade

fsica a

representao

de uma

proximidade

cultural: no vs se faz sentir a

representao

daqueles

para quem se fala como sendo escritores, a de quem

fala,

igualmente

reconhecida como escritora,

pelos

outros e por

si

prpria

tambm, "acaso

finalmente";

a da

lngua,

herdada com seus usos literrios ou apenas diacronicamente

ultrapassados,

e como tal

manejada.

Se

algo

parece remeter para um exterior da

linguagem

(efeito

da

proximidade sintagmtica ter<rJ>algo, susceptvel

de criar a iluso de uma materialidade

objectiva

de

algo),

no deixa de se

impor

a sua

condio lingustica,

na medida em que a

organizao

sintctica torna saliente a

representao

de

algo

como

[algo

para

dizer]:

[ter

algo]

tendo

algo

que considero tempo de vos dizer claro

[algo

para

dizer]

A estes dois

plos,

entretanto, se

podero

fazer

corresponder

diferentes

planos

de

representao:

[ter

algo]

remete para o

plano

de

representao

mental enquanto

[algo

para

dizer]

anuncia o

plano

de

representao

lingustico-textual

-

aquele,

precisamente,

em que

algo

toma

forma,

se

diz,

em texto.

Alguns aspectos de

organizao

textual

Como atrs se

viu,

o

primeiro pargrafo

disponibiliza

um

ponto

de vista

implcito, experimentado pelo sujeito

num tempo anterior ao

presente da

enunciao:

[no

me reconhecer

como...].

Este

implcito

assume estatuto de segmento textual: com ele que se articula o

segundo pargrafo,

ele que determina o carcter narrativo desse mesmo

segundo

pargrafo

(assinale-se

a recorrncia do

pretrito

imperfeito

do

indicativo).

Refazendo o percurso desde

[no

me

reconhecer

como...]

at "reconhecer-me como..."

(isto

, at ao pre

(7)

con-tribui para uma

primeira

caracterizao

desse

"algo

que considero

tempo de vos dizer claro",

seguida

de imediato de uma

anaforizao

que o

relana. Vejamos esquematicamente:

P [no me reconhecer como...] (...)

algo

que considero tempo de vos

dizer claro.

2 At estas horas novas (...)

Hoje

sei e aceito que o problema (...)

*

E dele venho dar-vos parte, (...)

Novamente narrativo, o terceiro

pargrafo

reconstitui as circuns

tncias atravs das

quais

se

problematizou

a

relao

entre o 'eu' e a

linguagem

- ao mesmo

tempo que se

problematizava

a

relao

com os outros e com a realidade.

Tempo

de

aprendizagem

- contada, analisa

da e avaliada a

partir

do

presente

(do

saber do

presente).

Destaquemos

trs momentos desse

ponto

de vista sobre o

passado:

. "Como era subversivo, enquanto

trajecto,

treino, ler ento

assim a mofenta Condessa de

Sgur!"

.

"(...)

eu soube ento, definitiva embora informemente, que a

realidade dada se

pode

modificar,(...)."

. "Mais tarde havia de saber que o que caracteriza a

burguesia

o seu

profundo

apego ao conhecido."

Pode

verificar-se,

em

primeiro lugar,

a

dissociao

entre o tempo

de que se fala e o tempo em que se fala (o tempo da

enunciao):

para

alm dos tempos

verbais,

a ocorrncia de "ento"

(por

oposio

ao

[agora]

da

enunciao),

e de "Mais tarde"

(que

estabelece a referncia a

partir

de

"ento").

A

dissociao temporal

vai de par, entretanto, com a

dissociao

de dois

nveis,

temporal

e

cognitivamente

diferen

ciados,

que a

organizao lingustica sequencializa.

