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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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(1)

ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO

SELECIONADAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS DO

BRASIL APRENDIZES DE ESPANHOL

RENATA DANIELY ROCHA DE SOUZA SODRÉ MARTINS

(2)

SELECIONADAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS DO

BRASIL APRENDIZES DE ESPANHOL

Renata Daniely Rocha de Souza Sodré Martins

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

(3)

Sodré Martins, Renata Daniely Rocha de Souza.

Estratégias de realização do objeto direto selecionadas por falantes de português do Brasil aprendizes de espanhol/ Renata Daniely Rocha de Souza Sodré Martins. Rio de Janeiro: UFRJ – FL, 2016.

xv, 206f.:il: 31 cm.

Orientador: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, 2016. Bibliografia: f. 173-179.

1. Aquisição de língua estrangeira. 2. Estratégias de realização do objeto direto. 3. Traço de animacidade.

I. Sebold, Maria Mercedes Riveiro Quintans. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-graduação em Letras Neolatinas. III. Estratégias de Realização do Objeto

(4)

Direto por Falantes de Português do Brasil Aprendizes de Espanhol. Dissertação de Mestrado em língua portuguesa – curso de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ UFRJ, 2016. 201p

RESUMO

Nesta dissertação, o estudo da aquisição de linguagem pelo viés gerativista fornece algumas evidências que podem ser estendidas ao entendimento do processo de aquisição de língua estrangeira. Investigamos as estratégias de realização do objeto direto selecionadas por falantes do português do Brasil aprendizes de espanhol. Aplicamos um teste de versão e um teste de produção oral induzida off-line e online à falantes de PB aprendizes de espanhol. A hipótese testada foi a de que o traço [-] animado do antecedente favorece o apagamento do objeto direto no PB. Esperávamos que os aprendizes de espanhol falantes de PB seguissem na língua estrangeira a mesma tendência da sua língua materna, ou seja, o apagamento do objeto direto. Os resultados mostraram que, na produção dos aprendizes, há uma preferência pelo preenchimento do objeto direto pelo clítico de 3a pessoa. Nos dados levantados, o apagamento do objeto direto ocorreu em menor número, aparecendo em grande parte dos casos associado ao traço [-] animado. A comparação destes resultados com os resultados obtidos por Sebold (2005) nos permite afirmar que o aprendiz de espanhol realiza tanto estratégias predominantes na sua língua materna quanto estratégias produtivas na língua estrangeira. Este resultado fornece evidências sobre uma possível reorganização dos traços da língua materna em relação à realização destes mesmos traços na língua estrangeira.

PALAVRAS – CHAVE:

(5)

Mestrado em língua portuguesa – curso de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ UFRJ, 2016. 201p

RESUMEN

(6)

Direto por Falantes de Português do Brasil Aprendizes de Espanhol. Dissertação de Mestrado em língua portuguesa – curso de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ UFRJ, 2016. 201p

ABSTRACT

(7)
(8)

Não cheguei até aqui sozinha e é por essa razão que preciso agradecer às pessoas que cuidaram para eu não me perdesse no caminho.

Ao meu marido, por ser meu melhor amigo e estar comigo sempre. Obrigada meu amor por acreditar em mim principalmente nos momentos em que eu não acreditava mais. Se há algo de bom em mim devo à você.

À minha mãe, por ser o meu caminho, por me deixar ir e voltar quantas vezes eu precisasse.

Ao meu padrasto Zaneli por não caber nessa palavra e ser mais que um pai, ser um exemplo pra mim.

À minha orientadora, Profa. Dra. Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold, por ser uma das pessoas mais incríveis que já passaram na minha vida. Obrigada por me fazer entender que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

Aos meus avós que me direcionaram durante a vida e fazem parte de mim. Obrigada por me levar a escola, obrigada por me ensinar a ler, obrigada, principalmente, por compartilharem comigo o amor de vocês.

À minha família só posso dizer obrigada por tudo. Levo comigo um pedaço de cada um de vocês, minha memória pode falhar mas meu amor por vocês não!

À família do lado de lá, obrigada! Vocês foram e são o presente de casamento

mais querido que ganhei.

Obrigada aos amigos, vocês foram suporte durante a minha jornada. Sem vocês teria sido mais difícil seguir. Com toda certeza caminhar ao lado dos sorrisos e do bom humor foram grandes vitaminas nos incessantes dias de tormenta. Obrigada pela cumplicidade e por todas as coisas que fizemos e passamos juntos.

(9)

meu fotografo dos dias de marmita. À Simone por ser minha alma irmã e me alegrar sempre fazendo os quitutes que acalentam o meu coração e aumentam minha circunferência. Aos meus afilhados Maysah e Luís Miguel e meu sobrinho Caique agradeço pelo amor que compartilhamos, obrigada por me nortear e me trazer para a realidade todos os dias.

Obrigada Carolina Gandra, Carolina Ecard e Elíria. Meninas, a amizade de vocês é um sopro de brisa leve que me acalma.

À Anne, por dividir comigo grande parte das dúvidas, dos medos e ansiedades da jornada acadêmica.

Imara, obrigada por compartilhar comigo a sua amizade, em tempos difíceis sabemos em quem podemos confiar.

Ao grupo de iniciação científica da Profa. Dra. Mercedes Sebold por me fazer sentir viva e pelo privilégio de compartilhar a amizade. Isabella, Júlia, Géssica,

Brenda, Heloíse, Romulo, Marcelo, vocês adocicaram meus dias instigando-me a aprender mais e mais.

Aos professores do curso, que foram tão importantes de diferentes maneiras, obrigada!

Obrigada ao programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas por me proporcionar grande aprendizado.

(10)

“A persistência é o menor caminho do êxito”

(11)

Gráfico 1_________________________________________________________104 Gráfico 2_________________________________________________________115 Gráfico 3_________________________________________________________124 Gráfico 4_________________________________________________________142 Gráfico 5_________________________________________________________149 Gráfico 6_________________________________________________________164 Gráfico 7_________________________________________________________165

LISTA DE TABELAS

Tabela 1_________________________________________________________103 Tabela 2_________________________________________________________108 Tabela 3_________________________________________________________109 Tabela 4_________________________________________________________114

(12)

Tabela 25________________________________________________________153 Tabela 26________________________________________________________154 Tabela 27________________________________________________________157 Tabela 28________________________________________________________157 Tabela 29________________________________________________________159 Tabela 30________________________________________________________161 Tabela 31________________________________________________________162

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 _________________________________________________________23 Figura 2 _________________________________________________________31 Figura 3 _________________________________________________________31 Figura 4 _________________________________________________________35

Figura 5 _________________________________________________________57 Figura 6 _________________________________________________________62 Figura 7 _________________________________________________________77 Figura 8 _________________________________________________________79 Figura 9 _________________________________________________________80 Figura 10________________________________________________________ 87 Figura 11________________________________________________________ 88

LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 _______________________________________________________102

(13)

[TVINF00]: TESTE DE VERSÃO INFORMANTE NÚMERO

[TOFFINF00+/-] TESTE OFF-LINE INFORMANTE NÚMERO ANIMACIDADE

[TONINF00+/-] TESTE ON-LINE INFORMANTE NÚMERO ANIMACIDADE

[TOFFINFCTRL00+/-] TESTE OFF-LINE INFORMANTE CONTROLE NÚMERO ANIMACIDADE

[TOFFINFCTRLESP00+/-] TESTE OFF-LINE INFORMANTE CONTROLE ESPANHOL NÚMERO ANIMACIDADE

[TONINFCTRL00+/-] TESTE ON-LINE INFORMANTE CONTROLE NÚMERO ANIMACIDADE

(14)