No

primeiro

caso,

trata-se da

dissociao

entre o que ento se fazia e a forma como

agora se avalia esse fazer:

'fazer-de-ento' ler a Condessa de

Scgur

'avaliao-de-agora'

(a Condessa de

Scgur)

mofenta

ser subversivo

(8)

No

segundo

caso, estamos

perante

a

dissociao

entre o

'saber--de-ento' e o que agora se sabe sobre o saber-de-ento

'saber-de-ento'

"(que)

a realidade dada se

pode

modificar "

saber sobre o

'saber-de-ento'

"(soube) definitiva embora informemente"

No terceiro caso encontramos, luz do

'saber-de-agora',

um saber

posterior

ao 'saber de-ento':

'saber-de-ento'

'saber-de-agora'

"Mais tarde havia de saber que (...)"

No seu

conjunto,

o terceiro

pargrafo

constitui argumento para uma concluso: a que

introduz,

no

princpio

do quarto

pargrafo,

a ocorrncia de

"por

isso" e

"por

essa dissonncia". Se as duas expres

ses funcionam redundantemente, do ponto de vista

argumentativo

(ambas introduzindo a mesma

concluso),

a sua ocorrncia

justifica--se por cada uma assumir um movimento fundamental em termos de

organizao

textual: em

"por

isso" o demonstrativo anaforiza o

j-dito

(a narrativa do terceiro

pargrafo), assegurando

assim a

articulao

com um momento anterior do texto; em

"por

essa dissonncia" o

j--dito reaparece reformulado, condensado numa

expresso

nominal1' que

relana

o movimento do texto. Curiosa, em todo o caso, a

repetio

de

"por

isso" - neste

caso, "isso" anaforiza o contedo dis

ponibilizado

no terceiro

pargrafo

ou a

expresso

de

condensao

-talvez

alongada

demais para a

funo

textual que era suposta

caber--lhe? O enunciado

apresentado

como concluso

(isto

, marcado como

concluso

pela

ocorrncia da conexo

argumentativa)

no , no entan

to, mais do que um passo: reconstitua-se a

repetio,

ainda uma vez,

do conector

argumentativo.

A noo de operao de condensao (e de outras operaes de objectos) est

ligada perspectiva de lgica natural, desenvolvida por Jean-Blaise Grize e outros

investigadores ligados ao Groupe de Recherches Smiologiques de Neuchtel. A esse propsito veja-se, por exemplo, VERGS, APOTHLOZ, MIVILLE

1987:215. Um ponto de vista mais lingustico, como o de Corblin, parece no

entanto de alguma forma convergente: de acordo comeste autor, o carcter

anaf-rico de grupos nominais introduzidos por demonstrativo caracteriza-se por um

eleito mnimo de identificao e um efeito mximo de reclassificao do elemento

(9)

c

POR ISSO

3

POR ESSA DISSONNCIA com as

origens

que me foi o ler/escrever, um ler/escrever

qualquer,

indiscri

minado

POR ISSO

[POR ISSO]

a pouca monta em que

tenho

hoje

as querelas de

escola, estilo, moda.

No sou uma criatura

literria,...

O nexo conclusivo que inicia o quarto

pargrafo imprime

um

carcter

argumentativo

a toda a

sequncia

mas as

relaes

argumento

- concluso estabelecem-se a diferentes

nveis,

em simultneo.

Assim,

se a histria

pessoal

revista e contada (no terceiro

pargrafo)

constitui argumento para o enunciados conclusivo atrs

destacado,

este reconstitui -se como argumento para o enunciado (com o

respectivo

implcito)

que abre o texto:

Foro-me

a falar

[areconhecer-me como uma de entre vs]

[PORQUE "No sou uma cria

tura literria"]

Por outro

lado,

a

sequncia

articula-se a dois nveis distintos. Em

relao

ao terceiro

pargrafo,

assume o estatuto de

eplogo

narrativo

-no reconhecimento da mais bsica

relao

com a

linguagem

e na

valorizao

de um "sobreviver mutante". No

conjunto

dos quatro

pargrafos,

esse mesmo

eplogo

narrativo constitui

aquele algo

que

desde o incio havia para dizer: a concluso a

realizao

do que foi

anunciado.

1 (...)

algo

que considero tempo de vos dizer claro.

2

Hoje

sei e aceito que o

problema

(...)

*

E dele venho dar-vos parte, (...)

3 Foi...

4 Por isso...

sequncia

narrativa

(10)

O percurso estritamente individual que o de um texto

escrito,

ningum

o

poder

ensinar. Os meandros atravs dos

quais

se

organiza

o texto - e o

sujeito,

ou o

que textualmente se constitui como

sujeito

-no

poder

prever a

lingustica.

Mas no

poder

tambm,

nessa mes ma medida, deixar de estar confrontada com a

"pluralidade

irredutvel dos textos, das

lnguas

e das culturas"10. Caber

hoje,

a uma

lingusti

ca que se

queira

do texto, contribuir para o fazer face

problemtica

actual da

produo

escrita

(articulando-a

necessariamente com

algu

mas das

especificidades

da cultura

contemponea

e, em

particular,

de uma sub-cultura de

juventude).

Deste ponto de vista, ela deixar-se-testar

pela satisfao

que

seja

capaz de dar aos

problemas daqueles

que no so

linguistas.

Como diz Boaventura Sousa Santos, a

propsi

to de um novo

paradigma

cientfico emergente:

Hoje

no se trata tanto de sobreviver como de saber viver. Para isso

necessria uma outra forma de conhecimento, um conhecimento com

preensivo

e ntimo que no nos separe e antes nos una

pessoalmente

ao

que estudamos.

SANTOS, B.S. 19936:53

ANEXO

Subsdiopara uma

restaurao

do corpo da

lngua*

Maria Velho da Costa in Cravo

(Lisboa, Moraes Editores, 1976, 77-86)

Foro-me

a falar diante desta assembleia.

Porque

faz-lo

reconhecer--me, acaso finalmente, como uma de entre vs, e mais: como tendo

algo

que

considero tempo de vos dizer claro.

At estas horas novas, sempre me recusei definir-me face sociedade

portuguesa como exercendo nela a

funo

de escritora. A

palavra

escrita no

podia ser o instrumento da minha

funo

social reconhecida,

pois

que a

minha histria pessoal a

erigira

o meio

privilegiado

do sentimento de clan

destinidade e resistncia radicais, acaso pequeno, burgus, um dia a suicidar.

Se o

quiserem,

e eu

hoje

sei-o, a

palavra

escrita, lida e escrita,

permanecia

para mim o

lugar

da conscincia simultaneamente alienada e desperta para

um devir totalmente

significante.

No sou escritora, dizia, distorcia a escrita

at ao limiar do possvel, no me definia por a, ainda

quando

o

quotidiano,

o

10 Cf. RASTIER 1995:209

*

(11)

vosso reconhecimento, a

demonstrao

por absurdo de um processo por

abuso da liberdade de escrita cocasse, tudo tendia a conter-me nos limites

dessa

funo,

nomeada, uma mais.

Hoje

sei e aceito que o

problema

entre mim e a

linguagem,

entre a minha identidade pessoal e essa dimenso consti

tutiva da identidade nacional de ns todos que a

lngua

portuguesa. E dele

venho dar-vos parte, porque o creio

hoje

presente em todos ns.

Foi

pela palavra

lida em silncio autista sob a

multiplicidade

de

cdigos

estridentes e contraditrios minha volta que

forjei

em

criana

as armas do

confronto subversivo, to pouco e tanto, com a classe e castas onde me era

feito um

lugar

fechado, servido por

palavras

feitas. Ao lado da rua, onde os

dizeres eram outros, para dentro dos livros que remetiam,

indisssociavelmen-te, parao indizvel e para a

explicitao.