INTRODUÇÃO 16

1. A ARQUITETURA DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA GERATIVISTA

20

1.1 A Noção de Gramática Universal e Conhecimento Linguístico 20

1.2 Arquitetura da Linguagem (Modelo de Gramática) 25

1.3 Os Traços Linguísticos e o Sistema Computacional 32

2. O MODELO DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NA VISÃO GERATIVISTA

42

2.1 Sobre o Conceito de Aquisição 42

2.2 A Aquisição de Língua Estrangeira 51

2.3 A Noção de Gramática Universal e a Aquisição de Língua Estrangeira 58

2.4 Sobre o Papel do Input na Aquisição 68

3. O SISTEMA PRONOMINAL DE 3a

PESSOA DO FALANTE DE PB APRENDIZ DE ESPANHOL

75

3.1 Um Panorama Geral do Sistema Pronominal de 3a Pessoa 75

3.2 Sobre o Sistema Pronominal do Português do Brasil 77

3.3 Os Clíticos em Espanhol 85

3.4 Sobre a Aquisição do Espanhol por Falantes de Português do Brasil 92

4. METODOLOGIA 96

4.1 Teste 96

4.2 Perfil dos Informantes 99

4.3 Plataforma On-Line de Captação de Dados 101

5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS 103

5.1 Teste de Versão 105

5.2 Teste de Produção Oral Induzida 112

5.2.1 Produção Induzida Off-Line 113

5.2.2 Teste On-Line 140

(15)

ANEXOS 178

Anexo I 179

Anexo II 180

APÊNDICES 183

Apêndice I 184

Apêndice II 185

(16)
(17)
(18)
(19)
(20)
(21)
(22)
(23)
(24)
(25)
(26)
(27)
(28)
(29)
(30)
(31)

INTRODUÇÃO

Um dos temas mais recorrentes nas discussões presentes no cenário da

linguística gerativa é a questão que envolve a natureza da linguagem. Estudos sobre a

aquisição da linguagem tomam respeitável espaço nesta teoria, a problemática

envolvendo - o par - língua materna e língua estrangeira e quais seriam os processos

disponíveis para o aprendiz ao adquirir língua estrangeira também fazem parte desse

cenário.

Seguimos os pressupostos teóricos da Teoria Gerativa como a Gramática

Universal (GU). A GU, nesta teoria, englobaria os princípios linguísticos universais. A

aquisição da linguagem ocorreria, então, a partir da exposição do falante aos dados

presentes na língua, ou seja, através do input linguístico. De acordo com a proposta

gerativa, o conceito de princípio, sob o ponto de vista linguístico, está ligado a algo

inato, invariável, comum a todos os indivíduos e que se encontra representado de

alguma maneira na mente desses indivíduos. Ao ser exposto aos dados linguísticos de

uma língua natural, o falante fixa na faculdade de linguagem o valor paramétrico

estabelecido pelos dados de língua recebidos, particularizando, assim, tais valores

como valores de uma dada língua.

Noam Chomsky, em seus estudos, assume que a mente humana estaria

organizada em módulos. Nesta abordagem, a mente é concebida como um sistema

complexo, dotado de competências distintas, dentre as quais está a Faculdade da

Linguagem. A Faculdade da Linguagem seria, então, um módulo linguístico

especializado e responsável pela formação e compreensão linguística. Utilizamos, aqui,

uma teoria inatista, mentalista e biológica que explica o fenômeno da aquisição de

linguagem por meio dos processos de exposição aos dados de língua. A partir desta

exposição, a gramática universal do falante seria acionada e geraria, assim, uma

gramática particular ou gramática final.

Em linhas gerais, este estudo busca entender se o sistema linguístico

desenvolvido e envolvido na aquisição de língua materna estaria disponível na

aquisição de língua estrangeira. Afinal, o mesmo sistema que adquiriu uma língua

materna é o que agora está adquirindo uma língua estrangeira. Entendemos que quando

ocorre aquisição de língua estrangeira já há um sistema que se particularizou em uma

(32)

Os estudos relativos à aquisição não são consonantes quando se trata de que

também haveria aquisição quando falamos de língua estrangeira. Quando nos referimos

a aquisição de outra língua que não seja a língua materna, o termo aquisição pode ser

questionado (BROWN, 1993a; SCHÜTZ, 2006, entre outros1). Contudo, discutiremos

a aquisição de língua materna e de língua estrangeira a partir de um viés biológico que

prevê que haja um equipamento linguístico inato preparado para a aquisição, ou seja,

pelo viés da Faculdade da Linguagem.

E no que diz respeito às propriedades linguísticas compartilhadas, segundo os

estudos de Sigurðsson (2005), as línguas naturais teriam em comum o silêncio. Em

outras palavras, as línguas teriam em comum categorias presentes na sintaxe, mas que

não são expressas na forma fonológica, em alguns casos. Esse mesmo autor sugere a

existência de elementos funcionais inatos que precederiam a aquisição de outros

elementos, como os lexicais e fonológicos. Nessa linha de pensamento, o falante teria

acesso a qualquer traço disposto na Gramática Universal. A disponibilidade desse traço

na GU não evidenciaria a presença do mesmo na gramática do falante, assim como, a

ausência do traço na forma fonólogica não significaria a sua não existência.

Podemos entender assim, em relação à realização ou não do objeto direto, tema

desta dissertação, que tal realização através do clítico em português estaria disponível,

mas outros fatores também seriam responsáveis pela sua eventual realização ao não na

forma fonológica. O traço de animacidade, de definitude e de especificidade, entre

outros, poderiam ser um dos fatores que interfereriam na realização do objeto direto.

No entanto, nesta dissertação trataremos com mais atenção do traço de animacidade do

antecedente em relação ao objeto direto.

Com relação à realização do objeto, muitos trabalhos já discorreram sobre este

assunto – Kato (1981), Galves (2001), González (1994), Sebold (2005) – tanto para o

português quanto para o espanhol e, também, no que diz respeito a aprendizes de

espanhol falantes de português do Brasil. O clítico como opção de realização do objeto

é um tema bastante relevante para as análises das línguas, uma vez que este descreve

uma operação cognitiva com alto grau de sofisticação. Tal operação consiste em

retomar um elemento sintático que está em posição diferente do lugar onde foi gerado.

(33)

No que tange à realização do objeto direto, alvo de nossa pesquisa, é inegável

que o português do Brasil apresenta mudanças significativas, principalmente, no que

diz respeito à realização do objeto direto através dos clíticos de 3a pessoa. Em relação

ao espanhol, mudanças significativas, também, ocorrem no que diz respeito ao sistema

pronominal – as mudanças do português do Brasil e do espanhol parecem ser de

natureza diferente. No sistema pronominal do espanhol, haveria um alargamento das

funções das formas acusativas e dativas, determinadas formas transitariam livremente

entre uma função e outra. Já no PB as mudanças estariam relacionadas ao

desaparecimento do clítico do sistema pronominal, resultando no objeto direto nulo ou

nos pronomes tônicos que ocupariam a posição de objeto direto. Estas mudanças

poderiam provocar um descompasso na aquisição do espanhol por aprendizes

brasileiros, uma vez que estes aprendizes encontram o sistema de sua língua materna e

da língua estrangeira tensionado por mudanças importantes.