A

linguagem

lida,

independentemen

te do contedo, era a outra

linguagem,

suporte do discurso do outro

imaginrio,

do outro

possvel,

do outro eu, dos outros outros. Como era sub

versivo, enquanto

trajecto,

treino, ler ento assim a mofenta Condessa de

Sgur!

Do ler histrias ao cont-las h um passo que ratifica para sempre uma

convico

perigosssima

-a realidade que nos dizem

pode

ser falseada.

preciso

estar atento. Pela

prtica

da leitura e escrita sem suportes sociais

imediatos ratificadores, eu soube ento, definitiva embora informemene. que a realidade dada se

pode

modificar. Isto , tendo como firme

posio

infantil a

perplexidade

perante

cdigos

dissonantes,

suspeitei

de vez que no s havia

de haver outros, como que era

possvel

cri-los.

Porque

ao querer dar parte

ento aos meus desse

incipiente

modo de

experimentar,

encontrei estranheza e formas subtis de receio,

algumas

vezes

j

lisonja.

Como

hoje.

Falavam-me

ento de talentos, com uma

espcie

de furor nomenclativo. que no dava para

trocas. Foi assim a

demarcao

inicial de territrios,

quando

o que eu

queria

transmitir era to

simples

ento quanto

joelho

esfolado ou medo do escuro.

Mais tarde havia de saber que o que caracteriza a

burguesia

o seu

profundo

apego ao conhecido.

Por isso acaso, por essa dissonncia com as

origens

que me foi o

ler/escrever, um ler/escrever

qualquer,

indiscriminado, por isso a pouca monta em que tenho

hoje

as

querelas

de escola, estilo, moda. No sou uma

criatura literria, no sentido em que a literatura me foi, antes de o ser, muito mais do que

desempenho

ou

aprendizagem pontual

de arte ou ofcio.

Qualquer,

mesmo de cordel, foi-me ento o cordo mor da mais conscincia,

fluxo que um dia haveria de

desaguar-me

na reflexo sobre toda a diferena,

toda a

produo

de bens e de

desejo,

toda a necessidade, reflexo em

palavras

ouvidas, lidas, escritas - as coisas a ordenar novamente

pelos

seus nomes,

relaes

-linguagem

matria e

energia manejada

para

poder

sobreviver

mutante, que esse o

poder

da

linguagem

- fazer-nos, desfazer-nos. indiv

duos, grupos,

ptrias

- imersos no mesmo

magma vivo dos que no lem, nao

(12)

Bibliografia

ADAM, J.-M. (1990),

lments

de

linguistique

textuelle,

Lige, Mardaga

(1992), Les textes:types et prototypes. Rcit,

description,

argumenta-tion,

explication

et

dialogue,

Nathan

APOTHLOZ,

D. e J.-B. GRIZE (1987),

"Langage,

processus

cognitifs

et

gense

de la communication", Travaux du Centre de Recherches

Smiologiques

54, Universit de Neuchtel

BLANCHE-BENVENISTE, C. (1993), "Le

portrait

de mon papa a les

cheveux chauves", Le F

ranais

dans le monde, nmero

especial,

1993, 10-19.

CORBLIN. F. (1987),

Indfini, defini

et

dmonstratif.

Constructions

linguis-tiques de la

rfrence,

Genve - Paris, Librairie Droz

GRIZE, J.-B. (1985), "La recherche et ses

objectifs",

Travaux du Centre de

Recherches

Smiologiques

49 ("Problmes et mthodes d'une

analyse

de texte articulant

organisation cognitive, argumentation

et reprsen

tations sociales"), Universit de Neuchtel, 3-13

(1996), Logique naturelle et Communications, Paris, Presses

Universi-taires de France

KOHLER-CHESNY, J. (1982), "Les bornes du discours et

1'espace

des

inf-rences", Travaux du Centre de Recherches

Smiologiques

41, Neuchtel, 87-104

LE MOIGNE, J.-L. (1995), Les

pistmologies

constructivistes, Paris, P.U.F.,

col."Que

sais-je?"

MATURANA, H. e F. VARELA (1987-1994), The Tree

ofknowledge,

New

Science

Library

(trad. franc, Earbre de la connaissance, Paris,

Editions

Addison-Wesley

France, SA, 1994)

MOESCHLER, J. (1985), Argumentation et conversation.

lments

pourune

analyse

pragmatique du discours, Paris, Hatier - Crdif

OPITZ, L. S. (1985), "Sobre uma 'geometria' textual", Comunicao apresen

tada no

Colquio

Teoria do Texto,

vora,

1985

(1989), "Quando ver dizer -Lisboa (Sobre

algumas

representaes

textuais em

descries

de Lisboa dos sculos XVIII e XIX)" in O

Imaginrio

da Cidade, Lisboa,

Fundao

Calouste Gulbenkian, 209--233

PARRET, H. (1991), "Sens

homogne

et sens hetrogne: les domaines de la

smantique

et de la

pragmatique",

Histoire,

Epistemologie,

Langage tomo 13, fascculo 1, 133-150

RASTIER, F. (1991),

Smantique

et recherches cognitives, Paris, P.U.F.

(1995),"Pour une

smantique

des textes" in M.MAHMOUDIAN (ed.),

Fondements de la recherche

linguistique: perspectives

pistmolo

giques,

Institu de

Linguistique

et de Sciences du Langage, Cahicr n6,

(13)

SANTOS, B. de S. ([1987]

19936),

Um discurso sobre as cincias, Lisboa,

Edies

Afrontamento

VERGS,

P.,

D.APOTHLOZ

e D.

MIVILLE

(1987), "Cct obscur objet du

discours:

oprations

discursives et

reprsentations

sociales", Revtte

Europenne

des Sciences Sociales XXV, 1987 n77, 209-224

VIGNAUX,G. (1988), Le discours acteur du monde. nonciation, argumen

tation et

cognition.

Paris,

Ophrys

(1991), Les sciences cognitives. Une

introduction,

Paris, Editions La Dcouverte

Resumo

Um texto uma forma de conhecimento, isto , um trabalho de

organi

zao da

experincia,

envolvendo a representao de representaes. Que essa

elaborao

se deixe ver atravs de marcas

lingustico-discursivas

e

especificamente

textuais no

pode

deixar de constituir tarefa de anlise

-conduzindo

provavelmente

consolidao

de um ponto de vista construtivista em

lingustica.

Tout texte est un acte de connaissance

-un travail

d'organisation

de

l'exprience qui

inclut la

reprsentation

de

reprsentations.

Ce scront des traces d'une telle laboration qu'on voudra mettre en vidence, en

analyse

textuelle - en

soulignant 1'opportunit

d'un

point

de vue construetiviste, en

Referências

Documentos relacionados

Acrescenta que “a ‘fonte do direito’ é o próprio direito em sua passagem de um estado de fluidez e invisibilidade subterrânea ao estado de segurança e clareza” (Montoro, 2016,

Em vista disso, essa pesquisa tem por objetivo traçar o contexto histórico do soerguimento do grafite e da pichação ao redor do mundo e do Brasil, traçar as

(3ª) Entrevista (classificatória): será realizada pela Comissão do Processo Seletivo e possui peso total dois (2,0). Em caso de empate os seguintes critérios serão adotados,

O presente trabalho foi realizado em duas regiões da bacia do Rio Cubango, Cusseque e Caiúndo, no âmbito do projeto TFO (The Future Okavango 2010-2015, TFO 2010) e

patula inibe a multiplicação do DENV-3 nas células, (Figura 4), além disso, nas análises microscópicas não foi observado efeito citotóxico do extrato sobre as

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Foi membro da Comissão Instaladora do Instituto Universitário de Évora e viria a exercer muitos outros cargos de relevo na Universidade de Évora, nomeadamente, o de Pró-reitor (1976-