Esta dissertação aborda os diferentes modos de realização do objeto direto por

falantes de português do Brasil aprendizes de espanhol, mais especificamente a

produção escrita e oral destes aprendizes que têm 1 ano e 3 anos de estudo nesta língua

estrangeira. Os grupos com 1 ano e 3 anos de estudo foram divididos da seguinte

forma: (a) informantes que cursavam a graduação português-espanhol; (b) informantes

de um curso livre de espanhol. Analisamos produções destes aprendizes com os

objetivos de (i) verificar as diferentes estratégias de realização do objeto direto; (ii)

averiguar se a marcação do traço de animacidade presente no antecedente favoreceria a

realização ou não do objeto direto. A partir do que foi exposto, as hipóteses testadas

por nós, a partir de White (1898) foram: (a) aprendizes de espanhol falantes de PB

selecionam em língua estrangeira a estratégia mais produtiva em sua língua materna,

ou seja, o apagamento do objeto direto; (b) o traço [-] animado do antecedente está

relacionado diretamente ao apagamento do objeto direto, ou seja, o apagamento pode

ser encontrado em língua estrangeira preferencialmente diante do traço [-] animado

presente no antecedente, como é previsto no PB.

Propomos a partir dos estudos de White (1989), que na aquisição do espanhol

língua estrangeira, o aprendiz passaria por dois processos distintos de reorganização:

(i) conceber o espanhol como uma língua que possui um sistema pronominal diferente

da sua língua materna, pois o sistema pronominal do português do Brasil está

(34)

que passaria por mudanças como o alargamento de algumas funções que distinguiriam

caso (acusativo e dativo – sistema casual) em favor do gênero e da animacidade

(sistema referencial).

A fim de verificar os objetivos propostos e testar as hipóteses aventadas, esta

dissertação se organiza da seguinte maneira: o Capítulo 1 apresenta uma revisão dos

pressupostos gerativistas acerca da aquisição de linguagem; o Capítulo 2 trata das

principais noções teóricas que tentam dar conta do processo de aquisição de língua

estrangeira; o Capítulo 3 aborda a configuração do sistema pronominal de 3a pessoa

dos falantes de PB aprendizes de espanhol, que são o foco desta pesquisa; o Capítulo 4

trata da confecção dos testes e da metodologia utilizada para captação e tratamento dos

dados; no Capítulo 5 são apresentados os resultados da análise dos dados que foram

descritos e interpretados. Finalmente nas considerações finais apresentamos nossas

reflexões sobre a produção das estratégias de realização do objeto direto por falantes de

(35)

CAPÍTULO 1

A ARQUITETURA DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA

GERATIVISTA

No capítulo 1, apresentamos alguns tópicos linguísticos desenvolvidos pela

Teoria Gerativa. Traçaremos um panorama geral dos conceitos iniciais da linguística

gerativa até os conceitos trabalhados na versão mais atual – que é o Programa

Minimalista, para dar conta dos conhecimentos linguísticos envolvidos na aquisição de

linguagem. Centramos este capítulo nas noções de conhecimento linguístico, desenho

da linguagem e traços compreendidos no sistema computacional que são fundamentais

para o entendimento do funcionamento da linguagem pelo viés gerativista, delineando,

assim, algum paralelo entre os conceitos de aquisição de linguagem e aquisição de

língua estrangeira.

1.1

A NOÇÃO DE GRAMÁTICA UNIVERSAL E CONHECIMENTO

LINGUÍSTICO

Em meados dos anos 50, Noam Chomsky2 propõe um modelo de análise da

linguagem focado no estudo da sintaxe: a linguística gerativa. Os gerativistas, através

de uma perspectiva naturalista da linguagem, advogam a favor de um aparato universal

que estaria disponível a todo e qualquer ser humano. Tal aparato seria biologicamente

determinado (ou seja, inato) e nessa teoria é chamado de Faculdade da Linguagem.

Essa Faculdade estaria localizada na mente/cérebro dos falantes de qualquer língua

natural3. Ao abordar a linguagem a partir de um viés racionalista, a linguística Gerativa

inaugura um modelo teórico que se propõe a investigar a linguagem humana levando

em consideração a relação entre as propriedades da mente e a organização biológica da

espécie humana.

2

Linguista Norte americano, professor titular no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

(36)

Para dar conta dos princípios linguísticos universais disponíveis nas línguas,

Chomsky (1965) propõe a noção de Gramática Universal (GU). Para os gerativistas, a

GU é o aparato que guiaria o falante no momento da aquisição de uma dada língua

natural. No entanto, a GU (estado primitivo da Faculdade da Linguagem) não abarcaria

nenhum dado especifico de língua, nela estariam presentes os princípios linguísticos

universais, aqueles que são compartilhados no esqueleto linguístico de qualquer língua.

A Faculdade da Linguagem é, então, um módulo linguístico especializado e

responsável pela formação e compreensão linguística. Tal Faculdade pode ser definida

como qualquer outro órgão do corpo humano, que possui um sistema de

funcionamento, (Chomsky, 2006: 77). Sendo assim, a linguística gerativa se propõe a

investigar o “estado primitivo” do órgão da Faculdade da Linguagem e seus estágios na

etapa de especificação linguística.

A agenda de investigação da Gramática Gerativa propõe o estudo científico da

competência linguística dos falantes, ou seja, do sistema de conhecimento linguístico

que esse falante dispõe quando fala uma língua. Destacamos abaixo as questões

propostas pelo programa de investigação da Teoria Gerativa (Chomsky, 1986: 13):

(1) Qual é este sistema de conhecimento? Que há na mente/cérebro do falante

de inglês, espanhol ou japonês?

(2) Como surge este sistema de conhecimento na mente/cérebro?

(3) Como se utiliza este conhecimento na fala (ou em sistemas secundários tais

como a escrita)?

Ao tentar esboçar respostas para estas perguntas, Chomsky (1986) se ocupa,

principalmente, da natureza do conhecimento linguístico que um falante dispõe e como

este conhecimento é posto em uso. Outrossim, o foco da linguística gerativa, em um

sentido mais estrito, estaria voltado para a aquisição de língua materna, ou seja, o alvo

desta teoria estaria também no desenvolvimento da sintaxe de uma criança durante o

período de aquisição, segundo Corrêa (2006).

O eixo desta pesquisa está centrado na primeira questão, ou seja, no que diz

respeito ao conhecimento que dispõe um falante de uma língua, mais especificamente,

um falante adulto de português do Brasil que adquire o espanhol como língua

(37)

proposta por Chomsky (1986). Segundo este autor, o conhecimento linguístico diz

respeito ao sistema de princípios e regras abstratos que geram sentenças gramaticais

em uma língua natural.

Os princípios e regras de uma língua são apresentados na Teoria Gerativa como

propriedades intrínsecas da própria língua (sintaxe, fonologia e semântica). Chomsky

(1986) ao definir a gramática mental de uma língua natural, propõe que esta gramática

seja um conjunto finito de regras que permitem produzir a totalidade dos enunciados

gramaticais possíveis em uma dada língua. Ainda, de acordo com esses pressupostos

gerativistas, a criança não está condicionada a repetir, apenas, os enunciados a que ela

foi exposta (input), mas a gerar sentenças a partir dos dados que recebe.

Podemos imaginar o estado incial da FL como um dispositivo que mapeia a experiência para dentro do estado L atingido: um “dispositivo de aquisição de língua” (DAL). A existência desse DAL é vista algumas vezes como controversa, contudo não o é mais que a suposição (equivalente) de que há um “módulo de linguagem” dedicado que responde pelo desenvolvimento linguístico de uma criança, distinguindo-o de seu gatinho de estimação (ou chimpanzé ou qualquer outro) quando submetidos essencialmente à mesma experiência. (Chomsky, 2006: 104).

O inatistismo chomskiano parte da afirmação de que a linguagem é uma

herança genética. E uma das principais evidências para os gerativistas de que há um

aparato inato responsável pela aquisição é que a criança produz enunciados aos quais

nunca foi exposta, o chamado aspecto criativo da linguagem, como comenta Quadros

(2008). O que permitiria a essa criança criar novos enunciados seriam as regras finitas

a que ela teria acesso por meio do Dispositivo de Aquisição de Linguagem (DAL), que

atua a partir do engatilhamento linguístico, ou seja, a exposição desta criança aos dados

de uma língua natural.

Dizer que “a linguagem não é inata”, é dizer que não há nenhuma diferença entre minha neta, uma pedra e uma lebre. Em outras palavras, se você pega uma pedra, uma lebre e a minha neta e as coloca numa comunidade em que se fala inglês, as três vão aprender inglês. Se as pessoas acreditam nisso, então acreditam que a linguagem não é inata. (Chomsky, 2008: 67-68).

A Faculdade da Linguagem fornece os algorítimos linguísticos, ou seja, um

conjunto de instruções sequenciais que permitem que os dados recebidos pela

experiência linguística sejam interpretados e fixados de acordo com o molde

preestabelecido pela própia Faculdade da Linguagem. Essa operação transforma assim

(38)

gramática de uma língua natural. A tarefa da aquisição de linguagem pode ser

representada pelo seguinte esquema adaptado de Radford (2004, p.11):

Figura 1: esquema de aquisição4

Neste esquema, os dados linguísticos provenientes da experiência linguística a

que o falante tem acesso entram em contato com o dispositivo inato (GU) e o produto

da interação entre os dados linguísticos e a GU é a Gramática Particular de uma língua

como é o caso português, espanhol, francês e etc. As línguas naturais representam o

estado inicial uniforme, isto é, cada língua (que passou pelo estágio de especificação) é

a exemplificação do fragmento do estado mais primitivo da Faculdade da Linguagem

(GU). Descrever os dados de línguas como, por exemplo, o português, espanhol,

chinês, russo, etc pode fornecer evidências sobre a constituição interna da linguagem,

segundo os pressupostos gerativistas de Chomsky (1986, entre outros). Sobre o

processo de aquisição de língua estrangeira, trataremos com mais detalhes no capítulo

2.

O conceito de língua explorado pela tradição teórica tratada aqui é bipartido em

duas noções básicas, competência e desempenho. A competência é o termo empregado

quando nos referimos ao conhecimento linguístico radicado na mente/cérebro que

permite a um falante acessar a língua do ponto de vista da fluência de uma língua

materna, de acordo com Morato (2008). O desempenho é o uso linguístico em

situações concretas de interação linguística, entre a produção e a compreensão oral, ou

seja, o que se produz na fala e o que se compreende desta, em outras palavras o output

e o input. E ainda na teoria gerativa, podemos nomear a competência linguística que

4 O esquema para a aquisição de língua estrangeira está exemplificado no capítulo 2 e foi retirado de White (1989 e 2004).

Gramática

Particular GU

Faculdade da

Linguagem INPUT

(dados

(39)

um indivíduo apresenta, também, de Língua – I, assim como o desempenho linguístico

dos mais variados falantes pode ser chamado de Língua – E.

Em uma discussão presente em Chomsky (1986), o autor sugere que a Língua –

I seja a representação do conhecimento linguístico de uma determinada língua, que

sincroniza as infomações linguísticas através do input, ou seja, os dados contidos na

língua – E. E ainda segundo Chomsky, a linguística Gerativa estaria preocupada com

os elementos internos da linguagem – língua interna (Língua - I) – ou seja, como

ocorre o processamento linguístico na mente/cérebro do falante. A língua interna é

caracterizada por ser individual e intencional, ou seja, por contemplar o aspecto natural

da linguagem. E o seu conteúdo linguístico interno é rico e invariante de indivíduo para

indivíduo. Nesta pesquisa, estamos preocupados com o que ocorre na mente/cérebro do

aprendiz quando o mesmo adquire uma língua estrangeira. Assim sendo, nossa atenção

está voltada para a configuração da língua – I e da sintaxe, no que diz respeito à

aquisição da língua estrangeira

No Programa Minimalista, o conceito de parâmetro se relaciona a outro

conceito que é o de traço (Chomsky, 1995). De maneira breve, podemos dizer que o

parâmetro, no PM, pode ser entendido como um conjunto de feixe de traços fixados5, e

é exatamente essa informação que nos interessa. Sendo a animacidade um traço, a

marcação da animacidade dependeria da valoração que tal parâmetro receberia nas

diferentes línguas, ou seja, [+] e [-] animado. Tratamos, então, a animacidade como um

traço semântico relevante à sintaxe, sendo este um traço universal, ou seja, comum a

todas as línguas, de acordo com Lage (2010). Trataremos mais especificamente do

traço de animacidade na seção 1.3 deste capítulo.

Partindo dessa concepção, estamos discutindo, aqui, que a diferença na

realização ou não do argumento interno, no nosso caso o objeto direto, caso seja

anafórico, pode estar relacionada com a marcação do traço de animacidade do referente

ou antecedente deste objeto direto. Acreditamos que a realização do objeto direto

anafórico ou até mesmo a sua ausência, na produção de aprendizes de PB falantes de

espanhol, pode estar relacionada à fixação deste parâmetro na língua do aprendiz de

espanhol falante de PB.

(40)

1.2

A

ARQUITETURA

DA

LINGUAGEM

(MODELO

DE

GRAMÁTICA)

O estudo da sintaxe das línguas é um dos focos da Teoria Gerativa, pois dessa

maneira se pode estabelecer como as sintaxes das línguas refletem os aspectos

linguísticos presentes na GU, ou seja, como estaria desenhado o dispositivo de

aquisição da linguagem (DAL). Sabemos que o PB e o espanhol 6apresentam uma

configuração diferente, no que diz respeito à sintaxe pronominal. E essa diferença se

mantém tanto no preenchimento do argumento externo quanto na realização do

argumento interno.

Em relação ao argumento interno, enquanto o PB tem uma preferência pelo

apagamento do elemento que ocupa a posição de objeto. No espanhol, de uma maneira

geral, se mantém um pronome específico para ocupar e marcar as distintas posições.

Essas distinções levam em consideração a função sintática que esse elemento exerça,

ou seja, se se trata de um objeto direto ou de um objeto indireto. E é nessa direção que

os estudos feitos por alguns autores (Galves, 2001; González, 1994) sobre o português

do Brasil e sobre falantes de PB aprendendo espanhol têm caminhado.

Essas diferenças entre línguas são significativas e de certo modo fornecem

pistas de como a sintaxe dessas línguas pode estar configurada. Diferença esta

encontrada mesmo entre línguas consideradas tão próximas como é o caso do PB e do

espanhol, (González, 1994). A diferença entre o sistema pronominal do PB e do

espanhol tem chamado a atenção nos estudos dedicados à aquisição (González, 1994;

Sebold, 2005; Yokota, 2007, entre outros autores), principalmente no que diz respeito à

aquisição de língua estrangeira, visto que a posição de argumento interno nessas

línguas vai ser ocupada ou não por itens potencialmente diferentes. Enquanto no PB há

uma preferência pela não realização fonética do argumento interno, no espanhol há

(41)

uma tendência à realização deste argumento. E no que diz respeito ao objeto direto

anafórico, essas tendências se mantêm nas duas línguas.

Na visão gerativista, a linguagem é um componente biológico, por assim dizer,

um objeto natural que estaria representado fisicamente no cérebro. A Faculdade da

Linguagem é um sistema autônomo, mas que assume com os outros sistemas uma

interação complexa em pontos específicos. Neste sentido, observar como se organizam

os constituintes entre línguas tão próximas como é o caso do PB e do espanhol pode

fornecer evidências de como o desenho da Faculdade da Linguagem interfere ou não

no que diz respeito à diferença do comportamento sintático entre línguas.

O primeiro pressuposto é o de que há uma faculdade de linguagem, ou seja, há uma parte da mente/cérebro que é dedicada ao conhecimento e ao uso da linguagem. Trata-se de uma função particular no corpo; é algo como um órgão da linguagem, proximamente análogo ao sistema visual, que também é dedicado a uma tarefa particular. (CHOMSKY, 2008, p. 18)

No Programa Minimalista (modelo mais atual da linguística gerativa que está

dentro da teoria de princípios e parâmetros), a língua 7passa a ser concebida como um

conjunto de especificações da Gramática Universal. A Teoria Gerativa, assim, exibe

pressupostos inatistas e dá conta da competência linguística que um falante de uma

língua natural tenha. É, precisamente, esta mudança na concepção de língua que

motiva questões sobre o conteúdo da GU, perguntas sobre o que faz parte do conjunto

de dados próprios da GU têm sido muito frequentes. O questionamento sobre o

conteúdo da GU trouxe um novo fôlego para os estudos de aquisição de língua

estrangeira, pois ao questionarmos o conteúdo da GU, também questionamos até que

ponto o conteúdo da GU atua ou em que momento o conteúdo presente na GU se

esgotaria.

A Faculdade da Linguagem se ajustou ao modelo mais econômico proposto

por Chomsky (1995) e que colabora, ainda mais, para afirmar a proposta de caráter

inatista dos gerativistas. No Programa Minimalista (doravante PM), há uma arquitetura

mais enxuta e restrita para a Faculdade da Linguagem, os princípios estabelecidos são

mais gerais e os parâmetros são definidos a partir do conteúdo presente no léxico. No

bojo das novidades trazidas pelo PM, está uma arquitetura da linguagem que reflete a

(42)

atualização do modelo de gramática, que gera apenas o que for conceptualmente

motivado. Isto não quer dizer que certos tipos de análises linguísticas (sentenças) sejam

excluídas do leque de opções. Isto sugere, apenas, que não foram motivadas e, por isso,

não foram executadas pelo sistema computacional.

O objetivo do Programa Minimalista é reduzir ao máximo as unidades, níveis,

operações e princípios e representar um modelo de Faculdade da Linguagem mais

elegante que responda às condições de bom desenho da linguagem8, (Chomsky, 1998;

2008). No PM, os níveis de representação devem ser conceptualmente motivados em

relação às interfaces9 do sistema computacional com os outros módulos cognitivos.

Nessa mesma direção, os princípios linguísticos obedecem à lei de economia e às

condições de legibilidade, o que de certa forma legitima que apenas sentenças que

obedeçam às condições de boa formação sejam geradas e realizadas. Neste momento

da teoria, os níveis de representação são especificados e limitados pela GU, a saber:

Forma Fonológica (FF) e Forma Lógica (FL). Tais níveis de representação são

interfaces do sistema computacional que relacionam o módulo da linguagem com os

outros módulos cognitivos.

A Faculdade de Linguagem tem de interagir com esses sistemas, de outro modo não tem nenhuma utilidade. Assim, podemos perguntar: ela é bem projetada para a interação com esses sistemas? Então você tem um conjunto diferente de condições. E de fato a única condição que surge nitidamente é que, visto que a linguagem é essencialmente um sistema de informação, as informações que ela armazena devem estar acessíveis a esses sistemas, essa é a única condição. (Chomsky, 2006: 133)

A informação de um determinado item é interpretada pela faculdade da

linguagem gerando, assim, uma representação na Forma Fonológica e na Forma

Lógica. As sentenças são geradas por procedimentos autônomos interligados à mente

do falante, sobre a qual não exercemos nenhum comando consciente. Entender como

poderiam se dar tais procedimentos e desenhar os prováveis caminhos que um item

precisa percorrer para que a sentença convirja com sucesso, isto é, seja gerada e

produzida pelo sistema computacional pode oferecer novos caminhos nas pesquisas

sobre aquisição de linguagem. E por sua vez, este entendimento poderá oferecer pistas

8 A arquitetura da linguagem deve dar conta das estrutura para gerar uma língua natural, sem que haja nenhum esforço consciente por parte do falante. “O órgão da linguagem se insere num sistema da mente que tem uma certa arquitetura, e mantém relações de interface com esse sistema”, Chomsky (2008; p.p. 35 -36).

(43)

para analisar de modo mais concreto o funcionamento do processo de aquisição, seja

de língua materna seja de língua estrangeira.

Há diferenças importantes em relação à composição do sistema pronominal do

PB e do espanhol, principalmente, no que diz respeito ao sistema pronominal de 3a

pessoa. Sendo assim, a sintaxe do aprendiz de espanhol falante de PB resultaria da

interpretação de dois sistemas pronominais que tem caminhado de formas diferentes,

ou seja, o aprendiz viria com sistema pronominal do PB que apresenta uma preferência

pelo apagamento do objeto direto de 3a pessoa (GALVES, 2001; CYRINO,1995) em

direção ao sistema pronominal do espanhol no qual há uma preferência pela realização

do objeto direto de 3a pessoa (Fanjul, 1999).

A aquisição do sistema pronominal do espanhol, em relação ao sistema

pronominal do PB, pelo sistema computacional poderia ser conflituosa, já que o

sistema do espanhol apresenta uma tendência à realização do objeto enquanto o PB, ao

contrário, apresenta uma preferência pelo apagamento desse objeto. Em relação ao

objeto direto no PB, Galves (2001) afirma que os clíticos, responsáveis pela realização

do objeto de 3a pessoa, não estariam mais presentes na gramática nuclear do PB (ou

seja, a língua materna deste aprendiz). A ausência do clítico como item poderia gerar

um conflito no sistema do aprendiz já que ele deveria recorrer a outros recursos para

gerar sentenças que convirjam com as propriedades recursivas do espanhol.

Sabemos que os estudos sobre a aquisição do espanhol por aprendizes

apresentam algumas lacunas, mas sabemos, também que os estudos têm avançado

consideravelmente. Percebemos também, não só por meio deste estudo mas por

estudos anteriores como os de González (1994) e de Sebold (2005), que o sistema

pronominal deste aprendiz vai se ampliando e por vezes se aproximando da língua

estrangeira e se afastando da língua materna, no que diz respeito às interferências.10

Assim sendo, entender o sistema computacional nos fonecerá evidências mais

concretas no que diz respeito à computação do sistema pronominal da língua

estrangeira de aprendizes de espanhol falantes de PB, o que de acordo com Chomsky

(2006) é entender que certos aspectos da mente/cérebro podem ser proveitosos quando

estudados tendo em vista o modelo de regra dos sistemas computacionais que além de

formar, também modificam as representações pelas quais são interpretadas no sistema

(44)

computacional.

O léxico foi definido e redefinido muitas vezes com o progresso da Teoria

Gerativa. Uma definição bem comum entre os autores é a que apresenta o léxico como

um conjunto de entradas, como um dicionário mental, ou até mesmo como inventário

linguístico que se ampliaria indefinidamente, segundo Corrêa (2006).

Na versão Minimalista, o léxico comporta toda a informação de uma dada

língua e o sistema computacional é sensível ao conteúdo do léxico, isto é, o léxico

possui todo o conteúdo para “alimentar” o sistema computacional. Os itens contidos no

léxico constituem conjuntos de traços que manifestam as propriedades fonéticas,

semânticas e sintáticas. Os traços formais representam características do tipo: gênero,

número, pessoa, caso e etc.

A mudança mais aparente entre os modelos de representação da gramática do

P&P e PM foi a forma operacional das derivações. Em relação ao modelo de P&P,

houve um abandono dos níveis de representações estruturais D (estrutura profunda) e S

(estrutura de superfície)11. No Programa Minimalista, os princípios obedecem à lei de

economia e das condições de legibilidade, os parâmetros abrigam os traços que

desenham o comportamento de uma língua particular. Neste momento da teoria, os

níveis de representação são especificados pela GU, a saber: Forma Fonética (FF) e

Forma Lógica (FL). Tais níveis de representação são interfaces do sistema

computacional que relacionam o módulo da linguagem com os outros módulos

cognitivos.

No PM, há uma arquitetura mais enxuta e restrita para a Faculdade da

Linguagem, os princípios estabelecidos são mais gerais e os parâmetros são definidos a

partir do conteúdo presente no léxico. A partir desse modelo mais econômico do PM,

no qual tudo o que for gerado precisa, necessariamente, estar dentro do escopo

conceptual de motivação, são excluídas as redundâncias e se otimiza a Faculdade da

Linguagem, ou seja, a linguagem é entendida por meio de operações que tornam o

sistema computacional linguístico mais “leve”.

(45)

Adaptados de Eguren & Soriano (2004)

Visualizamos que a mudança no design da Faculdade da Linguagem do

modelo de gramática, presente no P&P para o PM, colaborou para uma Teoria de

Linguagem mais eficaz baseada em um programa enxuto pautado na economia das

operações linguísticas. As descrições estruturais produzidas pela língua-I dão origem a

um complexo conjunto de propriedades linguísticas que são pontecializadas nas

operações executadas pelo sistema computacional. Nesse complexo, incluímos as

propriedades semânticas, sintáticas e fonéticas.

O léxico se torna protagonista no novo desenho da Faculdade da Linguagem, já

que é nele que está alojada toda a informação paramétrica peculiar de uma dada língua

e o sistema computacional é sensível a essa informação. Nessa nova fase da Teoria, a

partir das propriedades idiossincráticas, há também um enriquecimento do léxico que

recebe o papel de especificar e selecionar os itens devem entrar no sistema

computacional. Atualmente se entende que a derivação de uma expressão linguística

vai compreender a escolha de itens do léxico e a "computação" 12deste, que constrói

um par para a representação nas interfaces FF e FL, ou seja, todo o conteúdo enviado

para a FF deverá ser enviado para a FL, de modo que esse conteúdo seja legível, isto é,

interpretável pelos dois sistemas simultaneamente.

12 Termo utilizado pela matemática e pala ciência da computação. Na Teoria Gerativa, computação é uma operação realizada através de regras práticas preestabelecidas.

Figura 2  Figura 3 

(46)

Sobre o envio e leitura de conteúdo, estamos tratando, aqui, da leitura e

interpretação deste conteúdo e não somente da produção linguística que pode ser

verificada através da realização fonológica. O modelo da gramática, de língua e o

próprio desenho da Faculdade da Linguagem se configuram, então, como um modelo

mais econômico, eficaz e dinâmico de computação linguística (Chomsky, 1995, entre

outros).

1.3

OS TRAÇOS LINGUÍSTICOS E O SISTEMA COMPUTACIONAL

A escola de Praga13 do início do século 20 desenvolveu alguns estudos voltados

à fonologia. Em relação aos conjuntos de características fonológicas distintivas foi na

escola de Praga que este tema se desenvolveu, o que se constituiu como base para o

pensamento de unidades minímas da fonologia. Esta unidade mínima foi chamada de

traços pelos linguistas participantes dessa escola.

Chomsky e Halle (1968) retomam a ideia de Bloomfield (1942), no que diz

respeito à descrição de um conjunto finito de traços distintivos que poderiam ser

aplicáveis a qualquer fonema. Ao retomar tal ideia, a finalidade foi demonstrar a

universalidade dos traços, já que os segmentos fonéticos eram construídos de unidades

menores atômicas indissociáveis, o traço. E através do conjunto descrito por Chomsky

e Halle (op.cit) foi possível analisar diretamente o design intrínseco a cada fonema e

identificar as possíveis diferenças fonêmicas e os respectivos fenômenos fonológicos

que surgissem a partir dessas diferenças.

Os traços, para a linguística gerativa, seriam partículas que carregariam

informações linguísticas elencadas pelo sistema computacional, de acordo com

Chomsky (1995) e Carvalho (2012). Esses traços podem se relacionar ou não com

outros traços gerando informações conjuntas que serão lidas pelo sistema

computacional. Os traços seriam universais e, por isso, uma constante em todas as

línguas. Um dos objetivos desta pesquisa é investigar, mais especificamente, o traço de

(47)

animacidade presente no antecedente retomado ou não por meio de diferentes

estratégias. Essas estratégias são diferentes no PB e no espanhol como veremos mais

atentamente na seção 3.4. Dentre essas estratégias, podemos citar a realização do

objeto direto por clítico, por pronome tônico, pela repetição do Determinante (DP) ou

pelo apagamento, como veremos em exemplos nossos, a seguir:

1a. Fui à livraria e comprei um livro errado, voltei depois, mas não pude trocá-lo.

1b. Fui à livraria e comprei um livro errado, voltei depois, mas não pude trocar ele.

1c. Fui à livraria e comprei um livro errado, voltei depois, mas não pude trocar o livro.

1d. Fui à livraria e comprei um livro errado, voltei depois, mas não pude trocar ø.

A presença/ ausência de um determinado item na produção linguística de um

falante reflete diretamente a composição computacional da sua gramática particular.

Isto quer dizer que falantes de PB têm a sua disposição diferentes estratégias de

realização do objeto direto. Por outro lado, isto não significa que todas essas estratégias

sejam produtivas em sua língua materna. Esta questão será tratada

pormenorizadamente no capítulo 3.

Quando o léxico se torna protagonista os traços também recebem tratamento

mais específico. São eles que compõem e espelham a natureza gramatical da língua. O

traço selecionado pelo sistema computacional pode trazer alguma informação sobre as

questões que envolvem o sistema pronominal de aprendizes de espanhol falantes de

PB. Em outras palavras, podemos tecer discussões sobre o tipo de realização

selecionado pelo aprendiz de espanhol falante de PB que tem em seu sistema

pronominal tensões entre estratégias de realização encabeçadas por pronomes tônicos,

átonos, sintagma nominal entre outras.

Para que o traço seja interpretado ou apagado, dentro do Programa Minimalista

se assume que o movimento de constituintes 14se dá para a checagem das informações

incrustadas em um feixe de traços. O movimento, então é a garantia de que o traço seja

checado e pareado e é necessário para que a operação linguística convirja com sucesso.

Dessa maneira, entendemos que traços não contidos no léxico não podem ser

14

(48)

interpretados e muito menos checados. Retomando, aqui, a questão da ausência de

informação do traço antecedente do espanhol em relação ao PB, o aprendiz de

espanhol estaria condicionado a realizar, apenas, sentenças que abrigassem os traços do

PB, não restando a este nenhuma outra alternativa.

Em outras palavras, a conjugação dos traços de animacidade no espanhol, em

relação à realização do objeto direto, preveriam uma preferência pela realização do

objeto direto pelo clítico mesmo quando o traço do antecedente seja [-] animado. Em

contrapartida, o PB apresenta uma conjugação que relaciona o apagamento do objeto

direto ao traço de [-] animado do antecedente.

Ao detalhar tais operações a nossa intenção é a de retirar, mais uma vez, os

conceitos de aquisição da linguagem somente do plano da aquisição da língua materna

e trazê-los para a aquisição de língua estrangeira. É interessante pensar que o sistema

computacional é “executável” na aquisição de língua estrangeira, o problema aqui seria

analisar a língua estrangeira a partir de um sistema aleatório, distinto daquele que foi

proposto para a língua materna. O que é importante deixar claro com isso é que os

processos de aquisição de língua materna e estrangeira podem se dar de formas

diferentes, mas a sua execução não parece ser feita por outro sistema que não seja o

computacional linguístico.

Por outro lado, é pertinente, nesse momento, pensar que o sistema

computacional leria de maneira específica cada item linguístico. Há um custo

operacional linguístico envolvido em cada operação. Pode haver tanto o custo de

processamento, que é aquele no qual estão envolvidas as representações nas interfaces;

quanto o custo computacional, que é aquele que diz respeito à computação sintática

que incide nas operações de traços formais do léxico. Mesmo que o clítico esteja

localizado dentro de uma leitura sintática mais ampla como sintagma nominal, assim

como o pronome tônico, há um custo linguístico maior quando se trata da realização

do clítico no PB. Isto ocorre no PB devido a realização do objeto direto através do

clítico não estar mais disponível na gramática nuclear do PB (GALVES, 2001). O

clítico, por outro lado, faria parte da gramática periférica do PB (KATO, 1999)

resultado da escolarização (DUARTE, 1989).

Sendo assim, as opções de estratégias de realização do objeto direto do PB

(49)

linguístico fosse um pronome tônico, um pronome átono, ou seja, cada item abrigaria

traços que os definiriam e pelos quais o sistema computacional os reconheceria. O

mesmo se aplicaria aos traços que definiriam os tipos de realização do espanhol.

Em relação ao sistema computacional do aprendiz, que estaria diante de todas

as questões que expusemos anteriormente, o seu sistema computacional abrigaria dois

sistemas pronominais em execução, o sistema do PB e o sistema do espanhol, ou seja,

o sistema pronominal do aprendiz estaria configurado tanto para o PB quanto para o

espanhol. Esse aprendiz precisa gerar sentenças em espanhol e para isso precisa de

subsídios linguísticos que deem conta de gerar sentenças que convirjam ótimas nas

interfaces. A partir do que vimos sobre Faculdade da Linguagem, sistema

computacional linguístico e traços, pensemos que os traços comuns à língua materna e

à língua estrangeira estarão configurados no sistema de interseção, já os traços

particulares, pertencentes à fixação de cada língua serão interpretados dentro do

conjunto responsável pela leitura dos traços de cada língua respectivamente.

No diagrama a seguir, ilustraremos melhor as relações que podem se dar entre

certos tipos de conjuntos e a interseção que exemplifica quando o elemento tem as

mesmas propriedades, ou seja, quando o elemento compartilha propriedades tanto do

conjunto A quanto do conjunto B:

Figura 4: representação do conjunto GU e gramáticas A e B15

O conjunto que contém os subconjuntos A e B é a GU. O conjunto de traços

pertencentes à A (português do Brasil – língua materna) apresenta interseção com os

traços de B (espanhol – língua estrangeira), porém os traços que pertencem só à A ou

só à B, só poderão ser lidos pelo sistema computacional que contenha a informação do

traço. Desse modo, os traços de A e B precisam ser reconhecidos pelo sistema

15 Represensatação através do diagrama de Venn.

(50)

computacional. Assim sendo, o sistema computacional terá a previsão de todos os

traços das línguas naturais.

É pertinente entender que o Léxico16 determina os itens lexicais aos quais os

traços precisam estar associados, a natureza deste traço e, por fim, a interpretabilidade

que este traço vai apresentar na sintaxe (que definirá os valores dos parâmetros desta

língua). Podemos elencar três diferentes tipos de traços: os semânticos, os fonológicos

e os formais (CHOMSKY, 1995).

A priori, podemos entender que os traços semânticos assumem os valores de

significado que estão previstos no Léxico. Os traços fonológicos proporcionam o

conteúdo que será identificado no sistema articulatório-perceptual. Por fim, os traços

formais nutrem o sistema computacional com as informações interpretáveis que

precisam ser computadas. Os traços formais podem ser interpretáveis e não

interpretáveis, os traços interpretáveis são denominados de traços phi (φ), segundo

Chomsky (1995).

E quando tratamos de traços, estes podem ser definidos como um conjunto de

unidades representacionais atômicas que especificam propriedades fonológicas,

sintáticas e semânticas de uma língua (CARVALHO, 2012). Os traços formais são,

respectivamente, gênero, pessoa, número e caso estrutural. Estes traços, também, são

conhecidos como traços phi.

Os itens lexicais associados aos seus respectivos traços são acionados pelo

sistema computacional pela numeração, que é justamente a associação dos itens

lexicais aos seu traços correspondentes. A disposição dos traços φ de gênero, número e

pessoa; traços de caso; traços categoriais [+/- Nome] [+/- Verbo]; traços semânticos e

fonológicos definem como será executada dada sentença.

Aqui, interessa-nos o traço φ de Caso e o traço semântico 17de animacidade, já

que a seleção desses traços distinguiriam e restringiriam o tipo de realização de objeto

tanto no PB quanto no espanhol. É exatamente nesse ponto que gostaríamos de focar, a

noção de traço foi trazida pelo Programa Minimalista de maneira universal, isto quer

dizer que os traços linguísticos são pressupostos universais, preparados para abarcar a

16

Entendemos, neste momento, de acordo com Kennedy (2012) que Léxico é o conjuntos dos traços que estão distribuídos de modo a representar as individualidades linguísticas em cada língua natural.

(51)

especificidade de cada língua. Isto significa dizer que dentro dos feixes universais as

especificidades estão previstas, ou seja, na visão Lexicalista, as unidades lexicais que,

necessariamente, são o input da sintaxe que, por sua vez, é composto pelos traços

semânticos, fonológicos e formais desde o início da derivação18 (LEMLE, 2005).

Abordaremos brevemente o conceito de traço de caso, assim como o traço de

animacidade, fazendo um recorte no que entendemos ser realmente relevante para esta

pesquisa. O caso pode ser inerente ou estrutural. O caso inerente é a relação semântica

estabelecida entre um DP19 e seu contexto sintático, já o caso estrutural não prevê a

relação entre um DP e seu contexto sintático. Tais casos podem ser manifestados por

meio da morfologia e a marcação desse traço na morfologia estabelece alguns

paralelos, entre eles a marcação da função gramatical. As funções que nos interessam,

aqui, são as de Acusativo e Dativo, que marcariam as posições ocupadas por um objeto

direto e por um objeto indireto, respectivamente.

O traço de animacidade é valorado pela polaridade, já que pode ser marcado

como [+] ou [-] animado. A animacidade pode ser considerada uma propriedade da

cognição geral. Ao trabalhar animacidade, Lage (2010) comenta que este é um

conceito que faz parte de outra cognição além da cognição de linguagem: a cognição

de percepção que leva em consideração questões ontológicas como a hierarquia

homem > animal > planta > objeto (SILVERSTEIN, 1976; DIXON, 1979; AISSEN,

2003, entre outros). Mais do que isso, o conceito de animacidade faz parte da cognição

de percepção de outras espécies, além da humana.

Em relação ao traço de animacidade, este não parece conter apenas

propriedades semânticas. A animacidade seria considerada também um traço sintático,

visto que este traço seria relevante na sintaxe, participando das operações sintáticas e

não se esgotando nela. A marcação da propriedade de animacidade seria configurada

como uma operação de concordância. Para o entendimento desta questão vejamos os

exemplos de Sugisaki (2007):

2.a Kooen-ni kodomo-ga iru

parqueDAT criançaNOM estarANIMADO

(52)

A criança está no parque.

2.b * Kooen-ni kodomo-ga aru

parqueDAT criançaNOM estarANIMADO

A criança está no parque.

2.c Kooen-ni isi-ga aru

parqueDAT pedraNOM estarINANIMADO

A pedra está no parque.

2.d * Kooen-ni isi-ga iru

parqueDAT pedraNOM estarINANIMADO

A pedra está no parque.

Ao analisar a língua japonesa, Sugisaki (2007) concluiu que embora a

concordância entre o verbo e o DP ou até mesmo entre SN seja vista como

praticamente inexistente, o autor demonstrou que mesmo em raros casos há a operação

de cópia de um traço que foi expresso morfologicamente em nomes ou verbos.

Segundo o autor, a exceção pode ser atrelada ao traço de animacidade.

Em japonês, existe um único par de verbos que se alternam dependendo da propriedade de seus sintagmas nominais: os verbos locativos aru (inanimado) e iru (animado) concordam em animacidade com seus sintagmas nominais. Ambos os verbos aru e iru expressam dois tipos distintos de significado que são equivalentes em inglês a have (ter) e be (ser), (SUGISAKI, 2007, p. 1 tradução nossa). 20

Isto posto, podemos sugerir, a partir de Sugisaki (2007), que as formas iru e aru

parecem equivaler a apenas um verbo no qual a morfologia variaria de acordo com

concordância. A forma iru corresponderia ao traço [+] animado e a forma aru, em

contrapartida, quando o traço acomodasse o valor de [-] animado. Esta parece ser uma

evidência clara da inserção do traço de animacidade na concordância. Para além da

relação do traço de animacidade e concordância, os dados de Sugisaki (op.cit)

(53)

funcionam como uma demonstração da natureza sintática do traço de animacidade,

sustentando ainda mais a sua importância sintática, já que parece ser o único motivador

da concordância em japonês.

Outra evidência é a do redobro do clítico, agora no espanhol, na variedade da

região de Rio da plata, entre a Argentina e o Uruguai, de acordo com Jaeggli (1986). O

traço de animacidade é responsável também por um fenômeno de natureza sintática do

redobro do clítico, segundo Jaeggli (1986). Nessa região, Groppi (1997) verificou que

somente antecedentes com o traço [+] animado geram sentenças com o redobro de

pronomes clíticos, sentenças que não obedeçam esta regra são consideradas

agramaticais. O fenômeno do redobro de clíticos está presente em quase todas as

variedades do espanhol, se não em todas as variedades, incluindo, aqui as variedades

do espanhol peninsular. Para todas essas variedades, há uma única regra, na qual o

elemento alvo da realização seja antecedido pela preposição a que indica o caso

dativo21.

No que diz respeito ao PB, o traço de animacidade também parece ser relevante

em questões de ordem sintática. Segundo Soledade (2011), o traço [-] animado

favorece o apagamento de objeto, não importando a categoria sintática a que ele

pertença. E ainda sobre o objeto nulo a autora destaca que a animacidade foi um dos

fatores que possibilitou a alteração do clítico acusativo para o objeto nulo, já que o

fenômeno do objeto nulo foi primeiro verificado em ocorrências com o traço [-]

animado.

E ainda nesse viés, Cyrino (2003) afirma que haveria uma correlação entre a

baixa produtividadedosclíticos acusativos e uma significativa produtividade do objeto

nulo com o chamado princípio do “evite o pronome” 22. Esse princípio seria aplicado a

elementos mais baixos na hierarquia de referencialidade atingindo a posição de objeto

cujo os antecendentes [-] animados seriam mais propensos a esse princípio.

Em vista disso, quando falamos do sistema pronominal de 3a pessoa algumas

21 Exemplos retirados de Santos (2011, p. 51)

A1. Le ayudaron a Maria

A2. * Le ayudaron ø Maria. 

(54)

diferenças parecem ser mais claras. Para o sistema pronominal de 3a pessoa, o espanhol

e o PB tenderiam ao preenchimento e apagamento, respectivamente. Pensar como o

traço de animacidade poderia ser um fator relevante com relação ao preenchimento

versus apagamento é relevante, mesmo quando o léxico de uma língua não parece mais

comportá-los.

Em relação à seleção de traços que possam ser realizados mas que não fazem

parte da gramática nuclear, Sigurðsson (2005) afirma que todas as línguas naturais

teriam acesso a todos os traços da GU. Os falantes, para esse autor, são dotados com

estruturas e elementos sintáticos inatos, não importando se tais traços são manifestados

ou não morfologicamente. Este autor advoga a favor da uniformidade dos traços.

Sendo assim, os traços referentes à realização do argumento interno poderiam ser

editados de acordo com a necessidade da língua, ou seja, a GU forneceria todos os

traços de todas as línguas naturais caberia ao falante selecioná-lo.

Sigurðsson (op. cit.)postulaque asdiferençasentreaslínguasseriamresultado

dapossibilidade da manifestaçãoou não dostraços, que para eleseriam universais. A

opcionalidadedeumtraçonãosemanifestarmorfologicamenteéformuladapeloautor

como “Princípio do Silêncio” (em inglês Silence Principle). O autor defende que a

diferença entre as línguas seria, apenas, superfícial, ou seja, a variedade entre as

línguas seria decorrente da opcionalidade da expressão ou não de alguns traços. A

partir do que afirma Sigurðsson (op. cit.), no que diz respeito a realização ou não do

objeto direto, algumas estratégias de realização de objeto poderiam estar silenciadas e

só seriam acionadas através de um possível “engatilhamento” ou motivação. Assim

sendo, o aprendiz de espanhol falantes de PB após um “engatilhamento” ou motivação

expressaria foneticamente o objeto direto por meio do clítico, utilizando a estratégia

mais produtiva em espanhol.

Pensando na opcionalidade de se ocupar a posição de objeto direto em relação à

produção de aprendizes de espanhol, a produtividade de um determinado item no input

poderia ativar a seleção, tanto do clítico como estratégia de realização para os

aprendizes, como as demais estratégias que corresponderiam as da língua materna. A

partir da afirmação de universalidade dos traços de Sigurðsson (op. cit.), a realização

do clítico na produção dos aprendizes é significativa, funcionando como um indicativo

Imagem

Figura 1: esquema de aquisição 4
Figura 2   Figura 3  
Figura 4: representação do conjunto GU e gramáticas A e B 15
Figura 7: Paradigma pronominal do PB (norma culta) Tabela retirada de Galves (2001, p
+7

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